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Inspeção Para realizar a inspeção de tórax do paciente, algumas posturas são adequadas no momento do exame clínico: a) Boas condições de iluminação; b) Tórax do paciente desnudado; c) Paciente deitado, de forma que esteja cômodo e confortável. Na inspeção, devemos observar as seguintes regiões: a) Região precordial; b) Ictus Cordis; c) Região epigástrica; d) Pescoço. Outras regiões e outras estruturas corporais também podem ser avaliadas, mesmo fora da região torácica, pois algumas alterações podem indicar alguma associação com as cardiopatias. Postura do paciente A postura do paciente deve ser bem avaliada, pois elas podem indicar determinadas cardiopatias, de acordo com a maneira que o paciente se comporta: a) Posição sentada: indicativo de insuficiência cardíaca congestiva; b) Posição inclinada para frente: indicativo de pericardite aguda. Palidez cutâneo-mucosa Na inspiração, a observação de palidez cutâneo-mucosa pode indicar anemia ou baixo débito cardíaco do paciente. Cianose A cianose pode indicar cardiopatias congênitas ou problemas respiratórios. Xantelasmas Xantelasma é um pequeno depósito de gordura e colesterol que ocorre logo abaixo da superfície da pele, especialmente ao redor do sangue, levando o paciente à hipercolesterolemia. A presença de xantelasmas pode indicar riscos maiores de infarto agudo do miocárdio e morte por doença cardiovascular. Baquetamento digital O baquetamento digital, também conhecido como hipocratismo digital, é caracterizado pelo inchaço da ponta dos dedos e alterações na unha: a) Alargamento da unha; b) Aumento do ângulo entre as cutículas e a unha; c) Curvatura para baixo da unha; d) Amolecimento das unhas. Essas características podem ou não ser acompanhadas de vermelhidão local. Elas podem indicar ao paciente uma cardiopatia congênita ou uma hipoxemia crônica. Abaulamentos O abaulamento é caracterizado pelo crescimento anormal das cartilagens costais, que geram protusão do esterno na caixa torácica. Para reconhecê-lo, a inspeção é feita de duas maneiras: a) Tangencial: examinador em pé ao lado direito do paciente; b) Frontal: examinador junto aos pés do paciente (que permanece deitado). A dilatação do ventrículo direito determina o abaulamento, pois essa câmara constitui a maior parte da face anterior do coração e se encontra em relação direta com a parede torácica. A presença de abaulamentos na região precordial pode indicar: a) Ocorrência de aneurisma da aorta; b) Cardiomegalia e derrame pericárdico; c) Alterações da própria caixa torácica. Sinal de Musset O sinal de Musset é a designação dada aos movimentos involuntários da cabeça (como oscilações), provocados pelos batimentos cardíacos, o que indica insuficiência aórtica. Sinal de Quincke O sinal de Quinke é a designação para a pulsação em certos leitos locais (como o leito ungueal) devido à transmissão do pulso arterial nos pequenos vasos capilares. Palpação A palpação é uma das partes mais importantes do exame físico cardiovascular, bem como a ausculta cardíaca. Ictus Cordis ou choque da ponta O ictus cordis é a pulsação do ápice do coração (batimento cardíaco visível), analisado na inspeção, mas principalmente na palpação. Os aspectos que devem ser avaliados relativamente ao ictus são: a) Localização; b) Extensão; c) Mobilidade; d) Intensidade; e) Tipo de impulsão; f) Ritmo; g) Frequência. Para palpar o ictus, o médico deve se posicionar ao lado direito d paciente, com a mão espalmada na região precordial, palpando a região do abdome superior. 1. Localização do ictus A localização do ictus varia de acordo com o biotipo do paciente: a) Mediolíneos: cruzamento da linha hemiclavicular esquerda com o quinto espaço intercostal; b) Brevelíneos: desloca-se cerca de 2cm para fora e para cima, no quarto espaço intercostal; c) Longilíneos: no sexto espaço intercostal, de 1 a 2cm para dentro da linha hemiclavicular. O ictus pode ser invisível e impalpável em pacientes obesos, com enfisema pulmonar, grandes mamas ou musculatura muito desenvolvida. 2. Deslocamento de ictus O deslocamento de icuts indica a dilatação ou a hipertrofia do ventrículo esquerdo, o que pode significar alterações como hipertensão arterial, insuficiência aórtica, cardiopatias congênitas etc. 3. Mobilidade De acordo com a mobilidade, o ictus pode ser móvel ou imóvel: a) Icuts móvel: desloca-se 1 a 2 cm em mudanças de posição b) Imóvel: sínfise pericárdica (folhetos do pericárdio aderidos entre si e com estruturas vizinhas). 4. Extensão e contração Avalia-se a extensão do ictus procurando-se determinar quantas polpas digitais são necessárias para cobri-lo: a) Condições normais: 1 ou 2 polpas digitais; b) Hipertrofia ventricular: 3 ou mais polpas; c) Grandes dilatações: toda a palma da mão. A contração, por sua vez, pode indicar se o ictus é propulsivo ou difuso: a) Propulsivo: quando a mão que o palpa é levantada a cada contração, também indicando a hipertrofia; b) Difuso: sua área corresponde a três ou mais polpas digitais. 5. Intensidade A intensidade do ictus é avaliada repousando a mão sobre a região dos batimentos, podendo ser mais forte em pessoas magras ou em situações que provocam o aumento da atividade cardíaca. A hipertrofia é o aumento da massa muscular, geralmente causada pela sobrecarga de pressão, enquanto a dilatação é o aumento de uma câmara, geralmente causada por uma sobrecarga de volume. Batimentos ou movimentos Além do ictus, podem ser encontrados no precórdio outros batimentos visíveis ou palpáveis, como: 1. Retração sistólica Observada na hipertrofia direita. Durante a sístole, ao invés de um impulso, percebe-se uma retração. 2. Levantamento em massa do precórdio Também chamado de impulsão sistólica, ocorre na hipertrofia ventricular direita. É percebido como um impulso sistólico que movimenta uma área relativamente grande da parede torácica nas proximidades do esterno. 3. Choques valvares e cliques Quando as bulhas cardíacas se tornam hiperfonéticas, podem ser sentidas pela mão como um choque de curta duração, o choque valvar. Isso também ocorre com os cliques de maior intensidade, que também chegam a ser palpáveis. 4. Pulsações epigástricas São a transmissão de pulsações da aorta à parede abdominal, podendo indicar, também, hipertrofia ventricular direita. 5. Pulsação supraesternal A pulsação supraesternal ou na fúrcula esternal pode ser observada em pessoas normais, dependendo das pulsações da crossa da aorta. Se forem muito intensas, podem indicar a suspeita de hipertensão arterial ou aneurisma da aorta, por exemplo. Frêmitos cardiovasculares O frêmito cardiovascular é a sensação tátil determinada por vibrações produzidas no coração ou nos vasos. Todo frêmito cardiovascular indica a presença de sopro cardíaco na ausculta (apesar de nem todo sopro ter um frêmito associado). Na presença de frêmito, avaliamos: a) Localização do frêmito: a referência são os focos de ausculta; b) Situação do ciclo cardíaco: sistólico, diastólico ou sistodiastólico; c) Intensidade: avaliado em cruzes; d) Sopro cardíaco: avaliado no momento da ausculta. Ausculta cardíaca Focos cardíacos da ausculta Na ausculta cardíaca, todo o precórdio e regiões circunvizinhas (incluindo região axilar esquerda, dorso e pescoço). Os focos servem como pontos de referência para adquirir informações relativas ao funcionamento das valvas cardíacas. 1. Foco aórtico Único foco localizado ao lado direito, no segundo espaço intercostal direito, apesar da melhor ausculta ser no chamado foco aórtico acessório, entre o terceiro e quarto espaço intercostal.2. Foco pulmonar O foco pulmonar se encontra ao lado esquerdo, no segundo espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno. É o foco com condições ideais para a ausculta da segunda bulha cardíaca. 3. Foco mitral Localiza-se ao lado esquerdo, no quinto espaço intercostal, correspondendo ao ictus cordis ou ponta do coração (abaixo da região do mamilo). 4. Foco tricúspide O foco tricúspide, localizado um pouco mais no centro, corresponde à base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda. Ritmo cardíaco Devemos avaliar se o ritmo cardíaco é regular o irregular. No caso dele ser irregular, pode indicar a existência de algumas condições patológicas comuns, como: a) Arritmias cardíacas; b) Extrassístoles. Bulhas cardíacas 1. Primeira bulha cardíaca (B1) O principal elemento da formação da primeira bulha cardíaca é o fechamento das valvas atrioventriculares. É a bulha mais forte e corresponde ao momento da sístole ventricular (TUM). Uma alternativa para a identificação rápida das bulhas cardíacas é a associação com a onda de pulso. Quando for palpada a primeira onda de pulso, significa que é a sístole (B1), o que facilita, também a identificação dos sopros. 2. Segunda bulha cardíaca (B2) A segunda bulha cardíaca, por sua vez, corresponde ao fechamento das valvas semilunares. É a bulha que representa a diástole ventricular (TA), sendo um pouco mais fraca. 3. Terceira bulha cardíaca (B3) A terceira bulha é auscultada com maior frequência em crianças e adultos jovens, sendo um ruído protodiastólico de baixa frequência que se origina das vibrações da parede ventricular. Representa o sangue saindo do átrio esquerdo ao ventrículo esquerdo e encontrando sangue residual, provocando a bulha. 4. Quarta bulha cardíaca (B4) Ruído débil que ocorre no fim da diástole ou pré-sístole e pode ser ouvida mais raramente em condições normais nas crianças e nos adultos jovens. Representa o contato forte com o sangue (distensão do ventrículo) ao final da diástole. Sopros cardíacos Os sopros cardíacos são turbulências que provocam vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. Em condições normais, o sangue flui de maneira laminar, com velocidade maior na posição central, sem formar turbilhamento. Nos sopros cardíacos, esse sangue deixa de ser laminar e passa a ser turbilhonado. Os sopros podem surgir nas seguintes situações: a) aumento da velocidade da corrente sanguínea (exercício físico, hipertireoidismo, febre); b) diminuição da viscosidade sanguínea (anemia); c) passagem do sangue por uma passagem estreita (estenoses); d) passagem do sangue por zona dilatada (aneurismas). 1. Localização do sopro Devemos determinar a localização do sopro, de acordo com o foco cardíaco da ausculta em que ele é observado: a) Sopro no foco aórtico; b) Sopro no foco pulmonar; c) Sopro no foco mitral; d) Sopro no foco tricúspide. 2. Situação do sopro no ciclo cardíaco O tipo de sopro refere-se ao momento do ciclo cardíaco em que ele ocorre: a) Sopro sistólico: indica falhas na abertura da valva (estenose) → entre B1 e B2; b) Sopro diastólico: indica falhas no fechamento das valvas (insuficiência0 → entre B2 e B1. 3. Timbre e tonalidade Timbre e tonalidade são qualidades do sopro. Elas estão relacionadas com a velocidade do fluxo sanguíneo e com o tipo de defeito causador do turbilhonamento sanguíneo. a) Sopro rude: geralmente é o sopro sistólico; b) Sopro suave: geralmente é o sopro diastólico. 4. Intensidade do sopro A intensidade do sopro é determinada em cruzes: a) + / 4+: dificuldade de identificação do sopro; b) 2+ / 4+: fácil de auscultar, sopro sem frêmito; c) 3+ / 4+: fácil de auscultar, sopro com frêmito; d) 4+ / 4+: sopro audível ao levantar o estetoscópio. 5. Irradiação do sopro A irradiação do sopro pode determinar os seguintes tipos de sopros: a) Sopro pulmonar: irradia para o pulmão; b) Sopro aórtico: irradia para a fúrcula e para o pescoço; c) Sopro mitral: irradia para a axila esquerda; d) Sopro tricúspide: irradia para a axila direita. Atrito pericárdico O atrito pericárdico é um ruído provocado pelo roçar de folhetos pericárdicos que perderam as suas características normais. Normalmente são lisos, umedecidos e capazes de deslizar um sobre o outro sem provocar qualquer vibração. Cliques e estalidos A característica básica dos cliques e estalidos é a sua situação no ciclo cardíaco. 1. Estalidos diastólicos Podem ocorrer nas estenoses da valva mitral, como um ruído seco, agudo e de curta duração, audível nos focos mitral e tricúspide predominantemente. 2. Estalidos sistólicos Podem ser protossistólicos ou mesossistólicos. a) Protossistólicos: indicam súbita ejeção de sangue nos vasos da base, ruídos de alta frequência, agudos e intensos; b) Mesossistólicos: indicativos de prolapso da valva mitral ou tricúspide, mesmo na ausência de sopros cardíacos.