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Giulia Pacheco Souza Dica: tudo que está à direita (AD) é mais anterior, e tudo que está à esquerda é mais posterior. Fisiologia: tudo inicia com o nó sinoatrial que é um conjunto de células pálidas e autoexcitáveis, localizadas no teto do AD (local de encontro da VCS). Essa ativação atrial é representada no ECG pela onda P, em que a 1º porção diz respeito a ativação do AD, e a 2º porção (final) relaciona com o AE (nó sinoatrial → feixe de Bachmann). A partir das vias internodais, o estímulo passa para o nó atrioventricular (NAV). No NAV (labirinto) nota-se a propriedade decremental, isto é, a capacidade que o NAV tem de diminuir a velocidade de propagação do estímulo, resultando em batidas diferentes entre o átrio e o ventrículo. Assim, essa propriedade é representada no ECG por uma linha isoelétrica (sem atividade) após a onda P. Após o estímulo sair do NAV irá percorrer o feixe de His, indo para o ramo direito e esquerdo, percorrendo as fibras de Purkinje. Assim, inicia a ativação dos ventrículos que ocorre por etapa, visto que tem massa maior que a dos átrios. Essa ativação é representada pelo complexo QRS, em que a 1º etapa é a ativação septal originando a onda q, em seguida é a ponta e as paredes livres sendo representada pela onda r, e por fim, as porções basais, evidenciadas pela onda s. No momento da ativação ventricular, está ocorrendo a repolarização atrial, mas pelo fato do ventrículo ter maior massa, esse evento no átrio acaba sendo abafado no ECG. Depois, ocorre a recuperação / repolarização ventricular, sendo representada pela onda T. O ECG apresenta 3 tipos de derivações eletrocardiográficas: bipolares (de um ponto ao outro: DI, DII e DIII), unipolares (único ponto: aVR, aVL, aVF) e precordiais (em direção à esquerda: V1 - V6). Deve lembrar que ocorre uma progressão da onda R (toda onda positiva) que inicia pequena em V1 e V2 (onda s tem alta amplitude) e aumenta considerável em V5 e V6 (V3 e V4 é uma área de transição). Caso isso não aconteça pensar em troca de eletrodos. A onda T acompanha o complexo QRS, onde o complexo é positivo a onda T também é, mas se o complexo for negativo, a onda se apresenta negativa também. Eletrocardiograma: Conceitos Básicos Giulia Pacheco Souza A interpretação do ECG se baseia em 12 passos: identificação, padronização, FC, ritmo cardíaco, eixo elétrico do coração (QRS), onda P, intervalo PR, complexo QRS, segmento ST, onda T, intervalo QT, arritmias e situações especiais. 1) Identificação: nome do paciente, sexo, idade, biotipo (longilíneo, brevilíneo, normolíneo), história clínica (motivo da realização), medicamentos em uso, data e horário. 2) Padronização: no próprio ECG deve constar essas informações: speed (velocidade que o papel corre) = 25 m/s e padrão normal ou modo N (limb = 10 mm/mV). 3) Frequência Cardíaca: considera o ritmo regular quando a distância entre os complexos QRS permanece praticamente a mesma, lembrando que observa a DII longa. Para fazer o cálculo utiliza a regra dos 1500, que consiste em: contar quantos quadradinhos tem entre uma onda R e outra, pega o valor encontrado (x) e divide por 1500 (1500 / x = FC). 4) Ritmo Cardíaco: o normal é o ritmo sinusal, que é evidenciado no ECG por onda P arredondada e monofásica que precede o complexo QRS (observa esse item na DII longa), sendo positiva em DI, DII e aVF, e negativa em aVR. Além disso, a FC deve estar entre 60 e 100 bpm, abaixo indica bradicardia sinusal e acima sugere taquicardia sinusal. OBS.: quando a onda P encontrar negativa em DI juntamente com as demais representações e em aVR ela e as outras estiverem positivas, tenho que pensar que os eletrodos foram trocados ou o paciente apresenta dextrocardia, para isso avalia V1 a V6 e tenta observar a progressão da onda r, caso não ocorra (complexo QRS negativo), repita o ECG do lado direito para confirmar a dextrocardia. Se ocorrer a progressão da onda r confirma a troca de eletrodos. Na situação em que a onda P não estiver positiva nas 3 derivações, somente em uma, o ritmo é atrial. OBS.: quando o ritmo for irregular não pode aplicar a regra dos 1500. Nesse caso conta quantos complexos QRS aparecem em 30 quadrados grandes em DII longa. Pega esse valor e multiplica por 10 para saber a FC média. Giulia Pacheco Souza 5) Eixo Elétrico: o eixo normal do coração localiza-se entre - 30º a + 90º. Caso esteja localizado entre - 30º e - 90º diz que o eixo está desviado para a esquerda. Se tiver entre + 90º e 180º significa que o eixo está desviado para a direita. Quando estiver entre 180º e - 90º indica que o eixo está extremamente desviado. Para localizar o eixo elétrico consiste na sequência de 02 passos, que utiliza o complexo QRS como referência: 1º passo - descobrir o quadrante: para isso, basta analisar a positividade / negatividade de DI e aVF. 2º passo - descobrir o eixo: utiliza as duas derivações que não passam pelo quadrante encontrado no 1º passo, baseando na positividade / negatividade. Aqui entra o princípio que toda derivação tem uma que é perpendicular a ela. Assim, DI - aVF, DII - aVL e DIII - aVR. 6) Onda P: avalia a morfologia, duração e amplitude. Para esse passo a melhor derivação para analisar é DII, seguida de V1 (onda P caracteriza por ser bifásica, parte positiva [ativação do AD], depois parte negativa [ativação do AE]). Quando se trata de um ritmo sinusal espera-se onda P positiva em DI, DII e aVF, e negativa em aVR. Ao analisar a duração e amplitude em DII, a onda P deve ocupar ≤ 2,5 quadradinhos na horizontal (duração) e na vertical (amplitude), se for maior que esse valor indica sobrecarga atrial. OBS.: na ausência de onda P e ritmo irregular (diferença entre as distâncias do complexo QRS em DII longa) sugere fibrilação atrial (FA). No caso em que todos os critérios de ritmo sinusal foram cumpridos, exceto o ritmo estar regular, indica uma arritmia respiratória, em que durante a expiração a distância entre os complexos QRS aumentam e essa distância diminui durante a inspiração. É uma situação comum em jovens e atletas. DI (0º) aVF ( -90º) DI (180º) aVF (90º) QIE QSD QSE QID OBS.: toda vez que DI e DII forem positivos, o eixo é normal. Toda vez que DI for positivo e DII for negativo, o eixo está desviado para a esquerda. Observa se existe alguma derivação isodifásica (a parte positiva e negativa são iguais), caso tenha o eixo está na derivação perpendicular a ela, assim, basta verificar a positividade / negatividade. OBS.: se o paciente for brevilíneo espera-se um coração mais horizontalizado, resultando em uma onda P maior em DI do que DII. Mas se for longilíneo, o coração é verticalizado, representando por onda P maior em DIII do que DI. Giulia Pacheco Souza Na sobrecarga atrial esquerda, aumenta a duração da onda P (algumas vezes, é evidenciado por uma onda bífida [corcova de camelo > 1 quadrad.]), enquanto que a sobrecarga direita aumenta a amplitude (no ECG é observado por uma onda P apiculada em DII, DIII e aVF). Outro achado indicativo de sobrecarga atrial esquerda é o Índice de Morris, caracterizado pela fase negativa da onda P em V1, ocupando mais de 1 quadradinho. Caso o paciente apresente os critérios simultaneamente de sobrecarga atrial direita e esquerda, é considerado uma sobrecarga biatrial. OBS.: sobrecarga atrial esquerda, representada pela onda P bífida. OBS.: sobrecarga atrial esquerda, evidenciando o Índice de Morris na derivação V1. OBS.: na sobrecarga atrial direita pode ocorrer um desvio do eixo para a direita, que associado com uma onda P pulmonale (onda Pmais apiculada em DIII do que em DI), é sugestivo de cardiopatia adquirida. Caso seja mais apiculada em DI, indica uma cardiopatia congênita. OBS.: taquicardia pode predispor ao aumento de amplitude da onda P. OBS.: na ausência de onda P, pode identificar uma sobrecarga atrial direita pelo sinal de Peñaloza-Tranchesi, isto é um complexo QRS de baixa voltagem em V1 que aum. de amplitude significativa em V2. Giulia Pacheco Souza 7) Intervalo PR: engloba desde o início da onda P até o início do complexo QRS. O normal é durar de 3 a 5 quadradinhos (conta horizontalmente). Caso esteja durando mais de 5 quadradinhos indica um bloqueio atrioventricular (BAV). Mas se durar menos de 3 quadradinhos indica um intervalo PR curto, sugestivo de uma pré-excitação ventricular, podendo estar presente na síndrome de Wolff- Parkinson-White. Bloqueio Atrioventricular: dividido em 3 graus, sendo que o 3º grau pode ser chamado de total (BAVT), essa classificação é baseada no local de bloqueio. BAV de 1º grau: todos os impulsos passam para os ventrículos (atraso maior do que habitual), assim toda onda P gera um complexo QRS, mas o intervalo (distância) entre elas é maior. Além disso, sabe-se que o intervalo PR está aumentado (> 5 quadradinhos), no entanto é um valor constante / fixo. Assim, a distância entre os complexos QRS é a mesma. BAV de 2º grau: nem todos impulsos passam para os ventrículos (bloqueio intermitente), dessa forma, em alguns momentos a onda P gera o complexo QRS, mas em outros a onda P não gera (onda P seguida de outra onda P). Dessa maneira, a distância entre os complexos QRS não é a mesma. É classificada em alguns subtipos: Mobitz I, Mobitz II, BAV 2:1 e BAV avançado. Mobitz tipo I ou Fenômeno de Wenckebach típico: ocorre um aumento progressivo do intervalo PR, como se avisasse que iria bloquear. Após o bloqueio retorna tudo novamente, assim o intervalo PR antes do bloqueio é maior do que o intervalo PR depois do bloqueio. Giulia Pacheco Souza Mobitz tipo II: caracterizado pelo intervalo PR constante, isto é, antes ou depois do bloqueio tem a mesma distância. Assim, é um bloqueio súbito, não avisa que vai bloquear. BAV 2º grau 2:1: duas ondas P geram um complexo QRS. BAV 2º grau avançado: ocorre quando a proporção é maior que 2:1, assim, mais de duas ondas P geram um complexo QRS. Mas, o intervalo PR é constante. Giulia Pacheco Souza BAV de 3º grau: nenhum impulso passa para os ventrículos. Assim, o indivíduo desenvolve um foco ectópico que assume o controle ventricular, sendo independente da ativação atrial, isto é, dissociação atrioventricular (DAV). Desse modo, a FC passa a ser de 8 (foco muito distante do NAV) a 40 (foco mais próximo do NAV) bpm. Logo, apresenta 02 frequências: atrial e ventricular, assim, terá mais onda P do que complexo QRS. No ECG, é representado com ondas P distribuídas de forma aleatória entre os complexos QRS (varia distância e quantidade), além de a distância entre cada complexo QRS permanecer a mesma. Intervalo PR curto: é caracterizado pela presença de uma via acessória ou anômala de comunicação entre o átrio e o ventrículo [normal: somente NAV], que não apresenta a propriedade decremental. A via mais comum é o feixe de Kent, adquirido por meio de uma anomalia congênita. No ECG, é evidenciado pelo surgimento mais precoce do complexo QRS, além de começar alargado [onda delta] e depois estreitar (normal - propriedade decremental ativada). OBS.: imagem ao lado representa a onda delta. Outra via anômala seria o feixe de James, próximo ao NAV, em que o intervalo PR é curto, mas tem ausência da onda delta, podendo ser a síndrome de Lown-Ganong-Levine. Giulia Pacheco Souza 8) Complexo QRS: toda onda negativa antes de uma onda positiva é denominada onda q. Onda r é toda onda positiva. Toda onda negativa após uma onda R, é chamada de onda s. A ativação ventricular tem um vetor resultante para a esquerda e para trás, que a depender da estrutura do paciente pode ser para cima ou para baixo (mais comum). Assim, em V1 o complexo QRS predomina negativo (começa positivo indicando a ativação do septo ventricular, mas depois negativa - onda rS), enquanto em V6 é predominantemente positivo (onda qRs). Posto isso, o normal é acontecer uma progressão de amplitude da onda r, que é pequena em V1 e aumenta de forma gradual, atingindo o topo em V5, visto que é a derivação mais próxima do coração. Consequentemente, ocorre uma diminuição progressiva da onda s. Além disso, o complexo QRS tende a ser positivo em DI, DII e aVF, mas negativo em aVR. Já em aVL e DIII é variável, a depender do paciente ser longilíneo ou brevilíneo. Onda q patológica: indicativo de área de necrose, representando uma área isquêmica antiga. É representada no ECG por uma onda maior que ¼ em relação a onda r e/ou ocupa mais de 01 quadradinho na horizontal. Giulia Pacheco Souza A duração normal do complexo QRS é menor que 03 quadradinhos. Assim, se durar ≥ 03 quadradinhos, indica um bloqueio de ramo ou intraventricular (direito ou esquerdo). Bloqueio de ramo direito: lado esquerdo ativa normalmente, porém o lado direito é caracterizado por uma ativação célula a célula, cujo processo é lento. No ECG é representado por um complexo QRS alargado e com predomínio positivo em V1, enquanto que em V6 o alargamento é negativo. Bloqueio de ramo esquerdo: lado direito ativa normalmente, porém o lado esquerdo é caracterizado por uma ativação célula a célula, cujo processo é lento. No ECG é representado por um complexo QRS alargado e com predomínio negativo em V1, enquanto que em V6 o alargamento é positivo. OBS.: bloqueio de ramo direito evidenciado em V1, cuja característica é uma onda rsR’. OBS.: bloqueio de ramo direito em aVR. OBS.: bloqueio de ramo direito em V6, representado por uma onda qRs. OBS.: bloqueio de ramo esquerdo em V1 (imagens da esquerda) e em V6 (imagens da direita). Giulia Pacheco Souza Em relação a amplitude do complexo QRS pode ser de baixa voltagem quando a amplitude das ondas do plano frontal (DI, DII, DIII, aVF, aVR, aVL) for menor que 5 quadradinhos e a amplitude das ondas do plano horizontal (V1, V2, V3. V4, V5 e V6) for < 10 quadradinhos. Com a amplitude é possível avaliar a presença de sobrecarga ventricular esquerda, que é caracterizada pela exacerbação da onda s (negativa) em V1 e exacerbação da onda r (positiva) em V5/V6. Pode utilizar o critério de Sokolow-Lyon, em que a soma dos quadradinhos ocupados pela onda s em V1 e pela onda r em V5 ou V6 é ≥ 35 quadradinhos. Lembrando que em pacientes jovens (< 35 anos) tolera acima de 40. No entanto, o ECG serve como rastreio, sendo ECO o padrão-ouro para a identificação de SVE. Giulia Pacheco Souza A presença de sobrecarga ventricular direita é evidenciada por um aspecto anormal em V1, isto é, apresenta um complexo QRS predominantemente positivo. Além disso, ocorre um desvio do eixo para a direita (DI negativo). 9) Segmento ST: localiza no final do complexo QRS (ponto J) e início da onda T, com ausência de ondas. O normal é ele se encontrar na linha de base, se estiver acima indica um supradesnivelamento de ST, já inferior à linha é sugestivo de infradesnivelamento de ST. 10) Onda T: avaliaa morfologia, em que o normal é a onda ser assimétrica com uma fase ascendente lenta e uma descendente rápida. Além disso, ela acompanha a positividade e negatividade (polaridade) do complexo QRS. 11) Intervalo QT: fica entre o início do complexo QRS e o final da onda T, sendo que sofre influência da FC. Para evitar fazer cálculo desnecessário, analisa DII no qual pega o ponto médio entre duas ondas r e observa se o restante do ECG segue esse padrão, em que a onda T deve aparecer antes desse ponto. Caso a onda T fique depois ou na metade desse ponto, o intervalo está aumentado e deve fazer a conta.
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