Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 1 de 8 Defina púrpura ➢ Púrpuras são sangramentos em pele – petéquias e equimoses – e em mucosa – gengivorragia, epistaxe, sangramento do TGI, hematúria ou menometrorragia, causada por distúrbios na hemostasia primária. Classificação etiológica das púrpuras ❖ Por defeitos no funcionamento das plaquetas - congênitos ou adquiridos - Alteração no tempo de sangramento - Contagem normal de plaquetas ❖ Trombocitopênicas - Redução do número de plaquetas - Por falta de produção ou consumo aumentado ❖ Etiologia imunológica ❖ Etiologia não-imunológica ❖ Relacionadas à integridade dos vasos – púrpuras vasculares Defeitos de origem vascular - Malformações vasculares como hemangiomas e telangiectasias ou doenças do colágeno. - Não possuem alteração da hemostasia que justifique o sangramento. - Investigação laboratorial normal. - Prova de laço positiva, eventualmente. Causas de púrpura vascular: ❖ Púrpura de Henoch-Schonlein - Aparecimento de lesões purpúricas sobrelevadas, avermelhadas, às vezes com área de necrose isquêmica. - Sua distribuição inicia nos MMII e ascende progressivamente. Outros sintomas: → Artralgia/ artrite → Dores abdominais → Cefaleia → Hematúria - Ocorre principalmente em crianças, mas também ocorre em adultos, frequentemente associada ao uso de drogas ou infecções. - Estreptococcus, hepatite B, citomegalovírus, Epstein- Barr. - Medicamentos: sulfa, alopurinol, penicilina, iodetos, cimetidina, produtos químicos como inseticidas e conservantes ou corantes de alimentos industrializados. - Complicação mais grave: gromerulonefrite. • Diagnóstico - Lesão purpúrica e sintomas associados. - Hemograma e testes de hemostasia são normais. - Biópsia de medula para excluir outras causas. • Tratamento - Sintomático - Se resolve sozinha em 4 a 6 semanas na maioria dos casos – quadro benigno. - Corticosteroides para alívio dos sintomas. ❖ Doença de Osler-Rendu-Weber OU telangiectasia hemorrágica hereditária - Doença genética de herança autossômica dominante. - Displasia vascular sistêmica, com comprometimento cutâneo, mucoso e visceral. Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 2 de 8 - Telangiectasias na região perioral, mucosa nasal, língua e leito ungueal, pode ocorrer fístulas arteriovenosas pulmonares, fígado e SNC. - Epistaxe recorrente e sangramento no TGI são achados frequentes e pioram com a idade. - As manifestações pulmonares decorrem da formação de fístulas arteriovenosas com shunt direita-esquerda que causa hipoxemia crônica – pode haver geração de êmbolos (até mesmo sépticos) para o SNC e outros territórios vasculares. Previne-se com identificação e tratamento endovascular dessas fístulas. • Laboratório - Não há alteração laboratorial - Pode ocorrer anemia por perda de sangue • Tratamento - De suporte, por ser uma doença generalizada. - Cauterizações para epistaxes recorrentes, porém há recidivas. - Tratar anemia por perda de sangue se presente. • Mutações genéticas da doença - Relacionadas ao fator de angiogênese: TGF-beta Genes mutados: 1) ACVRL1 2) ENG 3) Outras mutações Trombocitopenias - Contagem de plaquetas < 150.000 • Manifestações hemorrágicas geralmente encontradas nas trombocitopenias: - Petéquias - Equimoses - Sangramento de mucosas - Sinais de doenças associadas como esplenomegalia, adenomegalia, lesões cutâneas ou articulares. → Esfregaço de sangue periférico: contagem de plaquetas. Causas de trombocitopenias ❖ Trombocitopenias induzidas por drogas ❖ Púrpura pós transfusional - Púrpura alo-imune, pacientes desenvolvem aloanticorpo contra o antígeno plaquetário comum, o PLA-1, que é parte da glicoproteína IIIa da membrana plaquetária. - Gravidez ou transfusão. • Quadro clínico - Desenvolvimento de trombocitopenia intensa, geralmente acompanhada de síndrome hemorrágica grave. - Destruição periférica das plaquetas. OBS: Corticoides e transfusão de plaquetas são INEFICAZES. • Tratamento - Administração de imunoglobulina em alta dose. - Plasmaférese. ❖ Infecções Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 3 de 8 - Em pacientes com infecção em UTI ou período neonatal. ❖ Púrpura pós-transfusão maciça - Redução de plaquetas ocorre pós transfusão maciça. - Paciente recebe grande volume de sangue estocado em curto espaço de tempo, relacionado geralmente a uma cirurgia ou trauma. ❖ Hiperesplenismo - Sequestro de plaquetas pelo baço por esplenomegalia de qualquer natureza. - Tratamento é eficaz com esplenectomia. ➢ Tratamento - Depende de sua etiologia. As opções são: 1) Transfusão de plaquetas 2) Suspensão do medicamento que causa a trombocitopenia 3) Corticoide 4) Imunoglobulina 5) Esplenectomia Púrpura trombocitopênica Imunológica • Produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas da membrana plaquetária. • Sensibilização de plaquetas que são fagocitadas por macrófagos. Há 3 tipos de PTI: 1) Clássica/ autoimune 2) Aguda 3) Associada a outras doenças Lúpus eritematoso sistêmico Doenças autoimunes da tireoide Doenças linfoproliferativas Infecção por HIV Radio ou quimioterapia Transplante de MO ➢ Diagnóstico - Quadro clínico: instalação abrupta de sangramento cutâneo, petéquias e equimoses. Podendo acompanhar sangramento mucoso, epistaxe, gengivorragia, menorragia, hematúria, sangramento em TGI e SNC. - O teste de anticorpos direto ou indireto (Coombs) não é obrigatória para diagnóstico. - Diagnóstico de exclusão de outras causas de trombocitopenia. - O exame físico mostra apenas o quadro purpúrico. - A presença de esplenomegalia faz pensar em doenças linfoproliferativas. ➢ Hemograma - Intensa trombocitopenia - < 5.000 - Prolongamento importante do tempo de sangramento. - Pode ocorrer síndrome de Evans = AHAI associada a trombocitopenia. ➢ Tratamento - Corticoide - Imunoglobulina EV em altas doses - Esplenectomia - Em casos resistentes: imunossupressores. Defeitos funcionais Das plaquetas A alteração plaquetária pode se dar devido a alterações genéticas: 1) Deficiência de glicoproteínas da membrana plaquetária e de receptores de agonistas plaquetários. 2) Defeitos de secreção plaquetária ou dos grânulos plaquetários. 3) Defeitos enzimáticos envolvidos na síntese de prostaglandinas plaquetárias. ➢ Doenças hereditárias: - Trombastenia de Glanzmann - Púrpura de Benard-Soulier - Doença do pool de armazenamento ➢ Alterações adquiridas - Por ação de drogas - Coagulação intravascular disseminada - Circulação extracorpórea - Uremia - Doenças mieloproliferativas Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 4 de 8 ➢ Quadro clínico Semelhante ao das púrpuras trombocitopênicas, com sangramento de mucosas, pele, que se iniciam habitualmente na infância, com equimoses aos pequenos traumas, epistaxe recorrente, hemorragia gastrointestinal, menorragia, sangramento pós trauma ou cirurgia. - Gravidade do quadro clínico é variável de acordo com o defeito. Pode ser discreta ou até ameaçar a vida. - HF positivo -> investigação diagnóstica. ➢ Diagnóstico - Quadro clínico de púrpura - Presença de tempo de sangramento prolongado e contagem de plaquetas normal ou próximo do normal. - Defeitos mais graves: prolongamento do tempo de sangramento de Duke, defeitos mais leves: prolongamento tempo de sangramento de ivy. ❖ Púrpura de Bernard Soulier - Ausência ou alteração na expressão do complexo Ib- IX-V, importante para a adesão plaquetária ao subendotélio, mediada pelo fator Willebrand. - Manifestações hemorrágicas desde a infância como equimoses, epistaxe, sangramentos a pequenos traumas. - Autossômico recessivo -> cossanguinidade ❖ Síndrome da plaqueta cinzenta - Ausênciade grânulos alfa em megacariócitos e plaquetas -> aparência descolorida. - Falta então: fator willebrand, fator 4 plaquetário, beta- tromboglobulina, PDGF, fibronectina, trombospondina. - Autossômico. ❖ Púrpura de Glanzmann - Defeito de glicoproteína IIb-IIIa – receptor do fibrinogênio. - Autossômica recessiva ❖ Doença do Pool plaquetário - Defeito dos grânulos delta/densos – serotonina, ADP – ativação de outras plaquetas na adesão plaquetária. - Manifestações clínicas leves: pouca tendência a sangramento, após traumas. - Pode estar associada a outras síndromes clínicas raras. ❖ Defeitos induzidos por droga 1) Aspirina 2) Anti-inflamatórios: ibuprofeno, indometacina, diclofenaco, naproxen Os defeitos por drogas são mais específicos, agindo em enzimas, prostaglandinas, já os defeitos por alterações genéticas são multifatoriais, podendo afetar desde a adesão até a ativação. ❖ Defeitos por doenças sistêmicas 1) Coagulação vascular disseminada 2) Circulação extracorpórea 3) Hepatopatia 4) Aterosclerose 5) Anemia falciforme 6) Hemangiomas 7) Aneurisma de aorta 8) Uremia - Mecanismo de alteração na ativação e liberação de grânulos – quadro semelhante à doença do pool plaquetário. Hemofilias Coagulopatias são doenças hemorrágicas hereditárias ou adquiridas decorrentes da deficiência de fatores de coagulação. ❖ Hemofilia Doença hemorrágica hereditária, decorrente da diminuição ou ausência de um fator da coagulação no plasma. A) Hemofilia tipo A Deficiência do FVIII – 80% dos casos B) Hemofilia tipo B Deficiência do FIX – Doença de Christimas • Herança ligada ao sexo – cromossomo X Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 5 de 8 • Geralmente não há relatos de casos semelhantes na família. • Mais comum em homens. Em mulheres é mais raro e elas podem ser portadoras. Manifestações clínicas - Hemartroses – sangramento intra-articular - Hematomas: muscular - Sangramentos: gengival, nasal, pele, subcutâneo, urinário, TGI, SNC - Articulações do ombro, cotovelo, quadril, joelhos e tornozelos são mais acometidas. História clínica História de sangramentos nos indivíduos do sexo masculino da família materna. - Período neonatal: sangramento, HIC, lesões iatrogênicas frequentes. - Após 1 ano: sangramento de partes moles (marcha), hemartroses, hematomas musculares (aumentam com atividade física). - Adultos: hemartroses e hematomas: hemofílicos leve e moderado – diagnóstico pode ser tardio. ❖ Complicações crônicas: Hemartroses de repetição podem levar a um quadro de artropatia hemofílica (degeneração); hipertrofia da sinóvia; lesão da cartilagem; lesão óssea. Diagnóstico laboratorial 1) Hemograma: normal 2) Tempo de sangramento e retração do coágulo: normais 3) TAP (via extrínseca): normal 4) TT: normal 5) Tempo de coagulação: normal ou aumentado 6) TTPa (via intrínseca – fator VIII e FIX): anormal – prolongado 7) Definitivo: dosagem do FVIII e FIX – diminuído ou ausente Tratamento - Sangramento: concentrado do fator de coagulação específico. - Pode haver necessidade de continuidade do tratamento, dependendo da localização e extensão do sangramento. - Não tem cura. • Concentrado liofilizado FVIII e FIX • Gelo local; imobilização; fisioterapia • Desmopressina (DDAVP): libera o FVIII e FvW das células endoteliais – hemofilia A leve • Antifibrinolíticos: ácido tranexâmico e episilon- aminocaproico para sangramento de mucosas. • Uso de ATBs não causa problemas mas anti- inflamatórios com AAS sim. Doença de Von Willebrand - Autossômica dominante - Quadro clínico variável - Disfunção plaquetária - Aumento do TS, TTPA - Diminuição: FVIII, agregação com ristocetina, FvW Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 6 de 8 Sintomas - Sangramentos de leve a moderado que variam de acordo com a intensidade da doença - Hematomas - Sangramentos menstruais prolongados - Sangramentos nasais - Sangramentos excessivos após pequenos cortes - Gengivorragia, equimoses Tipo 1 - Mais comum - Defeito quantitativo de FvW - Sangramentos leves a moderados Tipo 2 - Defeito qualitativo 2A FvW tem dificuldade de se unir às plaquetas – diminuição de grandes multímeros 2B FvW tem grande afinidade às plaquetas – diminuição do FvW livre na circulação 2M Não há ausência de grandes multímetos mas eles tem capacidade deficiente de ligação às plaquetas 2N FvW perde capacidade de ligação com o FVIII Tipo 3 - Mais grave - Deficiência total do FvW - Sangramentos mais severos Diagnóstico e testes - Sintomatologia - HF - Estudo laboratorial - Dosagem do antígeno von Willebrand – ensaio imunológico – para tipo 1 e 3 - Agregação induzida pela ristocetina (ligação do FvW com colágeno) - Determinação de multímeros Púrpura trombocitopênica Imune – PTI Doença auto-imune caracterizada pela destruição imunológica e pela supressão da produção de plaquetas resultando em trombocitopenia e predisposição ao sangramento. 1) Primária: sem causa definida 2) Secundária: causas imunes Causas imunes Sd. Antifosfolípides, LES D. linfoproliferativas LLC, LNH Síndrome de Evans AHAI + PTI Infecções HIV, Hepatite C, CMV, helicobacter pylori, varicela zoste, malária, dengue Induzida por drogas Vacinação Pós transplante de MO - • Causas não imunes: trombocitopenias congênitas, quimioterapia, radioterapia, deficiência de Vit B12 e folato, leucemias, SMD. • Heparina, quimino, CIVD, PTT, SHU • Hiperesplenismo: hipertensão portal, doenças proliferativas do baço Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 7 de 8 PTI primária aguda Até < 3 meses do diagnóstico PTI primária persistente 3 a 12 meses PTI primária crônica Acima de 12 meses • Linfócitos B: auto-anticorpos IgG – contra proteínas de membrana das plaquetas e megacariócitos – destruição e redução da produção das plaquetas. • Linfócitos T: efeito citotóxico - destruição e redução da produção das plaquetas. OBS: TPO geralmente baixa na PTI Diagnóstico 1) Primária: diagnóstico de exclusão entre causas não auto-imunes e causas secundárias associadas a trombocitopenias. • História clínica: infecções, drogas, doenças, sangramento cutâneo-mucoso. • HF: trombocitopenias congênitas • Exame físico: quadro purpúrico; ausência de adenomegalia e visceromegalia ❖ Exames laboratoriais 1) Contagem de plaquetas: < 100.000 2) Reticulócitos: aumentam se Síndrome de Evans 3) Esfregaço do sangue periférico: número e forma 4) Mielograma: hiperplasia de megacariócitos em alguns casos 5) Coombs direto 6) Sorologia para infecções: H. Pylori, HCV, HIV 7) Anticorpos: antifosfolípides, antinuclear, antitireoide 8) Função tireoidiana 9) PCR para CMV e parvovírus 10) TS prolongado 11) Prova do laço positiva 12) Testes de coagulação normais Tratamento - Prevenção de sangramento - Redução da produção de IgG: corticoesteroides, azotioprina, ciclofosfamida, rituximabe, ciclosporina - Esplenectomia - Aumento da produção de plaquetas - Redução da destruição mediada por receptores FC • Tratamento PTI em crianças e adolescentes: - Sem sangramento/ moderado, independente da contagem de plaquetas: OBSERVAÇÃO - Sangramentos graves: primeira linha – prednisona + primeira dose de imunoglobulina - Não respondentes: segunda linha – Rituximabe, dexametasona em altas doses, esplenectomia (PTI persistente, crônica, sangramento significativo, pacientes não responsivos). Esplenectomia deve ser retardada por pelo menos 12 meses: risco de infecção e morte. • Tratamento PTI em adultos: - Primeira linha: prednisona – redução lenta e gradual - Prednisona e imunoglobulina – aumento rápido da contagem de plaquetas - Imunoglobulinas: se contra-indicado corticoides - Segunda linha – para refratários ou dependenes de corticoide: esplenectomia,rituximabe, agonistas dos receptores da trombopoetina. • Terceira linha de tratamento - Isolados ou em combinação para pacientes que não respondem a tratamentos de primeira e segunda linha: Azotioprina, ciclosporina, ciclofosfamida, danasol, dapsona, vincristina. • Tratamento na emergência - Internação - Corticoides em altas doses: metilprednisolona IV 3 dias e depois seguir com prednisona Hematologia Ana Catarina Dutra Rebelo - Medicina Página 8 de 8 - Imunoglobulina concomitantemente - Transfusão de plaquetas - Plasmaférese - Esplenectomia
Compartilhar