Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
As bases fisiológicas das técnicas de expansão pulmonar, sejam elas realizadas com objetivo profilático ou para a resolução de atelectasias, podem ser discutidas com base na relação entre a pressão de distensão aplicada e a modificação de volume pulmonar resultante. Formas de compreensão de como a expansão pulmonar pode ocorrer: Redução da pressão pleural: A contração dos músculos inspiratórios promove uma expansão da parede torácica. A medida que a parede torácica se expande, a pressão ao redor do pulmão, ou seja, a pressão pleural (Ppl) diminui. Esse processo gera um gradiente de pressão alveolar (Palv) menor que a pressão externa (Po) ou de abertura das vias áreas, tendo como consequência a entrada do ar. Aumento da pressão intrapulmonar: Nessa situação, a pressão pulmonar é aumentada por algum dispositivo, seja ele equipamento utilizado para a respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) ou ventilação não invasiva (VNI). Tais equipamento ocasionam um aumento de pressão suficiente para que haja abertura de vias aéreas (Pao) promovendo, assim, uma diferença de pressão necessária para que aconteça o fluxo inspiratório. A aplicação de pressão positiva ao final da expiração (PEEP) também está incluída nesta forma de expansão. Conforme observado nas Figuras 1 e 2, dinamicamente a expansão pulmonar é determinada pela relação entre as variáveis Pao, Ppl e Palv. Essas relações podem ser traduzidas pela pressão transpulmonar (PL), que é a pressão de distensão dos pulmões. Ambas as equações a seguir podem ser utilizadas para se definir a PL: • Equação 1: PL = Palv – Ppl Em que PL = pressão transpulmonar, Palv = pressão alveolar, Ppl = pressão pleural. • Equação 2: PL = Pao – Ppl Em que PL = pressão transpulmonar, Pao = pressão externa ou na abertura das vias aéreas, Ppl = pressão pleural É importante mencionar que toda técnica que Pao tenha por objetivo promover a expansão pulmonar deve proporcionar o aumento da pressão transpulmonar. Isso pode ser alcançado reduzindo-se a pressão pleural, por meio do uso de técnicas como a respiração profunda e a espirometria de incentivo. Pode-se também atingir esse objetivo aumentando a pressão intrapulmonar, utilizando-se para isso técnicas como o RPPI, a VNI e a aplicação de PEEP. O pulmão apresenta desigualdade mecânicas regionais que frequentemente estão aumentadas em caso de afecções do sistema respiratório. Isso significa que, durante a inspiração nas regiões pulmonares em Terapia de expansão pulmonar que a complacência e/ou resistência são maiores, a insuflação será mais demorada (maior constante de tempo). Ou seja, se o tempo inspiratório não for suficientemente longo, algumas regiões pulmonares, geralmente as mais comprometidas, não serão adequadamente expandidas. Um mecanismo que auxilia muito na distribuição de ar é a ventilação colateral. Por meio dos processos de comunicação entre os alvéolos (poros de Kohn), entre o bronquíolo e o alvéolo (canais de Lambert) e, finalmente, entre os bronquíolos (canais de Martin), o gás inspirado pode se redistribuir a partir de regiões mais insufladas (com maior pressão) para regiões menos insufladas (com menor pressão) com mais facilidade. Isso é denominado efeito pendular ou pendelluft. As técnicas de expansão são indicadas principalmente nas situações em que ocorre a redução dos volumes pulmonares e há presença ou risco de colapso alveolar. Sendo assim, o maior grupo de afecções em que devem ser consideradas as técnicas para expansão pulmonar são as condições restritivas, que podem acometer os pulmões (p. ex., atelectasia e fibrose pulmonar), as pleuras (p. ex., derrames pleurais), os músculos respiratórios (p. ex., doenças neuromusculares) ou a parede torácica (p. ex., cifoescoliose, deformidades torácicas, obesidade). Em razão da redução considerável na capacidade vital e hipoxemia observadas no pós-operatório de cirurgias torácicas e abdominais, as técnicas expansivas são frequentemente indicadas nessas condições. Por proporcionar maior distribuição da ventilação, qualquer técnica expansiva terá também um efeito desobstrutivo. Isso ocorre por causa do aumento da interação gás-líquido, ou seja, o efeito do fluxo aéreo para o deslocamento do muco, que é um importante mecanismo de clearance de vias aéreas. Como já dito anteriormente, a terapia da expansão pulmonar inclui técnicas que visam expandir o pulmão por meio do aumento do aumento do gradiente transpulmonar, através da redução da pressão pleural (Ppl) ou da elevação da pressão alveolar. 1. Exercício diafragmático – Consiste em movimentar sincronicamente a parede abdominal durante a INS e EX, com o objetivo de promover o crescimento da excursão diafragmática. Acredita-se que o aumento dessa atividade promova maior ventilação nas bases pulmonares, porém não foi demonstrado em uma série de estudos que avaliaram o exercício diafragmático. Essa técnica é mais utilizada com o propósito de reduzir ou eliminar atividade muscular respiratória desnecessária, diminuindo o esforço respiratório e aumentando a eficiência da respiração. NÃO INDICADO: Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e hiperinsuflação pulmonar, o exercício diafragmático pode promover grande assincronia toracoabdominal e desconforto respiratório, não devendo ser utilizado. 2. Inspiração profunda – Para a execução dessa técnica, é necessária a realização de uma inspiração que se inicia na capacidade residual funcional (CRF) e envolve a inspiração máxima até a capacidade pulmonar total (CPT) e então a expiração. Uma combinação possível nesse processo é a sustentação da inspiração por no mínimo 3 segundos antes da expiração relaxada. 3. Inspiração em tempos com ou sem pausa inspiratória – A técnica de inspiração em tempos consiste na realização de inspirações nasais curtas, sucessivas e programadas. Essas inspirações ocorrem em dois, três, quatro ou até seis tempos repetitivos, sendo ou não intercaladas por períodos de pausa inspiratória. A inspiração profunda em tempos realizada sem pausa inspiratória pode não ser suficiente para atingir a CPT. Em contrapartida, a inspiração em tempos com pausa inspiratória pode ser mais eficaz para se atingir a capacidade inspiratória (CI). As várias inspirações devem ser realizadas dentro de um mesmo ciclo respiratório e a expiração oral deve ser realizada até o nível da CRF. A inspiração em tempos, a expiração abreviada e outras manobras semelhantes são variações da respiração profunda e obedecem aos mesmos princípios fisiológicos que norteiam as técnicas de expansão pulmonar (p. ex., volume pulmonar elevado e tempo inspiratório longo). As técnicas respiratórias para aumentar a pressão intrapulmonar também são conhecidas como terapia com pressão positiva nas vias aéreas (PAP – positive airway pressure). As principais modalidades descritas na literatura científica são a respiração com pressão positiva intermitente (RPPI), a pressão positiva expiratória nas vias aéreas (EPAP), a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e o Bi-level. Algumas contraindicações devem ser observadas ao se considerar a terapia expansiva por meio de pressão positiva, como o aumento da pressão intracraniana, o pneumotórax não tratado, a fístula broncopleural e a hipovolemia. Os efeitos hemodinâmicos da pressão positiva são induzidos pelo aumento da pressão intratorácica e se refletem na redução do retorno venoso, na diminuição do débito cardíaco, no aumento da pressão intracraniana por causa de aumento da pressão venosa central, na hipotensão e na hipoperfusão. 1. Respiração com Pressão Positiva Intermitente (RPPI) – Modo de aplicação de pressãopositiva durante a fase inspiratória do ciclo respiratório, gerada a partir de ventiladores ciclados a pressão ou volume, por meio de máscara facial e bucal. Promove uma pressão apenas na INSPIRAÇÃO. Objetivo: - Aumentar a expansibilidade pulmonar; - Prevenir colapsos alveolares; - Restaurar volumes e capacidades pulmonares; - Minimizar o trabalho respiratório. Indicados: - Atelectasias; - Ventilações superficiais; - Auxilio na retirada de secreções; -Pós-operatório; -Administração de broncodilatadores. 2. Pressão positiva ao final da expiração (PEEP) – PEEP (positive end expiratory pressure) é um termo convencionalmente utilizado em ventilação mecânica para designar uma pressão superior à atmosférica presente nas vias aéreas ao final da expiração. Em respiração espontânea, a PEEP pode ser oferecida nos sistemas de EPAP, CPAP e Bi-level. Algumas evidências científicas sugerem que o uso da PEEP é mais eficiente do que a espirometria de incentivo e o RPPI na resolução de atelectasia pós--operatória. A PEEP melhora a troca gasosa, pois previne ou reverte o colapso alveolar, estabiliza e recruta unidades alveolares, e também aumenta a complacência pulmonar e a capacidade residual funcional. 3. Pressão Positiva Expiratória nas vias aéreas (EPAP) – A técnica de pressão expiratória positiva nas vias aéreas (EPAP) convencional consiste em um método de aplicação de pressão positiva na expiração através de uma máscara nasal ou orotraqueal que é acoplada a um sistema de válvulas, ligado ao ventilador. Pode-se dizer que sua principal utilidade está em promover a reexpansão pulmonar de forma simples e objetiva. Esse recurso apresenta um amplo campo de aplicabilidade, sendo que o mesmo pode ser empregado tanto na prevenção quanto no tratamento de disfunções respiratórias relacionadas ao longo período de internação. Quanto ao seu procedimento, a EPAP se caracteriza por uma inspiração seguida de uma expiração contra a resistência imposta pelo gerador de fluxo, ou seja, na medida em que a inspiração é realizada, esta se relaciona ao nível de esforço expiratório, gerando aumento da capacidade de expansão pulmonar. De forma geral, o uso da EPAP promove, a nível fisiológico, melhora das trocas gasosas, em razão do recrutamento de alvéolos colapsados, gerando aumento da expansão pulmonar, logo, sua aplicação em pacientes acamados acelera a restruturação da função pulmonar, diminuindo o tempo em leito hospitalar bem como as repercussões relacionadas a este estado. 4. CPAP – O CPAP é a aplicação de uma resistência pré- determinada a fase expiratória com a fase inspiratória sendo realizada com suporte externo através de altos fluxos diminuindo, assim, o trabalho inspiratório do paciente. 5. BIPAP – A pressão positiva nas vias aéreas em dois níveis (Bilevel) é comumente utilizada como estratégia não invasiva de suporte ventilatório para pacientes com distúrbios agudos e crônicos restritivos e obstrutivos (p. ex., DPOC, doenças neuromusculares), sendo uma alternativa eficiente para evitar a intubação e a ventilação mecânica invasiva no caso de insuficiência respiratória aguda. O Bilevel possui a característica de permitir a diferenciação entre a pressão positiva inspiratória (IPAP) e a EPAP, sendo que esta funciona como a PEEP. O nível de IPAP é sempre maior que aquele da EPAP, sendo que a diferença entre eles é a pressão ofertada durante a inspiração do paciente. Por exemplo, para obter um nível de pressão de 10 cmH2O e a O). Embora a indicação do Bilevel não seja habitual para terapia de expansão pulmonar, os valores de IPAP e EPAP podem ser ajustados para aumentar a pressão de distensão, a CRF e o volume corrente. O equipamento possui ainda a vantagem de ser geralmente mais confortável e ser limitado à pressão, o que oferece maior segurança ao paciente. • A pressão de distensão pulmonar é definida como a diferença entre a pressão pleural e a pressão alveolar ou de abertura nas vias aéreas. •Para promover a expansão pulmonar, deve-se reduzir a pressão pleural ou aumentar a pressão intrapulmonar (alveolar). •Quanto maior o volume e o tempo inspiratório, melhores serão os efeitos das técnicas expansivas. •As técnicas expansivas são indicadas principalmente no tratamento das condições pulmonares restritivas ou quando há risco de complicações pulmonares, como a atelectasia. •As principais técnicas de expansão por meio da redução da pressão pleural são a respiração profunda e a espirometria de incentivo. •Os espirômetros (incentivadores) orientados por volume são preferíveis por permitirem o controle do volume e do fluxo inspiratório. • Pacientes com capacidade vital reduzida (< 10 mL/kg) não devem se beneficiar das terapias expansivas com redução da pressão pleural. •As principais técnicas de expansão por meio do aumento da pressão intrapulmonar são o RPPI, a EPAP e a CPAP. O Bi-level também pode ser utilizado para essa finalidade. •Ao aplicar técnicas expansivas com pressão positiva, deve-se ter cuidado com os potenciais efeitos deletérios no sistema cardiovascular (redução do débito cardíaco) e nervoso central (aumento da pressão intracraniana – PIC). A existência de fístula broncopleural e pneumotórax não drenado também são contraindicações. •Para pacientes dispneicos, a CPAP é preferível à EPAP, por reduzir o esforço respiratório. •As técnicas manuais como compressão-descompressão e ventilação seletiva têm pouca justificativa do ponto de vista fisiológico. Para que sejam incorporadas na prática clínica, seus efeitos precisam ser elucidados por meio de ensaios clínicos controlados e randomizados. • Não é possível desinsuflar pacientes com alterações morfológicas do parênquima pulmonar ou de vias aéreas por meio da aplicação de técnicas fisioterapêuticas SARMENTO, George.Jerre. V. Fisioterapia respiratória de A a Z. Barueri, SP: Editora Manole, 2016. 9788520459577. SOUZA, T. S. D.; FIGUEIREDO, N. S.; BIRCK, M. A. 4.1 Estudo da pressão positiva expiratória das vias aéreas (epap) através do sistema artesanal selo d’ água. Salão do Conhecimento, v. 1, n. 1, 2016.
Compartilhar