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1 1 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP SP 2.1 OBJETIVOS: 1. Identificar os possíveis agentes agressores (químicos, físicos, biológicos e psicossociais) ao organismo e como as lesões por eles causadas desencadeiam o processo de adaptação, reparação ou morte celular. 2. Definir lesão celular reversível e irreversível e caracterizar seus tipos. 3. Citar as linhas de defesa do organismo aos agentes agressores (químicos, físicos, biológicos e psicossociais). 4. Conceituar as diferentes linhas de defesa contra os agentes agressores (barreiras, resposta inata e adaptativa). 5. Descrever detalhadamente os mecanismos da inflamação, relacionando-os aos sinais e sintomas característicos. 6. Compreender o processo inflamatório como uma defesa natural e um estímulo aos fenômenos de reparação tecidual. 7. Abordar tratamento de queimadura 1º e 2º graus. 1. IDENTIFICAR OS POSSÍVEIS AGENTES AGRESSORES (QUÍMICOS, F ÍS ICOS, BIOLÓGICOS E PSICOSSOCIAIS) AO ORGANISMO E COMO AS LESÕES POR ELES CAUSADAS DESENCADEIAM O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO, REPARAÇÃO OU MORTE CELULAR. Embora nós vivamos em um ambiente sujeito a amplas variações, com extremos de temperatura, umidade do ar, pressão de O2, qualidade do ar, etc., o ambiente interno em que as células estão, se altera muito pouco. Isto porque temos mecanismos de proteção e regulação que, por exemplo, aquecem o ar frio que inalamos, umedecem o ar seco, mantém o fluxo sanguíneo constante, mantém a quantidade de água, eletrólitos, carboidratos, proteínas, lipídeos dentro de limites ideais dentro das células, etc. Pequenas variações, como por exemplo pequenas oscilações da oferta de glicose ou oxigênio são toleradas sem prejuízo para as células, que mantém sua morfologia e funcionamento íntegros (homeostase). Em algumas situações, como uma demanda por maior trabalho das fibras musculares, pode ocorrer adaptação celular, neste caso hipertrofia. Estas adaptações podem ocorrer em situações normais como a gravidez (hiperplasia dos ácinos mamários), menopausa (atrofia do endométrio) ou situações anormais, como ocorre na hipertensão arterial, por causa do aumento da resistência vascular periférica e que produz hipertrofia cardíaca. Caso este estímulo nocivo seja mais intenso ou mais prolongado, a capacidade adaptativa da célula é excedida e ocorre lesão celular. LESÃO CELULAR: CAUSAS EXÓGENAS As causas exógenas são representadas por agentes físicos como força mecânica, radiação, variação de temperatura e alteração da pressão atmosférica; agentes químicos, como os agrotóxicos, poluentes ambientais, medicamentos e drogas ilícitas; agentes biológicos, como vírus, bactérias, protozoários, etc; e pelos distúrbios da nutrição, que envolvem tanto a deficiência como o excesso de nutrientes. LESÃO CELULAR: CAUSAS ENDÓGENAS Já as causas endógenas estão relacionadas com a herança genética, o sistema imunológico e os fatores emocionais, estes influenciados também pelo ambiente social. As agressões atuam por mecanismos muito diversos, sendo os mais conhecidos e importantes: redução na disponibilidade de O2 às células; radicais livres; anormalidades em ácidos nucleicos e proteínas; resposta imunitária; e distúrbios metabólicos. 2. DEFINIR LESÃO CELULAR REVERSÍVEL E IRREVERSÍVEL E CARACTERIZAR SEUS TIPOS. Lesão celular pode ser reversível ou irreversível. A lesão celular reversível ocorre quando a célula agredida pelo estímulo nocivo sofre alterações funcionais e morfológicas, porém mantém-se viva, recuperando-se quando o estímulo nocivo é retirado ou cessa. A lesão celular é irreversível quando a célula se torna incapaz de recuperar-se depois de cessada a agressão, caminhando para a morte celular. A lesão celular ocorre quando as células são estressadas tão excessivamente que não são mais capazes de se adaptar, podendo ser reversível até um certo ponto, mas se o estímulo persistir ou for intenso o suficiente desde o início, a célula sofre lesão irreversível. As causas de lesões e doenças são divididas inicialmente em dois grandes grupos: exógenas e endógenas, porém nem todas as causas são conhecidas e, nesses casos, recebem a denominação de causa criptogenética, idiopática ou essencial. A célula normal está limitada, em suas funções, a uma faixa de variação bastante estreita devido a sua estrutura, por restrições pelas células vizinhas e pela disponibilidade de substratos metabólicos. No entanto, ela é capaz de suprir as demandas fisiológicas, mantendo um estado de equilíbrio chamado homeostase. Quando ocorrem alterações fisiológicas no organismo, ou até mesmo alguns estímulos patológicos, as células são capazes de passar por adaptações estruturais e funcionais 2 2 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP reversíveis, durante as quais um novo estado de equilíbrio é alcançado, permitindo sua sobrevivência e manutenção da atividade funcional. Quando o estímulo é eliminado, a célula pode retornar ao seu estado original sem ter sofrido qualquer consequência danosa. No entanto, se os limites das respostas adaptativas forem excedidos ou se as células forem expostas a agentes ou estímulos nocivos, privadas de nutrientes essenciais, ou ficarem comprometidas por mutações que afetem constituintes celulares essenciais, ocorre uma sequência de eventos denominada lesão celular. A lesão celular pode ser reversível até certo ponto, mas se o estímulo persistir ou for intenso o suficiente desde o início, a célula sofre lesão irreversível, levando-a a morte celular, que é o resultado final da lesão celular progressiva, sendo um dos principais eventos na evolução de uma doença em qualquer tecido ou órgão. Porém, ela constitui também um processo normal e essencial na embriogênese, no desenvolvimento dos órgãos e na manutenção da homeostase. Nos estágios iniciais ou nas formas leves de lesão, as alterações morfológicas e funcionais são reversíveis, se o estímulo nocivo for removido. Os principais marcos da lesão reversível são a redução da fosforilação oxidativa, com consequente depleção do armazenamento de ATP e tumefação celular causada por alterações da concentração de íons e influxo de água. Além disso, várias organelas intracelulares, tais como as mitocôndrias e o citoesqueleto, podem apresentar alterações. Com a persistência do dano, a lesão torna-se irreversível e, com o tempo, a célula não pode se recuperar e morre. Existem dois tipos de morte celular, a necrose e a apoptose, que diferem em sua morfologia, mecanismos e funções na homeostase e na doença. Quando a lesão das membranas é grave, as enzimas lisossômicas entram no citoplasma e digerem a célula, dando origem a um conjunto de alterações morfológicas descritas como necrose. A necrose é considerada uma forma desregulada de morte celular resultante de danos às membranas celulares e perda da homeostase dos íons. Conteúdos celulares também são perdidos, através da membrana plasmática lesada, para o espaço extracelular, onde causam inflamação. Já a apoptose é uma forma de morte celular caracterizada pela dissolução nuclear, fragmentação da célula sem perda completa da integridade da membrana, e rápida remoção dos restos celulares. Como o conteúdo celular não é perdido, ao contrário da necrose, não existe reação inflamatória. Em termos de mecanismo, a apoptose é conhecida por ser um processo altamente regulado, dirigido por uma série de vias genéticas. É, por isso, às vezes, também chamada de “morte celular programada”. SE LIGA! Enquanto a necrose é sempre um processo patológico, a apoptose auxilia muitos processos fisiológicos e não é, necessariamente, associada a lesão celular. 3. CITAR AS LINHAS DE DEFESA DO ORGANISMO AOS AGENTES AGRESSORES (QUÍMICOS, F ÍS ICOS, BIOLÓGICOS E PSICOSSOCIAIS) . O corpo humano tem três linhas de defesa preliminaresa lutar contra invasores estrangeiros, incluindo vírus, bactérias e fungos. As linhas do sistema imunitário três de defesa incluem barreiras físicas e químicas, respostas inatas não específicas, e respostas adaptáveis específicas. BARREIRA FÍSICA O sistema imunitário inato fornece a primeira linha de defesa, que é dividida amplamente em duas categorias - físicas/barreiras químicas e na resistência não específica. As barreiras físicas, incluindo a pele e a mucosa do digestivo e das vias respiratórias, ajudam a eliminar os micróbios patogénicos e impedir o tecido e/ou as infecções do sangue. Além disso, os componentes que são segregados pela pele ou mucosa, tal como o suor, saliva, rasgos, mucosos, ajudam a fornecer uma barreira básica contra os micróbios patogénicos de invasão. A pele é barreira física/mecânica impermeável que protege muitos micróbios patogénicos de incorporar o corpo. Similarmente, a mucosa ou as mucosas que alinham os sistemas internos imediatos ajudam a prender os micróbios patogénicos produzindo mucoso. Os cabelos dentro da cavidade nasal, assim como da cera (cera), igualmente prendem os micróbios patogénicos e poluentes ambientais. Alguns líquidos ácidos, tais como o suco gástrica, urina, e secreções vaginal, destroem os micróbios patogénicos criando baixas condições do pH. Também, o lysozyme encontrado em lágrimas, o suor, e a saliva atuam como um 3 3 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP agente antimicrobial vital para destruir os micróbios patogénicos. RESPOSTA INATA NÃO ESPECÍFICA Os micróbios patogénicos que cruzam com sucesso as barreiras físicas são encontradas em seguida pela segunda linha de defesa. Esta resposta imune inata envolve na maior parte pilhas imunes e proteínas para reconhecer e eliminar não específica todo o micróbio patogénico que incorporar o corpo. A fagocitose é um fenômeno crucial do sistema imunitário inato que utiliza um tipo especial de pilhas imunes chamadas fagócito. Há dois tipos de macrófagos e de neutrófilo dos fagócitos a saber. Estas pilhas são encontradas nos tecidos e no sangue. No início, os fagócitos reconhecem e ligam os micróbios patogénicos e usam então a membrana de plasma para cercar e tragar os micróbios patogénicos dentro da pilha. Em consequência, um compartimento interno separado (phagosome) é gerado, que funda subsequentemente com um outro tipo de compartimento celular chamado o lisossoma. Os lisossomas internos atuais das enzimas digestivas destroem finalmente os micróbios patogénicos quebrando os em fragmentos. A digestão dos micróbios patogénicos dentro de um phagosome produz materiais repugnantes e fragmentos antigénicos; de que, os materiais repugnantes são removidos pelo exocytosis. Contudo, os fragmentos antigénicos são indicados na superfície dos fagócitos, que subsequentemente são reconhecidos e destruídos por pilhas de T citotóxicos. Além, as proteínas de complemento são ativadas, que recrutam por sua vez uns glóbulos mais brancos (neutrófilo, eosinophils e basófilo) no local da infecção, conduzindo a uma resposta inflamatório (inchamento, vermelhidão, dor). RESPOSTA ADAPTÁVEL ESPECÍFICA A terceira linha defesa visa eliminar os micróbios patogénicos específicos que têm sido encontrados pelo sistema imunitário previamente (resposta imune adaptável ou adquirida). Em vez da limitação ao local da infecção, a resposta imune adaptável ocorre durante todo o corpo. O sistema imunitário adaptável envolve principalmente dois tipos dos glóbulos brancos (linfócitos) - linfócitos de B (pilhas de B) e linfócitos de T (pilhas de T). As pilhas de B são envolvidas em respostas imunes anticorpo-negociadas (imunidade humoral), visto que as pilhas de T são envolvidas em respostas imunes comunicadas pelas células. Na imunidade anticorpo-negociada, as pilhas de B são ativadas quando encontram um `' antígeno conhecido. As pilhas de B ativadas então tragam e digerem o antígeno, que é seguido por uma representação de MHC (complexo principal do histocompatibility) - fragmentos antigénicos encadernados na superfície da pilha de B. A combinação de antígeno-MHC mais adicional ativa as pilhas de T do ajudante, que segregam por sua vez cytokines (interleukins) para provocar o crescimento e a maturação de pilhas de B de apresentação em pilhas de B de produção (pilhas de plasma). Neste momento, algumas pilhas de B são transformadas em pilhas de memória para manter o pronto de sistema imunitário para o ataque seguinte. Os anticorpos produzidos pelas pilhas de plasma são segregados na circulação sanguínea onde executam suas funções em maneiras diferentes. Por exemplo, formando o complexo do antígeno-anticorpo, os anticorpos podem impedir antígenos das pilhas de anfitrião obrigatórias, conduzindo à prevenção da infecção. Os anticorpos igualmente ligam e marcam os micróbios patogénicos para a destruição com a fagocitose. O complexo do antígeno-anticorpo pode iniciar uma série de eventos da sinalização para ativar proteínas de complemento, que mate por sua vez os micróbios patogénicos rompendo sua membrana de pilha. As proteínas de complemento igualmente provocam uma resposta inflamatório, conduzindo à acumulação dos glóbulos brancos no local da infecção. Na imunidade comunicada pelas células, as pilhas de T são ativadas quando encontram a antígeno-apresentação de pilhas, tais como pilhas de B ou pilhas dendrítico. As pilhas de T ativadas segregam então os cytokines que promovem o disparador a produção e a maturação de pilhas de T. As pilhas de T que se amadurecem em citotóxico ou as pilhas de T do assassino destroem principalmente pilhas micróbio- contaminadas, pilhas danificadas, e células cancerosas rompendo a membrana de pilha. Considerando que, as pilhas de T que maduro em pilhas de T do ajudante facilite pilhas de B para executar anticorpo-negociaram respostas imunes. Algumas pilhas de T que se amadurecem em pilhas de T reguladoras ajudam a cessar a resposta imune e a manter a homeostase de sistema imunitário quando a ameaça é eliminada. Também, algumas pilhas de T que maduro em 4 4 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP pilhas de T da memória recorde o micróbio patogénico e inicie uma resposta imediata quando o corpo encontrar o mesmo micróbio patogénico pela segunda vez. 4. CONCEITUAR AS DIFERENTES LINHAS DE DEFESA CONTRA OS AGENTES AGRESSORES (BARREIRAS, RESPOSTA INATA E ADAPTATIVA). A defesa contra microrganismos é mediada por respostas sequenciais e coordenadas que são denominadas imunidade inata e adaptativa (Fig. 1.1 e Tabela 1.2). A imunidade inata (também chamada de imunidade natural ou imunidade nativa) é essencial para a defesa contra microrganismos nas primeiras horas ou dias após a infecção, antes que as respostas imunes adaptativas tenham se desenvolvido. A imunidade inata é mediada por mecanismos que já existem antes da ocorrência de uma infeção (por isso inata) e que facilitam rápidas respostas contra microrganismos invasores. IMUNIDADE INATA: O termo imunidade inata se refere aos mecanismos de defesa sempre presentes, prontos para combater microrganismos e outros agentes agressores. O sistema imune inato consiste em muitos tipos de células e moléculas solúveis presentes nos tecidos e no sangue que previnem constantemente a invasão e o estabelecimento de infecções. Quando um microrganismo estabelece o foco infeccioso, as respostas imunes inatas fornecem a defesa inicial, antes das respostas imunes adaptativas. FUNÇÕES E REAÇÕES DAS RESPOSTAS IMUNES INATAS A imunidade inata exerce várias funções essenciais que nos protegem contra microrganismos e lesão tecidual. Os principais componentes do sistema imune inato são as superfícies epiteliais, que bloqueiam a entrada dos microrganismos; as células-sentinelateciduais, incluindo macrófagos, células dendríticas e mastócitos, os quais detectam microrganismos que conseguem romper os epitélios e iniciam as respostas do hospedeiro; as células brancas do sangue (leucócitos), incluindo neutrófilos, macrófagos derivados de monócitos, células natural killer e outras células, que entram nos tecidos vindas do sangue e eliminam os microrganismos que invadiram os epitélios, além de se livrarem das células danificadas do hospedeiro; e diversos tipos de proteínas plasmáticas, as quais combatem os microrganismos que entraram na circulação. Numerosos outros tipos celulares, entre os quais as células epiteliais e outras células teciduais, também contam com mecanismos intrínsecos para se autodefender contra os microrganismos. As funções das respostas imunes inatas têm algumas características gerais importantes. • O sistema imune inato mantém defesas físicas e químicas nas barreiras epiteliais, como a pele e o revestimento dos tratos gastrintestinal e respiratório, os quais bloqueiam a entrada microbiana. Os microrganismos conseguem colonizar os tecidos somente quando são capazes de atravessar os epitélios. Se essas barreiras forem danificadas ou os microrganismos conseguirem penetrá-las, as respostas imunes inata e adaptativa são ativadas para fornecer as próximas linhas de defesa. • As respostas imunes inatas são as reações iniciais aos microrganismos que servem para prevenir, controlar ou eliminar a infecção do hospedeiro por muitos patógenos. A importância da imunidade inata na defesa do hospedeiro é ilustrada por observações clínicas e estudos experimentais demonstrando que as deficiências, inibição ou eliminação de qualquer dos vários mecanismos de imunidade inata aumentam a suscetibilidade a infecções, mesmo quando o sistema imune adaptativo está intacto e funcional. Muitos microrganismos patogênicos desenvolveram estratégias para resistir à imunidade inata, e essas estratégias são decisivas para a virulência dos microrganismos. As respostas imunes inatas a esses microrganismos podem manter a infecção sob controle até as respostas imunes adaptativas serem ativadas. As respostas imunes adaptativas tipicamente são mais potentes e especializadas, conseguindo assim eliminar os microrganismos que resistem aos mecanismos de defesa da imunidade inata. • A imunidade inata elimina células danificadas e inicia o processo de reparo tecidual. Essas funções envolvem o reconhecimento e a resposta a moléculas do hospedeiro produzidas, liberadas ou acumuladas em células estressadas, danificadas e mortas do hospedeiro. A lesão que deflagra essas respostas inatas pode ocorrer como resultado de infecção, ou é possível que se trate de um dano tecidual e celular estéril na ausência de infecção. 5 5 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP • As respostas imunes inatas estimulam respostas imunes adaptativas e podem influenciar a natureza dessas respostas, para torná-las otimamente efetivas contra diferentes tipos de microrganismos. Portanto, a imunidade inata não só desempenha funções defensivas logo após a infecção como também fornece os sinais de perigo que alertam o sistema imune adaptativo para responder. Além disso, diferentes componentes do sistema imune inato muitas vezes reagem de modos distintos a microrganismos diferentes (p. ex.:bactérias extracelulares versus vírus intracelulares) e, assim, influenciam o tipo de resposta imune adaptativa que se desenvolve. Retomaremos esse conceito ao final do capítulo. • Os dois tipos principais de reações protetoras do sistema imune inato são a inflamação e a defesa antiviral. A inflamação é o processo pelo qual leucócitos circulantes e proteínas plasmáticas são levados aos sítios de infecção nos tecidos e são ativados para destruir e eliminar os agentes agressores. A inflamação também é a principal reação a células danificadas ou mortas, bem como aos acúmulos de substâncias anormais nas células e tecidos. Os mecanismos de defesa antivirais previnem a replicação viral e promovem o killing (destruição) de células infectadas, eliminando assim os reservatórios de infecção viral na ausência de uma reação inflamatória (ainda que a inflamação também possa contribuir para a defesa contra vírus). IMUNIDADE ADAPTATIVA A resposta imune adaptativa é mediada por células chamadas linfócitos e seus produtos. Os linfócitos expressam receptores altamente diversos que são capazes de reconhecer um vasto número de antígenos. Há duas populações principais de linfócitos, denominadas linfócitos B e linfócitos T, os quais medeiam diferentes tipos de respostas imunes adaptativas. Iremos primeiro resumir as importantes propriedades do sistema imune adaptativo e então retornaremos aos diferentes tipos de respostas imunes adaptativas. Características Fundamentais das Respostas Imunes Adaptativas As propriedades fundamentais do sistema imune adaptativo refletem as propriedades dos linfócitos que medeiam essas respostas. ESPECIFICIDADE E DIVERSIDADE Respostas imunes são específicas para antígenos distintos e, frequentemente, para diferentes porções de um único complexo proteico, polissacarídico ou de outra macromolécula (Fig. 1.2). As porções de antígenos complexos especificamente reconhecidas por linfócitos individuais são denominadas determinantes ou epítopos. Essa especificidade fina existe porque os linfócitos individuais expressam receptores de membrana que podem distinguir diferenças sutis na estrutura de epítopos distintos. Clones de linfócitos com diferentes especificidades estão presentes em indivíduos não imunizados e são capazes de reconhecer e responder aos antígenos estranhos (Fig. 1.3). Esse conceito fundamental é denominado seleção clonal e foi claramente enunciado por Macfarlane Burnet, em 1957, como uma hipótese para explicar de que modo o sistema imune poderia responder a um grande número e variedade de antígenos. De acordo com essa hipótese, a qual é hoje uma característica comprovada da imunidade adaptativa, clones de linfócitos antígeno-específicos se desenvolvem antes e independentemente da exposição ao antígeno. Um antígeno introduzido se liga (seleciona) às células do clone antígeno-específico preexistente e as ativa. Como resultado, as células específicas para o antígeno proliferam para gerar milhares de descendentes com a mesma especificidade, um processo chamado expansão clonal. O número total de especificidades antigênicas dos linfócitos em um indivíduo, chamado repertório dos linfócitos, é extremamente grande. Estima-se que o sistema imune de um indivíduo possa discriminar 10 7 a 10 9 determinantes antigênicos distintos. Essa capacidade do repertório de linfócitos para reconhecer um grande número de antígenos (a chamada diversidade) é resultado da variabilidade nas estruturas dos sítios de ligação ao antígeno dos receptores antigênicos dos linfócitos. Em outras palavras, existem muitos clones distintos de linfócitos e cada clone possui um único receptor antigênico e, consequentemente, uma única especificidade antigênica, contribuindo para um repertório total extremamente diverso. A expressão de diferentes receptores antigênicos em distintos clones de células T e B é a razão pela qual esses receptores são ditos clonalmente distribuídos. Os mecanismos moleculares que geram tal diversidade de receptores antigênicos são discutidos no Capítulo 8. A diversidade é essencial se o sistema imune existe para defender os indivíduos contra os diversos potenciais patógenos presentes no ambiente. MEMÓRIA A exposição do sistema imune a um antígeno estranho aumenta sua capacidade de responder novamente àquele antígeno. As respostas a uma segunda exposição ou exposições subsequentes ao mesmo antígeno, chamadas respostas imunes secundárias, são normalmentemais rápidas, de maior magnitude e, com frequência, quantitativamente diferentes da primeira resposta imune (ou primária) àquele antígeno (Fig. 1.2). A memória imunológica ocorre porque cada exposição a um antígeno 6 6 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP gera células de memória de vida longa específicas para o antígeno. Há duas razões pelas quais a resposta secundária é tipicamente mais forte do que a resposta imune primária — as células de memória se acumulam e tornam-se mais numerosas do que os linfócitos naive específicos para o antígeno existentes no momento da exposição inicial ao antígeno; e células de memória reagem mais rápida e vigorosamente ao desafio antigênico do que os linfócitos naive. A memória permite que o sistema imune produza respostas aumentadas a exposições persistentes ou recorrentes ao mesmo antígeno e, assim, combata infecções por microrganismos prevalentes no meio ambiente e encontrados repetidamente. NÃO REATIVIDADE AO PRÓPRIO (AUTOTOLERÂNCIA). Uma das propriedades mais marcantes do sistema imune de cada indivíduo normal é sua capacidade de reconhecer, responder e eliminar muitos antígenos estranhos (não próprios) enquanto não reage prejudicialmente aos antígenos do próprio indivíduo. A não responsividade imunológica é também chamada de tolerância. A tolerância aos antígenos próprios, ou auto tolerância, é mantida por diversos mecanismos. Estes incluem a eliminação de linfócitos que expressam receptores específicos para alguns autoantígenos, inativando os linfócitos autorreativos ou suprimindo essas células pela ação de outras células (reguladoras). Anormalidades na indução ou manutenção da auto tolerância levam a respostas imunes contra os autoantígenos (antígenos autólogos), as quais podem resultar em distúrbios denominados doenças autoimunes. IMUNIDADE INATA X IMUNIDADE ADAPTATIVA Para entender como as imunidades inata e adaptativa complementam uma a outra para conferir proteção contra patógenos, é instrutivo destacar suas diferenças relevantes. • As respostas imunes inatas a um microrganismo são imediatas e dispensam exposição prévia ao microrganismo. Em outras palavras, as moléculas e células efetoras imunes inatas são totalmente funcionais até mesmo antes da infecção ou são rapidamente ativadas pelos microrganismos para prevenir, controlar ou eliminar as infecções. Em contraste, as respostas imunes adaptativas efetivas a um microrganismo recém-introduzido se desenvolvem no decorrer de vários dias, à medida que os clones de linfócitos antígeno-específicos se expandem e se diferenciam em células efetoras funcionais. • Para a maioria das respostas inatas aos microrganismos, não há alteração considerável na qualidade ou magnitude da resposta após repetidas exposições — ou seja, há pouca ou nenhuma memória. Em contraste, a exposição repetida a um microrganismo intensifica a rapidez, a magnitude e a efetividade das respostas imunes adaptativas. Podem haver algumas exceções à regra de que não há memória na imunidade inata. Por exemplo, a magnitude das respostas de células natural killer a certas infecções virais são aumentadas com a exposição subsequente ao mesmo vírus. Ainda não está claro o grau de especificidade dessas respostas intensificadas, quais e quantos vírus conseguem deflagrá-las, ou se essas respostas contribuem para uma proteção aumentada contra infecções repetidas. • A resposta imune inata é ativada pelo reconhecimento de um conjunto relativamente limitado de estruturas moleculares que são produtos de microrganismos ou são expressas por células lesadas ou mortas do hospedeiro. Estima-se que o sistema imune inato reconheça apenas cerca de 1.000 produtos de microrganismos e células danificadas. Em contraste, o sistema imune adaptativo consegue reconhecer milhões de antígenos microbianos diferentes, além de também poder reconhecer antígenos ambientais não microbianos e autoantígenos normalmente presentes nos tecidos sadios. • Os receptores usados pelos sistemas imunes inato e adaptativo são fundamentalmente diferentes em termos de estrutura e extensão da variação, o que explica as diferentes especificidades desses dois tipos de defesa do hospedeiro. Os receptores da imunidade inata são detalhados adiante, neste mesmo capítulo, e os receptores da imunidade adaptativa são descritos em capítulos subsequentes. 5. DESCREVER DETALHADAMENTE OS MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO, RELACIONANDO-OS AOS SINAIS E S INTOMAS CARACTERÍSTICOS. A maioria dos agentes infecciosos ativa o sistema imune inato e induz uma resposta inflamatória A pele e a mucosa epitelial que revestem as vias aéreas e o intestino são as primeiras defesas contra os patógenos invasores, formando uma barreira química e física contra a infecção. Os microrganismos que rompem essas defesas encontram células e moléculas que imediatamente desenvolvem uma resposta imune inata. Os macrófagos que residem nos tecidos, por exemplo, podem reconhecer as bactérias por meio de receptores que se ligam aos constituintes comuns de muitas superfícies bacterianas. O comprometimento desses receptores ativa o macrófago a engolfar a bactéria e degradá-la internamente, e a secretar proteínas chamadas 7 7 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP de citocinas e quimiocinas, que transmitem importantes sinais para outras células imunes. Respostas similares ocorrem contra vírus, fungos e parasitos. Citocina é o nome geral dado a qualquer proteína que é secretada por células e que afeta o comportamento das células vizinhas portadoras de receptores adequados. As quimiocinas são proteínas secretadas que atuam como quimioatraentes (daí o nome "quimiocina"), atraindo as células portadoras de receptores de quimiocinas, como neutrófilos e monócitos, da corrente sanguínea para o tecido infectado (Fig. 1.9). As citocinas e as quimiocinas liberadas pelos macrófagos ativados iniciam o processo conhecido como inflamação. A inflamação é benéfica para combater a infecção, recrutando células e proteínas do sangue para os tecidos infectados que auxiliam diretamente na destruição dos patógenos. Além disso, a inflamação aumenta o fluxo de linfa carregando microrganismos e APCs dos tecidos infectados aos tecidos linfoides vizinhos, onde ativam os linfócitos e iniciam a resposta imune adaptativa. Uma vez que a imunidade adaptativa foi ativada, a inflamação também recruta os componentes efetores do sistema imune adaptativo - as moléculas de anticorpo e as células T efetoras - para o local de infecção. A infecção ativa uma resposta inflamatória. Os macrófagos que encontram bactérias ou outros patógenos nos tecidos são ativados para liberar citocinas que aumentam a permeabilidade dos vasos sanguíneos, permitindo que líquidos e proteínas passem para os tecidos. Essas células também produzem quimiocinas que direcionam a migração dos neutrófilos para o local de infecção. A adesão das células endoteliais dos vasos sanguíneos também é alterada, de modo que as células aderem à parede e são capazes de passar por ela. Primeiro os neutrófilos e depois os monócitos estão representados na figura passando do sangue para os tecidos. O acúmulo de líquidos e de células no local de infecção causa vermelhidão, inchaço, aquecimento e dor, coletivamente denominados inflamação. Os neutrófilos e os macrófagos são as principais células inflamatórias. Mais tarde, durante a resposta imune, os linfócitos também podem contribuir para a inflamação. A inflamação local e a fagocitose das bactérias invasoras também podem ser desencadeadas como resultado da ativação de um grupo de proteínas plasmáticas conhecidas coletivamente como complemento. A ativação do sistema do complemento pela superfície bacteriana leva a uma cascata de reações proteolíticas que recobre os microrganismos,mas não as células do próprio corpo, com fragmentos do complemento. Os micróbios revestidos pelo complemento são reconhecidos e ligam os receptores do complemento específicos nos macrófagos, levando à fagocitose e à sua destruição. A inflamação é descrita clinicamente por quatro palavras do latim: calor, dolor, rubor e tumor, que significam calor, dor, rubor e inchaço. Cada uma dessas características reflete os efeitos das citocinas ou de outros mediadores inflamatórios nos vasos sanguíneos locais. O calor, o rubor e o inchaço são resultados da dilatação e do aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos durante a inflamação, levando a um aumento do fluxo sanguíneo local e ao extravasamento de líquido e proteínas do sangue para os tecidos. As citocinas e os fragmentos do complemento têm efeitos importantes no endotélio que reveste os vasos sanguíneos. As próprias células endoteliais também produzem citocinas em resposta à infecção. As citocinas pró¬ -inflamatórias produzem mudanças nas propriedades de adesão das células endoteliais, fazendo a adesão dos leucócitos circulantes nas células endoteliais e sua migração entre elas para o local da infecção, para onde são atraídos por quimiocinas. A migração das células para dentro dos tecidos e suas ações locais causam a dor. Os principais tipos de células presentes na fase inicial de uma resposta inflamatória são os macrófagos e os neutrófilos, sendo que estes últimos são recrutados para o tecido inflamado e infectado em grande número. Os macrófagos e os neutrófilos são também conhecidos como células inflamatórias. Como os macrófagos, os neutrófilos têm receptores de superfície para constituintes bacterianos comuns e para o complemento, e são as principais células que capturam e destroem os microrganismos invasores. O influxo de neutrófilos é logo seguido por aumento da entrada de monócitos, que rapidamente se diferenciam em macrófagos, reforçando e mantendo a resposta imune inata. Mais tarde, se a inflamação continuar, os eosinófilos também migram para o tecido inflamado e contribuem para a destruição do microrganismo invasor 8 8 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP 6. COMPREENDER O PROCESSO INFLAMATÓRIO COMO UMA DEFESA NATURAL E UM ESTÍMULO AOS FENÔMENOS DE REPARAÇÃO TECIDUAL. O REPARO TECIDUAL O reparo dos tecidos depende da reação inflamatória, sendo caraterizado por regeneração das estruturas celulares e extracelulares, ou por cicatrização, sendo substituídos os tecidos lesados por tecido conjuntivo fibroso. Os Fenômenos Reparativos, como já relatado, estão relacionados com o declínio do processo inflamatório agudo ou crônico, na medida em que o agente flogógeno, exógeno ou endógeno, vai sendo eliminado. Há reabsorção do exsudato, que depende da apoptose e da fagocitose das células inflamatórias, e do retorno de alguns fagócitos para as circulações linfática e sanguínea. Simultaneamente inicia- se o processo de reparo tecidual por regeneração ou cicatrização, que envolve a neoformação conjuntivo- vascular, com a participação de quimiocinas, citocinas e fatores de crescimento liberados pelas células inflamatórias, parenquimais e estromais. A proliferação celular é controlada pela ação de inúmeros fatores de crescimento e pela matriz extracelular. Os fatores de crescimento são produzidos por diferentes tipos de células como: macrófagos ativados, células epiteliais e parenquimais, fibroblastos, fibras musculares lisas, mastócitos, células endoteliais, linfócitos, etc, presentes na área lesada, ou que para lá são atraídas. A matriz extracelular é produzida pelas células e constituída por uma rede complexa de proteínas colagênicas e não colagênicas (inúmeras glicoproteínas), ácido hialurônico (hialuronana) e inúmeras proteoglicanas (glicosaminoglicanas unidas a uma proteína central), e um sistema elástico. A matriz extracelular (MEC) exerce inúmeras funções, além do controle da proliferação celular, como a de suporte mecânico funcional, dinâmico, onde muitos fatores de crescimento e outras citocinas se ligam com proteínas da matriz, sendo apresentados em altas concentrações; modulando a forma e a função celulares; permitindo a migração celular e, inclusive, controlando a expressão de genes por suas conexões indiretas, via citoesqueleto, com o núcleo (matriz nuclear) das células. O Reparo por Regeneração: As áreas lesadas sofrem reconstituição integral, recuperando-se a estrutura, a organização e a função tissulares anteriores à inflamação. Ocorre nos tecidos com células lábeis (instáveis), e células estáveis, onde há proliferação e diferenciação das células de reserva ou de células em G0 (ciclo celular). Os tecidos lábeis ou instáveis, estão em contínua proliferação, sendo substituídos pela proliferação e maturação de suas células- tronco e pela proliferação de suas células maduras. Incluem o tecido hematopoético e os tecidos epiteliais das mucosas e da pele, e os seus anexos, desde que a membrana basal esteja intacta. Os tecidos estáveis permanecem quiescentes na fase G0 do ciclo celular, ou seja, em condições normais têm mínima proliferação. Porém, havendo lesão tais células proliferam. Compreendem, os tecidos estáveis, as células dos parênquimas da maioria dos órgãos sólidos, como o fígado, o pâncreas, os rins, as adrenais, a tireoide, e também as células endoteliais, fibroblastos e as células musculares lisas. Com exceção do fígado, que regenera com facilidade, estando a trama da MEC intacta, as células parenquimais dos demais órgãos regeneram de modo mais limitado. O Reparo por Cicatrização: Nas áreas com extensa lesão do arcabouço conjuntivo-vascular, ultrapassando-se a capacidade regenerativa tecidual, ou nas lesões de tecidos com células permanentes, o reparo é por fibrose. Há perda das características estruturais e funcionais teciduais prévias. As células permanentes são as altamente diferenciadas de modo que não proliferam após o nascimento. Compreendem as células nervosas, e as fibras musculares estriadas cardíacas e as esqueléticas. Na musculatura estriada esquelética as células satélites, no endomísio, têm alguma capacidade regenerativa. Assim, no infarto do miocárdio o reparo é uma cicatriz fibrosa. Na colecistite crônica o reparo é por cicatrização, podendo-se também observar o por regeneração do epitélio. Na cirrose hepática observam-se reparos por regeneração (nódulos de regeneração) e por cicatrização (fibrose portal delimitando os nódulos de regeneração). AS CICATRIZAÇÕES POR PRIMEIRA INTENÇÃO X SEGUNDA INTENÇÃO X TERC EIRA INTENÇÃO A CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO: Em ferimentos assépticos, com um mínimo de perda e destruição teciduais, permitindo união primária (em primeira intenção) das superfícies de corte, com pouca reação tecidual. O tecido de granulação, em pouca quantidade, não é visível e a formação de cicatriz é mínima, linear, fina. A CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO: A cicatrização por união dos bordos por segunda intenção ocorre em ferimentos infectados, ou em que os bordos são irregulares, não podendo ser aproximados, por perda de tecido. A presença de células mortas, degeneradas, impede a cicatrização por primeira intenção, sendo, então, formado o tecido de granulação em maior quantidade. Este é 9 9 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP constituído por delicados vasos sanguíneos capilares neoformados, em meio a tecido conjuntivo frouxo e muitos leucócitos, os quais preenchem a área aberta do ferimento. O tecido de granulação vai sendo substituído por tecido conjuntivo fibroso cicatricial, e a superfície do ferimento em cicatrização vai sendo recoberta por células epiteliais, que proliferam (regeneração epitelial). A CICATRIZAÇÃO POR TERCEIRA INTENÇÃO: A cicatrização por união dos bordos porterceira intenção envolve os ferimentos tratados cirurgicamente, em geral profundos e submetidos à sutura secundária, após cicatrização aberta, por não terem sido submetidos à sutura prévia, inicial, ou esta ter se desfeito, ou por suspeita de infecção, tendo que ser acompanhados abertos ou com drenos, até poderem ser suturados, tratados com enxertos, etc. O espaço da ferida é preenchido por tecido de granulação, que surge a partir dos bordos em aposição auxiliada pelas suturas, quando feitas. A cura dá-se por cicatriz ampla e profunda. OS EVENTOS NA CICATRIZAÇÃO • Hemostasias primária (tampão plaquetário) e secundária → Coágulo sanguíneo [matriz extracelular (MEC) provisória] → preenche a área lesada; • Inflamação aguda → Mediadores químicos locais → recrutamento de leucócitos (neutrófilos, eosinófilos, monócitos / macrófagos, linfócitos T, linfócitos B / plasmócitos), mastócitos, fibroblastos, células endoteliais, etc; • Macrófagos e demais leucócitos → citocinas → fibroplasia (proliferação de tecido conjuntivo) + angiogênese (neovascularização capilar) → tecido de granulação; • Tecido de granulação → organização (fibrose progressiva) → remodelação; • Remodelação → síntese, degradação e rearranjo da nova MEC + regressão dos vasos neoformados + redução do número de células locais → tecido conjuntivo denso = cicatriz. O Tecido de Granulação é constituído por: Vasos capilares sanguíneos neoformados + células inflamatórias mistas + fibroblastos/miofibroblastos. AS FASES DA CICATRIZAÇÃO DAS FERIDAS (PELE): a. | As Fases de Hemostasia e Inflamatória. Um a três dias após a lesão, o ferimento mostra-se cheio de coágulo sanguíneo, devido à hemostasia, e com células inflamatórias (neutrófilos, mastócitos, eosinófilos, monócitos/macrófagos, linfócitos) atraídas ao sítio do ferimento. A trama de fibrina e demais proteínas do plasma, no coágulo sanguíneo formado, atuam como matriz extracelular provisória, que promove atração e migração para leucócitos, células endoteliais e fibroblastos. b. | A Fase de Nova Formação Tecidual (Proliferativa). Após três a dez dias da lesão, os macrófagos são abundantes no sítio do ferimento e novos vasos sanguíneos se formam. Fibroblastos migram, proliferam e depositam componentes da matriz extracelular e diferenciam-se, mais tarde, em miofibroblastos, importantes na contração, retração, do local ferido. O novo tecido que agora preenche o ferimento é conhecido como tecido de granulação. Nos bordos do ferimento, os queratinócitos da epiderme lesada e dos folículos pilosos migram ao longo da derme exposta e por sobre a matriz extracelular provisória em ritmo aumentado de proliferação, caracterizando um processo de regeneração epitelial. Na superfície lesada comumente há uma crosta de coágulo seco, sob a qual ocorre a regeneração epitelial. c. | A Fase de Remodelação/Maturação Tissular. Uma a duas semanas após a lesão, a reepitelização do ferimento é completada, a densidade celular do tecido de granulação gradualmente decresce e a matriz extracelular é remodelada por meio da síntese e degradação dos componentes da MEC, controlada pela ação das metaloproteases e glicosidases. Nesta remodelação da MEC vai havendo um aumento das fibras colágenas, com substituição do colágeno tipo III pelo tipo I, que passa a predominar, e redução da síntese de glicosaminoglicanas, especialmente do ácido hialurônico. O colágeno tipo I predominante, passa a apresentar maior número de ligações cruzadas, tornando as fibras colágenas tipo I mais grossas e compactas, o que favorece a 10 10 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP compressão dos vasos capilares e a redução de seu número. Simultaneamente há a ação de citocinas, quimiocinas e produtos da degradação da MEC, os quais ligam-se a receptores nos fibroblastos, induzindo-os, geneticamente, à síntese de proteínas e poliglicanas, e a expressarem actina, transformando-os em miofibroblastos, importantes na retração da cicatriz, como já foi referido. Os peptídeos, produtos da degradação da MEC, pela ação das metaloproteases, têm também ação antiproliferativa, dificultando a migração celular, promovendo a apoptose de fagócitos, a proliferação de fibroblastos e a redução da neovascularização. A remodelação da matriz extracelular pode durar meses, 1 ano ou mais, dependendo da lesão, sua extensão e profundidade. A remodelação resulta na formação de uma cicatriz com reduzida resistência à tração (cerca de 80% do normal) e sem apêndices cutâneos. Em situações patológicas a cicatrização das feridas cutâneas pode evoluir como cicatriz hipertrófica ou como queloide, devido a um excesso de tecido conjuntivo produzido, com fibroblastos e componentes da MEC, especialmente fibras de colágeno tipo I, que predominam no queloide, com aspecto pseudotumoral, em comparação com a cicatriz hipertrófica, com fibroblastos e colágeno. O REPARO DO TECIDO ÓSSEO Quando as extremidades fraturadas ficam muito próximas, justapostas, como numa fissura, os osteoclastos, presentes nas extremidades, proliferam e, por fagocitose, removem o tecido danificado das superfícies fraturadas, sendo formado novo tecido ósseo cortical, que une as extremidades, caracterizando um reparo osteonal, primário. Porém, quando o espaço entre as extremidades fraturadas é maior, o reparo é dito secundário, pois se interpõe um coágulo sanguíneo no espaço intercortical ósseo, que atua como uma matriz extracelular primordial, contendo plaquetas, leucócitos e hemácias, o qual é fonte de muitos mediadores químicos inflamatórios, ativando-se o endotélio periosteal e o dos vasos do sistema de Havers (osso lamelar), e promovendo reação inflamatória e neovascularização capilar (fase inflamatória na primeira semana de reparo). Simultaneamente, fatores de crescimento mesenquimais estimulam a hiperplasia e a diferenciação de células tronco precursoras no canal medular, no periósteo e vindas do sangue, originando-se os vasos sanguíneos, condroblastos e osteoblastos, todos envolvidos no reparo ósseo. Assim, fatores de crescimento no canal medular ósseo e no coágulo sanguíneo promovem a diferenciação de células mesenquimais locais em fibroblastos e condroblastos, surgindo um calo fibrocartilaginoso ou calo mole (fase de calo mole da segunda à terceira semanas de reparo), que sofre ossificação endocondral, pela substituição da cartilagem por tecido ósseo. Na ossificação endocondral os condrócitos sofrem apoptose, os vasos sanguíneos capilares invadem a cartilagem, a matriz cartilaginosa é degradada pelas metaloproteinases e os osteoblastos sintetizam matriz óssea, com colágeno tipo I e osteocalcina e osteopontina, proteínas importantes para a mineralização da matriz extracelular. Também, a partir do periósteo, vasos neoformados, fibroblastos e osteoblastos promovem ossificação intramembranosa, formando-se osso esponjoso, ou trabecular, o qual se funde com o osso endocondral formado, surgindo um calo duro (fase de calo duro, da quarta à décima sexta semanas de reparo). O calo duro sofre remodelação, sendo substituído o osso esponjoso, trabecular, por osso lamelar, reconstituindo-se o sistema de Havers (fase de remodelamento, da décima sétima semana de reparo em diante). Quando os ossos fraturados ficam bem imobilizados a cura se dá por ossificação endocondral do calo mole e formação de osso novo diretamente a partir do osso cortical justaposto, com mínima ou nenhuma formação óssea membranosa a partir do periósteo. Caso o local fraturado apresente mobilidade, ocorre estímulo para a formação óssea membranosa a partir do periósteo, surgindo um calo externo ou calo periósteo. Sendo o movimento do local de fratura mais amplo, é formado um calo mole a partir do endósteo e do coágulo sanguíneo interposto na zona de fratura,com pouca ossificação da cartilagem formada e inibição ou retardo na ossificação membranosa periosteal. Neste último caso não havendo a consolidação das extremidades do osso fraturado, o resultado será uma pseudoartrose. O REPARO DO TECIDO CARTILAGINOSO O estímulo mecânico fisiológico do tecido cartilaginoso das articulações promove constante renovação de sua matriz extracelular pela ativação dos condrócitos, através dos proteoglicanos da matriz, que interagem com receptores nos condrócitos, ativando-os, sendo liberadas metaloproteinases, que digerem a matriz, além de também ser estimulada a nova síntese de proteínas e demais componentes da matriz pelos condrócitos, havendo um equilíbrio entre a síntese e a degradação da matriz cartilaginosa. As pequenas fraturas da cartilagem são reparadas pela proliferação de condroblastos a partir do pericôndrio, ocorrendo reparo por regeneração. Se a lesão for maior, associando-se com sangramento, há a formação 11 11 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP de coágulo e reparo por cicatrização. Nas osteoartrose, doença degenerativa da cartilagem articular, há um desequilíbrio entre a degradação e a síntese dos componentes da matriz extracelular da cartilagem por excesso de estímulo na liberação de metaloproteinases, associada com redução da inibição destas enzimas e, ou redução da síntese dos componentes da matriz pelos condroblastos, reduzindo-se os componentes amorfos, promovendo-se desgaste da cartilagem articular, com adelgaçamento, formação de fissuras, fraturas lineares, e ulcerações da mesma. Este processo está associado com inflamação da membrana sinovial pelo estímulo dos sinoviócitos pelos poliglicanos e proteoglicanos anormais liberados no líquido sinovial, que promovem liberação de citocinas e a síntese de prostaglandinas pelos sinoviócitos, aumentando-se a produção de metaloproteinases pelos mesmos, o que favorece mais lesão da cartilagem articular, e o estabelecimento de inflamação na membrana sinovial. O adelgaçamento, as fissuras e as perdas substanciais da cartilagem acabam expondo o osso articular, que reage formando-se espículas ósseas, os osteófitos, que irritam o periósteo e os tendões, favorecendo dor. O REPARO DO TECIDO NERVOSO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO - O reparo de um nervo degenerado após traumatismo por esmagamento, ligadura com relaxamento ou corte, depende das células de Schwann, que proliferam e, mantendo-se na mesma posição do trajeto do nervo, formam um túnel que guia os axônios em regeneração até a união com o coto distal. Augustus Waller, em 1850, descreveu a degeneração das fibras nervosas nas extremidades distal e proximal até o nó de Ranvier mais próximo, a qual ficou conhecida como degeneração walleriana. Assim, após o corte de uma fibra nervosa dá-se o fechamento das extremidades do axônio, com degeneração de alguns micrômetros dos cotos, nos primeiros 30 minutos. O axolema, membrana do axônio, torna-se tumefeito e com bolhas, entre 8 e 24 horas, além de se estabelecer a fragmentação da bainha de mielina em algumas horas, sendo os restos removidos por endocitose pelas células de Schwann e por macrófagos. As células de Schwann proliferadas dispõem-se de modo a orientarem o crescimento dos axônios (cerca de 1 mm/dia), processo que se completa em 6 a 18 meses. Vários fatores neurotróficos como o NGF (nerve growth factor), BDNF (Brain derived neurotrophic fator), e TGF-β atuam na regeneração axonal. Neurorregulinas estimulam as células de Schwann e ativam a síntese de mielina. O alinhamento das células de Schwann é essencial para a correta regeneração funcional de um nervo. Caso o ferimento do nervo promova espaço entre as extremidades cortadas, e este sendo preenchido por um coágulo de sangue, ocorrerá neoformação de tecido conjuntivo, que impedirá a proliferação corretamente direcionada das células de Schwann, de modo que os segmentos de axônios proximais do nervo não poderão se encontrar com os distais, levando à uma proliferação desordenada dos axônios, de modo a surgir uma tumoração conhecida como neuroma traumático ou de amputação. SISTEMA NERVOSO CENTRAL - Nas isquemias do sistema nervoso central os neurônios e células gliais necróticas são endocitados por macrófagos, vindos do sangue, e pela micróglia, os quais ficam com o citoplasma espumoso pela grande quantidade de lipídeos provenientes dos restos de neurônios e células gliais na região com necrose de liquefação. Na medida em que a fagocitose prossegue ocorre na periferia da área com necrose, proliferação reativa de astrócitos, conhecida como gliose ou astrocitose, que envolvendo os vasos sanguíneos estabelece uma barreira hematoencefálica. Após alguns meses a área lesada fica cística, a qual, dependendo do tamanho, pode sofrer colapso. 7. ABORDAR TRATAMENTO DE QUEIMADURA 1 º E 2º GRAUS. QUEIMADURA DE 1º GRAU Atinge a epiderme (camada superficial da pele). Apresentação com vermelhidão sem bolhas e discreto inchaço local. A dor está presente; Primeiro grau (espessura superficial) – eritema solar: • Afeta somente a epiderme, sem formar bolhas. • Apresenta vermelhidão, dor, edema e descama em 4 a 6 dias. TRATAMENTO Tratamentos para uma queimadura de primeiro grau: As queimaduras de primeiro grau são geralmente tratadas com cuidados em casa. O tempo de cura pode ser mais rápido quanto mais cedo você tratar a queimadura. Tratamentos para uma queimadura de primeiro grau incluem: • Coloque a ferida em água fria por cinco minutos ou mais • Tomar paracetamol ou ibuprofeno para alívio da dor • Aplicação de lidocaína (um anestésico) com gel ou creme áloe vera para acalmar a pele • Usar uma pomada antibiótica e gaze solta para proteger a área afetada 12 12 Lucas Ferraz Medicina – 2ºP Certifique-se de que você não usa gelo, pois isso pode piorar a lesão. Nunca aplique bolas de algodão em uma queimadura porque as pequenas fibras podem ficar com o ferimento e aumentar o risco de infecção. Além disso, evite remédios caseiros, como a manteiga e os ovos pois estes não se provaram eficaz. QUEIMADURA DE 2º GRAU Atinge a epiderme e parte da derme (2ª camada da pele). Há presença de bolhas e a dor é acentuada; Afeta a epiderme e parte da derme, forma bolhas ou flictenas. • Superficial: a base da bolha é rósea, úmida e dolorosa. • Profunda: a base da bolha é branca, seca, indolor e menos dolorosa (profunda). • A restauração das lesões ocorre entre 7 e 21 dias. TRATAMENTO Devido à natureza delicada destas feridas, manter a área limpa e com curativo adequado é necessário para prevenir a infecção. Isso também ajuda a queimadura curar mais rápido. Algumas queimaduras de segundo grau demoram mais do que três semanas para cicatrizar, mas a maioria cura dentro de duas a três semanas sem cicatriz, mas muitas vezes com alterações pigmentares na pele. Quanto piores as bolhas são, mais tempo a queimadura vai demorar para cicatrizar. Em alguns casos graves, o enxerto de pele é necessário para reparar o dano. O enxerto de pele recortar uma pele saudável de uma outra área do corpo e move-a para o local da pele queimada. Tal como acontece com queimaduras de primeiro grau, evite bolas de algodão e remédios caseiros questionáveis. Tratamentos para uma queimadura de segundo grau: As queimaduras de segundo grau que for leve geralmente incluem: • Deixar a pele em água fria por 15 minutos ou mais. • Tomar medicação para a dor (paracetamol ou ibuprofeno) • Aplicar creme antibiótico No entanto, procure tratamento médico de emergência se a queimadura afeta uma área alargada, como qualquer uma das seguintes: faces, mãos, nádegas, virilha, pés. http://www.bionext.com.br/produtos/
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