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Página 1 de 3 A insuficiência respiratória aguda é uma síndrome definida pela incapacidade do organismo em realizar as trocas gasosas de forma adequada, de instalação aguda, decorrente da disfunção em um ou mais componentes do sistema respiratório (parede torácica – pleura e diafragma, vias aéreas, alvéolos, circulação pulmonar, sistema nervoso central e periférico). fisiologia da respiração As trocas gasosas são reguladas pelos pulmões, que possuem como finalidade ofertar oxigênio ao sangue e consequentemente aos tecidos, e remover o CO2 produzido por meio do metabolismo celular. O oxigênio é transportado no sangue de duas formas: uma pequena quantia dissolvida no plasma e ligado à molécula de hemoglobina. Em condições normais, grande parte da hemoglobina está saturada com oxigênio, sendo essa concentração demonstrada pela saturação de O2 (SatO2). O oxigênio inspirado é transferido dos alvéolos pulmonares para a corrente sanguínea nos capilares pulmonar. Na circunstância de diminuição da pressão parcial de O2 na corrente sanguínea (PaO2), os quimiorreceptores localizados no seio carotídeo irão estimular a ventilação para aumentar a disponibilidade de oxigênio nos pulmões e consequentemente na corrente sanguínea. Ademais, em áreas com diminuição da PO2 alveolar, ocorrerá vasoconstrição para desviar o sangue para áreas mais ventiladas (vasoconstrição hipóxica). O CO2 é eliminado principalmente por meio do transporte pela corrente sanguínea até os capilares alveolares e exalação pelos pulmões. Uma vez que o seu transporte não é limitado por uma molécula carreadora, sua concentração não é expressada na forma de saturação. A elevação da PaCO2 estimula a ventilação, o que aumenta sua eliminação pelos pulmões. avaliação da oxigenação Os principais mecanismos utilizados para a avaliação de oxigenação em pacientes críticos são: saturação de oxigênio (SatO2) Avalia a proporção de hemoglobina à qual há O2 ligado. Pode ser mensurada tanto por método não invasivo (oximetria de pulso) quanto por método invasivo (gasometria arterial). Referência: > 95% Atenção! Em pacientes com doenças pulmonares crônicas (ex: DPOC) o limiar de saturação pode ser menor – esse paciente já está “acostumado“ com saturações mais baixas. pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2) A PaO2 reflete a concentração de oxigênio dissolvido no plasma, sendo mensurada pela gasometria arterial. Referência: > 80 mmHg relação PaO2 / FiO2 A relação PaO2/FiO2 é geralmente utilizada durante a ventilação mecânica invasiva. Referência: 300 – 500 mmHg GASOMETRIA ARTERIAL classificação IRA tipo I / hipoxêmica Em geral, surge devido à incapacidade do organismo em oxigenar o sangue. ETIOLOGIAS: em condições normais, a ventilação e perfusão são maiores nas bases do que nos ápices pulmonares. A vasoconstrição hipóxica é um fenômeno fundamental para compensar distúrbios pulmonares que acarretam desbalanço da relação ventilação/perfusão. Podem ocorrer duas situações, o efeito shunt (alvéolos perfundidos, e não ventilados) e espaço morto (alvéolos ventilados, mas não perfundidos). forma extrema de distúrbio ventilação/perfusão. No caso do shunt intrapulmonar, há um distúrbio grave da troca gasosa no qual o sangue perfunde o pulmão, porém não é oxigenado, uma vez que os alvéolos estão colapsados ou preenchidos por fluido ou material inflamatório. → síndrome do desconforto respiratório: shunt direita- esquerda (o sangue chega ao coração esquerdo sem ser evidentemente oxigenado nos pulmões) quando há espessamento da membrana (ex: fibrose pulmonar), em condições de esforço ou alto débito cardíaco, o equilíbrio entre as concentrações de oxigênio alveolar e capilar não irá ocorrer. O resultado é a hipoxemia induzida por esforço ou até em repouso em circunstâncias de extenso acometimento parenquimatoso. Urgência E EMERGÊNCIA insuficiência respiratória aguda data: 11 / 08 / 21 Página 2 de 3 ocorre em altas altitudes em condições fisiológicas. Também pode ocorrer devido à diminuição ou interrupção de fornecimento de O2 ao paciente. ocasionada por situações que levem a diminuição da ventilação ou expansibilidade da caixa torácica, como intoxicações por depressores do sistema nervoso central e redução da complacência da caixa torácica. CRITÉRIOS: • PO2 < 60mmHg em FIO2 > 50% • PO2 < 40mmHg em qualquer FIO2 • relação PaO2/FIO2 < 300 • gradiente alvéolo-arterial > 250 ▪ normal < 10mmHg • SpO2 < 90mmHg • PCO2 usualmente normal (ex: grandes altitudes) SINTOMAS: • taquidispneia • agitação • taquicardia • hipertensão IRA tipo II / hipercápnica A hipercapnia é definida como uma elevação na pressão parcial de CO2 (PaCO2). Os níveis de CO2 arterial são diretamente proporcionais à taxa de produção de CO2 tecidual (VCO2), e inversamente proporcionais à taxa de eliminação do CO2 pelos alvéolos (ventilação alveolar). Ventilação alveolar: definida pelo volume minuto expirado proveniente de áreas pulmonares perfundidas. Sendo assim, é determinada pelo volume minuto expirado (Ve) e a razão entre o espaço morto (Vd) e o volume corrente (Vt). Dessa forma, a elevação da PaCO2 pode resultar tanto do aumento da produção (ex: sepse, grandes queimados, febre) como da diminuição da excreção de CO2. Atenção! A única forma de resolver a IRA tipo II é por meio da aumento do volume minuto (Vmin), aumentando ou a frequência respiratória ou o volume corrente. • Vmin = FR x VC ETIOLOGIAS: • aumento de produção de CO2 (febre, sepse, convulsão, tireotoxicose) • diminuição da ventilação (centro respiratório deprimido, fraqueza muscular respiratória, lesão de nervo frênico) • aumento de espaço morto (DPOC, doença intersticial pulmonar, doença vascular pulmonar) Observação! Espaço morto = área ventilada, mas não perfundida. CRITÉRIOS: • PO2 normal ou levemente alterada • PCO2 > 45 - 50mmHg ou pH < 7,35 Atenção! Pacientes com evolução crônica (ex: DPOC), que fazem retenção crônica de CO2 se “adaptam“ a valores mais elevados de CO2, sem apresentar sintomas de IRA. Nesse caso, deve-se levar em conta o pH alterado para classificar o paciente com IRA hipercapnica. SINTOMAS: • cianose (periférica evoluindo para central) • desorientação • sonolência • torpor • coma (“sintomas finais da bebedeira“) ABORDAGEM O tratamento da insuficiência respiratória visa à manutenção fisiológica do sistema respiratório, ou seja, prover oxigenação suficiente aos tecidos e a remoção do CO2 de forma adequada, até que a causa básica que levou à IRA seja controlada. A base do tratamento da IRA é constituída por: (1) tratar a causa, (2) ofertar oxigênio suplementar para corrigir a PaO2, (3) ventilação invasiva ou não invasiva para corrigir a PCO2. De forma sistemática, o ABCDE (airway / breathing / circulation / disability / exposure) é a primeira etapa na avaliação do paciente com insuficiência respiratória aguda. airway (vias aéreas) Assegurar que a via aérea está pérvia é o primeiro passo. Caso a avaliação inicial demonstre via aérea obstruída, devemos desobstrui- la para permitir a ventilação de forma adequada. breathing (respiração) Os pacientes que apresentam via aérea pérvia, porém sem respiração espontânea e/ou com rápida deterioração clínica, comprometimento orgânico e/ou ausência de reflexo faríngeo/proteção de via aérea, devem ser prontamente submetidos a intubação orotraqueal. Em pacientes hipoxêmicos que apresentam vias aéreas pérvias e possuem respiração espontânea, deve-se realizar a suplementação de oxigênio, objetivando correção da oxigenação de forma adequada até a intervenção na causa básica. O suporte de O2 pode ser fornecido por diversas interfaces. Para a escolha do método, leva-se em consideração a concentração e o fluxo de O2 a fim de se manter a oxigenação adequada, além da tolerância dopaciente e da restrição que o dispositivo impõe a ele. INTERFACES DE SUPORTE O2: utiliza baixos fluxos e baixa concentração de O2. Utiliza fluxos de 0,5-6 L/min, sendo que aumentos de 1 L/min tendem a elevar a FiO2 em 3 a 4% . O CNO2 é utilizado para casos sem necessidade de altos fluxos de oxigênio. pode fornecer concentrações variáveis e tituláveis de O2. Utilizam-se fluxos de O2 moderados. Além disso, proporciona mistura entre o O2 e o ar ambiente, propiciando níveis precisos de FiO2 – de 24 a 50% de FiO2. pode propiciar alto fluxo e alta concentração de O2 (FiO2 90-100%). Página 3 de 3 propicia alto fluxo e alta concentração de O2 e, em casos de parada respiratória, pode ser utilizada para prover ventilações. ventilação com pressão positiva mediada por uma interface (nasal, oronasal, máscara facial e capacete). Pode ser feita por CPAP ou por BiPAP. É um bom método para tratamento de IRA tipo II (aumenta o Vmin) • CPAP: oferece pressão positiva contínua nas vias aéreas, ou seja, o paciente respira espontaneamente e a ventilação oferece uma pressão contínua durante todo o ciclo respiratório. O CPAP é utilizado para pacientes que necessitam de correção de hipoxemia, como edema agudo de pulmão cardiogênico. • BiPAP: oferece tanto pressão inspiratória (IPAP) quanto expiratória (EPAP). Apresenta maior benefício em pacientes que se apresentam com hipoventilação, como exemplo, DPOC exacerbado, nos quais não se indica CPAP. Atenção! Os grupos de pacientes que mais se beneficiam com o uso da VNI são: DPOC exacerbado, edema agudo de pulmão cardiogênico, pacientes imunossuprimidos em IRA tipo I e prevenção de falência respiratória pós-extubação de paciente alto risco. Vantagens: conforto, não requer sedação, permite o paciente engolir e tossir, evita traumas da IOT. Contraindicação: inconsciência - o indivíduo deve estar acordado e consciente (o ar vai tanto para vias aéreas para estômago, podendo haver “pressão“ sobre o alimento contido no estômago, fazendo com que haja refluxo e risco de broncoaspiração). CONTEÚDO: anotações da aula Insuficiência Respiratória Aguda disponibilizada pela disciplina, ministrada por Luis Eduardo Medicina de Emergência USP – 14ª edição
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