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Isabela Abud de Andrade Universidade Nilton Lins LOMBALGIA E LOMBOCIATALGIAS A dor lombar constitui uma causa frequente de morbidade, incapacidade e procura do paciente ao pronto atendimento, sendo sobrepujada apenas pela cefaleia na escala dos distúrbios dolorosos que afetam o homem. - Lombalgias: Dor localizada na coluna lombar. - Lombociatalgias: Dor localizada na coluna lombar com irradiação para os membros inferiores, no dermátomo da raiz que está sofrendo agressão. - A dor deve acompanhar o trajeto da raiz nervosa (nervo ciático) e apresentar características de dor neuropática, como formigamento, parestesia, pontadas, choques. Principais causas de lombalgia relacionada à ortopedia: - Mecânicas (músculos e ligamentos) - Traumas - Tumores - Doenças discais - Espondiloartrose - Doenças reumáticas Exame físico: Para avaliação de lombociatalgia existem músculos chaves dos membros inferiores que direcionam o examinador à raiz nervosa lesionada, por exemplo: - Dor referida no trajeto de L2 -> Testar força muscular dos flexores da coxa - Dor referida no trajeto de L3 -> Testar força muscular dos extensores do joelho - Dor referida no trajeto de L4 -> Testar força muscular dos extensores do tornozelo - Dor referida no trajeto de L5 -> Testar força muscular dos extensores do hálux - Dor referida no trajeto de S1 -> Testar força muscular dos flexores do tornozelo e hálux Teste de elevação da perna estendida Teste de Lasegue: - Consiste na elevação do membro inferior(flexão de quadril)estendido sobre a bacia na altura de 30º a 60º, que acarreta estiramento do nervo ciático. Se houver compressão, ocorre dor no trajeto do nervo referido, assim sendo sugestivo de uma lombociatalgia. - Lasegue positivo ocorre quando o paciente refere dor com elevação de 30 ̊ a 60 ̊, caso o paciente relate dor somente com elevação superior a 60 ̊ acredita-se que seja por estiramento muscular, mas não do nervo ciático em si. Diagnóstico por imagem: - Radiografias: - Indicações de radiografia para pacientes com lombalgia no pronto atendimento: - Históricodetrauma - Histórico de tumor e neoplasias - Histórico de infecção (pielonefrite, por exemplo) - Idosos - Indicações de radiografia para pacientes com lombalgia a nível ambulatorial: - Condições crônicas - Histórico de esforço mecânico ou má postura - Incidências: AP e perfil - O que avaliar: - Número de vértebras - Desvio de linha média (escoliose, por exemplo) - Espaços intervertebrais - Pedículo (“olho da coruja”) - Processos espinhosos (“bico da coruja”) - Processos transversos - Alinhamento dos corpos vertebrais Tomografias: - Proporciona avaliação mais detalhada do tecido ósseo. - Lesões osteoblásticas podem ser melhor avaliadas através das tomografias, visto que possuem maior densidade, assim apresentam aspecto mais esbranquiçado que o osso normal, como pode ser observado nas imagens. - Já lesões osteolíticas, apesar te também serem melhor avaliadas através da tomografia, essas apresentam menor densidade, assim apresentando aspecto mais escurecido que o osso normal. Ressonância magnética: - Proporciona uma avaliação mais detalhada dos tecidos moles, como os ligamentos, músculos e discos. - Exemplos: Hérnia de disco, degeneração discal, processos inflamatórios. - Na RM, os discos saudáveis apresentam aspecto mais claro, assim quando for observado um disco com aspecto mais escurecido é indicativo de ressecamento e desidratação, que quando em estágios mais evoluídos pode desencadear na formação de hérnias de disco. Cintilografia óssea: - Realizada para detectar lesões ósseas em decorrência de tumores, cânceres, metástases ou fraturas. - Também podendo ser indicado para o diagnóstico de: - Infecção (osteomielite) - Inflamação dos ossos - Doenças osteometabólicas (displasias, raquitismo) - Alterações/problemas de circulação sanguínea - Avaliação de próteses Lombalgia mecânica: - Dor localizada na musculatura e/ou ligamentos da coluna lombar ocasionada por sobrecarga mecânica (má postura e problemas de ergonomia), sedentarismo ou excesso de atividades físicas, esforços físicos, entre outros). - Considerada a mais comum entre as lombalgias. - Tratamento - Conservador: - Repouso AINE - Relaxante muscular - Fisioterapia (anti-inflamatória e antiálgica) - Exercícios de alongamento e fortalecimento muscular - Correção da etiologia Deformidades decorrentes de alterações biomecânicas: - Graduação da postura (má postura): - A linha média (linha do equilíbrio) passa a frente a coluna lombo-sacra, conquanto a medida que o indivíduo adquire alterações posturais, essa linha começa a se deslocar para anterior ou posterior, podendo evoluir com processos patológicos de cifose e lordose. - Cifose (Torácica e Sacral): Termo utilizado para descrever as curvas com a concavidade para a parte anterior do corpo. Alguns graus cifose são normais (entre 20-50 graus na coluna torácica por exemplo) porém graus acentuados (hipercifose) são considerados patológicos e podem cursar com sintomas diversos. A curvatura cifótica grave pode afetar os pulmões, nervos e órgãos, causando dor e desequilíbrio para andar, com excesso de esforço realizado pela musculatura dorsal e consequentemente dor crônica. Existem vários tipos de cifose, e a condição pode ser encontrada em crianças, adolescentes e adultos, sendo apresentada geralmente como uma "corcunda" na região da coluna torácica. - Lordose (Cervical e Lombar): Curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, presente na coluna lombar e cervical. No entanto, é também o nome popular do desvio que acentua essa angulação. A condição é marcada por uma maior projeção “para dentro” da coluna, o que podemos chamar ainda de hiperlordose. - A linha do centro de equilíbrio deslocada faz com que a musculatura seja forçada, gerando uma descompensação biomecânica que leva a lombalgias e lombociatalgias. Escoliose: - Desvio lateral e rotação da coluna a partir da linha média. - Trata-se de uma deformidade “silenciosa”, ou seja, a escoliose por si só não causa dor, porém o sintoma pode ser referido em casos mais avançados, de longo prazo e quando já associado a outra alteração, como artrose. o A Escoliose nem sempre é perceptível, tornando-se perceptível apenas quando a curva progride significativamente. - Sinais indicativos: - Ombros ou quadris (cintura) assimétricos - Tronco inclinado para o lado, resultante do encurvamento da coluna lateralmente - Clavícula proeminente - Cansaço e dor nas costas após longo tempo sentado ou de pé - Existem diferentes tipos de escoliose estrutural: - Escoliose Congênita - Escoliose Neuromuscular - Escoliose Paralítica - Escoliose Lombar Degenerativa - Escoliose Idiopática - A escoliose idiopática é sem dúvida a mais frequente e pode ocorrer em qualquer fase da infância. - Na radiografia AP do paciente com escoliose não é possível observar com clareza os 2 pedículos (olhos da coruja) devido a rotação da vértebra. Hiperlordose: - Convexidade anterior de um segmento da coluna. - Condição com durante a gravidez. - Patologia que pode se manifestar de forma assintomática, embora alguns casos também possam apresentar lombalgia e diminuição da flexibilidade da coluna lombar. Hipercifose: - Convexidade posterior de um segmento da coluna. - A instalação da deformação habitualmente ocorre de forma lenta, com dor, sensibilidade e rigidez da coluna vertebral; conquanto, alguns casos podem não apresentar sintomas. • Ergonomia: Ciência que estuda as adaptações do trabalho para que os funcionários possam desenvolver as atividades de maneira segura e eficiente. Para isso, são considerados fatores como características físicas, fisiológicas e psicossociais dos trabalhadores e do ambiente de trabalho. • Posturas corretas no dia-a-dia: - A postura correta para dormir seria uma posição que mantéma curvatura na região lombar e deixa a coluna em posição neutra. - Logo, o recomendado é dormir em decúbito lateral ou decúbito dorsal, sempre mantendo a coluna, o pescoço e a cabeça alinhados. - Todavia, em relação a trato gastrintestinal, o decúbito lateral direito deve ser evitado quando possível, visto que por razões anatômicas pode interferir na digestão e favorecer episódios de refluxo. • Doenças Discais: - Fisiopatogenia: Diminuição do número de proteoglicanos no interior do núcleo pulposo o que leva a uma desidratação e diminuição da sua capacidade de absorção e distribuição de impactos, propiciando a formação de fissuras no anel fibroso com extravasamento do núcleo pulposo, ocorrendo assim, a formação das herniações discais. - As discopatias podem ser: - Protrusão discal ou hérnia discal - Abaulamento discal - Discopatia degenerativa - Discopatia degenerativa: - É uma consequência do envelhecimento fisiológico do disco, em que há uma desidratação discal, levando a uma alteração do seu formato original. - Essa alteração se caracteriza por apresentar um disco mais rígido, abaulamento discal e diminuição da espessura do disco que leva a uma redução dos espaços intervertebrais. - Paciente com discopatia degenerativa possuem maior risco de desenvolver hérnias de disco. - Classificação das hérnias de disco: - Contida (abaulamento ou protrusão): A distância da altura da hérnia é menor que a da sua base em qualquer um dos planos. - Extrusão: Quando a distância da base é menor que a altura da hérnia. - Sequestrada: Quando não há continuidade do material herniado e o disco intervertebral. - Classificação topográfica: - Mediana - Paramediana (raiz - Foraminal (raiz emergente) - Extraforaminal (raiz do nível superior) - Tratamento: - Conservador: - AINE - Analgésicos opióides Relaxantes musculares - Medicamentos para dor neuropática (antidepressivos tricíclicos: amitriptilina, gabapentina) - Fisioterapia - Acupuntura pode ajudar no alívio da dor - Cirúrgico: - Quando não há alívio dos sintomas em três meses com tratamento conservador - Quando há piora neurológica - Síndrome da cauda equina: Única condição em que o tratamento cirúrgico é feito a nível de urgência. Paciente apresenta paraparesia ou paralisia de MMII, anestesia em cela (períneo) e descontrole esfincteriano vesical e anal. - Tratamento cirúrgico para hérnia de disco: - Minimamente invasivo: - Infiltração com corticoide - Mini incisão - Discectomia porvídeo - Hemilaminectomia Lombalgias Traumáticas: - A dor lombar de origem traumática pode ou não estar associada a fratura das vértebras. - A fratura de coluna é uma condição frequente em acidentes automobilísticos ou motociclísticos e quedas com altura. - O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. - Não são todas as fraturas que coluna que serão tratadas com procedimento cirúrgico. Fraturas por osteoporose em idosos, por exemplo, são tratadas de forma conservadora com o uso do “colete de Putti”. Já fraturas em pacientes mais jovens que também é indicado o tratamento conservador é utilizado o “colete de Jewett”. E paciente que não possuem condições financeiras para comprar um desses mencionados, pode ainda ser feito um colete gessado. - O tratamento cirúrgico tem sido indicado nos pacientes que apresentam lesão neurológica, compressão do canal vertebral superior a 50%, redução da altura do corpo vertebral maior que 50%, cifose superior a 30o ou translação vertebral, que são sinais indiretos de instabilidade do segmento vertebral. - O tratamento conservador está indicado de modo geral nas fraturas que não apresentam as características de instabilidade do segmento vertebral acima mencionadas, que não mostram lesões neurológicas ou ainda em situações especiais em que existam contraindicações para o tratamento cirúrgico. Lombalgias por Espondiloartrose e Estenose do Canal Vertebral: - Ambas são de origem degenerativa. - Espondiloartrose lombar: - É um tipo de doença degenerativa da coluna vertebral que inclui duas patologias distintas, mas relacionadas, que é a espondilose, doença degenerativa discal ou artrose e a osteoartrite das articulações interapofisárias posteriores. - A etiopatogênese do processo degenerativo discal está relacionada a alterações que ocorrem no núcleo pulposo e com fissuras que ocorrem no anel fibroso com posterior diminuição do espaço intervertebral e formação de osteófitos. - As articulações interapofisárias posteriores podem sofrer do mesmo processo degenerativo articular ou osteoartrose de uma articulação sinovial. A cartilagem articular das facetas articulares sofre fibrilação, amolecimento e o osso subcondral se eburnifica (conversão de cartilagem articular em tecido ósseo) podendo aparecer osteófitos. - Estudos mostraram que a idade é o principal fator etiológico da espondiloartrose lombar. - Quadro clínico: - Pode se apresentar como uma dor lombar isolada, mas que na maioria dos casos evolui com uma claudicação neurogênica, que seria dor lombar com irradiação para o membro inferior no dermátomo da raiz acometida, que piora com a posição de extensão (diminui o diâmetro do canal) e melhora na posição fletida da coluna (aumenta o diâmetro do canal lombar). Comumente gera incapacidade locomotora ao paciente. - Estenose de Canal Lombar - Tipos de canal: - Ovóide - Triangular - Trevo - Não há um tratamento conservador que seja totalmente eficaz para essas condições. O mesmo é voltado basicamente à sintomatologia, com associação de analgésicos, AINE e fisioterapia, sendo que o tratamento definitivo é somente cirúrgico. - Tratamento cirúrgico: Laminectomia ampla com exérese dos osteófitos e ligamentos espessados da área estenótica do canal (ampulheta), mais ampliação do forame vertebral para liberação da raiz acometida, seguido de artrodese com instrumentação, para que haja estabilização da coluna. • Lombalgias por Espondilolisteses: - É o escorregamento ou a luxação de um corpo vertebral sobre o outro; representando uma fora relativamente frequente de instabilidade da coluna vertebral. - O termo espondilolistese é derivado do termo “espondilo”, que significa vértebra, e “listese”, que significa escorregamento. - Classificação: - Ístmica - Traumática - Degenerativa - Defeitos congênitos ou displásica - A espondilolistese ístmica é o tipo mais comum, a mesma ocorre por um defeito nas porções interarticulares, que pode ser de natureza congênita ou devido a lesões ocorridas na infância. - Na maioria dos casos, o escorregamento entre as vértebras acorre de forma gradual e lenta; não obstante, nem todos pacientes apresentarão compressão das fibras nervosas, assim é comum que a queixa de lombalgia, mas nem sempre estando associada à lombociatalgia. - O diagnóstico pode ser feito com raio x simples, mas a tomografia computadorizada e a ressonância magnética fornecem informações relevantes para instituir o tratamento. - Tratamento: - O tratamento cirúrgico está indicado quando há falha no tratamento clínico conservador, instabilidade radiológica com presença de sintomas neurológicos, piora progressiva da listese, listese de 50% ou lombalgias incapacitantes. - Existem várias técnicas cirúrgicas, mas o objetivo é sempre o mesmo, que é a descompressão das estruturas nervosas e estabilização da coluna. • Lombalgias por Tumores na Coluna: - Podem ocorrer devido a tumores primários da coluna vertebral ou tumores metastáticos. - Em relação aos tumores metastáticos, os mais comuns são tumores de mama com metástase para coluna torácica e tumores de próstata com metástase para coluna lombo-sacra. - Os tumores primários da coluna vertebral, isto é, com origem na própria vértebra, são lesões raras e podem ser benignos ou malignos. Por outro lado, as metástases e os tumores hematológicos, como o mielomamúltiplo, são frequentemente encontrados na prática clínica. - Os sintomas são variados e muitas vezes silenciosos, ou seja, os pacientes não apresentam queixas. Podem apresentar dor persistente na coluna vertebral ou com irradiação para os braços e pernas, perda de peso e sintomas neurológicos como perda de força e sensibilidade. Importante salientar que lombalgias por tumores na coluna comumente se manifestam com dores noturnas, não sendo característica de esforço excessivo, má postura (paciente passa o dia bem e durante o sono desperta devido a quadro álgico). - O tratamento é variável e individualizado, sendo que alguns casos necessitam que primeiro seja feita a estabilização da coluna, para em seguida ser feita a radioterapia.
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