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Mediação e cotidiano

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Cotidiano e mediação
Serviço Social
Cotidiano
O cotidiano até há pouco tempo era foco de interesse, sobretudo de artistas e escritores, que materializavam em suas obras as passagens cômicas e trágicas da vida. Poucos pensadores se interessavam em estudá-lo. 
Tido como espaço do acaso, do inesperado é, também, centro de atenção do Estado e da produção capitalista.
Qual a importância do cotidiano?
Existe uma relação entre prática social, prática profissional e vida cotidiana, especialmente se se considerar que a prática profissional do assistente social ocorre na vida de todo dia da população usuária dos serviços sociais.
O cotidiano, como aquela vivência diária dos sujeitos internamente envolvidos nas situações, constitui centro de atenção do Estado e da produção capitalista.
O Estado moderno gere o cotidiano, conforme o pensamento de Henri Lefebvre citado por Carvalho (2000, p. 17). Como exemplos dessa gerência, podemos citar proibições, regulamentos e legislações ou intervenções variadas, fiscalização, aparelhos de justiça, orientação da mídia, controle de informações, entre outras formas. 
Com sua gestão apoiada no cotidiano, o Estado moderno assume o papel de gerente
da sociedade = dominação e reprodução social.
Para o Estado e para a produção capitalista
O cotidiano desperta atenção central, pois representa uma base de rentabilidade econômica inesgotável. No cotidiano, incidem técnicas publicitárias das mais sofisticadas, com potencial de transformação radical da vida. Os meios de comunicação seduzem permanentemente as pessoas, que cada vez mais se rendem à praticidade, à magia e à ilusão das aparências, das coisas imediatamente úteis, à beleza volátil dos lançamentos.
O mercado, instância própria da sociedade capitalista, lança novidades em produtos, lança as facilidades de acesso por meio de créditos facilitados para a aquisição de bens (cartões de crédito, pagamento parcelados, empréstimos consignados, consórcios etc.). Carvalho (2000, p. 19) afirma que “toda receita pode ser encontrada no mercado para ‘curar’ qualquer mal existencial ou material do cotidiano”.
Assim, Carvalho (2000, p. 20) ensina que “a vida cotidiana é, para o Estado e para as forças capitalistas, fonte de exploração e espaço a ser controlado, organizado e programado”. Dessa forma, a classe média é instituída como ponto de apoio e mediação, pois no mundo contemporâneo elas são veículo de expansão e homogeneização da vida.
Perspectivas para apreensão da vida cotidiana
Busca do real e da realidade – a vida cotidiana contém o dado prático, o vivido, a subjetividade fugitiva, as emoções, os afetos, hábitos e comportamentos, assim como o dado abstrato, as representações e imagens (ideologia) que fazem parte do real cotidiano. Ou seja, é o material, o concreto e o abstrato, contidos na própria realidade.
Totalidade – a partir da ideia lukacsiana de que o todo não é igual à soma das partes, a realidade deve ser remetida às partes, que encontram no todo seu conceito, assim como o todo deve ser considerado nas partes. 
Totalidade síntese de múltiplas determinações, unidade do diverso .
Cabe elucidar que a totalidade é compreendida como dinâmica viva, como conjunto de uma totalidade orgânica e não como totalidade de partes de um organismo, que funcionam e se complementam. Não deve aqui ser vista como produto, e sim como um sistema histórico-concreto de relações entre totalidades que se estruturam conforme seu grau de complexidade. A estrutura do ser social é o seu caráter de totalidade (GUERRA E FORTI, 2009).
Possibilidades da vida cotidiana como motora de transformações globais – a vida cotidiana contém as possibilidades de transformação societária. É nela que estão contidas as potências revolucionárias, nas relações de poder e dominação. O foco da transformação deve ser o cotidiano vivido pelas classes e grupos sociais em opressão.
Assim,
no cotidiano, podemos tanto nos intoxicar pelas aparências e imediaticidades, como romper ou suspender esse cotidiano, no sentido de atingir a sensação e a consciência do ser humano total, em plena relação com o humano genárico e a humanidade de seu tempo. Na cotidianidade, o homem se põe na superficialidade mobilizadora de sua atenção, jogando nela todas as suas forças.
Mas não toda a força, o que se confirma pelo pensamento de Carvalho (2000, p. 26) quando assevera que 
[...] o homem não é só sobrevivência, só singularidade. O homem é, ao mesmo tempo, singular e genérico. Apenas na vida cotidiana, este ser genérico, co-participante do coletivo, da humanidade,
se encontra em potência, nem coletivo, nem sempre realizável. Na vida cotidiana só se percebe o singular.
O homem singular é o homem na consciência individual, em si, em seu entendimento da vida a partir de si mesmo, de suas necessidades e percepções. Essa categoria carrega dentro de si, em latência, em potencial, ou seja, possível de acontecer a qualquer momento, a categoria do homem genérico, materializado em um outro nível de consciência, para si, de percepção e sentimento de coletividade, de humanidade. É a possibilidade de emergir ou evoluir a consciência de um modo individual a um modo coletivo, de se deixar a percepção individual, até mesmo egoísta, para transcender numa nova forma de perceber o mundo e o universo.
Essa superação, suspensão do cotidiano, elevação do indivíduo ao gênero,
é um fato excepcional, experiência que a maioria da humanidade não realiza.
Mas como isso se processa?
Conforme Agnes Heller citada por Carvalho (2000), essa passagem ocorre quando se rompe com a cotidianidade, quando um projeto, uma obra, um ideal convoca a inteireza das forças humanas suprimindo a heterogeneização. Há, nesse momento, uma objetivação, apontando a homogeneização como mediação necessária à suspensão da cotidianidade.
Por heterogeneização, podemos entender as separações que as aparências demonstram. Separações entre essência e aparência: a aparência do fenômeno – a realidade- oculta suas reais determinações. Ao se desvelar a realidade surge a visão real homogênea, que percebe a união dos contrários, a união dos seres, situações e ocorrências inseparáveis em suas gêneses e consequências, assim atingindo a suspensão da cotidianidade, em uma forma de objetivação, materialização da percepção consciente.
Heller citada por Carvalho (2000) aponta quatro formas de suspensão da vida cotidiana (passagem do homem meramente singular ao humano genérico): o trabalho, a arte, a ciência e a moral. 
A autora ensina que a vida cotidiana se insere na história, se modifica e modifica as relações sociais. Mas essas modificações dependem da consciência que os homens portam de sua ‘essência’ e dos
valores presentes ou não ao seu desenvolvimento (CARVALHO, 2000, p. 29).
A prática do assistente social em relação ao cotidiano e à
mediação
É importante conceituar que a vida cotidiana é questão fundamental à prática profissional dos assistentes sociais, uma vez que comporta o espaço da práxis. É nesse espaço que se consolidam, se perpetuam ou se transformam as condições de vida onde incidem as práticas profissionais. Não raro buscamos a totalidade fora da vida cotidiana, privilegiamos os espaços das relações complexas de produção e dominação e ignoramos esse palco de mediações entre o particular e o global, o singular e o coletivo.
Em segundo lugar, o assistente social é um dos agentes de mediação privilegiado na relação entre dominados, oprimidos ou excluídos e o Estado, uma vez que o Serviço Social é uma profissão de características singulares. Carvalho (2000, p. 52) ensina que
Ela (a profissão) não atua sobre uma única necessidade humana (tal qual o dentista, o médico, o pedagogo...) nem tampouco se destina a todos os homens de uma sociedade, sem distinção de renda ou classe. Sua especificidade está no fato de atuar sobre todas as necessidades humanas de uma dada classe social, ou seja, aquela formada pelos subalternos, pauperizados ou excluídos dos bens, serviços e riquezas dessa mesma sociedade.
Mediação se refere a uma categoriada práxis presente na prática profissional, com dimensões profundas e caráter eminentemente político. Jean Paul Sartre citado por Carvalho (2000, p. 52) equipara o termo
mediação à passagem. A mediação, portanto, diz respeito aos processos de passagem: une as partes da totalidade como atributos do movimento. Guiomar de Mello citada por Carvalho (2000) afirma que a mediação se refere aos processos que existem na realidade objetiva, estando presentes nas relações entre as partes, forças e fenômenos de uma totalidade.
Mediação
Não há como desvendar a realidade sem compreender a categoria mediação.
Mediação se refere a uma categoria da práxis que a prática profissional não pode prescindir.
A mediação é uma das categorias centrais da dialética, inscrita no contexto da ontologia do ser social e que possui uma dupla dimensão: 
ontológica - que pertence ao real, está presente em qualquer realidade independente do conhecimento do sujeito e
 reflexiva - elaborada pela razão, para ultrapassar o plano da imediaticidade (aparência) em busca da essência, necessita construir intelectualmente mediações para reconstruir o próprio movimento do objeto. Ou seja, a “[...] sua construção se consolida tanto por operações intelectuais, como valorativas apoiadas no conhecimento crítico do real, possibilidade fundamentalmente pela intervenção da consciência”. (Martinelli, 1993, p. 137).
O método dialético
O processo de alcance da essência ocorre mediatizada pela aparência, pelo fenômeno, porém, devemos visualizar os fenômenos sociais como complexos sociais ao invés de fatos isolados, pois esses complexos que são estruturas sócio históricas, vivas e reais, que compõem o ser social, encontram-se em permanente movimento, já que a realidade é necessariamente tensa e contraditória, pois como é sabido a contradição ( dialética) é elemento motriz da história. Sendo assim, é perceptível que existe uma tensão entre as forças que lutam pela manutenção da ordem e as forças que buscam desestruturá-las, relação que explica os processos históricos de mudança e
transformação da sociedade, criando a legalidade social que é consequência inevitável do fato de que nos encontramos diante de complexos reais que interagem de modo complexo. (PONTES, 2000)
Para apreender a legalidade social (realidade social estável) devemos recuperar as mediações que estruturam o ser social no movimento do real.
Para tanto, a forma metodológica mais fecunda no plano do pensamento dialético é aquela que se expressa na tríade categorial singularidade-universal e particular. A dialética do universal, particular e singular se manifesta na realidade e pode ser reproduzida pela razão. A partir do pensamento vamos do singular ao universal através do particular.
Parte-se do entendimento de que o ser social (compreendido como uma totalidade) e seus complexos dinâmicos estão submetidos a uma dada legalidade social, a qual mesmo tendo um caráter de universalidade para o ser social, se expressa em cada complexo de modo particular. Na esfera da universalidade se encontram as grandes determinações e leis tendenciais de um dado complexo social. Leis e determinações que na esfera da singularidade ficam ocultas pela dinâmica dos fatos (imediaticidade). As mediações permitem a apreensão do movimento do ser social na sua historicidade e legalidade imanentes, ocultas nos sujeitos: tanto a gênese histórica, quanto sua estrutura social se encontra submersas na facticidade. (PONTES, 2000)
É na dialética entre o universal e o singular
que se encontra a chave para desvendar o conhecimento do modo de ser do ser social. Lukács chama essa dialética de particularidade- que caracteriza-se como um campo de mediações. Ou seja, esse campo de mediações nos permite realizar aproximações sucessivas ao real e, assim, negar a facticidade/imediaticidade que permeia a singularidade do ser social, desvelando as forças e processos que determinam a gênese e o modo de ser (funcionamento) dos complexos e fenômenos que existem em uma determinada sociedade. “O particular é a expressão lógica das categorias de mediação entre os homens singulares e a sociedade” (LUKÁCS, 1978, 93). Ou seja, a particularidade opera no âmbito do ser social entre a vida singular de cada homem e sua vivência genérica.
Portanto, a partir da categoria mediação, por meio da razão teórica do movimento inerente ao real, possibilitará conhecer a realidade e dissolver a aparência fenomênica, própria da facticidade (imediaticidade). Partindo dos fatos empíricos, provocando passagens e conexões, deslocando-se do abstrato e buscando o máximo de mediações apreendendo a processualidade e os nexos lógicos que articulam os fatos, alcançando assim, a síntese de múltiplas determinações.
Serviço Social e a categoria da mediação
As demandas profissionais são aparências que precisam ser dissolvidas para que surjam as mediações ontológicas. Para ultrapassar a facticidade da demanda apresenta no cotidiano profissional do Assistente Social, se faz necessário compreendê-la, controlá-la, para isso é indispensável fazer aproximações com o plano das determinações universais da realidade, ou seja, à legalidade social. Apreender que as grandes determinações sociais tais como: relações sociais de produção, relação capital-trabalho, leis de mercado, relação entre Estado e sociedade, lei da mais-valia, entre outras, devem ser particularizadas. E, assim, apreender que as grandes leis e/ou categorias históricas do ser social podem estar interferindo nesse ou naquele problema/fenômeno que o profissional está enfrentando. Tais leis tendenciais serão capturadas pela razão na esfera da universalidade como que tomassem vida, se objetivassem e se tornassem presentes na realidade da vida singular das relações cotidianas, serão processadas no nível do concreto pensado, desingularizando-as e tornando aquilo que era universal em particular, sem perder seu caráter de universalidade nem tampouco sua dimensão de singularidade.
Referências
CARVALHO, Maria do Carmo Brant de; NETTO, José Paulo. Cotidiano: conhecimento
e crítica. São Paulo: Cortez, 2000.
PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social: um estudo preliminar
sobre a categoria teórica e sua apropriação pelo serviço social. São Paulo:
Cortez, 2002.
MARTINELLI, Maria Lúcia e MORAES, Josiane. A IMPORTÂNCIA CATEGORIA MEDIAÇÃO PARA O SERVIÇO SOCIAL. XX Seminário Latino-americano de Escuela de Trabajo Social. Argentina, 2012

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