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MOVIMENTO E
DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
 
Claudia Mendonça de Barros
Volume 1 
Coleção: 5 domínios do
desenvolvimento infantil
Claudia M. Barros - www.movimentomirim.com
 2 Movimento e desenvolvimento cognitivo
 
Sumário
 
 
página 03 .......... A concepção dos 5 domínios do desenvolvimento
página 05 .......... Relação entre movimento e cognição
página 06 .......... As 2 inteligências
página 07 .......... Linguagem
página 11 .......... As 2 formas de pensar
página 13 .......... Conceitos piagetianos
página 15 .......... Estágios do desenvolvimento cognitivo
página 27 .......... O desenvolvimento cognitivo segundo Vygotsky
página 30 .......... Divergências entre as concepções de Piaget e Vygotsky
página 31 .......... Bibliografia
 
 
Claudia M. Barros - www.movimentomirim.com
 3 Movimento e desenvolvimento cognitivo
A concepção dos 5 domínios do desenvolvimento
 
Iniciaremos nossos estudos a respeito de desenvolvimento infantil imaginando a
seguinte situação: você está ministrando uma aula e durante uma atividade de
deslocamento sobre uma superfície estreita (por exemplo, caminhar sobre uma
corda estendida no piso da sala), observa que um de seus alunos se desequilibra
constantemente. Você estranha este comportamento porque nas sessões
anteriores essa mesma criança demonstrava facilidade para realizar tarefas de
equilíbrio dinâmico. Como explicar esta repentina “desorganização corporal”?
Na busca por respostas, você recorda que antes de iniciar a aula, essa criança
apresentava uma expressão triste e relatou sentir saudades da mãe que estava
viajando.
Apesar de hipotética, a situação descrita acima é bastante comum na rotina de
professores: alunos que costumavam apresentar domínio sobre determinada
tarefa, repentinamente vivem momentos de “apagão”.
Que tal nos debruçarmos sobre esta questão com um olhar crítico e sensível
para analisar o processo?
A falta de espontaneidade que acompanha os sentimentos de tristeza e apatia,
resulta em um comportamento introvertido. Quando a criança se fecha sobre si
mesma, com tendência de fechar também o seu corpo, apresenta um tônus
excessivamente tenso, o que acarreta em prejuízo ao seu controle motor.
Consequentemente demonstra dificuldade para realizar habilidades motoras de
estabilização. Neste caso, o desequilíbrio afetivo é transferido para o corpo e o
resultado é o desequilíbrio motor.
Você consegue perceber a estreita relação que existe entre movimento e
emoção?
Além do domínio motor e do domínio afetivo que abordamos até o momento, o
nosso comportamento também é modulado pelos domínios cognitivo, social e
moral. Estes 5 domínios estão inter-relacionados e compõem uma unidade,
representada por cada indivíduo.
Claudia M. Barros - www.movimentomirim.com
 4 Movimento e desenvolvimento cognitivo
É importante entender que esta segmentação em “5 pedaços” é meramente
teórica e válida apenas para fins didáticos. O nosso comportamento é o
resultado de um sistema integrado e indissociável.
A seguir apresentamos a área de abrangência de cada domínio do
desenvolvimento.
 
Domínio cognitivo (conhecer)
Compreende o desenvolvimento do pensamento, do raciocínio, da memória, da
linguagem e da criatividade.
 
Domínio afetivo (sentir)
Compreende o desenvolvimento das emoções e da personalidade.
 
Domínio motor (fazer)
Compreende o desenvolvimento da capacidade motora.
 
Domínio social (relacionar)
Compreende o desenvolvimento da capacidade de perceber e relacionar-se com
os outros.
 
Domínio moral (respeitar)
Compreende o desenvolvimento de vários aspectos que contribuem para a
formação do juízo moral, tais como: o entendimento das regras, o sentimento de
culpa, a concepção sobre punição e a capacidade de cooperar.
 
 
Claudia M. Barros - www.movimentomirim.com
 5 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Relação entre movimento e cognição
 
O entendimento de que o comportamento motor é o resultado de um sistema
abrangente com 5 domínios integrados é transformador para o nosso ensino. O
professor que incorpora esta abordagem, quando se depara com um aluno com
dificuldade para corresponder aos desafios propostos na aula, busca outras
alternativas, além da correção técnica, para promover mudanças qualitativas no
seu desempenho.
Como o tema do nosso curso se restringe ao movimento e à cognição, faremos
um recorte do sistema integrado dos 5 domínios para nos aprofundarmos um
pouco mais sobre a relação entre os domínios motor e cognitivo.
Para iniciar os nossos estudos é importante entender que a origem da
organização dos nossos pensamentos está justamente nas nossas ações
motoras.
É na relação dialógica entre o ato e o pensamento que a consciência se organiza.
Imagine as mudanças no comportamento de um bebê ao longo do primeiro ano
de vida. O seu amadurecimento é inegável, mas uma questão importante a ser
considerada é a seguinte: todas as suas conquistas cognitivas são mediadas pelo
corpo. Este fato se justifica porque o movimento antecede o raciocínio lógico. É
através da motricidade que a criança explora o mundo ao seu redor e constrói
conhecimento, percorrendo o caminho do desenvolvimento e da aprendizagem.
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 6 Movimento e desenvolvimento cognitivo
As 2 inteligências
 
A inteligência é anterior à linguagem falada. A criança, quando começa a
verbalizar por volta dos 2 anos de idade, é capaz de falar sobre algum assunto
justamente porque construiu o conhecimento sobre esse assunto antes, por
intermédio de suas experiências motoras. Esta inteligência pré-verbal que
antecede a linguagem falada é denominada inteligência prática.
Na fase da inteligência prática, a criança ainda não é capaz de empregar a
linguagem verbal, mas sim as suas ações e percepções.
A inteligência prática é direcionada a um determinado fim e tem uma
característica imediatista, ou seja, aplica-se no “aqui e agora”. Assim, quando
uma criança pequena sobe em um banco para se debruçar sobre uma janela, sua
ação corresponde a uma tentativa de solucionar um problema imediato: ela
precisa alcançar a janela para enxergar alguma situação que chamou a sua
atenção do lado de fora. O risco da queda é desconsiderado porque este traço de
inteligência desconhece outros elementos que não fazem parte do objetivo
específico da ação (enxergar o lado de fora).
A partir do momento em que o desenvolvimento, o pensamento e a linguagem se
unem, a criança passa a ser capaz de atuar em planos simbólicos e transitar por
tempos e espaços ausentes dos quais se encontra. Assim, é possível imaginar,
inventar, criar, e até mesmo recuperar situações que aconteceram no passado.
Esta inteligência que atua no plano simbólico é denominada inteligência abstrata.
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 7 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Linguagem
 
A comunicação é uma necessidade humana básica e implica na busca por
entendimento e compreensão. O recurso que utilizamos para nos comunicar com
os outros é a linguagem. Através da linguagem expressamos os nossos
pensamentos e sentimentos.
A linguagem corporal (não verbal) e a linguagem verbal são 2 formas de
comunicação que se complementam e podem ser utilizadas simultaneamente,
exceto no início da vida, quando a criança pequena ainda não acessa o recurso
da verbalização e restringe o seu comportamento interativo à fala pré-linguística
(choro, arrulho, balbucio e imitação) e à linguagem corporal.
 
Linguagem corporal
A linguagem corporal é a expressão da inteligência prática e corresponde à
primeira forma de comunicação humana, utilizando os seguintes recursos:
gestos, expressão facial, postura, ocupação do espaço (próximo ou distante) e
toque.
Até a aquisição da fala, a motricidade é a principal resposta às necessidades
básicas da criança e aos seus estados emocionais e relacionais.
Você percebe a importância do movimento para o desenvolvimento?
O entendimento sobre esta fase em que a criança utiliza prioritariamente a
linguagem corporal para se expressar é fundamentalpara o professor.
Frequentemente precisamos mediar conflitos que acontecem em aulas
direcionadas às crianças pequenas. Sem o recurso da fala disponível, resta à
criança utilizar o seu corpo para se comunicar, o que justifica comportamentos
como empurrões (ao invés de pedir licença), tapas (ao invés de dizer “não
quero”), choros ou gritos (ao invés de responder “não gostei”) e assim por
diante.
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 8 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Linguagem verbal: fala
À medida que a criança amadurece e se apropria da fala, a linguagem verbal se
mistura à linguagem corporal, enriquecendo o processo de comunicação.
O nosso código linguístico é a língua portuguesa e para que possa existir uma
comunicação verbal entre 2 pessoas, é necessário que o remetente codifique a
mensagem que pretende transmitir (ou seja, transforme aquilo que intenciona
comunicar em palavras) e o destinatário decodifique esta mensagem quando for
recebida. As crianças entendem as palavras antes de conseguirem falar, sendo
capazes de decodificar o código linguístico.
Por volta de 9 ou 10 meses, os bebês começam a entender o significado de
aproximadamente 30 palavras que são dirigidas a eles e ao mesmo tempo
passam a utilizar gestos significativos para se comunicar (apontar, abrir e fechar
uma das mãos, bater palmas, acenar para o tchau,...). Neste momento também se
preparam para codificar a língua em um futuro próximo: os balbucios (repetições
de sequências de consoantes e vogais, como: ma-ma-ma-ma) que até então
experimentavam qualquer tipo de som (inclusive aqueles que não fazem parte da
língua que estavam ouvindo), passam a reproduzir exclusivamente o padrão de
som da língua nativa que está sendo ouvida pelos bebês.
Até o final do 1º ano de vida, os bebês perdem a sensibilidade aos sons que não
fazem parte da língua que costumam ouvir e em torno de 12 a 13 meses surgem
as primeiras palavras.
As palavras são símbolos que utilizamos para nomear coisas, pessoas ou ações.
Quando pronunciamos “CASA”, imediatamente remetemos à imagem de um lugar
para morar que contém telhado, janelas e porta. Esta imagem nos é revelada
mesmo na ausência de uma casa concreta, ou seja, mesmo se não estivermos de
frente para uma casa no momento em que falamos “CASA”.
Esta capacidade de abstrair um objeto na ausência dele é adquirida aos poucos,
o que justifica o lento desenvolvimento da verbalização no primeiro período de
uso das palavras (entre 12 e 18 meses), quando as crianças podem aprender a
dizer até 30 palavras relacionadas a contextos específicos.
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 9 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Quando atingem um limiar entre 100 e 200 palavras (na maioria dos casos entre
18 e 24 meses), as crianças começam a produzir frases curtas e simplificadas,
restritas às palavras essenciais para o entendimento do contexto. Assim, a
criança pode pronunciar “Bobó endo”, ao invés de dizer “Vovó está varrendo o
chão”. Esta verbalização característica deste momento do desenvolvimento da
linguagem é denominada fala telegráfica. 
Entre 16 e 24 meses, o desenvolvimento do repertório linguístico se acelera e as
crianças começam a acrescentar palavras novas a sua fala rapidamente, de tal
forma que aos 24 meses grande parte das crianças consegue falar em torno de
320 palavras. Durante este período de rápido crescimento do vocabulário, a
maior parte das palavras novas são substantivos que nomeiam objetos ou
pessoas. Os verbos se desenvolvem mais tarde porque denominam
relacionamentos entre objetos e não somente objetos individuais, ou seja,
recrutam uma capacidade que ainda não está disponível ao bebê antes dos 18
meses de associar palavras às ações.
A velocidade do desenvolvimento da fala é impressionante a partir do 2º ano de
vida. Com 30 meses, a criança consegue pronunciar cerca de 600 palavras e aos
5 anos, o vocabulário aumenta para 15.000 palavras.
Além de mediar a comunicação com os outros, a fala para a criança pequena
também é utilizada para controlar seu próprio comportamento. É muito comum
observarmos crianças entre 2 e 4 anos falando sozinhas enquanto brincam, seja
narrando suas atividades, seja manifestando seus próximos passos. Logo após
terminar de pintar, por exemplo, uma criança pode dizer para si mesma: “agora
vou colocar o desenho para secar”. Este discurso particular claramente tem uma
característica auto orientadora e tende a aumentar quando a criança está
tentando solucionar problemas ou realizar tarefas difíceis, sem supervisão de
um adulto.
Um ponto importante a ser considerado no desenvolvimento da fala diz respeito
à quantidade e qualidade da linguagem que uma criança ouve. Neste sentindo é
fundamental que o educador apresente bons modelos à criança.
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 10 Movimento e desenvolvimento cognitivo
É desnecessário e inadequado apontar o erro gramatical pronunciado pela
criança, com pontuações como: “não é assim que se fala, preste atenção em
como eu falo”. Este tipo de diálogo não favorece o desenvolvimento da fala, ao
contrário, pode bloqueá-la.
Uma dica interessante é repetir a fala telegráfica de forma ligeiramente mais
longa e gramaticalmente mais correta. Por exemplo, após ouvir de uma criança
“busa mamãe”, uma intervenção possível do educador seria afirmar em seguida:
“esta é a blusa da mamãe”.
 
 Linguagem verbal: escrita
A partir de 5/6 anos, as crianças continuam aumentando o seu vocabulário com
uma média de 5 a 10 mil palavras novas por ano. Este crescimento no repertório
linguístico é acompanhado por uma capacidade crescente de abstrair e trabalhar
com símbolos para representar objetos, pessoas ou situações.
Em um determinado momento do amadurecimento cognitivo o entendimento
sobre os símbolos permite à criança decodificar os desenhos que representam a
sua própria fala, passando a fazer uso da linguagem escrita.
 
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 11 Movimento e desenvolvimento cognitivo
As 2 formas de pensar
 
Na conversa com crianças pequenas costumamos ouvir frases curiosas, com
uma lógica muito peculiar. Se você pergunta, por exemplo, por que a Lua aparece
à noite, pode ouvir como resposta: "ela queria sempre estar de dia, mas brigou
com o Sol”. Uma outra possibilidade é deparar-se com uma narrativa com temas
misturados, revelando descontinuidade do pensamento: “a lua aparece de noite
porque dormiu de dia e hoje quando estava sol, eu andei de cavalo depois que
acordei”.
O tipo de fala descrito nas linhas acima reflete a forma como o pensamento da
criança pequena está estruturado, tendo sido denominado pensamento sincrético
pelo educador francês Henri Wallon.
Sincretizar significa reunir, e é exatamente isso que os pequenos fazem: ao
tentar explicar os fatos, embaralham em um mesmo plano diferentes temas,
espaços, tempos, pessoas, realidade e fantasia, sem distinção. Essa aparente
confusão ocorre porque a criança ainda não é capaz de colocar os objetos em
um sistema de categorias pré-estabelecido, no qual cada coisa tem um único
significado.
Quando tenta explicar o mundo a sua volta ou responder a algum
questionamento, a criança utiliza alguns recursos característicos do pensamento
sincrético. São eles:
1) Fabulação -.Tentativa de preencher as lacunas da narrativa com invenções. Ex:
“Quando eu estava passeando com o meu pai e o meu irmão, ele fêz cocô na
calça. Daí, o meu pai deixou ele preso dentro da prisão.”
2) Tautologia - Definição do conceito pela repetição do termo. Ex: “O cabelo fica
molhado quando estou no banho porque eu fico muito na água.”
3) Elisão - Conversas incompletas, com omissão de alguns termos ou ausência
de respostas, fugindo do tema central e passando para outro assunto diferente.
Ex: “O barco bóia porque é de madeira. Às vezes a gente monta quebra-cabeças”.
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 12 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Este estado de indiferenciação do pensamento da criança pequena, aonde tudo
estáembaralhado, se organiza progressivamente, passando para um estado de
diferenciação com um novo padrão de pensamento denominado por Henri
Wallon de pensamento categorial.
No pensamento categorial, a criança é capaz de realizar diferenciações,
organizando a realidade em categorias que discriminam os objetos e as tarefas
essenciais do conhecimento. Esta nova forma de pensar possibilita à criança
identificar, analisar, definir, sintetizar e comparar com maior precisão e
coerência.
O pensamento categorial começa a se desenvolver por volta dos 6 anos,
consolidando-se em torno de 9 a 10 anos, sendo construído à medida que a
criança experimenta situações sociais diversas e tem oportunidade de confrontar
aquilo que pensa com pessoas que possuem bagagens culturais diferentes. Desta
forma, o pensamento categorial é totalmente dependente da cultura.
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 13 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Conceitos piagetianos
 
Há vários autores importantes na área de desenvolvimento infantil cujas teorias
serão abordadas ao longo dos nossos cursos, mas especificamente neste
módulo a respeito de cognição optamos por abordar os estágios cognitivos
propostos pelo suíço Jean Piaget.
Piaget entendia a inteligência como resultante e resultado das experiências de
um indivíduo. De acordo com este autor, as experiências permitem que o sujeito
se transforme, na medida em que integra e incorpora o mundo. Assim, o sistema
cognitivo é extremamente ativo na construção do conhecimento, ou seja: o
conhecimento não representa uma mera cópia da informação porque a mente
não aceita esta informação de forma passiva. Ao contrário: a mente constrói
estruturas de conhecimento enquanto capta, interpreta, transforma e reorganiza
novas informações.
Há 2 processos inter-relacionados que promovem o desenvolvimento cognitivo:
organização e adaptação. Vamos estudar um pouco mais esses conceitos?
 
Organização
Para Piaget, do ponto de vista estrutural, a inteligência representa uma
organização de processos. Estes processos são denominados esquemas e
referem-se a padrões de comportamentos ou padrões de pensamentos.
À medida que a criança se desenvolve, seus esquemas se reorganizam e tornam-
se cada vez mais complexos. Assim, no início da vida, o bebê possui um
repertório de esquemas extremamente simples (olhar, provar, tocar, ouvir,
agarrar,...) e ao longo do desenvolvimento gradualmente são adquiridos
esquemas mais complexos (categorizar, comparar, analisar, descrever, etc). 
Um nível superior de inteligência não necessariamente é obtido a partir de um
acúmulo de informações, mas sobretudo a partir de uma reorganização da
própria inteligência. Desta forma, amadurecer é reorganizar a inteligência.
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 14 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Adaptação
Do ponto de vista funcional, para Piaget a inteligência representa uma
adaptação. Os processos de inteligência têm como finalidade garantir que o
indivíduo sobreviva, adaptando-se ao meio.
Há 3 processos envolvidos na adaptação: assimilação, acomodação e
equilibração.
A assimilação refere-se à ação de absorver alguma informação nova e
incorporá-la a um esquema pré-existente. Desta forma, assimilar diz respeito a
adaptar os estímulos externos às estruturas mentais internas do sujeito.
A acomodação complementa a assimilação porque modifica o esquema,
ajustando-o para que a nova informação possa ser integrada. Portanto,
acomodar significa adaptar as estruturas mentais internas do sujeito aos
estímulos externos.
É na relação dialógica entre o interno-cognitivo e o externo-ambiental que o
conhecimento é construído. Para que um indivíduo consiga adaptar-se ao
ambiente, é necessário que ele seja capaz de assimilar as informações
provenientes do mundo exterior e acomodar a si próprio neste mundo exterior.
O processo de equilibração refere-se ao esforço constante do indivíduo para
atingir o equilíbrio, sendo responsável por conectar a assimilação à
acomodação.
É natural que a novidade. resulte em um certo desconforto. No contato inicial com
um conhecimento novo (objeto, movimento, conceito ou evento), pode ocorrer um
conflito, gerando um desequilíbrio. Para apropriar-se do novo objeto de
conhecimento é necessário que o indivíduo se acomode a ele, buscando
restabelecer o equilíbrio. Desta forma, a equilibração caracteriza-se como um
processo dinâmico de equilíbrio, desequilíbrio e reequilibração. O
desenvolvimento da inteligência, portanto, ocorre através de alterações
sucessivas entre continuidade e descontinuidade.
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 15 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Estágios do desenvolvimento cognitivo
 
De acordo com Piaget, há 4 estágios sequenciais de desenvolvimento cognitivo,
delimitados por 3 momentos muito significativos de reorganização dos
esquemas. Cada um destes 3 momentos corresponde ao início de um novo
estágio de desenvolvimento, com saltos na qualidade da inteligência.
O primeiro momento de reorganização ocorre entre 18 e 24 meses, quando a
criança muda sua dominância de esquemas sensoriais e motores para o uso dos
primeiros símbolos, representando a transição entre o estágio sensório motor e
o estágio pré-operatório.
O segundo momento de reorganização ocorre entre 5 e 7 anos, quando a criança
acrescenta à sua estrutura cognitiva um novo conjunto de esquemas operativos
que a permitem pensar de forma lógica. Este momento representa a transição
entre o estágio pré-operatório e o estágio operatório concreto.
O terceiro momento de reorganização ocorre na adolescência, quando o jovem
passa a operar sobre ideias abstratas, sendo capaz de formular hipóteses. Este
momento representa a transição entre o estágio operatório concreto e o estágio
operatório formal.
 
Estágio sensório motor (0 a 2 anos)
O estágio sensório motor é a fase do desenvolvimento da criança na qual a
linguagem verbal e a manipulação simbólica ainda não são empregadas, mas
sim suas ações (motor) e percepções (sensório).
No estágio sensório motor a inteligência é prática, manifestando-se através da
motricidade. Se você precisar recordar o conceito de inteligência prática, retorne
ao capítulo 2 “As 2 inteligências”.
Como o estágio sensório motor é o primeiro momento do desenvolvimento
cognitivo, podemos concluir que a inteligência tem origem na ação motora.
Observe como novamente estamos constatando a estreita relação entre
movimento e cognição.
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 16 Movimento e desenvolvimento cognitivo
O estágio sensório motor é dividido em 6 subestágios que progridem de um para
o outro à medida que os padrões de pensamento e de comportamento do bebê
tornam-se mais elaborados. Estudaremos a seguir o comportamento do bebê
nos 6 subestágios.
 
1) Uso de reflexos (nascimento até 1 mês)
No primeiro mês de vida, os bebês são guiados por seus reflexos inatos, sendo
ainda incapazes de coordenar as informações dos sentidos. Um exemplo de
comportamento do bebê nesta fase é o ato de sugar.
 
2) Reações circulares primárias (1 a 4 meses)
No início do 2º subestágio, o comportamento do bebê começa a coordenar
diferentes sentidos e ações: olhar e escutar (volta-se em direção ao som),
estender o braço e olhar, estender o braço e sugar, etc.
O conceito de reações circulares primárias faz referência às ações em torno do
seu próprio corpo (como por exemplo sugar o polegar) que foram descobertas
por mero acaso e passam a ser repetidas intencionalmente pelo bebê para
reativar uma sensação de prazer.
 
3) Reações circulares secundárias (4 a 8 meses)
No 3º subestágio, o bebê inicia o seu entendimento a respeito do conceito de
objeto, apropriando-se da ideia de que cada objeto possui uma existência
própria e uma determinada localização no espaço. Este entendimento é
importante por ser a base para a construção da consciência de si mesmo: o
bebê passa a perceber que ele próprio é um objeto em um mundo repleto de
outros objetos.
Como este curso se propõe a apresentara relação entre o desenvolvimento
cognitivo e o movimento, cabe agora uma reflexão. Em função do processo de
amadurecimento do Sistema Nervoso Central, a fase entre 4 e 8 meses é um
momento importante do desenvolvimento motor.
Neste intervalo de tempo, os reflexos primitivos do bebê gradualmente vão
sendo inibidos e substituídos por movimentos voluntários. Embora ainda de
maneira muito rudimentar, o bebê passa a controlar movimentos importantes,
como: alcançar e agarrar objetos, rolar o tronco, arrastar-se, sentar, executar a
preensão palmar e a pinça digital. Estas experiências motoras são fundamentais
porque nos meses logo após o nascimento, o bebê ainda não se diferencia do
meio que o circunda. À medida que ganha mais autonomia sobre seus
movimentos, este processo de diferenciação acontece: gradativamente o bebê
constrói a percepção sobre contornos e limites dos objetos do mundo e sobre
seus próprios contornos e limites.
Neste processo de aquisição do conceito de objeto, por volta de 6 a 8 meses o
bebê passa a reconhecer objetos que estejam parcialmente cobertos. Se um
brinquedo favorito for colocado sob uma coberta com uma parte à mostra, o
bebê pegará o brinquedo, sinalizando que reconheceu que o objeto inteiro estava
lá, mesmo que apenas uma pequena parte dele pudesse ser vista.
Um outro comportamento característico deste estágio é denominado ações
circulares secundárias. Assim como no período anterior, o bebê repete
intencionalmente algumas ações para reviver uma sensação de prazer, porém no
subestágio 3 estas ações são orientadas para objetos externos a seu corpo,
como por exemplo: derrubar repetidamente um objeto no chão, bater em um
móbile para que ele se mova, agitar um chocalho, etc..
 
4) Coordenação de esquemas secundários (8 a 12 meses)
No 4º subestágio, o bebê passa a utilizar meios conhecidos para conseguir um
objetivo novo, tornando-se capaz de modificar e coordenar esquemas adquiridos
anteriormente (engatinhar, empurrar, agarrar,...) para conquistar uma meta. Esta
conquista é denominada diferenciação entre meios e fins e pode ser
exemplificada pela seguinte experiência: é apresentada uma bola para um bebê
de 6 meses e em seguida esta bola é colocada atrás de uma almofada, enquanto
o bebê a observa.. Ao constatar que a bola está escondida, o bebê começa a
chorar.
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 17 Movimento e desenvolvimento cognitivo
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 18 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Embora já tenha adquirido a habilidade de pegar tanto a bola quanto a almofada,
não lhe ocorre tirar a almofada da frente e posteriormente pegar a bola. Esta
situação ilustra a incapacidade do bebê no subestágio 3 de realizar a
diferenciação entre meios e fins, onde retirar a almofada representa o meio e
pegar a bola representa o fim. A partir do 4º subestágio, o bebê torna-se capaz
de associar estas 2 condutas, coordenando o esquema de afastar a almofada
com o esquema de pegar a bola.
Uma outra conquista importante do 4º subestágio está relacionada ao objeto
permanente. Embora a noção de objeto tenha sido construída no 3º subestágio,
naquele momento o bebê ainda não era capaz de atribuir existência a um objeto
que estivesse fora do seu campo perceptivo. A partir do 4º substágio, com a
aquisição da noção de objeto permanente, o bebê concebe a ideia de que os
objetos continuam a existir mesmo quando não são mais visíveis e então passa
a procurar um brinquedo que foi coberto totalmente.
Propondo novamente uma reflexão sobre a relação entre movimento e cognição,
é interessante observarmos como a noção de objeto permanente é impulsionada
pelo movimento. Enquanto o bebê depende dos outros para se deslocar, seja no
colo ou no carrinho, sua observação do ambiente fica submissa às
possibilidades que são criadas pela pessoa responsável por seu deslocamento. É
difícil construir a ideia de objeto permanente se não há oportunidade para rever
o objeto que foi visto há muito pouco tempo atrás. Por outro lado, à medida que
se desloca de forma autônoma (rastejando, engatinhando ou trocando passos), o
bebê tem a oportunidade de ir e vir, revisitando objetos vistos há poucos
segundos e consequentemente construindo a ideia de que mesmo enquanto não
estão sendo vistos, os objetos continuam existindo.
É também no subestágio 4 que o bebê inicia o entendimento sobre associações
entre causa e efeito. É muito comum que um bebê de 1 ano de idade acione o
interruptor de luz diversas vezes, enquanto observa a lâmpada acender e apagar.
Com este tipo de experiência, o bebê passa a perceber que os objetos do mundo
(inclusive ele próprio) interagem e causam efeitos entre si.
 
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 19 Movimento e desenvolvimento cognitivo
5) Reações circulares terciárias (12 a 18 meses)
No 5º subestágio, a atividade exploratória torna-se mais evidenciada através
das reações circulares terciárias, caracterizadas não só pela repetição de uma
ação, mas sobretudo pela variação desta ação. O bebê repete, varia e complica
propositadamente na busca pelo mesmo resultado obtido anteriormente, em um
constante comportamento exploratório de tentativa e erro. Assim, o bebê poderá
pisar em uma bola de borracha para verificar se faz o mesmo barulho que ele
escuta quando a aperta com as mãos.
Outra característica importante deste subestágio, é a capacidade maior de seriar
e memorizar acontecimentos. O bebê aprende a procurar um objeto no local
aonde foi visto pela última vez, embora ainda não consiga encontra-lo se for
preciso procurar em outro lugar, aonde não o viu escondido.
Nesta fase do desenvolvimento, o bebê também aprende sobre as relações
espaciais entre os objetos, na medida em que experimenta empilhar,
desempilhar, colocar e tirar de um recipiente.
 
6) Combinações mentais (18 a 24 meses)
O 6º subestágio é uma transição para o estágio pré-operatório, com utilização
de símbolos, como: palavras, imagens e números.
Neste subestágio, o bebê é capaz de reproduzir na memória um evento, um
objeto ou uma pessoa que não esteja presente no momento. Assim,
gradativamente deixa de recorrer ao modelo de tentativa e erro para solucionar
problemas e passa a pensar nas ações antes de realiza-las, antecipando suas
consequências.
 
Estágio pré-operatório (2 a 7 anos)
O conceito fundamental do estágio pré-operatório é a representação, definida
como a capacidade de pensar em um objeto através de outro objeto. Ao
representar, a criança utiliza símbolos mentalmente, tais como: palavras,
números e imagens.
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20 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Por volta dos 2 anos, a criança entra neste mundo de representações e sua
inteligência que era prática no estágio sensório motor, passa a ser simbólica, ou
seja: a criança passa a interiorizar informações, representando mentalmente as
experiências adquiridas.
Os símbolos ajudam as crianças a lembrar e pensar em coisas que não estão
fisicamente presentes. Ao olhar uma foto de um elefante ou pronunciar a palavra
“elefante”, a criança imediatamente remete a um animal pesado, com tromba e
orelhas grandes, muito embora não esteja na presença deste animal.
Os seguintes comportamentos emergem com a capacidade de representar:
desenhar, brincar de faz de conta, se reconhecer no espelho, imitar e falar.
Uma característica importante do estágio pré-operatório é o egocentrismo, que
consiste na incapacidade de compreender outro ponto de vista que não seja o
seu. Assim, a criança supõe que todas as outras pessoas enxergam o mundo
como ela própria enxerga, com pensamentos, percepções e sentimentos
idênticos aos seus. Como exemplo, uma criança na fase pré-operatória que
possui vários carrinhos de brinquedo, pode fazer o seguinte questionamento a
um adulto: “cadê o meu carrinho?”. É difícil para este adulto discernir sobre qual
carrinho a criança está se referindo, mas não ocorre a esta criança a
possibilidade de apresentar informações mais precisas do brinquedo (cor,tamanho, etc) que facilitem a sua identificação porque como ela sabe de qual
carrinho está falando, imagina que o adulto também saiba.
O comportamento egocêntrico da criança na fase pré-operatória também se
manifesta na sua relação com o próprio corpo, que representa um ponto de
referência em relação a todos os outros componentes do espaço que a cerca. Por
exemplo, se a criança estiver no 2º andar de um prédio, sempre irá considerar o
piso deste andar como “embaixo”, independentemente deste mesmo piso
representar “acima” para o morador do 1º andar. Como na relação com o seu
corpo o piso está embaixo, ela generaliza esta regra e não consegue relativizar
as direções. Os conceitos frente, atrás, em cima, embaixo, dentro, fora e lado são
construídos exclusivamente de acordo com a posição do seu próprio corpo.
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21 Movimento e desenvolvimento cognitivo
O estágio pré-operatório é dividido em 2 momentos distintos: a fase do
pensamento pré-conceitual e a fase do pensamento intuitivo. Estudaremos a
seguir o comportamento da criança nestes 2 subestágios.
 
1) Fase pré-conceitual (2 a 4 anos)
Na fase pré-conceitual, o pensamento é dominado pela imaginação,
transformando fantasia em realidade e sendo construído por imagens ao invés
de ser construído por conceitos. O termo “preconceito” refere-se a um tipo de
pensamento que é intermediário entre o símbolo imaginado e o conceito
propriamente dito. O conceito carece de generalização e nesta fase a criança
ainda trabalha com partes sem integrá-las para construir um todo. Por exemplo,,
quando pensa na palavra “cachorro”, atribui este significado somente aquele
cachorro que ela conhece, sem generalizar esta palavra para toda a classe de
cachorros. Portanto, na fase pré-conceitual, a criança raciocina de preconceito
para preconceito. 
Fazendo um paralelo com a motricidade, é interessante observarmos que esta
dificuldade na integração das partes para formação do todo também pode ser
percebida nos movimentos, que apresentam um uso exagerado ou limitado do
corpo, com ritmo e coordenação ineficientes. 
A seguir serão enumeradas algumas características da fase pré-conceitual.
Justaposição.
Justapor é reunir partes sem articulá-las e sem chegar ao todo. Embora a criança
pré-operatória seja capaz de classificar alguns objetos e situações em 2
categorias (boa/má, legal/chata, etc), ainda apresenta algumas limitações para
identificar similaridades e diferenças. Ex: Ao observar 2 buquês de flores, sendo
um de rosas e outro de margaridas, e ser questionada se há mais rosas ou mais
flores, Isabela não consegue responder.
Transdução.
Fazer implicações entre 2 fatos que não apresentam uma relação lógica, pulando
de um detalhe para outro e identificando uma causa aonde não há. Ex: Luís não
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22 Movimento e desenvolvimento cognitivo
emprestou uma bola para sua irmã. Sua irmã ficou doente em seguida e Luis
concluiu que ele foi o responsável pela sua doença.
 Sincretismo.
Fusão de vários elementos aleatórios sem a mediação da lógica, que resultam
em generalizações indevidas. Ex: Mariana é orientada a não chupar uma
determinada laranja porque está verde e posteriormente recusa-se a comer um
abacate porque este é verde.
 Centração.
Incapacidade para descentrar, levando em conta somente aqueles aspectos mais
aparentes que chamam a sua atenção em uma determinada situação e
negligenciando os demais. Ex: Francisco chora quando recebe 2 partes de um
biscoito que foi partido ao meio. Como cada parte é menor do que o biscoito
inteiro, ele entende que está recebendo menos.
 Irreversibilidade.
Não entende que algumas operações ou ações podem ser revertidas, retornando
ao ponto de partida. Ex: Francisco não percebe que os 2 pedaços do biscoito
podem ser colocados lado a lado para formar o biscoito inteiro.
 Pensamento estático e imóvel. 
Não entende a importância da transformação entre os estados. Ex: Ana não
entende que transformar a forma de um líquido, passando de um balde para uma
jarra, não altera a sua quantidade.
Animismo.
Atribuição de vida a objetos inanimados. Ex: Gustavo afirma que as estrelas
iluminam o céu para que o sol durma sem medo da escuridão.
 Realismo.
Atribuição de uma existência física às realidades psicológicas de desejos, medos
e fantasias. Ex: Pedro tem certeza que o Lobo Mau real e não uma ficção.
Artificialismo.
Crença de que os objetos físicos e os acontecimentos naturais são produzidos
por pessoas. Ex: Lorena acredita que o céu foi pintado por um grande artista.
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23 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Finalismo.
Crença de que nada acontece por acaso, ou seja: tudo apresenta uma justificativa
finalista, existindo em função da finalidade que cumpre.
Ex: Felipe pensa que as professoras moram na escola e esperam por ele todos
os dias.
 
2) Fase intuitiva (4 a 7 anos)
Por volta de 4 anos, o pensamento mágico do subestágio anterior que era
dominado pela imaginação passa a ser dominado pela percepção e pela
aparência dos objetos e das situações.
Embora menos fantasioso, o pensamento intuitivo ainda apresenta as
características de transdução e irreversibilidade. Por outro lado, a criança nesta
fase está menos centrada em si mesma, com progressos na capacidade de
conceituar e tentativas de agrupamento na medida em que busca relações entre
os traços de uma realidade.
Esta busca por integrar pedaços para formar um todo também se expressa na
motricidade. Por volta dos 5 anos, em função de um processo de
amadurecimento do Sistema Nervoso Central, há um salto qualitativo na
coordenação motora, resultando em movimentos mais eficientes e controlados.
 
Estágio operatório concreto (7 a 12 anos)
O estágio operatório concreto marca o início da organização lógica do
pensamento. Nesta fase, a criança conquista a capacidade de operar
mentalmente para resolver problemas concretos, transformando a inteligência
simbólica do estágio pré-operatório em inteligência conceptual.
A característica essencial da operação é a reversibilidade, que consiste no
entendimento de que as ações físicas e mentais podem ser dirigidas ao seu final
e revertidas para o seu ponto de partida. Por exemplo: tanto uma criança de 5
anos (pré-operatória) quanto uma criança de 8 anos (operatória concreta)
podem afirmar que a distância de São Paulo até Campinas é 100km, entretanto, 
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24 Movimento e desenvolvimento cognitivo
ao serem questionadas a respeito da distância de Campinas até São Paulo, a
criança de 8 anos responde prontamente 100km, mas a criança de 5 anos não
sabe responder.
No estágio operatório concreto, a capacidade de reflexão se restringe às
situações conhecidas que já tenham sido experimentadas. Isto significa que neste
momento do desenvolvimento, a criança ainda não consegue aplicar sua lógica
em situações puramente hipotéticas, que não sejam conhecidas ou não tenham
sido vividas.
Na relação com o corpo, a criança operatória concreta conhece e localiza todas
as suas partes, tendo construído o esquema postural, que corresponde à
representação mental estática do seu corpo.
A seguir enumeramos algumas habilidades cognitivas adquiridas pela criança na
fase operatória concreta.
Reversibilidade.
Reverter significa pensar em uma ação e na anulação desta mesma ação,
retornando à forma original. As ideias podem ser retomadas, a situação original
pode ser restaurada e as coisas transformadas podem voltar as suas origens. Ex:
Se A é maior que B, então B é menor que A. 
Conservação
Capacidade de reconhecer a seguinte situação: se nada for retirado ou
acrescentado, a quantidade permanecerá igual, mesmo que seu conteúdo seja
reorganizado.. Ex: Se uma bola de massinha for manipulada e transformada em
uma forma de minhoca, a criança operatória concreta entende que a quantidade
de massinha continua a mesma. A criança pré-operatória, no entanto, seria
enganada pela aparência, imaginando quena forma de minhoca há mais
massinha do que na bola, porque o comprimento da minhoca parece maior.
Princípio de identidade.
Busca as identidades e diferenças além do percebido. Ex: No exemplo anterior, a
criança percebe que embora a forma de bola tenha se transformado em
minhoca, o material continua sendo massinha.
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25 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Descentração.
Levam em conta vários aspectos da situação, e não somente os mais aparentes..
Ex: No exemplo da bola e da minhoca de massinha, a criança não se atém
exclusivamente ao comprimento (que é mais aparente), mas também a outras
dimensões, como a largura e a altura.
 Categorização.
Capacidade de classificar em categorias, organizando e compreendendo melhor
o mundo a partir da identificação de semelhanças e diferenças. A criança pode
classificar os objetos em um aspecto e desclassifica-los em outro. Ex: Organizar
objetos em categorias, tais como: cor, forma, tamanho ou ambos.
 Inclusão de classes.
Ideia de que classes subordinadas estão incluídas em classes maiores,
percebendo a relação entre um todo e suas partes. Ex: Maçãs estão incluídas na
classe frutas. Frutas estão incluídas na classe alimentos.
 Seriação.
Capacidade de organizar objetos em série, de acordo com uma ou mais
dimensões, como peso (do mais leve para o mais pesado) e cor (da mais clara
para a mais escura). Ex: Organizar uma fileira de lápis de cor, seguindo o padrão
do mais claro para o mais escuro.
 Inferência transitiva.
Compreensão da relação entre 2 objetos, conhecendo-se a relação de cada um
deles com um terceiro. Ex: Se A é maior do que B e B é maior do que C, então A
é maior do que C.
 Raciocínio indutivo.
Tipo de raciocínio lógico que parte de observações particulares sobre membros
de uma classe de pessoas, animais, objetos ou eventos para uma conclusão geral
sobre aquela classe. A partir da sua experiência, a criança constrói regras
amplas. Ex: Todos os cachorros latem. Rex é um cachorro. Rex la
 
 
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26 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Estágio operatório formal (a partir de 12 anos)
No estágio operatório formal, o adolescente adquire a capacidade de aplicar a
lógica a objetos e contextos puramente hipotéticos, sem que seja necessário o
conteúdo concreto no argumento.. Isto significa que além de considerar aquilo
que é verdade, o adolescente também consegue imaginar possibilidades sobre
aquilo que poderia ser verdade.
A inteligência conceptual da criança operatória concreta torna-se abstrata na
fase operatória formal, com as operações mentais atingindo um nível tão alto de
abstração que permitem ao adolescente utilizar símbolos até mesmo para
representar outros símbolos. Como exemplo, em álgebra a letra X pode
representar um número desconhecido em uma equação.
Uma característica importante do pensamento abstrato diz respeito à forma
como as operações mentais são elaboradas, através do raciocínio hipotético
dedutivo. O adolescente pode pensar simultaneamente em várias hipóteses para
solucionar um problema e colocar estas hipóteses à prova através de
experiências práticas ou através exclusivamente de operações mentais.
A capacidade de formular hipóteses também se expressa na relação do
adolescente com os movimentos. Tendo adquirido o esquema corporal com a
representação mental do seu corpo em movimento, o adolescente consegue
antecipar ações motoras, trabalhando de uma forma mais eficiente com
movimentos que demandam estruturação temporal. Por exemplo, é capaz de
realizar uma cortada no voleibol porque observa o momento em que a bola sai
das mãos do levantador e consegue estimar o tempo necessário para iniciar seu
movimento, saltar e tocar na bola.
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 27 Movimento e desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo segundo Vygotsky
 
O psicólogo russo Lev Vygotsky é um autor de grande reconhecimento na área
de desenvolvimento cognitivo. Sua teoria sociocultural entende o
desenvolvimento como um processo colaborativo, com a cognição sendo
ancorada na interação social.
Vygotsky entendia que o homem não nasce humano, ou seja, não nasce pronto,
mas se humaniza a partir do contato com o grupo social. Desta forma, o
desenvolvimento social é anterior ao desenvolvimento individual porque as
formas complexas de pensamento são adquiridas a partir da internalização da
cultura. É através do contato com outros indivíduos que se desenvolvem as
funções psicológicas superiores, relacionadas ao controle voluntário, à
consciência, ao discernimento e à intencionalidade.
Os adultos ou crianças mais velhas organizam e direcionam a aprendizagem de
tal forma que ao interagir com eles, a criança recebe modelos que serão
internalizados, o que desencadeia o seu desenvolvimento cognitivo. A
internalização não é uma mera cópia de padrões culturais, ao contrário:
internalizar consiste em reinterpretar (ou seja, transformar para si mesmo) as
informações recebidas do meio, com base na sua própria história de vida.
 
Pensamento e linguagem
A criança nasce em um meio falante e à medida que internaliza a cultura, se
apropria da linguagem. Segundo Vygotsky, o principal instrumento do
pensamento é a linguagem. Embora o pensamento não seja expresso somente
em palavras, é através delas que passa a existir.
As funções da linguagem são as seguintes:
Comunicação → fala e escrita.
Orientação temporal → os verbos conjugados no presente, passado e futuro,
permitem transitar pelo tempo em termos simbólicos.
 
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 28 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Pensamento generalizante → ao nomear algo, estamos realizando uma
classificação. Por exemplo: a palavra cachorro possibilita a classificação do
mundo em 2 categorias: tudo o que é cachorro (animais com características
muito específicas) e tudo o que não é cachorro (cachorro não é sapato, não é
gato, não é girafa, etc.).
Concepção da ausência → os termos que se referem à negação, permitem
construir a ideia de inexistência, zero ou nenhum.
 
Zona de desenvolvimento proximal
A distância entre aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha (ou seja, seu
nível de desenvolvimento real) e aquilo que a criança pode vir a realizar sem
assistência (nível de desenvolvimento potencial) é denominada zona de
desenvolvimento proximal.
A zona de desenvolvimento proximal representa o espaço que deve ser ocupado
pelo ensino. Alguns seguidores de Vygotsky utilizam a analogia de um andaime
para identificar a área de atuação do professor neste processo. Assim como a
função do andaime tem uma duração limitada, oferecendo suporte aos
trabalhadores de uma construção enquanto a mesma não está finalizada, os
professores, pais ou cuidadores devem prover uma assistência temporária às
crianças na zona de desenvolvimento proximal, até que elas atinjam condições
de realizar a tarefa sem auxílio, de forma autônoma.
Vygotsky valorizava muito a figura do professor porque entendia que o
indivíduo não é capaz de se desenvolver sem passar por experiências de
aprendizagem que são resultados da intervenção deliberada de outras pessoas
na vida dele.
 
 A importância da brincadeira
Vygotsky valorizava a brincadeira como uma ferramenta fundamental para o
desenvolvimento cognitivo. Há 2 questões a respeito das brincadeiras que
merecem destaque, conforme descrito a seguir.
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 29 Movimento e desenvolvimento cognitivo
1) Na brincadeira, a criança está ao mesmo tempo transitando pelo mundo
imaginário e pelo mundo das regras. Estas regras trazem para o mundo da
criança referências culturais, na medida em que reproduzem o funcionamento
das regras do mundo adulto.
2) Quando brinca, a criança se relaciona com o significado que atribuiu ao objeto
e não com o próprio objeto. Por exemplo, ao brincar com um cabo de vassoura
fingindo que é um cavalo, a criança está se relacionando com o significado
“cavalo” e não com o objetocabo de vassoura. Isto também promove um
descolamento do mundo perceptual imediato e faz com que ela se relacione com
o mundo dos significados, auxiliando-a a entrar no trânsito do mundo
simbólico, das representações, da língua, e das relações entre pensamento e
linguagem, etc.
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 30 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Divergências entre as concepções de Piaget e
Vygotsky
 
Embora tanto Piaget quanto Vygotsky reconheçam a importância da interação
com o ambiente para o desenvolvimento cognitivo, há uma diferença
fundamental entre as 2 abordagens que merece destaque.
Para Piaget, o amadurecimento biológico possibilita que o indivíduo raciocine de
forma cada vez mais complexa. No seu entendimento, o desenvolvimento
impulsiona a aprendizagem, ou seja, o indivíduo é capaz de aprender porque
está em um determinado momento do seu desenvolvimento cognitivo.
Por outro lado, Vygotsky considerava que a aprendizagem impulsiona o
desenvolvimento. De acordo com a sua concepção, sem interação social, o
amadurecimento biológico é ineficiente para aumentar a capacidade de
raciocínio do indivíduo.
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 31 Movimento e desenvolvimento cognitivo
Bibliografia
 
BOYD, D. & BEE, H. (2011). A criança em crescimento. Porto Alegre: Artmed.
 
BOYD, D. & BEE, H. (2011). A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed.
 
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FONSECA, V (2009). Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. Rio
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LE BOULCH, J. (1987). Educação psicomotora - A psicocinética na idade escolar.
Porto Alegre: Artes Médicas.
 
LE BOULCH, J. (2008). O corpo na escola no século XXI: práticas corporais. São
Paulo: Phorte.
 
PAPALIA, E. & FELDMAN, R. (2013). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: AMGH
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SALVADOR, C; MESTRES, M; GOÑI, J. & GALLART, I. (1999). Psicologia da educação.
Porto Alegre: Penso.

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