Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
do processo de produção, como, por exemplo, as súbitas expansões e contrações deste, e até a acumulação, se tornam inteiramente incom- preensíveis.490 O dogma foi mal usado tanto pelo próprio Bentham como por Malthus, James Mill, MacCulloch etc., para fins apologéticos, notadamente para representar parte do capital, a variável ou conver- sível em força de trabalho, como grandeza fixa. A existência material do capital variável, isto é, a massa dos meios de subsistência que ele representa para o trabalhador, ou o assim chamado fundo de trabalho, foi imaginariamente transformada numa parcela particular da riqueza social, cercada por barreiras naturais intransponíveis. Para colocar em movimento a parte da riqueza social que deve funcionar como capital constante ou, expresso materialmente, como meios de produção, re- quer-se determinada massa de trabalho vivo. Esta é tecnologicamente dada. Mas não é dado nem o número de trabalhadores necessário para realizar essa massa de trabalho, pois isso varia com o grau de exploração da força de trabalho individual, nem o preço dessa força de trabalho, mas apenas seu limite mínimo, que, além do mais, é muito elástico. Os fatos que estão na base do dogma são estes: por um lado o traba- lhador não tem voz na partilha da riqueza social em meios de satisfação dos não-trabalhadores e em meios de produção; por outro lado, apenas em casos excepcionais favoráveis ele pode ampliar o assim chamado “fundo de trabalho” à custa da “renda” dos ricos.491 A que absurda tautologia leva o imaginar que a barreira capi- talista do fundo de trabalho é sua barreira natural social, mostra o Prof. Fawcett, entre outros: “O capital circulante492 de um país”, diz ele, “é seu fundo de OS ECONOMISTAS 242 nulla dies sine linea, encheu montanhas de livros. Se eu tivesse a coragem de meu amigo H. Heine, eu chamaria o sr. Jeremias de um gênio da estupidez burguesa. 490 "Economistas políticos são demasiadamente inclinados a considerar determinada quantidade de capital e determinado número de trabalhadores como instrumentos de produção de força uniforme e que operam com certa intensidade uniforme. (...) Aqueles que afirmam que as mercadorias são os únicos agentes da produção, provam que a produção não pode de modo algum ser ampliada, pois para tal ampliação teriam de ser aumentados antes os meios de subsistência, as matérias-primas e as ferramentas, o que de fato equivale a dizer que nenhum crescimento da produção sem seu crescimento anterior pode ter lugar, ou, em outras palavras, que todo crescimento é impossível." (BAILEY, S. Money and its Vicissitudes. pp. 58 e 70.) Bailey critica o dogma principalmente do ponto de vista do processo de circulação. 491 J. St. Mill diz em seus Principles of Polit. Economy, [Livro Segundo. Cap. I, § 3]: “O produto do trabalho, hoje, é repartido em proporção inversa ao trabalho — a maior parte se destina àqueles que nunca trabalham, a segunda maior parte àqueles cujo trabalho é quase só nominal, e assim, em escala decrescente, a remuneração encolhe na medida em que o trabalho se torna mais duro e mais desagradável, até que o trabalho fisicamente mais cansativo e mais esgotante nem pode contar com a certeza da satisfação das necessidades vitais”. Para evitar mal-entendido, quero deixar claro que, se homens como J. St. Mill etc. devem ser censurados pela contradição entre seus velhos dogmas econômicos e suas ten- dências modernas, seria absolutamente injusto confundi-los com o séquito dos apologistas da Economia vulgar. 492 FAWCETT, H. (Prof. de Economia Política em Cambridge.) The Economic Position of the British Labourer. Londres, 1865. p. 120.
Compartilhar