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DEFINIÇÃO Apresentação da História da Farmácia e dos principais conceitos e definições em Farmacotécnica, contextualizando a disciplina dentro das Ciências Farmacêuticas. Relação das vias de administração de fármacos com as principais formas farmacêuticas conhecidas. Resolução dos cálculos farmacêuticos que envolvem a preparação das formulações farmacêuticas. PROPÓSITO Compreender que a Farmacotécnica, ciência que trata da transformação dos fármacos e excipientes em formas farmacêuticas, está inserida no eixo tecnológico e se relaciona com outras disciplinas importantes dentro deste mesmo eixo, como Química Analítica e Físico- Química. Entender que o conhecimento detalhado da preparação de formas farmacêuticas, suas aplicações e seus princípios físico-químicos são fatores que permitem ao farmacêutico um conhecimento mais profundo da aplicação clínica dos medicamentos e do tratamento ao paciente. PREPARAÇÃO Você deverá recordar conceitos básicos em fisiologia que impliquem nas vias de administração e absorção de fármacos. Além de revisar também os conceitos e execução de cálculos aplicados à farmácia, incluindo regra de três, concentração, diluições, miliequivalentes e equivalente-grama. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever a História da Farmácia, o papel milenar do farmacêutico e as farmacopeias MÓDULO 2 Relacionar as principais vias de administração de fármacos com as formas farmacêuticas existentes MÓDULO 3 Resolver atividades relacionadas aos cálculos que envolvem formulações farmacêuticas INTRODUÇÃO Neste momento, você iniciará uma jornada pela disciplina de farmacotécnica. Neste tema você descobrirá tudo aquilo que imaginou aprender sobre o segredo das preparações dos medicamentos. Afinal, esse é um conhecimento milenar que remota aos antigos alquimistas e boticários. Vamos juntos conhecer um pouco mais sobre essa história? É hora de entender, saber como interpretar e calcular uma formulação farmacêutica. Vamos conhecer as principais vias de administração de fármacos e relacioná-las às formas farmacêuticas existentes. Então, venham em busca dessa jornada de conhecimento e aprendizagem e, ao final dela, novos caminhos e descobertas se apresentarão para você dentro dessa Ciência milenar que é a Farmácia. MÓDULO 1 Descrever a História da Farmácia, o papel milenar do farmacêutico e as farmacopeias A HISTÓRIA DA FARMÁCIA PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE Baseado nos autores Gennaro (2000), Allen, Popovich e Ansel (2013), percebemos que, desde os primórdios da humanidade, conhece-se a utilização de terapias com o uso de plantas e minerais para o tratamento das enfermidades. Fonte: Shutterstock Figura 1: O homem das cavernas. O instinto de sobrevivência do homem e o uso dessas terapias foi descrito como alternativas de tratamento muito antes do surgimento das terapias medicamentosas convencionais, conforme a figura 1, mesmo as mais rústicas, como: o uso de água fria ou gelada, lama e folhas frescas para aliviar a dor e proteger uma lesão ou ferida. Ao longo dos séculos, a cura das doenças confundia-se com um certo misticismo e estavam, muitas vezes, relacionadas a espíritos malignos ou sobrenaturais, sendo responsabilidade dos curandeiros ou pajés das tribos tratá-las. É possível observar, inclusive, a participação dos curandeiros desde a Era Pré-Histórica, por exemplo, na caverna de Shanidar (cerca de 30.000 a.C), conforme figura 2. Nesse local, foram encontrados os restos mortais de 10 neandertais, em que um deles sobreviveu a uma série de ferimentos provavelmente pela ajuda e cuidados recebidos dos demais membros da tribo. NEANDERTAIS Espécie do gênero Homo neanderthalensis que viveu na Europa e em algumas partes do território asiático acerca de 230 mil a 29 mil anos atrás. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Figura 2: A caverna de Shanidar no atual Iraque. Gennaro (2000), Dias (2005) Allen, Popovich e Ansel (2013) destacam que era comum nos povos antigos que os pajés, xamãs e curandeiros preparassem poções. Essas poções tratavam tanto os males do corpo, como os da alma, manipulando as preparações, geralmente, de origem vegetal e mineral, para tratar as doenças crônicas e as acometidas por influência de encantos ou espíritos malignos. Só podemos ter conhecimento dessa parte da História pelos antropólogos e arqueólogos, uma vez que, nessa época a escrita ainda não havia sido desenvolvida. Podemos assim, considerar as crenças e práticas relacionadas à saúde um conjunto de crenças e ações psicológicas, as quais podem ser conhecidas como Medicina Primitiva. Segundo Dias (2005), durante a Antiguidade, as primeiras civilizações surgem nos vales às margens do Rio Nilo, Tigre e Eufrates, correspondente à região do Egito e da Mesopotâmia, conforme figura 3. Nesse período, entre 4.000 e 2000 a.C, é possível observar uma grande evolução histórica com desenvolvimento do conhecimento dos homens na agricultura, construção e nos conceitos de doença e cura. Fonte: Shutterstock Figura 3: Região correspondente à parte do Egito e da Mesopotâmia. Nesta época, portanto, é quando se observa uma separação da cura empírica, utilizando conhecimentos mais racionais e experiências individuais, da cura puramente espiritual. Este período fica, inclusive, conhecido como Crescente Fértil. O primeiro registro farmacêutico que se tem conhecimento é justamente nesse período, mais próximo nao final do 3º milênio antes de Cristo (3.000 a.C), nas ruínas de Nippur. Trata-se de uma tábua de argila com escritas suméricas contendo 15 fórmulas medicinais, conforme figura 4 e 5. Fonte: Shutterstock Figura 4: Tábuas de argila com escritas suméricas. Fonte: Shutterstock Figura 5: As ruínas de Nippur. Apesar de apresentar uma sofisticação farmacêutica nas fórmulas detalhadas para a época, os textos ainda demonstram uma forte conexão entre a cura empírica e a sobrenatural, e a preparação das formulações era geralmente antecedida a uma oração ou encantamento. ATENÇÃO O mais impressionante é que, já no século XX, entre os anos de 1974 e 1975, na Síria, foi descoberta uma biblioteca contendo cerca de 20.000 tábuas de argila com informações dos medicamentos usados na época, entre eles erva-doce e alcaçuz. As tábuas de argilas eram uma forma comum de registro na época da Antiguidade, mas também existiam outras como os papiros. Em Coelho (2011), percebe-se que, originalmente, o papiro é uma planta a qual suas fibras e hastes são cortadas, maceradas e aglutinadas com água, polidas e secas para darem origem a uma folha branca e grande, utilizada pelos egípcios para a escrita. Fonte: Shutterstock Historicamente, dois papiros merecem atenção e destaque para a área da Medicina e da Farmácia: o Papiro de Smith e o Papiro de Ebers. Por outro lado, não é possível descartar o Papiro de Kahun, que é considerado o primeiro tratado médico ginecológico da humanidade. Na realidade, todos esses importantes papiros fazem parte de um grupo de 12 papiros médicos referentes à prática da medicina no Egito Antigo, encontrados em diversos museus ao redor do mundo. Fonte: Wikipedia Figura 6: Flinders Petrie e o papiro de Kahun. Papiro de Kahun é reconhecidamente o papiro mais antigo de todos, datado de 1.850 a.C. e encontrado pelo pesquisador Flinders Petrie em 1889 no povoado de Lahun, Egito, conforme figura 6. Foi traduzido por F. L. Griffith em 1898 e assim como a grande maioria dos papiros médicos, não se trata apenas de um único papiro, mas de uma coleção. É considerado o primeiro Tratado Médico de Ginecologia, onde constam uma série de informações e sintomas de doenças ginecológicas e descreve métodos de contracepção local como misturas à base de fibras vegetais e espinhos de acácia moídos, aplicados diretamente na vagina. Atualmente já se sabe que os espinhos da acácia são ricos em ácido lático, substância altamente tóxica para os espermatozoides (COELHO,2011). Fonte: Wikipedia Figura 7: Edwin Smith.Papiro de Smith é considerado o primeiro tratado cirúrgico do mundo. Foi provavelmente escrito entre o período de 1700 a 1600 a.C. Recebeu esse nome em homenagem ao colecionador de antiguidades inglês Edwin Smith, que em 1862 o comprou, juntamente com o papiro de Ebers, na cidade de Luxor, no sul do Egito. Somente em 1920 foi traduzido pelo egiptólogo americano J. H. Breasted. Descreve, ainda que de forma um pouco confusa, tratamentos cirúrgicos, tratamentos de feridas, luxação e fraturas; e pode também ser considerado a primeira nomenclatura anatômica com desenhos em tintas diferentes, o que era bastante evoluído para a época. Descreve a utilização do salicilato como anti-inflamatório e analgésico, substância obtida da decocção do salgueiro e precursor do ácido acetilsalicílico (BADARÓ, 2018). Fonte: Wikipedia Figura 8: George Ebers. Papiro de Ebers que apesar de praticamente todos os tratados médicos encontrados no Egito Antigo contemplarem algum tipo de formulação farmacêutica, este é considerado o papiro mais importante na História da Farmácia. Juntamente como Papiro de Smith, foi comprado em 1862 por Edwin Smith e mais tarde vendido a um conhecido egiptólogo alemão chamado George Maurice Ebers, o qual traduziu e publicou-o em 1875, conforme figura 8. Diferentemente dos demais tratados, os quais descrevem tratamentos cirúrgicos e ginecológicos de forma mais científica para a época, o papiro de Ebers descreve tratamentos farmacológicos, mas ainda com uma conotação mágica ou sobrenatural. Ainda assim, o papiro datado de 1550 a. C., tem cerca de 20 m x 18 m de comprimento e nele estão descritos nada mais que 700 substâncias medicinais em mais de 800 fórmulas farmacêuticas (GENNARO, 2000; DIAS, 2005; ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. 2013). SAIBA MAIS javascript:void(0) SAIBA MAIS As descrições mais citadas estão listadas a seguir: - Vegetal: acácia, semente de mamona - Mineral: óxido de ferro e enxofre - Animal: excrementos - Veículos: Cerveja, Vinho, Leite e Mel - Almofarizes, Moinhos Manuais, Peneiras e Balanças - Supositórios, Gargarejos, Pílulas, Inalações, Pastilhas, Loções, Pomadas, Emplastros e Enemas. Ainda na Antiguidade, saímos do Egito e migramos para a Grécia e Roma antigas. Nesta época, como já se pode observar, a Medicina e a Farmácia eram uma única profissão e essa realidade seguirá ainda por muito tempo ao longo dos séculos, sendo somente modificada no século XIII d.C. Apesar disso, na Roma antiga, já havia uma compreensão da importância em se separar os profissionais que diagnosticavam as doenças daqueles que misturavam e preparavam as matérias-primas para a cura de tais doenças. Conforme Gennaro (2000), é possível observar que, ao longo da história, a arte e o conhecimento da cura das doenças sempre foi associada ao mistério e ao poder. As pessoas que dominavam o conhecimento dos medicamentos também associavam a função de sacerdote. Ainda assim, tratava-se de um conhecimento empírico e o sucesso ou o fracasso eram geralmente atribuídos à experiência, à mera coincidência, a um poder curativo natural, fatores psicológicos, ao invés de efeitos terapêuticos propriamente ditos. Fonte: Wikimedia Commons Figura 9: Teofrasto, filósofo grego. Fonte: Wikipedia Figura 10: Dioscórides, médico e botânico grego. A partir dos estudos botânicos de Teofrasto, os quais combinavam informações acadêmicas com parteiras, cavadores de raízes e médicos viajantes, Dioscórides, conforme figura 10 que seguiu seus estudos cerca de 300 anos depois e escreveu um resumo da utilização de plantas como medicamentos em suas diversas formas, denominado De Matéria Médica, passando a tratar a botânica como uma ciência aplicada a Farmácia. Além disso, Dioscórides (cerca de 65 d.C) o médico e botânico grego criador da Farmacognosia: Pharmakon – Farmaco; Gnosis – conhecimento, foi o primeiro a tratar a botânica como uma ciência aplicada à farmácia. Fonte: Wikimedia Figura 11: Hipócrates, médico grego. O grande responsável pela racionalização da farmácia e da Medicina foi Hipócrates de Cós (460-377 a.C), considerado o Pai da Medicina, conforme figura 11. Além disso, racionalizou a medicina, sistematizou os conhecimentos médicos e colocou a Medicina prática no plano teórico. Seus trabalhos incluíram descrições de centenas de fármacos. Reintroduziu o termo “Pharmakon”. A partir da introdução de seus estudos relacionando o meio ambiente e a humanidade através de uma conexão dos quatro elementos da terra, ele revolucionou e sistematizou o conhecimento médico, colocando a prática da Medicina em um plano científico e de alto conceito ético. Esses estudos ficaram conhecidos com a Teoria dos 4 Humores, conforme figura 12. Fonte: Shutterstock Figura 12: Teoria dos humores Agora que já sabemos que Hipócrates é considerado o Pai da Medicina, então, quem seria considerado o Pai da Farmácia? COMENTÁRIO A Teoria dos Humores criada por Hipócrates e seus discípulos prosseguiu ao longo dos 1.500 anos seguintes e um médico e farmacêutico grego, mas de cidadania romana destacou-se por deixar de lado os conhecimentos conservadores e criar um sistema médico equilibrado entre fisiologia, patologia e tratamento. Ele manteve o conhecimento na Teoria dos Humores, mas sugeriu que para tratar as doenças e equilibrar os humores seria necessário utilizar uma droga de natureza contrária ao humor. Por exemplo: para tratar uma inflamação externa poderia se usar pepino, considerada uma droga fria e úmida, contrária ao processo inflamatório. Este médico foi Claudius Galeno (130-200 d.C.) É possível que a Medicina da antiguidade tenha alcançado seu apogeu com os estudos de Galeno, uma vez que ele escreveu mais de 500 tratados sobre Medicina e pelo menos outros 250 sobre filosofia, leis e gramática. Introduziu os conceitos de polifármacos, descreveu uma série de substâncias de origem natural, assim como, fórmulas e métodos de preparação. Seus estudos e ensinamentos foram seguidos por mais de 1.500 anos e algumas de suas fórmulas são muito parecidas com as utilizadas ainda hoje, como o cold cream ou Cerato de Galeno. A área de manipulação farmacêutica, onde a Farmacotécnica está principalmente inserida é também conhecida como “Farmácia Galênica” em homenagem a esse grande médico, farmacêutico e filósofo greco-romano. Agora, destaca-se: Claudius Galenus, considerado o Pai da Farmácia. Fonte: Wikipedia SAIBA MAIS SAIBA MAIS Você conhece o símbolo da Farmácia e como ele foi criado? Conforme Gennaro (2000), segundo a Mitologia Grega, alguns enfermos costumavam viajar até o templo do deus grego Esculápio, conforme figura 13, considerado o deus da Medicina e da Cura. javascript:void(0) Fonte: Wikipedia Figura 13: Esculápio, deus grego e Hygia, sua filha. Lá passavam a noite e dormiam na esperança que, no dia seguinte, estivessem curados por seu deus ou por sua filha Hygia, considerada a deusa da limpeza, saúde e sanidade. Esculápio era associado a uma cobra, conhecida como a Serpente de Epidauro, representando o poder da cura. E Hygia, era associada a uma taça que representava o poder da promoção da saúde. Desta forma, o símbolo da Farmácia foi criado associando a taça (poder) com a cobra (cura) e representando o poder da cura. Fonte: Shutterstock A IDADE MÉDIA O período histórico compreendido entre os séculos V (476 d.C.) e XV (1453 d.C) é tradicionalmente denominado de Era Medieval Europeia ou Idade Média, segundo os autores Gennaro (2000), Allen, Popovich e Ansel (2013). ATENÇÃO Esta época contempla da primeira queda do Império Romano até a queda de Constantinopla. É também conhecida como “Idade das Trevas”, principalmente, durante os primeiros 5 séculos (de cerca de 476 d.C. a 900 d.C.), por conta de um forte rigor religioso imposto pela Igreja Católica que assume o controle político e social em função do caos instaurado após a queda do Império Romano. O papel da Igrejacontroladora do poder pode ser facilmente notado através das vestimentas extremamente recatadas e da repressão ao culto da higiene, chegando a afirmações do tipo que: “banho é coisa do demônio”, uma vez que o indivíduo precisava ficar nu para tomar banho. A mesma interpretação era dada no caso das doenças, levando as pessoas a acreditarem que doença estava relacionada ao pecado e a admirar santos curadores, como Cosme e Damião. O preço imposto pela ignorância e negligência por parte da Igreja Católica foi alto e veio na forma de uma grave doença chamada de peste bubônica. Fonte: Shutterstock A Europa Ocidental e cristã sofreu por longos anos uma rotina de imundície e falta de higiene, que culminaram na expansão das doenças. Alguns relatos demonstram que nesta época era comum que os banhos só acontecessem 2 ou 3 vezes ao ano e somente nos períodos que antecedessem as festas religiosas como Natal e Páscoa. Paralelamente aos acontecimentos da Idade Média na Europa Ocidental, as civilizações nômades seguidoras dos ensinamentos de Maomé (570-632 d.C.) conquistaram as áreas do Oriente Médio e da África e expandiram-se a partir do século VI para a Espanha, Sicília e Europa Oriental. Essas civilizações respeitavam os escritos gregos e eram conhecidamente estudiosos do mundo das ciências. Muitos filósofos e cientistas gregos também migraram junto a essas civilizações para dar continuidade aos seus estudos no Período de Trevas pelo qual passou a Europa Ocidental. javascript:void(0) BANHOS Esta época também ficou conhecida como os “500 anos sem banho”. Os estudos gregos foram traduzidos para o árabe, principalmente, os de Dioscórides e Galeno e desenvolvidos por pesquisadores e médicos árabes, os quais apresentaram novos conceitos de medicamentos mais sofisticados, elegantes e palatáveis. Um desses médicos era Avicena (980-1063 d.C), conhecido como o Galeno Persa, conforme figura 14. Além disso, Avicena contribuiu para as Ciências Farmacêuticas, chegando a montar uma botica dentro da própria cada para ajudar os necessitados. Fonte: Shutterstock Figura 14: Avicena, médico e farmacêutico persa. Finalmente, é através da cultura árabe que retorna à Europa Ocidental o conhecimento médico científico e clássico, inclusive, podendo-se afirmar que mais aperfeiçoado. No entanto, somente no século XIII, mais precisamente em 1240 d.C., que Frederico II, imperador do reino das Duas Sicílias (atualmente, Alemanha), separou pela primeira vez oficialmente, a Farmácia da Medicina. O decreto do monarca estabeleceu que a prática da Farmácia requeria conhecimentos e habilidades específicos para garantir o atendimento adequado às necessidades médicas do povo. javascript:void(0) CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICOS O farmacêutico era obrigado por juramento a preparar medicamentos confiáveis, com qualidade uniforme, de acordo com a ciência que dominava. ATENÇÃO Nesse contexto, a profissão farmacêutica, além de milenar, é de importância e comprometimento ético e legal imprescindíveis. Já no século XIII, ou seja, há quase 800 anos, o farmacêutico era obrigado a fazer um juramento que garantisse preparar medicamentos confiáveis. Com isso, pode-se comparar o exposto, com o atual juramento da sua profissão, é possível observar as similaridades ao longo desses 800 anos. PROMETO QUE, AO EXERCER A PROFISSÃO DE FARMACÊUTICO, MOSTRAR-ME-EI SEMPRE FIEL AOS PRECEITOS DA HONESTIDADE, DA CARIDADE E DA CIÊNCIA. NUNCA ME SERVIREI DA PROFISSÃO PARA CORROMPER OS COSTUMES OU FAVORECER O CRIME. SE EU CUMPRIR ESTE JURAMENTO COM FIDELIDADE, GOZEM, PARA SEMPRE, A MINHA VIDA E A MINHA ARTE, DE BOA REPUTAÇÃO ENTRE OS HOMENS. SE DELE ME AFASTAR OU INFRINGI-LO, SUCEDA-ME O CONTRÁRIO. Resolução nº 471, de 28 de fevereiro de 2008, do Conselho Federal de Farmácia. A RENASCENÇA E A IDADE MODERNA Após atravessarmos juntos a Era Pré-Histórica, a Antiguidade, passando por Egito, Grécia e Roma, e a Idade Média, seguindo o estudo dos autores, chegamos ao período histórico conhecido como Renascença. Esse período também é chamado de Renascentismo ou Renascimento, e vai mais precisamente de meados do século XIV ao final do século XVI. É considerada uma época de grandes ideias em vários segmentos, como na ciência, nas artes, na arquitetura. Grandes descobertas aconteceram nesse período como a descoberta do Novo Mundo por Cristóvão Colombo, o caminho das índias por Vasco da Gama e o desenvolvimento da impressão por tipo móvel por Johannes Gutenberg. ATENÇÃO Agora, imagine o que o desenvolvimento da imprensa pode ter representado para a Medicina e a Farmácia, com a possibilidade de impressão de livros e tratados médicos, farmacêuticos e científicos. Destacam-se nesse período, por exemplo, as obras anatômicas de Andres Vesalius (1514-1564) e o Dispensatorium de 1546, de Valerius Cordus (1515-1544). DISPENSATORIUM Considerado a primeira Farmacopeia Alemã, contendo uma série de fórmulas de medicamentos, tinha por objetivo a padronização das drogas para garantir a qualidade da receita. Foi estabelecida pelo Estado e deveria ser utilizada por todos os farmacêuticos da cidade imperial de Nuremberg. Fonte: Remington, 2000. javascript:void(0) Conforme Dias (2005), apesar de uma série de pesquisadores e especialistas terem se destacado no período Renascentista no desenvolvimento e preparação de novas drogas e medicamentos, ninguém obteve tanto destaque na área farmacêutica quanto um determinado médico e químico suíço que se auto intitulava Paracelso (1493-1541). Gennaro (2000), Allen, Popovich e Ansel (2013) mencionam Philippus Aureolus Theofratus Bombastus von Hohenheim, pesquisador revolucionário, nascido em 1493, como responsável pela transformação da Farmácia. Essa, de início, baseada única e exclusivamente no uso das plantas, tornando-a uma profissão baseada num conceito químico. Fonte: Shutterstock Paracelso era um rebelde, criticava os farmacêuticos que só se baseavam na botânica para a cura das doenças e escreveu suas obras em sua língua nativa recusando-se a usar o latim, linguagem universal para a época. Podemos afirmar que Paracelso é o grande responsável em separar a Farmácia da Química e a transformar a Química em uma verdadeira ciência a partir do século XVI. ATENÇÃO Seus métodos levaram a um grande salto na História da Farmácia, quando o conhecimento químico e a descrição dessas substâncias passaram a ser utilizados para fabricar os produtos mais importantes da saúde: as drogas. Nesse período, muitas drogas foram isoladas e algumas utilizadas inclusive até hoje. Embora ainda houvesse a prevalência no uso das plantas medicinais, alguns poucos farmacêuticos ainda se empenhavam em encontrar e desenvolver drogas a partir de conhecimentos químicos. Paralelamente a isso, um novo mundo se abria e novas plantas advindas desse Novo Mundo chegavam como alternativas ao tratamento de doenças, tais quais: cáscara sagrada, ipecacuanha, e a casca da cinchona. A idade moderna compreende o período entre os séculos XVII e XVIII e finaliza mais precisamente em 1789 com a Revolução Francesa. Nesse período o volume de descobertas químicas cresce e a utilização das drogas químicas para o tratamento de doenças já está consolidada. Os farmacêuticos percebem a necessidade de maiores conhecimentos nessa área buscando aprender novos métodos de preparação e a manipulação das novas drogas. Utilizam, muitas vezes, as dependências de suas próprias farmácias para conduzirem experimentos e descobertas de drogas medicinais com embasamento científico. Foi o caso de Karl Wilhelm Scheele (1742-1786), farmacêutico sueco, que em 1773 descobriu a molécula de oxigênio um ano antes de Priestley. Identificou a glicerina, inventou novos métodos para o preparo de calomelano e ácido benzoico. E descobriu ainda, os ácidos: Lático; Cítrico; Oxálico; Tartárico; Arsênico. A IDADE CONTEMPORÂNEA A Revolução Francesa em 1789, traz uma forte mudança de pensamento com o desenvolvimentode um pensamento científico, da razão, do ceticismo, associado ao declínio das monarquias, de melhoria nas condições de vida e do triunfo do Iluminismo. Estas mudanças trazem maiores possibilidade na descoberta e no desenvolvimento de novas drogas. Fonte: Shutterstock No início do século XIX, uma descoberta extraordinária mudou de vez as questões relacionadas ao conhecimento químico e origem das drogas medicinais. Friedrich Serturner (1783-1841), um farmacêutico alemão, isolou em 1805 a morfina a partir do ópio em estado bruto. Essa descoberta levou a uma série de isolamentos de outros compostos químicos a partir das plantas medicinais, e algumas dessas substâncias ficaram conhecidas como alcaloides. Os farmacêuticos franceses Joseph Caventou (1795-1877) e Joseph Pelletier (1788-1842), isolaram a: 1 - QUININA DA CASCA DA CINCHONA; 2 - CINCHONINA DA ESTRIQUININA; 3 - BRUCINA DA NOZ VÔMICA. Mais tarde Joseph Pelletier e Pierre Robiquet (1780-1840) isolaram a cafeína e Robiquet ainda isolou sozinho a codeína a partir do ópio. Segundo Gennaro (2000), o conhecimento no isolamento de substâncias químicas com atividades farmacológicas a partir de plantas medicinais continuou ao longo dos séculos. Os farmacêuticos continuaram esse trabalho na descoberta de novas substâncias químicas e novas drogas medicamentosas. Fonte: Shutterstock Confirmam os autores Allen, Popovich e Ansel (2013) que, atualmente, este conhecimento ainda permanece e é justamente através das descobertas desses antigos estudiosos que nossas pesquisas, nos dias de hoje, ainda se desenvolvem. Vocês podem observar isso na descoberta de drogas mais recentes, como o paclitaxel e a vincaleucoblastina, entre outros. O paclitaxel é um fármaco com atividade antineoplásica extraído de uma planta conhecida como teixo do Pacífico (Taxus baccata). Além disso, a vincaleucoblastina é também um antineoplásico obtido a partir da Vinca rosea. Muitos dos fármacos hoje sintéticos têm sua estrutura molecular baseada na molécula de drogas de origem natural. Vocês entenderão isso ainda melhor quando associarem as 4 disciplinas principais dentro das Ciências Farmacêuticas, que são: Farmacologia; Farmacognosia; Química Medicinal; Farmacotécnica. AS FARMACOPEIAS Em nossa viagem pelo tempo, conhecendo a História da Farmácia é possível observar três fases distintas: ETAPA 01 1ª: Voltada para um conhecimento empírico associado ao misticismo e ao sobrenatural; ETAPA 02 2ª: Voltada para um maior conhecimento das plantas medicinais; e ETAPA 03 3ª: Voltada para um conhecimento químico com o uso dos elementos químicos e do isolamento das substâncias químicas a partir das plantas medicinais. De acordo com Gennaro (2000), na fase de transição entre o uso das plantas medicinais e a implementação do conhecimento da Química junto à Farmácia, houve um período de certos conflitos entre os farmacêuticos da época, levando à necessidade de padronização das drogas e das preparações farmacêuticas. Com o avanço científico e o desenvolvimento de novos fármacos e medicamentos, os médicos da época queriam garantir que suas prescrições fossem preparadas de maneira uniforme e confiável. Observou-se, portanto, a necessidade de se criar padrões uniformes que garantissem a qualidade das preparações. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Foi assim que, em 1498, foi criado o Nuovo receptario em Florença na Itália, considerada a 1ª Farmacopeia do mundo. Apesar disso esse documento foi criado pela Associação dos Médicos e Farmacêuticos e mesmo sendo considerado um documento técnico-científico não possuía valor legal. Assim sendo, na verdade, para muitos, a primeira farmacopeia do mundo é o Dispensatorium de Valerius Cordus de 1546, adotado pelo governo de Nuremberg como o documento padrão de todos os farmacêuticos daquela região. Mas, afinal, o que é uma Farmacopeia? RESPOSTA Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): Farmacopeia é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. Tem por finalidade promover a saúde da população, estabelecendo requisitos de qualidade e segurança dos insumos para a saúde, especialmente dos medicamentos, apoiando as ações de regulação sanitária e induzindo ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional (RDC 37/2009). Você sabe quantas Farmacopeias o Brasil possui? 1794 A primeira Farmacopeia utilizada no Brasil foi a Farmacopeia Geral para o Reino e os Domínios de Portugal, ainda nos tempos do Brasil Colônia, sancionada em 1794 e obrigatória em todo o território nacional a partir de 1809. Ocorreu logo após a chegada de D. João VI ao país em 1808. 1822 Após a independência em 1822, a utilização da Farmacopeia Geral para o Reino e os Domínios de Portugal foi mantida, mas introduzido também o Codex Medicamentarius Gallicus francês e o Código Farmacêutico Lusitano, considerando-se hoje, como a 2ª edição da Farmacopeia Portuguesa. 1882 Em 1882, um decreto estabeleceu que a partir dessa data deveria ser utilizada a Farmacopeia Francesa até que uma Farmacopeia Brasileira fosse desenvolvida. 1926 Em 1926, um jovem professor e farmacêutico militar, conhecido como Rodolpho Albino Dias da Silva, apresentou às autoridades sanitárias o Código Farmacêutico Brasileiro. 1929 Após aprovado, esse Código foi oficializado em 1929, tornando-se a Primeira Farmacopeia Brasileira. 1959/1976 Sua segunda edição foi publicada em 1959; e a terceira, saiu em 1976. 1988/2005 Já a quarta edição foi publicada em 1988, tendo sido atualizada por vários fascículos até 2005. 2010 Em 2010, agora já sob a responsabilidade da ANVISA, a quinta edição foi lançada, revogando todas as edições anteriores. 2019 Em 2019, foi publicada a Sexta Edição da Farmacopeia Brasileira, nossa versão mais recente até o momento, conforme figura 15. Fonte: Farmacopeia Brasileira. Anvisa. Figura 15: Farmacopeia Brasileira Agora, para saber mais sobre o Manuseio da Famacopeia Brasileira, vamos assistir ao vídeo. MANUSEIO DA FARMACOPEIA BRASILEIRA VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONFORME OBSERVADO AO LONGO DO TEXTO, A HISTÓRIA DA FARMÁCIA CONFUNDE-SE COM A HISTÓRIA DA HUMANIDADE, PODENDO SER CONSIDERADA UMA CIÊNCIA MILENAR. AO LONGO DESSE HISTÓRICO, É POSSÍVEL ACOMPANHAR A TRAJETÓRIA DO FARMACÊUTICO E SEU PAPEL NA HUMANIDADE COMO RESPONSÁVEL PELO TRATAMENTO DAS ENFERMIDADES E CURA DAS DOENÇAS. A PARTIR DESSE CONHECIMENTO HISTÓRICO, AVALIE AS ALTERNATIVAS ABAIXO E ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O médico e o farmacêutico são profissionais milenares, distinguindo-se ao longo da História da Humanidade, desde a Pré-História, como aqueles que diagnosticavam as doenças e aqueles que preparavam os medicamentos para o tratamento. B) Os primeiros registros farmacêuticos que se têm conhecimento datam de 3.000 a.C. e são conhecidos como Papiro de Ebers, Papiro de Kahun e Papiro de Smith. C) A Farmácia, ao longo da História, confundiu-se com o misticismo e o sobrenatural e a arte e o conhecimento da cura das doenças era associada ao mistério e ao poder das pessoas que dominavam tais conhecimentos. D) A evolução no conhecimento da cura das doenças sempre esteve dividida entre Ocidente e Oriente, mas, devido à forte contribuição dos impérios grego e romano, o papel do Oriente ficou relegado a um segundo plano, sem grandes participações nesta evolução. 2. COM O AVANÇO CIENTÍFICO E O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS E MEDICAMENTOS, OS MÉDICOS DA ÉPOCA QUERIAM GARANTIR QUE SUAS PRESCRIÇÕES FOSSEM PREPARADAS DE MANEIRA UNIFORME E CONFIÁVEL. DESSA FORMA, PERCEBERAM A NECESSIDADE DE SE CRIAR PADRÕES UNIFORMES QUE GARANTISSEM A QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES. FOI COM ESSE INTUITO QUE AS FARMACOPEIAS FORAM CRIADAS. A PARTIR DISSO, OBSERVE AS AFIRMATIVAS ABAIXO E ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:A) A Farmacopeia é um documento oficial, elaborada pelos órgãos governamentais, e sancionada pelo Presidente da República. B) A Farmacopeia é um código oficial de cada país, onde se encontram os requisitos mínimos das prescrições médicas e as normas operacionais padrão para a manipulação de fármacos. C) A Farmacopeia é um compêndio terapêutico e farmacológico com indicação de tratamentos, posologia e efeitos colaterais dos medicamentos. D) A Farmacopeia é um código oficial que apresenta os requisitos mínimos de qualidade para os fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. GABARITO 1. Conforme observado ao longo do texto, a História da Farmácia confunde-se com a História da Humanidade, podendo ser considerada uma ciência milenar. Ao longo desse histórico, é possível acompanhar a trajetória do farmacêutico e seu papel na humanidade como responsável pelo tratamento das enfermidades e cura das doenças. A partir desse conhecimento histórico, avalie as alternativas abaixo e assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. A História da Farmácia confunde-se com a História da Humanidade, e o papel do farmacêutico durante muito tempo foi atribuído a um conhecimento místico e sobrenatural. Era comum que a arte e o conhecimento da cura das doenças fossem associados ao mistério e ao poder, tendo o detentor deste conhecimento o posto de sacerdote. O primeiro registro farmacêutico que se tem conhecimento, é justamente nesse período, mais próximo ao final do 3º milênio antes de Cristo (3.000 a.C), nas ruínas de Nippur. Uma tábua de argila com escritas suméricas contendo 15 fórmulas medicinais. É através da cultura árabe, com forte presença no Oriente, que retorna à Europa Ocidental o conhecimento médico científico e clássico. A farmácia é somente separada oficialmente da Medicina no século XIII d.C. 2. Com o avanço científico e o desenvolvimento de novos fármacos e medicamentos, os médicos da época queriam garantir que suas prescrições fossem preparadas de maneira uniforme e confiável. Dessa forma, perceberam a necessidade de se criar padrões uniformes que garantissem a qualidade das preparações. Foi com esse intuito que as Farmacopeias foram criadas. A partir disso, observe as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. Segundo a ANVISA: “Farmacopeia é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. Tem por finalidade promover a saúde da população, estabelecendo requisitos de qualidade e segurança dos insumos para a saúde, especialmente dos medicamentos, apoiando as ações de regulação sanitária e induzindo ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional”. MÓDULO 2 Relacionar as principais vias de administração de fármacos com as formas farmacêuticas existentes PRINCIPAIS CONCEITOS E DEFINIÇÕES EM FARMACOTÉCNICA Agora que você já conheceu um pouco da História da Farmácia e das Farmacopeias, vamos conhecer melhor o nosso tema: a Farmacotécnica. Vimos, anteriormente, que a Farmacotécnica é a disciplina que compõe as Ciências Farmacêuticas. Mas o que são as Ciências Farmacêuticas? Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock As Ciências Farmacêuticas são o conjunto das disciplinas que compõem o curso de Farmácia, no qual estão inseridas 4 disciplinas aplicadas: FARMACOGNOSIA estuda a conservação e identificação de substâncias originadas do reino vegetal. FARMACOLOGIA estuda a ação dos fármacos no organismo. QUÍMICA FARMACÊUTICA estuda as substâncias químicas de emprego na área de saúde. FARMACOTÉCNICA é a parte das Ciências Farmacêuticas que trata da preparação dos medicamentos, ou seja, da transformação de drogas (matérias-primas) em medicamentos. Estuda o preparo, a purificação, as incompatibilidades físicas e químicas, e a escolha da forma farmacêutica. De acordo com Ferreira (2010), a Farmacotécnica pode ser conhecida também por outras definições, por exemplo, Farmácia Galênica ou Farmácia Magistral. Todos esses tipos de farmácia, porém, envolvem um princípio fundamental: a manipulação de drogas e sua transformação em medicamentos, ou seja, formas farmacêuticas definidas. Fonte: Shutterstock ATENÇÃO No entanto, não se iluda, aqueles que acreditam que a Farmacotécnica é somente utilizada nas farmácias de manipulação alopáticas ou homeopáticas. Ela tem um papel importantíssimo na indústria farmacêutica, no desenvolvimento de formulações e no estudo de estabilidade dos medicamentos. Farmacotécnica é a ciência da transformação e da preparação de medicamentos, transformando drogas em uma forma farmacêutica definida, através das operações farmacêuticas. Nesse contexto, a seguir, destacam-se algumas das principais definições da Farmacotécnica. Todas as definições estão baseadas nas legislações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Conselho Federal de Farmácia (CFF), com foco na Lei nº 5991/73. Vejamos, na tabela a seguir, algumas dessas definições: Droga Matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral de uso farmacêutico ou não, utilizado na fabricação de medicamentos. Fármaco ou IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) Droga utilizada para fabricação de medicamentos dotados de atividade farmacológica. Medicamento Toda preparação farmacêutica contendo um ou mais fármacos, destinada ao diagnóstico, prevenção ou tratamento das doenças e seus sintomas. Remédio Emprego mais amplo e geral, sendo aplicado para todos os meios usados com o fim de prevenir ou de curar doenças. Preparação Magistral É aquela preparada na farmácia para ser dispensada atendendo a uma prescrição médica que estabelece sua composição, sua forma farmacêutica, sua posologia e seu modo de usar. Preparação É aquela preparada na farmácia cuja fórmula esteja escrita nas Oficinal Farmacopeias, Compêndios ou Formulários reconhecidos pelo Ministério da Saúde. Forma Farmacêutica É a apresentação de um medicamento. Está relacionada com a via de administração. As formas farmacêuticas foram desenvolvidas para facilitar a administração dos medicamentos. Deve assegurar ao medicamento o máximo de efeito terapêutico com o mínimo de efeitos colaterais de acordo com o tipo de paciente. Fórmula Farmacêutica É a relação dos componentes que entram na composição dos medicamentos, com seu peso e volume definidos, ou quando possível por g, mL UI, relação sal/base. Receita Médica ou Prescrição É uma ordem expressa pelo médico ao paciente. Deve ser preservada, pois esta tem implicação legal. Deve ser em papel timbrado, contendo cabeçalho, nome, fármacos e/ou excipientes, quantidade, assinatura e CRM. Manipulação A manipulação de medicamentos é o método tradicional de preparo de medicamentos personalizados, visando o atendimento de necessidades específicas e, às vezes, únicas do profissional (médico, dentista ou veterinário) e do paciente. É o conjunto de operações com a finalidade de elaborar preparações magistrais e oficinais, e fracionar produtos industrializados para uso humano. Dispensação Ato de fornecer e orientar o consumidor de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, a título remunerado ou não. Farmácia Estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica. Drogaria Estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais. Veículo Diz respeito à parte líquida não ativa de uma formulação, na qual estão dissolvidos os demais componentes. Excipiente Componente inerte, sólido, que, misturado ao princípio ativo, serve para dar volume, peso ou outras atividadesao medicamento. Matéria- Prima Substância ativa ou inativa com especificação definida que se emprega na preparação dos medicamentos e demais produtos. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Ainda no contexto apresentado, destaca-se na tabela 1, as principais abreviações da prática farmacêutica. ABREVIATURA TERMO EM GREGO OU LATIM SIGNIFICADO ãa, ãã Aná (grego) Partes iguais, repetição. Usada nas fórmulas para designar que as substâncias receitadas numa só fórmula são prescritas em doses iguais. q.s. Quantum suffict ou quantum satis (latim) Quantidade suficiente. Usada nas fórmulas para indicar que não há uma dose definida, apenas uma pequena quantidade. q.s.p Quantum satis para (latim) Quantidade suficiente para. Utilizada no fechamento da quantidade final de uma formulação com seu veículo ou excipiente. Rx Recipe (latim) Tome, receba. Frequentemente empregado no início de uma prescrição. Instrução destinada ao farmacêutico para que receba os itens listados na receita para o preparo do medicamento. f.s.a. Fiat secundum artem (latim) Faça segundo a arte. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal A partir da adaptação do quadro de Ferreira (2010), busca-se ilustrar melhor esses conceitos, explorando de forma detalhada o conteúdo. O profissional que escolhe a área magistral para se aprofundar e trabalhar precisa compreender que existe uma certa diferença entre a farmácia de manipulação, que utiliza um processo artesanal para o preparo dos medicamentos do processo de produção industrial, que utiliza alta tecnologia e equipamentos sofisticados. No quadro abaixo você pode observar algumas diferenças básicas entre os medicamentos industrializados e os medicamentos manipulados. Medicamentos Industrializados Medicamentos manipulados Formulação padronizadas para atender as necessidades gerais de uma provável população de pacientes. Formulação personalizada para atender as necessidades específicas de uma paciente. O prescritor precisa adequar o paciente à apresentação comercial disponível. O prescritor pode adequar a formulação a cada paciente. A comercialização em larga escala, inviabiliza economicamente e às vezes Permite a prescrição de formas farmacêuticas diferenciadas das tecnicamente por questões de estabilidade, a possibilidade da produção de diversas formas farmacêuticas em várias dosagens. disponíveis comercialmente, bem como, o emprego de dosagem específica para um determinado paciente. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Mediante os autores Le Hire (1997) e Ferreira (2019), é possível compreender que uma das maiores diferenças entre os dois processos está justamente no papel do farmacêutico, uma vez que, na indústria farmacêutica, ele está responsável apenas na fabricação e na qualidade do produto. Na manipulação em pequena escala e individualizada, ele participa de perto do tratamento do paciente, formando uma tríade importante entre médico-farmacêutico-paciente, conhecida como tríade da saúde e demonstrando a união multiprofissional em prol da saúde, conforme figura 16. Fonte: Shutterstock Ainda assim, Ferreira (2010) apresenta em seu Guia Prático da Farmácia Magistral, algumas vantagens interessantes dos medicamentos manipulados frente aos medicamentos industrializados. Isso pode ser observado de forma resumida, a seguir, onde destaca-se as vantagens dos medicamentos manipulados frente aos industrializados. VERSATILIDADE POSOLÓGICA OU SEGUNDO USO Ajuste das doses ou concentração do fármaco para pacientes com necessidades específicas ou pacientes pediátricos. Manipulação de fármacos com segundo uso, que são aqueles utilizados com propósitos diferentes dos originais, os quais necessitam muitas de vezes de alteração em suas doses e posologia. ASSOCIAÇÃO DE FÁRMACOS A manipulação magistral permite a associação de fármacos que muitas vezes não estão disponíveis no mercado comercial. ESCOLHA DA FORMA FARMACÊUTICA Tanto o paciente, quanto o prescritor podem optar pela forma farmacêutica que melhor se adeque ao tratamento, não dependendo somente das formas disponíveis comercialmente. RESGATE DE MEDICAMENTOS É possível resgatar medicamentos que tenham sido descontinuados e não estejam mais disponíveis no mercado. MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS ÓRFÃOS Medicamentos órfãos são aqueles que, geralmente, tratam as doenças negligenciáveis; aqueles que não têm interesse econômico pelas grandes indústrias, apresentam interesse no contexto da saúde pública. ECONOMIA O medicamento manipulado, geralmente, apresenta custo menor que o industrializado por apresentar menos etapas intermediárias em sua cadeia de produção. PERSONALIZAÇÃO DA TERAPÊUTICA Formulação individualizada para o tratamento do paciente, e não da doença. Aumento da adesão do paciente ao tratamento. DIFICULDADE DE AUTOMEDICAÇÃO Toda a formulação depende de uma prescrição, essa situação evita o abuso e o risco inerentes da automedicação. UNIÃO MULTIPROFISSIONAL União multiprofissional em prol da saúde. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS E FORMAS FARMACÊUTICAS Os fármacos ou princípios ativos não podem ser administrados no seu estado puro ou natural diretamente aos pacientes, mas sim, como parte de uma formulação, ao lado de uma ou mais substâncias, denominadas adjuvantes farmacêuticos, veículos ou excipientes. Essas matérias- primas devem ser inertes e inócuas. Apesar disso, apresentam funções auxiliares na formulação, por exemplo: facilitando o fluxo dos pós ou a solubilização do fármaco. Este é o fundamento básico da Farmacotécnica, transformar esse fármaco em uma forma farmacêutica definida, utilizando as operações farmacêuticas a partir de uma formulação que contenha a descrição dos fármacos e dos excipientes. Fonte: Shutterstock Figura 17: Esquema representativo das vias de administração de medicamentos. A escolha da forma farmacêutica depende da via de administração e a escolha da via de administração dos fármacos depende de uma série de fatores, tais como: Efeito local ou sistêmico; Biodisponibilidade do fármaco: solubilidade e estabilidade; Duração do tratamento e posologia; Tipo e situação do paciente: idade, sexo, internado, em coma. Fonte: Shutterstock A via de administração mais comum é a oral. Acredita-se que cerca de 75% das prescrições médicas sejam realizadas dessa forma. Isso se deve, principalmente, à facilidade de administração e transporte, à estabilidade do medicamento e à maior facilidade e adesão ao tratamento. ATENÇÃO O mesmo princípio ativo, porém, pode ser formulado em mais de uma forma farmacêutica e ser administrado por vias diferentes com o objetivo de modificar a velocidade de ação do fármaco. Isto se deve muitas vezes à necessidade de se alterar a absorção do princípio ativo, evitando, por exemplo, o efeito de primeira passagem. Pode-se observar, portanto, que a biodisponibilidade dos fármacos diminui quando eles são metabolizados pelo fígado e sofrem o efeito de primeira passagem, principalmente quando administrados via oral. A tabela a seguir apresenta, de forma resumida, as vias de administração de medicamentos e as principais formas farmacêuticas existentes. Via de administração Local Forma Farmacêutica Oral Boca Trato gastrointestinal via boca Comprimidos, cápsulas. Soluções (Gotas), xaropes, elixires, suspensões, géis, pós e granulados. Sublingual Sob a língua Comprimidos, Pastilhas, Soluções (Gotas). Tópica Pele cremes, pomadas, géis, pastas, emplastros, loções, aerossóis, soluções, Suspensões. Transdérmica ou Percutânea Pele Adesivos e discos transdérmicos Oftálmica Olhos e Conjuntiva Pomadas, colírios (soluções ou suspensões), inserts (lentes de contato) Nasal Nariz soluções, suspensões, sprays, inalantes. Respiratória ou Pulmonar Pulmão Aerossóis Auricular Ouvido soluções (gotas) Retal Reto soluções (enemas), pomadas,supositórios. Vaginal Vagina Comprimidos, pomadas, géis, óvulos, soluções. Parenteral Injetável Soluções e suspensões Intravenosa Intra-arterial Intracardíaca Intratecal ou intraespinhal Intraóssea Intra-articular Intrassinovial Intradérmica Subcutânea Intramuscular Veia Artéria Coração Medula ou coluna espinhal Ossos Articulação Fluido das articulações Pele Sob a pele Músculo Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Uma vez já tendo entendido que, para o desenvolvimento de uma forma farmacêutica, é necessário antes determinar a via de administração do medicamento, vamos agora conhecer um pouco melhor as principais vias de administração de medicamentos: a via oral, via parenteral, via retal, via tópica e percutânea, e vias ocular, nasal e auricular. VIA ORAL A via oral é a via de administração de medicamentos mais frequentemente usada, e considerada uma via sistêmica. É também aquela que apresenta o maior número de formas farmacêuticas, podendo tanto ser líquidas, como sólidas. Dentre as formas líquidas, destacam- se as soluções orais ou gotas, as suspensões, os xaropes e elixires; entre as formas farmacêuticas sólidas, destacam-se os comprimidos, as cápsulas, os pós e granulados. COMPRIMIDOS são formas farmacêuticas sólidas de forma e tamanho definidos, constituídos por um ou mais princípios ativos e excipientes e obtidas por um processo de compressão. CÁPSULAS são formas farmacêuticas sólidas, de tamanho e forma definidos, constituídas por um invólucro gelatinoso, no qual está inserido um ou mais princípios ativos e excipientes. PÓS são formas farmacêuticas sólidas obtidas a partir de uma mistura de um ou mais princípios ativos com excipientes, geralmente, apresentadas na forma de sachês. GRANULADOS são formas farmacêuticas sólidas obtidas a partir de um processo de granulação seca ou úmida, constituído de um ou mais fármacos e excipientes. SOLUÇÕES ORAIS OU GOTAS são formas farmacêuticas líquidas obtidas a partir da dissolução de um ou mais princípios ativos e excipientes, que auxiliam a solubilização dos fármacos e garantam uma melhor estabilidade e conservação do medicamento. SUSPENSÕES são formas farmacêuticas líquidas obtidas por dispersão mecânica e constituída por um ou mais princípios ativos e excipientes que garantam a estabilidade e a conservação do medicamento. XAROPES são formas farmacêuticas líquidas e açucaradas obtidas por dissolução simples e constituídas por um ou mais princípios ativos e excipientes que auxiliam na solubilização dos fármacos e garantam uma melhor estabilidade e conservação do medicamento. ELIXIRES são formas farmacêuticas líquidas e açucaradas, contendo álcool como veículo, obtidas por dissolução simples e constituídas por um ou mais princípios ativos e excipientes que auxiliam na solubilização dos fármacos e garantam uma melhor estabilidade e conservação do medicamento. É importante destacarmos que a via de administração oral apresenta algumas desvantagens do ponto de vista de absorção do fármaco quando comparadas a outras vias. A primeira delas diz respeito à biodisponibilidade do fármaco, que, quando administrado por via oral, tem, usualmente, sua biodisponibilidade diminuída. javascript:void(0) Fonte: Freepik Figura 18: Via de administração oral. BIODISPONIBILIDADE A biodisponibilidade consiste na velocidade e na quantidade de fármaco que atinge a circulação sanguínea a partir de uma determinada forma farmacêutica, está diretamente relacionada com a capacidade de absorção do fármaco. Uma vez que o medicamento é administrado por via oral, parte dele é metabolizado pelo fígado, etapa esta conhecida como efeito de primeira passagem. Consequentemente, a fração biodisponível e que alcança a corrente sanguínea é diminuída. Ainda assim, a via oral é considerada a mais importante, devido a sua facilidade de administração e transporte e a de maior facilidade posológica e adesão ao tratamento pelo paciente, conforme figura 18. VIA PARENTERAL A via parenteral é popularmente conhecida como via injetável. Existem 3 principais vias de administração parenteral, que são: Intravenosa (IV), Intramuscular (IM) e Subcutânea (SC). A Tabela 2 apresenta de forma mais detalhada todas as vias de administração parenteral. A grande vantagem da via parenteral frente às demais vias de administração de medicamentos, principalmente, a via oral, está no fato de o fármaco não passar pelo trato gastrointestinal (TGI) e, consequentemente, não sofrer efeito de primeira passagem. SAIBA MAIS Dessa forma, a absorção do fármaco através da via parenteral é mais rápida e a biodisponibilidade maior. Uma outra vantagem é que, por conta da maior biodisponibilidade de fármacos, é possível administrar doses menores, reduzindo as probabilidades de efeitos colaterais e toxicidade. As preparações injetáveis encontram-se geralmente na forma de soluções, suspensões e, mais recentemente, em pós para reconstituição injetável, o que melhora a estabilidade do medicamento, conforme figura 19. Fonte: Freepik Figura 19: Via de administração parenteral. VIA RETAL A via de administração retal pode ser utilizada para ação local, sistêmica ou mecânica. Dentre as formas farmacêuticas mais utilizadas, estão os supositórios, mas existem também as pomadas e as soluções. Essas últimas, mais comumente conhecidas, como enemas. ETAPA 01 ETAPA 02 ETAPA 03 ETAPA 01 Ação mecânica - Efeito laxativo. Exemplo: supositório de Glicerina; ETAPA 02 Ação sistêmica - o fármaco passa à corrente sanguínea desenvolvendo efeitos sistêmicos como os anti-inflamatórios para o tratamento das vias hemorroidais; ETAPA 03 Ação local - pode ser para um tratamento hemorroidal ou para o tratamento de parasitas, como por exemplo as pomadas como auxiliares ao tratamento hemorroidal. A via retal pode ser uma alternativa interessante para a administração de fármacos que sofrem ação ou inativação pelo suco gástrico ou para pacientes com episódios de vômitos e dificuldades de deglutição. Apesar disso, é importante lembrar que, mesmo sendo administrados no reto, esses fármacos também sofrem efeito de primeira passagem, conforme figura 20. Fonte: Shutterstock Figura 20: Via retal. VIA TÓPICA E TRANSDÉRMICA A pele é o maior órgão do corpo humano e, por isso, é uma excelente via de administração de fármacos. No entanto, a pele é também um órgão de proteção e uma barreira física à entrada de substâncias estranhas ao nosso organismo, por esse mesmo, não é qualquer fármaco que consegue ultrapassar essa barreira. Dessa forma, a maioria dos medicamentos utilizados para aplicação sobre a pele são de ação tópica ou local e não ultrapassam a epiderme a ponto de alcançar a corrente sanguínea e desempenhar um efeito sistêmico. Eles se apresentam, geralmente, na forma de cremes, pomadas, géis, pastas e emplastros. Alguns fatores são importantes para que um fármaco possa ser administrado por via transdérmica, como: a solubilidade do fármaco, o coeficiente de partição óleo/água e a capacidade de formar eletrólitos. Para tanto, os medicamentos se encontram na forma de adesivos ou patches e são conhecidos como um sistema de liberação transdérmico (SLT). Fonte: Ciências Médicas News VOCÊ SABIA Este tipo de sistema auxilia aos fármacos a penetrarem através da pele, por meio dos poros, das glândulas sudoríparas, dos folículos pilosos e dos espaços intersticiais da superfície cutânea. Uma vez que a barreira da epiderme é ultrapassada pelo fármaco, este atinge os capilares presentes na derme e chega à circulação sistêmica. VIAS OCULAR, NASAL E AURICULAR Essas 3 vias de administração são consideradas vias tópicas e de ação local. Os medicamentos utilizados para essas vias encontram-se, geralmente, na forma de soluções, suspensões e pomadas. Para a administração ocular ou oftálmica, as preparações podem ser soluções ou suspensões aquosas, ou pomadas oftálmicas,mas devem ser sempre estéreis. Já as preparações para uso nasal, são administradas na forma de soluções aquosas, gotas ou de aerossóis, mas é preciso ressaltar que essas preparações são para tratamento local da mucosa nasal, e não para tratamento sistêmico. A via pulmonar ou respiratória é a adequada para tratamento sistêmico utilizando bombas de aerossóis por aspiração oral. Por último, as preparações otológicas são utilizadas para os tratamentos tópicos da via auricular, como infecções de ouvido, ou somente para auxiliar na remoção da cera. São formas farmacêuticas líquidas, geralmente, oleosas, com maior viscosidade, a fim de permanecer mais tempo em contato com o canal auditivo. Agora, assista ao vídeo em que apresentamos, mais detalhadamente, estudos de pré- formulação para o desenvolvimento de fórmulas farmacêuticas. Estudos de pré-formulação para o desenvolvimento de fórmulas farmacêuticas VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM RELAÇÃO À VIA DE ADMINISTRAÇÃO ORAL DE FÁRMACOS, ANALISE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS: I. A ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS PELA VIA ORAL É A VIA MAIS COMUM E A QUE ENVOLVE A ABSORÇÃO MAIS RÁPIDA DOS FÁRMACOS. II. CERTOS FÁRMACOS SÃO ABSORVIDOS NO ESTÔMAGO, PORÉM, O PRINCIPAL SÍTIO DE ENTRADA PARA A CIRCULAÇÃO SISTÊMICA É O DUODENO, EM FUNÇÃO DE SUA MAIOR ÁREA DE CONTATO. III. A MAIORIA DOS FÁRMACOS SÃO ABSORVIDOS NO TGI, ENTRAM NA CIRCULAÇÃO PORTA E PASSA PELO FÍGADO, DEPOIS DE SER DISTRIBUÍDO PELA CIRCULAÇÃO GERAL. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) As afirmativas I e II estão corretas. B) As afirmativas II e III estão corretas. C) As afirmativas I e III estão corretas. D) Somente a afirmativa III está correta. 2. COM RELAÇÃO ÀS FORMAS FARMACÊUTICAS, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA CORRETAMENTE O NOME DA FORMA FARMACÊUTICA RELACIONADO A SEU RESPECTIVO CONCEITO. PARA ISSO, CONSIDERE AS SEGUINTES FORMAS: ELIXIR, SUSPENSÃO, SOLUÇÃO E XAROPE. I. É A PREPARAÇÃO FARMACÊUTICA, LÍQUIDA, LÍMPIDA, HIDROALCÓOLICA, DE SABOR ADOCICADO, AGRADÁVEL, INDICADA PARA ADMINISTRAÇÃO ORAL. II. É A FORMA FARMACÊUTICA LÍQUIDA QUE CONTÉM PARTÍCULAS SÓLIDAS DISPERSAS EM UM VEÍCULO LÍQUIDO, NO QUAL AS PARTÍCULAS NÃO SÃO SOLÚVEIS. III. É A PREPARAÇÃO LÍQUIDA CONTENDO UM OU MAIS FÁRMACOS, OBTIDAS POR DISSOLUÇÃO SIMPLES, NA QUAL OS ADJUVANTES FARMACOTÉCNICOS AUXILIAM NA SOLUBILIZAÇÃO DOS FÁRMACOS. IV. É UMA PREPARAÇÃO FARMACÊUTICA LÍQUIDA, VISCOSA, AÇUCARADA, AGRADÁVEL PARA O PALADAR, QUE AUXILIA NA SOLUBILIZAÇÃO DOS FÁRMACOS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) I. Elixir; II. Suspensão; III. Solução; IV. Xarope B) I. Xarope; II. Solução; III. Suspensão; IV. Elixir C) I. Xarope; II Suspensão; III. Solução; IV. Elixir D) I. Elixir; II. Solução; III. Suspensão; IV. Xarope GABARITO 1. Com relação à via de administração oral de fármacos, analise as seguintes afirmativas: I. A administração dos fármacos pela via oral é a via mais comum e a que envolve a absorção mais rápida dos fármacos. II. Certos fármacos são absorvidos no estômago, porém, o principal sítio de entrada para a circulação sistêmica é o duodeno, em função de sua maior área de contato. III. A maioria dos fármacos são absorvidos no TGI, entram na circulação porta e passa pelo fígado, depois de ser distribuído pela circulação geral. Assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. A via de administração oral de medicamentos é a via mais comum, porém, é a que também possui maiores possibilidades de variações de doses em função do efeito de primeira passagem. A via parenteral é a via de absorção mais rápida. Alguns fármacos iniciam seu processo de absorção ainda na boca, continuando no estômago. Contudo, é no duodeno onde ocorre a maior parte da absorção e a entrada para a circulação sistêmica em função de uma maior superfície de contato. Nesta fase, o fármaco atinge a circulação pela veia porta, passa pelo fígado, onde sofre o metabolismo de primeira passagem e é, então, distribuído pela corrente sanguínea. 2. Com relação às formas farmacêuticas, assinale a alternativa que apresenta corretamente o nome da forma farmacêutica relacionado a seu respectivo conceito. Para isso, considere as seguintes formas: Elixir, Suspensão, Solução e Xarope. I. É a preparação farmacêutica, líquida, límpida, hidroalcóolica, de sabor adocicado, agradável, indicada para administração oral. II. É a forma farmacêutica líquida que contém partículas sólidas dispersas em um veículo líquido, no qual as partículas não são solúveis. III. É a preparação líquida contendo um ou mais fármacos, obtidas por dissolução simples, na qual os adjuvantes farmacotécnicos auxiliam na solubilização dos fármacos. IV. É uma preparação farmacêutica líquida, viscosa, açucarada, agradável para o paladar, que auxilia na solubilização dos fármacos. Assinale a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. I. É a preparação farmacêutica, líquida, límpida, hidroalcóolica, de sabor adocicado, agradável, indicada para administração oral - Elixir II. É a forma farmacêutica líquida que contém partículas sólidas dispersas em um veículo líquido, no qual as partículas não são solúveis. - Suspensão III. É a preparação líquida contendo um ou mais fármacos, obtidas por dissolução simples, na qual os adjuvantes farmacotécnicos auxiliam na solubilização dos fármacos. - Solução IV. É uma preparação farmacêutica líquida, viscosa, açucarada, agradável para o paladar, que auxilia na solubilização dos fármacos. – Xarope MÓDULO 3 Resolver atividades relacionadas aos cálculos que envolvem formulações farmacêuticas CÁLCULOS FARMACÊUTICOS Todo o procedimento de preparação de um medicamento inicia-se da mesma maneira, a partir de uma fórmula farmacêutica ou uma prescrição médica. Para iniciar este processo, o farmacêutico precisa conhecer e realizar os cálculos que envolvem a preparação daquela fórmula farmacêutica ou prescrição. É necessário que você, estudante de Farmácia, conheça o sistema de pesos e medidas, uma forma de padronização das prescrições no mundo todo. SISTEMA MÉTRICO E DENSIDADE O sistema de pesos e medidas internacional é conhecido como Sistema Métrico. Este sistema nada mais é do que um sistema decimal, no qual: Grama (g) é a unidade de massa; Litro (L) é a unidade de volume; Metro (m) é a unidade de comprimento. Fonte: Autor Assim, tendo uma base decimal como referência para alterar a unidade métrica, a vírgula deverá ser deslocada à direita para uma denominação menor referente à base; ou à esquerda, para uma denominação maior referente à base. Para que o farmacêutico avalie uma prescrição com perfeição, é preciso compreender bem o sistema métrico de medidas e suas respectivas conversões, uma vez que erros de cálculos podem levar a interpretação errada das dosagens da formulação, ocasionando doses menores e sem efeito terapêutico adequado, ou doses maiores com possibilidade de efeitos tóxicos. As tabelas abaixo visam auxiliá-los a compreender melhor a conversão dessas medidas, levando sempre em consideração as unidades de medidas principais, como grama (g) e litro (L). Uma vez que o sistema métrico de comprimento não é utilizado para a elaboração de prescrições, iremos apresentar somente os sistemas de peso e volume. Tabela de Pesos no Sistema Métrico 1 picograma (pg) 0,000000000001 ou 10-12 1 nanograma (ng) 0,000000001 ou 10-9 1 micrograma (µg) 0,000001 ou 10-6 1 miligrama (mg) 0,001 ou 10-3 1 centigrama (cg) 0,01 ou 10-2 1 decigrama (dg) 0,1 ou 10-1 1 grama (g) 1,0 1 decagrama (dag) 10 1 hectograma (hg) 100 1 kilograma (kg) 1000 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela de Volumes no Sistema Métrico 1 picolitro (pL) 0,000000000001 ou 10-12 1 nanolitro (nL) 0,000000001 ou 10-9 1 microlitro (µL) 0,000001 ou 10-6 1 mililitro (mL) 0,001 ou 10-3 1 centilitro (cL) 0,01 ou 10-2 1 decilitro (dL) 0,1 ou 10-1 1 Litro (L) 1,0 1 decalitro (daL) 10 1hectolitro (hL) 100 1 kilolitro (kL) 1000 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Vamos observar agora alguns exemplos de conversão de unidades para que você possa fixar melhor o conteúdo aprendido. Conversão Resultado 2,45 kg para g 2,45 Kg = 2.450g 4,25 g para kg 4,25 g = 0,00425g 3,56 mg para g 3,56 mg = 0,00356 g 0,25 mg para g 0,25 mg = 0,00025g 1,12 mg para g 1,12 mg = 0,00112 mg = 0,00000112 2,25 L para mL 2,25 L = 2.525 mL = 2.250.000 mL 10,25 mL para mL 10,25mL = 0,01025mL Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Agora, vamos exercitar um pouco o que aprendemos? Observe o exemplo abaixo para fixar o conteúdo: EXEMPLO 1 Se um comprimido de aspirina contém 500 mg de ácido acetilsalicílico, quantos comprimidos poderão ser fabricados utilizando 25 kg de ácido acetilsalicílico? Resolução: A primeira etapa deverá ter as unidades todas iguais, portanto vamos às conversões de unidades. 25 kg = 25.000 g = 25.000.000 mg 1 comprimido ___________ 500 mg X comprimido ___________ 25.000.000 mg X = 50.000 comprimidos As duas principais unidades do Sistema Métrico utilizadas para a realização de uma prescrição médica são as de peso e volume. Dessa forma, recordar a relação entre elas também é importante para o farmacêutico no preparo das formulações farmacêuticas. A melhor maneira que existe para expressar a relação entre massa e volume é através da densidade. DENSIDADE Densidade = Massa V olume javascript:void(0) A densidade é definida como a massa de uma substância por unidade de volume, ou seja, é a razão entre a massa de um determinado material e o volume por ele ocupado no espaço. ATENÇÃO A unidade da densidade no Sistema Internacional de Unidades (SI) é o kg/m3 . Apesar disso, a unidade mais comum, principalmente, para cálculos farmacêutico, é o g/mL ou g/cm3. Vejamos um exemplo de como a densidade pode ajudar ao farmacêutico a interpretar as formulações. EXEMPLO 2 Exemplo 2: Um farmacêutico pesou 2,25 kg de glicerina, a qual possuía uma densidade de 1,28 g/mL. Qual o volume de glicerina foi pesado? Resolução: Primeiro precisaremos realizar a conversão das unidades e em seguida, utilizaremos a fórmula da densidade acima. 2,25 kg = 2.250 g EXPRESSÕES DE CONCENTRAÇÃO Na prática farmacêutica, as substâncias constantes das prescrições são, geralmente, representadas por concentrações. Observe o exemplo da figura 21. d = => 1, 28 = => v = 1. 757, 81mL m v 2.250 v Fonte: Shutterstock Figura 21: Exemplo de receituário. Conforme observado no exemplo anterior, as concentrações estão representadas em porcentagem. Mas você já sabe que os princípios ativos e as substâncias químicas podem estar representados por várias unidades de concentrações, como: porcentagem, molaridade, normalidade, g/L ou g/mL, razão e proporção, entre outras. Iniciaremos nossa abordagem das expressões em concentração com a forma mais usual: a porcentagem. EXPRESSÃO DE CONCENTRAÇÃO EM PORCENTAGEM A expressão de concentração em porcentagem significa partes por cem. Isso significa que: 10% DE 1000 É IGUAL A 10/100 X 1000, QUE É IGUAL A 100. 25% DE 1500 QUE SIGNIFICA 25/100 X 1500, QUE É IGUAL A 375. Contudo, a porcentagem não apresenta uma unidade definida, então 15% de 150 g são 22,5 g. Os cálculos que envolvem porcentagem são, frequentemente, usados na prática farmacêutica e podem ser representados da seguinte forma: % P/V número de gramas de um constituinte em 100 mL de uma preparação líquida. % P/P número de gramas de um constituinte em 100 g de uma preparação. % V/V número de mL de um constituinte em 100 mL de uma preparação MG% número de mg de um constituinte em 100 g ou 100 mL de uma preparação. Vamos observar alguns exemplos para que você possa compreender melhor como essas concentrações podem ser utilizadas na prática. EXEMPLO 3 Considere as informações a seguir: Creme de Ureia a 10% Ureia 10% (p/p) Óleo de Amêndoas Doce (OAD) 5% (p/p) Creme Base q.s.q 120 g Na formulação acima, temos ureia 10% (p/p). Isso quer dizer que a concentração final de ureia na formulação deverá ser de 10%. Dessa forma, se iremos preparar 120 g de creme com concentração final de ureia a 10%, usaremos 12 g de ureia. Resolução: 10 g de ureia _________ 100 g de creme X g de ureia _________ 120 g de creme X = 12 g de ureia Já o óleo de amêndoas doce, é encontrado na forma líquida e está na formulação em uma concentração de 5% (p/p). Uma vez que a formulação indica que se deve utilizar uma concentração de OAD de 5% (p/p), apesar de ser uma matéria-prima líquida, ele deverá ser pesado nessa formulação, e para se preparar os 120 g de creme contendo 5% de OAD deverão ser utilizados 6 g de óleo. Resolução: 5 g de OAD ______ 100 g de creme X g de OAD ______ 120 g de creme X = 6 g de OAD Nem sempre as prescrições e as formulações apresentam suas concentrações em porcentagem juntamente com as designações p/p, p/v ou v/v, muito pelo contrário, na grande maioria das vezes, essas informações não aparecem. Quando isso acontecer, você deverá observar o seguinte: Quando se trata de preparações de sólidos em líquidos, utilizar p/v. Quando se tratar de preparações de líquidos em líquidos, utilizar v/v. Quando se tratar de preparações de sólidos em semissólidos ou outros sólidos, utilizar, p/p. Veja mais alguns exemplos para fixar melhor o conteúdo. Tente resolver sozinho o exercício sem olhar a reposta para avaliar se você compreendeu bem os cálculos. EXEMPLO 5 Se 5 g de ácido salícílico são dissolvidos em quantidade suficiente para preparar 500 mL de solução, qual a concentração em termos de percentagem p/v da solução? Resolução: 5 g de ácido salicílico ________ 500 mL X g de ácido salicílico ________ 100 mL X = 1 g de ácido salicílico em 100 mL de solução = 1% (p/v) EXEMPLO 6 Para se preparar 40 g de um creme de colágeno a 6%, qual a quantidade de colágeno deverá ser pesada? Resolução: 6 g de colágeno ______ 100 g X g de colágeno ______ 40 g X = 2,4 g de colágeno Uma vez que você já aprendeu a avaliar prescrições que contenham as concentrações de matérias-primas expressas em porcentagem, iremos abordar agora uma outra forma de se expressar essas concentrações, conhecida como: Razão de Concentração. ATENÇÃO As concentrações expressas em porcentagem envolvem um conceito de relação, razão ou proporção. Nesse caso, uma relação de partes por cem. Já nas concentrações expressas na forma de razão, esse conceito permanece e está relacionado a uma parte ou uma unidade, representado, por exemplo, como 1:1.000; 5:10.000; 1:15.000. Geralmente, esse tipo de conceito é utilizado para expressar concentrações em preparações muito diluídas e interpretadas de acordo com a formulação. 1:1000 para sólidos em líquidos; 1 g de constituinte em 1.000 mL de uma preparação líquida. 1:1000 para líquidos em líquidos; 1 mL de constituinte em 1.000 mL de preparação líquida. 1:1000 para sólidos em sólidos; 1 g de constituinte em 1.000 g de uma mistura. Para compreender melhor as formulações que envolvem o conceito de razão de concentração, vamos analisar exemplo a seguir. EXEMPLO 7 Calcule a razão de concentração para uma formulação na qual existam 50 mg de fármaco em 1 L de solução. Aproveite e calcule também a concentração em porcentagem (p/v). Resolução: Na primeira etapa é preciso realizar as conversões. 50 mg = 0,05 g 1 L = 1.000 mL 0,05 g _____ 1.000 mL X g _______ 100 mL X = 0,005 g em 100 mL de solução = 0,005% 0,005 g ______ 100 mL 1 g __________ X mL X = 20.000 mL, então = 1 g em 20.000 mL = 1:20.000 Algumas substâncias precisam estar realmente muito diluídas nas preparações farmacêuticas. É o caso, por exemplo, de alguns metais quelados, como selênio e zinco, dos fluidos biológicos e de algumas substâncias químicas como o flúor. Nessas preparações, utilizam-se medidas de concentrações bem específicas para preparações diluídas, como mg%, parte pormilhão (ppm) e parte por bilhão (ppb), e as unidades internacionais (UI). Vamos conhecê-las um pouco mais a partir de agora. mg% ou mg/dL - essa expressão de concentração é muito utilizada para expressar a concentração de substâncias em fluidos biológicos, como: colesterol, glicose e nitrogênio. Uma vez que 1 dL corresponde a 100 mL, é possível utilizar ambas as nomenclaturas de mg% ou mg/dL. Nesse contexto, vejamos o exemplo a seguir: EXEMPLO 8 Um paciente apresentou o resultado de 120 mg% de glicose no sangue. Expresse esse resultado em mg/mL. Resolução: 125 mg de glicose ______ 100 mL de sangue X mg de glicose ________ 1 mL de sangue X = 1,25 mg em 1 mL de sangue = 1,25 mg/mL Partes por milhão (ppm) ou Partes por bilhão (ppb) - não é difícil perceber que a utilização dessas unidades de concentração refere-se a preparações extremamente diluídas e não comumente usadas. Um dos exemplos mais encontrados é em relação à concentração de flúor na água, ou por exemplo de gases no meio ambiente. Utiliza-se também números inteiros ou frações decimais como 1 ppm ou 0,2 ppb, o que expressa efetivamente 1 g de uma substância em 1 milhão de mL de solução ou 0,2 g de substância em 1 bilhão de mL de solução. Para compreendermos melhor, vamos observar o exemplo a seguir. EXEMPLO 9 A água purificada deve conter no máximo 10 ppm de sólidos totais. Expresse essa concentração em porcentagem e em razão de concentração. Resolução: 10 ppm = 10 g em 1.000.000 de mL 10 g de sólidos totais ______ 1.000.000 mL de água X g de sólidos totais _______ 100 mL X = 0,001 g de sólidos totais em 100 mL de água = 0,001% (p/v) 0,001 g de sólidos totais ______ 100 mL de água 1 g de sólidos totais __________ X mL de água X = 100.000, então, 1 g de sólidos totais em 100.000 mL de água = 1:100.000 Unidade Internacional (UI) - Alguns medicamentos como vitaminas, antibióticos e hormônios têm sua dosagem determinada através de sua potência ou atividade e não por uma dose específica. Em alguns desses casos, essa atividade biológica pode ser determinada através de uma massa em µg ou mg ou utilizando padrões de medidas internacionais como as unidades internacionais de medidas de potência (UI). Essas medidas seguem padrões internacionais de dosagem e são comparadas em massas ou designadas em termos de microgramas de atividade. Um exemplo disso é a penicilina G sódica, na qual cada um miligrama de fármaco deve conter não menos que 1.500 UI, e não mais que 1750 UI. Outros fármacos que apresentam suas potências expressadas em unidades são a insulina, a heparina e a vitamina E. Vamos analisar o exemplo abaixo para entendermos um pouco mais: EXEMPLO 10 Sabendo-se que um tipo de insulina U-100 contém 100 unidades/mL, quantos mL de insulina são necessários para se obter 40 unidades de insulina? Resolução: 100 unidades de insulina _____ 1 mL de solução 20 unidades de insulina ______ X mL de solução X = 0,2 mL de solução Vimos até agora diversas formas de expressarmos concentrações de fármacos ou outras substâncias presentes nas prescrições médicas e formulações farmacêuticas. Porém, essas não são as únicas maneiras. VOCÊ SABIA Em nosso organismo, existem diversas substâncias que se encontram na forma de eletrólitos, como os sais minerais, Na+, K+, Ca+2, Mg+2 (cátions), Cl-, HCO-3, HPO4-2, SO4-2 (ânions). Muitas vezes, é necessária a reposição desses eletrólitos através de medicamentos, nos casos de distúrbios eletrolíticos dos pacientes. As quantidades de eletrólitos presentes nos fluidos biológicos são, na maioria das vezes, expressas na forma de miliequivalentes (mEg). Vamos agora dar enfoque nas formulações de Equivalente-grama (Eq) e miliequivalentes (mEq): EXEMPLO 11 Equivalente-grama (Eq) = um Eq é a massa de uma substância que se equivale quimicamente a massa de outra substância. Para ficar mais fácil: Desta forma, o miliequivalente é o Equivalente-grama dividido por 1000: Vejamos agora, os exemplos do cloreto de sódio (NaCl) e do carbonato de lítio (Li2CO3), em que a valência do NaCl é igual a 1, e no caso do Li2CO3, a valência é igual a 2. Eq = PM V alência mEq = Eq 1000 Sendo assim, iremos calcular agora o valor do equivalente-grama e miliequivalente das duas substâncias para que você possa perceber as diferenças, para isso, usaremos o grau de ionização. Grau de ionização NaCl=Na+ + Cl- Li2CO3 = 2Li+ + CO3-² EXEMPLO 12 Sendo assim, o Cálculo do Equivalente-grama e Miliequivalente, é: NaCl - PM = 58 g Eq = PM/valência = 58/1 = 58 g mEq = Eq/1000 = 58/1000 = 0,058 g = 58 mg Li2CO3 - PM = 73,89 g Eq = PM/valência = 73,89/2 = 36,95 g mEq = Eq/1000 = 36,95/1000 = 0,03695 g = 36,95 mg Uma vez que você já recordou os conceitos de Eq e mEq, passaremos a partir de agora a conhecer esses conceitos aplicados às formulações farmacêuticas. Vejamos os exemplos a seguir: EXEMPLO 13 Quantos gramas de citrato de potássio monohidratado são necessários para se preparar 1 L de solução oral contendo 2,5 mEq/mL? Sabendo-se que o PM do C6H5K3O7.H2O = 324 g Resolução: A primeira etapa é determinar a valência da substância. Observe que a valência do citrato de potássio é igual a 3. Eq = PM/valência = 324/3 = 108 g mEq = Eq/1000 = 108/1000 = 0,108 g = 108 mg 1 mEq de citrato de potássio ______ 108 mg de citrato de potássio 2,5 mEq de citrato de potássio _____ X X = 270 mg de citrato de potássio 270 mg de citrato de potássio _____ 1 mL de solução oral X mg de citrato de potássio _______ 1000 mL de solução oral X = 270.000 mg = 270 g de citrato de potássio DILUIÇÃO DE CONCENTRAÇÃO As concentrações dos princípios ativos e demais substâncias nas preparações farmacêuticas podem ser expressas por uma série de unidades diferentes, como: porcentagem, razão de concentração, miliequivalentes, mg/mL, entre outras. Apesar disso, todas elas significam exatamente o mesmo: a quantidade de soluto existente em uma determinada quantidade de solvente total. No momento em que se varia a quantidade de solvente total de uma preparação, aumentando essa quantidade, por exemplo, altera-se a concentração da solução. Nesse caso, diminuindo a concentração final da preparação. Esta técnica é conhecida como diluição. Embora menos comum, o contrário também pode acontecer, isto é, pode-se diminuir o volume total da solução e aumentar a concentração final da preparação. A diluição de soluções é muito utilizada na prática farmacêutica, principalmente, no controle de qualidade e serve para facilitar o dia a dia do farmacêutico no preparo das formulações. É importante ressaltar que esta técnica não acontece apenas no caso de preparações líquidas, mas é possível também diluir preparações sólidas ou semissólidas, como no caso de cremes e pomadas. Geralmente, para se diluir as preparações sólidas, utiliza-se um pó ou excipiente inerte misturado à preparação original utilizando-se as técnicas de mistura e trituração. Você conhecerá um pouco mais sobre essas técnicas na unidade de operações farmacêuticas. Vamos agora conhecer um pouco mais sobre os cálculos que envolvem a diluição de preparações farmacêuticas. Vejamos o exemplo a seguir: EXEMPLO 14 O que acontecerá quando uma solução de 50 mL de hipoclorito de sódio a 20% for diluída a 100 mL? Você deve imaginar que essa concentração será reduzida pela metade, mas, como calcular isso? A melhor forma de se realizar esses cálculos é utilizando uma fórmula bastante simples conhecida como Fórmula da Diluição. Agora, aplicando a fórmula no exemplo a seguir, teremos: Fórmula para cálculo de diluição C1 . V1 = C2 . V2 Em que: C1 = concentração inicial da solução ou preparação V1 = volume inicial da solução ou preparação C2 = concentração final da solução ou preparação V2 = volume final da solução ou preparação Apliquemos esta fórmula ao exemplo, teremos: C1 = 20% de hipoclorito de sódio V1 = 50 mL de solução C2 = ? V2 = 100 mL de solução 20% . 50 = X . 100 X = 10% A concentração final da solução de hipoclorito
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