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Tde de polifarmacia

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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ
ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
DOCENTES: MICHELE GASSEN KELLERMANN
ACADÊMICA: MICHELE WALKER SCHMITT
Polifarmácia no Idoso e Influência da Polifarmácia na Saúde Bucal do Idoso 
Chapecó, 2021.
Introdução:
O processo de envelhecimento, na maioria dos casos, vem acompanhado do aparecimento de doenças, em razão disso é esperado que as pessoas idosas façam uso de inúmeros medicamentos para o controle de suas doenças e manutenção da qualidade de vida e a quantidade de anos vividos, visto que se trata de uma tecnologia desenvolvida para esse fim. Porém, esse uso excessivo tem causado prejuízos à saúde, principalmente quando utilizada de forma inadequada.
 O envelhecimento da população é considerado como um fenômeno mundial e configura um dos maiores desafios da saúde pública contemporânea, o Brasil encontra-se nesse cenário. A maior prevalência de doenças crônicas faz dos idosos grandes consumidores dos serviços de saúde e possivelmente o grupo mais medicado da sociedade. A população idosa contribui com aproximadamente 25% do total das vendas de medicamentos em países desenvolvidos.
 Mesmo não havendo um consenso na literatura sobre a definição dessa prática, mas devemos entendê-la como o uso concomitante de vários fármacos, podendo acarretar diversos problemas à vida do paciente. A polifarmácia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o uso rotineiro de quatro ou mais medicamentos (com ou sem prescrição médica) por um paciente, mas habitualmente o número de medicamentos tomados por uma pessoa enferma vai muito além disso. 
 A polifarmácia constitui hoje um dos problemas mais comuns nos cuidados do idoso que, em geral, está tratando mais de um problema de saúde ao mesmo tempo. E é importante lembrar que nem todo paciente que esteja usando vários medicamentos está fazendo uso de excesso de medicação. Muitas vezes, o próprio médico vê obrigado a receitar vários medicamentos para um só paciente. Imagine-se, por exemplo, um paciente diabético, com pressão arterial e colesterol elevados, que já mostre sinais de osteoporose e reumatismo. No mínimo, ele terá de receber cinco a seis remédios. Essa é, digamos assim, uma "polifarmácia do bem" e imagina-se que o médico conheça as reações e os efeitos das interações das medicações que receita.
 Há também uma outra polifarmácia, a daqueles pacientes que acrescentam medicações de venda livre por conta própria, levados pela propaganda ou até mesmo por conselhos de outra pessoa. 
 No brasil estima-se que 23% da população consome medicamentos exageradamente e desses, 60% da população nacional são especialmente as pessoas acima de 60 anos. Um estudo realizado apontou que 84,3% desses pacientes usavam vários medicamentos. E isso para não falar dos idosos que tem “mania” de remédios, que costumam comprar e usar por conta própria, apresenta um grande número de remédios vendidos sem receita.
 O uso de medicamentos constitui hoje uma epidemia entre idosos, cuja ocorrência tem como cenário o aumento exponencial da prevalência de doenças crônicas e das sequelas que acompanham o avançar da idade, o poder da indústria farmacêutica e do marketing causam forte ênfase na medicalização que está presente na formação dos profissionais da saúde hoje em dia. 
 Na pessoa idosa essa prática é mais perversa, pois além de significar um problema de saúde pública, mostra variados pontos negativos como efeitos adversos, reações alérgicas, intoxicações, interações medicamentosas, retardar o diagnóstico de alguma patologia e mascarar o aparecimento de algum sinal ou sintoma de uma ou mais patologia que ele desconhece sua existência.
 Com o processo do envelhecimento, vêm alterações fisiológicas e funcionais, além do envelhecimento de órgãos e tecidos, causando maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e degenerativas. 
 As consequências do uso de medicamentos têm impacto no âmbito clínico e econômico repercutindo na segurança do paciente. E, ainda pode gerar efeitos dramáticos que as mudanças orgânicas decorrentes do envelhecimento ocasionam na resposta aos medicamentos, a intervenção farmacológica é, ainda, a mais utilizada para o cuidado à pessoa idosa. 
 Os riscos que acontecem na polifarmácia geram reações adversas e as respostas indesejadas a um determinado medicamento, mesmo se utilizado em doses normais. Elas podem acontecer a qualquer pessoa, mas nos idosos elas representam um importante problema de saúde, seja pela frequência com que ocorrem seja pela gravidade que podem assumir. A idade por si só não representa um fator de risco, mas no grupo dos idosos normalmente há uma maior incidência de doenças e a farmacocinética (mecanismos de administração, absorção, distribuição, biotransformação e eliminação dos medicamentos) já está alterada nessas pessoas. 
 O risco de Reações Adversas a Medicamento (RAM) aumenta de três a quatro vezes em pacientes submetidos à polifarmácia, podendo imitar síndromes geriátricas ou precipitar quadros de confusão, incontinências e quedas. É frequente o idoso apresentar de duas a seis receitas médicas e utilizar a automedicação com dois ou mais medicamentos, especialmente para aliviar sintomas como dor e constipação intestinal. Esta situação pode ocasionar eventos adversos, uma vez que o uso simultâneo de seis medicamentos ou mais pode elevar o risco de Interação Medicamentosas Graves em até 100%. 
 Uma revisão sobre os óbitos mostrou que 18,2% das mortes foram diretamente associadas ao uso de mais de um medicamento, na maioria dos casos por negligência do cuidador ou familiar que não acompanha o idoso para acompanhamento de saúde com a equipe multidisciplinar, para a adequação da dosagem da medicação, avaliação do estágio da doença que o acomete, ou até por autonegligência do idoso, por ter a sensação de bem estar, de que o medicamento está resolvendo seu problema e não precisa mexer nela, e quando sentem algum efeito colateral por excesso ou por deficiência na dosagem abandonam o tratamento por conta própria e não procuram mais o serviço de saúde, mas quando os sintomas voltam com mais intensidade, antes de procurarem a equipe de saúde, “consultam” um amigo, ou vizinho, só depois vê a necessidade de ir ao pronto atendimento, muitas vezes com sintomas em estágios avançados, não tendo possibilidade de reverter, chegando o idoso a óbito. 
 Muitos medicamentos utilizados com ou sem prescrição de um profissional de saúde têm o potencial de causar reações adversas na mucosa bucal e, por esta razão, torna-se necessário que os profissionais a saúde estejam conscientes dos possíveis efeitos indesejáveis causados por cada droga, possibilitando um diagnóstico correto, e a conduta clínica adequada a fim de tomar as medidas necessárias para poder minimizá-los.
 Estomatite: Uma das reações medicamentosas mais comuns é a estomatite ou inflamação da mucosa bucal. A maioria dos casos de estomatite induzida por drogas não tem outra característica clínica além do eritema, acompanhado geralmente de dor. Nos casos com características clínicas e/ou etiologias específicas, é possível sub-classificar a estomatite em: alérgica, erupção liquenóide e eritema multiforme. 40 % dos pacientes que usam quimioterápicos para o tratamento do câncer desenvolvem algum tipo de complicação bucal como resultado do tratamento, e desenvolvem a estomatite durante a hospitalização.
O tratamento geralmente é paliativo, consistindo na maioria das vezes de bochechos com soluções antissépticas e anestésicos tópicos. Casos mais graves podem necessitar da prescrição adicional de analgésicos e antimicrobianos para a prevenção de infecções secundárias.
 Estomatite Alérgica: Varias drogas administradas sistêmica ou localmente podem causar hipersensibilidade ou reações alérgicas, as substâncias mais comuns são: medicamentos tópicos, antibióticos (especialmente penicilina), sulfas, níquel, aditivos de locutórios e dentifrícios, sabões, entre outros. 
 As reações alérgicasocorrem localmente, pelo contato da mucosa com o alérgeno ou decorrem da administração sistêmica da droga. A estomatite medicamentosa, gera uma reação sistêmica, apresentando-se como uma reação mais difusa, podendo estar associada a um quadro de urticária. 
 O tratamento da alergia requer a eliminação do alérgeno e se os sintomas forem mais graves, a administração de medicamentos específicos pode ser necessária.
 Erupções Liquenóides às Drogas: O líquen plano é uma doença autoimune que acomete a pele e/ou a mucosa bucal. Caracteriza-se clinicamente por estrias reticulares ou semelhantes a laços brancos (estrias de Wickham), podendo ou não desenvolver áreas de erosão e ulceração, e está frequentemente associada a distúrbios emocionais. A reação normalmente desaparece com a interrupção do uso do medicamento. 
 Eritema Multiforme: O eritema multiforme é uma reação imunológica muco cutânea geralmente observada após infecções virais sendo a mais comum à infecção pelo herpes vírus simples. Existe uma tendência ao envolvimento dos lábios, e é comum a formação de crostas seguindo-se erupção da lesão. 
 Dentre as drogas descritas e associadas ao eritema multiforme, incluem-se os antimaláricos, barbitúricos, alguns antibióticos como a clindamicina, tetraciclinas e penicilinas, e alguns analgésicos anti-inflamatórios.
 O diagnóstico de eritema multiforme é essencialmente clínico, e a droga deve ser suspensa. Os casos leves podem ser tratados sintomaticamente. As reações mais graves geralmente respondem bem à administração sistêmica de corticosteroides, podendo necessitar internação hospitalar.
 Ulceração e necrose: Medicamentos tanto de uso sistêmico, como de utilização tópica, pode provocar o aparecimento de lesões ulceradas na mucosa oral. 
 Um dos medicamentos mais comuns que por vezes é utilizado incorretamente de maneira tópica é a aspirina: o comprimido é algumas vezes erroneamente colocado na mucosa, para aliviar a dor. Outros medicamentos de uso sistêmico, ainda que administrados corretamente, podem desencadear o surgimento de úlceras na cavidade oral. Alguns anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, antidepressivos e drogas utilizadas no combate à osteoporose.
 Este efeito decorre, geralmente, em decorrência da hiperdosagem, sendo, portanto, necessária a adequação das doses ou até a troca do fármaco utilizado.
 Hiperplasia gengival: A hiperplasia gengival é o aumento do volume gengival resultante de uma proliferação celular exacerbada, que pode ser causada pelo uso de determinados medicamentos. Um dos medicamentos que há muito tempo se tem conhecimento por apresentar este efeito colateral é a fenitoína (Dilantina) utilizada no tratamento de pacientes comprometidos por crises de epilepsia.
 O tratamento inclui parar o uso da droga, gengivectomia e implementação dos procedimentos de higiene bucal. Um programa de higiene bucal meticuloso iniciado no começo da administração da medicação pode diminuir a incidência deste efeito adverso. E para os casos graves, deve ser verificada a possibilidade de prescrição de outra medicação anticonvulsivos.
 Pigmentação: A pigmentação dos tecidos moles, na cavidade bucal pode ser tanto de natureza fisiológica como patológica de origem exógena ou endógena. As pigmentações exógenas geralmente resultam da implantação traumática de materiais como o amálgama e o grafite, enquanto os pigmentos endógenos são provenientes da destruição das células vermelhas do sangue e da produção aumentada de melanina. 
 No que diz respeito às pigmentações bucais resultantes de terapêutica medicamentosa, a administração sistêmica e por períodos prolongados das drogas utilizadas como antimaláricos como, por exemplo, a cloroquina, fenolftaleina, o grupo das fenotiazinas e drogas citotóxicas usadas como antineoplásicos. 
 Já os pacientes portadores do vírus HIV, que fazem uso de azidotimidina podem apresentar lesões maculares circunscritas ou difusas na mucosa oral. Estas lesões, em alguns casos, são recorrentes à utilização cirúrgica. A clorexidina, um agente antibacteriano que reduz a formação de placas, geralmente causa manchamento nos dentes podendo induzir pigmentação na mucosa oral.
Em razão da grande variação nas respostas adversas manifestadas nos tecidos moles intrabucais, é importante que os profissionais da saúde reconheçam estas alterações procurando através de uma anamnese bem realizada e dirigida observar uma possível relação de causa-efeito.
Conclusão:
 O entendimento do processo saúde-doença dos idosos e familiares, o esclarecimento dos riscos da automedicação, como agravamento e/ou surgimento de novos problemas de saúde pré-existentes, são ações que podem trazer benefícios para os idosos, mudança de hábitos deletérios à saúde. Permitindo o engajamento da família, amigos, cuidadores ou pessoas de confiança do idoso, além da equipe de saúde multiprofissional, na busca de uma qualidade de vida apesar de frágil ou mais saudável possível, dentro do contexto vivenciado, isso mostra a importância de pensar o uso dos medicamentos como possíveis causadores de problemas de saúde e sirva de alerta para profissionais da área sobre as inadequações da indicação e do uso de medicamentos por idosos. E necessário ações de saúde pública, com vistas a estimular uma constante revisão dos esquemas terapêuticos administrados aos idosos, além do desenvolvimento de programas educativos para tornar a utilização de medicamentos mais racional, segura e eficaz possível. 
Referência:
MUNIZ, Elaine Cristina Salzedas; LAZARINI, Carlos Alberto; MARIN, Maria José Sanches. Análise do uso de medicamentos por idosos usuários de plano de saúde suplementar. Rio de Janeiro: S.N, 2017.
ABCMED, 2020. Polifarmácia: conceito, riscos, identificação e manejo. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1383413/polifarmacia-conceito-riscos-identificacao-e-manejo.htm>. Acesso em: 14 set. 2021.
CARVALHO, Alanna Thereza de Farias. POLIFARMÁCIA E AUTOMEDICAÇÃO EM IDOSOS. Paraíba: S.N, 2015. 
LOUREIRO, Caio C. S.. Efeitos adversos de medicamentos tópicos e sistêmicos na mucosa bucal. São Paulo: S.N, 2004.

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