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Derrame pleural APG 19 1. Estudar a etiologia e fisiopatologia do derrame pleural; 2. Entender as manifestações clínicas do derrame pleural; 3. Compreender os exames complementares no diagnóstico do derrame pleural. DEFINIÇÃO O derrame pleural caracteriza o desequilíbrio entre a produção e a absorção, provocando o excesso de líquido na cavidade pleural, antes um espaço virtual. Em condições normais o volume é de 12mL em cada hemitórax, com um fluxo de 5mL/h entre produção/absorção, com cerca de 2 a 3g/dL de proteína. Pode ser classificado em transudato (não inflamatório) ou exsudato (inflamatório ou infeccioso). geralmente estão associadas a complicações secundárias de alguma doença subjacente. FISIOPATOLOGIA Aumento da pressão hidrostática, que acontece na insuficiência cardíaca, faz com que o líquido no vaso passe para dentro do interstício, chegando à pleura. (em condições normais, a pressão osmótico coloidal é a responsável por enviar o líquido de volta aos vasos sanguíneos). Aumento da permeabilidade vascular, como na pneumonia. Diminuição da pressão osmótica, como na síndrome nefrótica. Aumento da pressão negativa intrapleural, como na atelectasia. Diminuição da drenagem linfática, como na carcinomatose mediastinal. A pleura parietal é responsável pela drenagem do líquido em excesso por meio de vasos linfáticos. Derrame pleural transudato (não inflamatório): desequilíbrio entra a pressão hidrostática e a pressão osmótica coloidal Ph>Pco São chamadas também de hidrotórax, podendo ser uni ou bilateral, sendo muito comum na insuficiência cardíaca. O escape de sangue para a cavidade pleural é conhecido como hemotórax. Quando de origem linfática, o líquido derramado se chama de quilotórax (aspecto leitoso). Derrame pleural exsudato (exsudato): aumento da porosidade do vaso, permitindo a saída de proteínas, mudando a dinâmica da pressão osmótica. Tem sua intensidade diferenciada por pleurites serosas, serofibrinosas e fibrinosas. Geralmente são subjacentes a inflamações nos pulmões nos pulmões, como tuberculose, pneumonia, infartos pulmonares, abscessos pulmonares e bronquiectasia (Efusão parapneumônica). Exsudato pleura purulento (empiema): geralmente resulta da semeadura bacteriana ou micótica do espaço pleural. Ocorre por disseminação contínua de infecção intrapulmonar, linfática ou hematogênica e é caracterizado por pus loculado, verde-amarelado e cremoso, composto por massas de neutrófilos mesclados com leucócitos. Além disso, quando ocorrem, afetam a expansibilidade pulmonar. Pleurite hemorrágica: é um exsudato inflamatório sanguinolento provocado por diáteses hemorrágicas, doença de rickéttsias (bactérias incomuns) e neoplasias pleurais e deve ser diferenciado de hemotórax. ETIOLOGIA Principais causas de derrame transudato: 1. ICC (90% dos casos). 2. Síndrome da veia cava superior. 3. Doença hepática crônica (com ou sem ascite). 4. Síndrome nefrótica. 5. Diálise peritoneal. 6. Atelectasia. 7. Pericardite constritiva. 8. Mixedema. Principais causas de derrame exsudato: Grupos Etiologias Infecções Bacterianas, virais, fúngicas, parasitárias, actinomicose, nocardiose Tuberculose pleural Neoplasias Metástases pleurais (tumor de pulmão, mama, TGI, etc) Linfomas Mesotelioma Obstrução vascular e inflamação Embolia pulmonar Gastrintestinais Doença pancreática Abscessos intra-abdominais Perfusão esofágica Doenças autoimunes Pleurite reumatoide Pleurite lúpica Granulomatose com poliangiíte (Wegener) Granulomatose eosinofílica com poliangiite (Churg-Strauss) Induzidas por drogas Síndromes lúpus-símile: hidralazina, isoniazida, procainamida, fenitoína, clorpromazina ou metildopa. Nitrofurantoína, dantrolene, metissergida, bromocriptina, procarbazina, amiodarona, desatinib, etc Outras causas Hemotórax, quilotórax, uremia, após cirurgia de revascularização do miocárdio, radioterapia, síndrome de Meigs ou pseudo- Meigs, associada ao asbesto, sarcoidose e síndrome da unha amarela QUADRO CLÍNICO Dor pleurítica Tosse Dispneia (dependendo da velocidade e do volume de inflamação) AO EXAME FÍSICO Inspeção Abaulamento Desvio contralateral do mediastino Alargamento intercostal Palpação Redução do frêmito toracovocal (técnica do 33) Percussão Macicez (o normal é timpânico) Rebaixamento hepático Ausculta MV reduzidos Sopro pleurítico (geralmente presente em inflamatórios e possui característica a fricção de cabelo) DIAGNÓSTICO RAIO-X DE TÓRAX É o primeiro exame solicitado em casos de suspeita Só é útil se uma quantidade de líquido se acumular nos seios costofrênicos (porção que fica entre o diafragma e a costela), o que requer um volume mínimo de 250 a 500 mL. Achados: obliteração do seio costofrênico; elevação e alteração da conformação do diafragma (retificação de sua porção medial); e hipotransparência nas bases com formação de uma parábola com concavidade voltada para cima. ULTRASSONOGRAFIA Facilita a detecção de derrame devido a alta sensibilidade da técnica, sendo possível verificar pequena quantidade de líquido pleural. Serve como guia para a toracocentese e biopsia. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA É útil na avaliação de patologias associadas ao derrame pleura. Permite observar o espessamento pleural. TORACOCENTESE DIAGNÓSTICA Avalia as características macroscópicas, bioquímicas e citológicas do derrame. É usada para fornecer ou direcionar o diagnóstico. Caso não haja contraindicações (infecções de pele no local de punção e coagulopatias graves) e exista líquido suficiente, todos os pacientes com derrame devem realizar o exame Aspecto macroscópico do líquido Sanguinolento: neoplasia, tuberculose, embolia pulmonar ou trauma. Leitoso: quilotórax, pseudoquilotórax Purulento: empiema Partículas alimentares: rupturas de esôfago Odor de urina: urinotórax Odor fétido: infecção por anaeróbios Turvo: presença de lipídeos, proteínas ou células. TORACOCENTESE DE ALÍVIO Indicada para pacientes com grande DP que esteja causando desconforto ou dispneia. É recomendado a retirada de apenas 1,5L, visto que a retirada de quantidades maiores pode provocar edema pulmonar de reexpansão. Critérios de Light Usado para diferenciar derrames exsudativos de transudativos. A presença de um critério já classifica como derrame exsudativo. Proteína do líquido pleural/proteína sérica > 0,5 LDH do líquido pleura/LDH sérico > 0,6 LDH do líquido pleural > 2/3 do limite superior da normalidade do LDH sérico (sangue periférico) OBS: A toracocentese deve ser associada a punção venosa periférica para a base de dados comparativos. Exames adicionais na análise da toracocentese em derrames exsudativos Glicose: na ausência de doença pleural, o nível de glicose assemelha-se aos níveis séricos. pH: fundamental para o manejo de derrames parapneumônicos. Valores menores de 7,2 apontam para necessidade de abordagem mais agressivas, como toracostomia com drenagem pleural. Adenosina deaminase (ADA): enzima presente em linfócitos e macrófagos de importante investigação de tuberculose pleural (valores superiores a 30U ou 40U). Amilase: usado para suspeita de ruptura do esôfago, pancreatite, pseudocisto panceratico ou prenhez ectópica rota. Triglicerídeos: quilotórax quando apresenta valores maiores que 110mg/dL. Colesterol: utilizado em diagnóstico diferencial entre quilotórax (elevação de triglicerídeos) e pseudoquilotórax (colesterol > 200mg/dL). Citologia total e diferencial: predomínio de neutrófilos (> 50%) é característicode processo pleural agudo; predomínio de linfócitos ( > 50%) descarta tuberculose e processo neoplásico; já nos derrames eosinofílicos (> 10% do total de células), deve-se considerar presença de ar ou sangue na pleura, reação a drogas, doença neoplásica, infarto pulmonar, vasculite ou doença infecciosa. Hematócrito: se maior que 50% do valor sérico, indica hemotórax com necessidade de abordagem cirúrgica; valores entre 1 e 20% sugerem embolia, neoplasia, trauma ou tuberculose. REFERÊNCIAS: BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. ROBBINS, S. L.; COTRAN R.S.; KUMAR, V. Patologia. 9ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Mecanismos de acúmulo de líquido pleural na doença, 2021.
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