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Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 1 Ortopedia LOMBALGIA OBJETIVOS 1. Revisar a anatomia da coluna vertebral; 2. Estudar a fisiopatologia da lombalgia; 3. Estudar os tipos de lombalgia; 4. Estudar os tipos de lombalgia; 5. Estudar os sintomas associados; 6. Estudar o Diagnóstico e Tratamento. MORFOLOFIA DA COLUNA A nossa coluna vertebral é constituída de 33 vértebras distribuídas da seguinte forma: • 7 Cervicais • 12 Torácicas • 5 Lombares • 5 sacrais • 4 Formando o Cóccix O conjunto das vértebras e dos discos intervertebrais forma a coluna vertebral, o esqueleto do pescoço e do dorso, que é a principal parte do esqueleto axial (isto é, os ossos articulados do crânio, coluna vertebral, costelas e esterno). A coluna vertebral estende-se do crânio até o ápice do cóccix. No adulto, tem 72 a 75 cm de comprimento, sendo aproximadamente 1/4 formado pelos discos intervertebrais, que estão situados entre as vértebras e as mantêm unidas. Função da coluna vertebral: • Protege a medula espinal e os nervos espinais • Sustenta o peso do corpo superior no nível da pelve • Garante um eixo parcialmente rígido e flexível para o corpo e uma base alargada sobre a qual a cabeça está posicionada e gira • Tem um papel importante na postura e locomoção (o movimento de um local para outro) • Os discos intervertebrais, além dos outros ligamentos, têm uma função primordial na manutenção da postura, sendo dividido em duas partes: núcleo pulposo e anel fibroso. Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 2 Ortopedia Quando uma carga é aplicada ao disco vertebral ocorre uma diminuição de espessura em curva exponencial, que sugere uma certa desidratação do volume do disco. As forças de compressão sofridas pelo disco são mais importantes à medida que se aproximam do sacro, devido ao peso corporal que a coluna suporta. O progressivo achatamento desses discos vai provocando artrose com os anos. As raízes são constituídas por feixes de axônios que chegam ou saem da medula (respectivamente raízes posteriores e anteriores), estando situadas entre a aracnoide e a pia, portanto, no espaço subaracnóideo preenchido por liquor. Em cada segmento espinhal, um par de raízes, anterior e posterior, se une após o gânglio raquidiano posterior para formar um nervo misto, que se divide em um ramo fino dorsal e um ramo grosso ventral. O primeiro inerva os músculos paraespinhais da região cervical, torácica e lombossacra e a pele sobre estas áreas. O último, o ramo anterior longo, contribui para a formação dos plexos braquial e lombossacro, e, assim, inerva as extremidades. Trinta e um pares de nervos espinhais saem da medula: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo. As vertebrais cervicais são sete, mas há oito nervos cervicais. As raízes de C1 a C7 saem acima das respectivas vértebras, enquanto a raiz C8 e as raízes torácicas, lombares e sacrais saem abaixo das vértebras correspondentes. NÚCLEO PUPOSO: - Parte central; - Sustância gelatinosa e formada por mucopolissacarídeos; - Substâncias ligadas a proteínas; - Não recebe terminações nervosas e nem vasos sanguíneos; - Pressão no núcleo nunca é nula devido à substância “aquosa” presente ANEL FIBROSO: - Região periférica; - Fibras concêntricas que se entrecruzam obliquamente, mais verticais na periferia e mais horizontais à medida que se aproximam do núcleo; Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 3 Ortopedia Em adultos, a medula espinhal é muito mais curta que a coluna espinhal, que termina entre L1 e L2, portanto as raízes anteriores e posteriores descem abaixo da medula espinhal para atingir o forame intervertebral formando a cauda equina. SÍNDROME COMPRESSIVA A maioria das dores lombares é causada pelo “mau uso” ou “uso excessivo” das estruturas da coluna que resultam em entorses e distensões. Esforços repetitivos, excesso de peso, pequenos traumas, condicionamento físico inadequado, erro postural, posição não ergonômica no trabalho e osteoartrose da coluna (com o passar do tempo, as estruturas da coluna vão se desgastando, podendo levar à degeneração dos discos intervertebrais e articulações). É comum em trabalhadores braçais. Outras causas incluem doenças inflamatórias como a espondilite anquilosante, infecções, tumores, etc. A dor é geralmente o primeiro sintoma da compressão medular, mas os achados motores (geralmente fraqueza) e sensoriais estão presentes na maioria dos pacientes no diagnóstico. A disfunção intestinal e / ou da bexiga geralmente são achados tardios. ETIOLOGIAS: Hérnia de disco, espondilite anquilosante, neoplasias, espondiloartrose, osteofitose, osteoporose idiopática e senil. SINAIS E SINTOMAS: Dor Rigidez muscular Manifestações sistêmicas O termo “dermátomo”, que deriva do grego dema (pele) e tome (segmento), é usado para definir um segmento da pele que recebe inervação sensitiva de uma raiz nervosa ou de um nervo. Miótomo, similar ao dermátomo, é utilizado para descrever todos os músculos que recebem inervação por um único segmento espinhal ou nervo. !! Os processos degenerativos costumam acarretar dor de pequena a média intensidade, enquanto as hérnias e neoplasias de alta intensidade. !! Os processos degenerativos e metabólicos têm uma localização múltipla. Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 4 Ortopedia PATOLOGIAS HÉRNIA DE DISCO Em certas condições, especialmente nos movimentos bruscos de flexão e de torção da coluna, o núcleo pode romper o anel fibroso, herniando-se. O seu contato com a raiz nervosa pode determinar compressão ao nível da emergência da raiz ou no seu trajeto no buraco de conjugação. A hérnia de disco ocorre geralmente em indivíduos jovens, na faixa etária dos 30 aos 40 anos, quase sempre de modo súbito. As principais causas são os esforços físicos com a coluna em má posição e os microtraumas repetidos. Os locais mais frequentes são os espaços entre C4/CS e C5/C6 na região cervical e L4/LS e 15/S 1 na região lombar, local em que a mobilidade é maior e, consequentemente, o desgaste é mais precoce. Em geral, a compressão faz-se em uma única raiz nervosa, porém pode ocorrer em várias delas, dependendo do tamanho e da posição da hérnia. O sintoma principal é a dor intensa no local da hérnia com irradiação para os membros superiores ou inferiores, de acordo com a topografia, cervical ou lombossacra, da raiz comprimida. A dor pode ter o caráter de "choque elétrico" e comumente imobiliza o paciente, impedindo-o de se locomover e, às vezes, não o deixando dormir. Em outras ocasiões, surge apenas dolorimento ou sensação de peso no pescoço, no braço (coluna cervical), na região lombar ou na perna (coluna lombossacra). A palpação das linhas espondileia ou paraespondileia provoca dor na região próxima ao disco herniado e, por vezes, difusamente em toda a extensão do segmento afetado. OBSERVAÇÕES DOR REFERIDA: Aquela que é percebida na coluna vertebral, mas sua origem não é ali. RIGIDEZ: Principalmente a pós repouso, ocorre em doenças inflamatórias e degenerativas. Porém, a de origem inflamatória é mais persistente, o paciente levanta queixando dor na coluna e permanece ao longo do dia, diferente das de origem degenerativas. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS: Deve indagar-se a respeito da sua presença ou não, tais como: febre, anorexia e perda de peso. A dor é exacerbada pela tosse, pelo espirro, pela evacuação, pela micção e pela movimentação da coluna Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 5 Ortopedia A contratura manifesta-se por rigidez muscular e por perda da lordose fisiológica da coluna cervicalou lombar. Observam-se, também, áreas de hipo ou hiperestesia nos membros, de distribuição variável de acordo com as raízes e os dermátomos envolvidos. Os reflexos na dependência da raiz lesada também podem estar diminuídos ou até ausentes. ESPONDILITE ANQUILISANTE É uma doença crônica, de natureza inflamatória, de etiologia desconhecida, que afeta adultos jovens (15 a 40 anos), predominante no sexo masculino. Atualmente, admite-se que, no seu aparecimento, haveria uma interação entre fatores infecciosos, ambientais e genéticos. A sua frequente ligação com o antígeno HLA-B27 tem aberto novas perspectivas para seu melhor entendimento. Caracteriza-se pelo comprometimento inicial das articulações sacroilíacas que evoluem para ancilose, para artrite das articulações sinoviais da coluna vertebral e para calcificação dos ligamentos vertebrais. Entre as manifestações clínicas, destacam-se a rigidez matinal e a dor localizada, a princípio, nas articulações sacroilíacas, mas com tendência a comprometer toda a coluna vertebral, podendo levar o paciente posição de esquia à dor. O quadro clínico pode assemelhar-se ao da artrite reumatoide quando há comprometimento das articulações periféricas. Podem aparecer lesões extra articulares, entre as quais se destacam a insuficiência aórtica, a uveíte e a fibrose pulmonar. ESPONDILOARTROSE A espondiloartrose, também chamada de artrose da coluna vertebral, caracteriza-se pela degradação do disco intervertebral, das facetas articulares e dos ligamentos, acomentendo ambos os sexos, com maior frequência nas faixas etárias acima dos 30 anos. À radiografia, observam-se degradação do disco, proliferação óssea marginal, com formação dos osteófitos ("bicos de papagaio"), e esclerose óssea subcondral das vértebras envolvidas. Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 6 Ortopedia Os segmentos mais comprometidos são os de maior mobilidade, ou seja, regiões cervical e lombossacra. Os principais sintomas são a dor e a limitação dos movimentos. A dor assume características especiais de conformidade com a região afetada. Muitas vezes, pode haver obstrução dos forames de conjugação, levando à compressão radicular com dor irradiada para os membros, para o tórax e para a cabeça (cervicalgia, dorsalgia e lombalgia). Na espondiloartrose sacrolombar, além de lombalgia, costuma haver dor irradiada para membros inferiores (lombociatalgia). Observam-se também parestesias (dormência, formigamento) e, nos casos mais avançados, podem surgir sintomas de compressão nervosa. O diagnóstico baseia-se nos exames clínico e radiológico. Os testes laboratoriais são normais. OSTEOPOROSE IDIOPÁTICA E SENIL Devido o tecido ósseo está em constante atividade, podemos apresentar alguns distúrbios em seu funcionamento. A osteoporose é uma doença marcada por um comprometimento e redução da matriz óssea, predispondo a um aumento no risco de fraturas, sendo, portanto uma doença sistêmica. O processo de osteoporose avança com a idade e é por si só algo assintomático, porém, alguns pacientes podem apresentar fraturas, rigidez e dificuldade dos movimentos da coluna. As principais manifestações clínicas da osteoporose da coluna são dor nas costas e na região lombar, além de deformidades secundárias às fraturas. Entre os achados mais comuns podem está o colapso vertebral, compressão bicôncava, acunhamento anterior e também uma hérnia do núcleo pulposo para dentro do canal vertebral, chamado de hérnia de Schmorl. Lembrar que a primeira manifestação dessa doença pode ser uma fratura. DIAGNÓSTICO - Densidometria Óssea; - Raio-x (O paciente provavelmente já está com 30-40% da sua massa óssea comprometida); - Outros exames laboratoriais: T3 e T4, fosfatase alcalina, cálcio, fósforo sérico, VHS, Sedimento Urinário, Calciúria e Fosfatúria de 24h; A dor por uma fratura de vértebra é localizada, intensa e que alivia em decúbito dorsal ou lateral e agrava com paciente de pé. Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 7 Ortopedia INFECCIOSA: TUBERCULOSE NA COLUNA É um diagnóstico diferencial importante para avalição dessas síndromes, sendo decorrente de um processo infeccioso pelo Mycobaterium Tuberculosis que chega até lá, normalmente por um aporte sanguíneo. O processo infeccioso estende-se por meio dos ligamentos longitudinais anteriores e posteriores até a parte periférica dos respectivos discos. CLÍNICA -Pouco expressiva; -No início uma dor discreta e noturna; -Com a progressão a dor é intensa e reduz os movimentos; -Forma uma Giba Pótica; EXAMES DIAGNÓSTICO - Rx: Destruição dos discos intervertebrais; - Formação de abscessos; OSTEOFITOSE OU BICO DE PAPAGAIO Acomete a coluna vertebral, correspondendo a uma das manifestações da artrose. A osteofitose ou bico de papagaio, se forma ao redor das articulações, deixando os ligamentos e músculos que cercam a bacia mais rígidos. Essas alterações surgem em decorrência da desidratação do disco intervertebral, favorecendo a aproximação das vértebras e tornando possível a compressão das raízes nervosas. De modo geral, os osteófitos podem ser considerados um tipo de defesa do organismo, visando absorver a sobrecarga exercida sobre as articulações e tentando, assim, estabilizar a coluna vertebral. Fatores desencadeantes: Estresse, Alcoolismo, Tabagismo, Má postura, Sedentarismo, Fatores Genéticos. Considerações gerais sobre lombalgia - Ao exame, investigar idade, profissão e características semiológicas da dor; - Perguntar se irradia ou não para o nervo ciático, se sim: lombociatalgia, se não: lombalgia comum; - Normalmente a mobilização da coluna normalmente piora a dor; - Pode ser aguda ou desencadeante de um esforço físico; - Avaliar por um RaioX inicialmente em 2 posições: frente e perfil; - Radiografia normal não afasta o diagnóstico; - Compressão medular grave: Síndrome da cauda equina, com anestesia em sela da região perineal, incontinência de esfíncteres, déficits neurológico, sensorial e motor nos MMII; - Eletromiografia auxilia no diagnóstico, mas o padrão ouro é TC ou RM; Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 8 Ortopedia RADICULOPATIAS Radiculopatia é uma condição neurológica caracterizada por disfunção das raízes nervosas. Clinicamente se manifesta com dor na coluna que se irradia para a(s) extremidade(s), com combinação de deficit sensitivo e/ou motor, ou alteração dos reflexos profundos na distribuição da(s) raiz(es) afetada(s). Banhadas pelo líquido cefalorraquidiano, as raízes nervosas também podem sofrer lesões por infecção, inflamação e neoplasias que envolvem as leptomeninges. Nesta localização, a barreira hematoencefálica é incompleta, deixando-as vulneráveis também às lesões por neurotoxinas ou autoanticorpos. As compressões por hérnias discais e os processos degenerativos são as principais causas de radiculopatia. Aproximadamente dois terços dos adultos sofrem dor lombar ou cervical e frequentemente acompanhada de radiculopatia. Atualmente é a quinta causa de consulta médica. Nas doenças das raízes nervosas encontraremos anormalidades no liquor, na eletroneuromiografia (ENMG) por agulha e nos estudos de neuroimagem, notadamente na ressonância magnética (RM) da coluna espinhal. HISTÓRIA NATURAL Os fatores de risco mais importantes são: sexo masculino, história prévia de dor lombar ou cervical, fatores recreacionais ou laborais. História de trauma tem sido associada a radiculopatia cervical, mas não a radiculopatia lombar. Embora haja relação entre obesidade e dor lombar, esta associação parece não existir nas radiculopatias. Vários estudos apresentam associação genética do tamanho do canalmedular com ocorrência de hérnia de disco e subsequente radiculopatia. No que diz respeito a fatores ocupacionais, a radiculopatia ocorre com mais frequência nos indivíduos que realizam trabalhos manuais, que ficam em flexão lombar prolongada ou rotação e que se dedicam a conduzir veículos por muito tempo. Os fatores de mau prognóstico eram sexo masculino, problemas psicológicos, licença médica mais de 3 meses antes da apresentação e história prévia de radiculopatia. SINAIS E SINTOMAS No diagnóstico da radiculopatia, a determinação do déficit sensitivo observada sobre um segmento de pele é de extrema importância para seu diagnóstico. Devemos levar em consideração diferentes condições que podem variar os dermátomos: a) diferentes estruturas anatômicas podem produzir diferentes dermátomos; b) fibras nervosas transmitindo sensações de diferentes modalidades na mesma área da pela podem derivar de diferentes nervos ou raízes; Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 9 Ortopedia c) a mesma área de pela pode receber inervação de mais de um nervo ou segmento medular, explicando por que a ressecção de um nervo pode não perder a sensibilidade. Nestes pacientes, uma avaliação neurológica detalhada seria feita incluindo testes de avaliação manual da força para determinar a distribuição da fraqueza (miótomo) acompanhada de testes sensitivos para demonstrar a distribuição do deficit sensitivo (dermátomo). Quando existe correlação na suspeita de radiculopatia entre o déficit sensitivo com a fraqueza muscular no mesmo nível anatômico, isto leva ao diagnóstico de um envolvimento radicular baseado no exame físico. Pacientes com radiculopatia podem ter o exame físico normal. Para provocar fraqueza muscular há necessidade de uma degeneração axonal ou bloqueio da condução de uma grande proporção de axônios. Somando-se a isto, existe sobreposição das fibras motoras entre as raízes, portanto, a força muscular pode estar conservada se axônios de outras raízes permanecem intactos. Com relação às características da dor, devem-se investigar: a intensidade e o horário de seu aparecimento; a relação existente entre a dor e a atividade corporal e/ou o repouso; uma possível associação a queixas sistêmicas, chamadas “sinais de alerta”, como febre, calafrios, emagrecimento, anemia, disúria, massa abdominal ou outros achados; o tipo de irradiação da dor, se existe distribuição dermatomérica ou não; se a dor é de origem raquidiana ou extrarraquidiana e as características psicossomáticas da dor. Sinais de alerta para diagnóstico de radiculopatia (“Bandeira vermelha”) Indicando possíveis doenças subjacentes • Início < 20 ou > 55 • Dor não mecânica (sem relação com atividade física), constante e progressiva • Dor torácica • História prévia de carcinoma, HIV, uso de esteroide ou imunossupressor • Mal-estar • Perda de peso • Sintomas neurológicos difusos • Deformidade na coluna espinhal • Indicadores de lesão radicular • Dor lombar com irradiação para uma perna • Irradiação para o pé e dedos • Dormência e parestesia numa mesma distribuição • Teste de estiramento da perna provoca dor • Deficit neurológico limitado a uma raiz Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 10 Ortopedia RADICULOPATIA LOMBAR A síndrome radicular lombossacra, também conhecida por ciática, é caracterizada por dor lombar irradiada para um ou mais dermátomos lombar ou sacral, podendo ou não estar acompanhada com sinais ou sintomas deficitários. Quando não há déficit neurológico, sensitivo ou motor, chama-se dor radicular. A presença de sinais deficitários caracteriza a radiculopatia. A síndrome radicular lombossacra não deve ser confundida com dor lombar, definida como dor, tensão muscular ou rigidez localizada entre a margem costal e a linha glútea inferior. Na dor lombar, além das causas específicas (hérnia de disco, infecção, artrite reumatoide, fratura, tumor), vamos encontrar a dor lombar não específica que, como o nome diz, não tem causa específica. A história clínica é de dor irradiada do tipo queimação, ardente, furando, latejando, podendo ser aguda ou gradual. Em alguns casos, há piora súbita de um quadro crônico. Ela pode ser espontânea ou surgir após um incidente específico. Quando causada por hérnia de disco, classicamente aumenta com movimento de se curvar para a frente, sentar, tossir e pode ser evitada ao deitar ou algumas vezes por andar. A dor é acompanhada de parestesias no dermátomo da raiz envolvida. Na ciática clássica, com envolvimento das raízes L5 ou S1, a dor se irradia pela face posterior da perna até o pé. Nas lesões mais altas, como L3 ou L4, a dor se irradia para a face anterior da coxa. Diretrizes do Primeiro Consenso Brasileiro sobre lombalgias e lombociatalgias 1. Deve-se avaliar se a dor aparece de manhã ou no decorrer do dia, lembrando que, nas hérnias discais e lombalgias de causa inflamatória, ela ocorre pela manhã. No canal estreito artrósico, pode também iniciar de manhã e piorar ao longo do dia. 2. No osteoma osteoide, a dor aparece de madrugada. 3. Nas espondiloartropatias, a dor é matinal, projeta-se nas nádegas, melhora ao longo do dia e às vezes desaparece à tarde. 4. Na lombalgia mecânico-degenerativa, a dor aparece com os movimentos, no fim da tarde após o trabalho e se relaciona com estresse físico e emocional. 5. Quando as lombalgias e lombociatalgias surgem acompanhadas de “sinais de alerta” (queixas sistêmicas), é necessário fazer anamnese de outros órgãos e sistemas. 6. A dor raquidiana geralmente tem relação com os movimentos da coluna; a a extrarraquidiana não tem (p. ex., cólica renal). 7. Nas compressões radiculares, a dor obedece quase sempre a um trajeto dermatomérico. Algumas vezes, isso pode não ocorrer (superposição de dermátomos e esclerótomos). 8. Nas hérnias de disco centrais, pode não haver dor irradiada. Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 11 Ortopedia SINAIS DE RADICULOPATIA LOMBAR RAIZ DOR PERDA DA SENSIBILIDADE FRAQUEZA/ATROFIA REFLEXOS S1 Face posterior do membro inferior até o calcanhar Face posterior da perna, lateral do pé até o hálux Gastrocnêmio; flexores dos dedos; bíceps femoral; glúteo máximo Diminuição ou abolição do aquileu L5 Face posterior e lateral do membro inferior Face lateral do membro inferior e anterolateral do pé. Extensor e flexor dos dedos; dorsoflexão, inversão e eversão dos pés; abdutores do quadril. Alteração incomum L4 Face anterior da coxa Face anterior da coxa com extensão abaixo do joelho Adutores do quadril; quadríceps; tibial anterior Diminuição ou abolição do patelar L3 Face anterior da coxa Face anterior da coxa Iliopsoas; quadríceps; adutores do quadril Diminuição do patelar TESTE PROVOCATIVO Teste da perna estendida ou sinal de Lasègue ou sinal de Lazarevi: O teste é realizado com o indivíduo em posição supina, que levanta a perna com o joelho estendido até começar a sentir dor; neste ponto o ângulo da elevação é medido. O sinal é dito positivo quando provoca dor radicular irradiada pela face posterior da perna, abaixo do joelho, em um ângulo de 30ª a 70ª. Dor abaixo de 30ª ou acima de 70ª normalmente não seria por irritação radicular, sendo mais provável ser secundária a contratura muscular. Sinal de Laèegue cruzado: Dor, na perna afetada, quando a perna oposta é elevada. Este sinal cruzado positivo é muito específico para hérnia de disco, mas pouco sensível. Sua presença indica pouca resposta ao tratamento conservador. Sinal de Braggard: Classicamente, trata-se do desencadeamento da lombociatalgia durante a dorsoflexão do tornozelo junto com flexão do pescoço. Sinal do arco de corda: Levanta-se a pernado paciente, como na manobra de Lasègue, até que a dor apareça; nesse momento, faz-se uma flexão do joelho. Havendo redução e/ou Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 12 Ortopedia desaparecimento da dor, o sinal é considerado positivo para o diagnóstico de hérnia discal. Slump test: É a reprodução da lombociatalgia em posição sentada, com o joelho estendido combinado com a flexão do tronco e do pescoço. É mais sensível que a presença de sinal de Lasègue, porém é menos específico para hérnia de disco lombar. Sinal de extensão negativo: É descrito como a habilidade de alcançar a plena extensão lombar passiva. É útil como um preditor clínico à resposta ao tratamento conservador. Teste do estiramento do nervo femoral: Com o paciente em decúbito ventral, o examinador flexiona passivamente o joelho do paciente. O teste é positivo quando ocorre dor na face anterior da coxa por estiramento das raízes L2 a L4. Portanto, trata-se de um teste que avalia as raízes lombares altas. Sinais não orgânicos: Testes usados para identificar pacientes com disfunções não orgânicas ou funcionais. (a) regional: sintomas com distribuição difusa divergente da aceitável neuroanatomia ou fisiologia; (b) reação exagerada: reação desproporcionada verbal, de expressão facial, tensão muscular, tremor, colapso ou suor; (c) simulação: durante o exame formal o teste produz sintomas, em seguida, o teste é simulado sem ser executado e provoca dor, sugerindo um sinal não orgânico; (d) sensibilidade ao toque: desconforto ao toque sobre uma área difusa, não anatômica; e (e) distração: sinal positivo em uma manobra clássica, em seguida, não demonstrado por outra manobra ou paciente está distraído. Pacientes que tentam ganho secundário muitas vezes não toleram elevar a perna estando deitados (sinal de Lasègue), mas conseguem estendê-la 90ª quando sentados. Outro exemplo é o paciente em decúbito dorsal, que, ao levantar uma perna, a outra tende a se deslocar para baixo (sinal de Hoover). TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Para pacientes com radiculopatia lombossacral aguda, os objetivos do tratamento são melhorar a dor e abordar o processo subjacente específico. As etiologias neoplásicas ou infecciosas da radiculopatia requerem tratamento imediato por mecanismo específico. Embora rara, a síndrome da cauda equina representa uma verdadeira emergência cirúrgica na qual a descompressão deve ser realizada dentro de 24 horas e, se possível, dentro de 12 horas O principal tratamento da radiculopatia é relativo à dor, a qual na maioria dos casos têm uma duração de semanas a poucos meses, mas em uma minoria de Problema 1 | Victória Mourão Luz | SOI V 13 Ortopedia pacientes a dor pode se prolongar por meses ou mesmo além de um ano. O tratamento básico é com analgésicos comuns associados a opióides fracos, podendo-se associar gabapentina ou pregabalina caso a dor seja moderada e opióides fortes estão indicados caso dor intensa. Programas de exercícios individualizados para fortalecer musculatura paravertebral e abdominal e melhorar a amplitude dos movimentos, é benéfico para muitos pacientes. Injeção de esteroides transforaminal, zigapofiseal, epidural etc, ainda não são têm um parecer conclusivo. A radiculopatia nem sempre é isolada principalmente em idosos nos quais associam-se frequentemente, a dor da artrose coxofemoral, síndrome do grande trocanter (bursite trocantérica) e a dor miofascial notadamente do glúteo mínimo, nestes casos, a acupuntura e os agulhamentos de ponto gatilho são importantes. A cirurgia para hérnia de disco e estenose espinhal lombar é mais comumente realizada devido a sintomas persistentes ou comprometimento neurológico progressivo. No cenário de comprometimento neurológico progressivo, a consulta cirúrgica rápida deve ser considerada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anatomia Orientada Para a Clínica- Moore - 7ª ed. Semiologia Medica - Porto - 7ª Ed (2014). Tratado de Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia – 2ª Ed (2019).
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