Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COMUNICAÇÃO COM EMOÇÕES FORTES As emoções fazem parte do mecanismo de adaptação dos seres humanos para sua sobrev ivênc ia , v i sando mobi l i zá - los rapidamente para ações nas funções e tarefas fundamentais da vida. As emoções que surgem no cuidado à saúde devem ser vistas como uma reação a mudanças nas expectativas em relação à consulta, ao cuidado ou à vida. Geralmente ocorrem em situações em que se vivencia uma perda ou há a percepção de limitações ou ameaças que antecipam uma perda. O primeiro passo diante de situações no cuidado à saúde em que essas emoções emergem consiste em identificar de quem elas se originam e o que as fez surgir, para que o profissional de saúde, em vez de reagir, responda de forma reflexiva e empática. A maneira de responder às emoções pode fortalecer ou prejudicar a relação. Uma reação imediata pode exacerbar as emoções e piorar a situação, enquanto uma resposta empática tende a fortalecer o vínculo e a parceria com o paciente, e tem potencial terapêutico. Adquirir habilidades para responder de forma empática à raiva, ao medo e à tristeza no cuidado à saúde contribui para o crescimento pessoal e profissional. As emoções que surgem no cuidado à saúde podem originar-se do profissional de saúde, do paciente ou de outras pessoas envolvidas nesse processo, e também da interação entre eles. O serviços de saúde são ambientes carregados de emoção, pois geralmente não são familiares aos pacientes e, em situações de internação, a grande mudança de hábitos devido às rotinas hospitalares pode causar uma sensação de vulnerabilidade. No paciente, as emoções podem emergir por eventos internos, relacionados a significados, percepções, experiências passadas, memórias e sua personalidade e/ou por eventos externos, como ambiente, comportamento e emoções de outras pessoas. Diversos fatores podem levar o profissional de saúde e os membros da equipe a se sentirem v u l n e r á v e i s e s o b r e c a r r e g a d o s emocionalmente, e podem limitar sua capacidade para lidar com emoções. Entre eles, estão a pressão assistencial e a limitação do tempo de consulta, a saúde física e mental do profissional e a dos pacientes, bem como o pouco tempo para refletir sobre o cotidiano profissional e para buscar recursos para equilíbrio e autocuidado. Uma reação imediata do profissional de saúde às emoções pode exacerbar a intensidade das emoções presentes e piorar a situação, como prejuízo na relação paciente-profissional de saúde. Por outro lado, a aprendizagem de habilidades para responder de forma empática tende a fortalecer o vínculo, tendo potencial terapêutico. A base da relação terapêutica é o “senso de comunicação” alcançado na relação empática. Se uma pessoa que é realmente compreendida sem riscos ou barreiras ao comunicar seus pensamentos e sentimentos, mesmo quando se expressa de maneira confusa, ela sente-se livre para comunicar-se de forma mais profunda. Possibilitando que ela explore significados de suas atitudes, resgatando, de modo construtivo, recursos internos para autorrealização. 3 elementos fundamentais para estabelecer uma relação empática: • Autenticidade: transparência do profissional como pessoa, evitando criar barreiras entre ele e o paciente • Aceitação, cuidado e valorização: intenção do profissional em legitimar o sentimento do paciente, sem fazer juízo de valor • Compreensão empática: escuta ativa, visando compreender os sentimentos experenciados pelo paciente. N o c u i d a d o à s a ú d e , a e m p a t i a é predominantemente cognitiva envolve a compreensão das experiências internas, preocupações e perspectivas do paciente, a capacidade de comunicar essa compreensão ao paciente e a intenção de ajudá-lo. Para que ocorra uma comunicação empática, o profissional deve estar motivado i n t e r n a m e n t e a a j u d a r , t e r autoconhecimento, bem como inteligência e r e g u l a ç ã o e m o c i o n a l . D e v e t e r transparência; aceitar, valorizar e cuidar da pessoa como ela é; e ter compreensão empática, que envolve a escuta qualificada, sem barreiras ou prejuízos de valor, a comunicação dessa compreensão ao paciente, para verificar sua precisão, e a legitimação do sentimento. A empatia é a capacidade de compreender a situação, a perspectiva e os sentimentos dos paciente, bem como seus significados; de comunicar essa compreensão e verificar sua precisão; e de, a partir dessa compreensão, atuar de forma terapêutica em relação ao paciente. O profissional de saúde deve refletir cotidianamente sobre como tende a reagir diante de situações carregadas de emoções, identificando quais são seus pontos frágeis, que ativam essas emoções e reações. A identificação das emoções presentes ocorre por meio da atenção do profissional de saúde aos sinais verbais e não verbais do paciente de uma escuta qualificada, e sua resposta deve associar a linguagem não verbal e a verbal. A linguagem não verbal inclui contato visual, expressão facial que demonstre interesse pelo paciente, tom de voz suave, pausas, ritmo de fala não apressado, toque quando apropriado e espaço entre profissional e paciente. A linguagem verbal inclui: • Nomear a emoção que o profissional acha que o paciente parece estar sentindo (“O Sr. Parece estar preocupado…”). Quando a emoção não está expressa, é importante perguntar como o paciente está se sentindo, abrindo espaço para ele se expressar, perguntando por exemplo: “O Sr. Poderia me dizer como está se sentindo emocionalmente neste momento?”; • Validar (legitimar) o sentimento do paciente, o que demonstra compreensão e aceitação pelo que ele está sentindo, sem preconceitos, deixando-o mais à vontade para abrir-se e expressar sua emoção. • Identificar as principais preocupações; • Realizar escuta qualificada, sempre que o p o r t u n o , p a r a p r o p i c i a r m e l h o r compreensão e expressão da emoção • Apoiar o paciente por suas atitudes diante do que ele está passando; • Reconhecer quando algo na interação foi inadequado, se houve algum mal-entendido, e pedir desculpas caso isso tenha ocorrido • Demonstrar que se importa com o paciente, por meio de parceria, demonstrando que junto com ele fará o melhor possível para ajudá-lo a lidar com a situação, respeito e apoio. ACRÔNIMOS PARA FACILITAR O USO DESSAS HABILIDADES PEARLS • Parceria: “Vamos trabalhar juntos para…”; • Emoção: “Você parece estar se sentindo…”; • Apreciação / Desculpas: “Obrigada por compartilhar isso comigo.” / “Peço desculpas por ter te irritado”. • Respeito: “Admiro sua força e coragem”. • Legitimação: “Qualquer pessoa que estivesse passando por isso se sentiria como você”; • Apoio / Support: “Você tem passado por tanta coisa. Não deve ser nada fácil lidar com tudo isso”. OU “Eu vou continuar acompanhando você, pode contar comigo”. NURS • Nomear • Compreender (Understand) • Respeito • Apoio (Support) SENTIMENTOS A falta de confiança no médico ou no sistema geralmente precipita medo e raiva, enquanto a perda da esperança ou o luto pela perda tendem a causar tristeza, a qual pode ser intensificada por quadros depressivos. Raiva Costuma ser uma das emoções mais desafiadores para a resposta empática, pois quando uma pessoa se sente “atacada”, sua tendencia é defender-se. Ela tende a encobrir a tristeza e/ou o medo, que podem ser expressos por agressividade verbal ou física O ideal seria sempre prevenir o surgimento da raiva, dando atenção à organização e tratando os pacientes com profissionalismo, comprometimento, respeito e cordialidade. Deve-se legitimar/validar o sentimento do paciente, mesmo sem concordar, dessa forma o paciente tende a se acalmar. Em seguida, se necessário pedir desculpas, valorizaro problema da paciente e explicar o que está acontecendo. A v e r b a l i z a ç ã o d e a p o i o m o s t r a o reconhecimento do profissional sobre a dificuldade enfrentada pelo paciente. O respeito pode ser expresso ressaltando a capacidade da pessoa em lidar com a situação. A parceria demonstra a intenção de trabalhar junto com o paciente, para encontrar soluções e tomadas de decisão compartilhadas. Medo Quanto ao medo, que pode ser intenso em situações com risco de perda, o profissional deve identificar na conversa o que o paciente já sabe e o que e o quanto quer saber, respondendo com sinceridade, especialmente a questões sobre prognóstico e tempo de vida. Evita-se dizer “Sinto muito”, que pode ser interpretado como sentir muito por algum erro que possa ter acontecido ou por não ter feito mais pelo paciente. Recomenda-se dizer: “Eu queria que fosse diferente”. Tristeza Pode manifestar-se com choro ou linguagem não verbal, quando o paciente faz pouco contato visual com o médico, olhando para baixo ou parecendo distraído. A resposta empática à tristeza segue os mesmos passos. NÃO ESQUECER Identificar as emoções, nomeá-las para o paciente, escutá-lo de forma qualificada, legitimar a emoção expressa, sem barreiras ou juízos de valor, pedir desculpas, agradecer o compartilhamento, apoiar o paciente, perguntar sobre suas preocupações, bem como demonstrar interesse, respeito e parceria são elementos de uma resposta empática. A comunicação não verbal deve estar em sintonia com a comunicação verbal, incluindo contato visual, expressão facial que demonstre interesse pelo paciente, tom de voz suave, pausas e ritmo calmo da fala. Em pacientes com medo e tristeza, é importante identificar e acionar a rede de apoio social. Quando a raiva ameaçar a segurança, é necessário garantir a integridade. Além disso, é importante considerar a possibilidade de intoxicação por drogas lícitas ou ilícitas, e oferecer avaliação psiquiátrica e assistência psicológica.
Compartilhar