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PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA Sandra Muttoni Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Juliana S. Closs Correia Nutricionista (Centro Universitário São Camilo) Mestre em Biologia Odontológica (UNITAU) Especialista em Metodologia do Ensino Superior (UniSL) Coordenadora do Curso de Nutrição do UniSL Secretária da Associação Brasileira de Educação em Nutrição (ABENUT) M992p Muttoni, Sandra. Patologia da nutrição e dietoterapia / Sandra Muttoni ; revisão técnica: Juliana S. Closs Correia. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 373 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-100-6 1. Nutrição - Doença. 2. Dietoterapia. 3. Nutrição – Alimentação I. Título. CDU 616.39 Iniciais_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 2 27/06/2017 17:40:07 Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Conhecer os métodos objetivos para avaliar o estado nutricional de pacientes hospitalizados. n Identi� car quais são os métodos subjetivos utilizados na avaliação do estado nutricional de indivíduos enfermos. n Reconhecer a relação da dieta hospitalar com o estado nutricional dos pacientes. Introdução Em estudos científicos, é muito frequente o interesse pelo estado nu- tricional do paciente hospitalizado, pois é de conhecimento que tal condição influencia diretamente na evolução clínica, com reflexos na morbimortalidade e no tempo de internação. Sendo assim, a avaliação nutricional é exigida como parte do cuidado integral do paciente, apesar de, muitas vezes, não ser alvo de grandes cuidados e não apresentar um padrão de utilização nos centros hospitalares. Neste capítulo, você vai estudar os métodos para avaliação do estado nutricional dos pacientes hospitalizados, além de conhecer a influência do estado nutricional na evolução clínica hospitalar e a relação da dieta com o estado nutricional dos indivíduos. A avaliação do estado nutricional e seus métodos objetivos A desnutrição energético-proteica é frequente em pacientes hospitalizados, sendo considerada um problema multicausal, que envolve fatores determinantes relacionados à condição clínica do paciente, às circunstâncias provocadas pelo próprio processo de internação e à falta de manejo nutricional específi co. É fundamental, então, conhecer o estado nutricional do paciente devido ao fato de a desnutrição estar associada a um risco maior de infecções, principal- mente a infecção hospitalar, além de complicações metabólicas, internações prolongadas e aumento da morbimortalidade e do custo hospitalar. A ausência do diagnóstico nutricional adequado acaba por gerar terapia nutricional inadequada, o que causa sérias complicações durante a internação, podendo culminar com o óbito do paciente. Nesse contexto, os métodos e procedimentos de avaliação nutricional têm por objetivo identificar pacientes em risco nutricional e possibilitar a adequada intervenção dietoterápica, com o intuito de manter ou recuperar a condição de saúde. A avaliação do estado nutricional é fundamental para a tomada de decisão quanto ao diagnóstico nutricional e à conduta dietética do indivíduo. Métodos objetivos de avaliação do estado nutricional Os métodos objetivos têm aferição relativamente simples, são muito utilizados na prática clínica e englobam a antropometria, a composição corporal, os parâmetros bioquímicos e o consumo alimentar. Antropometria A antropometria representa o método mais utilizado para a avaliação nutricional individual e de coletividades, nos diferentes ciclos de vida, tanto para indiví- duos saudáveis como para enfermos. A partir das medidas antropométricas, é possível verifi car as dimensões físicas e a composição corporal global, classifi cando os indivíduos em “graus” de nutrição e adequação. Também permite verifi car as reservas corporais de tecido adiposo e de tecido muscular, sendo que tais medidas podem refl etir agravos mais recentes ou pregressos da história nutricional do paciente. Na antropometria, as medidas utilizadas são peso corporal, estatura, dobras cutâneas (principalmente a tricipital) e circunferências (braço e abdominal, especialmente). Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados2 A avaliação do estado nutricional por meio da antropometria apresenta algumas vantagens: n fácil execução; n baixo custo; n métodos não invasivos; n obtenção rápida de resultados; n factível à beira do leito; n resultados fidedignos (desde que executados por profissionais capacitados). Como desvantagem, é um método considerado incapaz de detectar distúr- bios mais recentes no estado nutricional e identificar deficiências nutricionais específicas. Além disso, exige conhecimento e capacitação do profissional que irá realizar as aferições. As medidas antropométricas geralmente utilizadas para avaliação do estado nutricional incluem: Índice de massa corporal (IMC): calculado como peso corporal em quilo e altura em metro. É um índice antropométrico que está correlacionado com a gordura corporal total. Em pacientes críticos, o peso pode estar signifi ca- tivamente modifi cado devido à depleção ou sobrecarga de volume, como resultado de grandes alterações do balanço hídrico em um curto período de tempo. Assim, o IMC desses pacientes estará superestimado. Circunferência do braço (CB) e dobra cutânea tricipital (DCT): métodos amplamente utilizados na avaliação nutricional dos pacientes, pois constituem o meio mais conveniente para estabelecer indiretamente a massa corporal de gordura (de reserva). Circunferência muscular do braço (CMB): indicador que avalia a reserva de tecido muscular. Peso corporal: são utilizados o peso atual e o peso usual do paciente, com- parando-os ao peso ideal ou desejável, que seria a adequação do peso. O peso também pode ser estimado para pacientes restritos ao leito. Mudança de peso: a perda de peso involuntária é uma importante informação para avaliar a gravidade do problema de saúde. O ideal é sempre fazer uma 3Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados relação entre o total da perda ponderal com o tempo em que a perda aconteceu (normalmente, leva-se em consideração a perda ponderal nos últimos seis meses). Estatura: pode ser real ou estimada, isto é, quando o paciente não tem con- dições de sair do leito para a aferição. Nos indivíduos acamados, muitas vezes não é possível aferir o peso e a estatura em razão da patologia apresentada. Nesses casos, devem ser utilizados métodos que estimam tais medidas, a fim de garantir a determinação adequada das necessidades nutricionais. Composição corporal A massa corporal humana pode ser quimicamente separada em dois com- partimentos: massa gorda (gordura corpórea) e massa magra (massa livre de gordura). Ao extrair a gordura corporal do peso total do indivíduo, obtém-se a massa magra, que é composta por proteínas, água intra e extracelular e conteúdo mineral ósseo. A avaliação da composição corporal possibilita detectar possíveis anormalidades nutricionais, oportunizando maior efi ciência nas intervenções. Muitos métodos diretos podem ser utilizados para a aferição dos com- partimentos corporais, como densitometria, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Entretanto, apresentam custo elevado, exigem tecno- logia de ponta, espaço físico apropriado e avaliadores especializados. Todos esses fatores tornam-se limitantes e inviabilizam, muitas vezes, o uso de tais métodos na prática clínica. Assim, os métodos indiretos de avaliação da composição corporal são mais utilizados, uma vez que apresentam baixo custo operacional, não são invasivos e apresentam fácil aplicabilidade na rotina clínica. A seguir, são descritos os métodos indiretos: Somatório das dobras cutâneas: a composição corporal é estimada através da utilização da soma de quatro dobras cutâneas (bicipital,tricipital, subes- capular e suprailíaca), segundo a equação de Durnin e Womersley (1974), em que a densidade corporal é assim calculada: (DC) = (A – B) x log ∑ 4 dobras. Bioimpedância elétrica: permite a avaliação da composição corporal através da estimativa da água corporal total e, a partir desta, da massa livre de gordura e da porcentagem de gordura corpórea. Baseia-se na relação entre o volume do Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados4 condutor (corpo), seu comprimento (altura) e sua impedância. Esse método é altamente aceito pela comunidade científi ca, porém, apresenta limitações, e os resultados podem ser infl uenciados por alguns fatores, como alimentação, inges- tão de líquidos, estado de hidratação, utilização de diuréticos e ciclo menstrual. Mesmo que alguns aparelhos de bioimpedância tenham custo relativamente inferior, o método ainda não está disponível na maioria das instituições. Parâmetros bioquímicos Os indicadores bioquímicos representam importantes ferramentas de auxílio na avaliação nutricional, uma vez que possibilitam evidenciar alterações bioquímicas precocemente, anteriores às lesões celulares e/ou orgânicas. Todavia, há fatores e condições que podem limitar seu uso, por exemplo, o uso de alguns medicamentos, condições ambientais, estado fi siológico, nível de estresse, lesão e infl amação. Justamente por isso, não devem ser utilizados de maneira isolada para defi nir o diagnóstico nutricional. Os parâmetros bioquímicos mais utilizados na prática clínica e que se correlacionam com o estado nutricional são albumina sérica, linfócitos e leucócitos. Esses indicadores podem evidenciar a gravidade da doença e medir as reservas imunológicas momentâneas, indicando as condições imunológicas do organismo, as quais sofrem interferência do estado nutricional. A albu- mina sérica é o indicador bioquímico de desnutrição mais utilizado, sendo considerado, também, um bom preditor de morbimortalidade. Porém, dados laboratoriais alterados (como hipoalbuminemia) não podem ser considerados isoladamente como um indicador para desnutrição. A pré-albumina também é utilizada em algumas instituições, mas não como rotina. A vantagem é que essa proteína apresenta a vida média curta quando comparada à albumina, tornando-se bastante sensível para a identificação da restrição proteica ou energética. A transferrina é outro marcador que pode ser utilizado para avaliar os depósitos de ferro no organismo, porém, pode estar alterada na presença de inflamação e infecção. Consumo alimentar Diversos métodos podem ser usados para avaliar o consumo alimentar de enfermos, mas nenhum é considerado ideal. A aplicabilidade e a confi abilidade dependem muito da habilidade do investigador e da cooperação do investigado. Pode-se utilizar o recordatório de 24 horas (R24H), método retrospectivo no qual o investigador propõe ao indivíduo recordar e descrever alimentos e 5Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados bebidas ingeridos nas últimas 24 horas, sendo que as quantidades alimentares devem ser descritas em medidas caseiras, fornecendo dados quantitativos e qualitativos. O questionário de frequência alimentar (QFA) é outro método retrospectivo, no qual o enfermo registra ou descreve sua ingestão alimentar habitual com base em uma lista de diferentes alimentos e em sua frequência de consumo por dia, semana, mês ou ano. Esse instrumento fornece dados qualitativos do consumo alimentar, não oferecendo dados quantitativos da ingestão de alimentos ou nutrientes. Quando analisado de maneira isolada, um parâmetro apenas não é suficiente para caracterizar a condição nutricional geral de um indivíduo, sendo necessário associar diversos indicadores a fim de melhorar a acurácia do diagnóstico nutricional. Portanto, para realizar a avaliação do estado nutricional de maneira mais acurada, deve-se utilizar o maior número possível de parâmetros. Métodos subjetivos de avaliar o estado nutricional A avaliação nutricional é o primeiro passo da assistência nutricional ao paciente, objetivando identifi car problemas relacionados à nutrição. Existem vários métodos de avaliação nutricional utilizados na prática clínica, com diferentes especifi cidades e sensibilidades, mas todos apresentam limitações. Não há uma técnica “padrão ouro”, sendo comum o uso e a comparação entre os diversos tipos existentes. Os métodos subjetivos para avaliar o estado nutricional de indivíduos envolvem o exame físico nutricional e a avaliação subjetiva global. Exame físico nutricional O exame físico nutricional (EFN) é um método clínico de avaliação que inclui sinais físicos e sintomas associados à desnutrição, sendo que tais sinais e sintomas aparecem somente em estágios avançados de depleção nutricional. Justamente por isso, o exame físico nutricional não deve ser o único método para defi nir o diagnóstico nutricional do indivíduo. Esse exame considera Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados6 diferentes aspectos, como perda de peso, depleção de massa magra e tecido adiposo, além de sinais típicos de alterações patológicas. Para a realização do EFN, diversos sinais e sintomas devem ser observados em todo o corpo e em seus compartimentos específicos. Devem ser analisados de maneira criteriosa: pele, face, tórax e membros. A partir dessa análise, é possível evidenciar desidratação, edema, icterícia e depleção de massa muscular e massa gordurosa. Também é possível detectar, através do EFN, a possibilidade de alguma depleção de nutrientes, que somente será confirmada a partir de exames bio- químicos. A seguir, estão listados sinais e sintomas de alterações nutricionais conforme o local do corpo. Locais Sinais Nutrientes envolvidos Pele Seca e com falhas de pigmentação Sangramento fácil Hiperpigmentação Seborreia nasolabial Vitamina A e zinco Vitaminas K e C Niacina (B3) Ácidos graxos essenciais Face Seborreia nasolabial Edema de face Riboflavina (B2) Ferro Proteína Gengivas Esponjosas Sangramento Vitamina C Língua Glossite, Língua magenta Atrofia e hipertrofia das papilas Niacina (B3) Riboflavina (B2) Ácido fólico (B9) Vitamina B12 Cabelos Secos, quebradiços e opacos Alopecia Fáceis de arrancar Despigmentados (sinal da bandeira) Proteína Biotina (B7) Zinco Unhas Fissuras transversais Coiloníquia; quebradiças Proteína Ferro Tabela 1. Sinais e sintomas de possíveis alterações nutricionais de acordo com a região corporal afetada. (Continua) 7Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados Avaliação subjetiva global A avaliação nutricional subjetiva global (ANSG) teve início na década de 1980 com Detsky et al. (1987) e consiste em um modelo de questionário padrão que investiga aspectos da história clínica e de exame físico. Avalia- -se, principalmente, perda de peso relatada pelo próprio paciente ou por seu acompanhante, diminuição do tecido adiposo e muscular (analisada pelo investigador) e alterações na ingestão alimentar relativa ao habitual, além da capacidade funcional do indivíduo. Por ser um método simples e de fácil execução, tornou-se o método de escolha em diversas situações clínicas. Originalmente desenvolvida e validada para pacientes cirúrgicos, a ANSG é um dos protocolos mais utilizados e descritos na literatura. Essa avaliação é realizada na triagem nutricional (ocorrida nas primeiras 72 horas de internação), classificando o risco do paciente e, consequentemente, o nível de atendimento que deverá ser realizado. A ANSG é utilizada para classificar o grau de desnutrição e o risco nu- tricional. Como dispensa exames antropométricos e laboratoriais objetivos, torna a avaliação mais rápida e com menor custo. O diagnóstico nutricional Fonte: Adaptada de MIRANDA, D. E. G. A.; CAMARGO, L. R. B.; COSTA, T. M. B.; PEREIRA, R. C. G. Manual de Avaliação Nutricional do Adulto e do Idoso. 1. Ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. P 58. Locais Sinais Nutrientes envolvidosOlhos Cegueira noturna (manchas de Bitot) Palidez conjuntival; xerose; blefarite angular Inflamação da conjuntiva Vitamina A e zinco Ferro, vitamina A, riboflavina (B2) e piridoxina (B6) Vitamina A e riboflavina Boca Glossite Sangramento gengival Estomatite angular e queilite Redução do paladar Complexo B, ácido fólico (B9) e ferro Vitamina C e riboflavina (B2) Riboflavina (B2), niacina (B3) e piridoxina Zinco Tabela 1. Sinais e sintomas de possíveis alterações nutricionais de acordo com a região corporal afetada. (Continuação) Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados8 será definido através da soma de pontos, sendo possível classificar o paciente de forma subjetiva em: n bem nutrido (1 a 17 pontos); n desnutrido moderado (17 a 22 pontos); n desnutrido grave (maior que 22 pontos). A ANSG, por não ter classificação para desnutrido leve, considera que pacientes em grau leve de desnutrição sejam classificados como eutróficos, enquanto que indivíduos classificados com moderada desnutrição poderiam estar desnutridos. Pelo fato de serem métodos subjetivos, é necessário um treinamento ade- quado aos profissionais responsáveis por aplicar os questionários, para que os resultados sejam os mais precisos possíveis, minimizando variações. Como todo método subjetivo, a ASG tem sua precisão diagnóstica dependente da experiência do observador, sendo esta sua principal desvantagem. A Mini Avaliação Nutricional (MAN) foi desenvolvida especificamente para avaliação nutricional de idosos. Trata-se de um parâmetro subjetivo de avaliação, sensível na identificação do risco nutricional e desnutrição em estágio inicial, sendo um indicador prognóstico significativo para morbidade e mortalidade. Inclui aspectos físicos e mentais que frequentemente atingem o idoso, além de utilizar parâmetros antropométricos, laboratoriais e hematológicos. Relação entre a dieta e o estado nutricional de pacientes hospitalizados O estado nutricional de um indivíduo representa a condição na qual suas necessidades fi siológicas por nutrientes estão sendo obtidas, visando a manter ou não a composição e as funções fi siológicas normais do organismo, que resultam do equilíbrio entre a ingestão e a necessidade de nutrientes. Com isso, podemos dizer que o estado nutricional do paciente hospitalizado tem infl uência sobre sua evolução clínica – poder identifi cá-la na admissão é essencial para garantir um suporte adequado. 9Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados A desnutrição permanece como o estado nutricional com alta prevalência no meio hospitalar, constituindo um importante fator de risco de morbimortali- dade, principalmente pós-operatória. A desnutrição associada a outras doenças geralmente ocasiona redução da imunidade e aumento do risco de infecções, hipoproteinemia, edema e redução da cicatrização de feridas operatórias. Pode, ainda, causar maiores complicações operatórias, aumento do tempo de internamento e, consequentemente, aumento dos custos hospitalares. No âmbito hospitalar, a perda de peso pode ser acarretada por diversos fatores: n aumento das necessidades nutricionais; n absorção e metabolismo comprometidos dos nutrientes; n diminuição da capacidade de digestão; n períodos prolongados de jejum; n restrições alimentares; n inapetência. Tais fatores podem prenunciar aumento no risco de complicações, custos e tempo de hospitalização, além de redução na resposta ao tratamento e na qualidade de vida. Por esses motivos, a dieta hospitalar deve ser estudada como um dos problemas a enfrentar no campo de atenção nutricional. As políticas de alimentação hospitalar, em geral, não garantem que os pacientes terão uma ingestão adequada da quantidade de nutrientes, de acordo com suas patologias e comorbidades. Como resultado disso, grande quantidade de alimentos é desperdiçada, e as necessidades nutricionais não são alcançadas, além de o paciente continuar perdendo peso enquanto hospitalizado, aumentando as chances de ficar desnutrido. Esse fato traz consequências clínicas e financeiras indesejáveis e requer novas políticas. Muitos pacientes não têm boa ingestão da dieta hospitalar devido ao pre- conceito em relação a essa alimentação, vista como de baixa qualidade. Assim, além da identificação de pacientes em risco nutricional, deve-se estar atento para que a ingestão alimentar assegure ao paciente a quantidade e os tipos de alimentos adequados às suas expectativas e necessidades. Estudos mostram que a própria patologia, a falta de apetite, a alteração do paladar, a inabilidade de ingestão de alimentos ou má-absorção, o ambiente hospitalar e a forma de atendimento são alguns fatores que comprometem de forma negativa a aceitação da dieta hospitalar, por consequência, levando ao quadro de desnutrição intra-hospitalar. Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados10 A adaptação do cardápio hospitalar e do ambiente da refeição – além das emoções envolvidas na satisfação do paciente – pode melhorar a aceitação da dieta e, com isso, suprir as necessidades do indivíduo. Considerando isso, pode-se dizer que a avaliação da ingestão alimentar durante a hospitalização poderia possibilitar uma intervenção adequada, influenciando positivamente o estado clínico do paciente. A boa e equilibrada qualidade sensorial é um ponto essencial para que um alimento seja consumido. Muitos são os fatores sensoriais que interferem na aceitação da dieta, tais como: n aparência (cor, textura, tamanho, forma); n aroma (ranço, floral, pungente); n sabor (doce, salgado, amargo); n temperatura (quente, frio); n características da textura oral (duro, viscoso). Para estimular a aceitação da dieta hospitalar, as técnicas dietéticas e a gastronomia hospitalar podem ser consideradas essenciais para elaboração de cardápios nutritivos e que estimulem a ingestão dietética do paciente. Como exemplo, pode-se fazer uso de especiarias e sal de ervas, que realçam os sa- bores e melhoram a palatabilidade das dietas. Nesse sentido, são necessários mais estudos que avaliem a aceitação da dieta hospitalar, com o objetivo de realizar intervenção nutricional precoce e, então, evitar uma evolução negativa do estado nutricional. Através do controle de ingestão alimentar – instrumento utilizado para avaliar com melhor precisão a aceitação da dieta –, o nutricionista consegue visualizar quais alimentos e em quais horários o paciente aceita com mais facilidade. Assim, ele poderá realizar as intervenções necessárias, dentro das adequações nutricionais que o paciente demanda, com o objetivo de melhorar não só a aceitação da dieta, mas também o estado nutricional, visando ao menor tempo de hospitalização e à recuperação da saúde do indivíduo. 11Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados 1. A antropometria representa o método mais utilizado para a avaliação nutricional individual e de coletividades, nos diferentes ciclos de vida, tanto para indivíduos saudáveis quanto para enfermos. Marque a alternativa que cita uma desvantagem da antropometria. a) Tem alto custo. b) As aferições são procedimentos complexos. c) É considerada um método invasivo. d) Não possibilita identificar deficiências nutricionais específicas. e) Somente pode ser realizada em pacientes que deambulam. 2. Trata-se de um método indireto e não invasivo de avaliar a composição corporal, através da estimativa da água corporal total e, a partir desta, da massa livre de gordura e da porcentagem de gordura corporal: a) raio x. b) bioimpedância. c) ressonância magnética. d) somatório de dobras cutâneas. e) tomografia computadorizada. 3. Marque a alternativa que cita um método subjetivo de avaliação nutricional, no qual sinais e sintomas devem ser observados em todo o corpo e em seus compartimentos específicos. a) Exame Físico Nutricional (EFN). b) Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG). c) Antropometria. d)Composição corporal. e) Mini Avaliação Nutricional (MAN). 4. A ANSG, por não ter classificação para desnutrido leve, considera que pacientes em grau leve de desnutrição sejam classificados como eutróficos, enquanto que indivíduos classificados com moderada desnutrição poderiam estar desnutridos, o que representa uma das limitações da ANSG. Porém, qual seria a principal desvantagem desse importante método de triagem do estado nutricional? a) Dispensa exames antropométricos e laboratoriais objetivos. b) Deve ser aplicada nas primeiras 72 horas de internação. c) O diagnóstico nutricional é definido através de um somatório de pontos. d) É utilizada para classificar o grau de desnutrição e o risco nutricional. e) Tem sua precisão diagnóstica dependente da experiência do observador. 5. No âmbito hospitalar, a perda de peso pode ser acarretada por muitos fatores que podem prenunciar aumento no risco de complicações, nos custos e no tempo de hospitalização, além de haver redução na resposta ao Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados12 tratamento e na qualidade de vida dos pacientes. São fatores que contribuem para a perda de peso de pacientes hospitalizados, exceto: a) aumento das necessidades nutricionais. b) períodos prolongados de jejum. c) implantação da gastronomia hospitalar. d) restrições alimentares. e) inapetência. DETSKY, A. S. et al. What is subjective global assessment of nutritional states? JPEN: Journal of parenteral and enteral nutrition, Silver Spring, v. 11, n. 1, p. 8-13, 1987. DURNIN, J. V. G. A.; WOMERSLEY, J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br J Nutr, v. 32, p. 77-97, jan./fev. 1974. Leituras recomendadas ALENCAR, M. G. de; LEITÃO, M. B. de S.; PRADO, L. V. da S. Evolução do estado nu- tricional de pacientes internados na clínica médica de um hospital filantrópico de Pernambuco - Brasil. Revista Nutrición Clínica y Dietética Hospitalaria, Madri, v. 35, n. 3, p. 8-16, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. 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