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AT 1 2 3 S U M Á R IO 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 4 UNIDADE 2 - Hemoglobina 7 UNIDADE 3 - Anemias 7 3.1 Definição 8 3.2 Classificação consagrada pela Hematologia 17 UNIDADE 4 - Classificação fisiológica das anemias 19 UNIDADE 5 - Classificação morfológica das anemias 22 UNIDADE 6 - Leucemias 28 UNIDADE 7 - Linfomas 29 7.1 Linfomas Hodgkin 31 7.2 Linfomas Não-Hodgkin 34 UNIDADE 8 - Origem celular de algumas doenças e a célula cancerosa 34 8.1 Mecanismos de regulação das atividades celulares 37 8.2 Agentes que podem causar câncer 38 8.3 Características das células cancerosas 41 UNIDADE 9 - CID-10 X CID-O 41 9.1 A CID-O – Classificação Internacional de Doenças para Oncologia 41 9.2 Diferenças entre CID-10 e CID-O 46 9.3 Leucemias e linfomas na CID-O 52 REFERÊNCIAS alex Highlight 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Como diz o título da apostila, estudare- mos neste módulo as anemias e as neopla- sias hematológicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define anemia como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essen- ciais, seja qual for a causa dessa deficiên- cia, podendo ser classificadas de acordo com o Volume Corpuscular Médio (VCM), lembrando que a anemia é um quadro ‘sin- tomático’ de uma patologia, é a consequ- ência da mesma, quer por defeitos enzi- máticos, deficiência da vitamina B12 e/ou folato e muitas outras situações que levam ao quadro anêmico (FAILACE, 2009). As neoplasias hematológicas, por sua vez, são doenças causadas pela prolifera- ção descontrolada de células hematológi- cas malignas ou incapacidade da medula de produzir a quantidade de células adequa- da. Estas doenças podem ser estudadas através da microscopia ótica, colorações especiais, reações imunológicas (citome- tria), técnicas citogenéticas (cariotipa- gem), e PCR, encontrando na medula óssea a principal afetada nestas enfermidades e seu exame é necessário para o diagnóstico (FLEURY, 2011). Definição para anemia, parâmetros de referência, classificação consagrada pela Hematologia; as leucemias, os linfomas Hodgkin e não Hodgkin; a origem celular de algumas doenças e a célula cancerosa são alguns dos temas abordados. Dedicamos um momento especial para apresentar a CID-O ou Classificação Inter- nacional de Doenças para Oncologia visto ser utilizada há mais de 25 anos, princi- palmente em registros de câncer para co- dificação topográfica e morfológica das neoplasias e, geralmente, é baseada no re- latório e diagnóstico anatomopatológico. Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não me- nos científicos. Em segundo lugar, deixa- mos claro que este módulo é uma compila- ção das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação ori- ginal e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pesso- ais. Ao final do módulo, além da lista de re- ferências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente con- sultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 4 5 UNIDADE 2 - Hemoglobina 4 A hemoglobina é uma molécula de pro- teína composta de dois pares de cadeias globínicas, polipeptídicas. Cada cadeia contém uma molécula heme que é respon- sável pelo transporte de oxigênio. As ca- deias globínicas são semelhantes umas às outras, consistindo de uma série de amino- ácidos. As cadeias de aminoácidos são cha- madas de cadeias polipeptídicas. As cadeias polipeptídicas não são linea- res e alguns aminoácidos contêm cadeias laterais, cada uma com uma propriedade distinta que pode ou não interagir com outras cadeias e produzir estruturas tridi- mensionais mais complexas. As formas mais complexas dessas estru- turas terciárias são mais bem visualizadas por cristalografia em raios X ou por análise de ressonância magnética, que são críticas para estabilidade e função das proteínas. A cadeia beta (β) possui 146 aminoáci- dos e a cadeia alfa (β) 141. Além das cadeias alfa e beta, que constituem a hemoglobina A (de adulto), os tipos de cadeias polipep- tídicas variam de acordo com o estádio de desenvolvimento intrauterino. Todas são chamadas por letras gregas: gama (β), del- ta (β), épsilon (β) e zeta (β). As cadeias zeta e épsilon são sintetizadas no início da vida intrauterina; as cadeias alfa e gama, na vida fetal; e as cadeias alfa, beta e delta, na vida pós-fetal (ROCHA, 2004). Didaticamente temos que a hemoglobi- na é uma proteína presente nos eritrócitos (hemácias), constituindo aproximadamen- te 35% de seu peso. É um pigmento pre- sente no sangue responsável por trans- portar o oxigênio, levando-o dos pulmões aos tecidos de todo o corpo. Além da função de transporte de oxigê- nio, a hemoglobina também participa do processo de transporte de nutrientes a to- das as células do corpo, processo este, no qual o sangue leva os nutrientes e recolhe as substâncias secretadas pelas células, conduzindo-as, posteriormente, para fora do organismo. Para se combinarem com o oxigênio, os eritrócitos precisam contê-lo em quantida- de suficiente, e, isto, depende dos níveis de ferro presentes no organismo. A defici- ência de ferro no organismo leva a um qua- dro conhecido como anemia. Outro dado interessante é que a hemo- globina é capaz de transportar oxigênio numa quantidade superior a vinte vezes seu volume. Entretanto, quando se une ao monóxido de carbono, ela perde sua ca- pacidade de combinar-se com o oxigênio, o que implicará na perda de sua função e, consequentemente, em possíveis danos ao organismo. O tempo médio de vida dos glóbulos ver- melhos é de aproximadamente 120 dias, após este período, eles se degeneram no baço ou no sistema circulatório, contudo, o ferro se reintegra nos novos eritrócitos (glóbulos vermelhos) que se formam na medula óssea. Existem vários testes ou métodos para detecção da hemoglobina. Diferem no di- luente hemolítico que se usa e no tipo de hemoglobina que se dosa. O princípio das técnicas é o da lise dos eritrócitos com soluções hipotônicas e transformação da hemoglobina em oxiemoglobina ou ciano- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 4 55 meta-hemoglobina, que são avaliadas em espectrofotômetro e comparadas com pa- drões rigorosamente preparados. Quanto aos cuidados com método, é im- portante lembrar: o sangue venoso colhido não deve conter coágulos e o sangue capilar deve fluir facilmente durante a pipetagem; as diluições devem ser rigorosas, usando-se atualmente pipetas ou diluido- res automáticos; deve-se ter cuidado de controlar pe- riodicamente as curvas, com o padrão de hemoglobina; as cubas do espectrofotômetro de- vem conter quantidade suficiente da so- lução de hemoglobina preenchendo toda a fenda por onde passa a luz do aparelho (MOURA et al., 2008). Quanto ao hematrócito, o método é sim- ples, podendo variar o tipo da centrífuga e a quantidade de sangue usado. Consiste na centrifugação do sangue, medindo-se a percentagem obtida de glóbulos verme- lhos da coluna sanguínea. Existem dois métodos: o macro e o micro, sendo que este último vem substituindo o primeiro com vantagem, pois é mais rápido e usa menor quantidade de sangue. Os valores normais são: Sexo masculino: 40 – 54% Sexo feminino: 37 – 47% Conhecendo o número de glóbulos ver- melhos ou eritrócitos, a quantidade de hemoglobinae o valor do hematócrito, po- demos calcular os chamados índices eritro- citométricos. Esses índices são muito úteis para caracterizar o tipo de anemia, porém devem ser complementados com o estudo morfológico dos glóbulos vermelhos para o diagnóstico definitivo. Os índices mais empregados são: V.G. = Valor globular Que é o resultado da relação existen- te entre a porcentagem da hemoglobina encontrada com a percentagem da hemo- globina normal e o número de eritrócitos encontrado com o número de eritrócitos normal. Ainda temos: HCM – Hemoglobina Corpuscular Média Expressa a quantidade média de hemo- globina que existe dentro de uma hemácia. Variação: entre 27 e 34 pg. Determina se a hemácia está hipocrômica ou hipercrômi- ca. VCM – Volume Corpuscular Médio É calculado dividindo-se o hematócrito pelo número de eritrócitos. Varia de 80 a 100 fL. O VCM determina o tamanho das hemácias. <80fL = microcitose >100fL = macrocitose. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 6 76 CHCM – Concentração de Hemoglo- bina Corpuscular Média É a relação entre o valor da hemoglobina contida num determinado volume de san- gue e o hematócrito, sendo expressa em porcentagem. O valor varia de 32 a 35%. Para saber o diâmetro médio dos glóbu- los vermelho faz-se a medida em microscó- pio, usando-se uma ocular com uma escala micrométrica gravada. Procura-se medir o diâmetro de 100 he- mácias (em micrômetro) colocando-se em papel milimetrado nas ordenadas o núme- ro de hemácias e nas abscissas o diâme- tro em micrômetros. Obtém-se uma curva chamada de Price Jones. Este método não é muito usado na prática, pois sofre várias críticas. Os valores médios normais vão de 6,7 a 7,7 µm, com média de 7,2 µm (MOURA et al., 2008). A espessura corpuscular média é obti- da a partir do diâmetro médio e do volume médio, supondo-se o glóbulo vermelho como um cilindro. ECM = espessura corpuscular média = VCM / ¶ xDCM₂ / 2 Podemos encontrar o pigmento heme – a hemoglobina – na urina pela sua reação positiva com benzidina, devendo-se tomar cuidado de centrifugar antes a urina para separar os glóbulos vermelhos que podem, se presentes, falsear os resultados. A pes- quisa qualitativa ou quantitativa deve ser feita no sobrenadante. Para a dosagem da hemoglobina na uri- na, usa-se o mesmo método usado para dosagem de hemoglobina no plasma, aten- tando para o fato de que é preciso diferen- ciar a hemoglobina na urina da mioglobina. Existem outras hemoglobinas como a Hb H que podem não ser reconhecidas em eletroforese com papel, mas são demons- tradas após precipitação com agentes co- rantes como azul brilhante de cresil. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 6 7 UNIDADE 3 - Anemias 7 3.1 Definição A Organização Mundial de Saúde definiu anemia, cerca de 30 anos atrás, como sen- do a “diminuição da taxa de hemoglobina sanguínea abaixo de 13 g/dL para homens adultos, 12 g/dL para mulheres adultas e 11 g/dL para gestantes e crianças de seis meses a seis anos”. Como pode decorrer de múltiplas cau- sas, a anemia é uma síndrome. Sua preva- lência, liderada pela anemia ferropênica, é tão elevada que se constitui em problema mundial de saúde pública. Crê-se que 20% da população mundial não tenha reservas de ferro extrahemo- globínico no organismo, apesar da excre- ção fisiológica do ferro ser insignificante: nos homens equivalente a 1mg/dia; nas mulheres (pela perda menstrual) equiva- lente a 3 mg/dia. Segundo Failace et al. (2009), dentre os habitantes do atual terceiro mundo, há aproximadamente 800 milhões – na maio- ria, crianças – que são espoliados de ferro por verminoses. Esse novo contexto fez a anemia ferropênica tornar-se, literalmen- te, uma peste branca, pouco notada, pouco valorizada, mas de espantosa prevalência. Há com grande significância social, a anemia da malária (>300 milhões de novos casos anuais), das talassemias e hemo- globinopatias (= 100 milhões); e deve-se considerar que a longevidade triplicada do século XX deu origem a milhões de idosos com as anemias e perdas sanguíneas pró- prias desse grupo etário emergente. Esta- tísticas atuais mostram que mais de 10% dos pacientes internados em hospitais gerais são anêmicos. A anemia tornou-se a síndrome crônica de maior prevalência em Medicina e, como tal, a principal razão de ser do eritrograma que vimos anterior- mente. Segundo Hoffbrand e Moss (2011), as principais adaptações à anemia ocorrem no sistema cardiovascular (com aumento do volume sistólico e taquicardia) e na cur- va de dissociação da hemoglobina. Alguns pacientes com anemia severa podem não ter sinais nem sintomas, en- quanto outros, com anemia leve, podem ter severa incapacidade. A presença ou a ausência de sinais clínicos podem ser con- sideradas de acordo com quatro fatores principais, dentre eles a velocidade de ins- talação da anemia, sua intensidade, a ida- de (crianças toleram melhor a anemia que adultos e jovens, toleram melhor que os idosos) e a curva de dissociação da hemo- globina. Se o paciente tiver sintomas, em geral são: dispneia – em particular de esforço –, fraqueza, letargia, palpitações e cefaleia. Em idosos, podem surgir sintomas de in- suficiência cardíaca, angina de peito, clau- dicação intermitente e confusão mental. Distúrbios visuais devidos à hemorragia da retina podem complicar anemias muito se- veras, sobretudo quando forem de rápida instalação. Os sinais podem ser divididos em gerais e específicos. Sinais gerais incluem palidez das mucosas, que pode ser notada se o ní- vel de hemoglobina for menor do que 9 a 10 g/dL. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight SONO profundo com dificuldade em despertar- se alex Highlight alex Highlight Dor tensão e fraqueza ao andar em certas distâncias. alex Highlight 8 9 Segundo Failace et al. (2009), a manei- ra usual de se esclarecer a patogênese e a etiologia da anemia consiste em classificar os casos sob várias óticas (daí a multiplici- dade de classificações) e selecionar o con- junto que mais se aplique aos dados. 3.2 Classificação consagra- da pela Hematologia Segundo Oliveira (2007), pensar em classificar uma anemia é procurar estabe- lecer critérios que ajudem a desvendar sua causa. Para isso, parte-se de dados clínicos e morfológico-laboratoriais, confrontan- do-os com sua provável etiologia. Está consagrada na hematologia, a clas- sificação das anemias sob dois critérios: com base nas causas (classificação fisio- patológica ou etiológica) ou nos efeitos ta- manho e cor – hemoglobonização (classifi- cação morfológica ou laboratorial) sofridos pelos eritrócitos. Se por um lado o laboratório detecta as alterações morfológicas sofridas pelos eri- trócitos, a clínica médica, de posse deles e de outros dados clínicos, racionaliza a ne- cessidade ou não de outros testes, fazen- do, assim, o diagnóstico (determinando a causa). Rocha (2004) justifica que de nada adianta saber se uma anemia é microcí- tico-hipocrômica, por exemplo, quando o maior mérito é determinar qual a real cau- sa de os eritrócitos tornarem-se pequenos e hipocolorados, a fim de buscar o melhor tratamento para o paciente. Fica claro que para o profissional do laboratório, uma vi- são apenas dos efeitos muitas vezes deixa a desejar quando trata do diagnóstico exa- to da anemia. Além disso, dependendo de sua fase e de suas peculiaridades fisiopa- tológicas, uma mesma anemia pode apre- sentar diferentes perfis numéricos. Abaixo temos um esquema da classifi- cação das anemias e correlações. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 8 9 A classificaçãopela biometria do eritrócito tem base em trabalhos de Maxwel Wintrobe (+/-1935). O volu- me corpuscular médio (VCM), que criou na época era uma aproximação grosseira do valor real; agora, com a exatidão da medida eletrônica, valo- rizou-se a classificação. As anemias, quanto ao VCM (no adulto), podem ser: microcíticas – VCM < 80 fL; normocíticas – VCM entre 80 e 100 fL; macrocíticas – VCM> 100 fL. De acordo com o VCM, consultam-se as listas de causas de macro e microcitose, escolhendo a(s) mais condizente(s) com o caso. Nos casos pediátricos, interpreta-se de acordo com o VCM próprio da idade. O uso generalizado do histograma do volume eritroide estimulou J. D. Bessman (1979) a incluir o RDW na classificação; a biometria do eritrócito, definida por VCM + RDW, permite uma classificação em seis categorias. A tabela abaixo aloca as princi- pais anemias vistas na clínica, e a prevalên- cia relativa dos casos em mais de uma cate- goria é semiquantificada de 1+ a 3+. alex Highlight alex Highlight alex Highlight 10 11 Laboratorialmente, as anemias são clas- sificadas pelos valores quantitativos dos índices eritrocitários: contagem de eri- trócitos ou glóbulos vermelhos (GV), he- matócrito (Ht), hemoglobina (Hb), volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). Esses valores indicam três grupos de ane- mias: normocítica/normocrômica; microcí- tica/hipocrômica; macrocítica/normocrô- mica. Na realidade, os índices que indicam esses valores são o VCM e HCM, conforme os exemplos que se seguem: Classificação da anemia segundo VCM e RDW RDW normal RDW aumentado VCM < 80 fL Talassemia menor Doenças crônicas + Ovalocitose + A Ferropênica +++ Talassemia maior VCM > 80 e < 100 fL Da insuficiência renal Das doenças crônicas ++ Do hipotireoidismo ++ Esferocitose Ovalocitose ++ Aplástica ++ Por fármacos oxidativos A ferropênica recente Drepanocitose ++ Sideroblásticas +++ Das mielodisplasias + VCM > 100 fL Das hepatopatias Aplásticas +++ Por fármacos que interferem na síntese de DNA + Do hipotireoidismo + Falta de vitamina B12 Falta de ácido fólico Por fármacos que interfe- rem na síntese do DNA ++ Sideroblásticas + Mielodisplasias ++ Hemolítica autoimune Depranocitose + Fonte: Failace et al. (2009, p. 113). alex Highlight alex Highlight 10 11 Diante dos cinco exemplos apresenta- dos, é possível concluir que a classificação laboratorial das anemias se faz por meio dos índices VCM e HCM, conforme mostra a tabela. Entretanto, é importante desta- car que embora essa classificação tenha como base os valores quantitativos, é fun- damental que se descreva pela análise do esfregaço a morfologia dos eritrócitos. Se pegarmos por exemplo o caso 5 que apre- sentou anemia normocítica/normocrômica e fizermos uma análise da morfologia eri- trocitária poderemos encontrar eritrócitos com anisocitose dimórfica, caracterizada pela concomitância de eritrócitos microcí- ticos e macrocíticos, e por anisocromia. Existe também a classificação pela pa- togênese: as anemias dizem-se hiper-re- generativas quando têm uma causa pe- riférica, e o hemograma mostra sinais de resposta eritropoética medular apropriada no sentido compensador. Dizem-se hipor- -regenerativas quando são decorrentes de insuficiência da proliferação eritroide ou da síntese hemoglobínica; nessas não há sinais de regeneração compensadora. A chave da distinção entre hiper e hipor- -regenerativas é a presença ou ausência de policromatocitose/reticulocitose. A detec- ção de policromatocitose exige cuidadosa observação microscópica, nem sempre fei- ta. A inexatidão da tediosa contagem de reticulócitos ao microscópio não lhe dava credibilidade para centrar o diagnóstico di- ferencial das anemias; a facilidade e a pre- cisão da contagem eletrônica de reticulóci- tos, feita na sequência do hemograma nos contadores de grande porte, tornaram-na fundamental nessa função. Atualmente, no pressuposto de dispor-se da tecnologia, recomenda-se de modo irrestrito que, no diagnóstico diferencial de anemia, solicite- Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 GV: 5.000.000/ mm3 (ou 5,0 x 106/mm3) Ht: 45% Hb: 15 g/dl VCM: 90 fL HCM: 30 pg CHCM: 33 g/dl GV: 5,0 x 106/ mm3 (normal) Ht: 38% (dimi- nuído) Hb: 12 g/dl (di- minuído) VCM: 76 fL (di- minuído) HCM: 24 pg (di- minuído) CHCM: 31,5 g/dl (normal) GV: 3,9 x 106/ mm3 (diminuí- do) Ht: 28% (dimi- nuído) Hb: 7,3 g/dl (di- minuído) VCM: 71 fL (di- minuído) HCM: 18 pg (di- minuído) CHCM: 26 g/dl (diminuído) GV: 3,9 x 106/ mm3 (diminuí- do) Ht: 39% (dimi- nuído) Hb: 10,6 g/dl (diminuído) VCM: 100 fL (aumentado) HCM: 27 pg (normal) CHCM: 27 g/dl (normal) GV: 3,5 x 106/ mm3 (diminuí- do) Ht: 27% (dimi- nuído) Hb: 9,5 g/dl (di- minuído) VCM: 77 fL (nor- mal HCM: 29 pg (normal) CHCM: 36 g/dl (normal) Caso 1 – Homem sem anemia Caso 2 – Homem com anemia microcítica/hipocrômica Caso 3 – Homem com anemia microcítica/hipocrômica Caso 4 – Homem com anemia macrocítica/normocrômica Caso 5 – Homem com anemia normocítica/normocrômica alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 12 13 -se hemograma e reticulócitos. A classificação de anemia pela patogê- nese é apropriada a um raciocínio clínico, principalmente se forem assimilados e lembrados os mecanismos de anemização sob cada ramo da dicotomia hiper/hipor-re- generativas. São hiper-regenerativas as anemias de- correntes de: hemorragia recente; encurtamento da sobrevida eritroide (hemólise). A anemia pós-hemorrágica é cronologi- camente limitada; a reticulocitose é máxi- ma no sétimo ou oitavo dia e vai diminuin- do até a normalização das cifras. Outra classificação será pela morfolo- gia dos eritrócitos: o critério morfológi- co das anemias é de natureza qualitativa, demonstrando as alterações que ocorrem na forma dos eritrócitos, porém, não indi- ca a etiologia da patologia. Essa classifica- ção é realizada por métodos de coloração, Leishman ou Giemsa, nos quais são obser- vados a forma, o tamanho e as caracterís- ticas tintoriais destas células correspon- dentes à concentração de hemoglobina, descritos na tabela a seguir. Classificação morfológica das anemias Fonte: Lorenzi (2003). alex Highlight alex Highlight alex Highlight 12 13 a) Anemia microcítica Entre as anemias microcíticas, a mais frequente em todo mundo é a proveniente da deficiência de ferro. Para confirmação laboratorial deve ser realizada a dosagem de ferro sérico, capacidade ferropéxica, ferritina sérica e transferrina. A talassemia pode produzir uma hemograma similar, ve- remos mais adiante. Outras anemias levam a microcitose como a anemia das doenças crônicas (em alguns casos); anemia sideroblástica (defi- ciência ou mutação na enzima ácido δ-ami- nolevulínico-sintase levando a uma produ- ção insuficiente do grupamento heme nos eritroblastos). O termo microcitose é utilizado quando há deficiência na síntese de hemoglobina, onde o estroma elástico retrai-se por falta de conteúdo. A hipocromia também visível, não é apenas uma decorrência da micro- sitose; quando há insuficiente síntese de hemoglobina, diminui não só a quantidade total sintetizada por eritrócito, mas tam- bém a concentração máxima que atinge. A seguir está o algoritmo com protoco- lo sugerido para o diagnóstico de anemias microcíticas: Fonte: Lewis; Bain e Bates (2006). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 14 15 b) Anemia macrocítica O VCM elevado, com presença de macró- citos ovalados e neutrófilos hipersegmen- tados sugerem deficiência de folato ou vi- tamina B12, que são uma causa de anemia macrocítica. O aumento do VCM pode estar associado também ao excesso alcoólico e à doença hepática, ou a drogas, como a hi- droxiureia. No exame microscópico os eritrócitos jovens mostram-se maiores que os demaise policromáticos; com coloração supravital adequada, são identificados como reticu- lócitos. Os macrócitos, pela maior espessura, podem aparentar hipercromia ao micros- cópio; têm aumento de HCM, mas não da CHCM, de modo que há hipercromia real, apenas aumento da densidade óptica ao microscópio, pela maior espessura do tra- jeto denso a ser atravessado pelo foco lu- minoso; então deve ser evitado denominar as anemias macrocíticas de hipercrômicas, como erroneamente é feito pela grande maioria dos contadores eletrônicos, que anotam flag hypercromia quando a HCM é superior a 33 pg. O termo hipercrômia pode ser corretamente aplicado a populações de eritrócitos com CHCM elevado, como na es- ferocitose. Abaixo segue-se o algoritmo sugerido no protocolo para diagnóstico das anemias macrocíticas: Fonte: Lewis; Bain e Bates (2006). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 14 15 c) Anemia normocítica Frequentemente é causada por uma doença crônica, não hematológica. Para o diagnóstico deve ser feito triagem para do- ença renal, infecções subclínicas, doenças autoimunes e neoplasias. Quando a conta- gem de reticulócitos for baixa na presença de alguma anemia de alguma duração, o prognóstico aponta no sentido de insufici- ência primária da eritropoese ou perda de sangue crônica (se fosse súbita, reticuló- citos estariam aumentados) ou hemólise sem produção compensatória de eritróci- tos. É recomendado o exame da medula óssea quando os valores de reticulócitos estão normais ou baixos com anemia nor- mocítica e normocrômica, dessa forma é útil na demonstração de causas hemato- lógicas para essa anemia, como na anemia aplásica ou na síndrome mielodisplásica in- cipiente. Abaixo, o algoritmo sugerido com proto- colo para diagnóstico da anemia normocíti- ca e normocrômica: Fonte: Lewis; Bain e Bates (2006). alex Highlight alex Highlight alex Highlight 16 1716 A partir desses algoritmos pode ser rea- lizado com maior segurança o diagnóstico das anemias, como contribuir para o diag- nóstico das demais doenças hematológi- cas quando os resultados obtidos não indi- carem as consequências mais comuns para tal quadro, mas aí já outro protocolo deve ser seguido para confirmação. Vale lembrar que anemia é um quadro ‘sintomático’ de uma patologia, é a conse- quência da mesma, quer por defeitos enzi- máticos, deficiência da vitamina B12 e/ou folato e muitas outras situações que levam ao quadro anêmico. Para reforçar, segue abaixo uma tabela com o resumo prévio com valores dos índi- ces hematimétricos com os tipos de ane- mias subsequentes: Microcítica e hipocrômica Normocítica e normocrômica Macrocítica VGM <80fL HGM <27pg Deficiência de ferro Beta talassemia ADC (alguns casos) Envenenamento por chumbo Anemia sideroblástica VGM 80 – 95 fL HGM >26pg Anemias hemolíticas ADC (alguns casos) Hemorragia aguda Nefropatia Insuficiência medular, quimio- terapia e infiltração VGM >95fL Megaloblástica Não megaloblástica alex Highlight alex Highlight 16 17 UNIDADE 4 - Classificação fisiológica das anemias 17 Aqui encontramos, segundo a classi- ficação de Barreto (1992 modificada por Oliveira, 2004), as anemias por falta de produção; por excesso de destruição e as pseudo-anemias. 1) ANEMIAS POR FALTA DE PRODU- ÇÃO 1.1Com sistema hematopoiético íntegro (medula óssea normal): a) deficiência de ferro. b) deficiência de folato. c) deficiência de vitamina B12. d) deficiência de eritropoietina: insufici- ência renal crônica; hipotireoidismo. e) deficiência de piridoxina (vitamina B6). f) deficiência na síntese do heme: porfi- rias congênitas ou adquiridas. 1.2 Com sistema hematopoiético com- prometido (medula óssea alterada ou falha na regulação da eritropoiese): a) aplasia medular (anemia aplástica). b) síndromes mielodisplásicas; sidero- blásticas. c) leucemias. d) linfomas leucemizados. e) metástases. f) mielofibrose. g) estados inflamatórios e/ou infeccio- sos. h) drogas que inibam a hematopoiese (eritropoiese). i) parasitas: por exemplo, leishmaniose (calazar). 2) ANEMIAS POR EXCESSO DE DES- TRUIÇÃO (HEMOLÍTICAS) OU POR PERDAS SANGUÍNEAS 2.1 Anemias hemolíticas por defeito he- reditário: a) eritroenzimopatias (metabólicas): a.1) deficiência de G6PD; a.2) deficiência de piruvato quinase (PK); a.3) outras eritroenzimopatias: glicolíti- cas; não-glicoliticas. b) hemoglobinopatias (defeito na sínte- se de globinas): b.1) com globina de estrutura anormal: anemia falciforme (SS), hemoglobinopa- tias CC, SC,SD, SE, etc.; b.2) com globina de estrutura normal: talassemias. c) por defeitos protéicos da membrana eritrocitária: c.1) esferocitose; c.2) eliptocitose. 2.2 Anemias hemolíticas por defeito ad- quirido a) Imunes: a.1) anemia hemolítica autoimune (AHAI): induzida por drogas, aglutininas a frio, autoanticorpos, etc.; a.2) anemia hemolítica aloimune: doen- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 18 1918 ça hemolítica do recém-nascido; transfu- sões. b) Não-imunes (dano direto ao eritróci- to, sem envolvimento primário de resposta imune): b.1) por traumatismo mecânico: anemias microangiopáticas, próteses cardíacas, he- moglobinúria da marcha, etc.; b.2) por danos térmicos: queimados; da- nos químicos; venenos; b.3) tóxicas, agentes infecciosos: proto- zoários (malária, babésia); bactérias (clos- trídio). c) Hemoglobinúria paroxística noturna. Anemias por perdas sanguíneas: a) perdas crônicas. b)perdas agudas. 3) PSEUDO-ANEMIAS: RESULTANTES APENAS DO AUMENTO DO VOLUME DE PLASMA 3.1 Edema (retenção líquidos): último tri- mestre de gravidez; tratamento com dro- gas esteróides; desbalanço hidrosmótico. 3.2 Hiperesplenismo (aumenta a quan- tidade de eritrócitos retidos no comparti- mento extravascuIar). 3.3 Outros (uso de soro intravenoso, atletas em treinamento, etc.). alex Highlight 18 19 UNIDADE 5 - Classificação morfológica das anemias 19 Também de acordo com Oliveira (2004), a classificação morfoetiológica das ane- mias inclui: anemias normocítico-normo- crômicas; anemias microcítico-hipocrô- micas e anemias macrocíticas, elencadas abaixo: 1) ANEMIAS NORMOCÍTICO-NOR- MOCRÔMICAS: VCM de 80 a 100fL, CHCM de 32 a 36g/gL a) Por hemólise (hemolíticas): em alguns casos podem ser levemente macrocíticas. Congênitas: por defeito de proteínas de membra- na – esferocitose e eliptocitose; por defeito da hemoglobina – hemo- globinopatias: - Hemoglobinas variantes (SS, SC, CC, SD etc.); - Observação: as talassemias são he- moglobinopatias com perfil microcítico-hi- pocrômico. por defeito metabólico – eritroenzi- mopatias: - Deficiência de G6PD, PK, HK, GR, etc. Adquiridas: infecciosas – sepsinemia por Clostri- dium perfringens, malária, bartonelose; química – hipersensibilidade a deter- minados produtos químicos; física – queimaduras, próteses cardía- cas; vasculites (microangiopatias); venenos de serpentes – favismo (ge- ralmente nas deficiências de G6PD): - imunológicas – autoanticorpos, trans- fusão incompatível, mediada por drogas; - hemoglobinúria paroxística noturna. b) Por insuficiência medular. Secundárias: - tóxicas – drogas que inibam a hemato- poese; irradiações; quimioterápicos; pro- dutos industriais; solventes; benzeno, clo- ranfenicol, etc. (aplasias adquiridas); - parasitas – leishmaniose - calazar, etc.; - malignas – metástases. Primárias, sem causa definida (idiopáti- cas): - aplasias adquiridas; aplasias congêni- tas (anemia de Fanconi); - aplasia pura de série vermelha; hipo- plasias medulares; - leucemias; linfomas; fibrose, etc. c) Por hemorragias agudas – em alguns raros casos podem ser macrocíticas. d) Por falta de eritropoietina – insufici- ência renal crônica. e) Inflamações e/ou infecções crônicas (anemia de doenças crônicas). 2) ANEMIAS MICROCÍTICO-HIPO-CRÔMICA: VCM <80fL, CHCM <32g/dL São consequentes a defeitos de hemo- globinização nos eritrócitos. a) Hipossiderêmicas: ferro sérico baixo alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 20 21 a.1) Carência de ferro (ferroprivas) por: perda de ferro nos sangramentos crô- nicos; necessidades aumentadas de ferro com oferta pobre: - crianças e adolescentes em fases de grande crescimento; - mulheres com excesso de menstrua- ção; gestação. perda de ferro por hemossiderinúria: - hemólises intravasculares graves; di- álise crônica. defeito de absorção de ferro: - gastrite crônica, gastrectomia par- cial, ressecção duodenal. .2) Desvio do ferro para os macró- fagos medulares (não-ferroprivas): anemias de doenças crônicas de longa duração. b) Hipersiderêmicas: ferro sérico nor- mal/elevado Defeito na fabricação da hemoglobina (hemoglobinização) por causas: b.1) Congênitas: talassemias (alfa e beta); anemias sideroblásticas. b.2)Adquiridas: - intoxicação por chumbo; - medicamentos. 3) ANEMIAS MACROCÍTICAS: >100fL, CHCM de 32 a 36 g/dL a) Megaloblásticas: com megaloblastos na medula óssea. São consequentes do baixo número de mitoses nos eritroblastos, devido à síntese diminuída de DNA. a.1) Carência de vitamina B12: - anemia perniciosa (doença imune - fal- ta de fator intrínseco); - gastrectomia parcial ou total (falta de fator intrínseco); - gastrite atrófica (falta de fator intrín- seco); - ausência isolada de fator intrínseco; - vegetarianismo (não-ingestão de vita- mina B12); - na criança (menor absorção de vitami- na B12); - síndrome de Imersland (defeito de ab- sorção de vitamina B12 no íleo); - ressecção intestinal do íleo (impedi- mento da absorção de vitamina B12); - síndrome de alça cega (impedimento da absorção de vitamina B12); - dieta de peixe cru (depleção dos esto- ques de vitamina B12 pela tênia do peixe Diphilobotrium lotum); - anestesia com óxido nitroso; - deficiência de transcobalamina II (de- feito no transporte de vitamina B12). a.2) Carência de folato (ácido fólico): - má absorção intestinal; diarreia crônica (baixa absorção); - carência nutricional (dieta pobre em vegetais folhosos não-cozidos); - prematuros (pouca reserva e metabo- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 20 21 lização no fígado); - secundária ao excesso de consumo: - gestação; anemias hemolíticas crôni- cas; - dermatites exfoliativas; leucemias e outros cânceres; - diálise (retenção de folato); - cirrose (pouco estoque e metaboliza- ção no fígado); - álcool (competição); - Plasmodium falciparum (espoliação de reservas); - diminuição da 5-metiltetraidrofolato transferase; - antifolatos (metrotrexato, pirimetami- na, etc.). b) Não-rnegaloblásticas: sem megalo- blastos na medula óssea. São consequentes ou da diminuição do número de mitoses por defeitos das células-tronco na medula (aplasias), por maturação defeituosa (síndromes mielo- displásicas), ou do excessivo número de macrócitos policromáticos (reticulócitos) no sangue periférico. b.1) Anemias aplásticas (aplasia de me- dula): podem ser normocíticas. b.2) Síndromes mielodisplásicas: podem ser normocíticas. b.3) Hepatopatias: podem ser normocí- ticas. b.4) Anemias hemolíticas: com intensa regeneração eritróide (elevada reticuloci- tose - macrócitos policromáticos). Podem ser normocíticas. b.5) Anemias pós-hemorragias agudas com elevada reticulocitose: são geralmen- te normocíticas. alex Highlight alex Highlight alex Highlight 22 23 UNIDADE 6 - Leucemias 22 Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para ou- tras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a ser muito agressivas e incontro- láveis, determinando a formação de tu- mores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tu- mor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multi- plicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente consti- tuindo um risco de vida. Os diferentes tipos de câncer corres- pondem aos vários tipos de células do cor- po. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma. Outras características que dife- renciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases) (REIS, 2007). As leucemias são doenças originadas a partir de alterações nos glóbulos brancos ou leucócitos, células de defesa do orga- nismo, ou seja, resultam de uma prolifera- ção clonal de células imaturas com pouca ou nenhuma maturação na medula óssea (blastos). De acordo com a velocidade de multipli- cação das células doentes, as leucemias podem ser agudas, com instalação rápida da doença, ou crônicas, de desenvolvimen- to mais lento. Podem ainda ser classifica- das em mieloides ou linfóides, de acordo com o subtipo de glóbulos brancos que fi- caram doentes. Alguns poucos fatores externos como exposição à radiação ionizante ou produ- tos químicos tem sido implicados como possíveis causas para a leucemia. Porém, a maioria das alterações cromossômicas que acontecem, levando a produção inadequa- da do sangue, ocorrem sem causa aparen- te (RIBAS, 2012). A presença de mais de 25% de blastos na Medula Óssea (MO) é considerado como critério diagnóstico de LA, assim como anormalidades citogenéticas caracterizam alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 22 2323 alguns dos subtipos. A classificação é feita pela morfologia, citoquímica, citogenética e imunofenoti- pagem (FLEURY, 2011). São critérios diagnósticos para leucemia mieloide aguda (LMA), segundo o sistema FAB (Franco americano-britânico): TIPO NOMENCLATURA FAB CRITÉRIO DIAGNÓSTICO MO Leucemia mieloide aguda minimamente diferenciada Blastos > 30% do TCN na MO; < 3% dos blastos são + para POX ou 5BB; blastos (-) para marcado- res monoclonais linfóidesTe B; blastos (+) para pelo menos um marcador monoclonal mieloide (CD13, CD33, MPO, CD11b ou CD15).Os blastos são tipo I, sem grãos azurófiios ou bastões Auer. M1 Leucemia mieloide agu- da sem maturação Blastos (tipos I ou I e II) > 30% do TCN na MO; % blastos > 90% das CNE+; > 3% dos blastos + para POX ou SBB somatório de promielócitos até segmentados e monócitos deve ser < 10% das CNE+. Presença de bastões de Auer variável. Sem a citoquímica, podem confundir com as LLA, L2 e M7. M2 Leucemia mieloide agu- da com maturação Blastos (tipos I e II) > 30 % do TCN na MO; % blastos< 90% das CNE+; > 3% dos blastos + para POX ou SBB; somatório de promielócitos até segmentados > 10% CNE+; componente mono- cítico < 20% das CNE+. Bastões de Auer são fre- quentes. Displasia granulocítica não é incomum. M2v Leucemia mieloide aguda com maturação variante Blastos (geralmente tipo II) > 30% do TCN na MO; % blastos < 90% das CNE+; > 3% dos blas- tos + para POX ou SBB; precursores eosinofíli- cos, de morfologia aparentemente normal, não t (16;16) ou inv (16), negativos para PAS e CAE, em geral aumentados; blastos grandescom nu- merosos grãos azurofílicos ou até mesmo pseu- do-Chédiak-Higashi; granulócitos com variado grau de displasia; somatório de promielócitos até segmentados > 10% das CNE+; componen- te monocítico < 20% das CNE+. Bastões de Auer são frequentes. As células CD (blastos) também são positivas (co-expressão) para CD19 (linhagem B) ou CD56 (linhagem NK). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 24 25 M3 Leucemia promielocíti- ca aguda hipergranular Promielócitos hipergranulares anormais são maioria na MO; blastos não terão necessaria- mente de ser > 30% das TCN m CNE+; POX ou SBB intensamente positivos nos promielócitos anormais e de aspecto “sujo” (em borrão). M3 Leucemia promielocíti- ca aguda hipergranular Promielócitos hipogranulares anormais são maioria na MO; blastos não terão necessaria- mente de ser > 30% das TCN ou CNE+; POX ou SBB intensamente positivos nos promieiócitos hipogranulares anormais. Promielócitos são po- sitivos fracos ou negativos para ANAE. M4 Leucemia mielomonocí- tica aguda Blastos > 30% do TCN na MO; somatório de mie- loblastos até segmentados neutrófilos de 30 a 79% das CNE+; somatório de monoblastos, pro- monócitos e monócitos de 20 a 80% das CNE+ e sangue periférico com > 5.000 células mono- cíticas/ mm3 (monoblastos a monócitos). Caso sangue com < 5.000 células monocíticas/mm3, > 20% das cé- lulas terão obrigatoriamente de ser ANAE-po- sitivas. Mesmo que a MO tenha padrão M2, mas sangue > 5.000 células monocíticas/ mm3 com- provadas por ANAE, a LMA também será M4 ou com lisozima sérica e urinária 3x o valor normal. M4v Leucemia mielomono- cítica aguda, variante eosinofílica (M4Eo) Blastos > 30% do TCN na MO; componente eo- sinofílico anormal > 5% das CNE; os eosinófilos anormais possuem grãos basofílicos grosseiros nas células menos maduras que são positivas para PAS e CAE; algumas células eosinofílicas podem apresentar-se com núcleo sem capaci- dade de segmentação. Possuem cariótipo com t(16;16) ou inv(l6). 24 25 M5a Leucemia monocítica aguda sem maturação Blastos > 30°/o do TCN na MO; somatório de mo- noblastos, promonócitos e monócitos > 80 das CNE na MO; componente monocítico confirmado por ANAE; > 80% das células monocíticas são monoblastos. M5b Leucemia monocítica aguda com maturação Idem ao anterior; < 80% das células monocíticas são monoblastos. M6 Leucemia eritroide aguda Blastos (tipos I ou II) > 30% das CNE da MO; eri- troblastos > 50%doTCN na MO. M7 Leucemia megacariocí- tica aguda Blastos > 30% do TCN na MO (pelo aspirado ou biopsia); blastos demonstrados como megaca- rioblastos por marcadores monoclonais (CD41 e CD61) por citometria de fluxo ou imunocitoquí- mica, ou pela morfologia ultraestrutural ou cito- química ultraestrutural. TCN: total de células nucleadas MO: medula óssea CNE: células não eritróides CNE+: células não-eritróides, excluindo-se também linfócitos, plasmócitos, mastócitos e macrófagos POX: peroxidase SBB: Sudan black B CAE: cloroacetato esterase PAS: ácido periódico de Shiff ANAE: alfa-naftilacetato-esterase - esterase inespecífica blastos tipo I: mieloblastos sem grãos e sem Auer blastos tipo II: mieloblastos com grãos azurófilos ou com Auer. Fonte: Oliveira (2007, p. 363-3) 26 27 CLASSIFICAÇÃO FAB PARA LEUCEMIAS LINFÓIDES AGUDAS - LLA Leucemia linfoblástica aguda subtipo L1 Linfoblastos predominantemente pequenos e de tamanho aproximado (com minoria de cé- lulas maiores), com alta relação N/C, cromatina pouco frouxa, com padrão de condensação homogênea e sem nucléolo visível (ou pouco evidente), de contorno geralmente regular (mais associado à linhagem B), ou mais irregular (mais associado à linhagem T), raramente fendido ou com indentações. Citoplasma escasso, moderadamente basófilo (raro basofilia intensa), raramente vacuolizado e sem granulações azurófilas. Podem ser de linhagem B (a maior parte) ou T. Correspondem à maioria dos casos de LLA em crianças. Leucemia linfoblástica aguda subtipo L2 População de linfoblastos de tamanho heterogêneo, sendo predominantemente maiores que nas L1. A relação N/C é bastante variável entre a população dos blastos de L2. O con- torno nuclear é mais irregular, podendo haver indentações, dobras ou clivagens. Cromatina nuclear é frouxa, em geral com nucléolos visíveis (um ou mais nucléolos). Citoplasma vari- ável basófilo, sem granulações, e raramente com vacúolos. Podem ser de Iinhagem B ou T. Correspondem a cerca de 25% dos casos de LLA. Há um raro subtipo morfológico de LLA que apresenta granulações azurófilas grosseira (LLA variante granular), mas que não se coram pela peroxidase. Leucemia linfoblástica aguda subtipo L3 Linfoblastos predominantemente médios a grandes, com menor variação de tamanho que nas L2, com moderada relação N/C (menor que nas L1). Núcleo arredondado ou mais oval, com um traçado liso, com cromatina fina e uniformemente distribuída (homogênea), com um ou mais nucléolos proeminentes. Citoplasma profundamente basofílico e frequente- mente com múltiplos vacúolos (células tipo Burkitt). As LLA L3 são de linhagem B e, na maioria dos casos, possuem imunofenótipo em estágio B-IV de diferenciação (classificação imunológica EGIL). alex Highlight alex Highlight alex Highlight 26 27 O laudo de um hemograma de um leu- cêmico deverá incluir apenas o percentual de blastos (sem discriminá-los necessa- riamente como mieloblastos, monoblas- tos, linfoblastos etc.), mas com a descrição minuciosa de suas características morfo- lógicas e o termo “[...] de aparência prova- velmente [...] monocítica (monoblastos), ou mieloide (mieloblastos)”, por exemplo. É oportuno saber que, apesar de raras, as leucemias bifenotípicas agudas (mieloides e linfóides), que de modo geral requerem tratamento mais agressivo que as leuce- mias estritamente mieloides agudas (e que não tenham nenhuma expressão linfóide), podem, mesmo que de maneira pouco co- mum, apresentar blastos com bastão de Auer, ou blastos com alguns grânulos azu- rófilos, citoquímica positiva para peroxida- se ou Sudan black, e ser antecipadamente interpretadas como mieloides puras. Vê- -se, então, que o diagnóstico correto vai muito além do hemograma, necessitando obrigatoriamente do mielograma e da cito- química, e, em muitos casos, da imunofe- notipagemo. Outro exemplo que pode comprome- ter a interpretação são os raros casos das LLA-B variantes granulares (com grânulos azurófilos grosseiros e que não se coram pela peroxidase na citoquímica) e das leu- cemias de linfócitos grandes e granulares com células de aparência blástica e com grânulos. Todos esses casos são inques- tionavelmente diferenciados apenas pela imunofenotipagem. O hemograma nas leucemias agudas é bastante variado. Nos casos de novo ao diagnóstico, a anemia é um achado cons- tante na maioria dos casos, mas de intensi- dade bastante heterogênea. O nível de he- moglobina pode variar em média de 3,0g/ dL a 16,0g/dL. Em relação ao prognóstico, isoladamente, quanto maior for o nível de hemoglobina encontrado ao diagnóstico, maior o poder proliferativo (poder de ex- pansão) do clone neoplásico e pior o prog- nóstico para o paciente. A anemia é, em ge- ral, do tipo normocítico-normocrômica com variado grau de anisocitose e poiquilocito- se. A contagem de reticulócitos é caracte- risticamente normal ou diminuída. Os eritroblastos podem ou não estar presentes. A plaquetopenia é um acha- do constante e está presente em mais de 90% dos casos, mas contagens abaixo de 50.000 plaq/mm³ só ocorrem em cerca de 50% dos casos e contagens abaixo de 20.000 plaq/ mm³ em menos de 20% dos casos. A contagem de leucócitos ao diagnós- tico varia dependendo do subtipo de leu- cemia e da idade do paciente. Em termos gerais, pode estar elevada (em cerca de 50 a 60% dos casos), normal (em cerca de 20 a 30% dos casos) ou diminuída (em cerca de 20 a 30% dos casos). Hiperleucocitoses (contagens acima de 100.000 leucócitos/ mm3) correspondem a menos de 20,0% doscasos de leucemias agudas ao diagnós- tico. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 28 29 UNIDADE 7 - Linfomas 28 Linfomas são tumores do sistema lin- fático, secundários a alterações dos lin- fócitos. Os linfócitos são um subtipo dos glóbulos brancos ou leucócitos, células de defesa do organismo. Segundo Failace et al. (2009), as doen- ças de Hodgkin e não-Hodgkin são uma expressão hematológica para alguns linfo- mas não leucêmicos. Os linfomas são divi- didos em dois grandes grupos: Linfomas de Hodgkin, também denominado Doença de Hodgkin e Linfomas Não-Hodgkin. O linfoma ou doença de Hodgkin é uma forma de câncer que se origina nos linfo- nodos (gânglios) do sistema linfático, que produzem as células responsáveis pela imunidade e vasos que as conduzem pelo corpo. Pode ocorrer em qualquer faixa etá- ria, mas a maior incidência do linfoma é em adultos jovens, entre 25 e 30 anos. A do- ença surge quando um linfócito (tipo de glóbulo branco) se transforma em célula maligna, capaz de crescer descontrolada- mente e disseminar-se. A célula maligna começa a produzir nos linfonodos cópias idênticas (também chamadas de clones). Com o passar do tempo, há risco de essas células malignas se disseminarem para te- cidos vizinhos e, se não houver tratamento, atingir outras partes do corpo. Nos últimos 50 anos, o número de casos permaneceu estável, enquanto a mortalidade foi redu- zida em mais de 60%, desde o início dos anos 70, devido aos avanços no tratamen- to. A maioria dos pacientes com linfoma de Hodgkin pode ser curada com tratamento adequado (BIGNI, 2013). Suspeita-se de linfoma quando há um aumento progressivo e persistente de um ou mais linfonodos ou gânglios linfáticos, habitualmente indolor. Pode apresentar- -se também com febre, sudorese, emagre- cimento, sendo comum o aumento do baço. Os linfonodos estão presentes em vá- rios locais do organismo, como satélites dos vasos linfáticos, que possuem como célula básica o linfócito. Gânglios aumen- tados que podem ser percebidos ao exame físico são os da região do pescoço, axila e região inguinal (RIBAS, 2012). Como os linfócitos são células de defesa que estão presentes em todo o organis- mo, existem também linfomas que não se iniciam nos linfonodos e sim nos linfócitos de outros locais, linfomas raros, como lin- fomas da tireoide, do sistema nervoso cen- tral, da mama, gastrointestinais, cutâneos. Muitas doenças benignas podem também causar aumento de linfonodos, febre, su- dorese e até emagrecimento. A correta diferenciação dever ser feita pelo(a) hematologista, que irá definir quais os exames complementares necessários de acordo com cada caso e se existe a ne- cessidade da realização da biópsia (retirada de um gânglio comprometido para estudo anatomopatológico e imunohistoquímico). Os linfoblastos são 2 a 3 vezes maiores que os linfócitos com citoplasma escasso de coloração azul-pálida, cromatina densa, uniforme e nucléolo pouco aparente e tem como aspectos laboratoriais: alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 28 2929 7.1 Linfomas Hodgkin Os órgãos e tecidos que compõem o sis- tema linfático incluem linfonodos, timo, baço, amígdalas, medula óssea e tecidos linfáticos no intestino. A linfa, um líqui- do claro que banha estes tecidos, contém proteínas e células linfóides. Já os linfono- dos (gânglios) são encontrados em todas as partes do corpo, principalmente no pes- coço, virilha, axilas, pelve, abdome e tórax; produzem e armazenam leucócitos deno- minados linfócitos. Existem três tipos de linfócitos: os linfócitos B (ou células B), os linfócitos T (ou células T), e as células “na- tural killer” (células NK). Cada um desses três tipos de células realiza uma função es- pecífica no combate a infecções, e também têm importância no combate ao câncer. As células B produzem anticorpos que se ligam na superfície de certos tipos de bactérias e atraem células específicas do sistema imune e proteínas do sangue, digerindo as bactérias e células estranhas ao normal. As células T ajudam a proteger o organismo contra vírus, fungos e algumas bactérias. Também desempenham impor- tante papel nas funções das células B. As células NK têm como alvo as célu- las tumorais e protegem contra uma larga variedade de agentes infecciosos. Pode-se distinguir a Doença de Hodgkin de outros tipos de linfoma em parte atra- vés do exame de amostras sob microsco- pia. O tecido obtido por biópsia de pacien- tes com Doença de Hodgkin apresenta células denominadas células de Reed-Ster- nberg, uma homenagem aos médicos que descreveram primeiramente estas alte- rações. A Doença de Hodgkin surge quan- do um linfócito (mais frequentemente um linfócito B) se transforma de uma célula Anemia normocrômica normocítica Plaquetas (x 109/L) Leucometria (x 109/L) Granulócitos (x 109/L) Ht < 30% Ht > 30% < 50 50-150 >150 <10 10-49 50-99 >100 < 1 1-2 > 2 65% 35% 62% 30% 8% 40% 34% 15% 11% 73% 9% 18% alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 30 31 normal em uma célula maligna, capaz de crescer descontroladamente e dissemi- nar-se. A célula maligna começa a produzir, nos linfonodos, cópias idênticas (também chamadas de clones). Com o passar do tem- po, estas células malignas podem se disse- minar para tecidos adjacentes, e, se não tratadas, podem atingir outras partes do corpo. Na Doença de Hodgkin, os tumores disseminam-se de um grupo de linfonodos para outros grupos de linfonodos através dos vasos linfáticos. O local mais comum de envolvimento é o tórax, região também denominada mediastino. Pessoas com sistema imune compro- metido, como consequência de doenças genéticas hereditárias, infecção pelo HIV, uso de drogas imunossupressoras, têm ris- co um pouco maior de desenvolver Doença de Hodgkin. Membros de famílias nas quais uma ou mais pessoas tiveram diagnóstico da doença também têm risco aumentado de desenvolvê-la, mas não se deve pensar que é certo de acontecer. A Doença de Hodgkin pode surgir em qualquer parte do corpo, e os sintomas da doença dependem da sua localização. Caso desenvolva-se em linfonodos que estão próximos à pele, no pescoço, axilas e viri- lhas, os sintomas provavelmente incluirão a apresentação de linfonodos aumenta- dos e indolores nestes locais. Se a doença ocorre na região do tórax, os sintomas po- dem ser de tosse, “falta de ar” (dispneia) e dor torácica. E quando se apresenta na pel- ve e no abdome, os sintomas podem ser de plenitude e distensão abdominal. Outros sintomas da Doença de Hodgkin incluem febre, fadiga, sudorese noturna, perda de peso, e prurido (“coceira na pele”). Utilizam-se vários tipos de exames para diagnosticar Doença de Hodgkin. Estes procedimentos permitem determinar seu tipo específico, e esclarecer outras infor- mações úteis para decidir sobre a forma mais adequada de tratamento. A biópsia é considerada obrigatória para o diagnóstico de Doença de Hodgkin. Durante o procedi- mento, remove-se uma pequena amostra de tecido para análise, em geral um gânglio linfático aumentado. Há vários tipos de bi- ópsia: biópsia excisional ou incisional – o médico, através de uma incisão na pele, remove um gânglio inteiro (excisional), ou uma pequena parte (incisional); biópsia de medula óssea – retira-se um pequeno fragmento da medula óssea através de agulha. Esse procedimento não fornece diagnóstico da Doença de Hod- gkin, mas é fundamental para determinar a extensão da disseminação da doença. Também são necessários exames de imagem para determinar a localização das tumorações no corpo.Radiografias são empregadas para detectar tumores no tó- rax; usando-se Tomografia Computadori- zada, são obtidas imagens detalhadas do corpo sob diversos ângulos. Já a Ressonân- cia Magnética utiliza ondas magnéticas e de rádio para produzir imagens de partes moles e órgãos; e na Cintigrafia com Gálio, uma substância radioativa, ao ser injetada no corpo do paciente é atraída para locais acometidos pela doença. Além disso, são utilizados outros tipos de exames que ajudam a determinar carac- terísticas específicas das células tumorais nos tecidos biopsiados. Estes testes in- cluem: estudos de citogenética para deter- minar alterações cromossômicas nas célu- las; Imunohistoquímica, na qual anticorpos são usados para distinguir entre vários ti- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 30 31 pos de células cancerosas (BIGNI, 2013). 7.2 Linfomas Não-Hodgkin Os Linfomas Não-Hodgkin incluem mais de 20 tipos diferentes. O número de ca- sos praticamente duplicou nos últimos 25 anos, particularmente entre pessoas aci- ma de 60 anos por razões ainda não escla- recidas. Os poucos conhecidos fatores de risco para o desenvolvimento de Lin- fomas Não-Hodgkin são: sistema imune comprometido – pessoas com deficiência de imunidade, em consequência de doenças genéticas here- ditárias; uso de drogas imunossupresso- ras e infecção pelo HIV têm maior risco de desenvolver linfomas; pacientes portadores dos vírus Epstein-Barr, HTLV1, e da bactéria Heli- cobacter pylori (que causa úlceras gástri- cas), têm risco aumentado para alguns ti- pos de linfoma; exposição Química – os Linfomas Não-Hodgkin estão também ligados à ex- posição a certos agentes químicos, incluin- do pesticidas, solventes e fertilizantes. Herbicidas e inseticidas têm sido relaciona- dos ao surgimento de linfomas em estudos com agricultores e outros grupos de pes- soas que se expõem a altos níveis desses agentes químicos. A contaminação da água por nitrato, substância encontrada em fer- tilizantes, é um exemplo de exposição que parece aumentar os riscos para doença; exposição a altas doses de radia- ção. Aumento dos linfonodos do pescoço, axilas e/ou virilha; sudorese noturna ex- cessiva; febre; prurido (coceira na pele); perda de peso sem explicação são alguns dos sintomas. São necessários vários tipos de exames para o diagnóstico adequado dos Linfomas Não-Hodgkin. Esses exames permitem de- terminar o tipo exato de linfoma e esclare- cer outras características, cujas informa- ções são úteis para decisão da forma mais eficaz de tratamento a ser empregado. Durante a biópsia, é retirada pe- quena porção de tecido (em geral lin- fonodos) para análise em laboratório de anatomia patológica. Há vários ti- pos de biópsia, incluindo os seguintes: biópsia excisional ou incisional – através de uma incisão na pele, retira-se o linfonodo por inteiro (excisional) ou uma pequena parte do tecido acometido (inci- sional). É considerado o padrão de qualida- de para o diagnóstico dos linfomas; punção aspirativa por agulha fina – retira-se pequena porção de tecido por aspiração através de agulha; biópsia e aspiração de medula óssea – retira-se pequena amostra da me- dula óssea (biópsia) ou do sangue da me- dula óssea (aspiração) através de uma agu- lha. Este exame é necessário para definir se a doença estende-se também à medula óssea, informação importante que pode ter implicações no tratamento a ser em- pregado; punção lombar – retira-se peque- na porção do líquido cérebro espinhal (lí- quor), que banha o cérebro e a medula es- pinhal (não confundir com medula óssea). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 32 33 Esse procedimento determina se o sistema nervoso central foi atingido. Alguns exames de imagem são usa- dos para determinar a localização dos sítios acometidos pela doença: radiografias de tórax – podem de- tectar tumores no tórax e pulmões; tomografia computadorizada – visualiza internamente os segmentos do corpo por vários ângulos, permitindo ima- gens detalhadas; Ressonância Nuclear Magnética (RNM) – também produz imagens detalha- das dos segmentos corporais; cintigrafia com Gálio – uma subs- tância radioativa que, ao ser injetada no corpo, concentra-se principalmente em lo- cais comprometidos pelo tumor. Uma câmera especial permite ver onde o material radioativo se acumulou e deter- minar o quanto se disseminou a doença. Junto com biópsias e exames de imagem, são utilizados alguns testes que ajudam a determinar características específicas das células nos tecidos biopsiados, incluindo anormalidades citogenéticas, tais como rearranjos nos cromossomos, comuns nos linfomas. Esses testes permitem também realizar estudos de receptores para antí- genos específicos nas células linfomato- sas, que servem tanto para definir a ori- gem celular, como também para estimar o prognóstico do paciente. Estes testes incluem: Imunohistoquí- mica – anticorpos são utilizados para dis- tinguir entre tipos de células cancerosas; Estudos de Citogenética – determinam alterações no cromossomos das células; Citometria de Fluxo – as células prepara- das na amostra são passadas através de um feixe de laser para análise; Estudos de Genética Molecular (Biologia Molecular) – testes altamente sensíveis com DNA e RNA para determinar alterações genéticas específicas nas células cancerosas. Novos testes e procedimentos diagnósticos es- tão surgindo a partir de trabalhos com a análise do genoma e expressão gênica. Classificar o tipo de linfoma pode ser uma tarefa bastante complicada, mesmo para hematologistas e patologistas. Os Linfomas Não-Hodgkin são, de fato, um grupo complexo de quase 40 formas dis- tintas desta doença. Após o diagnóstico, a doença é classificada de acordo com o tipo de linfoma e o estágio em que se en- contra (sua extensão). Estas informações são muito importantes para selecionar adequadamente a forma de tratamento do paciente, e estimar seu prognóstico. Os Linfomas Não-Hodgkin são agrupados de acordo com o tipo de célula linfóide, se lin- fócitos B ou T. Também são considerados tamanho, forma e padrão de apresentação na microscopia. Para tornar a classificação mais fácil, os linfomas podem ser dividi- dos em dois grandes grupos: indolentes e agressivos. Os linfomas indolentes têm um cresci- mento relativamente lento. Os pacientes podem apresentar-se com poucos sinto- mas por vários anos, mesmo após o diag- nóstico. Entretanto, a cura nestes casos é menos provável do que nos pacientes com formas agressivas de linfoma. Esses últi- mos podem levar rapidamente ao óbito se não tratados, mas, em geral, são mais curá- veis. Os linfomas indolentes correspondem aproximadamente a 40% dos diagnósti- cos, e os agressivos, aos 60% restantes. Uma vez diagnosticada a doença, segue alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 32 33 o procedimento denominado estadiamen- to. Consiste em determinar a extensão da doença no corpo do paciente. São estabe- lecidos 4 estágios, indo de I a IV. No está- gio I, observa-se envolvimento de apenas um grupo de linfonodos. Já no estágio IV, temos o envolvimento disseminado dos linfonodos. Além disso, cada estágio é sub- dividido em A e B (exemplo: estágios 1A ou 2B). O “A” significa assintomático, e para pacientes que se queixam de febre, sudo- rese ou perda de pesoinexplicada, aplica- -se o termo “B”. A maioria dos linfomas é tratada com quimioterapia, radioterapia, ou ambos. A imunoterapia está sendo cada vez mais incorporada ao tratamento, incluindo an- ticorpos monoclonais e citoquinas, isola- damente ou associados à quimioterapia (BIGNI, 2013). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 34 35 UNIDADE 8 - Origem celular de algumas do- enças e a célula cancerosa 34 8.1 Mecanismos de regula- ção das atividades celulares O termo tumor, a princípio, foi usado para designar qualquer inchação, indepen- dentemente da causa. Porém, atualmente, chama-se tumor a uma proliferação celular desordenada que deveria ser chamada de neoplasia. O tumor que permanece locali- zado é chamado de benigno, reservando- -se a designação de tumor maligno (câncer) para os tumores invasivos, dos quais célu- las se desgarram, são levadas pelo sangue ou pela linfa e vão estabelecer tumores a distância: as metástases. O câncer, basicamente, é uma doença do DNA. Ele se forma a partir de uma úni- ca célula que sofreu mutação, proliferou, e suas descendentes foram acumulando mais mutações, até que aparecem células que não mais obedecem aos mecanismos de controle do ciclo celular e se multiplicam continuamente. Além de se multiplicarem intensamente, as células cancerosas per- dem a capacidade de aderência a outras células e às macromoléculas da matriz ex- tracelular. Como o acúmulo de mutações é, geralmente, um processo lento, o apa- recimento de células cancerosas é mais comum em pessoas idosas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Todos os agentes (moléculas, radiação, certos vírus) que alteram o genoma (DNA) celular são potencialmente cancerígenos (geradores de câncer). Com frequência, a biologia das células cancerosas é estudada em células trans- formadas nos cultivos, nas quais adquirem características de malignidade. Enquanto as células normais só se dividem cerca de 50 a 60 vezes nos cultivos, as células trans- formadas proliferam indefinidamente. Nos cortes histológicos, as células can- cerosas geralmente são mais volumosas, com núcleos também maiores e muito irre- gulares, ocorrendo muitas mitoses, algu- mas anormais. Algumas dessas células po- dem ser aneuplóides, isto é, apresentam número de cromossomos que não é um múltiplo do número de cromossomos na célula diplóide. Como acontece com todas as células que se multiplicam com frequ- ência, geralmente o citoplasma das células cancerosas é rico em ribossomos e, por- tanto, basófilo. O microscópio eletrônico mostrou que as células cancerosas geralmente apre- sentam o cito esqueleto desorganizado, com uma concentração perinuclear dos mi- crotúbulos e filamentos intermediários, e concentração dos filamentos de actina na periferia do citoplasma, próximo à mem- brana plasmática. Os principais segmentos de DNA que participam do aparecimento de tumores são os genes supressores de tumores e os oncogenes. Os primeiros codificam prote- ínas que mantêm as células em G-zero e, portanto, fora do ciclo celular. Um exemplo é o gene RB, que, quando alterado, pode causar o retinoblastoma, um tumor da re- tina. Os oncogenes são derivados de genes normais denominados proto-oncogenes. A alteração do proto-oncogene faz aparecer o oncogene, que leva a célula a perder o controle sobre seu ciclo mitótico, dividin- do-se continuamente. alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 34 3535 Dentre os oncogenes, um dos mais es- tudados é o oncogenerase, com suas va- riantes H-ras, K-ras e N-ras (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). As células que constituem o corpo dos organismos multicelulares formam uma comunidade de tecidos altamente organi- zados e regulados por controles internos e externos ao tecido, como hormônios e fa- tores de crescimento. Na sua formação, os órgãos só crescem até atingirem certo tamanho, pois suas cé- lulas obedecem aos sinais recebidos para entrar na fase G-zero do ciclo celular e in- terromper a proliferação. Um controle rí- gido sobre a proliferação celular também é exercido nos órgãos que se regeneram após uma lesão. As células se multiplicam apenas o suficiente para reconstituir o ór- gão com aproximadamente o mesmo ta- manho que apresentava antes da lesão. Enquanto as células dos organismos unicelulares competem umas com as ou- tras, predominando as mais eficientes, nos organismos multicelulares não existe com- petição, mas colaboração entre as células, o que é essencial para a sobrevivência de um organismo multicelular complexo. As células cancerosas, no entanto, não se submetem a esse esquema de coopera- ção. São células com o DNA danificado e que, por isso, escapam dos mecanismos de controle do ciclo celular. O câncer surge de uma única célula que sofreu mutação, multiplicou-se por mitoses e suas descendentes foram acu- mulando outras mutações que se foram somando, até darem origem a uma célula cancerosa em consequência da ação con- junta dessas mutações. O acúmulo de mu- tações por uma célula e suas descendentes é um processo lento, e isso, provavelmen- te, explica a maior incidência de câncer nas pessoas idosas. A célula cancerosa prolifera muito, per- de a capacidade de aderência, secreta en- zimas que atacam a matriz extracelular, invade os tecidos vizinhos, penetra nos vasos sanguíneos e linfáticos e se espalha pelo organismo, estabelecendo-se e pro- liferando em locais distantes de sua ori- gem, onde produz tumores secundários: as metástases. As células malignas secretam moléculas que estimulam o crescimento dos vasos sanguíneos capilares, promo- vendo uma angiogênese (neoformação vascular) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Veja abaixo ilustração de diferenças en- tre tumor maligno (abaixo) e benigno (aci- ma). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 36 37 No tumor benigno, as células permane- cem localizadas, prejudicando apenas o ór- gão onde se originou o tumor e os tecidos vizinhos, que podem ser comprimidos. As- sim, os tumores benignos, geralmente, são curados facilmente pela cirurgia. Já o trata- mento cirúrgico dos tumores malignos só é eficaz se realizado antes das metástases. Nem todas as células que se separam do tumor e caem no sangue ou na linfa conse- guirão completar com sucesso sua viagem para formar metástases. A maioria delas é destruída por diversos processos, como ruptura na travessia da parede dos vasos, ataque pelas moléculas da defesa imuni- tária e fagocitose por macrófagos. Ao atin- girem os tecidos e depois de proliferarem para formar um pequeno tumor, as me- tástases estimulam a formação de novos capilares sanguíneos, para garantir o su- primento de nutrientes, fatores de cres- cimento e oxigênio, e ter uma via de elimi- nação dos refugos do metabolismo, que são levados pelo sangue para os órgãos de excreção. Não se formam metástases nos tecidos que não oferecem condições para o estabelecimento de uma circulação san- guínea, como a cartilagem, por exemplo. Porém, há órgãos muito ricamente vascu- larizados, com abundantes capilares san- guíneos, como o baço e o tecido muscular estriado, que só muito raramente são sede de metástases. Muitos tumores originam metástases preferencialmente em certos tecidos, o que indica nem sempre se tratar de um proces- so ao acaso. Por exemplo, há cinco carcino- mas – os tumores de rim, tireoide, pulmão, mama e próstata – que, quase sempre, fa- zem metástases no tecido ósseo. Fonte: Junqueira e Carneiro (2005, p. 290). alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 36 37 8.2 Agentes que podem cau- sar câncer A transformação da célula normal em cancerosa se dá por alteração de seu DNA, com a participação de vírus, substâncias químicas do ambiente ou da alimentação e agentes físicos como certos tipos deradia- ção. A primeira indicação sobre a existência de substâncias cancerígenas (causadoras de câncer) foi observada em 1775, quan- do se atribuiu à fuligem a alta incidência de câncer da pele nos limpadores de cha- minés. Atualmente são conhecidas mais de 200 moléculas cancerígenas, a maioria constituída de hidrocarbonetos policícli- cos. A única propriedade comum a todos os cancerígenos é a capacidade de causar dano ao genoma celular. Mas a indução ini- cial, que danifica o DNA da célula, é comple- mentada por outros agentes, geralmente estimuladores da multiplicação celular, o que aumenta a probabilidade de novos da- nos ao DNA durante as numerosas replica- ções. Quase todos os tipos celulares do orga- nismo podem gerar tumores. Como exis- tem muitos tipos diferentes de células normais, existem também muitos tipos de células cancerosas, produzindo tumores que diferem acentuadamente quanto ao grau de malignidade e à resposta ao trata- mento. Todavia, certas células originam tu- mores com mais frequência do que outras, como, por exemplo, as células que normal- mente se dividem muito. Quanto mais ve- zes o DNA se replica, maior a possibilidade de mutações, por falhas no processo de síntese da nova molécula de DNA e na re- paração do DNA defeituoso (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Muitos tumores são originados dos teci- dos epiteliais, cujas células geralmente se renovam com frequência. No adulto, cerca de 90% dos tumores derivam de epitélios. Além de sua renovação constante, as cé- lulas epiteliais que revestem o corpo e as cavidades internas, como boca, vias respi- ratórias, esôfago e estômago, estão mais sujeitas à ação dos agentes cancerígenos presentes nos alimentos e no ambiente. No caso do revestimento epitelial da su- perfície do corpo (epiderme), um fator can- cerígeno adicional é a radiação ultravioleta da luz solar, que tem atividade mutagênica e, portanto, cancerígena. As células epi- teliais da epiderme contêm quantidade variável do pigmento melanina, colocada como um capuz sobre o lado do núcleo ce- lular que está voltado para o exterior, do qual vem a radiação ultravioleta. Esse ca- puz protetor do DNA influi na incidência de câncer da epiderme, que é muito maior nas pessoas de pele clara, cujas células epidér- micas contêm pouca melanina, do que nas pessoas com pele escura, rica em melani- na. Tumores malignos originados de células epiteliais de revestimento são geralmente chamados de carcinomas. Os tumores originados das células epite- liais secretoras recebem o nome de adeno- mas, quando são benignos, chamando-se adenocarcinomas, quando malignos. Os tumores originados de tecido con- juntivo são raros nos adultos, sendo mais comuns nas crianças e adolescentes. Qua- se sempre, o nome dos tumores de teci- do conjuntivo se forma pela terminação -oma adicionada ao nome da célula origi- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 38 39 nária, quando são benignos, como o fibro- ma (originado de fibroblasto), o osteoma (originado de osteoblasto) e o condroma (originado de células da cartilagem). Os tumores malignos dos tecidos conjuntivos são chamados sarcomas. São exemplos, o osteossarcoma (originado de osteoblasto) e o condrossarcoma (originado de células da cartilagem). Tanto vírus com genoma de DNA como vírus com genoma de RNA po- dem causar tumores benignos e malignos. Os vírus com genoma de DNA causado- res de tumores possuem genes que codi- ficam proteínas com a função de remover o bloqueio para que as células entrem no ciclo mitótico, e proteínas que paralisam o check-point principal do ciclo, onde a proli- feração celular inapropriada seria bloque- ada. Embora o estudo experimental dos vírus causadores de tumores tenha sido muito importante para a elucidação do papel dos genes na formação dos tumores e dos me- canismos moleculares envolvidos, o núme- ro de tumores humanos causados por vírus é muito pequeno. Dentre os mais estuda- dos temos os vírus da hepatite tipos B e C, vírus do papiloma e vírus de Epstein-Barr (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). 8.3 Características das célu- las cancerosas Existem muitas diferenças morfológi- cas, moleculares e funcionais entre uma célula cancerosa e uma célula normal. To- davia, do mesmo modo que há grandes diferenças entre os diversos tipos de cé- lulas normais, também existem muitas di- ferenças entre as células cancerosas. Ou- tra dificuldade é separar as características fenotípicas da célula cancerosa que são responsáveis por sua agressividade, das que são secundárias, resultantes de carac- terísticas primárias. Uma das características que chama a atenção é o polimorfismo das células tu- morais. Num mesmo tumor, as células dife- rem muito em forma e tamanho. Em geral, são mais volumosas do que as normais que lhe deram origem, e muitas são aneuplói- des, isto é, contêm uma quantidade anor- mal de cromossomos, que não é um múlti- plo do número diplóide. Devido à poliploidia (poliploide é a célula com quantidade de DNA que é um múltiplo do valor diplóide) e à aneuploidia, um mesmo tumor apresenta núcleos de diversos tamanhos, com altera- ção da relação núcleo/citoplasma. De modo geral, há variações do volume e número de nucléolos, aparecimento de maior número de cromossomos e aberrações da forma nuclear. Esses núcleos com frequência se coram fortemente, aparecendo escuros nos cortes histológicos. No entanto, distinguem-se também alguns núcleos com aspectos vesiculo- so, com cromatina frouxa e hipocromáti- cos. Células binucleadas ou polinucleadas também são frequentes e as mitoses são abundantes (com alta frequência de mito- ses anômalas). Além das frequentes alterações no nú- mero de cromossomos, a maioria das célu- las cancerosas apresentam modificações na forma e tamanho de certos cromosso- mos e alterações nas bandas cromossômi- cas. Porém, embora o câncer seja decor- rente de alterações no DNA, nem sempre as alterações cromossômicas são visíveis no microscópio. Por exemplo, as mutações punctiformes que ativam os oncogenes ras ou inativam o gene RB são modifica- alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight alex Highlight 38 39 ções tão pequenas que não podem ser de- tectadas no cariótipo, sendo evidenciadas pelas técnicas de biologia molecular. Como se multiplicam muito, as células cancerosas geralmente têm o citoplasma basófilo, devido à riqueza em ribossomos que acontece com todas as células em pro- liferação. O retículo endoplasmático e o complexo de Golgi são usualmente pouco desenvolvidos, e as mitocôndrias e lisos- somos, numerosos. Enfim, são muitos os fatores que dificul- tam compreender inteiramente a biologia celular do câncer, diagnosticar um tumor o mais cedo possível e erradicá-lo a tempo de salvar a vida do doente. Considerando o significado humano das pesquisas sobre o câncer, algumas dessas dificuldades serão enfatizadas. Os tumores malignos diferem imensa- mente uns dos outros, de maneira que, sob a designação de câncer, estão incluídas do- enças muito diferentes. Uma grande dife- rença entre os tumores e que influi muito na malignidade diz respeito à tendência para constituir metástases. Por exemplo, o carcinoma basocelular é um tumor malig- no da epiderme que raramente forma me- tástases, enquanto o melanoma da pele, outro tumor maligno, origina metástases com grande rapidez. Assim, embora locali- zados na pele e, por isso, podendo ser de- tectados muito precocemente, esses dois tumores diferem muito na malignidade, sendo o melanoma um dos tumores huma- nos mais agressivos. A remoção cirúrgica do carcinoma basocelular geralmente leva à cura completa, porém, frequentemente, quando o melanoma é extirpado pela
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