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Joseph Fabry W \ '~\i ntáu. ›?' Joseph Fabry Tílulo 0riginal: Guideposts to Meaning Copyright: Joseph Fabry - 1988 Direitos cxclusivos da ediça0' em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela ECE - Edizora de Cultura Espirizual - que se reserva a propriedade desta traduçãa Dados dc Calalogação na Publicação (ClP) lntcmacional (Camam^ Brasüeua' do Livro, SP, Brasil) APLICAÇÚES PRÁTICAS DA LO G U TE R A P | A Fabry, Joseph B., 1930 - Aplicações práticas da logoterapia / Joseph Fa- bry ; ltradução equipe da ECE]. - - São Paulo : ECE, 1990. Bib11'ogrufi.¡'. 1. Logoterapia I. Tílulo lSBN 85.85009-15-2 CDD-616.89l4 ' NLM-WM 42090-l37l lnd1"ces pam catal'ogo snstc'man"co: 1. Logoterapia : Medicina 616.89l4 editorc AGRADECIMENTO Desejo extemar minha gralidão a alguns logotcrapeulas que desen- volveram novos métodos de aplicação prática, das idéias do Dr. Viktor FrankL nos quais esle livro toi baseado. Emrc csscs logole- rapeutas cito Elisabeth Lukas. Ph.D., direlora do South Gemlan lnstitutc of Logolherapy, em Munique; Mignon Eiscnberg, Ph.D., d1r'etor rcgional do lnstitute ot Logolherapy, em Chicago; lees Crumbaugh, d1r'et0r regional do lnstitule of Logotherapy, em Biloxi; James Yoder. diretor regional do lnstitule 01 Logotherapy, na cidadc de Kansas; Roben Leslie, Ph.D., curador da Viktor Frankl Librdry'. em Berkeley; H1r'oshi Takashima, M.D., diretor do Japan Sociely ol Humanistic Amhropology, cm Tóquio; e John Quu'k, logolerapeuta em Vancouver. Bmish Columbia. Desejo também agradecer a Carroll TdJ'pers, por suas diversas su- gestões editoriais, e a Hyman Roudman. pela Ieilura cuidadosa que dedicou ao meu manuscr1'tu. Joxrph Fulny ÍNDICE Capítnlo Umz Receítaz Uma Busca pelo Signiticado ........ ll Capítulo Dons': O Diálogo Socrático .................... 25 Capítulo Tres“: Desretlexão .......................... 59 Capnul'o Quatroz Modiiicação das Atitudes ............... 73 Capítulo Cmoo': Guias para o Autoconhecimento ........... 83 Capítulo Scns': Guias para as Escolhas .................. 97 Capítulo Setcz Guias para a Unicidade .................. 115 Capítulo Ono': Guias para a Responsabilidade ............. 133 Capítulo Novc: Guias para a Aulotranscendência .......... 145 Capímlo Dezz Valores .............................. 157 Capítulo Onzez O Sentido no Casamcnto e a Vida Farmhar" ..... 171 Capílulo Dozcz Grupos de Companilhamemo ............. 187 Apêndloc' A: Encontrando o Significado Todos os D1as' ....... 207 Apêndioe B: O Método "AgLr'-Como-Se" ................ 233 Apcnd1“'ce C: Formular'io sobre o Histórico Pessoal ......... 239 Apêndioc D: Leilão de Valores ....................... 243 Apcndlce"' Ez Auto-Estima ........................... 247 Apêndicc F: Objetivos dc Vida ....................... 249 Apêndlcc' Gz Aspüando a Metas Noéticas ................ 253 Apêndioc Hz Escala de Avaliagào no Reajustmwnto . . . . 257 Blb'liog,raha." .................................... 261 Capítulo Um RECEITA.'UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO Existem dois tipos de pessoasz as que dízem sim à vida, a despeito de suas vicissitudes. e as que dizem não à vida, a despeito das boas coisas que lhes acontecem As que dizem sim geralmente senlem-se satisteilas e felizes; as que dizem não geralmente sentem-se aliena- das, frustradas, vazias. Como a maioria das pessoas. nós provavelmente, nos siluamos entre esses dois extremos. Adquüimos essa alitudc aLravés das experiên- cias na intância e, mais tarde na vida, pelo papel que represemamos e ensinamentos que recebemos. Nossa atitude pode ter mudado du- rame a vida. É 1m'porlante perceber que podemos mudm de uma ati- tude negaliva para uma positiva. Se lonnos dos que dizem não. isto não significa que estejamos destinados a permanecer assim Algumas pessoas toram ajudadas nessa transtormação pela religia'o, oulras pela tilosotia e, recentemente, algumas pela psicologia. A psicologia é uma ciéncia nova. Durdn'te a maior pane dos seus cem anos de existência, ela vem procurando Cura.r' os que eslào doentes. O psíquiatra vienense, V1k'tor FrankL toi 0 pn'me1r'o a 12 l'MA BUSCA PbLO SlüNlFlCADO preocupar-se com os sadios, impedindo-os de se tomarem doentes, frustrados, desesperados. Frankl desenvolveu suas idéias por volta de 1930 e testou-as durante dois anos e meio nos campos de c0n- centração na Alemanha. Quando foi libertado, em 1945, escreveu o livroz “Diga sim à vida, apesar de tud0". Sob o título: “Man”s Search tor Meaning”, esse livro vendeu três mühões de exemplares nos Estados Unidos. Foi traduzido para mais de vinte idiomas, e trouxe esperança e coníorto a muitas pessoas. Frankl acredita que para encarar a vida de maneüa positiva é preciso ter consciência de que a vida tem semido em quaisquer cu'cunstân- cias, e que temos a capacidade de encomrar esse semido em nossas vidas. Podemos nos erguer acima das entermidades e dos golpes do deslin0, se pudennos ver sentido em nossa existência. Frankl denomina seu sistema de “logolcrapia” - a saúde alravés do signilicad0. A logoterapia aJuda as pessoas a dizerem sim à vida, quer seu sotrimento provenha de desajustamentos em suas relaçócs humanas, problemas com o Lrabalho, doença, culpa, quer pela mone de um ente querido, quer por diliculdades auto-impostas como a hi- pocondria, excessiva an^sia por poder, bens mateñais ou prazer. Este livro descreve as aplicações práticas da logolerapia. Foi escrito não para os que eslão mentalmente enlennos, mas para os quc eslão mentalmente em busca de algo. As idéias aqui apresentadas podem ser usadas por psicólogos, conselheLr'0s, assistentes sociais, sacer- dotes, enlxermeüag professqres - e também pelos lcitores leigos que desejam ajudar sua famflia, seus amigos ou a si mesmos. Encontrar signiticado é o meio mais seguro de superar a alienação, a du'vida, o desespcro, o vuio e 0 sentimento de não ter conseguido ating1r' ob- jetivos. O sígnificado nos auxiliará a tomar-nos a pessoa que diz sim á vida. Se nos decidxrm'os a buscar o significado de nossa vida tere- mos que entrentar três perguntasz 13UMA BUSCA PELO SIGNIHCADO . Qual 0 signüicado que estamos buscando? Como encontrá-lo? Onde encontrá-lo? Que é o Significado? O signiíicado ocorre em dois níveisz o supremo significado e o sig- nificado do momento. Quando procurarmos o significado supremo devemos ter consciência de que - mesmo semindo-nos desnoneados - existe uma ordem no universo e que nós somos parte dcla. Se tormos religiosos, veremos essa ordem como ato divino. Se formos human1'stas, veremos essa ordem aLravés do prisma da ética ou das lcis da natureza. Se formos cientistas, encontraremos essa ordem nas leis da Iísica, química, as- Lronomia, evolução dos seres. Se formos an'islas, poderemos vê-la na hannonia. Se formos ecolog1'stas. veremos essa ordem no equilíbrio do ecossistema. O supremo signiticado - O signiticado da vida - é-nos inatingíveL E como o horizonte _ por mais que nos esforcemos jamais consegui- remos alcançá-lo. Contud0, pwa poder dizer sm~1 à vida, teremos que buscm o supremo signilicado mesmo que nunca consigamos atin- gi-lo. E ainda que conseguíssemos, e pudéssemos verdadeuamáente dizer: “Eu sei qual é 0 signiticado da vida”, estarímos espm"tual- mente mortos, pois nada mais nos restaria para tentar obter. O su- premo sígniticado é uma questão de té, de suposiçã0, de experiência pessoal. Podemos viver como se a vida tivesse um signüicado e nós fizéssemos parte da trama da vida; ou viver como se a vida tosse um caos e nós as vítimas indetesas. Podemos achar desencorajador ler que a vida tem 51'gn1f'icado mas que não podemos jamais atingi-lo. Felizmente há um segundo nível 14 UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO de signifícado que nós podemos e, na verdade, devemos alcançar pa- ra levar uma existência plena. E o que Frankl denomma o “signifi- cado do momento”. Frankl ahrm'a que somos indivíduos u'm'cos, que atravessamos a vida numa série de situaçóes únicas e que cada momento oíerece um sen- tido para preencher - a oponunidade para agu' signiticaúvameme. lstopode ser conseguido aLravés do que tazemos, do que sentimos, mas também das atitudes que assunúmos diante de situações de na- gédias ineviLáveis. A única conLribuição que a logotcrapia oterece para a saúde mental é ajudar-nos a ser aquele que diz sim à vida, em tace de uma tragédia e a encontrar signiticado nas situações mais caólicas. Existe um vínculo enlre o supremo signüicado e o signíticado do momento. Se estivermos cónscios do supremo significado, quer no contexto religioso 0u secular, sercmos capazes de responder signiti- cativamente às acepções do moment0. porque lemos uma bússola interior sempre apomada para 0 significado. Se não eslivermos cônscios do supremo signüicados 1r'emos resp0n- der às acepçóes do momenlo da melhor maneüa que pudennos, e no transcorrer de nossa vida u"emos gradativameme aproximando-nos da compreensão desse significado. Como encontrar o significado Alguns filósolxos. como os existencialistas franceses Sartre e Camus. declaram que a vida não tem semido, mas que os seres hu- manos precisam conduzir suas vidas de modo significativa Ponanto, nós damos à nossa vida o senlido que escolhermos. Os exislencia- listas alemães, incluindo Viktor FrankL af1rma'm que o sentido exis- te, e nós temos de descobri-lo. Se déssemos a nós mesmos 0 15UMA Bl'SCA PLLO SlUNlHCADU sentido, tomando decisões, diz FrankL a vida seria um borrão ínex- pressivo, como o teste de Rorschach, no qum projewíamos qualquer signiticado que quiséssemos. Frankl vê a vida como um quebra- cabeça com uma figura escondida - semelhanle ao desenho de linhas confusas formando arv'ores, nuvens, tlores, casas. com uma legenda que diz: “Encontre a bicicleta nesle desenho”. 'l'emos que v1r'ar 0 desenho em diversas dLrÀeçóes alé descobm a bicicleta oculta na mis- celânea de Lraços. Da mesma maneu›a, devemos v1r'ar nossa vida em todas as direçóes até encomrm 0 signiticado. Estc nâo nos pode ser dado pela sociedade ou por nossos pais. Nem o psiquiatra pode prescrevê-lo como se tosse uma pñula. Ele pode descrever respostas significativas a nossa situação, mas compete-nos descobrü o que nos é 51'gn1f'icativo. Entre as muitas possibilidades que o momenlo nos oferece, como sa- ber quais são as mais signiticativas? Não podemos ter ceneza. Porém se tivermos ajuda poderemos saber. Embora nunca ames tenhmos passado pela situação específica em que nos encontramos agora, milhões de pessoas, no decorrer de mi- lhares de anos, passaram por situações similares e encontrmam res- poslas significativas Dessas pessoas nós extraímos os valorcs - os significados universais. A maior pane dos valores moditica-se lentamente, porém os tunda- mentais permaneccm Em situaçõcs comuns é aconselhável seguü os valores da nossa cullura. Eles estão ancorados nos mandmentos religiosos, nas leis seculc1r'es. nos coslumes, nas regras de consenso e na sabedoria de alguns pensadores, como, por excmplo, no autoritá- rio posilivismo de Kant, na passiva resistência de Gandhi, ou na reverência pcla vida, de Schweilzer. Hoje os valores eslão em transiçãa Um número cada vez maior de lÓ UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO pessoas são incapazes de encontrar o signiticado, seguindo cega- mente os valores tradicionais. Rejcitam os sentidos universais. As cdanças rcbelam~se comm os valores de seus pais; as mulheres não se submetem à sociedade machista dominanle; os treqüentadores de igrejas questionam suas doumnas e os Cidadãos desaprovam as leis govemamentais. Os homcns estão usando ansiosamente sua liberda- de para rejeitar valores trad1'cionais. Estão bem menos ansiosos em encontrar respostas para 0 sentido que se apresenta no momento. Não estão nem desejando nem conseguindo encontrar essas respos- tas. Se rejeitamos os valores tradicionais temos que substituí-los por valores pessoais. ou mergulhamos no caos. Valores e significados pessoais não são regras moralistas, mas receitas para a saúde. As conseqüências da ur'esponsabilidade com que lidamos com os signi- ficados podem gerar neuroses. depressão e suicídi0. Eis o grande dilemaz aceilar os valores Lradicionais poderá violar nosso crilério pessoal de significado; encontrar nosso próprio cami- nho poderá conduzu'-nos à ur'esp0nsabilidade; como reconhecer e responder ao sentido que o momento nos apresema'? Dlz' Frankl: '“Síga sua consciência na busca do sign1'ficado". Não existe nada de novo na religião e na filosofia. A novidade está na Medicina, onde a consciéncia é menosprezada, e na psicoterapia na- dicionaL onde o “superego” é considerado como resultante das in- tluências tamüiares e sociais que chegam ao m'd1'vídu0 através do meio exterior. A logotempia vê a consciência como altamente pessoal, uma espécie de varinha de condão qUP nos ajuda a encontrar 0 sentido em cada situação especíaL A consciência recebe grande intluência da socie- dade; contudo, temos a liberdade de seguu' nossa voz interior e de até mesmo rejeitar os valores sociais. Um método prático é dizer a nós mesmos: “Para descobrü o significado do momento, em geral l7UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO apóio-me em meus valores culturais. mas em certas cxr'cunstâncias posso assumu' a responsabilidade e ouvu' minha consciêncía”. A voz da consciência é um atributo especificameme humano e, por- tanto, como tudo o que é humano, pode falhm. Mas é nosso único guia pessoal. Jamais teremos ceneza se estamos sendo bem aconse- lhados. Mas como expressou-se Gordon Allport. “podemos esm apenas meio-certos, e mesmo assim, sinceros". A maior tmeta da 10- goterapia é aguçar 0 ouvido interno, Iorna'-lo mais alerta à voz da consciência. Alguns exercícios neste livro têm esta tinalidade. Onde encontrar o Significado? O signiticado encontra-se em todos os lugar'es, mas só teremos esta percepção se estivermos sintonizados com ele. É como a música que ouvimos no rádio; 0 ar eslá replcto de ondas sonoras, mas só pode- remos escutá-las se tívermos um recept0r. A pesquisa logoterápica estabeleceu que temos um receplor pma en- trar em sintonia com 0 signitiwda Frankl denominou de espírito humano nosso instrumento para encontm o signitiwdu Prccisamos tomar-nos Ciemes de que 0 possuímos, do que cle comém e de como usá-lo. 0 espírito humano é uma dimensão especiíicamente humana e c0n- lém possibilidadcs que outras criuluras não possuem Qualqucr ser humano é esthuaL pois o espírito é a essência do homem. 1"emos um corpo que pode adoecer; temos uma mente que pode comurbm- se. Mas o espmlto é 0 que somos. É o am^ago de nossa saúde. Assim como a mente, 0 espírito é invisível; contudo, há uma dile- rença entre ambos. Na mente somos conduzidos pelas emoções, pelo instinto e pelas necessidades. No cspírito somos comandantes. 18 LEMA BUSCA PELO Sl(i\¡'ll*l('¡\l)() Tommos decisóes sobre o que Iazer com nossas mou'vaçóes. com nosso corpo - scja clc saudável ou não ~ com as circunstâncias nas quais nos cnconlramos. O cspírllo é a ar"ea da liberdade humana. mas tamoém da sua rcsponsabilidade. Pdr'a levmos uma vida plcna. de- vemos assegurmmos de que possuímos um colre com essc tcsouro espmtum dcmro de nós, e devemos aprendcr como utilizm seu comcu'do. As riquezas do espírito humano 0 espírito humano podcria também scr chamado dc colrc mcdicinal da logolcrap1'a. Assim como acontece com todos os medicamentos. precisamos descobnr' que eles existem e que devemos aprender como usá-los. Eles estão livres, c apenas esperando. dentro dc nós. pma ser ulilizados. Aqui estão algumas riquezas do espírilo humano: O ANSEIO PELO SIGNIFICADO Esta é a u mais lorle motivação pma vivcr e atuar'. ()s homens são seres que buscam 0 signilicada Perceber 0 signiticado de nossas vi- das Capacita-os a dcsenvolvcr nossas possibilidades c tolcrm as dcs~ venturas. 0 Criador da psicoterapia. Sigmund Frcud, considcrava 0 desejo do prazer como a mais poderosa torça mou'vadoru. Altred Adlcr. discípulo de Freud (que toi prolessor dc Frunkl). consídcruvu o desejo de poder, o mais inlluente incemivo. Ambos são imponan- lesz ugmws pmu obtcr prazcr c adquim podcr. Porém, dc ucordo com FrunkL o prazer nãoé a meta principuL Ele é o sub-produto dc algo que loi signilkaiivu () podcr nào é o lün cm si mcsmo, mas apenas o meio pma alingú um lim que é obtido pelo uso do podcr dc Iorma signiticativa. Us signiliwdos não são nem os subprodulos ncm os mcios pmu mcunçm um 1u'n. O sigmlicado é a meta linuL Sc nosso unseio pclo signüicudo lor ignorado ou rcprinu'do, nos senumos vazios. .A:àm-..__ , A _.4.4 19UI\1/\BLI.S'CAPlzLUSl(iNll<lCAl)0 1'ARL"'FA ()R1L”Nl› AD'0RA Pma sentirmo-n05 rcalizados, neccssitmos wrclas quc cstqm a nossu espera, lanto a curto como a longo praLo. Dcvcm scr larelas quc nós cscolhcmos c não que lomos lorçados a exccutar (cmb0ra possamos livrememe Concordar cm Iazcr algo quc nos Ioi pcdido). Compromcrtcr-nos com uma tmela ajuda-nos a livrur-nos das ncuro- ses e depresso'es, conlona-nos em pcríodos dilíceis e cvila rccaídasu O valor curativo da uma lmcta é ainda maior quundo scnumos quc unicamenle nós podcmos conscgui-la ou quc somos qucm mclhor pode íazê-la. CUNSCIÉNCIA Esta é a agulha da bússola que apoma para a direção do signilicado do r.10mento. A voz da consciêncía é lraca c gcralmcmc abuíada, mas nossa habilidade para ouvir e obedecê-la podc aliviar angústias c conllitos menlais. AUTOTRANSCENDENUA É a laculdadc dc 1r' além de nós mesmos, cm ducção a outrus pcs- soas para amar ou a causas pelas quais lular. A uulotrunscendônciu é um dos mais tortcs elemenlos Contidos no colre dos mcdicamcnlos cspírituais. Tem um cxlraordinárío valor lerapêuu'<:o, pois conscguc proporcionar a cura nas horus cm que muis nos semimos dcrrotad()s. Há muilo tempo, os Alcoólicos Anônimos dcscobrimn quc a mclhor pessou pma ajudm um alcoólatru, é um alcoólulru rccupcrudo. A logotcrapm dcscobriu que a mclhor pessoa pm ujudur outra quc cslá aLravessando uma crise é a que cslá passundo pcla mesmu crisc c, upcsar disto, descobríu o signilicudu Viúvas podcm ajudar viu'vas. dcticientes lísicos em cadeírus de rodas podcm ajudm ouuos inválidos, pessoas com doenças incuráveis podcm ujudm oulros 20 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA pacientes tenmn'ais. Ajudando outras, a pessoa que ajuda pode al- cançar a autotranscendência que é o cammh'o para o sign1f'icado. (Ver Capítulo Nove). AUTODISTACIAMENTO É a capacidade de d1'stanciar-se de si pro'pn'o e observar-se “do lado de fora”. No autodistanciamento, o “eu" espm"tual afasta-se do “eu” tísico e este é geralmente o pr1m'elr'o passo necessar1"o para a cura. Enquamo dissermos “sou um tracasso”, será muito ditícil que nos modüiquemos, pois estamos considerando tracassado o nosso ser de torma mtegraL Se aprendermos a dizer “sou um ser humano com inúmeras possibüidades, mas no passado cometi erros”, então o tracasso não se toma pane de nós, mas algo que vivenciamos e não somos obrigados a repet1r'. As doenças tísicas e as emoçoe's, assim como o medo e a raiva, são panes do nosso corpo e meme, mas na dimensão es*p1n"tual podemos lutar contra eles. “Nós possu1'mos”, como Frankl se expressa, “o desafiame poder do espírito humano", o recurso vital de nosso cotre medicm'al interior. HUMOR Tnn'ta anos aLra's, Viktor Frankl enfatizou a importan^cia do humor na medicina. Recentemente, Norman Cousins redescobriu-0. O hu- mor é um meio prático de autodistanciamento, quando conseguimos achar graça de cenos comportamentos que assumlm'0s. Nosso orien- tador não n' de nós, mas nos ajuda a acharmos graça de nós mesmos. A busca do significado é um Lrabalho séri0, porém pode ser larga- meme facilitado através do humor. Como tornar-se aquele que diz sim A vma é dm”'al; causa-nos mais momentos de aborrecimento e angúsüa 21UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO do que alegrias. Mas se eslamos conscientes de que a vida tem signi- ticado, e que nos oterece potenciais signilicalivos em qualquer sí- tuação, podemos v1r' a ser aquele que diz sim, não importa 0 que nos aconteça. Temos que aprender a distingu1r' duas cu'cunstan^cias comrastantesz as que o destino nos reservou - e que nâo podem ser mudadas - e as que escolhemos livremente - e que podemos mudaL E claro que o sentido da situação que podemos mudar reside na nossa liberdade de tazer essa mudança. É menos óbvio para a maioria das pessoas. que o sentido de uma si- tuação 1rr'eversível também dcpenda da nossa liberdade - não da Ii- berdade de mudar o que não pode ser mudado, mas da liberdade de mudar nossa atitude perante o inevitáveL Podemos assumü uma ati- tude significativa diante de acontecimentos desoladores. O fator me- gativo não é ignorad0. porém dm"gido para os canais positivos. (Ver Capítulo Quatro). Nem sempre é tácil discemü a situaçâo que pode ser mudada da que não pode. A morte, a perda de um membro do corpo, as restriçoe's que acompaham a velhice, as doenças m'curáveis. o divórcio - são vicissitudes que devem ser aceitas, pois a luta para mudar o imutável somente nos entraquecerá. Já com relação a problemas pessoais, fa- miliares ou de trabalh0, não é tão evidente sabemlos se devemos lu- Iar para resolvê-los ou aceítá-los como se aprcsentam O diálogo so- crático (Cap1'tulo Dois) poderá nos ajudar a fazer a escolha. A busca do signüicado é tundamental para todosz . para os Jovens que am'da não enconuaram o . pma os que encontraram 0 signiticado e 0 perderam (a crise da meia-idade) . para os que estão enfremando a aposemadoria, a velhice, a doença e a morte 22 z\|'l.l(*AÇ(-)¡:'S PRÁHCAS DA LOGOFLÃRAPIA pma aqueles cujas possibilidades de significado se alteraram em função de drásticas mudanças de si- tuação na vida, tais como: a perda de uma pema, do conjuge, da cwreüa pma os angustiados por perda causada por morte, di- vórci0, desemprcgo, aposcntadoria, a<.'idente, doença . para os que estão se recuperando de um vício pma os que estão sofrendo dc depressão ou neurose pma os que estão entediados com a riqueza (um grupo relativamente recente). Os métodos que a logoterapia descreve neste livro podem nos ajudar a lançm mão dos rccursos Contidos no cerne de nossa saúde - o es- pírito humano. Algumas vezcs cste ccmc está bloqueado por ent'er- midades tísicas. penurbaçóes psicológicas ou v1'cios. Nestes casos, outros métodos, como medicamentos. psicoterapia tradicionaL de- sintoxicação, devem ser usados para clarear 0 acesso ao espírito, anles de ser aplicada a logoterapia. Este livro é para o 1'ndivíduo cu_¡o âmago da saúde está acessíveL e que está em busca do signiti- cado que irá prcencher sua vida. Não estamos lidando com "pacientes” que estão doentes, nem lida- do com “clientes" - esla palavra indica dependência de um protis~ sionaL Estamos lidando com dois seres humanosz o que busca e 0 que orienta. O que oriema pode ser um prolissional que se vale de sua compelência a tim de reslaurm a sau'de, tanto a nível tísico como psíquico. Na dimensão do espírito, o que busca, assun' como o que 0n'enta, são principulmcntc seres humanos que, juntos, 1r'ão percorrer 0 caminho da descoberta UU signiticado que os lransfommrá naquc- lcs' que dizcm s1m' à vida. Os próximos três capítulos rel'erem-se aos métodos de logoterapiaz o diálogo socrálicm a desrellexào e a modificação das atitudes. Do 23UMA BUSCA PlLLO Sl(¡Nll'lCAl)O capítulo quinto até 0 nono, serào discutidus as cinco árcas onde há maior probabilidade do signitícado ser encontrado e. portanto, as técnicas a serem ulilizadas scrão mais d1r'etas: autodescoberta, esco- lhaS, unicidade, responsabilidade e aulotranscendência. O Capítulo Dcz salienta as ulílidadcs c linúlaçócs dos valorcs. Os dois úllimos capítulos Conlêm um guia p4r'a duas siluaçõcs cspccílicasz problemas Iamiliares e matr1'moni.1'1's, e pdr'a grupos. O apêndicc comém diver- sos métodos especíticos desenvolvidos por logotc~rapeutas. Capítulo Dois 0 DIÁLOGO SOCRÁTICO O dial'0g0 socrático é a ferramenta que o on'entador uuh"za com major trequ"ênda. para aux1h"ar o índívíduo que está na busca do signiticada Este d1'al'0go o coloca em comato com 0 seu ceme saudável- 0 espm"lo - a Iim de que ele consiga caplar as reservas nele contidas. Uma das anrmaçoe's básicas da logolerapia é que, nasprotundezas de nossa dlanSãO esplmuaL sabemos que úpo de pessoa nós somos, que potenans possuímos, o que é lmponante c sigmñcaüvo pma nós. Só- crates acrecmava que a tdr'eta do protessor não era mcutJr mtormagñes uentro do aluno, mas tazcr v1r à lona aquxlo que o aluno msünüvamente sabm bramd acremla que a tmeta do logoterapeuta não é dizcr àquele que busta1 quals os sxgmncados de sua v1da, mas pemúm que emeqa a sabeaona oculta dentro do espímo de cada um. RELAXAMENTO O diálogo socrático nos ajuda a cncontrar o acesso que nos conduzi- rá aos recursos esp1.r'itu41"s. E recomendável que estejamos bem dis- postos antes de começar esse dial'ogo. Se estivennos excitados. APLICAÇÓES PRAnlxlCAS DA LUUOTERÀPIA26 nervosos, amedrontados ou desanimados, o diálogo deve ser prece- dido de um breve exercício de relaxament0. Como preparação para 0 diálogo socrático, um curto exercício de cinco a dez mm'utos costu~ ma ser suficientez O paciente senta-se numa cadeüa em posição contortáveL pés apoíados no chão, mãos abertas nos joelhos com as palmas para baixo. O orientador fala em voz baixa e cal- ma; uma suavc música de fundo pode ser colocada. As três abordagens - visuaL auditiva e cinestésica (sensação corporal) - estão acessíveis para clarear o cammho para o inconsciente. Algumas pessoas reagem melhor a um das- tes estímulos, mas a combinação dos três é geralmente mais eticaL O orientador m'voca 1m'agens de lugares agradáveisz uma tlorcsta tranqüila, um pôr-do-sol numa praia, um jard1m' todo tlorido (pdr'a os que se identificam mais com a pane visual); o som de pássaros cantando, o borbulhar de um n'acho, uma bela música (para os que preferem a pane auditiva); e a sensaçâo de estar estendido na terra, mu's- culos relaxados, sensação agradável de calor ou 0 corpo pcsado (para os que têm inclinação a sensações Cinestésicas). A tinalidade desse exercício é aquictar a tagarelice de nossa mente até que encontremos 0 ponto sereno de nosso ínterion Ler um poema que desperte os aspectos positivos da vida, também pode fazer pane desse excrcício relaxante. PRIMEIRAS PERGUNTAS O diálogo socrático usa cinco guias sugestivos para sondar as ar'eas onde existem maiores possibilidades de encontrarmos o significadoz 27DlÁLQG o s OCK ÁTICO l- Autodescobertz quanto mais descobrimos sobre nosw ver- dadeiro ser que se oculta atrás das máscaras protetoras que nos res- guardam. maior será o número de significados que encontraremos. 2- Escolhz quanto mais escolhas pudermos divisar em deter~ minada situação que nos enconLramos, maiores serão as probabilida- des de alcançannos o signüicada 3- Unicídadez Há maior chance de encontrarmos o sígnificado em cücunstan^cias em que somos insubstituíveis. 4- Rcsponsabmdadcz Nossa vida será mais signiticativa se aprendermos a assum1r' responsabílidades quando tivermos a liberda- de de escolha, e aprendermos a não nos sentü responsáveis diante de tatos que não podemos alteran 5- AutoUancende“nc1a." O signüicado nos surge quando ultra- passamos nosso egocenLrismo e nos voltamos em d1r'eçã0 aos derrm". Estes guias, que serão mais detalhadamente discutidos do capítulo quinto ao nono, podem ser explorados através do diálogo socrático. Começamos com perguntas reterentes à situação em que o pacientc se' encontra e, gradativamente, o conduzimos até onde ele deseja CthBL Se o problema estiver relacionado ao trabalho, a primeka pergunta poderia ser: “Como você ganha a vida?” As questóes se- gum'tes podem m'clu1r': . Onde você vê o sígniticado em seu trabalho? No trabalho em si mesmo'! Nas pessoas com quem se relaciona? Nos produtos ou serviços que sua empresa fomece? No prestígio que lhe confere? . Que você faz com o dinheüo que recebe? Se fosse f1'nance1r'amente m'dependente, gostaria de fazer o que está fazendo agora? . Que outras atividades exerce? Passatempos? Trabalho vo- luntan"o? ' . Quantas das suas atividades partilha com sua família? . Gostaria de passm mais tempo junto à fam1'lia? 28 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA . Quanto lempo você dedica a ela? E aos seus amigos? . Faça um graí'1'co assinalando como divide seu temp0. . Está satisfeito com essa distribuição? . De que maneüa gostaria de mudá-la? Que você faria em primeíro lugar para mudar a distribuição de seu tempo a fim de poder realizar aquilo que prefere? Aí estão as perguntas que podem ser usadas no diálogo socrático, e também as que se seguemz . Em que c1r'cunstâncias você se sente bem'? Se tiver dificuldade em descrever estas c1r'cunstâncias, relacione uma lista de coisas que gosta de tazer e assinale aquelas que realmente fez nestas últimas duas semanas. . Quefaria você se sentü bem? . Que poderia tazer para crim uma situação em que se semisse bem'? . Que “senur'-se bem” signüica para você? . Que 0 1m'pede de tazer o que gosta'? Como poderia superm esses obsláculos? . No momento você esui com problemas. Fale-me sobre outras vezes em que teve que entrentar diticuldades. . Voltando agora para tra's, lembre-se se t1r'ou algum proveito daquelas situações atlitivas. Aprendeu alguma coisa com elas'? Amadurcceu? Alguns desses resultados você leria obtido de outra manelr'a'? . Você assumiu algum risco para livrar~se do problema? . Como conseguiu resolver a situação? Existem tatos que aprendcu com experiências passadas que podeñml ser aplicados na sua condição atual'? . Mencione alguns planos que gostaria de executar no próximo ano. E nos próximos três an'os'? . Que o impede de realizá-los? 29DIÁLOGO SOCRÁTICO . Escolha uma u'nica coisa que gosuma muito de conseguir. _ Qual seúa seu pn'meu'o passo para atingir essa meta? Que preço você cstmia disposto a pagar para alcançar esse objetivo? . Descreva situaçóes cm que você sentiu que o mundo é b0m, repleto de hannonia e que você é parte dele. Existe alguma coisa agradável que seja comum a todas essas situaçóes? Como você resgataria essa mesma sensação agora, mas talvez de modo tolalmente diverso'? _ Quem são seus modelos preteridos? Que adnnr'a neles? Você tem algumas das qualidades que eles tém? . Poderia adquirir uma das qualidades que adm1r'a em seus modelos? Que poderia tazer para adqu1nr" essas qualidades. ainda que tosse algo bem simples? 0 tato de pensar nessas qualidades lhc sugere o tipo de pessoa que você é'? Ou que poderia ser? Quais os seus pontos fortes. Seus talentos? De que necessita para realiza'-los? Quais os obstáculos que tem de enÍr'entar? Como poderia transpô-los? 0 objetivo da logoterapia é ajudar 0 paciente a sentu'-se bem por haver encontrado algo que seja signlficatívo para ele, e não mera- menle algo que lhe proporcione prazer, d1'nhe1r'0 ou poder. De acor- do com a afirmação de FrankL 0 prazer é o subproduto de algo que foi signíficativo, e 0 d1'nhe1r'o c o poder são meramente meios para atingü um fim, porém não a meta finaL Que tipo de coisas signitica- tivas poderia o paciente fazer com dinheüo e poder? 0 diálogo socrático não é uma discussão intelectuaL nem uma 30 APLICAÇÓES PRÁTICAS l)A LOGOTERAPIA argumenlação ou manipulação. É ames uma troca de experiências de ensmmlcntos e aprendizagens entre o que busca e o que orienta. Duranle 0 diálogo, o oriemador Lraz à tona idéias e sentimentos do pac1'e¡1le. através de perguntas baseadas naquilo que 0 paciente diZ - “palavras-chave” que 0 orientador encontra nessa conversa. CAPTANDO AS PALAVRAS-CHAVE No diálogo socrático 0 oriemador taz mais do que ouvü Com simpa- tia, mais do quc expressar compreensão pelos problcmas do pacien- te. Uma símples manilestação de entendimento. (espelho) sobre aquilo de que o pacicme está se queixand0. poderá levm 0 paciente a envolver-se am°da mais protundameme com seus problemas. Se o paciente diz: “Ja' não sinto prazer em viver". o orientador que está aplicando os princípios da logoterap1'a, nunca dirá: "Enlendo bem o que você está sentindo. AiinaL depois de tudo pclo quc pas- sou..." (expressando compreensão) 0u: querendo dizer que não quer mais viver?" (espelho). Em lugar dc dar' cssus respostas deverá sugen'r: “'E que me dizsobre todas aquelas tareías cm sua vi- da que ainda eslão esperando por você'!" Na logoterap1'a, 0 papel que o orientador represenla é bcm mais utivo que em outras tcrapias. Ele ouve com atenção c captu trascs que ex- pressem aspeclos positivos do pacicnte. Deve. Contudo, scr cautelo- so ao assumü esse pupcl para não tomdr'-se pcrsua51'vo. A pemuasão podcrá scr clicaz somentc quando bascada em algo que o pacienle lenha dno e que possa sugerír uma dircção correta. A resposlu do orientador devc tundamcmar-sc em alguma paluvra- Chave - uma nmnitestação otimista quc o paciente tcnha dcixado v1r' à tona. para sugenr uma alitude ou ação positiva. 31DIÁLOGU S()CRÁ 1 ILU A palavra~chave pode scr uma Irase. um vocábulo. uma indicação não verbaL assim como um súbilo lom de cxcilagão. que insinuc o que é rcalmenle .s*1§,›niíicalivo para 0 pac¡'cnlc. ou mcsmo um valor ti- do cm alla considerução e quc sc munitcsta numa crcnça rcligiosa, um voto matrimoniaL uma vocação ou um mcro passatempo. Essas preíerências no signilicado de valores, geralmcnle são ammzenadas cm nível 1'nconscicnte, e 0 oríentador dcvc ter 0 ouvido muilo agu- çudo para ouvir essas alusões que cmergenL As palavras-chave pcr- mitcm ao oricmador asscgurdr'-se da dírcção a ser scguida, rumo ao signif1'cado. HISTÓRICO DE UM CASO O diálogo socrátíco. que rclatamos a seguír, passa-se entrc Ana e seu orientador. Podcmos observm de que tonna 0 oriemador capm as palavras-chave do que Ana diz, e de que maneira as utíliza para ajudar Ana a ajudar~se a si mesma. Ana é uma senhora de 55 anos que sotre de depressão e cnxaqucca. É divorciada. mas seus trés tilhos são bem succdidos nu vida. cla mora numa bela casa. não tem preocupaç(›'cs tinanceiras e sua suúde era boa até o surgimento da dcpressã0, há mais ou mcnos um ano. 0rientador: Já houve tcmpo em que você se sentia bcm consigo mesma'? Ana: Eu diria que no meu tcmpo de cscola. Orienludorz Como era sua vida naquelu época que lazia com que se sentisse bcm? Ana: Eu queria scr bailar1'na. liu me via no palc0. Orienladorz Quc ucomcceuf Anaz Apaixonci-mc por Henry. Casamosu live um Iilho upús o outro. Não me ar'rcprcndo; vivia ocupadu cuidando das Criangas. 'l'."nha uma vida boa. chry tinha um bom emprego. nós nos d1'vertí.u'nos, viafáva1nos. mas agoru... 32 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA 0n”enlador: Que mudou? Anaz Nós nos divorciamos. Uma tilha está morando em Massachusetts, outra na Flórida e 0 terce1r'o na Austrália. Tenho qualro netos mas raramente os vejo. Estou agora com 55 anos. sozínha e ninguém precisa de mim. Durante esse tragmento de diálogo o orientador encontrou uma palavra-chave: Ana demonstrou que a idéia de se tomar bailarina, havia sido significativa para ela. Orienladorz Você ainda gosta da dança? Anaz Gost0, s¡m'. Assisto a balés com frequ"ência, porém isto me deixa m'ste. Fico 1m'agínando como seria se eu pudesse estar lá em cima, no palco. 0rientador: D1'ga-me o que sente. Ana: lnveja. Todas as moças são jovens e talentosas, com uma cmeka pela trente. Creio que eu era tão talentosa quamo muitas delas, ou talvez amda mais. Nunca saberei. Orientador: Não há uma mancu'a em que vocé possa utilizar seu amor pela dança, mesmo agora? Ana: lsso é uma piada. Na minha idade? Na'o, não, minha vida já se Ioi. 0n'emador: Algumas coisas se toram. Você não pode voltar à cscola e ter de novo 18 an'os. Nâo pode ter seu marido de volta, nem prelender quc seus tilhos tomem a ser pequenos pa~ ra precisax de você. Comudo, pode usar seu amor pela dançzL de torma lsigniíicativm mcsmo aos 55 anos de idade. Aqui o orientador está mostrando à Ana, claramente, a diferença enLre as ar'eas designadas ao “destino". e que ela tem de aceitar, e as deslinadas à "liberdade". nas quais ela ainda tem opções de escolha. 33DlÁLOUO S()CRÁ'1 ICO Anaz Na'o, não posso. Tentei que minhas filhas se interessassem pela dança quando eram pequenas, e minhas netas, mas não consegui. Mais duas palavras-Chave emergiram desse díálogo - O interesse de Ana pela dança, e seu interesse em ajudar crianças a serem dançan'- nas. Isto toma possivel ao 0n'entador, conduzu' Ana a novas altema- tivas sigmt"1'cat1'vas. Quando estivermos procurando as novas altemativas sugeridas pelas palavras-chave, devemos considerar os Cinco guias para encontrar o significado pessoaL discutidos no m'1'ci0 deste capítulo. Geralmente é mais prático começar Com a ar'ea da escolha. O paciente é orientado a transformar as palavras~chave numa série de altemativas e examinar as conseqüências positivas e negativas de cada opção. O método a ser usado eslá escrito detalhadamente no Capítulo Seis. O paciente é encorajado a incluk 0 maior número possível de 0pções, até mesmo aquelas que podem parecer 1m'prati- cáveis. O objetivo é mostrar ao paciente que ele não está encurrala- d0, que as escolhas são acessíveis. Em seguida, o paciente decide qual das altemativas é a melhor. “A melhor” não equivalc ser. necessan'amente, a mais agradáveL a mais remuneradora, a que confere maior prestígio (embora prazer, dinhei- ro ou prestígio, possam ser um subproduto), mas a que é mais signi- ticativa dentro da situação que no momento esLá enfrentando. Todas as Cinco ar'eas de significados são levadas em consideração. É evi- dente que a escolha é o ponto de destaque, porém as outras ar'eas são também 1m'p0rtantes. Relacionamos, a seguu', algumas das pergumas que se referem à escolhaz 34 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOIERAPIA EnLre as altemativas que você apresentou, sua escolha tinal expressa sua personalidade (aut0dcscoberta), ou um “dever” que brota do seu interior? Sua escolha retlete sua unicidade? Cria uma situação onde você é. até ceno ponto. insubstituível? Sua escolha está levando em conta os interesses de oqua pessoa (rcsponsabilidade)? É prejudicial aos 0utros, ou ao seu relaciona- mento com eles? Sua cscolha é u't11' aos que são 1m'portantes pma você, ou a uma causa que quer detender (autotranscendência)? lsto não signitica que você não deva ter motivos eg01'stas. Signitica que você está cslendcndo seus interesses para inclu1r' outras pessoas e outras causas, acima de suas próprias conveniências. Sentlr'á, com isso. que a satistação é o subproduto do ato de ajudar o próximo. Após escolher a melhor opção. 0 paciente prepara-se concretamente para exccutá-la. A decisão deve-se transformar em ação. APLlCAÇÃO DA ALTERNATIVA Durantc o diálogo socrátic0. Ana fez uma lista enquanto procurava os guias para o signif1'cado. Foi encorajada a relacionar as altemati- vas que incluíam seu amor pela dança e pelas crianças. Ao chegar ncsse ponto ela levantou - como muitas pessoas o fazem - uma série dc objcçõcs do tipo “sim, mas..." Sim, mas já não sou jovem; não cslou a par das atuais tendências da dança; na'o tenho talento para organização nem par-a ncngociom não conheço cn'anças com aptidão para dançan 0 oricntudor pediu à Ana que fizesse uma lista de todas ns opçócs que cla conscguisse lembrar. porém que considerasse co- mo argumcnlos dc conseqüência negaliva as idéias relacionadas com o "sim, masx.." Ncsta altura do diálogo. o orientador deve ser cau- leloso. procurando não “prescrever” soluções para as dl'temativas, í VÍ 1 !i 35mÁLooo SOCRÁTICO senão “descrever” o número de altemativas e deixar que o pacieme decida quais as que podem ser incluídas na lista. Depois de muitas consideraçóes, Ana fez uma lista que incluía 0 seguintez Um trabalho voluntar'i0 numa escola de dança para crianças (“Que faria eu la"? Atenderia ao teletone? Cuidaria do arquivo'! Qualquer esludame poderia fazer isso"). Ajudar os 1'nstrutores com idéias sobre como cnsinar a dançan (“Minhas idéias estão superadas. Eles r1n"m de mirn"). Freqüentar cursos para aprender as técnicas modemas de balé. (“Estou muito velha para 1r' à escola”). Abm uma escola de dança. (“Não sou mulher de negócios; m"a à faléncia”). Comprar uma escola de dança. (“Nã0 tenho dinheüo suficiente para isso"). Ajudar alunos formados em dança a obter emprego. (“Não tenho capacidade para isso”). Encontraruma garota talentosa que não pudesse pagar uma escola de dança e ajudá-la a fazer carreu'a. (“C0mo encomrm essa garota'?”). Ao passarros olhos pela lista, Ana mostrou algum interesse pela u'l- t1m'a altemativa. Então o orientador semiu-se apto a apoiar a escolha e prosseguiu o diálogo socráticoz Orientador: Fazer isso nâo requer muito dinheüo e você poderia manter contato pessoal com uma jovem que estivesse começando a aprender a dançc1r'. como você mesma já esteve um dia. Ana: (como tentativa) Eu poderia dar a essa jovem a chmce que eu perdi. 36 APLICAÇÕES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA On'emador: Faria uma diterença crucial na vida dessa moça. Ana: (animando-se com a idéia) Eu poderia poupá-la dos desa- ponLamentos que eu tive. Poderia 1r' com ela a algumas aulas. Poderia dar-lhe uns conselhos. Tenho certeza que amda sei coisas sobre dança que poderiam ser proveitosas. Slm', é isso que quero tentarm Orientadorz Qual seria o pnm'e1r'o passo que você daria? Neste ponto do diálogo, o orientador e a paciente estão atravessando a un'portante transição da meta escolhida pela paciente, para a ação. Com dl'gumas sugcstões do orientador, Ana prepaxou uma lista de maneüas de como encontrar a jovem que ela queria ajudarz Pôr um 4n'úncio no jomal. lr a uma agência de promoção social e fazer in- dagações. Ir a escolas de dança. Enta'o, subitamente, Ana amassou a lista. Ana: Não, eu mesma quero encontrá-la. Orientador: E de que manelra' laria isto? Ana: Tenho bom olho para crianças talentosas. Lria à periferia observar as crianças pobres brm'cando. Ana procurou e encontrou uma menina coreana adotada. E ajudou-a a m'iciar' sua caneüa de dançan'na. A decisâo de Ana englobou os cinco guias para o signiticadoz . Ela descobriu 0 que realmente desejava nessa tase de sua vida, mdependentemente do que seus amígos aprovassem ou do que seu conselheüo sugerisse. . Ela percebeu que tmha saídas; que não estava engaiolada dentro de uma época de sua vida que já não lhe oferecia pcrspectivas. . Semiu que poderia tazer um trabalho no qual se sentia insubs~ tituíveL 37DIÁLOGO SOCRÁTICO Sua escolha m'clu1'a outra pessoa sem atetar seu limite linance1r'o. O mais un'portante - a escolha foi clmamente autotranscendcn- te - ao ajudar outro ser humano ela preencheu seu próprio ser. TÉCNICAS DO DIÁLOGO Como outras técnicas logoterapêuticas. o diálogo socrático requer boa dose de 1m'provisação e imuiçãa Existem muitas maneüas de sondar o inconscieme de uma pessoa. e seu conhecimcnlo oculto so- bre significados pessoais. O dial'0g0 socrático usa cenos métodos. Entre eles destacmosz . relembrar as significativas experiências do passado; interpretações de sonhos focalizando mais esperanças e anseios 1'nconscientes, do que traumas reprimidos; . fantasias orientadas e não orienladas para revelar 0 que o paciente consídera significativo; . expeñências sigmñcativas de pessoas que 0 paciente consídera como exemplos a serem seguidos; relembraI experiências de máxun'a realização que mostraram ao paciente. geralmente como um súbito clarão, que a vida tem mesmo sentido. RELEMBRANDO EXPERIÊNCIAS Tanto as experiências do orientador como as do paciente são uliliza- das na busca do significado. Se perguntarmos a uma pessoa pessi- mista: “Quando sua vida teve signiticad0?” Provavelmente a res- posta será pessimista. De preteArência a abordagem é pergumar': “Qual íoi o tempo em que você se sentiu Ieliz e bcm consigo íõfx *¡F-ñ '. oázx rrrs .n'.r';'~ .'›.-Y 4- . r ...._ ›-.+.:4v 38 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA mesmo?" A pergunta desperta no paciente renúniscéncias que ele vai buscm no passad0. que lhe taçam lembrar expeúências positivas e não signüicados positivos abstratos. A segu1r' relatamos parte de um diálogo entre orientador e paciente. Harry. que escolheu viver 1'soladamente, fala sobre sua vida. Even- tualmeme ele diz: Harr'y: Nunca me casei depois de ver o que minha mãe tez ao meu pai. Ele se tomou alcoólatra, me batia muito. Eu era mau aluno e os garotos caçoavam de mm'1 por não ser bom nos esportes. Se não fosse pelo Tom, não sei como eu teria sobrevivid0. Oricntadorz Fale-me sobre o Tom. Harryz Tom era um vizm'ho, dois anos mais velho do que eu. Colecionávamos selos, dávamos longas cammhadas pelos bosques, en11'm, tazíamos muitas coisas juntos. Ele sempre me apoiava quando as coisas iam mal, em casa, por causa de meus pais. Pouco a pouco Harry toi-se tomando menos negativ0. Lembrou-se de outras pessoas que o amparamL Começou a distanciar-se do tipo que diz não, apesm de estar convencido de que “a maior pane das criaturas são umas bestas”. Em dial'ogos posteriores. Harry r_elembr0u situações em que algumas pessoas “eram menos bestiticadas que a maioria do Zoológico hu- mano” (sua torma dc humor). Resolveu associar-se a um clube de pessoas que caminhavam a pé e a um Clube de colecionadores de selos. O orientador reconheceu. nas pn'melr'as alusões de Harry em engajar-se nessas atividades. as palavras-chave relacionadas com Tom. e sentiu-se. ponanto, em condições de apoiar as escolhas. O orientador sugeúu que Hany ur'asse do porão suas ca1x'as cheias de selos misturados. que organizasse sua coleção (uma tmefa para ÍTÍY Env *-:'-'_.=“n- * .I'¡êm' tã W~ÍÉÍÚ§H 4 4 v. ' *.'.*."LÃ~Á .Í«. 39DIÁLOGO SOCRÁTICO executdr'), e que auxiliasse algum rapu da vizinhança a iniciar uma coleção de selos (autotranscendéncia). Estes procedüncntos Ioram os pequenos passos que levaram Hany de volta à comunidade humana. A utilização de expen'ências passadas, como base para atividades tuturas. é especialmente proveitosa para pessoas que se senlem ne~ gativas, vazias, depnm'idas. alienadas, e pma pessoas que eslão eu- tediadas por excesso de riqueza. SONHOS Sigmund Freud dizia que os sonhos são o régio caminho pma o in~ consciente. Vlktor Frankl concorda, e vê o inconsciente não só den- tro da dimensão psicológica. como também na dLm'ensa'o espirituaL como um régio camm'ho que leva a uma tclrra de amplidão ainda maiorz leva ao significad0. 0 inconsciente descrito por Freud contém pensmentos repn'midos e sentünentos que não queremos enfrentar conscientemente. A repres- são pode causar neuroses que são curáveis pela p51'canálise. Frankl tem um amplo conceito sobre o inconscicntc. AfLma que ele com- tém. também, esperanças, metas e significados repnn'n'dos, que para serem atingidos. os sonhos são os “régios caminhos". Signüicados repnmidos não causam, necessar'iamente. neuroses, porém provocm um vazio interior no qual a neurose pode se instaldr', especialmente quando surgem conflitos de consciência ou trustrações existenciais. Para estas perturbações a logoterapia é indicada. Os sonhos podem nos tazer perceber certas condutas reprimidas e traumas muito penosos para serem entrentados, e podem lambém trazer-nos mensagens do inconsciente. A m'terpretação de um sonho através desta perspectiva, pode nos ajudar a descobnr' o que é signi- ticativo para nós. 40 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA H1$'tórico de mn caso Betty, uma mulher de 34 anos que não se dava bem com 0 pai, so- nhou que estava deitada na cama com ele, abraçando-o carm'hosa- mente. no que era correspondida. Assustada, ela acordou. Seria pos- sível que ela tivesse repnm'ido desejos incestuosos depois de todas as rejeiçoe's por que passara desde a infância? Seu pai sempre tivera preferência por seu 1rm“ão mais velho, nunca lhe dedicara muito tem- po, não ficava satisfeito com suas notas embora ela fosse boa aluna, era muito n'gido com ela. e assím por diante. Uma interpretação logoterapêutica desse sonho, revelou uma expli- cação d1f'erente. Talvez o sonho estivesse dizendoz “Seja boazinha com seu pai, que ele será bom para você”. A jovem telefonou ao pai (ele morava a 300 km de distan^cia) c perguntou-lhe se poderia visi- Lá-lo - coisa que jamais havia feito. - Que você quer? resmungou ele. Sob c1r'cunslâncias normais, essa resposta teria sido suficiente para 1r'ritá-la. Desta vez ela disse que slmplesmentc gostaria de jamar com ele. Foi visi'tá-lo,am'da sob o etcilo do 1m'pacto que 0 sonho lhe cau~ sara. e não obstmte a atitude descontiada do pai, ela o Lratou com temura. A paritr de entã0, começou a visitá-lo duas vezes por mês e talavam muito sobre seu tempo de 1'n14n'"01'a. Seu 1rm'ão nascera com um deteito no pé, 0 que exigia mais atenção dos pais. Ela era saudá- vel e bem dotada,' o pai orgulhava-se dela e a estlmulava a t1r'ar no- tas mais altas, a nm' de tomá-la apta a treqüentar uma universidade, tonnando-se em medicm'a. ou advocacia. Betty começou a enxergar sua vida de menina. através de outro prisma. Algumas semanas antes de morrer. seu pai lhe dissez "Estou felíz por termos podido nos re- lacionar como adultos”. A interpretação logoterapêutica do sonho de Bctty, pennitiu que isso acomecessa 41DlÁLOGO SOCRÁTICO Frankl publicou diversos casos em que 0 sonho toi o régio caminho para o inconscienta Tony. um compositor que compunha músicas populares. para o cinema. sonhou que queria tazer uma ligação tele- tônica, porém o aparelho era tão complicado que ele não conseguia discar 0 número correto. Era o telefone de uma mulher para quem, no verão passad0, ele havia composto uma música religiosa, que lhe dera grande satisfação artística. Não havia nenhuma intenção ro- mântica - o relacionamento deles fora puramente proñssionaL O so- nho não revelava desejos sexuais repnm'idos; representava a voz de sua consciência que parecia estar lhe dizendoz “Escolha entre ga- nhar muito dinheu'0 compondo músíca popular, e ganhar menos mas compor aquilo que realmente o satisfaz”. Não é de surpreender que a escolha do número tenha sido difíciL Em alemão, a mesma palavra - wa"hlen - tanto significa discm como escolher. A interpretação logoterapêutica de um sonho pode revelar a mais profunda razão de uma depressão ou neurose, as causas espirituais de doenças físicas ou psicossomáücas, o caminho que de talo que- remos seguu' numa situação cont11'tante. Os sonhos Lambém podem nos trazer mensagens do inconsciente para o conscienle. Frdnkl" re- lata o caso de uma mulher que sonhou ler colocado seu gato predi- lelo, dentro da máqum'a de lavar roupa. Quando ela abriu a porta pa- ra remar 0 gat0, ele estava morto. Ao submeter-se ao dial'og0 socrá- tico, essa senhora interpretou o seguintez Seu gato favorito repre- sentava sua tilha favorita, Joan. A mãe reprovava o estüo de vida de Joan e constantemente a criticava mesmo diante de outras pessoas. O sonho toi um alertaz “Não lave sua °roupa ínum'a' em pu'blico, ou corre 0 risco de perder sua tilha!” Os sonhos têm muitas funções na logoterapia. Podem ser u'teis para iniciar um diálogo socrático ou para livrar-nos da apatia. Uma viúva afastou-se do seu círculo de amizades. Num sonho ela viu um pro- te'ssor do colégio. por quem sentia grande adm1r'açã0. Contudo, 42 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA ticou desapontada quando ele citou um pequeno trecho da sabedoría gregaz "Uma vida não avaliada não vale a pena ser vivida”. So- mente no dia seguinte ela percebeu que o professor, no sonh0, havia m'vertido a ídéia; o que na verdade ele estava dizcndo era: “Uma vi- da não vivida não vale a pena ser ava11'ada". Podemos dizer que 0 próprio Sócrates ajudou eSsa viúva, que através do diálogo socráti- co, conseguiu realizar-se e encontrar sua d1r'eção a segulr'. FANTASIAS NÁO CONYROLADAS Os sonhos têm duas desvantagcnsz pr1m'elr'o, não podemos criar um sonho contorme nossa vontade; segundo, os sonhos apresentam~se numa lm'guagem sun'bólic'a, düícil de ser interpretada, As famasias, tanto conlroladas como incontroladas, podem ser mais u'teis. Para penn1't1r' que as fantasias venham à tona, o paciente deve estar tranqu"11'o, física e mentalmente relaxado, a f1m' de que as 1m'agens possam brotm livremente do inconscíente. Qualquer tipo de medita- ção - ou alguns minutos ouvindo uma fita de relaxamento, um p0e- ma lido em voz muito calma - podem ser ulilizados para se conse- guir um estado de quietude. Uma não comrolada fantasia pode ser 0 ponto de partida para o dial'0go socrático - para aqueles que não vêem sentido na vida, ne- nhuma meta ou propósito, nenhuma tarefa, nada pelo que valha a pena lutaL lsto pode ocorrer com jovens que ainda não descobnr'am que rumo tomar em suas vidas, com pessoas enfrentando a cn'se da meia-idade. com pessoas cujas possibilidades de realização pessoal mudardm porque as circunstâncms de sua vida mudaram O 0n'ema- dor pode estmlulm a fantasia pedindo ao paciente que 1m'agu'1e que um ano se passou (0u d01's, ou cinco, etc.). Sem dar nenhuma outra m'strução, dizer algo assu'n: segunda-te1r'a de manhã e você acaba de acordar. Descreva onde está e o que vai tazer". _--« ~_~ › wsq .::-,~..j..:.,._v.____ á _ .ir .4 -....';n. mru _..._.T._1 _›. 43DIÁLOGO SOCRÁTICO Quando o paciente responde, suficientemente motivado pelas per- gunLas, começam a surg1r' as palavras-chave. Um jovem v¡u-se casa- do, com uma criança, trabalhando como entenneüo no berçdn"'o de um hospitaL O diálogo socrático pôde, então, ser orientado para dc~ termmada d1r'eção: de que mane1r'a poderia este rapaz aliar seu de- sejo de const1'tu1r' famfliau com o tremamento que ele necessitma pa- ra tomar-se enfermeüdl Nessa época ele estava trabalhando como vcndedor, serviço que detestava, e embora lhe desse bom lucro, ele queña abandonar. Estava gastando boa parte de sua renda em bares e corridas. Pensou, então, em mamer sua indesejada profissão de vended0r, a fun' de economizar dmh'e1r'o pma poder voltar a estudar e evemualmeme assumü a responsabilídade de constituir famflizL Chegou à conclusão de que esta meta, a longo prazo, valia esse sa- critício lemporar1"o. Um dramático exemplo de diálogo socrático baseado numa fantasia não controlada, f01'-nos fomecido por uma jovem universitán'a. Ela desejava tomdr'-se bib11'otecan"a. quando perdeu a visão em conse- qüéncia de um acidente com uma arma. Um terapeuta ajudou-a a en- frentar sua preocupação com a cegue1r'a, mas ela ainda semia um profundo desespero em relação ao seu Iquro. Numa fantasia não orientada ela se viu como b1'blioteca.r'ia. Um cego aproximou-se dela e pediu~lhe que lesse para ele. Ela respondeu-lhe que Lambém era cega. Essa jovem disculiu com seu orientador diversas possibilidades que ele havia percebido através das palavras-chave. encontradas na tan- tasia não orientadaz ela queria auxiliar pessoas cegas e am'da deseja- va tomar-se bibliotecan"a. 0 orientador sugen'u algumas idéias, nas quais essas duas metas poderiam ser combinadas. A jovem decidíu ser bibliotecar'ia numa escola para cegos. Com 0 desatio de uma ta~ reta autotranscendente. essa moça superou sua depressão. temúnou a taculdade. aprendeu Braille e foi Lrabalhar como bibliotecan"a numa escola para cegos. 5 ãg g 44 APLICAÇÕES PRÁTICAS L|.\ l ('L .U llRAPlA Ana, a mulher de meia-idudc que dccidiu aiudar uma jovem que as- pkava a ser baú'ar1n'a, b.1'scou-sc nu lumasia não orientada para des- cobrü os meios de atm'g1r' sua metaz 1m'aginou-se percorrendo play- grounds, conversando com as memn'as, travando amizade com suas mae's, convidando-as a sua casa, avaliando seus talentos, selecio- nando uma garota espec1'a1, contatando a escola certa e acompahan- do essa menma - com apoio humano e f1'nance1r'o - através de sua carre1r'a, até o dia em que ela subiu ao palco pela pn'me1r'a vez. FANTASIAS ORIENTADAS Depois do diálogo socrático ter percorrido caminhos sm'uosos e che- gado a um ponto de parada, a fantasía orientada pode ser usada. O emprego de símbolos e 1m'agens pode facilitar esta técnica. Os pen- samentos m'dividuais sobre detenninado tipo de colocaça'o, começam a ser defínidos em termos mais específicos. Uma Iloresta pode representar uma fonna de enxergarmos nossa vi- da. Escura, ameaçadora, contusa, ou luxuriante, perfumada, com outeüos e tlores. Sem nenhum camm'ho, ou com um camm'ho clar0, muitas biturcações, diversos arbustos. Raízes nas quais tropeçamos, ou morangue1r'os com trutos para serem colhidos. Uma montanha pode representar grandes esforços ou esperanças.Precipícios, nenhum ca1mn'ho, aspereza, medo. Ser convidativa, com amplos rochedos, rochedos que nos encorajam a galgá-los. Um riacho pode representar o curso de nossa vida. Podemos segui-lo partmdo de sua origem - nosso passado - ou acompahando-o até a sua desembocadura - nosso futuro. Nele podemos nadar, remar, pe- rambulm ao longo de sua extensa'o, sentar à sua margem e observar, pescan Pode estar cheio de correntezas, ter represas naturais ou 45DlÁLOGO SOCRÁTICO construídas pelo homem. Pode Huir serenameme, correr com suavi- dade, ser refrescante, atraente, assustadOL Pode serpentear através de um prado tlorido ou de uma floresta sombria, deslízar sobre sei- xos, chegar a uma planície. a um deseno ou a um pântano. Uma construção pode representar nossa pessoa. Uma singcla casa de fazenda ou um palácio. um grande prédio de apanamemos. uma frá- gü choupana, uma encantadora casa de campo, construída por nós ou por um arquiteto. À sua volLa pode haver um bem tratado jardm de ñores e plantas, ou um capinzal abandonad0. Uma piscina, um pequeno quintal ao fundo, uma ar'ea de laser. A conerução pode si- tuar-se numa tavela, no centro da cidade, no subur'bio ou no campo. Com um porão (o inconsciente). com poucas ou muitas dependêncías (a vída consciente), e um sótão (a mente). com vista para um belo jardim ou para um muro branco. Muitas 1m'agens podem transnu't1r' signüicados simbólicosz um navio em alto mar, um celeüo cheio ou vazio. amm'ais mansos ou t'erozes. veículos (carros, aviões, navios, gôndolas). Podemos m'cluu' muitas pessoas numa fantasia oriemada - pai, mãe, companhelr'o. cn'ança, amigo, inimig0, chefe, estranhos. Enquanto a Íantasia não orientada é usada mais etetivamente para pessoas que não vêem signüicado na vida. a tantasia orientada é mais u'til para aquelas que têm um problema específic0. Exemplo l: Falta de autoconñança. 0 paciente é orientado rumo a uma situação que 1r'á fortalecer sua auto-imagem. Para encoraja'-lo a começar sua fantasia, o orientador faz sugestões: “Você está de pé, num prado coberto de Hores; é dia de sol. o céu está azuL há pássaros cantando. Você comcça a cammhar lemamente pelo prado, em d1r'eção a uma casa. Ao chegar lá. percebe que a 46 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOPERAPIA porta está trancada. Toca a campainha mas ninguém atende. Você deseja entrar nesta casa. Anda à sua volta, buscando outras portas, até tinalmeme encontrm uma que está abena. Entra c acha-se numa sala cheia de gente conversando em pequenos grupos. Você conhece todos, alguns são amigos, outros apenas conhecidos casuais. Você sabe que eles não podem vê-lo. Surpreende-se ao perceber que lodos estão talando de você, e talando coisas boas a seu respeito. Va1'pas- sando de grupo em grupo e ouvindo. Que estão eles dizendo?” As imagens são escolhidas pdr'a se adpatarem às necessidades do pa- cieme. Neste exemplo, a pessoa desprovida de autoconfiança é colo- cada num ambienle tavorável (1101es, pássar'os, dia de sol), num ca- minho detinido em d1r'eção a um lugar na vida (a casa). Um esforço é necessar'1'o para que encomre um acesso (as portas estão tranca- das), mas o estorço é compensado (uma das portas está aberta). O restame das 1m'agens é baseado na premissa de que, nas protundezas de nosso ser, conhecemos nossos pontos fortes que foram reprimidos e que devem ser Lrazidos à tona. A mesma meta pode ser atingida através de outra fantasia orientada, na qual se focaliza o tuneral do paciente, em que unicameme os as- pectos positivos do falecido são mencionadosz “lmagine que você está assistindo ao seu próprio emerro. Estão to- cando sua música preterida. Seu guía espm"tual predileto (padre. ra- bino. conselhelr'o) está louvando sua vm'udes,' pede depois aos pre- sentes que se manüestem que digam o que lembram de você e por que eslão Lristes com sua mortc." Exemplo 2: Uma düícü decnsa"o que prec15a' ser tomada A resposta está enterrada cm seu inconsciente. Você é conduzido através de ambiemes agradáveis, e solicitado a enum numa ampla sala escura. onde uma lígura é vagamente vísível a distdn"'cia. FÍ zl_ ""'.'F'7_ ** “ "' 'T T- m"”'",".'1§".1 _ 47DIÁLOUO socxÁnco Você se aproxíma lemamente da figura, imaginando quem poderia ser, mas certo de que é alguém 1m'portante em sua vida, alguém que será capaz de fornccer a resposta que você está buscando. Você c0- meça a pensar na pergunta que terá de ser respondida, à medida que se aproxima da tigura. Sabe que só podcrá Iazer uma única pergun- ta. Finalmente, você se encontra tão perto da figura que consegue reconhece^-la. Olhe-a de frente, formule a pcrgunta e aguarde ansi0- samente a resposta. A figura. enlã0, responde. Quem é essa figura? Qual toi sua perguma? Qual foi a resposLa? Nessa e noutras fantasias, a orientação não deve ser d1r'etiva. 0 orientador ao dizer “casa”, não especitica se é uma mansão, uma favela, um prédio ou uma cabana. Usa “l'igura” mas não diz se de homem ou de mulher. Nem de' alusão à idade, ou se é reaL ou um ser ligado à religião ou literatura. A identificação da ñgura teita pelo paciente. fomece palavras~chave que podem ser utilizadas no prosseguimento do diálog0. Alguns pacíentes vêem a si próprios como sendo a figura. lsto mdica que no ínt1m'o eles já sabem a res- posta à sua pergunta. Outros vêem uma figura religiosa ou uma pes~ soa muito 1m'portante em sua vida - 0 paL o avô, um amigo ou um professor. Um senhor viu a figura do avô, que ele costumava ajudar na fazenda, quando era criança. O pacieme estava em dúvida se de- via ou não abandonar a esposa. O avô lhe dissez “Se você plantar um pessegueu'o, nâo espere colher cerejas". Esta resposta tez 0 ho- mem analism o quanto ele poderia esperar que sua esposa mudasse, e baseado neste argumento, 0 casm procurou resolver seus problemas. Um outro homem estava desesperado por ter perdido uma pema. Que poderia ele fazer nessa nova situaçãdl Ele viu a figura de um professor que ele admüava e que Iinha exercido grande íntluência em sua vida. O protessor estava usando um longo casaco queele le- vantou para revelar que ele também só tinha uma pema. O protessor g .›_ _4 ._._.' nva _W- -4.<e-w- › 48 APLICAÇÃO PRÁTICA DA LOGOTERAPIA não disse nada, apenas sorriu. Esta fantasia abn'u o diálogo socráti- co, contirmando que mesmo os m'válidos podem ser grandes profes- sores. O paciente e seu orientador conversaram sobre o que um ho- mem, mesmo sem uma pema, ainda poderia realizar, que to'sse› signi- ticativo para ele. Excmplo 3.' Conflilo dc valores. O fundador e proprietan"0 de uma próspera empresa, estava sotrendo de fortes dores de cabeça e de- pressa'o. Estava também com problemas matrimoniais. O orientador suspeitou de algum conñito entre a devoção do empresan"o pelos seus nego'cios, e a atenção que vinha dedicando a sua esposa e fi- lhos. Numa fantasia orientada. o homem foi conduzido a um porão escuro (seu m'consciente). Quando seus olhos se habituaram à escu~ ridão, o homem viu que a sala estava cheia de pacotes, uns grandes, outros pequenos, alguns lm'damente embrulhados para presente e outros em jomal e papelão. Foi-lhe pennitido cutucar e sacudü os pacotes, adivinhar o que eles contm'ham, mas não lhe toi pennitido abri~los. Depois de lê-los examinado por alguns momentos, ped1r'am- lhe que escolhesse um deles. Agora poderia levar 0 pacote para uma sala üumm'ada, no andar de c1m'a e abri-lo. Ficou desapontado ao ve~ rüicar que o embrulho cominha o busto de Richard Wagner. Não fa- zia sentido para ele, porque não ligava muito para música e menos amda para Wagner. Pedlra'm-lhe que novamente descesse ao porã0, escolhesse outro pacote e Lrouxesse para c1m'a. Nova decepção - o segundo pacote cominha o jogo de monopólio, uma coisa com a qual não brmcava desde que seus tühos eram pequenos, e que sempre consíderara uma perda de tempu. Pela terceüa vez pcd1r'am-lhe que descesse ao porão e escolhesse outro embrulh0, mas toi advertido de que esta seria sua úlnm'a oportunidade. Quando ele subiu com o pa- cote e o desembrulhou. outra decepção. O terceu'0pacote contm'ha uma arv'ore de Natal de plástico, com enfeites baratos mas coloridos. O Natal nunca tivera muito sentido para ele; sempre se arrependia de 49DIÁLOUO souun |(f() gastar d1'nhe1r'o com enfeites que só eram usados uma vez por an0. ou até mesmo jogados fora. No diálogo socrático que se seguiu o homem teve uma experiência reveladora! Percebeu que a mensagem contida nos três pacotes era: '“Brm'que. relaxe, divma'-se! Não scja um trabalhador tanático! Mu'- sica (Wagner), jogos (monopólio). celebrações (árvores de Natal)”. Ele seguiu o aviso de seu inconsciente e sua depressão desapareceu. EXPERIENACIAS DOS OUTROS Em diferentes épocas de nossas vidas, sempre conhecemos pessoas que nos serv1r'am de exemplo. Experiências desses modelos podem ser u'teis no desenvolvun'ento do diálogo socrático, especialmente para pessoas que sotreram alguma perda ou se acham dentro de uma armadüha da qual não vêem escapatón'a. Muitas pessoas insp1r'aram- se nas vidas de Helen Keller e Franklin Roosevelt, que tiveram vi- das signüicativas a despeito de suas deticiências físicas. Leland SLanford, um construtor de estradas de terro da Calito"mia, perdeu seu filho justamente na época em que o rapaz estava pde entrar na faculdade. Stanford resolveu construk uma universidade, para que outros jovens pudessem treqüemá-la, uma vez que seu tilho já não poderia fazê-lo. Recemememe, esta história de Slanlord t*0i contada a uma senhora que também acabara de perder o f11'h0, quan- do ele ia m'gressar na faculdade. Ela não tinha, é cldr'o, condiçoe's de fundar uma univers1'dade; porém, durante o diálogo socrático, deci- díu que patrocinaria uma bolsa de estudos para que pelo menos um estudante, por ano, pudesse cursar uma carreu'a un1'versitan"'a. Sentiu, com isso, que administrar fundos e selecionar candidatos. trouxe mais conforto e significado a sua vida. 50 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA As experiências de V1k'tor Frankl nos campos de concentração m'spi- raram muita gente a encontrar significados em suas próprias expe- riências análogas - situaçoe's que para eles eram armadilhas das quais não podiam escapaL No dia1'ogo socrático é preciso muito cui- dado para não menosprezar os problemas do paciente. Muitas pes- soas, ao d1'scut1r'em sua situação, chegaram a conclusão de quez “se Frankl pôde sobreviver aos campos de concentração e constm1r' uma vida signüicativa, também posso encontrw sentido em mm'ha vida”. Uma senhora, CUJO marido a havia abandonado bem na época em que ela havia perdido o emprego, leu o livro de Frankl, “Man's Search tor Meaning”. Mais tarde ela comentou2 “Frankl conscienti- zou-me de que minha lam^pada-pílot0 espm"tual ainda estava acesa”. 0 dial'ogo socrático pode acender esta lam^pada e fazer com que a vida volte a bnl'har novamente. EXPERIÊNCIAS MARCANIEWS Uma experiência marcame pode produzu' uma centelha de luz du- rante o dial'ogo socrático. O orientador pode não fazer atlorar estas experiências culmmantes duraule o diálogo. Mas cenameme pode mencionar as mensagens carregadas de sentido que acompanharam as experiências, quando elas toram recordadas pelo paciente durante o dial'ogo socrático. 0 on°entador deve manter o ouvido aguçado para tais episódios, os quais são aludidos pelo paciente só de passagem, sem que ele reco- nheça o valor dessas lembranlçasy em sua busca pelo significado. Muitas experiências marcmtes passaram despercebidas quando ocor- reram, mas sa'0, não obstante. eficazes para manter acesa a lâmpada- piloto espm"tual. As experiências marcames em geral acomecem em situações doloro- sas. Um homem relatou um tato que carregara como um pesado LÍ LIlá fÍ f f _V_,_....4_...,.«_..r,, u V_ V. _..74.~ _,..._..« FV~4_V,7. 51DIÁLOGO SOCRÁTICO fardo, e sobre 0 qual não falara durante três anos. Sua esposa havia falecido de câncer, após longo período de ente'm1idade. No dia se- guinte ao enterr0, ele precisou fazer uma viagem aérea. Duranle o vôo, o avião rompeu a camada de nuvens e atingiu o céu claro. Ao ver através da janela 0 brüho da luz do sol, o viúvo sentiu uma su'- bita explosão de alegria, mas imediatamente sentiu-se culpado por esse sentun'ento. Três anos mais tarde, quando ele estava auavessan- do uma fase de depressão, falou a um amigo sobre essa experiência, citando-a como uma prova de que havia “algo errado” com ele. Seu amigo disse-lhe que, pelo contran"o, a vida poderia cstar querend0, naquele momento memoráveL proporcionaHhe uma prova de que havia “alg0 certo" com ele, mostrando-lhe que o sol brilha. mesmo por Lrás das nuvens. Um outro homem falou sobre um incidente que ocorreu enquanto elc dm"gia por uma estrada vazia, sentm'do-se alienado. De repente uma raposa começou a atravessar a estrada e então parou na metade. Ele pisou no freio, 0 carro estancou a alguns metros do animal e ambos. o homem e a raposa se encararam Relembrando esse incidente, ele contou que naquele momento sentiu-se em harmonia com toda a na~ tureza, com o universo intelr'0. Uma mulher, que estava cega havia dois anos, submeteu~se a uma cuu'rg1'a para recuperar a visão. Quando seus olhos cicatrizaram as ataduras foram retu'adas. Recordando aquele momento, ela descre- veu 0 júbüo que sentiu ao olhar para baixo, quando o último curati~ vo foi removido, e ver, pela pnm'eira vez em dois anos, os veios da made1r'a do assoalho. É extremameme difícil convencer uma pessoa, com argumentos ra~ cionais, de que a vida tem sentido sob quaisquer cu'cunstâncias, de que fazemos pane de um todo e que não eslamos sós, ou de que existem aspectos positivos em 51'tuaçoe's dc sotr1m'emo. O pacienle. 1 :§.I”L mxmarv ' Mj ã i __›.›v"$ 'y N'““ IÉ. ÂH l 52 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA ao nslanar suas experiências marcantes, pode descobm' mcsperados e útcis discemlm'entos. O diálogo socrático pode aLraü a atenção sobre esses mcidentes que são desprezados no momento em que ocorrem, ou são logo esqueci- dos. As mensagens Lrazidas por essas experiências, embora escondi- das na d1m'ensão espm"tual, precisam ser ouvidas. Essas mensagens podem ser evocadas durante o diálogo socrático, e podem ajudar o paciente a voltar-se para as atitudes positivas. RECUPERANDO ASPECTOS POSITIVOS 0 dial'ogo socrático sonda a natureza inconsc1'ente. É nesta d1m'ensão que encerramos nossos reprimidos ou ignorados anseios por um sen- u'do. nossos sonhos e esperanças, nossos objetivos enterrados, nossa negligenciada auto-esnm'a, e muitos aspectos positivos do nosso eu que, em função de experiências m'felizes ou mal compreendidas no passado._ foram represados. Durante o dial'0go socra'tico, pedaços desses sonhos, objetivos e experiências emergem Cabe ao on°enta- dor apanhar esses pedaços e devolvê-los ao paciente. Hlstó'nco'dcumcaso James Yoder é um logoterapeuta em Kansas City. Yoder fala-nos sobre Fred, um talentoso profissionaL que vinha lutando contra suas atitudcs de autocensura, sensação de culpa e problemas de pessi- mismo. Eis um trecho do diálogo que mantiveram e no qual Yoder apanhou frases at"1n'nau'vas que emerg1r'am do inconsciente de Fred, devolvendo-as a tim de que ele se cunscientizasse delas: Fred (dcpois de talar sobre sua vida. que ele descreveu como cheia de tracassos e desaponmemos): algumas vezes simo medo de dar oquo passo - não tenho certeza se dará certo. 53DIÁLOGO SOCRÁTICO Yoder: Vamos olhar para o seu passado. Se ele é uma leia te- cida por uma aranha (Fred usara esta expressão), que espécie de teia você teceu'? Sua vida parece ser rica em realizações, experiências e relacionamentos. Fred (chorand0): É, creío que sun'. Yoder: Nm'guém pode t1r'ar de você aquilo que adqum"u. Que aprendeu afm'al, olhando para o passado. de suas ri- cas realizações? Fred: Eu aprendi, mas mesmo assun' simo-me desanimado e solitan"o. Uma pane de m1m° está descansando, apron- tando-se para dar outro salto na vida, mais tarde. Fred contou a Yoder que leu os relatos de Frankl sobre suas ex- periências nos campos de concentraçãa ...._.rm Fred: Desde que li sobre as expeñênciasde FrankL fiqueí pensando nisso a semana toda. Yoder: E que pensamentos lhe passaram pela mente? Fredz Pensamentos pessnn'istas, eu dm"a. Vejo-me como seu- do, provavelmente, um daqueles que não teriam sobre- vívido emocional e espm"tualmente, não obstante isto não seja totalmente verdadeu'o. Tenho algumas espe- ranças para m1m'. Vejo~me como um dos 99% que não permaneceram espm"tualmente intatos... como um dos que venderiam seus um'a'os para se manterem vivos... mas 0 fato de Frankl ter demonstrado que alguns não se comprometeram e ainda assun' permaneceram vivos. prova que podemos sobreviver. Yoder: Fale-me sobre esperança. Ouvi você dizer que am'da tem esperanças. Fredz Slm', eu me recuso a dar-me por vencido. Porém... (Fred volta a falar sobre casos de rcjeiçãoe amxadllhas'). Yoder: Como d1z' FrankL todo o mundo tem seu próprio 54 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA campo de concentração. Fale-me sobre o seu, e sobre seus anseios e esperanças. O fato de você estar hoje aqui, dis- cutindo suas dores, sua liberdade de escolha... suas espe- ranças, demonstra que você sobreviveu. Fred (susp1ra' e sorri): Bem... acho que é verdade. Como eu con- segui escapar? Certas pessoas cuidaram de m1m'. Fred comentou então sobre um professor do colegial que teve um interesse especial por ele, sobre um padre que o tratou com cann'ho e compreensão quando o 1rma"o de Fred o levou à igreja e o apre- SCHÍOU 30 padre COIHO um ment1r'oso. Yoderz Ao invés de críticas e julgamentos você recebeu apoio. Fred (chorando): É. Muito estranhamente, alguns colegas parece gostarem de rmm'. lsso me aquece o coração. Yoderz Que você acha que eles gostam em você? Fredz Eu sou amáveL tenho um riso contagiame, sou sensível, tenho senso de humon Há algo de sun'ples e m'gênuo em m1m', algumas vezes. Não sou do tipo aproveitador (devo- rador). Yoder: Você está me dlz'endo 0 que não é - “Não sou do tipo aproveitador”. Fale-me sobre alguma coisa positiva a seu respeito. Fred: Sou uma pessoa sensível às necessidades alheías. Yoderz Pessoas ass1m'têm amigos. Fredz Eu não sinto que tenho amigos... Tenho medo de receber apoio e ajuda dos outrosj Tenho medo que me digam “vo- cê está querendo muito' ”. Yoderz Apesar dos semlmentos negativos que está me expondo, houve gente que o ouviu, que foi gentil com você, que compartilhou de seu sofnm'ento. Numa outra sessã0. Fred contou um sonho no qual queria usar uma serra elétrica. 55DlÁLOGO SOCRÁTICO Fredz Olhei para a minha própria “ma'quina de torça" (ele colo- cou a mão sobre o pcito). Estava toda enferrujada e cor- roída por dentro. Fiquei com medo de tocá~la pois receava ser eletrocutado. Yoder: Você me falou sobre pessoas que cuidaram de você, so- bre reallz°açoe's das quais se orgulhou. Apesar desse so- nho, e embora você diga que sua máquina está velha, que seu “aparelho de força” está enferrujad0, de algum modo você tem uma energia tlumdo através de você em d1r'eçã0 aos outros, e você se ergue acima do seu próprio sofnm'ent0 e de sua negligência no passad0. ' Fred (chorando): Um fio de prata emerge do meu centro e atinge o bosque verdejante. Mas estou com medo de ser um destruid0r... Tenho medo de ser o tuba- ra'o. Yoder: Talvez pelo próprio fato de dizer que teme, que se toma- rá 0 tubarão devorador (medo de ser aproveitador), mostra o quanto você valoriza tratar os outros com ama- bilidade e respeito. O seu medo até explica o valor do fio de prata, que está lhe mostrando como deseja viver sua vida. Fredz É mesm'o. Eu não conseguia ver isso tão claramente antes. Este foi o ponto decisivo da sessão. Fred tomou-se receptivo para enxergar-se através de um prisma mais positiva Yoder comentou a respeito desse diálog0: “Os clientes sempre demonstraram a existên- cia de pontos positivos e corajosos no meio de seu sofr1m'emo. So- mente por essa sessão eu sabia que Fred se sam"a bem. ao longo do seu caminho para a recuperação, transcendendo sua sensação de va- zio existencial e de depressão”. ;..¡ m _nj zr Êt rnle "~\ '|' . 56 APLICAÇÔES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA A DECISÀO 0CUL7A' No diálogo socrático o orientador tem de ouv1r' verdadelr'amente, de tal torma que cada palavra-chave - mesmo as que estão ocultas nu- ma maré de declarações aparentemente m'sigmt“icantes - possam ser ouvidas e usadas. H|s'tón'co dc um caso Eis aqui parte do dial'ogo entre Margaret e seu orientador. Margaiet chegou muito agitada à sessão. Estava preocupada porque a mulher com quem ela dividia o apartamento, disse-lhe que ela deveria mudar-se. Margaretz Eu me mudei três vezes neste u'1t1m'o ano. É tão difícil encontrar um lugar onde eu me sinta feliz. Agora, que fmalmente encontrei esse lugar, Ana não gosta de mim. E é ela quem tem 0 contrato. Estou de mãos atadas. Orientadorz Que a faz pensar que ela não gosta de você? Margaretz Nada do que eu faço lhe agrada. Orientadorz Seja mais espec1ñ'ca. (Afmnações vagas devem ser objetadas). Margaret: Ela diz que eu deíxo a cozinha na bagunça, não gosta que eu fume, d12' que Blackie (o gato de Margaret) ar- ranha seus mo'vcis. Toco mmh'a vitrola alto demais para ela, e não gosta que eu use a cozmha quando o namorado dela está la'. 0rientador: Todas essas coisas signitícam que ela não gosta de v0cê? Margarelz Eu sei que ela não gosta. Eu lun'po a cozmha e até a bagunça que ela taz, saio para tumar, mas não 1m'- pona o que eu taça ela sempre encontra algo errado. Ela sabe que eu gosto dessa casa mais do que qual~ quer outra coisa, mas ela quer que eu vá embora. Não tenho escolha. › Éíí Ê Ê Éfr 57DIÁLOGO SOCRÁTICO Orientadorz Você já fez sua escolha. Margaret: (surpresa): Ein'? OúentadorzOuça o que você disse: ditícil encontrar um lugar onde eu me sinta te'liz... Agora que finalmente en- contrei esse lugar... Amo essa casa mais do que qualquer outra coisa..." Margaretz Isso é verdade, só que agora eu preciso me mudar. Orientadorz Na'o, você só precisa pagar um preço para ficar. Margaretz Não é questâo de dm'he1r'o. OrientadorzEu não estou me refen'ndo a dinhelr'0. Na prun'e¡r'a sessâo você me disse que fugiu com seu namorado porque não queria mais morar com seus pais. Depois largou do namorado porque ele ficava bruto quando bebia. Depois mudou-se de um lugar para outro por- que não gostava de nenhum. Você não fez todas es- sas mudanças porque não tinha escolha. Todas as vezes a escolha foi sua. Margaretc E agora estou de mãos atadas. Orientadoerocê está aLada aos seus própños padroe's de com- ponamento. Mas você tem escolha. Mudar esse pa- drão ou continuar com ele. MargaretzÉ claro que não quero passar o reslo da minha vida fa~ Zendo mudanças. Que devo tazer? O orientador tinha condições de sugenr' soluções, pois ele ouvu'a Margmet dizer, sem que ela percebesse o que estava dizendo, que ela queria ticar na casa - que estava disposta a pagar um preço por iss0, e pronta para modüicar sua conduta. A pedido do 0rientador, Margaret fez uma lista de coisas que ela poderia fazer para persuad1r' a proprietan"a a deixá-la ficar. No fun' da sessão ela consegum en- contrar oito opções. - Eis sua lista de preços - disse o orientadon - Qual desses você escolhe? JSN Í -r«~. ›IA.1 _ 58 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA Uma das opções era uma rigorosa tabela determinando que, em dias anemados, todo o serviço da casa deveria ser teito por Margaret ou pela propn'etar'ia. Cada uma, na sua vez, teria que tazer a hm'peza mas podia, também, receber 0 namorado nesse dia. 0 “comrato” dessa tabela contmha acordos sobre tumar, níveis de ruído, e outras ar'eas de contlito. - Ela jamais concordará - disse Margaret, no final da sessão. - Tentc - recomendou o orientadon - E quando lhe mostrar a tabela diga-lhe: Eu propus estas sugestões porque amo esta casa e amo você. Na sessão seguinte Margaret relatou que a proprietan"a havia feito algumas modificações, mas que aceitara a proposta. Para celebrar o contrato, deram uma festinha domm'go, convidaram os respectivos namorados, e depois ambas hm'param a cozm'ha, juntas. O dial'og0
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