Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autoras: Profa. Tércia de Tasso Moreira Pitta Profa. Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva Colaboradoras: Profa. Roberta Borges Hoff Matarazzo Profa. Tânia Sandroni Artes Visuais Interdisciplinar Professoras conteudistas: Tércia de Tasso Moreira Pitta / Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva Tércia de Tasso Moreira Pitta Possui graduação em Pedagogia (licenciatura plena) e especialização em Psicopedagogia – Universidade São Marcos (1995). Também concluiu especialização em Psicopedagogia Clínica pela Epsiba – Escola Psicopedagógica de Buenos Aires (2000). Possui mestrado em Educação, Arte e História da Cultura – Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005). Atuou com educação musical infantil de 1989 a 2005 e como orientadora educacional de 2000 a 2009. É professora de Ensino Superior desde 2000. Foi psicopedagoga na Casa do Adolescente, apoiada pela Secretaria da Promoção Social de Itaquaquecetuba, de 2006 a 2009. Professora do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia desde 2008 na Universidade Mogi das Cruzes e desde de 2010 na Universidade Paulista – UNIP. Autora do livro infantojuvenil Loyola – A Cantora Semibreve e de artigos em revistas eletrônicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, da Universidade Guarulhos e da Revista da Epsiba. Concluiu vários cursos de extensão na Unesp, PUC, USP, entre outras. Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva Doutora pela Unicamp, na área de Psicologia Educacional, mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo, psicopedagoga, atuando na área de Formação de professores, e pedagoga por formação. Realiza cursos e palestras na área da Educação, tendo como temas: Formação de Professores, Inclusão Escolar e Orientação Vocacional. Professora-titular da Universidade Paulista – UNIP, ministra aula nos cursos presenciais e na educação a distância, atuando como líder de disciplina. Escreveu livros-textos para EaD e é coautora do livro A Escola e o Aluno: Relações entre o Sujeito-Aluno e o Sujeito-Professor. Desenvolve projetos para atender à comunidade da região do município de Santana de Parnaíba. Coordena os projetos: Oficinas Pedagógicas de Arte e Expressão – que trabalha com crianças com dificuldade de aprendizagem da região; e Menos Um – projeto de alfabetização de jovens e adultos da região. Participa dos grupos de pesquisa registrados na CNPq: “Multiletramento na Formação Contínua de Educadores” e “Diversidade e Inclusão nas Práticas Sociais”; e lidera o grupo de pesquisa “Linguagens Pedagógicas de Educação a Distância: Diversidade em Ação”, da Universidade Paulista – UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P688a Pitta, Tércia de Tasso Moreira. Artes visuais interdisciplinar. / Tércia de Tasso Moreira Pitta, Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Artes visuais. 2. Interdisciplinaridade. 3. Arte-educação. I. Silva, Lisienne de Morais Navarro. II. Título. CDU 7.01 U507.06 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Virgínia Bilatto Juliana Mendes Sumário Artes Visuais Interdisciplinar APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 INTERDISCIPLINARIDADE NA ARTE .............................................................................................................9 1.1 Interdisciplinaridade ..............................................................................................................................9 1.1.1 Pensemos na interdisciplinaridade. Qual seu significado?........................................................9 2 ARTE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ........................................................................................ 21 2.1 A interdisciplinaridade no mundo artístico ............................................................................... 28 2.2 A dança na interdisciplinaridade ................................................................................................... 29 2.3 A música na interdisciplinaridade ................................................................................................. 32 2.4 O teatro na interdisciplinaridade ................................................................................................... 34 2.5 Artes plásticas na interdisciplinaridade ...................................................................................... 37 3 OS CAMINHOS DA ARTE NO BRASIL ....................................................................................................... 38 3.1 O que é arte? .......................................................................................................................................... 40 3.2 Onde utilizamos? .................................................................................................................................. 42 3.3 Arte e cultura ......................................................................................................................................... 43 3.4 História da arte ..................................................................................................................................... 44 3.5 Arte rupestre .......................................................................................................................................... 45 3.6 Arte na Mesopotâmia ......................................................................................................................... 46 3.7 Arte no Egito .......................................................................................................................................... 47 3.8 Arte na Grécia ........................................................................................................................................ 48 3.9 Arte em Roma ........................................................................................................................................ 50 3.10 Arte na Idade Média ......................................................................................................................... 51 3.11 Renascimento ...................................................................................................................................... 52 3.12 Barroco ................................................................................................................................................... 54 3.13 Classicismo ........................................................................................................................................... 55 3.14 Romantismo.........................................................................................................................................56 3.15 Modernismo ......................................................................................................................................... 57 3.16 Impressionismo ................................................................................................................................... 58 3.17 Expressionismo ................................................................................................................................... 60 3.18 Fauvismo ............................................................................................................................................... 61 3.19 Futurismo .............................................................................................................................................. 62 3.20 Dadaísmo .............................................................................................................................................. 63 3.21 Cubismo ................................................................................................................................................. 65 3.22 Pop art .................................................................................................................................................... 66 3.23 Op art ...................................................................................................................................................... 67 3.24 Land art .................................................................................................................................................. 67 3.25 Body art ................................................................................................................................................. 68 3.26 Abstracionismo ................................................................................................................................... 68 3.27 Surrealismo .......................................................................................................................................... 69 3.28 Hiper-realismo .................................................................................................................................... 69 4 MODALIDADES DE ARTE ............................................................................................................................... 70 4.1 Dança ........................................................................................................................................................ 70 4.2 Música ....................................................................................................................................................... 71 4.3 Artes visuais ............................................................................................................................................ 72 4.4 Artes plásticas ........................................................................................................................................ 72 Unidade II 5 ARTE-EDUCAÇÃO ............................................................................................................................................ 77 5.1 Quem foram nossos professores? .................................................................................................. 78 5.2 Capacidades e habilidades para ensinar artes .......................................................................... 81 5.3 Leitura de imagens .............................................................................................................................. 82 6 A MÚSICA COMO RECURSO DIDÁTICO NO DECORRER DA HISTÓRIA ....................................... 83 6.1 Música: conceito e relações com estilos literários ................................................................. 86 6.2 A influência da música no comportamento socioafetivo de crianças e de adolescentes ................................................................................................................ 91 6.3 A música em sala de aula ................................................................................................................. 92 6.4 Metodologias pedagógicas para inserção da música no contexto escolar .................. 93 7 DANÇA E MOVIMENTO .................................................................................................................................. 95 7.1 Histórico da dança ............................................................................................................................... 95 7.2 Histórico da dança no Brasil ............................................................................................................ 99 7.3 Tipos de dança .....................................................................................................................................100 7.3.1 Dança étnica ...........................................................................................................................................100 7.3.2 Dança folclórica .....................................................................................................................................101 7.3.3 Dança teatral ..........................................................................................................................................102 7.4 Atividades rítmicas e expressivas através da dança .............................................................102 7.5 A linguagem corporal através da dança ...................................................................................103 7.6 A dança na escola e a “inteligência do movimento” ...........................................................105 7.7 Uso pedagógico e principais representantes ..........................................................................106 8 O TEATRO NA EDUCAÇÃO: UMA PRÁTICA INFLUENCIADORA DO AUTOCONHECIMENTO ............................................................................................................................107 8.1 Teatro em um contexto histórico ................................................................................................108 8.2 O teatro na formação oral e no desenvolvimento psicomotor e gestual da criança .........................................................................................................112 8.3 Questões metodológicas da aplicação do teatro no ambiente escolar .......................114 7 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Esta disciplina tem como objetivo trazer a você a possibilidade de trabalhar a arte de maneira interdisciplinar, desenvolvendo um olhar sensível e integrador, lidando com as diferentes áreas de conhecimento junto à arte, numa parceria fundamental para o desenvolvimento pleno do profissional dessa área. Sabe-se que uma das características humanas é o criar, recriar, refletir e interpretar o mundo expressando-se e colocando-se como participante dele. A curiosidade é inerente ao ser humano, tornando-o capaz de transformar o meio para uma vida melhor. Pensemos nas especificidades do profissional da arte e façamos um trabalho para que ele seja reconhecido como um dos elementos importantes na formação do sujeito ativo e transformador, que não separa o fazer arte do conhecer o mundo, o interpretar a arte do interpretar o mundo, o entender o processo artístico do entender o processo de ser no mundo. Desta forma, ao repensarmos o nosso agir, estaremos repensando a nossa posição na escola e na educação do ser humano em geral. Falar e trabalhar a arte e falar e trabalhar a educação, inserindo o aluno na sociedade. É necessário acompanhar as transformações que ocorrem na educação, atribuindo à arte um papel integrador dos conhecimentos e das áreas disciplinares. Através das características de cada pessoa, a arte auxilia no crescimento e amadurecimento, trabalhando a inteligência e formando o conhecimento do sujeito de si e do mundo. Ao trabalhar com arte, oaluno desenvolve componentes importantes para a interação no mundo. Ele desenvolve a observação, a percepção, o raciocínio, a emoção e a organização. Ter contato com a realidade de maneira integrada, dialogando com as disciplinas e articulando a prática pedagógica com a arte, trará a possibilidade de formar um cidadão mais consciente do seu papel social, resgatando o pensar e agir politicamente. Neste diálogo que teremos, queremos resgatar seu olhar para o todo, fazendo que a arte se comunique com todas as áreas do conhecimento. Aproveite o estudo e busque as indicações de leitura e filme para enriquecer seus conhecimentos. INTRODUÇÃO Nosso século pede que a reflexão, o conhecimento, a criação e a transformação façam parte do agir e do ser cidadão. Os desafios estão presentes em toda parte, e na educação ainda mais, pois é neste espaço que se possibilita a transformação e a reflexão do ser e do fazer. 8 Nossa cultura ainda não está preparada para a inclusão efetiva de um olhar que tenha uma perspectiva da diversidade, das diferentes maneiras de enxergar o todo e de compreender suas partes. A Unesco vem apresentando documentos interessantes que mostram a educação vigente como ainda atrasada, pedindo para que o educador se recicle e prepare o seu olhar para a complexidade que se apresenta no mundo de hoje. O olhar sensível e cuidadoso se faz necessário para que o homem interaja com o mundo dinâmico e globalizado que encontramos hoje. A redução do olhar para si, ignorando o outro, produz uma sociedade individualista e egocêntrica, não garantindo a integração nas relações que são estabelecidas e necessárias para viver e experimentar a globalização que se mostra, como aponta Fazenda (1994). Para a arte não separar dos diferentes olhares que compõem o mundo, é preciso que o educador se coloque disposto a estar atento às mudanças e a pensar a arte como uma ferramenta fundamental da transformação humana. O tempo e o espaço fazem parte da arte, e a sintonia com o ontem, o hoje e o amanhã deve ser privilegiada nas escolas, no planejamento e no fazer cotidiano. Quando se fragmenta o olhar ignorando o todo, fica quase impossível compreender a dinâmica do construir-se junto, na complexidade do mundo. Portanto, o desafio que se apresenta ao profissional da arte é integrar a subjetividade que permeia a arte no sentir, no perceber e no fruir com os componentes teóricos que se apresentam como importantes na formação do ser humano, os conteúdos a serem trabalhados nas escolas. Morin (2001) aponta uma inteligência humana acostumada a fragmentar, dificultando a compreensão do complexo e a elaboração de solução para situações-problemas que requerem um olhar mais complexo e amplo da situação. Ao fragmentarmos, perdemos a dimensão do problema ou do espaço ocupado, tornando-nos incapazes de analisar as partes, levando em consideração o contexto em que elas se apresentam. A arte, de maneira prazerosa e significativa, aproxima o ser humano do mundo. O trabalho será dividido em duas unidades, nas quais teremos a professora Lisienne apresentando a interdisciplinaridade na arte, buscando ampliar a sua visão, futuro arte-educador, aproximando a escola e todos os seus agentes educadores da arte e trabalhando os diferentes movimentos da arte junto com as disciplinas que compõem a educação básica. Na segunda parte, a professora Tercia discutirá a arte no seu contexto histórico e a importância dela na formação do indivíduo inserido na sociedade. Bom trabalho! 9 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Unidade I 1 INTERDISCIPLINARIDADE NA ARTE A interdisciplinaridade possibilita conhecer o mundo e as coisas de maneira ativa, em movimento, trazendo a transformação como algo natural do ser humano que o conhece. Um agir interdisciplinar requer atitudes dinâmicas, um olhar diferenciado, uma postura de paciência, uma interação de sujeito e o objeto, na qual não existe o excluído, e sim o percebido, um aprender com os erros, com os acertos e com as experiências. Neste caminho de um eterno descobrir a si e ao mundo, a arte toma um lugar importante, o de provocar, o de possibilitar e o de aceitar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (1997) – ressaltam que é por intermédio de um ensino que integre o racional e o imaginário que o aluno conseguirá efetivamente se desenvolver, fazendo que ele sinta, divirta-se, experimente o novo. Comecemos entendendo a interdisciplinaridade. 1.1 Interdisciplinaridade Caro aluno! Estamos em uma fase da história em que a palavra inter está forte na educação, na sociedade, nos comportamentos e, por que não, na arte. Temos a inter-relação – relacionamento entre duas pessoas ou entre pessoa e objeto; a internet – conexão entre as redes, os computadores; a interatividade – atividades entre pessoas; as interculturas – relação entre as diferentes culturas; a interdisciplinaridade – conexão entre as diferentes disciplinas; e muitos outros inter que poderíamos exemplificar. 1.1.1 Pensemos na interdisciplinaridade. Qual seu significado? A interdisciplinaridade atravessou os continentes, é uma palavra com vários sentidos e significados, por onde ela passa um sentido lhe é dado, pois sofre influência do meio, da cultura a qual a acolhe. Neste momento nos deteremos em três países nos quais a interdisciplinaridade é entendida como desenvolvimento integral do ser humano: França, Estados Unidos e Brasil. Para esses países, é relevante a busca de uma pessoa autônoma responsável, inserida na sociedade, capaz de tomada de decisão, criticidade e reflexão. Vejamos em que eles se diferenciam. A diferença está no paradigma. Por onde se pensa o educar do ser humano. 10 Unidade I Para a França, educar é conhecer, saber, o aprofundamento das ideias e do objeto de conhecimento. Apenas desta maneira o ser humano será verdadeiramente livre e autônomo para a tomada de decisão consciente, formando primeiro a razão do indivíduo. Nos Estados Unidos, o ponto principal da formação do ser humano é saber fazer, o agir dentro da sociedade. Para eles, a liberdade está intrinsecamente ligada ao agir dentro da sociedade. Sem isso, eles acreditam que o indivíduo não seja livre. Lenoir (2005) ressalta que os EUA focam em instrumentalizar o indivíduo para que ele aja no e sobre o mundo que o cerca; portanto, deve ser instrumentalizado para que isso aconteça. No Brasil a perspectiva está no levar o ser humano a “ser” dentro da sociedade. Nesta visão interdisciplinar brasileira, a educação deve desenvolver no ser humano, integralmente, um olhar para a subjetividade. Fazenda (2002), representante principal desta teoria no Brasil, se preocupa em desenvolver as pessoas, o autoconhecimento, descobrir-se por inteiro, agir consciente, reflexivo. Para a autora, o conhecimento está pautado pelo sujeito, por conhecer-se, conhecer sua capacidade de agir através de interação com objetos e reflexão. Somente desta forma ele será capaz de absorver e captar o conhecimento do mundo e agir no e sobre ele. Vejamos um quadro descritivo da interdisciplinaridade nos três países discutidos aqui. Visão epistemológica Visão instrumental Visão Fenomenológica Conceitual - acadêmica Operacional Ação Saber científico - reflexão Projetos saber - útil Sujeito por inteiro Pesquisa do sentido Funcionalidade Experiência humana França Estados Unidos Brasil Figura 1 O gráfico mostra diferentes visões interdisciplinares: a acadêmica (conhecer com embasamento, epistemologicamente); a instrumental (a qual prepara o ser humano para o agir no mundo, atender à sociedade); e o agir integral (o autoconhecimento para agir consciente e reflexivo na sociedade). 11 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Portanto, a interdisciplinaridade é uma proposta importante para a sociedade atual e contemporânea, pois ela possibilita uma visão do todo a ser visto, estudado e incorporado no jeito de ser e de pensar, um intercâmbio de informações, de reflexões com profundidade. A interdisciplinaridade traz aconexão do saber com diferentes áreas do conhecimento. Esta visão do aprender da França, dos Estados Unidos e do Brasil está pautada pela ideia de uma educação melhor para o século XXI, discutida pela Comissão Internacional da Educação, presidida por Jacques Delors. Depois de uma discussão aprofundada sobre o tema “Pessoa e Mundo”, chegou-se a um consenso, na década de 1990, sobre os pressupostos que irão dar base à educação, que efetivamente insira o indivíduo na sociedade, dando-lhe subsídio para que ele possa enfrentar as adversidades e transformar a si próprio e ao meio em que vive. A Unesco não pretende que a educação seja a única solução para as diferenças existentes na sociedade, mas espera que a contribuição da educação seja a ferramenta facilitadora da compreensão do mundo, das coisas que acontecem, desenvolvendo no ser humano a capacidade de reflexão, criticidade e transformação. Ao compreender a si mesmo e ao outro, o sujeito entra em conexão como o meio a que pertence, desenvolvendo um laço que possibilitará o diálogo e a ação solidária. Essa é a verdadeira essência da educação, um diálogo com as diferenças e com as semelhanças existentes. Ao pensar a educação desta forma, a diversidade, que pode ser trabalhada de várias maneiras, passa a fazer parte da formação e da visão do ser humano, enquanto relação natural e essencial em uma sociedade que visa crescer com as potencialidades e diferenças, abrindo espaço para as expressões culturais que compõem os múltiplos grupos sociais. Neste caminho, a educação deve ser encarada como espaço de transformação, de troca e discussão. A comissão presidida por Jacques Delors elaborou um relatório que discute os pilares para a educação, fechando em quatro aprendizagens que devem ser levadas em consideração em todos os níveis da educação, pois o aprender não se encerra em uma determinada época, idade ou fase. Essas quatro aprendizagens serão os pilares que sustentarão a educação, desafiando a todos a desvendá-los. São eles: a) Aprender a aprender (conhecer). b) Aprender a fazer. c) Aprender a conviver. d) Aprender a ser. 12 Unidade I a) Aprender a aprender (conhecer) Refere-se ao desenvolvimento da competência cognitiva, dar condições e propiciar situações para que o aluno desenvolva habilidades para buscar respostas para situações-problemas; desenvolver e incentivar a criatividade, a curiosidade, utilizando-as no seu cotidiano. Desta forma, o aluno desenvolverá a autonomia e, com isso, construirá o seu próprio saber, procurando, selecionando e sabendo utilizá-lo adequadamente. Esse tipo de aprendizagem tem como objetivo dominar as ferramentas que lhe possibilitam conhecer o mundo e interagir com os objetos que estão em constante mudança. A função do professor neste processo é mediar essa relação e ampliar o olhar, o sentir e o perceber de aspectos que circundam a cultura. O professor deve promover espaços e condições para que o aluno aprenda a aprender, para que possa se beneficiar das oportunidades que a sociedade educativa venha a oferecer. Para que isso seja concretizado, é necessário que o aluno tenha acesso aos diferentes tipos de metodologias científicas, deixando-as perto da ciência. No Ensino Médio e no Superior, a escola deve oferecer condições para que os alunos se instrumentem para entender a sociedade e o mundo. Figura 2 A charge nos apresenta a necessidade de repensar a escola e como ela se apresenta à sociedade, de levantar alguns questionamentos para que ela se apresente de maneira atrativa para os alunos, por exemplo: qual significado e que sentidos são atribuídos aos conteúdos trabalhados? Como é apresentado o conhecimento aos alunos? 13 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Pensemos! Como podemos instrumentar o indivíduo ou o aluno para resolver situações-problemas e pensar criticamente sobre o que o rodeia? Se o conhecimento não é estático, como preparar o aluno para as constantes mudanças? Saber apreender, buscar instrumentos que levem do conhecimento para a efetiva ação, requer um professor capaz de pensar o aluno como um ser pensante e único nessa tarefa, possibilitando situações e materiais para que ele se conheça e saiba interagir com o mundo do conhecimento. b) Aprender a fazer (agir) O ser humano só faz algo que conhece. Ao aprender a fazer o que se aprendeu, o ser humano se coloca na posição de partícipe, atuante social, habilitando-se a superar obstáculos e resolver situações-problemas que aparecerão. Fazer é caminhar para a autorrealização, produzindo e transformando o meio em que está inserido. Para se fazer direito, há de se conhecer o objeto da ação suficientemente para que se aja adequadamente, com competência. Para Rios (1997), o indivíduo deve saber fazer bem para que seja considerado competente. A autora ainda separa essa frase em três etapas importantes: Quadro 1 1ª etapa 2ª etapa 3ª etapa Saber Saber fazer Saber fazer bem Esse quadro mostra as etapas do desenvolvimento da competência real, que é o conseguir saber sobre um determinado assunto e agir adequadamente no meio, transformando-o, correspondendo ao que se denomina saber fazer bem algo. Para alcançar a terceira etapa, é preciso conhecer bem o objeto. É preciso saber colocar em prática o conhecimento adquirido, adaptando-o a diferentes situações que aparecerão. Quando percebemos que estamos no caminho certo, já experimentamos a sensação da ação realizada. Para ilustrar, pense em um adolescente que deseja ser um médico e que ainda está cursando o segundo grau. Por cada ano escolar que ele passar, estará realizando seu projeto e se aproximando dele. Cada dia em que ele passa na condição de estudante o aproxima da condição de profissional que ele almeja. Um grande estadista espanhol afirmou certa vez que ”a medida do homem é o passo”. Essa frase aponta para a ideia de que as grandes realizações humanas são construídas passo a passo. Por isso, cada passo consciente é uma fonte de realização para nossa vida. Tanto aprender a conhecer quanto aprender a fazer não se separam, pois, ao conhecer, a ação se transforma. Ao saber buscar o conhecimento e ao utilizar suas ferramentas para tal, passa-se a fazer, a agir. A transformação acontece, pois se passa a pensar: “Sei e consigo fazer algo”. 14 Unidade I Mas nos deparamos como uma questão prática, que é ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e prepará-lo para o trabalho. O que se deve fazer para que a escola se adapte a algo que ainda não se sabe? A arte pode auxiliar nessa transformação? O futuro da escola depende da capacidade de desenvolver, em seus alunos, a competência de transformar o conhecimento em inovações geradoras de empregos. O aprender a fazer não se limita a ensinar alguém a fazer ou fabricar algo. Ele ultrapassa esse espaço e entra no espaço do criar, do gerenciar, do administrar, do trabalhar em equipe, do pesquisar e envolver. Cabe ao arte-educador trazer a arte para a sala de aula de maneira interdisciplinar. Dialogar com os conhecimentos que a habitam é o grande desafio deste século. Para que estes objetivos relativos à educação sejam alcançados, há a necessidade de qualificação e competência. O que fazer para que o conhecer seja mais prazeroso? É preciso trazer o cotidiano para a sala de aula, possibilitando que o aluno, através dos diferentes movimentos artísticos, possa inserir-se no mundo letrado da sociedade. Ler é, antes de tudo, ler o mundo, as imagens, os gestos e as músicas. Escrever é comunicar-se, é colocar seu sentimento. Para Delors (2004), aprender a fazer não deve prender-se ao ato de fabricar algo, deve transcender a prática, é o poder de pensar além, do transformar, do utilizar o material para outras finalidades que não apenas para aquele objetivo momentâneo. Em um mundo em que as informações são transitórias, o aprender a fazer acontece na interação, na experiência, no desejo, na significação das coisas. c) Aprender a conviver Está ligada ao fazer. Quando fazemos,entramos em contato com nós mesmos e com o outro. Esta interação diz respeito ao autoconhecimento e ao autocontrole do sujeito. Esta competência é trabalhada com muita facilidade na arte, ao deparar-se com seu fazer e o fazer do outro, aprendendo a refletir e fazer crítica sobre seu trabalho e o do outro de maneira que se coloque no lugar que não lhe pertence e aprendendo a lidar com a diversidade de problemas que possa surgir. O ser humano é social e só sobrevive na relação interpessoal, fazendo que o aprender a conviver com a frustração, com a raiva, com o amor e a satisfação seja imprescindível nesse caminho de vir a ser um sujeito totalmente inserido na sociedade. Essa aprendizagem é o grande desafio do professor dos tempos contemporâneos, pois educar o aluno para conviver com o outro e com as suas limitações requer levar o aluno para o autoconhecimento. A história humana é feita de conflitos, e as mudanças, na velocidade em que acontecem, permitem uma certa intensificação no elemento autodestrutivo. A arte pode trabalhar para evitar os conflitos e desenvolver a consciência moral do educando, capacitando-o a interagir com respeito e solidariedade, bem como a reconhecer no outro o direito de participar socialmente do grupo. 15 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Se a arte possibilita que os alunos tenham acesso a valores, crenças e conhecimentos, ela deve abrir novas possibilidades de realizações e transformações. É um espaço de formação e de transformação, de maneira prazerosa e significativa. Desta forma, cabe ao professor de artes conhecer seus alunos, a faixa etária, as necessidades relacionadas ao seu desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento da consciência moral da criança e da formação da identidade, dando suporte para trabalhar a internalização de normas e regras de convívio social, bem como preparar atividades que convidem o aluno a se expressar. É importante preparar atividades que estejam apoiadas na realidade sociocultural do aluno, entendendo a relação do homem e do meio como fator importante da aprendizagem. O desenvolvimento do eu acontece na busca do equilíbrio entre satisfazer a suas necessidades e atender a expectativas da sociedade e do outro. A escola deve auxiliar o aluno a desenvolver a consciência da sua própria existência, fazendo que ele reconheça os papéis que ele exerce na sociedade, haja vista que as pessoas exercem vários papéis sociais (filho, irmão, amigo, aluno, namorado). Reconhecer e entender esses papéis fazem parte da formação da identidade do autoconhecimento e da autoaceitação. Portanto a arte, sendo dialógica, deve interagir com a sociedade, com a realidade e com as histórias passadas. Se por um lado a arte ajuda os indivíduos a tomar consciência de que todo ser humano faz parte do universo, por outro lado esclarece que isso não o torna uma classe homogênea, pois cada pessoa possui características únicas de ver e entender a realidade e de ver e interpretar o mundo. Essa descoberta é contínua e necessária para a construção do ser humano. Desenvolver atitudes de empatia na escola, e particularmente na arte, é uma função difícil por requerer do professor uma postura de diálogo e de observador de seus alunos. Assim, de acordo com Delors (2004, p. 98), o ensino das histórias das religiões ou dos costumes pode servir de referência útil para futuros comportamentos, pois desenvolve uma visão ampla sobre os acontecimentos do mundo. Uma forma descontraída de trabalhar com os alunos é utilizar projetos com temas discutidos em sala e aprovados pelos alunos. Trabalhar em equipe ajuda a reduzir as diferenças e até os conflitos interindividuais. Delors (2004, p. 98) completa afirmando que “uma nova forma de identificação nasce destes projetos que fazem com que ultrapassem as rotinas individuais, que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças”. Para o professor de arte, cabe desenvolver uma metodologia que leve os alunos a interagirem e pesquisarem, transformando o resultado em uma peça, música, dança, uma escultura ou pintura. d) Aprender a ser A identidade é o que singulariza uma pessoa. É o que a torna única no mundo, diferente de todas as outras. 16 Unidade I “Conhece-te a ti mesmo”, estava escrito no Templo de Apolo, em Delphos, na Grécia Antiga, porque este conhecimento é a base de todos os que virão. Conhecer a si mesmo implica saber quem você é, suas qualidades, pontos que precisam ser melhorados, seus sonhos, suas frustrações e o significado que dá a tudo isso. Nossas relações interpessoais também se beneficiam da definição de nossa identidade. Aprendemos a nos colocar no lugar do outro, sentindo o que ele pode estar pensando. Fazemos isso com base em nossas emoções e em nossa racionalidade. Observação Pense nesta frase e leve para a arte: Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender (HERCULANO apud RODRIGUES, 2011, p. 6). Quando raciocinamos e mudamos nossas opiniões, muitas vezes, mudamos nossas estruturas mentais para um nível melhor, deixando de lado as nossas “velhas opiniões formadas sobre tudo” (SEIXAS, 1973). Conhecer-se e aceitar-se facilita o gostar de si. Afinal, quando conhecemos e aceitamos algo, é mais fácil gostarmos disso. Estudiosos da atualidade mostram que a educação deve contribuir para o desenvolvimento global da pessoa, deve favorecer crescimento do espírito e do corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, desenvolver autonomia no ser humano, torná-lo capaz de resolver uma situação, decidir sobre um problema e criticar uma ideia ou um posicionamento. Enfim, ser capaz de formar seu próprio juízo de valor e atuar conscientemente na sociedade. Segundo Delors (2004), mais importante que preparar as crianças para uma sociedade é prepará-las intelectualmente para compreender a sociedade e o mundo, bem como dar referências para pensar o mundo e comportar-se de maneira responsável nele. Desta maneira, pensemos a arte como cumpridora de um papel importante na transformação do ser humano na sociedade: ela atribui a liberdade de pensamento, de sentimento e imaginação, criando oportunidade a todos de desenvolverem seus talentos e permanecerem, na medida do possível, donos do seu próprio destino. Para que se possa superar os desafios da atual sociedade, faz-se necessário espírito de iniciativa, de criatividade, de inovação. 17 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Assim, atentemo-nos ao que dita o relatório “Aprender a Ser”: O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em volta a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos (DELORS, 2004, p. 105). Esse desenvolvimento começa no nascimento e percorre toda a vida do ser humano, num processo dialético de conhecimento de si e do outro, em movimentos constantes de descobertas. Portanto, arte é uma viagem ao interior do ser, com experiências frustrantes e satisfatórias que leva resultados de construção do eu e do outro. Observe a imagem a seguir. C o n h e c e r C o n v i v e r F a z e r S e r Educação: um tesouro a descobrir Figura 3 É necessário entender que a educação auxilia o indivíduo a se organizar para o aprender e agir durante sua vida social e produtiva. Contudo, tem-se de pensar em como desenvolver essa capacidade de saber conhecer, aplicar o que se conhece em diferentes situações e conviver com as diversidades pessoais e sociais que aparecerão. Essas experiências devem ter seu início na mais tenra idade, quando a criança começa a buscar formas de se expressar. A figura a seguir apresenta as influências que a criança sofre durante toda a sua formação. 18 Unidade I Política Tecnologia Cultura Família Escola Economia Psicológico Sociedade Figura 4 A figura mostra que para interagir na sociedade de maneiraplena é necessário um conhecimento mais complexo, ou seja, agir e ser de maneira interdisciplinar, permitindo-se ultrapassar as paredes da disciplinaridade e da fragmentação. Desta forma, a troca de informações e de saberes essenciais para a formação do cidadão do século XXI acontece naturalmente. Delors (2004), no relatório, apresenta um desafio de trabalho educacional; e Fazenda (2002) nos possibilita um olhar diferenciado para o trabalho da arte e para o desenvolvimento do trabalho do professor de arte. Piaget discute a importância da interdisciplinaridade na integração de disciplinas que contribuirão para o crescimento de todos os envolvidos no processo, ressaltando que pelo envolvimento interdisciplinar nascerá uma nova visão sobre o objeto, pois a junção de duas ou mais ideias sobre o mesmo objeto dará uma compreensão maior e mais clara sobre o que está sendo discutido ou realizado. Fazenda (2002), ao discutir interdisciplinaridade enquanto postura, salienta a importância de a pessoa estar aberta a escutar, a olhar, a tocar, a perceber e a esperar. Na nossa discussão tentaremos mostrar a importância de, enquanto artistas, entender a arte como instrumento de apreender o mundo, interpretá-lo e transformá-lo. 19 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Portanto, estudar a interdisciplinaridade e estudar as diferentes maneiras de se compreender a vida e o saber que a cerca é desenvolver sensibilidade, percepção e compreensão do todo, tendo em mente que o conhecimento ultrapassa os muros do aqui e agora, ultrapassa os muros do que é visto e lido, mas entra na sensibilidade, no olhar, na leitura criteriosa e nas relações possíveis de se fazer entre os conceitos e os fatos. Quando se consegue desenvolver esse olhar, os envolvidos na pesquisa e no estudo conseguem superar a visão fragmentada e organizar seu conhecimento de forma significativa e ampla. Dessa forma, o sujeito é inserido no meio social enquanto homem participativo capaz de interagir e dialogar com a realidade, tornando-se ativo nas decisões. Ferreira apud Fazenda (1994) nos traz uma definição para a interdisciplinaridade: O prefixo “inter”, dentre as diversas conotações que podemos lhe atribuir, tem o significado de “troca”, “reciprocidade” e “disciplina”, de “ensino”, “instrução”, “ciência”. Logo, a interdisciplinaridade pode ser compreendida como sendo a troca, de reciprocidade entre as disciplinas ou ciências, ou melhor, áreas do conhecimento (FERREIRA apud FAZENDA, 1994, p. 21-22). A interdisciplinaridade pretende garantir a construção de conhecimentos que rompam as fronteiras entre as disciplinas. Ela busca envolvimento das ações, compromisso diante dos conhecimentos, ou seja, atitudes e condutas interdisciplinares, sabendo utilizar o conhecimento obtido em diferentes situações e problemas. No entanto, para que o trabalho interdisciplinar possa ser desenvolvido pelos professores, eles devem apropriar-se de uma metodologia que saia da fragmentação, tão criticada, atualmente, para a integração dos conhecimentos, superando a dicotomia entre teoria e prática, as especificações de cada conteúdo, trabalhando-os conjuntamente de forma reflexiva. Quando nos referimos à fragmentação, estamos trazendo à tona as críticas existentes em relação à especificidade de cada disciplina, ao fato de cada uma delas trabalhar, unicamente, por sua lente de visão, seu ponto de vista, e não pelo todo, pela complexidade com que ela é composta. O conteúdo, dentro dessa abordagem fragmentada, é transmitido como se fosse único e isolado. Para Fazenda (1994), a metodologia interdisciplinar requer: [...] uma atitude especial ante o conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das competências, incompetências, possibilidades e limites da própria disciplina e de seus agentes, no conhecimento e na valorização suficientes das demais disciplinas e dos que a sustentam. Nesse sentido, torna-se fundamental haver indivíduos capacitados para a escolha da melhor forma e sentido da participação e, sobretudo no reconhecimento da provisoriedade das posições assumidas, no procedimento de questionar. Tal atitude conduzirá, evidentemente, a criação das expectativas de prosseguimento e abertura a novos enfoques ou aportes. E, para finalizar, 20 Unidade I a metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar, de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objetivando apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas, sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual desenvolve a capacidade criativa de transformar a concreta realidade mundana e histórica numa aquisição maior de educação em seu sentido lato, humanizante e libertador do próprio sentido de ser no mundo (FAZENDA, 1994, p. 69-70). Dessa forma, podemos encontrar nela um meio de levar o aluno ao conhecimento amplo dos fatos sob diferentes prismas. Compreendendo a extensão do fenômeno e da complexidade que envolve a realidade, necessita-se ter a noção da dimensão da diversidade que circunda o fato a ser estudado, aprendido ou pesquisado. O pensamento mais abrangente possibilita ao aluno, professor e/ou pesquisador ter a noção de que um fato, um problema ou uma situação não se encerra em uma única dimensão, pois ele é multidimensional, ou seja, engloba vários campos de conhecimento e vários olhares. Comecemos a ver e entender a interdisciplinaridade na arte, sua postura e visão diante do mundo contemporâneo. A interdisciplinaridade passou a ser pesquisada a partir do século passado, por volta de 1960, quando seu discurso e movimento envolveram todo o espaço social, tanto dentro dos muros acadêmicos quanto fora. Junto com esse movimento, começou-se a elaborar outras visões sobre a interdisciplinaridade na busca de um aprofundamento e uma abrangência maior. O entendimento latino-americano da interdisciplinaridade é o desenvolvimento por completo do homem, na busca de torná-lo inserido em um espaço maior que o do conhecer; em um espaço do ser. Portanto, para que isso seja possível, é necessário que ele se veja em eterna construção, em um eterno vir a ser. Na arte, a interdisciplinaridade entra ao derrubar as fronteiras territoriais entre os saberes, o sentir, o fruir e o fazer: a interligação das áreas. A reconstrução do conceito de conhecer, fazendo que ele seja articulado com as diferentes áreas e saberes. Neste contexto, espera-se do artista ou do professor de artes uma disponibilidade para atualizar-se e formar-se, entendendo que a arte é a descoberta e o aprofundamento de diferentes abordagens do ensino e do aprender nas dimensões aprender, fazer, conviver e ser. Essa nova maneira de pensar e absorver as coisas precisa ser desenvolvida na escola e no espaço das artes. Lembrete Pensemos na importância da arte para o desenvolvimento da criança! 21 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Ao interagir com o outro e permitir que a imaginação se apresente, a criança cria, transforma o objeto e coloca-se em outro lugar, imaginando situações. Criança que brinca, imagina, cria e representa tem uma possibilidade maior de se tornar um adulto criativo e inovador. O movimentar-se, além de levar a criança ao autoconhecimento, permite que entre em contato com o diferente e entenda a necessidade dele para um fazer e agir no mundo. 2 ARTE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A arte sempre esteve presente na história da humanidade nas diferentes formas de manifestações do homem. Viajemos para a Pré-História, época das cavernas, na qual os desenhos estavam presentes como forma de expressão e comunicação. Sem os desenhos não seria possível adentrarmos a vida cotidiana desta cultura. Ao nascer, o homem, por natureza, é criativo, tem características psicológicas, sociais e culturais que favorecem a sua interação com o mundo que o rodeia, e, nesse movimento de vir a ser e conhecer, a arte aparece como componente natural. A criança, ao nascer, busca secomunicar com o meio de diversas maneiras. Essas tentativas de estabelecer comunicação é o “representar o mundo” que ela vê e sente. Nessa fase, a expressão, os movimentos, fazem-se presentes na interação. Por volta dos dois anos, ela passa a fazer seus primeiros traços e representar o mundo através do desenho. Para Luquet (1979), a criança começa seus desenhos de maneira fortuita por volta dos dois anos, ela não tem intenção de fazer alguma coisa, mas percebe que alguns traços se parecem com algo que tinha em mente. Com isso, ela passa a melhorar seus traços e observar o que está fazendo. O autor nomeia essa fase como realismo fortuito, e com o tempo os grafismos passam a ter uma forma e significado social. O autor traz uma segunda fase, entre três e quatro anos, denominada de realismo falhado, na qual há a intenção, mas a execução falha. A coordenação não acompanha o cérebro. Os traços não são simétricos, muitas vezes a casa é menor que as pessoas e os pés ou mãos são maiores que o restante do corpo. A terceira fase, que vai até mais ou menos nove anos, é a do realismo intelectual; o exagero de elementos no desenho é a marca desta fase. O desenho é feito no terceiro plano, ou seja, como se as pessoas o vissem por cima. Uma visão do espaço interno também compõe esta fase. Na casa, veem-se as camas, a mesa, a pessoa assistindo à televisão. A quarta e última fase, até mais ou menos os treze anos, citada por Luquet (1979), é a do realismo visual, em que a transparência do desenho dá lugar ao que se vê. Como exemplo dessa fase, uma pessoa de perfil, com o olho lateral, antes considerado impossível ser feito. A busca da representação da realidade. O autor ressalta a importância de o professor entender as fases de desenvolvimento do desenho da criança. Conforme a criança vai crescendo, se desenvolvendo cognitivamente e psicologicamente, seus 22 Unidade I desenhos se transformam, acompanhando-a, por isso é fundamental o preparo do professor para que incentive e propicie esse crescimento. Incentivar a criança a desenhar, deixando-a explorar materiais diferentes, o espaço e o corpo, faz a criança se aperfeiçoar, melhorando a qualidade de seu desenho. Conhecer as características de cada faixa etária é entender que o desenhar, o expressar, é desenvolvido e aprimorado conforme o meio em que a criança está inserida. As fases não são iguais nas crianças, pois dependem do meio social, psíquico e histórico para que essa evolução aconteça. Conforme a criança vai crescendo, seu senso crítico vai se aprimorando, e muitas vezes ela passa a se afastar dos desenhos e diferentes formas de expressão, por acreditar que sua arte não esteja de acordo com a expectativa social. O professor de artes, neste momento, deverá incentivar e trazer de volta o desejo de livre expressão da criança, afastando a ideia de que seus desenhos não estão adequados. Por muito tempo o desenho da criança não foi valorizado, por acreditarem que fosse malfeito; nessa época a criança era considerada um adulto em miniatura, portanto seus desenhos ou arte-expressão deveriam ser perfeitos. Foi com Rousseau, no século XVIII, que essa ideia foi mudada, pois ele trouxe uma nova visão da criança. Com isso, o mundo passa a ver essa criança, citada por Rousseau, de outra maneira. Hoje, sabe-se que, ao entender o desenho infantil, muito se conhece da criança e, portanto, ao conhecer os desenhos e formas de desenhar de todas as fases, um contato maior se tem com o ser humano. Entender a importância de trabalhar com a arte é desenvolver um elo entre dois mundos; o real e o imaginário, o lúdico e a realidade, fazendo com que o aluno queira aprender e adentrar este novo mundo. Para Piaget (1976), para que o aprendizado se efetive, o sujeito deve interagir com o objeto a ser aprendido, para que possa retirar deste as suas características e aplicá-la em situações-problemas. Entendendo o desenvolvimento infantil em fase, Piaget (1976) vai caracterizar a fase da garatuja, dos primeiros traços da criança, o primeiro movimento de descoberta de expressão, como fase sensório-motora, na qual ela estará descobrindo a si e o mundo pelos sentidos, portanto pegando e explorando todo e qualquer objeto que a rodeia. Nessa fase a criança experimenta o mundo. Na primeira etapa, a criança tem contato com o espaço, com limites e com ela mesma, fazendo a ligação entre as diversas aprendizagens. Neste caminho, tem-se como o mais importante a realização para entender o caminho que a criança percorreu, por isso que se deve deixar a criança com liberdade de expressar, sem haver um juízo sobre a realização posta. 23 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR A arte deve sempre ser valorizada pelo professor e apresentada de maneira lúdica para que o momento seja prazeroso e significativo, desenvolvendo a poesia, a sensibilidade, a criatividade, a emoção, a percepção do mundo. Desta maneira, a criança terá mais condições de resolver os problemas que aparecerão pela frente dela. Ao entender a escrita como um desenho que tem significados inteligíveis no grupo de acesso da criança, ao propiciar espaço de desenhar, a criança terá acesso aos materiais que poderão auxiliá-la a desenvolver os caracteres necessários para a escrita e, com isso, para a leitura também. Esse processo de descobrimento da escrita pelo desenho leva a criança a um índice menor de dificuldade de aprendizagem da escrita, pois seu cérebro tem mais esquemas formados sobre a escrita. Brincar livremente com materiais lúdicos, como massinha, argila, tinta, lápis de diferentes cores e espessuras, auxilia no desenvolvimento das ideias de espaço, tempo e profundidade, bem como da criticidade, estando muito perto da criança ao longo de seu desenvolver-se. Para que esse desenvolver-se aconteça de maneira sadia, o professor deve preparar o ambiente com diversos materiais e será aquele a orientar a criança, no que se refere a permitir que ela explore e use todo e qualquer material que achar necessário para expressar-se. Desenhar com lápis, mas também com palitos, canudos, barbantes. Para Vygotsky (1989), o desenho possibilita observar a criança em seu processo de ciar e expor-se para o mundo. Para o autor, o desenho possibilita conhecer a criança, a realidade na qual ela vive e seus sentimentos, trazendo a importância do desenho na possibilidade de aproximação da criança que o produziu. Desta forma, trazendo a interdisciplinaridade e os quatro pilares para essa discussão, pode-se afirmar que a arte possibilita o conhecer, o fazer, o conviver e o ser da criança, um sujeito ativo do processo de crescer e colocar-se na sociedade. Pensar em desenvolvimento é entender que a potencialidade do ser humano está aguardando ser trabalhada e estimulada para ser posta para fora, cabendo ao arte-educador elaborar, planejar espaços constituídos de oportunidades de aprendizagem. Desenvolver é dar oportunidade para que a criança aprenda, faça e conviva. Para Barbosa (1999), é necessário estimular atividades de pesquisa, como visitas, observações, bibliotecas, entrevistas, encontros culturais para fortalecer a aprendizagem, estimulando a intercomunicação das áreas e espaço no desenvolver do ser humano. A sensibilidade deve ser o ponto de partida do trabalho artístico, trazer as diferenças para serem percebidas como elementos essenciais no crescer do ser humano. Brincar com a realidade, observar papéis diferentes e vivenciá-los é colocar-se no lugar do outro e construir valores de respeito, solidariedade e aceitação do diferente. Buscar na arte o auxílio para o educar é trazê-la para dentro do espaço escolar de forma significativa, integrando disciplinas e professores neste caminho do aprender a ser; é desafiar o aluno a buscar respostas em outros espaços e outras pessoas, fazendo que ele aprenda a pesquisar e a movimentar-se, sair do espaço de conforto, deparando-se com situações e obstáculos a serem superados. 24 Unidade I A função do professor de arte é ajudaro aluno a ver significado e sentido nas coisas vivenciadas, e para que isso se efetive o aluno deve ter experiências com teatro, música, dança, poesia, jogos, histórias e expressões corporais soltas. Com isso, a formação da consciência do seu corpo, do espaço e do mundo estará sendo facilitada. Desta forma, com a assimilação do cotidiano, adaptando-se às complexidades existentes é que o aluno vai construindo sua maneira de perceber o mundo e resolver os problemas. Partir do conhecimento prévio do aluno é dar condições para que ele participe do processo e desenvolva a autonomia necessária para agir plenamente no mundo. É importante que o aluno entenda que a arte como manifestação deve ser encarada como momento de descoberta, uma forma de perceber-se, expressar seu sentir e ver o mundo, experimentando situações e sentimentos diferentes. Pensar no ontem, hoje e no amanhã, como um processo contínuo de vir a ser, trabalhando e valorizando a memória na constituição do ser humano. Os registros rompem a barreira do tempo e do espaço. A arte, com suas possibilidades, traz essas vivências passadas e guardam as presentes para que no futuro possam ser refletidas, repensadas, transformadas ou apenas conhecidas. Fazer que não morram, dar vida e força para as vivências. Desenhos rupestres Figura 5 As figuras trazem a história de um povo que viveu há 3.500 anos a.C., que registrava sua vida cotidiana nas paredes das cavernas. Por não saberem escrever, a maneira de eles se expressarem e se organizarem era pelos desenhos nas paredes. Os desenhos rupestres, nome dado a esse tipo de pintura, possibilitou entender e não perder no tempo uma época do desenvolvimento da civilização. O professor pode levar os alunos a pensarem no seu passado e registrarem no papel. O aluno pode representar, através de desenho ou de outras maneiras, a casa em que mora, um acontecimento que tenha marcado, para que ele possa entender a importância da memória registrada. Outra maneira de trabalhar é através de valorização do material existente no meio ambiente. 25 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Observe a imagem a seguir. Figura 6 – Atividade artística em equipe Ela mostra o movimento das crianças ao trabalharem com material reciclável. Pensar no que ele era e na possibilidade de ser outra coisa é um movimento de criação e reflexão. Pensar no objeto, em transformá-lo, é trazer as diversas possibilidades de sua (re)construção, de sua nova forma de existir. Essas atividades trazem elementos para construção de uma identidade individual e social para o aluno. Um trabalho de constante questionamento e reconhecimento de si e do outro. Voltando a Delors (1998), a preocupação da escola e do professor deve estar em desenvolver o indivíduo por completo, para que ele saiba buscar seu conhecimento e aplicá-lo adequadamente na sociedade em que está inserido. Saber correr riscos sem medo de enfrentá-los. Esse aprendizado, quando realizado de maneira consistente, desenvolve em seus alunos competências e habilidades diversas, pois ele é apenas a base do ser um cidadão participativo e consciente. O grande objetivo do trabalho com arte é fazer com que os educandos possam intervir na sociedade de maneira a transformá-la para melhor. Uma contribuição de pesquisa, de experiências, de criação, de recriação e de escolhas. Pensando no desenvolvimento do educando, a arte guarda em si a possibilidade do relacionar-se com o mundo e com a sociedade na qual está inserido. Para Ausubel, Novak e Hanesian (1980), a aprendizagem deve trazer elementos que, juntando com os conhecimentos já adquiridos, façam um sentido no seu aprender pelo aluno. Desta forma, a transformação é consolidada tanto no conteúdo trazido quanto naquilo que já era sabido pelo aluno. Esta relação de transformação, de acordo com essa teoria, é favorecida quando o que é apresentado não se faz desconhecido por inteiro. O novo conteúdo guarda algo que pode ser resgatado da memória ou dos esquemas anteriores. O conteúdo apresentado vai se incorporando aos esquemas sem grandes dificuldades. 26 Unidade I Quando o conhecido apresentado não faz as relações com esquemas mentais existentes, tem-se uma rejeição ou uma dificuldade em capturar as informações a serem adquiridas. Quando o significado não está acoplado ao conteúdo, a aprendizagem se dá de forma fragmentada, em um compartimento isolado com o qual o aluno não saberá fazer as ligações necessárias para utilizá-lo. Assim, podemos perceber o quanto é importante o professor buscar trabalhar de maneiras diferentes para atribuir significado aos conteúdos a serem trabalhados, pois o aluno, desta maneira, conseguirá fazer diferentes relações e conexão com o que ele aprendeu, trazendo essa aprendizagem para novas experiências. Tem-se então um aprendizado no qual o aluno pesquisará com mais vontade, memorizará uma tabuada dando mais sentido e entendendo o processo. Pode-se pensar que, por intermédio da aprendizagem significativa, o aluno não esquece, pois consegue relacionar o antigo com o novo (conhecimentos prévios com o conhecimento novo), com isso, o aprender novos conteúdos fica mais fácil, inclusive se necessitar revisitar o que foi aprendido anteriormente. Assim, fecha-se o círculo do aprender, do conhecimento novo interagindo com o velho e sendo transformado em outros novos “conheceres”. Conhecimentos prévios Novos esquemas mentais Conhecimentos novos Figura 7 – Esquema mental da aprendizagem significativa A imagem anterior mostra a interação das estruturas mentais na construção do conhecimento, quando há um significado no que está sendo aprendido. Assim, quanto mais significado houver no que for aprendido, maior a chance de se realizar novas aprendizagens, e, assim, teremos maiores esquemas formados para compreensão de mais conhecimentos. Encontramos o significado dado ao material, o significado recebido pelo aluno e a atitude de busca do conhecimento do aluno. Neste percurso, cabe ao professor selecionar conteúdos que serão trabalhados 27 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR e garantir que os materiais que auxiliarão no entendimento estejam próximos da realidade do aluno. Ter a preocupação de motivá-los a buscar elementos que resolvam a inquietação do aprender. Quando a motivação estiver presente, o aluno não se recusará a despender tempo para o estudo, pois a preocupação maior será a de querer compreender o objeto a ser aprendido. Tenhamos como exemplo o tempo que uma criança gasta interagindo com um jogo eletrônico para descobrir como passar de fase. Esse tempo que a criança passa, muitas vezes, parada em uma cadeira apenas movimentando as mãos, não é sentido, porque a criança atribui um sentido a esta ação, que por vezes tem um significado para ela. Esse é o ponto em que devemos nos deter, na reflexão sobre uma aprendizagem significativa, na qual a arte é o instrumento de trabalho do professor para que o aluno se aproxime do conhecer de maneira prazerosa. O ponto de partida é o respeito e a valorização do conhecimento que o aluno traz neste processo, pois aquele novo saber que se aproxima toma forma de conquista, de algo que instiga o aluno a querer entender, e a mediação será feita pelo professor. Os conceitos que passam a integrar-se à estrutura vão se combinando e ampliando a cadeia estrutural e esquemática para os próximos conhecimentos que chegarão. Figura 8 – Estruturas mentais ampliadas Desta forma, a utilização dos esquemas preexistentes pode expandir-se para vários caminhos e conceitos, pois poderão servir de base para novas compreensões de áreas variadas. 28 Unidade I Esquemas existentes Matemática Física História Geometria Português Figura 9 – Esquemas existentes auxiliando na aquisição de novos esquemas Todas as figuras apresentadas para exemplificar os esquemas ilustram a importância de um trabalho consciente e comprometido do professor. Conhecendo a realidade de seus alunos, ele pode desenvolver atividades que tenhamsignificado e que motivem o aluno a pesquisar, explorar e investigar um tema ou assunto. Toda forma de assimilar um tema é válida, cabendo ao professor buscar mecanismos para que isso se concretize. Chegamos ao ponto mais importante, que é a utilização da arte no processo do desenvolvimento do aluno, na inserção social efetiva, participativa, consciente e transformadora. Passemos a entender a interdisciplinaridade dos diferentes movimentos artísticos do mundo das artes. 2.1 A interdisciplinaridade no mundo artístico A interdisciplinaridade começa seu movimento na área educacional. Seguindo uma visão globalizada do mundo, discutia o conhecimento como ferramenta de inserção do indivíduo na sociedade. Aos poucos, esse jeito de ver e aprender o mundo vai se expandindo e tomando conta de todas as áreas. Agora, pensa-se o mundo de maneira mais integrada, intercomunicativa e inter-relacionada, e a arte toma um espaço especial no caminho de ver, sentir e aprender o universo. Entendendo melhor essa nova postura, atentemos ao movimento do conhecimento. O conhecer, na contemporaneidade, é dinâmico e interligado, solicitando uma postura das pessoas, de busca, escuta e pesquisa. Interagir na sociedade de maneira efetiva requer conhecer suas próprias condições de caminhar. Um processo de conhecer-se por inteiro para poder conhecer o outro. 29 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Pode-se afirmar que a interdisciplinaridade faz parte da arte, pois essa área está sempre na busca da interação e da troca, agregando sentido e valores no seu fazer e agir. Portanto, ao trabalhar a arte, de maneira indireta, a interdisciplinaridade estará presente no seu pensar e no seu produzir. Assim, o impacto da arte nas demais áreas de conhecimento é muito grande, se pensarmos que ela retrata uma história, um sentir, um agir de uma determinada época. Logo, acreditar que a interdisciplinaridade se assente apenas na educação é um grande engano, haja vista que, para pensar nela, é preciso um olhar mais amplo, mais abrangente do mundo que a cerca. A interdisciplinaridade possibilita a provisoriedade, o questionamento, o retorno e a reconstrução de uma ideia e uma postura, o que torna essa teoria mais próxima da visão artística. Em um ambiente artístico, incerteza e dúvida são consideradas atitudes normais e pertinentes, pois é um espaço de busca constante do fazer e do ser. A dúvida neste espaço é considerada positiva, e o questionar e a incerteza habitam o ambiente de forma que sejam encarados como componentes agregadores, refletindo o mundo contemporâneo. O esquema a seguir apresenta uma ação interdisciplinar, interligando o ser humano no universo da razão e da emoção, trazendo a cientificidade, a pesquisa, para o seu mundo. Interdisciplinar Pensar Pesquisar Sentir ARTES Agir Fazer Figura 10 – Interligação interdisciplinar 2.2 A dança na interdisciplinaridade A comunicação do ser humano no mundo começa pelo corpo, nos movimentos. A criança, ao nascer, começa a comunicação com o mundo exterior, mexendo o corpo e chorando. Fixemo-nos, neste momento, no movimento do corpo. 30 Unidade I Será pelo movimento do corpo que as pessoas começarão a buscar entender o que ela precisa e o que ela sente. A sociedade, com suas regras de conduta, estipula, muitas vezes, que o correto em uma postura social é a não expressão corporal, tornando as pessoas frias, rígidas e distantes. Desta forma, a representação de um intelectual é a de uma pessoa que se mantém dura, reprimida, localizando a expressão na parte superior do corpo. Com essa visão social, as crianças desde pequenas são reprimidas em casa, sendo reforçadas na escola, mesmo sabendo que o corpo é a primeira porta da expressão do indivíduo; cabe à escola, nesta situação, deixar um pequeno espaço para ele, a aula de educação física e o momento entre uma aula e outra, por exemplo, nos intervalos. Ao entrarem para a sala de aula, já no corredor, o corpo se torna estático, sem expressão, um membro auxiliar da cabeça, a peça considerada a mais importante para a aprendizagem. O silêncio toma conta da aprendizagem e tudo se cala. A disciplina é a ordem da vez, e a educação é sinônimo de pouca expressão. Vê-se a formação de filas ordenadas e as carteiras arrumadas de maneira cartesiana. Por mais que a discussão de hoje seja contrária a essas posturas e que as escolas das grandes cidades tendam a agir de forma diferente, ainda a educação e o desenvolvimento humano não valorizam como deveriam o corpo. A indisciplina, por vezes considerada a causa do não aprender, é repreendida, reprimida com o “não ir para o recreio brincar”, não se movimentar, ficando na sala de aula de castigo. A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 torna obrigatório o ensino de Artes nas escolas, colocando-a como componente curricular da educação básica. Desta forma, abre-se um grande espaço no trabalho com o redescobrir do corpo e da alma do ser pensante e ao utilizá-lo como ferramenta do aprender e inserir-se no mundo social. Logo, a dança pode ser um momento de desenvolver o aluno de maneira completa, integral. Ir além do motor e trazer o conhecer-se, o conhecer o outro e o conhecer o mundo. 31 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Ensino do professor Expressar-se Aparecer para o mundo Corpo do ser humano Figura 11 – O expressar-se A figura anterior nos mostra a importância do ensino para o desenvolvimento do indivíduo por completo. Façamos uma comparação, uma analogia, de maneira simples, entre a flor e o processo ensino-aprendizagem. Vejamos o caule, eixo principal da planta, que dá sustentação ao ser, como sendo o ser humano a ser desenvolvido; a folha, responsável pela respiração da flor e do aluno, como sendo o professor, o ensino; e a flor, como o resultado final de um trabalho realizado anteriormente, como a expressão final do ser humano. Nessa imagem não colocamos a raiz, que alimentará a flor, ou seja, o ser humano, que poderíamos representar como a família e a sociedade com suas regras e valores. Pensemos na importância da escola e do professor no desenvolver do indivíduo, valorizando a expressão e o modo de pensar e agir no meio social. Voltemos para a dança. De que forma trazê-la para escola de maneira que contribua para a formação do ser humano? Como ela poderia influenciar o desenvolvimento? Poderíamos pensar nas diferentes danças e na história de cada uma. Como surgiram e se desenvolveram? Já nesse processo, teríamos um trabalho interdisciplinar: história da dança, para melhor compreendê-la e interpretá-la. Ou seja, fazer um trabalho de entender a dança que irá ser desenvolvida ou trabalhada com as crianças e trazer o significado e o sentido. A dança surge de um movimento mágico, do sentir o mundo pelo som e do expressar-se pelo movimento. Sentir o mundo faz parte de uma história da humanidade manifestada pela dança cultural. Vemos ao longo da história a dança sendo mostrada com um valor social. Seja de modo ritual, religioso, místico, ou jogos de luta, ela sempre esteve presente na comunicação do povo. 32 Unidade I Pensemos nas danças e em seus movimentos. Da onde vêm essas formas de movimentar-se? O dançar, a princípio, era uma maneira de comunicar-se com a natureza, seus movimentos imitavam movimentos das árvores, dos ventos e da chuva; assim, nesta integração, o homem acreditava estar se conectando com o mundo natural e pegando um pouco de sua força. A força da natureza é expressada no movimento, da evolução da dança, da beleza da natureza, passando para o preparo do corpo, para a guerra e indo para a beleza do corpo no movimento sincronizado. Com o advento da interdisciplinaridade, temos a dança como possibilidade do desenvolvimento da criatividade, da autonomia e da liberdade do aluno em expressar-se e, desse modo, desenvolver a sensibilidade, importante fator na relação entre os indivíduos. Através da dança, o aluno aprimora sua criticidade e consciência sobre si e sobre o mundo a que pertence, tendoconhecimento da cultura na qual está inserido, valorizando o corpo e suas peculiaridades. O falar pelo corpo traz diferentes formas de expressar o que se sente e o que se vê, desenvolvendo a autoconfiança e o autoconhecimento. Trata a dança como manifestação multicultural, respeitando as diferenças, as dificuldades de cada um, trazendo a questão do gênero, da solidariedade e da tolerância. A interdisciplinaridade se manifesta no trabalho com o indivíduo por completo. Contando com todas as áreas e todos os profissionais nesse desenvolver, o educando aprende conhecendo-se, colocando-se no mundo, convivendo com as diferenças e sendo um indivíduo melhor e inserido no contexto social. Figura 12 – A dança como meio de integração em um trabalho multidisciplinar A imagem anterior desperta o olhar da integração, do trabalho em equipe que possibilita desenvolver a solidariedade de maneira suave e verdadeira. O arte-educador vê o corpo como um meio de levar o aluno a conscientizar-se da interligação que nos permeia na vida. 2.3 A música na interdisciplinaridade Na história, a música ocupou um papel fundamental no processo de aprendizagem e inserção social do homem. Ela trouxe valores éticos e morais que merecem consideração por nós, arte-educadores. 33 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Com origem grega, mousikê, a música tinha sua representação na arte das musas, a qual era dedicada aos deuses, objetivando alcançar a perfeição; portanto, fazia parte do aprendizado das crianças. O músico, nesta época, era considerado o guardião de um saber. Com isso, surge a música como instrumento de aprendizagem. Mas, como ensinar através da música? Bem, entendemos que, na Grécia, devido ao fato de Pitágoras ter utilizado a música para seus estudos, ela passou a ser vista como base do saber, indispensável na educação do homem livre. Para Pitágoras, música e matemática estavam intrinsecamente ligadas. Desta forma, o que se devia fazer era educar o homem de maneira integral, utilizando-se da música para um conhecer-se profundamente, aproximando-o do belo e afastando-o do que é feio. Assim, a música, para os filósofos gregos, cumpria um papel de formação, logo não dependia apenas do Estado, e sim de um professor de música mestre que se responsabilizaria por essa disciplina, que trataria o ensino de maneira que tornasse as demais disciplinas mais amenas e atrativas. A música toma espaço na guerra, na religião, na luta e no cotidiano das pessoas. Neste caminho percorrido pela arte musical, deparamo-nos com o trabalho dos jesuítas na formação cristã da população europeia que acabava por deixar as festas mais animadas com as apresentações de membros da sociedade. Viajando no tempo e caminhando com a música e o seu desenvolver, encontramos, com a vinda dos jesuítas para o Brasil, na conquista dos índios aqui existentes, a música como instrumento catequizador, que foi a maneira que os jesuítas encontraram de se aproximarem dos nativos. Ao chegarem ao Brasil, os jesuítas se movimentaram para abrir escolas com o objetivo de educar e formar os nativos, considerados sem regras, sem limites, necessitados de amparo e instruções fortes para a vida em comunidade. A música, neste contexto, teve uma força tão grande que foi integrada no currículo escolar, auxiliando no processo de escolarização. Mais adiante, em 1759, a música entra fortemente no ensino, com auxílio até de uma cartilha musical utilizada nas aulas. Com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, a música ganha importância, e orquestras eruditas passam a fazer parte da Igreja Real. Portanto, percebemos a música como parte do ser humano, no seu fazer, pensar e sentir o mundo. Na forma de protesto e de enaltecimento, a música é uma linguagem que traduz sentimentos, comunicando e expondo opiniões a respeito de uma determinada situação. Presente nas diferentes culturas, ela é a maneira de um povo comunicar-se com o outro e aprender sobre si e sobre o outro que o rodeia. A intercomunicação e a livre expressão presentes na música fazem a educação e a inserção do homem na sociedade acontecerem de maneira natural. Pela música, compreendem-se a história e o mundo, pela música adentram-se as diferentes culturas que compõem as sociedades. 34 Unidade I Música, dentro de uma concepção interdisciplinar, trabalha a letra, a expressão e a interpretação, o entendimento do mundo e do ser humano sobre este mundo. Fazenda (1994) ressalta que qualquer disciplina pode se relacionar com outra e fazer um diálogo disciplinar, possibilitando um aprender mútuo, um “vivenciar o momento” e experimentar um aprendizado diferente. Ao levar em consideração a transformação que o diálogo provoca, tem-se na música o papel de interligar, de dialogar com os conhecimentos paralelos, mantendo como eixo principal o respeito ao ser humano e às suas características de manifestação. A Lei de Diretrizes e Bases, nº 9.394/96, afirma ser a música um conteúdo obrigatório e não exclusivo, estando inserida no contexto artes, cabendo à escola e ao professor saber desenvolvê-la de maneira que propicie o desenvolvimento do aluno. Trazendo a história da música para esta discussão e percebendo o quanto ela foi instrumento transformador do ser humano, espera-se do arte-educador que, ao trabalhar com a música, tenha em mente o seu poder de formar um cidadão mais consciente de seu papel e construir uma sociedade mais participativa e expressiva. Figura 13 2.4 O teatro na interdisciplinaridade A arte é sem dúvida um elemento importante de expressão cultural de um povo. O teatro é utilizado pelo ser humano como forma de manifestar o seu mundo e o seu sentimento sobre ele. O teatro é o lugar de se ver, de sentir e observar o que se apresenta. Desta forma, tanto para quem vê quanto para quem apresenta, há uma troca de informação e de conceitos naquele espaço de interação. A interdisciplinaridade se faz presente no contexto da troca que se internaliza pela vivência do sentir, do ver, do perceber, do ouvir e do movimentar-se. Um aglomerado de informações que possibilita a aproximação da realidade por meio da arte. Cabe ao arte-educador desenvolver no aluno a sensibilidade do olhar, sentir e perceber o que a peça quer transmitir, havendo uma interpretação subliminar, nas entrelinhas, não tão clara para aquele que vê. 35 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR O teatro como espaço de manifestação da cultura trabalha o imaginário, de maneira que traga o símbolo para sua prática; as pessoas não são quem se vê, e sim personagens que ocupam outro lugar e com outro sentido. A complexidade dos comportamentos que são compartilhados pelos membros de uma dada cultura caracteriza um agir interdisciplinar, na busca de interligar realidade, sentimentos, cultura e fantasia. Essa arte milenar prepara o homem para as mudanças sociais e comportamentais de uma sociedade. De acordo com Fazenda e Severino (2002), só conseguimos nos conhecer no agir no mundo. Uma ação requer um outro ser, para que aconteça o reconhecimento do que cada um é capaz, bem como suas lacunas a serem preenchidas. Essa é a mágica do teatro, o encontro, a comunicação, a possibilidade de mudança social. Observemos as manifestações artísticas no cotidiano! Figura 14 Figura 15 Temos teatro de rua, novelas, seriados, filmes, programas de auditório, manifestação nas ruas e muitas outras formas de expressão que requerem que a pessoa vista a camisa de outra personagem que não a dela mesma. 36 Unidade I É uma relação de troca e de conhecimento do mundo, da sociedade, das culturas, trabalhando o conhecimento de maneira significativa. Logo, encontramos no teatro uma relação forte com a educação, auxiliando na expressão e na comunicação do aluno, incentivando-o a pesquisar e estudar o que pretende apresentar, buscando respostas e trazendo discussões sobre temas importantes para a comunidade, empenhando-se nos problemas levantados e examinando as possibilidades existentes, desenvolvendo, desta forma, a inteligência
Compartilhar