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FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA ESCOLAR Realidades e perspectivas H e r c u l a n o R . C a m p o s o r g a n i z a d o r DIRETOR GERAL Wi lon Ma zal la Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Wil li an F. Migh ton COORDENAÇÃO DE REVISÃO He le na Moy sés REVISÃO DE TEXTOS Li li an Mo re i ra Mendes EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fa bio Di e go da Silva CAPA Ivan Grilo Da dos Inter na ci o na is de Ca ta lo ga ção na Pu bli ca ção (CIP) (Câ ma ra Bra si le i ra do Li vro, SP, Bra sil) For ma ção em psi co lo gia es co lar: Re a li da des e pers pec ti vas / Her cu la no Ri car do Cam pos, or ga ni za dor. - - Cam pi nas, SP: Edi to ra Alí nea. 2007. Bi bli o gra fia. 1. Psi co lo gia es co lar 2. Psi có lo gos es co la res - For ma ção pro fis si o nal I. Cam pos, Her cu la no Ri car do. 07-1418 CDD - 371.713 Índi ces para ca tá lo go sis te má ti co: 1. Psi có lo gos es co lar: For ma ção: Edu ca ção 371.713 ISBN 978-85-7516-195-1 To dos os di re i tos re ser va dos à Edi to ra Alí nea Rua Ti ra den tes, 1053 − Gu a na ba ra − Cam pi nas-SP CEP 13023-191 − PABX: (0xx19) 3232.9340 e 3232.2319 www.ato mo e a li nea.com.br Impres so no Bra sil Alínea E D I T O R A AA AA A SUMÁRIO Apresentação ................................................................................................5 Sobre os autores............................................................................................9 Parte I Desafios e alternativas para a formação do psicólogo escolar.....................15 Capítulo 1. A psicologia escolar nas diretrizes curriculares: espaços criados, desafios instalados .................................................................17 Claisy Maria Marinho-Araujo Capítulo 2. Formação inicial em psicologia escolar: questões apontadas por alunos de graduação....................................................49 Marisa Maria Brito da Justa Neves Capítulo 3. Psicologia escolar: perspectivas e compromissos na formação continuada ......69 Claisy Maria Marinho-Araujo Marisa Maria Brito da Justa Neves Capítulo 4. A educação e a educação do psicólogo: idéias e práticas de pesquisa-ação-formação.....................................................89 Sônia Maria Rocha Sampaio Parte 2 Atuação e formação em psicologia escolar: uma articulação desejada.....107 Capítulo 5. O psicólogo escolar e os processos de implantação de políticas públicas: atuação e formação .............................109 Albertina Mitjáns Martinez Capítulo 6. A formação do psicólogo escolar e a atuação em instituições infantis: da história às práticas atuais .....................................135 Celia Vectore Eulália H. Maimoni Capítulo 7. Reflexões a respeito da atuação do psicólogo no campo da psicologia escolar/educacional em uma perspectiva crítica .......149 Marilene Proença Rebello de Souza Capítulo 8. Psicólogos recém-formados: oportunidades de trabalho e atuação na área educacional ...............................163 Alacir Villa Valle Cruces Maria Regina Maluf Parte 3 Psicologia escolar e educação inclusiva: novas demandas teórico-práticas ..............................................................211 Capítulo 9. A pessoa com deficiência mental entre os muros da educação.......................213 Alexandra Ayach Anache Capítulo 10. Como estranhos no ninho: o diferente jeito de viver das pessoas com a Síndrome de Asperger ...............245 Eliana Rodrigues Araújo Herculano R. Campos APRESENTAÇÃO A denominação de um dos mais antigos e atuantes grupos de trabalho da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – ANPEPP –, traduz o processo de reflexão que tem caracterizado toda a Psicologia no Brasil, mas muito particularmente os avanços que se observam no contexto particular da área de Psicologia Escolar. Inicialmente denominado GT de Psicologia Escolar: pesquisa, formação e prática, foi a abrangência da atuação dos psicólogos nesse campo, associada com as questões emergentes dos trabalhos realizados na fronteira com a Educação, que requereram a atualização do nome para GT de Psicologia Escolar e Educacional. Atualmente constituído por dez professores doutores, todos membros de Programas de Pós-graduação de diferentes universidades de diferentes regiões brasileiras, o GT caracteriza-se pela abordagem de importantes questões teóricas e práticas pertinentes à interface da Psicologia com a Educação, como a formação do psicólogo para o trabalho em contextos educativos, sua atuação na diversidade desses espaços – notadamente na escola –, à formação do psicólogo para o trabalho em contextos educativos, bem como pela pesquisa e produção de conhecimento científico neste campo. As discussões vêm sendo alimentadas pelos estudos desenvolvidos por cada um dos docentes que compõem o GT, de modo que suas investigações conformam um sensível instrumento de detecção da realidade na área, suas tendências, seus desafios. Em decorrência, no mesmo movimento em que identifica e discute essas questões, caracteriza-se o Grupo por buscar dar direção a elas, notadamente por sua produção teórica, mas também pelo do conteúdo da participação dos seus membros em diversos fóruns de discussão. Um dos resultados mais palpáveis dos debates efetuados durante a X Reunião da ANPEPP, em 2004, foi o livro Psicologia Escolar e Compromisso Social. Naquela oportunidade, as atenções do GT se voltaram mais especificamente para o sentido que estava sendo emprestado às práticas então desenvolvidas pelo psicólogo escolar/educacional, cotejando-as com as propostas de uma intervenção socialmente comprometida. Avaliou-se que os discursos se mostravam mais avançados que as práticas efetivadas, suscitando uma interrogação a respeito do papel que cabia à formação acadêmica – inicial e continuada – nesse quadro, notadamente quando crescia o movimento de adaptação dos currículos às novas diretrizes, e quando se sabia da dificuldade para contemplar nos novos currículos, nas novas ênfases, os conteúdos pertinentes à área da Escolar/Educacional. A publicação que no momento disponibiliza-se aos interessados por essa área de intersecção é decorrência, portanto, das discussões abrigadas sob o tema da Formação em Psicologia Escolar: realidades e perspectivas. Ela reflete as respostas do GT aos seguintes objetivos de trabalho, desenvolvidos durante o XI Simpósio da Associação: a. Discutir, a partir da experiência e reflexão dos participantes, apresentadas na forma de produção científica, aspectos da realidade da formação do psicólogo escolar no Brasil; b. Ana li sar as ten dên ci as de tais ex pe riên ci as, con si de ran - do-as em re la ção às es pe ci fi ci da des dos con tex tos edu ca - ti vos e da re a li da de social brasileira; c. Identificar os desafios que se apresentam para uma formação que conduza à análise crítica do contexto socioeconômico do país, notadamente aqueles concernentes à dimensão pessoal da formação; d. Apontar alternativas de formação que possam resultar em um exercício profissional mais comprometido com a maioria da população brasileira e em temas de investigação que venham subsidiar tais ações; e. Analisar a possibilidade de articular ações conjuntas de pesquisa e de formação profissional que potencializem os resultados do trabalho do GT, visando incrementar sua contribuição ao desenvolvimento da Psicologia Escolar/Educacional no país. Ao longo dos dez capítulos desta publicação, encontram-se reflexões a respeito da formação acadêmica do psicólogo escolar, e do papel que nela exerce a pesquisacientífica; da atuação profissional, inclusive da realidade peculiar dos psicólogos recém-formados; da articulação entre formação e atuação, em que se problematiza a pertinência e adequação de uma para com a outra; e também dos desafios que representam para os profissionais que atuam nos espaços educativos as práticas de educação inclusiva, tanto teoricamente quanto sob o ponto de vista da adequação da política pública. A expectativa maior e a intenção são que o movimento, principiado pelas questões de ordem teórico-prática a respeito da Psicologia na sua intersecção com a Educação, contemple a reflexão cuidadosa a respeito da contribuição do psicólogo escolar para a construção de uma sociedade mais justa. O organizador SOBRE OS AUTORES ALACIR VILLA VALLE CRUCES Psicóloga, psicopedagoga, mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano da Universidade de São Paulo. Professora nas áreas de Psicologia Educacional e Escolar, do Desenvolvimento e da Aprendizagem em cursos de graduação e de pós-graduação. Coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário de Santo André de agosto de 2000 a agosto de 2004. Participa constantemente de congressos nacionais e internacionais com apresentação de trabalhos e diversas publicações centrados na formação e atuação do psicólogo na área da Educação e na História da Psicologia no Brasil sempre em suas interfaces com a Educação. É membro de sociedades e associações nacionais e internacionais de Psicologia. ALBERTINA MITJÁNS MARTÍNEZ Psicóloga pela Universidade de Havana, pós-graduada pela Universidade Estadual de Moscou e doutora em Ciências Psicológicas na Universidade da Havana, onde foi vice-reitora e diretora da Faculdade de Psicologia e coordenadora do Grupo de Estudos da Mulher. Foi professora visitante do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília de 1995 a 1999 onde, atualmente, é professora da Faculdade de Educação. Foi coordenadora do Grupo de Trabalho Psicologia Escolar/Educacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia no biênio 2002-2004 e organizadora do livro Psicologia Escolar e Compromisso Social: novos discursos, novas práticas. ALEXANDRA AYACH ANACHE Psicóloga, mestre e doutora em Educação. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo − USP. Professora adjunta do Departamento de Ciências Humanas – Centro de Ciências Humanas e Sociais − da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: alexandra.anache@brturbo.com.br CELIA VECTORE Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Escolar pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Pós-doutora pela Facoltà Degli Studi di Ferrara, Itália e pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia nos níveis de graduação e pós-graduação, coordenadora do curso de especialização em psicopedagogia (lato sensu) e dos laboratórios: de Estudos Avançados em Desenvolvimento Humano e, de Estudos da Criança e do Brincar do IPUFU, onde também é orientadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Aplicada. Membro do Grupo de Trabalho da ANPEPP, Psicologia Escolar/Educacional. Atualmente é líder do grupo de pesquisa do CNPq intitulado Psicologia e Desenvolvimento da Aprendizagem: contextos institucionais e coordenadora de pesquisa financiada pela FAPEMIG. E-mail: vectore@ufu.br CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Graduada e doutora em Psicologia pela UnB/DF, onde atua como professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação Desenvolvimento Humano e Saúde e do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento. Coordenadora do GT Psicologia Escolar e Educacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – ANPEPP (biênio 2006-2008), coordenadora do Projeto de Extensão Permanente junto à Secretaria de Educação do Distrito Federal. Assessora nas áreas de Formação de Professores e de Psicologia Escolar. Consultora de organismos internacionais e de programas governamentais voltados à capacitação de professores, aos programas de educação à distância e aos processos de avaliação da educação superior. Consultora em Avaliação da Educação Superior – especialista em Psicologia – Projeto UNESCO-MEC/INEP/DEAES (Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior); consultora em Educação à Distância – especialista em Psicologia – em programas de formação de professores – PNUD (ONU – MEC/FUNDESCOLA). Laureada pela Academia Paulista de Psicologia – Prêmio2004-2006 e recebeu o Prêmio UnB de Pesquisa 2006. Membro de conselho editorial de periódicos científicos e autora de diversas publicações na área de Psicologia e Educação. ELIANA RODRIGUES ARAÚJO Pedagoga, especialista em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Fundadora e coordenadora da APACE – Associação de Pais, Amigos e Profissionais de Crianças Especiais. Pesquisadora de estratégias e práticas pedagógicas para uma educação inclusiva de pessoas com transtornos invasivos do desenvolvimento, com recorte à interações sociais das pessoas com a Síndrome de Asperger. EULÁLIA H. MAIMONI Doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo, docente do Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba (MG), é responsável pela representação de Minas Gerais junto à ABRAPEE. Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) no biênio 2004-2006. Docente aposentada da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Publicou capítulo nos livros: A Escola e a Família (Cabral Ed, 2003.) e Formação de Professores en América Latina: diversos contextos sócio-políticos (Bogotá: Antropos, 2003). Faz parte do Grupo de Pesquisa: Os professores e suas práticas (CNPq). HERCULANO R. CAMPOS É psicólogo e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No Departamento de Psicologia da UFRN atua, na graduação, como supervisor de estágio em Psicologia Escolar, e como professor e orientador no Programa de Pós-graduação, Mestrado, em Psicologia. É, também, membro-pesquisador do Núcleo de Estudos Socioculturais da Infância e Adolescência – NESCIA; coordenador do Curso de Especialização em Psicopedagogia; atual vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Psicologia – Mestrado; e vice-coordenador do Curso de Especialização sobre Crianças e Adolescentes: aspectos legais e sociais. É assessor da Pró-reitoria de Planejamento e Coordenação Geral, na qual preside a comissão responsável pela implementação da auto-avaliação institucional. É membro da Comissão Assessora do MEC/INEP na área de Formação de Professores. Tem atuado junto a várias ONGs no acompanhamento de projetos destinados à infância e adolescência com sujeitos em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Presta assessoria na área de formação de professores para a inclusão educacional. MARIA REGINA MALUF É doutora em Psicologia pela Universidade de Louvain (Bélgica). É professora de Psicologia do Desenvolvimento e da Educação do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professora de Psicologia do Desenvolvimento no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Escolarização Inicial e Desenvolvimento Psicológico. Possui numerosas publicações em periódicos científicos e capítulos de livros, sobre temas de Psicologia da Educação e do Desenvolvimento. Ampla experiência em cursos de pós-graduação, realizando pesquisas e orientando teses e dissertações em duas áreas principais: desenvolvimento infantil, com ênfase na aquisição inicial da escrita na pré-escola e ensino fundamental; formação do psicólogo, com ênfase no trabalho com educação. Membro de Sociedades Científicas Nacionais e Internacionais.Membro da Academia Paulista de Psicologia. E-mail marmaluf@ajato.com.br MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA Psicóloga, doutora em Psicologia Escolar pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo nos cursos de graduação em Psicologia e de pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Coordena o Serviço de Psicologia Escolar e o LIEPPE – Laboratório de Interinstitucional de Estudos e Pesquisa em Psicologia Escolar. Participou de vários congressos e atividades científicas na área de Psicologia, sempre apresentando trabalhos e pesquisas desenvolvidos na área de Psicologia Escolar/Educacional. É pesquisadora e orientadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do IPUSP desde 1997, tendo orientado neste período 11 projetos de iniciação científica, 14 dissertações de mestrado e três teses de doutorado na linha de pesquisa Psicologia Escolar e Educacional. É líder do Grupo de Pesquisa do CNPq intitulado Psicologia Escolar e Educacional: processos de escolarização e atividade profissional em uma perspectiva crítica. Atuou como editora responsável pela Revista Psicologia Ciência e Profissão (2001-2004), do Conselho Federal de Psicologia e, atualmente, é editora adjunta da Revista Psicologia Escolar e Educacional. É co-editora de várias publicações na área de Psicologia Escolar, destacando os trabalhos: Psicologia escolar em busca de novos rumos, juntamente com Adriana Marcondes Machado, atualmente na 4ª edição e de Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos com Elenita Tanamachi e Marisa Lopes da Rocha, ambas publicadas pela Casa do Psicólogo Editora. É conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, coordenando a Comissão de Direitos Humanos (gestão 2004-2007). Ocupa o cargo de Presidente da ABRAPEE – Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, biênio 2006-2008. MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES Psicóloga, doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília, professora da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal e do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Professora orientadora nos Programas de Pós-graduação lato sensu e stricto sensu do IP/UnB, pesquisadora nas áreas de Psicologia do Desenvolvimento e de Psicologia Escolar, com interesse especial no estudo das queixas escolares. E-mail: marisa.brito.neves@uol.com.br SÔNIA MARIA ROCHA SAMPAIO Pós-doutorada em Ciências da Educação da Universidade Paris 8. Professora adjunta do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFBa. Coordenadora de Educação, Diversidade e Ações Afirmativas da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas da UFBa. Professora visitante (2004) e pesquisadora associada ao Expérice/Paris 8, dirigido atualmente pelo Prof. Remi Hess. Coordena o Grupo de Pesquisa Aproximações: a perspectiva ethno em psicologia do desenvolvimento. Atua, principalmente, nas seguintes áreas de pesquisa: a relação pedagógica que se estabelece entre crianças em risco psicossocial e o adulto-educador, tanto em situações escolares como extra-escolares; formação do educador social; estudos em etnopsicologia. DESAFIOS E ALTERNATIVAS PARA A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES Espaços criados, desafios instalados INTRODUÇÃO O presente capítulo se propõe a discutir os desafios instalados no cenário da graduação em Psicologia a partir da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais, enfocando o que se refere especificamente à formação em Psicologia Escolar. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Psicologia foram aprovadas em fevereiro de 2004, pelo parecer nº CNE/CES 0062/2004, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. Após a homologação pelo Ministro de Estado da Educação em 12 de abril de 2004, a resolução nº 8, de 7 de maio de 2004, instituiu nacionalmente as Diretrizes. A partir de então, o tema da formação inicial em Psicologia na graduação vem motivando estudos, discussões, publicações e propostas de reestruturações curriculares em todo o país. Esse cenário também se reflete nas produções teóricas relativas à Psicologia Escolar, gerando intensas reflexões na busca de maior criticidade à formação e atuação do psicólogo escolar. O presente trabalho se propõe a contribuir com tais reflexões, na medida em que apresenta articulações entre as possibilidades de formação inauguradas com as Diretrizes e as necessárias transformações que vêm sendo demandadas para a formação do psicólogo escolar. As propostas aqui apresentadas se orientarão a partir de dois eixos de reflexão: um eixo teórico-conceitual, que discutirá, em especial, temáticas ligadas ao perfil profissional e a abordagem por competências; e um eixo operacional, discutindo aspectos do desenho curricular do curso, considerando os eixos estruturantes, o núcleo comum e possíveis ênfases. EIXO TEÓRICO-CONCEITUAL Perfil profissional como marco orientador da formação em Psicologia As Diretrizes são consideradas um avanço em relação ao Currículo Mínimo em vigor até então, pois orientam a construção de um perfil profissional competente e comprometido historicamente com as demandas sociais na formação inicial do psicólogo. Entretanto, sabe-se que as transformações necessárias à constituição do novo não se concretizarão apenas a partir de reformulações legais ou institucionais, mas, antes, pela inserção ativa e interativa de sujeitos conscientes de seus papéis e funções, da diversidade teórica e metodológica da Psicologia, da especificidade do conhecimento psicológico nos contextos de atuação profissional multidisciplinar. Os limites convencionais da racionalidade técnica, a hierarquização de conhecimentos e o status acadêmico que escalonam a apropriação do saber vêm conferindo até agora à formação inicial, além do distanciamento da realidade e de suas demandas, uma sobrecarga de informações teóricas comprimidas no início do curso, a pulverização do conhecimento, a falta de integração entre as disciplinas, sustentadas por um currículo normativo que se distancia da compreensão dos múltiplos contextos de atuação. As demandas sociopolíticas que clamam a ação do psicólogo instalam a urgência por uma formação que considere tanto a complexidade do perfil profissional para o graduando em 18 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Bianca Realce Bianca Realce Bianca Realce Psicologia quanto o mergulho em uma prática real, partilhada, vivificada e ressignificada pelos inúmeros sentidos da experiência e dos processos relacionais. Tem-se, no cenário atual das práticas profissionais em Psicologia, o balizador necessário para se perceber como indispensável a superação dos limites convencionais da formação profissional. Acredita-se que seja pela mediação dessa prática que ganham espaço as alternativas de formação com respostas curriculares organizadas em torno de competências; de orientações de ensino que exigem aperfeiçoamento constante, dedicação e supervisão criativa do corpo docente; de posturas de aprendizagem que propiciem estudo e aprimoramento permanentes, agilidade, criatividade, independência, postura inquisitiva, tomada de decisão. A especificidade e a sutileza próprias da formação em Psicologia exigem a construção de um perfil profissional atuante e participativo, proporcionado por uma dimensão formativa ampliada, configurada pela mobilização de saberes, da ciência e da experiência, em processos de construção e reconstrução de competências que são necessárias para o exercício de sua prática profissional. Acredita-se que o ponto de partida para se planejar a implantação das Diretrizes Curriculares deva ser o perfil profissional esperado ao egressoda graduação em Psicologia. É importante que se considerem, na definição desse perfil profissional, a ênfase em um aperfeiçoamento constante e o desenvolvimento de posturas de agilidade, criatividade, independência, tomada de decisão. A constituição do perfil profissional do psicólogo, e em especial do psicólogo escolar, configura-se como uma questão complexa, relacionada e influenciada por muitos aspectos, entre os quais a história pessoal e o reconhecimento social da profissão. A formação inicial da graduação em Psicologia deve comprometer-se com a preparação para esse perfil, fortalecendo o pertencimento a uma categoria profissional específica, com objetivos, história e características próprias. Essa formação deve favorecer, de forma complementar e interdependente, uma articulação entre o campo específico de atuação da Psicologia e o domínio dos saberes, dos conhecimentos e das competências que caracterizam as possibilidades da intervenção profissional. A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 19 Bianca Realce Bianca Realce O atual cenário nacional da Psicologia Escolar demanda o desenvolvimento de um perfil cujos aspectos particularizem e especifiquem um processo de consolidação profissional tanto singular e individual, quanto plural e coletivo. A implantação das Diretrizes requer a construção de um perfil crítico e comprometido com a transformação das condições sociais e de trabalho que permeiam o contexto escolar e educacional, articulando-se coletivamente e defendendo a utilidade das intervenções como suporte ao reconhecimento social da profissão. O perfil profissional assim entendido é pautado em uma construção histórica, pois que revela, de um lado, a expressão da história de vida da pessoa, de seus valores, vontades, necessidades, crenças e expectativas pessoais; e, de outro, as diversas relações de trabalho vinculadas a um momento social e cultural determinados. As escolhas profissionais e os projetos pessoais não se configuram como um fenômeno exclusivamente individual ou profissional, mas interligam-se aos sistemas de relações sociais e a cenários histórico-culturais constituídos. A formação profissional deve considerar essa interdependência, possibilitando ao desenvolvimento individual transformações e ressignificações em função de novas expectativas e desejos desencadeados no processo de preparação acadêmica. Assim, é premente que um curso de graduação em Psicologia, orientado pelo perfil profissional desenhado pelas Diretrizes Curriculares, considere os aspectos subjetivos e intersubjetivos presentes nas escolhas, contingências e opções que se colocam aos sujeitos, e que se redefinem na história de seu tempo (Araújo, 2003; Marinho-Araujo, 2005b). Especialmente quanto ao perfil esperado do psicólogo escolar, é importante que os diferentes sistemas formadores assumam o compromisso pelo desenvolvimento de competências adequadas e eficazes para uma atuação melhor preparada a lidar com os inúmeros fenômenos desafiadores que esse profissional enfrenta. Acredita-se que as exigências atuais para essa atuação orientem a Formação em Psicologia Escolar a partir das transformações sobre as concepções cristalizadoras acerca do desenvolvimento humano, da mudança de foco do fracasso escolar para uma cultura de sucesso escolar, da substituição do paradigma da doença para o da saúde psicológica, da construção de estratégias de intervenção que visem à promoção da 20 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Bianca Realce saúde e do bem-estar dos sujeitos (Araújo, 2003; Marinho-Araujo & Almeida, 2005; Guzzo, 2001). O redirecionamento dos caminhos de formação, desvelados pelas Diretrizes Curriculares, tendo em vista uma atuação psicológica mais específica às demandas dos contextos educativos, deve pautar-se em novos desenhos e novas trajetórias formativas à construção de um perfil atuante e participativo, valorizando a especificidade de seu trabalho e de seu grupo profissional. Os indicadores presentes nas Diretrizes Curriculares sinalizam algumas características gerais que podem orientar o desenvolvimento do perfil profissional do psicólogo para que ele atue em contextos educativos, de forma abrangente e pluralista, visando: ampliar o potencial de inserção; incorporar inovações no campo de trabalho; atender às necessidades regionais e locais; favorecer a multiqualificação. Entende-se que essas características deverão orientar todo o percurso de formação inicial do psicólogo escolar para atuar em contextos educativos, integrando conhecimentos e práticas ao longo do curso, nos diversos momentos previstos nas Diretrizes (núcleo comum, ênfases e estágios). Enfatiza-se, ainda, que a formação em pesquisa deve comparecer, transversalmente, nas características a serem contempladas para esse perfil. Já desde o núcleo comum, a verticalização nas orientações para a pesquisa deve encorajar o desenvolvimento de habilidades para produção de conhecimentos, redirecionando o foco para um perfil criador, inovador, produtor e transformador da e na sua profissão. Desenvolvimento de competências: o foco das mudanças na formação do psicólogo Na construção das trajetórias de formação profissional, a abordagem por competência surge como estratégia privilegiada e útil, tanto ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, quanto à preparação para os papéis e funções que ele poderá desempenhar nos contextos de atuação e intervenção. A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 21 Bianca Realce Entretanto, para alguns, adotar uma formação ancorada na abordagem de competências pode sugerir um viés tecnicista e mercadológico impregnando a trajetória profissional. Como contraponto, acredita-se que remeter a formação profissional inicial à construção de competências não significa colocar-se refém das demandas econômicas do mercado, mas, ao contrário, levar em conta as contradições do mundo do trabalho, os contextos econômicos e político-ideológicos, as transformações técnicas e organizacionais, os impactos socioambientais, os laços coletivos e de solidariedade, os princípios e as lutas dos cidadãos. A definição de competência é complexa e possui múltiplas dimensões, ancorada em diferentes matrizes teórico-conceituais que orientam sua definição e os conseqüentes desdobramentos. Ao longo dos anos, desde a Idade Média, o conceito de competência foi sendo vinculado, de forma mais geral, a uma capacidade reconhecida de ação ou de expressão sobre determinados assuntos. Porém, uma competência não se define apenas em termos de prontidão para o desempenho de uma ação, mas, antes, constrói-se no cotidiano, nas situações do dia-a-dia que exigem dos seus atores a identificação dos conhecimentos pertinentes e a mobilização de recursos, configurados em uma postura ativa e eficaz diante dos desafios ou problemas. A noção de competência é, portanto, polissêmica e permite evocar simultaneamente uma multiplicidade de conhecimentos, de saberes, de habilidades e diversos outros recursos internos, quando colocados ou não em prática nas atividades, situações ou relações. As inúmeras mudanças ocorridas nas condições sociais, econômicas, históricas e culturais das últimas três décadas influenciaram as relações e as situações de trabalho, redefinindo perfis profissionais e estabelecendo novas organizações do trabalho. A complexidade da questão da competência cresceu em extensão nesse novo cenário. Surgiram critérios de competências, categorias de saberes, conceitos particulares que geraram terminologias associadas às competências: performance, know-how, qualificação e inúmeras definições para saberes, adquiridos por hábito ou por aprendizagem formal ou informal. Especialmente no mundo do trabalho, a noção de competência 22 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO adquiriu contornos diversos, a partir das influências históricas e econômicas (Araújo, 2003; Marinho-Araujo, 2005a). O conceito de competências alterou-se, portanto, à medida em que o contexto sociohistórico e econômico se modificou, gerando maior complexidade aos processos de trabalho,exigindo aprofundamento no conhecimento científico-tecnológico e a utilização de capacidades cognitivas complexas, desenvolvidas por meio de relações sistematizadas com o conhecimento teórico formal. As demandas por melhoria da qualidade dos produtos e flexibilização dos processos de produção e de trabalho exacerbaram a competição e acabaram por utilizar a educação e a formação escolar como meios de incrementar ou adaptar aquisições individuais às suas exigências (Araújo, 2003). O ter mo com pe tên cia se uni ver sa li zou na me di da em que apo i ou a mo da li da de de tra ba lho es tru tu ra do, exi gin do do mí nio de co nhe ci men tos ci en tí fi cos e tec no ló gi cos ar ti cu la dos a de sen vol vi - men to psi co mo tor, cog ni ti vo e afe ti vo (fa zer, sa ber e ser). Esse novo ce ná rio di re ci o nou a ques tão das com pe tên ci as para de fi ni - ções ope ra ci o na is, ob ser vá ve is, apa ren tes, ma ni fes tas, que, para De pres bi te ris (2002), não seriam suficientes para orientar a compreensão e o desenvolvimento de competências. Dessa forma é que, especialmente no contexto das organizações ou empresas, o termo competência foi sendo associado a uma variedade de atributos como capacidades, aptidões, qualificações que seriam adequados e esperados à execução de determinadas atividades profissionais. Essa diversidade na utilização do termo contribuiu para que o conceito de competência fosse sendo desassociado da idéia de uma especialidade de alto nível, adquirindo mais flexibilização e um uso mais constante, especialmente no sistema educativo. A referência às competências aparece no discurso contemporâneo ligada aos meios psicológicos, quer se trate da prática profissional psicológica, da pesquisa ou do ensino da ciência psicológica. A noção de competência se ampliou à medida em que a exigência do domínio de conhecimentos científicos e tecnológicos foi articulada a outros aspectos do desenvolvimento humano, especialmente, às dimensões socioafetivas. A influência social nos mecanismos de atribuição de sentidos às ações individuais ou A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 23 coletivas é, portanto, considerada fundamental no bojo dos recursos mobilizados na construção de competências. A competência passou a ser entendida como recurso e ferramenta que habilitam o sujeito a atuar, com intencionalidade e segurança, em contextos técnicos e complexos, diante dos quais ele pode fazer opções éticas, conscientes e transformadoras. Para além das concepções taxonômicas ou cognitivistas acerca da compreensão de competências, autores contemporâneos têm buscado uma ampliação conceitual a partir da qual entende-se a competência como um complexo processo auxiliar no enfrentamento de uma realidade mutável e histórica, que exige escolhas e decisões. A ampliação da noção de competência retira-a da explicação limitada de um “saber fazer”, expressa por meio de "resolver problemas” ou “desenvolver determinados trabalhos”, ancorada em esquemas operatórios mentais e domínios cognitivos superiores na mobilização de certos conhecimentos, habilidades ou atitudes. O desenvolvimento de competências focando apenas habilidades ou estruturas cognitivas que o sujeito mobiliza diante de seus objetivos e potencialidades reduz a concepção de competências a uma característica individual, um atributo esperado do indivíduo, sem implicar um caráter coletivo à combinação de competências demandadas a um contexto profissional específico ou a uma determinada categoria profissional. Assim, construir competências em um processo formativo pressupõe considerar, de forma preponderante, o conjunto de influências históricas, sociais e culturais e o impacto das práticas sociais na vida pessoal e profissional. Autores como Wittorski (1998), Paquay (2001), Perrenoud (2002), consideram a influência social nos mecanismos de atribuição de sentidos às ações individuais ou coletivas, e especialmente o impacto das práticas sociais na identificação das competências. Ao vincular a noção de competência aos contextos sociais, produzidos em espaços e tempos histórico-culturais, pretende-se articulá-la a parâmetros de atividades coletivas, com objetivos compartilhados em prol de metas comuns. Caracterizar a competência, e especialmente a competência profissional, nessa 24 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO dimensão significa incorporar uma historicidade organizacional e coletiva à consolidação de um processo identitário competente, configurado na perspectiva de constantes construções e reconstruções para a compreensão do mundo e sua transformação. A ênfase em processos coletivos não minimiza interesses, expectativas, projetos e aspirações dos sujeitos; ao contrário, favorece a autonomia no sentido de emancipação das relações alienantes, fortalece opções solidárias e articula a dimensão profissional à dimensão sociopolítica (Araújo, 2003; Marinho-Araujo, 2005a). Assim, competência não se define apenas como um conjunto de habilidades ou capacidades utilizadas para um determinado fim. Ser competen te caracter iza-se por , diante de uma situação-problema, mobilizar recursos disponíveis que deverão ser articulados aos pontos críticos identificados da situação, para que seja possível tomar decisões e fazer encaminhamentos adequados e úteis ao seu enfrentamento, especialmente em contextos relacionais (Araújo, 2003). Aprender a identificar, mobilizar e utilizar recursos (habilidades, saberes, conhecimentos, comportamentos e outros processos psicológicos) é o que leva a construir a visibilidade de uma competência, entendendo-a como uma dimensão do processo de desenvolvimento humano. Os diversos recursos a serem mobilizados constituem-se como conteúdos simbólicos diferenciados de atividades que serão transformados, reflexiva e intencionalmente, em novos conteúdos de atividades mais complexas e diversificadas (Stroobants, 1993). Essa perspectiva torna a abordagem por competência fértil mediação entre a construção do saber e a transposição desse saber para ações cotidianas. A concepção de competência, assim revisitada, aproxima-se de uma perspectiva mais ampliada, na medida em que busca a construção e a mobilização não só de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, em uma dimensão técnica especializada, mas também de afetos, práxis e atributos de comunicação e de inter-relações, na dimensão histórico-cultural. Deve-se considerar, portanto, no bojo dos recursos mobilizados na construção de competências, o conjunto de influências históricas, sociais e culturais que, inseridas em um processo formativo e de inserção social amplo, se materializam nas A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 25 instabilidades sociais, nas circunstâncias político-ideológicas, nas contradições sociais e intersubjetivas, nas negociações dinâmicas presentes nas redes relacionais. Considerar as competências humanas contextualizadas, historicamente definidas, individual e coletivamente constituídas, acompanhadas da mobilização dos saberes gerados nas atividades e relações de trabalho (conhecimentos, valores, histórias e saberes da experiência), auxilia na ampliação da noção de competência. Como sugerem Wittorski (1998) e Le Boterf (1998), o locus privilegiado para o desenvolvimento de competências seriam as situações de trabalho coletivo, a partir de contextos cujos objetivos provocassem o comparecimento de ações e operações intencionais, originando atividades condizentes e favoráveis à construção de uma identidade profissional adequada às exigências das situações concretas, tanto individuais, quanto coletivas, no contexto de trabalho. Uma forte exigência do processo de construção de competências é a utilização de conhecimentos – quer sejam aprofundados, sistematizados, advindos da experiência pessoal, elementares e superficiais, quer sejam complexos e organizados por meio de redes. Entretanto, quanto mais as ações humanas exigem o aprofundamento ou a organização de conhecimentos, mais tempo se necessita para o desenvolvimentode competências. Para Tardif (2002), construir competências pressupõe considerar, de forma preponderante, a dimensão histórica da vida pessoal e profissional. É no processo temporal de construção de competências que o profissional domina progressivamente os conhecimentos necessários à realização da sua atividade laboral; que ressignifica crenças, representações e certezas sobre sua prática; que amalgama habilidades, saberes e conhecimentos nas contradições, dilemas e tensões oriundos das diversas fontes que diversificam, historicamente, as competências (Araújo, 2003; Marinho-Araujo, 2005a). A competência agrega, portanto, uma característica de temporalidade ao seu desenvolvimento, pois requer apropriação e integração progressivas de recursos, conhecimentos, saberes, além das possíveis transformações de crenças, representações, valores. A consolidação das competências na trajetória profissional pressupõe 26 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO uma dimensão histórica, ressignificada durante o desenvolvimento do sujeito, no interjogo das relações sociais partilhadas. Assim, trabalhar competências é prever processos de continuidade e de rupturas transformando-se complementarmente, em função das inúmeras situações que vivenciamos. È importante que as pessoas tenham tempo de viver suas experiências e de analisá-las para ponderar sobre a utilização de seus recursos e habilidades, aspectos mobilizadores das competências (Araújo, 2003). Em associação com a característica de temporalidade, as competências devem ser compreendidas como expressão da orquestração de inúmeros e variados elementos, que se mobilizam em função de demandas contextualizadas e relacionais. A competência se constitui, portanto, na possibilidade de ampliação, de integração e de complementação desses elementos, a partir do valor de uso que eles possam apresentar em uma determinada ação. Mobilizar esses elementos significa apoiar-se neles, compreendê-los como componentes de uma competência, mas não se limitar a eles, especialmente por entender que nenhum deles pertence exclusivamente a uma competência, na medida em que podem ser mobilizados por diversos outros recursos, em muitos contextos e relações e a partir de inúmeras intenções diferentes (Araújo, 2003). A com pe tên cia ul tra pas sa, por tan to, os sa be res e co nhe ci - men tos, mas não se cons ti tui sem eles. Assim, co nhe ci men tos e com pe tên ci as são pro ces sos que se ar ti cu lam, mas não se iden ti fi - cam, não se con fun dem; por isso, não se deve abrir mão de trans - mi tir co nhe ci men tos ao se com pro me ter com o de sen vol vi men to de com pe tên ci as, pois que as ações hu ma nas im preg nam-se de algum tipo de co nhe ci men to. Qu an do mo bi li za co nhe ci men tos para uma atu a ção com pe ten te, o su je i to não os uti li za em ní ve is equi va len tes e nem da mes ma for ma, pri vi le gi an do al guns e con si - de ran do ou tros como pe ri fé ri cos ou se cun dá ri os; nes se sen ti do, em um pro ces so de cons tru ção de com pe tên ci as, há que se ter clare za des sa es co lha, dos seus mo ti vos e des do bra men tos (Araújo, 2003; Ku en zer, 2002). Para Kuenzer (2002, 2003), há uma dimensão práxica no conceito de competência que articula as especificidades da teoria e da prática: nem só o conhecimento teórico e nem o agir simplesmente são suficientes para o desenvolvimento de A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 27 competências. A autora utiliza-se do conceito de práxis como fundamento do processo de conhecimento, defendendo que não se conhece ou se transforma a realidade exclusivamente por uma ação do pensamento, mas sim por meio da atividade crítico-prática. A relação teoria e prática, presente na práxis, oferece aos processos de formação humana a possibilidade de integralizar a dimensão da reflexão e dos “fazeres” em resultados ou produtos nos atos ou conjuntos de atos. Ainda que o trabalho intelectual esteja, sempre que possível, articulado à práxis, ele por si só, é insuficiente para o desenvolvimento de competências; a produção teórica e o saber tácito tomam um novo significado quando mediados por processos sociais e produtivos. A práxis não substitui os fenômenos ou a realidade, mas legitima a processualidade pela qual o uso de teorias e técnicas se subordina às possibilidades geradoras dos pensamentos e das escolhas socioafetivas. O conceito de práxis torna-se indicador para o desenvolvimento de competências, invertendo uma lógica, pragmática e dicotômica, da prevalência dos artefatos ora teóricos ora práticos convertidos em referenciais universais às soluções para as situações enfrentadas pelo profissional. O conceito de práxis permite encarar os desafios do cotidiano profissional enquanto situações abertas, historicamente realimentadas ou redirecionadas, práticas de conhecimentos sem uma significação final, questionamentos teóricos materializados na ação, ressignificados pelos afetos (Araújo, 2003; Kuenzer, 2002). Entender, então, a noção de competência em sua dimensão histórica e cultural a coloca em uma perspectiva para além da construção social de seus significados, considerando-a como estratégia multidimensional presente no trabalho enquanto uma atividade humana, cumprindo o papel de recompor identidades pessoais e promover saltos qualitativos na história do desenvolvimento psíquico dos sujeitos. O repertório socioafetivo também deve ser considerado como mais um dos recursos psíquicos integrados e mobilizados pelas competências; deve-se lançar mão dos processos socioafetivos como recursos básicos e eficazes ao enfrentamento das diversas situações de trabalho ou de não-trabalho. 28 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Entende-se que, a partir dessas análises e reflexões, torna-se imprescindível enfrentar alguns desafios teórico-conceituais e tomar a ressignificação da noção de competência como tarefa necessária e, até certo ponto, urgente, de tal forma que essa abordagem responda às transformações histórico-culturais, ao mundo do trabalho e aos sujeitos-profissionais. Competências nas Diretrizes Curriculares É possível que o psicólogo faça parte de uma categoria profissional diferenciada, que mais do que se adaptar ao ambiente de trabalho, necessite: negociar com seus próprios saberes, abdicar de suas onipotências, intervir nas relações enquanto aprende a se relacionar, transgredir expectativas, transversalizar conflitos – desafios cotidianos de um profissional querendo ser e se fazer psicólogo. Nessa trajetória, além de buscar dominar conteúdos técnicos ou científicos e transformá-los à luz penetrante (e às vezes incômoda) da realidade social e cultural em que vivem, os psicólogos, e em especial os psicólogos escolares, devem ter a oportunidade, ao longo de sua graduação, de ir validando saberes práticos e habilidades pessoais que os ajudem a criar novas formas de entender a realidade a partir da ciência psicológica, dependendo das situações e dos desafios que ocorrem. Exercitar competências necessárias para a resolução dos problemas comuns presentes no trabalho do psicólogo que atua na escola é articular, de forma intencional e planejada, os conhecimentos formais às habilidades e saberes, incorporando-os à sua atuação e ao seu processo identitário profissional, compreendendo como e quando utilizá-los (Araújo, 2003). As Diretrizes Curriculares, ao optarem pela ênfase no desenvolvimento de competência para subsidiar a construção do perfil profissional do psicólogo, não se afastam do desafio de apontar quais competências seriam mais adequadas ao exercício profissional contemporâneo desse profissional. Nos artigos 4º, 8º e 9º, há, de forma ampla, a orientação para as competências gerais e as habilidades específicas esperadas na construção do perfil profissional do psicólogo. Nesses artigos, as Diretrizes apontam tanto para o desenvolvimento de um conjunto A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 29 de conhecimentos teóricos e técnicos, quanto para o aprimoramento de outros saberes, no sentidode preparar o futuro psicólogo para a ressignificação de diferentes sentidos na sua atuação profissional. Considerando a especificidade da formação do psicólogo escolar, o foco no desenvolvimento de competências na graduação deve visar a preparação mais segura, sistematizada e fundamentada do psicólogo para atuar nos complexos contextos educativos. No sentido de conferir maior visibilidade à formação da identidade profissional do psicólogo escolar durante a graduação, sugere-se, nesse capítulo, um detalhamento e ampliação das competências e habilidades gerais apontadas nas Diretrizes. Essa ampliação está calcada, para além da dimensão teórica da ação profissional e dos aspectos cognitivos individuais, em competências técnicas, pessoais, interpessoais e éticas, construídas na trajetória de formação acadêmica a partir das definições do perfil profissional esperado, dialeticamente concebido entre as expectativas e demandas da atuação e da formação profissional. É nessa perspectiva que se propõe, especialmente para a formação do psicólogo escolar, uma dimensão categorial para orientar e sistematizar os recursos provenientes de diferentes fontes e processos (cognitivos, afetivos, comportamentais, psicológicos, relacionais). Assim, apresenta-se, a seguir, a proposta de categorização dos saberes, conhecimentos e habilidades, como base de competências a serem desenvolvidas, acompanhadas das definições, dos recursos e comportamentos esperados. Essa categorização é baseada no trabalho de Araújo (2003) e articula-se às competências e habilidades previstas nas Diretrizes Curriculares. 30 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 31 saic nête p m o C sezirteri D oãçail p m A e d ats o p or P S A CI N C É T e sotne micehno C e socigólodote m sosrucer sortuo soa sodalucitra ,sianoicarepo ,siautiecnoc-ociróet sotne micehnoc edadilaer an rauta oãriti mrep euq .lanoissiforp º4 o gitr A , ;a meti º8 o gitr A sneti , ,g,f,e,d,c,b,a ;o, m,l,k º9 tr A retárac ed sacigólocisp seõçnevretni arap aigolocis P ad saigolodote m e sotiecnoc ,sairoet ed oiní mo D .sovitacude sotxetnoc me ,oviteloc uo laudividni ,ovitneverp sotxetnoc me ocigólocisp otne micehnoc od esetnís e oãçarobaleer ,oãçacilpa ,esilána ed edadicapa C .sovitacude .sacigógadepocisp sacitárp ed oãçailava e oãçucexe ,otne majenalp erbos sotne micehno C res a ohlabart o e ocigólocisp otne micehnoc o erbos saciróet seõçpecnoc sa ertne oãçaler ad azeral C .acigólocisp aicnêic ad sociróet setropa rop sadadnerefer ,atucse ed arutsop e edadiliba H.odatoda SI A O S S E P sosrucer e sacitsíretcara C o moc sodazilibinopsid siaossep laossep otne mivlovnesed ed sate m .lanoissiforp e ,º4 o gitr A ;f,e,b sneti o gitr A 8 ,º o,n sneti uo seõçatneiro savon ed ritrap a ,atsiv ed sotnop e saçnerc ,sotne micehnoc rever arap edadilibinopsi D .seõçazilauta .siaicnatsnucric sossecusni ed otiepsed a ,sadajenalp seõça me rarevesrep e ritsisrep me edadiliba H .lanoissiforp otne maoçiefrepa ed e odutse ed siaudividni sotejorp rarobale arap edadiliba H .seõsiced uo otilfnoc ed seõçautis a etnerf ai monotua ed edadicapa C SI A O S S E P R E T NI sacitsíretcara C oa sievárovaf sosrucer e ,laossepretni otne manoicaler ed oãçurtsnoc a odnevo morp à sietréf oãçucolretni ed soçapse .lanoissiforp oãçauta º4 o gitr A sneti , ;e,d,c º8 o gitr A , ,i,h,b sneti oãçapicitrap a ralu mitse ,seõça mrofni ed oãçalucric a revo morp ,serebas razilaicos arap edadilibinopsi D .snu moc sovitejbo e sate m odnahlitrap moc ,sianoissiforpitlu m e sianoissiforp sepiuqe me ogoláid o e aviteloc .soviteloc sohlabart e saferat ,sodutse ed oãçanedrooc arap edadilica F ,ortuo o odnivuo ,sotne micehnoc e serebas ,sianoicaler sossecorp son ,rargetni arap edadilibisne S lorp me siaossep satsiuqnoc odnazilibinopsid ,ovon o arap es-odnirba ,atsiv ed sotnop setnerefid odnatiepser .soviteloc sotejorp ed e savitacinu moc sedadilibah ed oie m rop ,sa melborp ed oãçuloser ed savitanretla racsub arap edadilica F .savitarepooc .ortuo o moc oãçaler an sotne micehnoc e serebas rargetni arap edadilibisne S S A CI T É euq sosrucer e sacitsíretcara C otne minrecsid o raticrexe mati mrep soipícnirp e sedadrev sairáv ertne edadivitejbusretni an setneserp .seõçaler sad o gitr A º4 , .c meti .seõçailava e seõsiced ed etnaid oãçautis adac ed edadiralugnis a raredisnoc arap edadilibisne S sairpórp saus erbos setnatsnoc e socitírc ,sovixelfer oãçagorretni a e otne manoitseuq o arap edadiliba H .sarutsop e seõça ,seõsiced .edadisrevid a e o msilarulp o moc rahlabart arap edadilibah e edadilibisne S .laicos edadilaer ad oãça mrofsnart a moc laicos-ocitílop ossi morp mo C .seõçatne mugra uo sodad sovon ed oãçnuf me saicnêrefer e saiug ,soirétirc ed oãsiver arap edadilibinopsi D . 1 ar ugi F C .ralocse ogolócisp od oãça mrof an saicnêtep moc ed oãçazirogeta Entendendo que as competências deverão permear a orientação para todo o percurso de formação (incluindo os estágios), a categorização sugerida acima pode servir como suporte à indicação de competências tanto para o núcleo comum (artigos 6º e 7º) quanto para as ênfases, que, segundo o artigo 12, parágrafo 2º, devem ser acompanhadas pelo detalhamento das competências que darão suporte às habilidades e conhecimentos que as definem. Assim, o desenvolvimento de competências deve ser pensado sob o foco de práticas pedagógicas integrativas entre os conhecimentos incorporados ao longo do curso, desde seu início, perpassando os diversos momentos: núcleo comum, ênfases e estágios. EIXO OPERACIONAL Os resultados e conclusões de estudos e pesquisas recentes (Marinho-Araujo, 2003; Neves, 2001) apontam para a gênese de uma epistemologia da ação enquanto sustentação para a compreensão do movimento dialético entre conhecimento e ação, no qual o conhecimento se inspira e se transforma na ação e esta se converte, de forma intencional, em novas fontes de produção de conhecimento. Utilizar a epistemologia da ação em um processo de formação profissional inicial requer o desenvolvimento de uma metacognição do conhecimento que emerge da reflexão na e sobre a ação, por meio da análise e interpretação das conseqüências da ação enquanto é realizada, implicando um olhar retrospectivo e prospectivo sobre o ato concretizado. Gerar um conhecimento ligado à ação e adquirido pelo contato com a prática é instalar novos paradigmas no cenário da formação do psicólogo escolar (Araújo, 2003). O desenho da abordagem formativa inaugurado pelas Diretrizes Curriculares deve contemplar, entre suas metas, a reflexão sobre a prática, fazendo surgir novos saberes e enfrentando as limitações da perspectiva prioritariamente técnica como fio condutor de uma ação de formação na graduação. Ao se pensar na epistemologia da ação orientando uma formação profissional mais qualificada, espera-se, também, que o contexto formativo acadêmico encontre sustentação em uma nova organização curricular e metodológica, mais comprometida com as 32 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO exigências de uma atuação dinâmica, histórica e transformadora. Um currículo que não considere tais dimensões pode distanciar-se muito do momento social concreto presente nos diversificados espaços profissionais, a ponto de fomentar um marco identitário frágil, gerando a desestabilização da confiança dos futuros profissionais em seus conhecimentos, suas habilidades e capacidades. Na busca da superação desse risco, as Diretrizes Curriculares apresentam possibilidades para novos cenários de interlocução, que visem congregar profissionais, instituições formadoras, sistemas educacionais em uma formação dinâmica e atualizada, contextualizada pelas diferentes demandas sociopolíticas e favorecida por uma prática reflexiva constantemente alimentada pela produção científica da área. Ao sugerir uma formação ampla para o psicólogo, as Diretrizes consideram e respeitam a multiplicidadeteórico-metodológica presente nos distintos paradigmas da ciência psicológica, apontando a necessária articulação com a diversidade de suas práticas e contextos de atuação. Para orientar a complexidade e diversidade da ciência psicológica, as Diretrizes definem eixos estruturantes cuja finalidade é articular conhecimentos, habilidades e competências, garantindo a coerência interna dos cursos, considerando seus pressupostos e fundamentos epistemológicos, históricos, teórico-metodológicos, seus procedimentos e práticas e as interfaces entre áreas afins. Nessa direção, o art. 5º das Diretrizes Curriculares sugere os seguintes eixos estruturantes: a. Fundamentos Epistemológicos e Históricos; b. Fundamentos Teórico-metodológicos; c. Procedimentos para a Investigação Científica e a Prática Profissional; d. Fenômenos e Processos Psicológicos; e. Interfaces com campos afins do Conhecimento; f. Práticas Profissionais. De acordo com o art. 18 das Diretrizes, os eixos estruturantes do curso deverão desdobrar-se em conteúdos curriculares e atividades acadêmicas, com objetivos de ensino, programas e procedimentos específicos de avaliação, com vistas a assegurar a A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 33 apropriação dos conhecimentos, estudos e pesquisas já sedimentados no campo da Psicologia. Tentando contribuir para a verticalização das reflexões sobre a Psicologia Escolar, esse capítulo apresenta um exercício de articulação entre os eixos estruturantes sugeridos nas Diretrizes Curriculares e seu desdobramento na especificidade da formação do psicólogo escolar. Para tanto, sugere-se que os eixos estruturantes gerais da formação em Psicologia sejam organizados em núcleos temáticos, que teriam a função de integrar as bases e fundamentos do conhecimento psicológico às especificidades da psicologia escolar. Os eixos estruturantes (a) Fundamentos Epistemológicos e Históricos; (b) Fundamentos Teórico-metodológicos e (d) Fenômenos e Processos Psicológicos poderiam ser operacionalizados por meio do núcleo temático Fundamentação Conceitual, Teórica e metodológica em Psicologia Escolar, no qual seria oportunizado o aprofundamento das concepções epistemológicas, conceituais, teóricas e metodológicas que sustentam a articulação Psicologia-Educação, verticalizando-se questões atuais na pesquisa psicológica, como: a influência das relações socioafetivas na gênese do desenvolvimento psicológico humano, o desenvolvimento dos processos psicológicos complexos a partir da interferência histórico-cultural nas relações intersubjetivas; as teorias contemporâneas sobre desenvolvimento e aprendizagem humanos. Também esse núcleo temático orientaria reflexões sobre a história da Psicologia Escolar, especialmente no que se refere aos percursos de formação e atuação da área. Os eixos estruturantes (c) Procedimentos para a Investigação Científica e a Prática Profissional; e (f) Práticas Profissionais contariam, na formação em Psicologia Escolar, com a especificidade do núcleo temático Formação Ética-profissional, por meio do qual se evidenciariam o compromisso do psicólogo e a conscientização acerca do seu papel nas transformações sociais. Os conhecimentos, competências e habilidades ligados a esse núcleo deveriam proporcionar uma compreensão crítica da interdependência entre psicologia e educação, bem como aproximações a novas formas de atuação e intervenção psicológica adequadas à diversidade dos contextos educativos. 34 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Um terceiro núcleo temático contemplaria a Contextualização das Tendências Sociopolíticas, em consonância com o eixo estruturante (e) Interfaces com Campos Afins do Conhecimento. Nesse núcleo, além da interface básica e fundamental entre as áreas da Psicologia e da Educação, poderiam ser desenvolvidas articulações entre as transformações sociais produzidas por áreas afins do conhecimento psicológico e seus desdobramentos educacionais, evidenciando-se os aspectos legais, sociais, políticos, históricos, antropológicos que influenciam a realidade educacional brasileira. Para orientar tal desenho curricular, fundamentado nos eixos estruturantes, as Diretrizes Curriculares objetivam, na formação generalista, o domínio de conhecimentos, saberes e competências, subsidiados por um núcleo comum, que prevê uma quantidade mínima de temas amplos a serem tratados ao longo dos anos de formação. Esse núcleo comum tem também a função de garantir uma homogeneidade do curso no país, em termos de procedimentos e congruência dos projetos pedagógicos sem, contudo, coibir a diversidade de pressupostos, teorias, métodos de investigação, técnicas, estratégias e possibilidades de ação que compõem a área psicológica. A identidade do curso de Psicologia no país teria sua referência no núcleo comum. De acordo com os artigos 6º e 7º das Diretrizes, o núcleo comum é entendido enquanto um conjunto de competências, habilidades, conhecimentos básicos que pretendem desenvolver no estudante de graduação em Psicologia tanto o domínio de conhecimentos psicológicos quanto a capacidade de utilizá-los em diferentes contextos que demandem investigação, análise, avaliação, prevenção e intervenção em processos psicológicos. No que se refere ao campo de conhecimento da Psicologia Escolar, as Diretrizes se mostram especialmente adequadas às orientações contemporâneas de formação para esse profissional quando sugerem que o futuro psicólogo deverá ser preparado para analisar o campo e o contexto de atuação profissional e seus desafios, em uma dimensão institucional e coletiva, identificando a dinâmica das interações entre os agentes sociais bem como suas necessidades psicológicas. Os processos de intervenção não poderão se desvincular dos referenciais teórico-conceituais estudados. A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 35 Salientando a autonomia dos cursos e a diversidade de orientações teórico-metodológicas das práticas e contextos de inserção profissional, o art. 10 das Diretrizes Curriculares Nacionais prevê, articulada ao núcleo comum, uma parte específica do curso diferenciada por meio da criação de ênfases curriculares, entendidas como conjuntos articulados de competências e habilidades que configuram oportunidades de concentração de estudos e estágios em algum domínio da Psicologia (Parecer CNE/CES 0062/2004). É facultado a cada instituição de ensino superior organizar essa parte diversificada do curso em ênfases inspiradas nas Diretrizes ou em outros “recortes inovadores”, a critério da instituição formadora. São possibilidades de ênfases, de acordo com o parágrafo 1 º do artigo 12 das Diretrizes: a. Psicologia e processos de investigação científica; b. Psicologia e processos educativos; c. Psicologia e processos de gestão; d. Psicologia e processos de prevenção e promoção da saúde; e. Psicologia e processos; f. Psicologia e processos de avaliação diagnóstica (Parecer CNE/CES 0062/2004). O ponto fundamental a ser seguido nas Diretrizes é a orientação para que as ênfases sejam suficientemente abrangentes para não constituírem especializações, assegurando o respeito às singularidades institucionais, às vocações específicas e aos contextos regionais: ... as diretrizes consideram as inúmeras possibilidades de desenvolvimento das teorias e técnicas psicológicas, recursos e estratégias de ação. Valorizam as ações multidisciplinares, a exploração das interfaces com outras áreas e profissões e levam em conta a expansão da atuação profissional para novos contextos. Além disso, acentuam a dimensão social e ética da profissão e o respeito aos diferentes fenômenos pessoais, grupais e culturais (Parecer CNE/CES 0062/2004, p. 3). 36 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO Nessa direção, especificamente os itens (b), (c), (d) e (f), do parágrafo 1º do art. 12, apontam possibilidades de ênfases que poderão ser úteis ao perfil profissional do psicólogo escolar. Apresentam-se ainda, neste capítulo, outras sugestões que podem orientar, na escolha das ênfases, a especificidadeda formação em psicologia escolar: desenvolvimento psicológico humano; pesquisa e intervenção em promoção da saúde; processo de gestão e compromisso sociopolítico. No caso da formação do perfil do psicólogo escolar, a articulação entre conhecimentos teórico-conceituais e as possibilidades de inserção em práticas, favorecida pelas ênfases, poderia ocorrer a partir de temas orientadores das ações acadêmicas, como: relação instituição-comunidade; relações interpessoais nos contextos profissionais; desenvolvimento e aprendizagens em contextos educativos diversos; desenvolvimento adulto; relação família-escola; pesquisa e intervenção; trabalho coletivo e relacional; atuação institucional multidisciplinar; desenvolvimento de competências na formação continuada; contextualização das tendências sociopolíticas; responsabilidade social; processo de gestão e compromisso sociopolítico. Tais temas seriam trabalhados de forma dinâmica e articulada às atividades acadêmicas previstas tanto para o núcleo comum quanto para as ênfases, pois, segundo o art. 14 nas Diretrizes Curriculares: A organização do curso de Psicologia deve, de forma articulada, garantir o desenvolvimento das competências do núcleo comum, seguido das competências das partes diversificadas – ênfases – sem concebê-los, entretanto, como momentos estanques do processo de formação (Parecer CNE/CES 0062/2004, p. 10). Sem indicar o tempo de duração do núcleo comum ou das ênfases, as Diretrizes chamam a atenção para a dinâmica integrada entre esses dois momentos da formação que, não sendo estanques, deverão ser distribuídos ao longo de todo o curso, desde seu início, no percurso da trajetória de formação do futuro psicólogo. A carga horária total mínima para os cursos de graduação em Psicologia, de acordo com o Parecer CNE/CES nº 329/2004, de 11/11/2004, é de 4.000 horas, devendo os estágios e as atividades A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 37 complementares não excederem 20% desse total. Nesse sentido, o limite imposto legalmente, em termos de carga horária disponibilizada às atividades que poderiam favorecer o que aqui nesse capítulo defendeu-se com a epistemologia da ação, numa forte argumentação a favor de atividades que promovam efetivamente a reflexão na e pela ação, prejudica inovações metodológicas e desenhos curriculares que privilegiam uma formação assistida em contextos de práxis profissional, como os que se utilizam, por exemplo, da metodologia do PBL (Problem Based Learning)1. Com relação especificamente à delimitação da carga horária para os estágios, têm-se, de um lado, os avanços expressos nos princípios e concepções das Diretrizes Curriculares e, de outro, restrições à ampla autonomia para uma organização curricular que privilegie, na carga horária do curso, espaço para planos de estudos e atividades acadêmicas diversificadas capazes de articular, desde o início do curso, pesquisas e reflexão teórica com o exercício de práticas profissionais. Tal incoerência reflete-se em discussões contemporâneas nas instituições de ensino superior que se organizam para a implantação das Diretrizes nos seus cursos de graduação em Psicologia. O risco que se corre vai desde a cristalização e reprodução de modelos pedagógicos tradicionais, com a dicotomia habitual entre teoria e pratica, até a utilização das ênfases curriculares para camuflar especializações clássicas e abordagens únicas no ensino e na pesquisa da Psicologia. 38 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO 1. O método PBL (Problem Based Learning) é uma estratégia pedagógico/didática que privilegia a imersão na prática, articulada a uma base teórica contextualizada, implicando o aluno ativamente na incorporação do conhecimento. A dinâmica do processo de ensino e aprendizagem ocorre por grupos com tutores que, através de situações-problema motivadoras, promovem reflexões sobre os temas do currículo, levando o aluno a definir objetivos de aprendizado. A adoção do método ocorreu, pioneiramente, em escolas de medicina de McMaster, no Canadá e de Maastricht, na Holanda, há aproximadamente 30 anos; mas, na última década, escolas como Albuquerque, de Harvard, do Hawai, entre outras, adotaram-no. Na graduação em Psicologia, a experiência pioneira no Brasil foi implantada em 1999, pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal-MS – UNIDERP. Para maiores estudos, ver: Dolmans, S.; Snellen-Balendong, H.(1995); Komatsu, R.S; et al. (1998); Uniderp. (1999); Universidade de Colima.(1999); University Maastricht. (1999-2000); Venturelli, J.(2000), Organización Panamericana de Salud, 1997. O planejamento acadêmico para o projeto do curso de graduação em Psicologia, proposto nas Diretrizes em seus artigos 14, 15, 16, 17 e, com detalhamento, no art. 19, é orientado para o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao exercício profissional. O envolvimento do estudante em atividades individuais e coletivas e o desenvolvimento do perfil profissional esperado estão previstos nas diversas sugestões que têm como ponto comum metodologias ativas e diversificados cenários de ensino e aprendizagem. Voltando o foco mais uma vez para o compromisso com a formação acadêmico-profissional do psicólogo escolar, sugerem-se, a seguir, algumas alternativas de organização curricular, considerando as articulações já exercitadas neste capítulo entre os eixos estruturantes e a proposta de núcleos temáticos. Assim, os núcleos temáticos poderiam subsidiar o trabalho acadêmico organizado em atividades como aulas, conferências, seminários, projetos de pesquisa, estágios supervisionados, observações e exercícios em contextos educativos diversos, práticas e projetos de extensão universitária, exercícios e planos de estudo coletivos, grupos tutoriais, estudo e análise de situações-problema, entre outras. O núcleo temático Fundamentação Conceitual, Teórica e Metodológica para a formação do psicólogo escolar poderia orientar-se por temas como: desenvolvimento humano e aprendizagem nas abordagens psicológicas contemporâneas; tópicos avançados em desenvolvimento e implicações educacionais; desenvolvimento humano no curso de vida: mediações da psicologia nos contextos institucionais; psicologia escolar: histórico, formação e identidade; psicologia escolar: atuação e intervenção; psicologia escolar e desenvolvimento de competências: atuação em contextos educativos diferenciados; mediação psicológica e formação continuada de profissionais da educação; formação e práxis profissional . O núcleo da Formação Ética-profissional poderia abranger temas como: mediações psicológicas no trabalho escolar: reflexões e práticas; psicologia, educação, sociedade e cultura: temas A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 39 contemporâneos; investigação científica e a prática profissional: metodologias e intervenção; ética como princípio: o olhar multiprofissional; cultura, identidade e trabalho; estudos contemporâneos sobre a psicologia do gênero; psicologia escolar e políticas socioeducativas; cultura, ideologia e instituição. O núcleo responsável pela Contextualização das Tendências Sociopolíticas poderia abordar tanto temas em psicologia escolar quanto temas integrados em psicologia, educação, saúde e trabalho, articulando áreas afins sintetizadas em tópicos, como: escola como fenômeno sociocultural: o papel do psicólogo; práticas preventivas institucionais e intervenção coletiva; inclusão escolar e a cultura de sucesso; mitos, preconceitos e identidade no processo educacional; queixas escolares e as práticas de atendimento; políticas públicas e práticas profissionais. Pensar a estrutura curricular de um curso de graduação organizado pelos núcleos ou módulos interligados por objetivos, temas e conteúdo não é incomum. Entretanto, a integração proposta aqui, além de considerar a interdependência entre núcleos, eixos estruturantes, ênfases curriculares, deverá contemplar a concepção de formação teórica articulada ao exercício profissional, na perspectiva dinâmica da epistemologiada ação e sustentada pela construção gradativa de competências. Essa integralização também pode ser viabilizada na concepção de estágio contemplada nas Diretrizes. O estágio supervisionado surge, defendido pelas Diretrizes Curriculares em seus artigos 20, 21, 22, 23, como um conjunto de atividades de formação que visam a consolidação e articulação das competências e o contato com situações, contextos, instituições. Ele deve ser distribuído ao longo do curso e se constituir de forma diversificada, interdisciplinar, processual. Deve ser estruturado em dois níveis: o nível básico, que supõe o desenvolvimento de práticas integrativas das competências e habilidades previstas no núcleo comum; e o nível específico para o desenvolvimento de práticas integrativas das competências, habilidades e conhecimentos que definem cada ênfase. Cada um desses estágios deve ser regido por carga horária própria, ambos perfazendo, pelo 40 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO menos, 15% da carga horária total do curso. Assim, nas orientações das Diretrizes, o estágio não é uma atividade estanque de fim de curso, que exige pré-requisitos ou que se reduz à visão ou projeto de um único professor. Os estágios em Psicologia Escolar, articulados às ênfases de forma processual desde o início do curso a partir de atividades com níveis diversificados de aprofundamento, poderiam consolidar-se como espaços privilegiados de formação assistida, com o foco em contextos de atuação e intervenção. Algumas atividades do estágio poderiam ser compartilhadas por professores de diversas áreas psicológicas, por meio de orientações comuns a projetos e ações interventivas, visando à ressignificação das aprendizagens no próprio contexto de atuação. Assim, um estágio em instituições educativas poderia ser supervisionado, de forma integrada, por professores ligados às áreas da Psicologia Escolar, da Psicologia Organizacional, da Psicologia Social e Comunitária, da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia Clínica, entre outras. Nesse desenho curricular, o estágio (tanto no núcleo comum quanto nas ênfases) teria o objetivo de investir em processos de formação profissional que respondessem às demandas e às exigências da realidade; de desenvolver a capacidade de questionar a prática, as rotinas de trabalho, o exercício profissional e a dimensão pessoal da formação, de forma assistida, reflexiva e acompanhada. Apresenta-se, a seguir, uma síntese representativa do desenho curricular aqui discutido. O esquema proposto pretende expressar, de forma dinâmica e articulada, a interdependência entre as grandes dimensões para a graduação em Psicologia Escolar, presentes nas Diretrizes Curriculares. A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 41 Figura 2. Síntese representativa do desenho curricular apresentado. Enfrentando o desafio de formar psicólogos escolares na graduação: relato de experiência no limiar da mudança O Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília vem, nos últimos quatro anos, intensificado discussões e trabalhos com vistas à reestruturação curricular do curso de Psicologia com base nas Diretrizes, para breve implantação. Na fronteira entre a mudança que se aproxima e o cotidiano da formação ainda estruturada nos moldes do currículo mínimo, algumas experiências-piloto de desenho curricular inspirado nas Diretrizes vêm sendo desenvolvidas em algumas atividades acadêmicas. Durante os dois semestres do ano letivo de 2006, o curso de Psicologia Escolar, disciplina optativa no currículo em vigor, vem experimentando, sob minha docência, aproximações aos pressupostos e concepções deflagrados com as Diretrizes Curriculares. O cur so, com car ga ho rá ria de 90 ho ras/aula, foi re or ga ni za - do em nú cle os te má ti cos que re fle ti ram e dis cu ti ram sobre: 1. A relação entre Psicologia e Educação: por meio da contextualização histórica das correntes teóricas do conhecimento psicológico e sua relação com a educação, 42 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO além de noções, concepções e abordagens teóricas sobre a relação desenvolvimento e aprendizagem; 2. Contribuições da Psicologia à prática educativa: privilegiando temas como: desenvolvimento do psiquismo, desenvolvimento cognitivo e seus aspectos neurológicos, psicológicos e culturais, fracasso escolar e queixas escolares; 3. Psicologia Escolar – formação e identidade: refletindo sobre a contextualização histórica, as origens e o desenvolvimento da psicologia escolar; a análise atual da área a partir de dificuldades, avanços e novas perspectivas; a identidade profissional do psicólogo escolar; a formação em Psicologia Escolar; 4. Atuação psicológica na instituição escolar: abordando temas como: instituição escolar: concepções e funções; Psicologia Escolar e a intervenção preventiva: mapeamento institucional; atuação institucional e o desenvolvimento de competências; psicologia escolar e políticas públicas: construindo espaços de interlocução. Cada núcleo foi planejado de forma a favorecer a construção processual do perfil profissional esperado, especialmente no que tange às leituras e aos estudos sugeridos, às situações didáticas desenvolvidas, aos procedimentos de apropriação e aperfeiçoamento do conhecimento e das competências e às estratégias avaliativas. Os núcleos não privilegiaram uma estrutura hierárquica ou baseada em pré-requisitos de conteúdos; outrossim, tiveram, como concepção didática e técnica, preparar o desenvolvimento e a apropriação de competências, concepções, reflexões e posturas profissionais que reorientem o perfil dos futuros psicólogos escolares em uma dimensão histórica. Para tal, os alunos participaram de programação de tutoriais, seminários, leituras individuais e coletivas, discussão de textos, análises de livros, exercícios teóricos, trabalhos em grupo, exposição e discussão de filmes, discussões de situações-problema, replicação e estudo de pesquisas científicas, atividades constantes de articulação entre teoria e prática em contextos educativos, mapeamento institucional em escolas e, também, aulas expositivas. A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 43 O curso desenvolveu reflexão de temas teórico-conceituais e experiências de imersão na realidade articuladas aos núcleos temáticos e apoiadas, principalmente, pela metodologia de tutoria, adaptada das orientações curriculares baseadas no PBL (Problem Based Learning). Os tutoriais foram realizados com grupos entre 8 a 10 participantes, uma vez por semana, com atividades de preparação inicial, individual e autônoma, de leitura e estudo dos textos básicos e complementares referentes à temática escolhida ou situação problema apresentada; elaboração de síntese integradora coletiva da temática discutida pelos grupos; e levantamento de pontos de destaque ou recorrentes nas discussões coletivas, bem como as implicações práticas. Após o tutorial temático semanal, os grupos se preparavam para a apresentação de um seminário no qual as articulações entre os pontos estudados nos tutoriais deveriam ser exemplificadas, vivificadas em dados da realidade da Psicologia Escolar. Assim, quando o tema de estudo foi, por exemplo, a atuação do psicólogo escolar, um grupo de alunos (após o tutorial, as discussões de textos, análises de livros, exercícios teóricos, trabalhos em grupo e aula expositiva, entre outras atividades), desenvolvia pesquisas sobre a atuação profissional de psicólogos escolares da rede pública ou particular de ensino, enquanto outro grupo entrevistava representantes de associação de classe, como o conselho regional ou, ainda, um terceiro grupo investigava sobre o número e a freqüência de pesquisas científicas recentes sobre a atuação de psicólogos escolares. Todas essas produções e conhecimentos articulados entre teorias e práticas eram organizados e socializados para toda a turma nos seminários, desenvolvendo nos alunos diversificadas competências pessoais, técnicas, interpessoais que desdobravam-se em produções individuais e coletivas de grande qualidade acadêmica.
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