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ICTERÍCIA NEONATAL (POR HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA) DEFINIÇÃO FISIOLOGIA FISIOPATOLOGIA a expressão clínica do aumento da concentração sérica da bilirrubina indireta (BI) > 1,3- 1,5mg/dL ou bilirrubina direta (BD) > 1,5mg/dL desde que tal valor seja > 10% da bilirrubina total (BT). A mais frequente é a hiperbilirrubinemia indireta, que é lipossolúvel e pode chegar facilmente ao sistema nervoso central (SNC) o que lesa o tecido cerebral instalando o quadro de encefalopatia bilirrubínica A bilirrubina é um pigmento que deriva do heme e provém também de outros heme que não tem origem na hemoglobina como os que compõem a catalase, mioglobina e citocromos. O metabolismo da bilirrubina pode ser dividido em: captação, armazenamento, conjugação e secreção hepática. Com a ruptura das hemácias e liberação da hemoglobina, esta é captada por macrófagos que a transformam em biliverdina àA biliverdina ao ser convertida em bilirrubina livre pela biliverdina-redutase passa a ser liberada gradualmente dos macrófagos para o plasma, tal molécula é lipossolúvel. Para ser transportada no plasma esta bilirrubina liga- se à albumina, sendo chamada também de bilirrubina não conjugada ou indireta à Ao chegar ao fígado, a mesma é captada por proteínas chamadas ligandinas até os hepatócitos àsão levadas ao retículo endoplasmático no qual são conjugadas pela ação da enzima UDP glicuroniltransferase àformando um composto polar e hidrossolúvel que é a bilirrubina direta ou conjugada. A excreção desta ocorre através do polo biliar dos hepatócitos para então chegar ao intestino onde é desconjugada pela ação das glicuronidases bacterianas para formar o urobilinogênio que é excretado nas fezes, pequena porção é eliminada pela urina e, outra parte, volta para o fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo enterro- hepático da bilirrubina. O RN é mais suscetível a maior carga de bilirrubina, sobretudo, a fração indireta devido a: maior volume eritrocitário, menor meia-vida das hemácias, menor capacidade de conjugação e captação por imaturidade das enzimas que participam do metabolismo hepático (à imaturidade da ação tanto das ligandinas como da UDP glicuroniltransferase) e aumento da circulação enterro-hepática por esterilidade do TGI e aumento das beta-glicuronidases adquiridas no leite materno. INVESTIGAÇÃO INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA A icterícia neonatal apresenta progressão cefalocaudal Avaliação: zonas de Kramer em que áreas ictéricas do corpo do neonato, avaliadas sob luz natural a avaliação por meio das zonas de Kramer não permite predizer a gravidade da elevação dos níveis de bilirrubina, assim como a análise pode variar muito a depender do tom de pele do RNà têm sido desenvolvidos mecanismos de avaliar os níveis de BT de modo não invasivo como à ex: bilirrubina transcutânea. (muito onerosa pro sistema de saúde) Em alguns casos faz-se necessária a investigação de doença hemolítica do RN, portanto, a solicitação de hemograma, tipagem sanguínea ABO, Rh (antígeno D), antígenos eritrocitários irregulares, Coombs direto/indireto e eluato deve ser realizada. Em mães Rh negativo, que como veremos a seguir podem criar anticorpos IgG anti- D contra hemácias do RN Rh positivo causando a doença hemolítica perinatal. O teste de Coombs indireto permite analisar se há anticorpos anti-D no plasma materno, enquanto o Coombs direto avalia a presença ou não de anticorpos maternos anti-D nas hemácias do neonato. No caso de doença hemolítica por incompatibilidade ABO pode ser realizado também o teste do eluato por congelamento no qual é retirado os anticorpos presos nas hemácias e expõe estes a hemácias ABO se apresenta com uma maior sensibilidade para detectar anticorpos ABO presentes nas hemácias dos RN. Outra forma de avaliar os valores de bilirrubina é pelo método invasivo de coleta por meio do sangue do RN. Deste modo pode-se prever quais RN têm risco de desenvolver valores elevados na 1ª semana de vida. Para avaliação deste risco um nomograma, conhecido como Nomograma de Buthani Logo, qualquer RN ictérico com idade gestacional (IG) ≥ 35 semanas é necessário determinar o risco (mínimo, intermediário ou maior) de desenvolver hiperbilirrubinemia significativa, ou seja, BT > 25mg/dL. ETIOLOGIAS FISIOLÓGICA FALTA DE LEITE MATERNO SÍNDROME DA ICTERÍCIA PELO LEITE MATERNO a icterícia que ocorre após as 24h de vida costuma estar mais relacionada com aqueles mecanismos ligados à imaturidade dos hepatócitos e todos aqueles outros fatores que naturalmente contribuem para hiperbilirrubinemia e, consequentemente a icterícia no RN. Tal icterícia nos RN a termo tem seu pico entre 3º-5º dia e desaparece até o 12º dia de vida, enquanto que nos pré-termo o pico é entre 5º-7º dia, desaparecendo em geral no 14º dia. Tal icterícia costuma acontecer na 1ª semana de vida associada a perda de peso no 3º dia de vida 5% maior do que dos outros neonatos em aleitamento materno, decorrente da ingestão inadequada do leite materno o que leva ao aumento da circulação enterro-hepática de bilirrubina e maior aporte desta para a circulação sanguínea. Isso pode acontecer tanto por uma dificuldade na sucção pelo RN, como pouca oferta do leite pela mãe, vale ressaltar que, esse contexto leva tanto a perda de peso quanto desidratação do neonato. leite materno passa a agir como modificador ambiental para genótipos que atuam tanto na captação, quanto na conjugação da bilirrubina elevando o risco em até 22 vezes de chegar a valores de BT > 20mg/dl. neste caso há uma icterícia persistente desde a 1ª semana de vida que se prolonga por 2-3 semanas, mas o RN não chega a perder peso ou desidratar, ao contrário, está em bom estado geral e com adequado ganho pondero-estrutural. O diagnóstico costuma ser feito por exclusão COLEÇÕES SANGUÍNEAS EXTRAVASCULARES DISTÚBIOS GENÉTICOS NA CONJUGAÇÃO Algumas coleções sanguíneas, benignas ou não, podem acometer o RN causando com isso um extravasamento do sangue delas, o que sobrecarrega os hepatócitos de bilirrubina. Hemorragia intracraniana/ pulmonar/gastrointestinal, cefalo-hematomas, hematomas, sangue deglutido ou equimoses causam icterícia prolongada que se manifesta 48-72h após o extravasamento A redução na glucorunidação da bilirrubina na Síndrome de Gilbert ocorre em decorrência de uma variante da enzima responsável pela conjugação, a UDPGT1, reduzindo a formação de glucoronídeos da bilirrubina o que causa a síndrome. O diagnóstico é feito observando o histórico familiar, ausência de outras hepatopatias que justifiquem a icterícia e a melhora desta após o uso de fenobarbital. Outro grupo são as Síndromes de Crigler- Najjar tipos I e II, ambas formas clínicas da deficiência congênita da enzima glicuronil-transferase DOENÇAS HEMOLÍTICAS O aparecimento de icterícia precoce alerta para o risco de doença hemolítica, sobretudo, as hereditárias. Por este motivo, de acordo com o quadro clínico, dosa-se a BT e o hematócrito a cada 6-8h até as 36h de vida a fim de calcular a velocidade de hemólise, ou seja, o aumento de bilirrubina em mg/dL/h de modo que valores >0,5-1 mg/dL/h indicam gravidade do quadro e permitem estabelecer terapêutica. Além disso, como no cordão é possível coletar sangue para realizar análise do eritrograma e os valores de bilirrubina total e frações. Valores de BT > 4 mg/dL e/ou hemoglobina < 12 mg/dL associação a gravidade da doença hemolítica perinatal Na incompatibilidade Rh, a mãe Rh negativo possui anticorpos anti-D (Coombs indireto positivo) enquanto o RN possui suas hemácias recobertas pelos anticorpos anti-D produzidos pela mãe (Coombs direto positivo). Vale ressaltar que, essa repercussão clínica no RN costuma acontecer com maior gravidade em gestações subsequentes, pois nestes casos a mãe já sensibilizada previamente desenvolve anticorpos do tipo IgG que atravessam a placenta levando a eritroblastose fetal.Por este motivo é fundamental dessensibilizar as mães Rh negativo no pós-parto, pós-abortamento, pós procedimentos ou pós sangramentos durante a gestação com imunoglobulina anti-D, promovendo proteção contra anticorpos anti-D. Já na incompatibilidade ABO não é preciso haver sensibilização prévia, sendo resultante de um RN com sangue tipo A ou B com mãe sangue tipo O. Essa icterícia evolui de forma persistente alcançando níveis elevados de BI. Independentemente do resultado do Coombs direto, em casos de incompatibilidade ABO é importante realizar o teste do eluato por congelamento, pois este permite verificar a presença dos anticorpos anti-A e anti-B no sangue do neonato. Porém, a positividade deste teste apenas indica a presença dos anticorpos, não evidenciando a gravidade da doença. Dentre as doenças hemolíticas enzimáticas, vale a pena destacar a mais frequente e importante que é a deficiência de glicose 6-fosato-desidrogenase (G-6-PD). Esta enzima eritrocitária atua na defesa antioxidante intracelular, logo, quando o RN deficiente nesta enzima é exposto a estresse oxidante, acidose, infecção, hipoglicemia e algumas drogas (anti-inflamatórios, analgésicos, antimaláricos, etc.) podem desenvolver hemólise e em seguida hiperbilirrubinemia O diagnóstico é realizado por triagem neonatal em papel filtro ou dosagem sérica da enzima. Quanto à icterícia, esta costuma-se desenvolver após as 24h e intensificar-se ao longo da 1ª-2ª semanas, levando ao quadro clínico de encefalopatia bilirrubínica COMPLICAÇÃO ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA a BI atravessa a barreira hematoencefálica e pode depositar- se nos núcleos da base (globo pálido e subtalâmico principalmente) conferindo aos mesmos coloração amarelada e acarretando em sinais neurológicos. Alguns fatores de risco contribuem para a instalação do quadro clínico favorecendo esta lesão nos núcleos da base, são eles: doença hemolítica, hipóxia, hipoalbuminemia, sepse, acidose. O quadro clínico pode ser dividido em fase aguda e crônica. Na fase aguda o RN encontra-se: Fase 1: letargia, hipotonia, má sucção, choro agudo; Fase 2: hipertonia, opistótono, convulsões e febre; Fase 3: aparede melhora. A fase crônica consiste em: paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar e displasia dentária, síndrome extrapiramida, atraso mental. TRATAMENTO FOTOTERAPIA EST O principal tratamento para o aumento de BI no RN ictérico é a fototerapia, a qual visa reduzir os níveis de BI, consequentemente evitando a realização da exsanguíneotransfusão (EST). O mecanismo de ação consiste na fotoisomerização da configuração e estrutura da molécula de bilirrubina com a formação de isômeros que são diretamente eliminados pela via biliar e urinária. A eficácia da técnica depende do: comprimento de onda da luz (faixa azul), irradiância espectral (ou seja, a intensidade da luz; quanto menor a distância entre a luz e o paciente, maior a irradiância e eficácia) e superfície corpórea exposta à luz Cuidados durante a fototerapia: aumentar a oferta hídrica através do aleitamento materno, verificar temperatura corporal a cada 3h, proteger os olhos com cobertura radiopaca, não utilizar ou suspender a fototerapia se os níveis de BD estiverem elevados para evitar a síndrome do bebê bronzeado. Atualmente a doença hemolítica por incompatibilidade Rh é uma das únicas indicações de EST, sendo as outras causas de aumento de BI controladas usualmente pela fototerapia. Na incompatibilidade Rh a EST pode ser indicada logo após o nascimento se BI >4mg/Dl e/ou hemoglobina < 12 mg/Dl, após as primeiras horas de vida a EST é indicada se houver elevação de BI igual ou superior a 0,5 mg/dL/h nas primeiras 36h de vida. A duração da EST varia entre 60- 90min, devendo ocorrer em ambiente asséptico, não ultrapassando a velocidade de troca de 1-2 ml/kg/min, sendo o volume preconizado de 160 ml/kg (duas volemias), em uso da técnica do “puxa-empurra” pela veia umbilical. Após o procedimento deve ser mantida: infusão contínua de glicose (4-6 mg/kg/min), gluconato de cálcio 10% (2 ml/kg/dia) e sulfato de magnésio 10% (1 ml/kg/dia). ICTERÍCIA NEONATAL (HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA) DEFINIÇÃO INVESTIGAÇÃO elevação do nível de BD resulta de distúrbios hepáticos ou doenças sistêmicas graves A icterícia colestática caracteriza-se pelo aumento prolongado da bilirrubina conjugada e é reflexo da redução da excreção pelas células parenquimatosas hepáticas ou doença do trato biliar A icterícia causada pela BD elevada confere à pele um tom esverdeado ou amarelo-acastanhado opaco Entre os critérios que indicam hiperbilirrubinemia grave, está o aumento da bilirrubina conjugada > 1 mg/ dL, se BT < 5 mg/ dL, ou Quando bilirrubina conjugada > 20% da bilirrubina total se BT > 5 mg/dL. A colestase é causada por uma obstrução extra ou intra-hepática ao fluxo biliar e resulta em retenção no soro de substâncias que normalmente são excretadas na bile, e o marcador mais comum é a hiperbilirrubinemia conjugada Apesar de não ser neurotóxica, seu acúmulo é sempre patológico e deve ser feito o diagnóstico de forma precoce em razão do potencial de gravidade da atresia biliar, uma das causas mais comuns de colestase. A icterícia pode ser o primeiro sinal de disfunção hepática. Outras manifestações clínicas podem estar presentes, como: Urina de cor escura, fezes acólicas, hepatomegalia Investigação inicial: hemograma, BT e direta TGO, TGP, FA, glicose, tempo de protrombina, albumina, alfa-1-antitripsina, ecografia abdominal. ETIOLOGIAS MANEJO Causas: obstrutivas: atreia de vias biliares extra-hepaticas, cisto de colédoco; infecciosas: HIV, CMV, herpes, rubéola, adenovírus, ITU, sepse, sífilis, toxo; metabólica/genética: síndrome de Alagille, rarefação dos ductos biliares interlobulares não sindrômica, doença de byler, galactosemia, frutosemia, glicogenose, tirosinemia, doença de Gaucher, síndrome de Gaucher, fibrose cística, deficicia de alfa-1-antitripsia, hipotireioidismo. - Atresia biliar (princial causa) é definida como ausência ou obliteração dos ductos biliares extra-hepáticos, sendo a principal indicação de transplante hepático em crianças -Os recém-nascidos desenvolvem icterícia progressiva nas primeiras 8 semanas de vida e podem apresentar acolia fecal, entretanto, muitas vezes no início do quadro aparentam bom estado geral e adequado ganho de peso - Níveis elevados de bilirrubina conjugada, discretos ou moderados aumentos de TGO e TGP e elevação da GGT - Hepatite neonatal idiopática é uma doença de causa desconhecida - Inclui-se no diagnóstico diferencial da atresia - É caracterizada por aumento prolongado da bilirrubina conjugada e pelo achado histológico de células gigantes em biópsia hepática - A sepse neonatal causada por organismos Gram-positivos ou Gram-negativos está associada a colestase -Nos casos de infecção do trato urinário por Escherichia coli, a icterícia pode ser o único sinal presente Independente da causa da colestase, estes pacientes evoluem com complicações comuns provocadas pela ausência de fluxo biliar no intestino, como por exemplo o prejuízo na absorção de triglicerídeos de cadeia longa e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) Portanto, algumas medidas terapêuticas estão indicadas: 1) Dieta complementada com triglicerídeos de cadeia média, cuja absorção não depende de ácidos biliares 2) Reposição de vitaminas lipossolúveis 3) Ácido ursodesoxicólico na dose de 15 mg/kg/dia - Melhora o fluxo biliar, diminui a recirculação entero-hepática dos ácidos biliares e reduz os níveis de colesterol circulantes 4) Nos pacientes com hipertensão porta e ascite, deverá ser feita a restrição de ingesta de sódio (0,5 g/dia ou 1 2 mEq/ kg/dia) - Uso de diurético, preferencialmente a espironolactona (3-5 mg/kg/dia) Ana Luiza Cardoso - Med 8
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