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prova penal

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Nome:	Carolina	Rodrigues	Gomes	Lage	RA:	5150271	
QUESTÕES	DISCURSIVAS	
	
01	(Dosimetria	Penal).	João	praticou	um	crime	de	receptação	(art.	180	do	CP)	no	dia	
10/01/2015,	um	crime	de	estelionato	(art.	171	do	CP)	no	dia	25/11/2016	e	um	crime	de	
apropriação	indébita	(art.	168	do	CP)	no	dia	30/5/2018.	João	foi	condenado	pelo	crime	de	
receptação	em	20/11/2016,	e	a	sentença	penal	condenatória	transitou	definitivamente	em	
julgado	no	dia	31/03/2017.	Pelo	crime	de	estelionato,	foi	condenado	em	30/01/2017,	com	
sentença	transitada	em	julgado	definitivamente	em	10/06/2018	e,	pelo	crime	de	apropriação	
indébita,	foi	condenado	em	20/8/2019,	com	sentença	transitando	definitivamente	em	julgado	
no	dia	10/6/2020.	Com	base	nos	dados	acima,	bem	como	nos	estudos	da	reincidência	e	dos	
maus	antecedentes	na	dosimetria	penal,	discorra	fundamentadamente	e	de	forma	completa	
acerca	dos	antecedentes	criminais	do	João.	(2,00	–	DOIS	PONTOS)	
		
João	é	reincidente.		
De	acordo	com	o	artigo	63,	CP.	A	reincidência	é	uma	circunstância	legal	de	aumento	de	pena,	
aplicada	na	segunda	fase	da	dosimetria,	quando	o	sujeito	comete	novo	crime	após	ter	
transitado	em	julgado	sentença	condenatória	por	crime	anterior.	
Da	dicção	legal,	emergem	três	consequências:	na	segunda	o	sujeito	deve	cometer	o	novo	
crime	APÓS	a	sentença	transitar	em	julgado,	o	que	implica	que,	se	cometer	antes,	ou	NO	DIA	
do	trânsito	em	julgado,	não	pode	ser	considerado	reincidente.	A	terceira	consequência	é	
que,	se	o	sujeito	cometer	um	crime	após	o	trânsito	em	julgado	de	uma	contravenção,	não	
poderá	ser	reincidente.		
João	só	não	será	mais	considerado	reincidente,	segundo	a	jurisprudência	dominante	dos	
tribunais,	após	os	cinco	anos,	mas	terá	maus	antecedentes,	pois	se	entende	que	os	
antecedentes	não	se	apagam,	leva-se	para	sempre.	
	
	
02	(Extinção	da	Punibilidade).	José,	vulgo	Ratão,	por	força	de	divergência	ideológica,	publicou,	
em	03	de	fevereiro	de	2020,	artigo	científico	ofensivo	à	honra	de	Milton	(Dos	crimes	contra	a	
honra	–	art.	138	–	145,	CP),	dizendo	que	este,	quando	no	exercício	de	função	pública	na	
Prefeitura	do	município	de	Araxá/MG,	desviou	verba	da	educação	em	benefício	de	empresa	de	
familiares.	Milton,	inconformado	com	a	falsa	notícia,	apresentou	queixa-crime	(art.	145,	CP)	
em	face	de	João,	sendo	a	inicial	recebida	em	02	de	maio	de	2020.	Após	observância	do	
procedimento	adequado,	o	juiz	designou	data	para	a	realização	da	audiência	de	instrução	e	
julgamento,	sendo	as	partes	regularmente	intimadas.	No	dia	da	audiência,	apenas	o	querelado	
José,	vulgo	Ratão	e	sua	defesa	técnica	compareceram.	Noutras	palavras,	a	parte	autora	e	seu	
advogado	não	compareceram	e	nem	justificaram	suas	ausências.	Considerando	que	você	é	o	
advogado	de	defesa	de	José,	vulgo	Ratão,	e	relacionado	ao	conteúdo	Da	extinção	da	
punibilidade,	apresente	a	tese	defensiva	a	ser	alegada	na	audiência.	Justifique	e	fundamente	
por	completo	sua	resposta.	(2,00	–	DOIS	PONTOS)	
			
A	ausência	injustificada	do	querelante	a	qualquer	ato	do	processo	a	que	deva	estar	presente	
configura	perempção	(requisito	processual	negativo	importante	dentro	do	direito,	que	tem	
como	finalidade	punir	o	autor	que	entra	com	uma	ação	judicial	e	não	dá	continuidade	a	
mesma,	tomando	tempo	das	partes	e	poluindo	o	fluxo	judiciário	sem	necessidade)	da	ação	
penal.	Consequentemente,	a	punibilidade	do	querelado	é	extinta.	(Art.	60,	III,	CPP	c/c	art.	
107,	IV,	CP).	
	
03.	(Extinção	da	punibilidade).	João	e	Maria	iniciaram	uma	romance	no	Bar	Dos	Amigos	na	
noite	de	17	de	janeiro	de	2019.	No	dia	30	de	dezembro	daquele	ano,	o	casal	teve	uma	séria	
discussão,	e	Maria,	nitidamente	enciumada,	investiu	contra	o	carro	de	João,	que	já	não	se	
encontrava	em	bom	estado	de	conservação,	com	três	exercícios	de	IPVA	inadimplentes,	a	
saber:	2016,	2017	e	2018.	Além	disso,	Maria	proferiu	diversos	insultos	contra	João	no	dia	de	
sua	festa	de	formatura,	perante	seu	amigo	Paulo,	afirmando	ser	ele	“covarde”,	“corno”	e	
“frouxo”.	A	requerimento	de	João,	os	fatos	foram	registrados	perante	a	Delegacia	Policial	
como	crime	de	injúria	(art.	140,	CP),	onde	a	testemunha	foi	ouvida.	João	comparece	ao	seu	
escritório	e	contrata	seus	serviços	profissionais,	a	fim	de	serem	tomadas	as	medidas	legais	
cabíveis.	Você,	como	profissional	diligente,	após	verificar	não	ter	passado	o	prazo	decadencial,	
interpõe	Queixa-Crime	ao	juízo	competente	no	dia	29/6/2020.	O	magistrado	ao	qual	foi	
distribuída	a	peça	processual	profere	decisão	rejeitando-a,	afirmando	tratar-se	de	clara	
decadência,	confundindo-se	com	relação	à	contagem	do	prazo	legal.	A	decisão	foi	publicada	
dia	02	de	julho	de	2020.	Com	base	somente	nas	informações	acima,	responda:	Ocorreu	a	não	a	
decadência?	Justifique	por	completo	sua	resposta.	(2,0	–	DOIS	PONTOS)	
	
Como	se	trata	de	crime	de	menor	potencial	ofensivo,	o	recurso	cabível	é	Apelação,	de	
acordo	com	o	artigo	82	da	Lei	9099/95.	Vale	lembrar	que	a	qualificadora	do	art.	163,	
parágrafo	único,	IV,	do	CP,	relativa	ao	motivo	egoístico	do	crime	de	dano,	caracteriza-se	
apenas	quando	o	agente	pretende	obter	satisfação	econômica	ou	moral.	Assim,	a	conduta	
de	Maria,	motivada	por	ciúme,	não	se	enquadra	na	hipótese	e	configura	a	modalidade	
simples	do	delito	de	dano	(art.	163,	caput).	Cabe	ainda	destacar	que	não	houve	prejuízo	
considerável	a	João,	já	que	o	carro	danificado	estava	em	mau	estado	de	conservação,	o	que	
afasta	definitivamente	a	qualificadora	tipificada	no	art.	163,	parágrafo	único,	IV,	do	CP.	
Assim,	o	concurso	material	entre	o	crime	patrimonial	e	a	injúria	não	ultrapassa	o	patamar	
máximo	e	2	anos,	que	define	os	crimes	de	menor	potencial	ofensivo	e	a	competência	dos	
Juizados	Especiais	Criminais,	sendo	cabível,	portanto,	apelação	(art.	82	da	Lei	9.099/95).	
	
	
04	(Extinção	da	punibilidade).	Paulo,	nascido	em	13/05/2000,	reincidente	em	crime	doloso,	foi	
preso	em	flagrante	delito	em	20/10/2019,	por	ter	em	tese,	cometido	o	crime	de	Lesão	
Corporal	grave	(art.	129,	§	2o,	IV,	CP)	em	desfavor	da	sua	ex-mulher.	Após	o	processo	criminal	
regular,	Paulo	foi	condenado,	porém	em	lesão	corporal	desclassificado	para	natureza	leve	no	
contexto	da	lei	maria	da	penha	(art.	129,	§	9o,	CP)	a	uma	pena	de	9	meses	de	detenção.	
Referida	publicada	em	29/05/2020	e	transitou	em	julgado	em	20/06/2020.	Considerando	o	
caso	narrado,	qual	o	prazo	prescricional	da	Prescrição	da	Pretensão	Punitiva	Retroativa?	
Justifique	e	fundamente	por	completo	sua	resposta.	(2,0	–	DOIS	PONTOS)	
	
Prescrição	retroativa	refere-se	à	prescrição	da	pretensão	punitiva	do	Estado	e	relação	ao	
agente	criminoso,	tendo	como	base	a	lei	aplicada.	
O	prazo	de	prescrição	da	pena	é	baseado	no	máximo	da	pena	em	abstrato.	No	caso	em	tela,	
a	pena	em	abstrato	é	de	8	anos,	o	que	resultaria	em	uma	prescrição	em	12	anos,	porém	a	
condenação	foi	de	09	meses.			
Além	disso,	o	autor	tinha	menos	de	21	anos,	à	época,	fazendo	com	que	o	prazo	prescricional	
caia	pela	metade,	mas	aumentado	de	1/3	pela	reincidência	em	crime	doloso.	
Portanto,	o	prazo	da	prescrição	da	pretensão	punitiva	do	Estado	é	de	2	anos	e	meio.	
	
	
	
	
	
	
	
	
QUESTÃO	TEÓRICA	PRÁTICA	(7,00	–	SETE	PONTOS)	
	
05.	Você	deverá	fazer	a	leitura	do	caso	abaixo	(SENTENÇA	PENAL	CONDENATÓRIA	ADAPTADA)	
identificando	todas	as	circunstâncias	pertinentes	para	a	aplicação	da	pena.	
De	acordo	com	o	citado	caso	abaixo	(SENTENÇA	PENAL	ADAPTADA),	o	trabalho	consiste	na	
aplicação	da	pena	(dosimetria	penal),	seguindo	as	três	fases	pertinentes	para	aplicação	(art.	
68,	CP),	quais	sejam:	
1a	fase	–	Pena	base	-	Circustâncias	judiciais	(art.	59,	CP);	
2a	fase	–	Pena	Provisória	-	Circunstâncias	Legais	–	agravantes	e	atenuantes	
(arts.	61-66,	CP)	e,	
3a	fase	–	Pena	Definitiva	–	Circunstâncias	de	aumento	e	diminuição	de	pena,	conforme	
trabalhado	nas	aulas	e	ilustrado/exemplicado	com	o	caso	Lindemberg.	
Na	aplicação	da	pena	e	consequente	elaboração	dos	motivos	e	fundamentos,	poderá	ser	
utilizado	todo	o	material	de	pesquisa	disponibilizado,	inclusive	as	decisões	do	Caso	Lindemberg	
(Sentença	Penal	Condenatória	e	Acórdão),bem	como	as	aulas	(gravadas	em	formato	de	áudio	
e/ou	gravadas	no	Google	Meet),	comentários	a	respeito	e	os	livros	que	abordam	o	assunto.	
									
SENTENÇA	PENAL	CONDENATÓRIA	ADAPTADA	
Processo	Criminal	no	0000013-13.2019.13.0701	
Vistos,	
JOÃO,	vulgo	RATÃO	e	ARIOSVALDO,	vulgo	MAGRELO,	qualificados	nos	autos,	foram	
denunciados	pela	prática	do	crime	previsto	no	artigo	180	“caput”	do	Código	Penal,	porque	no	
ano	de	2018,	segundo	a	denúncia	antes	do	dia	29	de	outubro	de	2018,	nesta	cidade,	
adquiriram	e	receberam,	em	proveito	comum,	o	automóvel	modelo	I/Chevrolet	Agile	Ltz,	cor	
cinza,	pertencente	a	Maria,	coisa	alheia	móvel	que	sabiam	ser	produto	de	crime.	
Consta	da	denúncia	que,	em	data	incerta,	no	ano	de	2018,	nesta	cidade,	o	veículo	I/Chrevrolet	
Agile	Ltz,	cor	cinza,	foi	furtado,	sendo	o	fato	noticiado	no	boletim	de	ocorrência	no	4491/2018.	
E,	em	data	incerta,	mas	antes	do	dia	29	de	outubro	de	2018,	os	acusados	adquiriram	e	
receberam	o	referido	veículo.	
Policiais	receberam	informações	de	uma	empresa	de	rastreamento	comunicando	a	localização	
do	sinal	do	aparelho	rastreador	do	veículo,	e	dirigiram-	se	até	a	Avenida	Faustino	Ramalho,	no	
614,	Galvão,	nesta	cidade,	onde	encontraram	um	galpão,	no	interior	do	qual	os	réus	tinham	a	
posse	do	veículo.	Os	acusados,	ao	perceberem	a	chegada	da	Polícia,	tentaram	empreender	
fuga	a	pé,	mas	foram	detidos.	Indagados,	mantiveram-se	em	silêncio.	O	local,	as	ferramentas	
apreendidas	e	o	estado	em	que	se	encontravam	os	acusados	(roupa	e	mãos	sujas	de	graxa)	
demonstravam	que	ambos	atuavam	no	desmonte	de	veículos,	e	o	automóvel	
supramencionado	estava	totalmente	desmontado.	
A	denúncia	veio	acompanhada	do	respectivo	inquérito	policial	e	foi	recebida	no	dia	23	de	
novembro	de	2018.	Os	acusados	foram	citados	e	apresentaram	defesa	preliminar.	
Na	audiência	foram	colhidos	os	depoimentos	de	duas	testemunhas	arroladas	pelas	partes.	E,	
por	fim,	o	réu	RATÃO	foi	interrogado,	tudo	por	meio	audiovisual.	
O	Ministério	Público	ofertou	ao	réu	MAGRELO	o	benefício	da	suspensão	condicional	do	
processo,	na	forma	do	artigo	89	da	Lei	no	9.099/96.	O	réu	aceitou	o	benefício,	conforme	termo	
de	audiência,	sendo	portanto	o	processo	suspenso.	
Em	alegações	finais,	o	Ministério	Público	manifestou-se	pela	condenação	do	acusado	RATÃO,	
entendendo	comprovadas	a	materialidade	e	autoria	do	delito	narrado	na	denúncia.	
A	Defesa,	por	sua	vez,	pleiteou	a	absolvição	do	réu,	por	insuficiência	probatória.	E,	para	o	caso	
de	condenação,	a	fixação	da	pena	mínima;	reconhecimento	da	atenuante	da	confissão	
espontânea;	regime	aberto;	substituição	da	pena	privativa	de	liberdade	por	restritivas	de	
direitos;	e	recurso	em	liberdade.	
É	o	relatório.	Fundamento	e	decido.	
Não	será	analisada	a	responsabilidade	criminal	do	acusado	MAGRELO,	que	foi	beneficiado	com	
a	suspensão	condicional	do	processo	na	forma	do	artigo	89	da	Lei	no	9.099/95.	
Quanto	ao	acusado	RATÃO,	a	presente	ação	penal	deve	ser	julgada	inteiramente	procedente,	
impondo-se	sua	condenação	nos	termos	da	denúncia.	
As	provas	colhidas	em	Juízo,	analisadas	em	cotejo	com	aquelas	trazidas	no	inquérito	policial,	
não	deixam	dúvidas	quanto	à	materialidade	do	crime,	sendo	igualmente	irrefutável	a	
participação	do	acusado	RATÃO,	impondo-se,	dessa	forma,	a	condenação.	
As	circunstâncias	da	prisão,	narradas	minuciosamente	pelos	policiais	aqui	ouvidos,	tendo	os	
réus	a	posse	do	veículo	furtado,	e	o	desmanche	do	veículo	empreendido	pelos	dois	réus	
(flagrados	em	plena	ação	criminosa),	no	interior	de	galpão	alugado	mediante	a	utilização	de	
documentos	falsificados	(o	que	também	narrado	pelas	testemunhas),	e,	ainda,	a	tentativa	de	
evasão	dos	acusados	com	a	chegada	dos	policiais,	evidenciam	a	intensidade	dolosa	dos	réus,	
não	deixando	dúvidas,	portanto,	quanto	à	presença	de	todas	as	elementares	do	tipo	penal	
infringido.	
Mais:	as	circunstâncias	dessa	posse	do	veículo	de	origem	criminosa,	apenas	pouquíssimas	
horas	após	a	subtração,	o	que	se	extrai	do	boletim	de	ocorrências	acostado	aos	autos,	furto	
empreendido	em	cidade	vizinha,	tudo	isso	somado	ao	tempo	que	se	leva	no	percurso	entre	as	
duas	cidades	e	para	desmanchar	o	veículo	e	deixá-lo	nas	condições	em	que	foi	encontrado	na	
posse	dos	réus,	formam	um	conjunto	que	em	tudo	aponta	até	mesmo	para	a	autoria	do	crime	
mais	grave,	precedente,	de	furto	qualificado.	Realmente,	há	fortes	suspeitas	de	que	tenham	
sido	os	próprios	réus	os	furtadores	do	carro,	sendo	certo,	inclusive,	que	há	sobeja	
Jurisprudência	no	sentido	da	presunção	da	autoria	do	furto	nessas	circunstâncias	fáticas.	
Ocorre	que	a	denúncia	é	por	crime	de	receptação.	E	a	posse	ilegítima	do	veículo	furtado,	com	
a	inequívoca	ciência	da	origem	criminosa,	exorbita	em	provas.	Ademais,	as	condutas	dos	réus,	
vez	não	imputada	e	não	provada	a	autoria	do	furto,	de	qualquer	modo	mostram-se	de	especial	
gravidade,	extrapolando	em	gravidade	as	normais	circunstâncias	previstas	no	tipo	penal.	Isso	
porque,	como	se	extrai	do	conjunto	probatório,	não	apenas	os	réus	receberam	sabendo	da	
origem	criminosa	o	veículo,	e	tiveram	sua	posse	espúria,	como,	ainda,	empreendiam	
freneticamente	o	seu	desmanche,	o	que	denota,	em	especial	do	réu	RATÃO,	cuja	conduta	está	
aqui	em	julgamento,	uma	personalidade	inteiramente	voltada	para	o	mundo	do	crime,	e	
inafastável	vínculo	com	membros	de	grupos	criminosas,	senão	organização	criminosa,	que	
atua	em	uma	intrincada	malha	de	furtos	e	roubos	de	veículos,	seguidos	de	receptações,	
desmanches,	e	vantagem	financeira	decorrente	de	destinações	diversas	às	peças	veiculares.	
E	tudo	isso	se	extrai	facilmente	das	circunstâncias	fáticas	aqui	verificadas,	a	denotar	que	não	
se	trata	de	um	crime	elementar	de	receptação,	como	os	que	cotidianamente	são	julgados	
nesta	Comarca.	
Como	se	extrai	dos	firmes	depoimentos	prestados	em	Juízo,	os	réus	tinham	a	posse	do	veículo	
muito	recentemente	subtraído,	em	estágio	avançado	de	desmanche.	Acrescente-se	que,	pelo	
que	se	extrai	do	boletim	de	ocorrências,	o	veículo	foi	furtado	por	volta	das	11h50	daquela	data	
(a	mesma	da	apreensão),	e	o	réu	RATÃO,	em	seu	interrogatório	judicial,	alega	que	desde	por	
volta	do	meio-dia	já	estava	no	galpão	fazendo	o	desmanche	do	veículo,	para	o	que	alega	ter	
sido	contratado	por	indivíduo	que	não	identificou,	mediante	pagamento	da	quantia	de	R$	
100,00.	Se	o	veículo	foi	furtado	às	11h50	daquela	manhã,	e	o	réu	ao	meio-dia	já	havia	sido	
“contratado”	para	o	desmanche	e	já	estava	no	galpão	fraudulentamente	alugado	para	tal	fim,	
isso	tudo	torna	irrefutável	o	prévio	ajuste	de	inúmeros	criminosos,	dentre	eles	os	furtadores	
(se	não	foram	os	próprios	réus),	os	acusados	como	os	indivíduos	que	fariam	o	desmanche,	as	
pessoas	que	fraudulentamente	obtiveram	a	posse	do	galpão	(no	qual	os	policiais	narraram	
existirem	inclusive	vestígios	de	outros	desmanches).	Esse	prévio	ajuste	denota	essa	intrincada	
rede	criminosa,	que	torna	muito	mais	graves	as	circunstâncias	fáticas	do	crime,	a	
determinarem	resposta	mais	efetiva	do	Estado-Juiz,	por	meio	de	uma	pena	que	não	possa	ser	
tida	por	irrisória.	
Que	o	veículo	era	produto	de	furto,	isso	restou	demonstrado	pelas	declarações	da	vítima	
perante	a	Autoridade	Policial,	pela	informação	da	empresa	de	rastreamento,	o	que	gerou	a	
atuação	policial	(tudo	confirmado	pelas	testemunhas	ouvidas	em	Juízo),	e	pelo	boletim	de	
ocorrências.	
Conforme	narrativa	das	testemunhas	Pedro	e	Daniel	-	ambos	Policiais	Civis	-	na	delegacia	de	
Polícia	e	em	Juízo,	consta	que	receberam	a	informação	da	empresa	de	rastreamento	acerca	da	
localização	do	veículo	furtado.	Chegando	ao	local	indicado	verificaram	a	existência	de	um	
galpão.	E	lá,	encontraram	os	dois	réus,	visualizando	no	interior	do	galpão	os	dois	em	franco	
desmonte	do	veículo,	que	já	estava	em	estágio	avançado	desse	desmanche.	
Ao	perceberem	a	presença	dos	policiais,	os	réus	passaram	a	empreender	fuga	pelos	fundos	do	
galpão.	Foi	feito	o	cerco,	e	as	testemunhas	detiveram	os	réus	no	quarteirão	de	trás,	
reconhecendo-os	pelas	fisionomias	que	já	tinham	avistado,	pelas	vestes,	informando,	ainda,que	ambos	tinham	graxa	nas	vestes	e	nos	corpos,	a	não	deixar	dúvidas	de	que	estavam	
desmanchando	o	carro.	
No	interior	do	galpão,	os	agentes	encontraram	o	veículo	completamente	desmontado.	
Somente	por	seus	sinais	identificadores,	inclusive	as	placas,	que	estavam	no	local,	puderam	
constatar	tratar-se	do	veículo	furtado.	No	local,	ainda	foram	encontradas	ferramentas	próprias	
no	desmonte	de	veículo.	
A	vítima,	proprietário	do	veículo	furtado,	perante	a	Autoridade	Policial	afirmou	que	seu	veículo	
foi	subtraído	quando	se	encontrava	estacionado	na	Rua	Luiz	José	Montesanti,	173,	
Uberlândia/MG.	Após	perceber	a	subtração,	registrou	o	Boletim	de	Ocorrências	na	Delegacia.	
Posteriormente,	recebeu	a	informação	de	que	seu	veículo	havia	sido	localizado.	Não	foi	
localizada	para	ser	ouvida	em	Juízo.	
O	acusado	RATÃO,	que	na	delegacia	permaneceu	em	silêncio,	em	Juízo	de	bom	grado	
confirmou	a	receptação	do	veículo,	alegando	ter	sido	contratado	por	indivíduo	de	vulgo	
“Negão”	para	desmanchar	o	veículo	furtado.	Disse	que	chegou	ao	local	e	começou	o	
desmanche	por	volta	do	meio-dia.	
Como	se	vê,	é	irrefutável	a	ciência	da	origem	criminosa	do	veículo,	por	tudo	o	quanto	acima	
especificado.	
No	mais,	o	acusado	não	é	pessoa	neófita	no	cometimento	de	crimes	patrimoniais.	Pela	folha	
de	antecedentes	e	certidões	criminais	juntadas	aos	autos,	pese	embora	a	primariedade	técnica	
do	réu,	verifica-se	que	já	possui	condenação	justamente	por	crime	de	furto	de	veículo,	bem	
como	responde	a	outro	processo,	por	adulteração	de	sinal	identificador	de	veículo.	Tal	
sequência	criminosa	não	deixa	dúvidas	da	dedicação	de	RATÃO	a	crimes	patrimoniais	tendo	
por	objeto	veículos	automotores,	do	que	faz	verdadeiro	meio	de	vida.	Embora	a	condenação	
anterior	e	processo	ainda	em	andamento	pelos	crimes	acima	mencionados,	não	possam	ser	
tidos	quer	como	reincidência,	quer	como	mau	antecedente,	por	outro	lado	estão	a	evidenciar	
que	o	réu	tem	a	clara	intenção	de	continuar	suas	incursões	na	criminalidade,	e	reiteradamente	
volta	a	delinquir,	certamente	contando	com	a	plena	impunidade,	mensagem	inteiramente	
equivocada	que	lhe	foi	passada	pelas	solturas	precoces	previstas	pelo	sistema	penal	frouxo	
que	vige.	
	
E	mais,	as	circunstâncias	do	desmanche,	somadas	às	circunstâncias	dos	crimes	anteriores,	que	
não	podem	ser	ignoradas	na	análise	da	personalidade	do	réu,	evidenciam	personalidade	
deturpada,	e	já	voltada	para	o	mundo	do	crime,	com	conduta	social	absolutamente	
reprovável.	A	reiteração	no	cometimento	de	crimes	patrimoniais,	mormente	relacionados	a	
veículos	automotores,	salta	aos	olhos.	Diante	disso,	o	réu	demonstrou	às	escâncaras	que	sua	
permanência	no	convívio	social	é	deletéria	e	coloca	em	risco	o	patrimônio	alheio.	
Impõe-se	seja	aplicada	pena	ao	réu	que	constitua	algum	freio	a	essa	reiteração	criminosa,	sem	
o	que,	qualquer	pena	a	ser	aqui	imposta	mostrar-se-á	inócua	e	não	atenderá	à	sua	finalidade.	
A	materialidade	e	autoria	delitivas	são	inquestionáveis	e	estão	comprovadas	pela	apreensão	
do	veículo	na	posse	do	acusado	e	comparsa	nas	circunstâncias	narradas	no	inquérito	policial	e	
em	Juízo.	
Pondero	que,	em	se	tratando	de	receptação,	é	entendimento	pacífico	na	Jurisprudência	que,	
sendo	a	res	furtivae	encontrada	na	disponibilidade	do	acusado,	a	ele	caberia	fornecer	
justificativa	plausível	e	minimamente	convincente	para	convencer	da	existência	de	boa-fé	ou	
mera	culpa	na	posse	desse	bem.	
A	prova	produzida	pela	acusação,	portanto,	é	coesa,	firme,	e	aponta	o	réu	como	autor	do	
delito	narrado	na	denúncia,	bem	como	demonstra	a	existência	do	dolo	e	a	consumação	do	
crime.	
Ante	todo	o	exposto,	JULGO	PROCEDENTE	a	pretensão	punitiva	estatal,	a	fim	de	CONDENAR	o	
acusado	JOÃO,	vulgo	RATÃO	pela	prática	do	crime	previsto	no	artigo	180	“caput”	do	Código	
Penal.	
Passo	à	dosimetria	da	pena	a	ser	aplicada.(...)	
(...)	FAZER	A	DOSIMETRIA	PENAL	(...)	
		
• ARTIGO	59	CP	
	
Ø Desacato	à	autoridade	policial:	art	330	CP	CP	–	reclusão	de	15	dias;		
Ø Fixada	pena	mínima	em	decorrência	de	baixo	potencial	lesivo	do	agente;	
Ø Reclusão	de	um	ano;	
Ø Art	180	CP,	receptação	–	reclusão	de	no	máximo	4	anos.		
Ø Artigo	65,	inciso	III	alínea	D/CP:réu	confesso		
Ø Redutor	de	pena		
Ø Ratão	deve	pegar	pena	mínima,	progressão	rápida	em	regime	semiaberto.

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