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Prof. Ms. Alano Princípios de Direito Ambiental •Conforme aduz Leonardo de Medeiros Garcia: “O direito ambiental, ciência dotada de autonomia científica, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, obedece a princípios específicos de proteção ambiental, pois, de outra forma, dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendida sobre o meio ambiente. Neste sentido, os princípios caracterizadores do direito ambiental têm como escopo fundamental orientar o desenvolvimento e a aplicação de políticas ambientais que servem como instrumento fundamental de proteção ao meio ambiente e, consequentemente, à vida humana.” •Princípio do Poluidor Pagador Segundo Abelha: o princípio do “poluidor-pagador diz respeito à proteção da qualidade do bem ambiental, mediante a verificação prévia da possibilidade ou não de internalização de custos ambientais no preço do produto, até um patamar que não justifique economicamente a sua produção, ou que estimule a promoção ou a adoção de tecnologias limpas que não degradem a qualidade ambiental”. Tem natureza econômica, cautelar e preventiva; CF/88: Art. 225: § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Previsão legal, inc. VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81, objetivo da PNMA que visa “à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados (…)”. Conforme o Princípio 16 da Declaração do Rio (1992), “as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais”. •Princípio do Usuário-Pagador Conforme Melo: O princípio do usuário pagador é decorrente da necessidade de valoração econômica dos recursos naturais, de quantificá-los economicamente, evitando o que se denomina “custo zero”, que é a ausência de cobrança pela sua utilização. O “custo zero” conduz à hiperexploração de um bem ambiental que, por consequência, leva à sua escassez.”. Previsão legal: inc. VII do art. 4º da Lei nº 6.938/1981 um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, com a imposição “(…) ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.” Dispõe, pois, que o usuário de recursos naturais deve pagar por sua utilização. Princípio do Protetor-Recebedor Consoante aduz Sirvinskas: “É a obrigação que tem aquele que receber verbas do Poder Público de proteger ou de não degradar o meio ambiente. É, em outras palavras, a compensação que o proprietário recebe para proteger determinado recurso natural.” Previsão legal: Inc. II do art. 6º da Lei n. 12.305/2010 (Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos). Outros exemplos: O ICMS Ecológico “mecanismo tributário que possibilita aos municípios acesso a parcelas maiores que àquelas que já têm direito, em razão do atendimento de determinados critérios ambientais estabelecidos em leis estaduais”. •Princípio da Prevenção Para Garcia: “é orientador no Direito Ambiental, enfatizando a prioridade que deve ser dada às medidas que previnam (e não simplesmente reparem) a degradação ambiental. A finalidade ou o objetivo final do princípio da prevenção é evitar que o dano possa chegar a produzir-se. Para tanto, necessário se faz adotar medidas preventivas”. Vincula-se na certeza científica do impacto ambiental, ou seja, trabalha com o risco certo (efetivo ou potencial). São exemplos de aplicação do princípio da prevenção: - Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) - inciso IV do § 1º do art. 225 da Constituição Federal; - Licenciamento Ambiental; - Poder de Polícia Ambiental; -Auditorias Ambientais. Assim, visa evitar que o dano ambiental ocorra, utilizando, para tanto, mecanismos extrajudiciais e judiciais. É, portanto, a atuação antecipada para evitar danos, que, em regra, são irreversíveis; •Princípio da Precaução Também chamado de Princípio da Prudência ou Cautela. Aqui, o risco incerto ou duvidoso. Previsto no princípio 15 da ECO/92: “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Também na Lei 11.105/2005 Lei de Biossegurança, art. 1º diz: “Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados — OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente”. - Inverte o “ônus da prova”. •Princípio do Desenvolvimento Sustentável Conceito clássico Relatório Nosso Futuro Comum (Brundtland), Desenvolvimento Sustentável é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. Funda-se no tripé: social, ambiental e econômico. Previsto em diversos princípios da Declaração do Rio (1992), que proclama que os seres humanos constituem o centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável (Princípio 1) e, para alcançá-lo, a proteção ambiental deve ser considerada parte integrante do desenvolvimento e não pode ser dissociada dele (Princípio 4). Reconhece que o desenvolvimento deve considerar o uso equitativo dos recursos naturais, em atenção às necessidades tanto da presente quanto das futuras gerações (Princípio 3). Ademais, “todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo” (Princípio 5) e, de igual forma, “para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas” (Princípio 8). •Princípio do Desenvolvimento Sustentável - integra o conceito de solidariedade intergeracional. Para o Supremo Tribunal Federal, “o princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações (ADI nº 3.540)”. •Princípio da Solidariedade Intergeracional Trata da solidariedade entre as gerações presentes e futura para a preservação do meio ambiente, atuando de forma sustentável. A solidariedade intergeracional é também denominada de diacrônica, que significa através do tempo, que se refere às gerações do futuro,à sucessão no tempo. A Declaração de Estocolmo (1972) já previa a responsabilidade com as futuras gerações, conforme consignado em seu Princípio 1: “o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras”. Ou ainda em seu Princípio 2: “Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento”. Também a Declaração do Rio (1992), que reconhece que: “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda equitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras” (Princípio 3). Sua importância está em temas como as mudanças climáticas, a imprescritibilidade da reparação do dano ambiental etc. •Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico Ou princípio “da vedação de retrocesso ambiental” ou “princípio da proibição de retrogradação socioambiental”. É um princípio implícito. Conforme Alexandra Aragão, “(…) no âmbito interno, o princípio da proibição do retrocesso ecológico, espécie de cláusula rebus sic stantibus, significa que, a menos que as circunstâncias de facto se alterem significativamente, não é de admitir o recuo para níveis de protecção inferiores aos anteriormente consagrados. Nesta vertente, o princípio põe limites à adopção de legislação de revisão ou revogatória”. O STJ já analisou esse princípio: “O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdes e dilapidação da qualidade de vida nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não regressão (ou, por outra terminologia, princípio da proibição de retrocesso), garantia de que os avanços urbanístico-ambientais conquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes” (REsp nº 302.906, DJe 01.12.2010). •Princípio do Progresso Ecológico Para Melo," o princípio do progresso ecológico impõe ao Estado a obrigatoriedade de rever e aprimorar a legislação e os mecanismos de proteção ao meio ambiente". Logo, devem ser utilizadas as melhores técnicas possívei, dentro dos avanços tecnológicos para controlar atividades poluidoras. Melhor técnica disponível é “(…) o estágio mais eficaz e avançado alcançado para o desenvolvimento das atividades e seus métodos de operação, que indica a prática adequada de uma técnica particular a servir de base para estabelecer os valores-limite de emissão criados para prevenir e, nos casos em que isso não for praticável, reduzir de forma geral as emissões e o impacto no meio ambiente como um todo”. A progressão em matéria ambiental também se funda em tratados e convenções de sobre direitos humanos. Tal princípio encontra correspondência na cláusula progressiva de realização dos direitos econômicos, sociais e culturais, prevista no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 2º, § 1º), do Sistema Global de Direitos Humanos (ONU) e no Protocolo de San Salvador (art. 1º), do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (OEA). A progressividade visa atingir condições ambientais idênticas ou melhores do que aquelas recebidas das gerações passadas. •Princípio da Educação Ambiental A Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972) já destacava a importância da Educação Ambiental em seu Princípio 19: “é indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos”. Por sua vez, a Constituição Federal dispõe, no inciso VI, § 1º, do art. 225, que compete ao Poder Público: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. •Princípio da Educação Ambiental Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Além disso, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. 1. A Educação Ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. 2. A Educação Ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino. 3. Quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental. 4. Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas. •Principio da Cooperação entre os Povos-entre as nações etc. Materializado vários princípios, inclusive na Declaração do Rio 92: - Princípio 5: Todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza como requisito indispensável do desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as divergências nos níveis de vida e responder melhor às necessidades da maioria dos povos do mundo; - Princípio 7: Os Estados deverão cooperar com espírito de solidariedade mundial para conservar, proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Considerando que têm contribuído em diferente medida à degradação do meio ambiente mundial, os Estados têm responsabilidades comuns mas diferenciadas.[...]; Princípio 12: Os Estados deveriam cooperar na promoção de um sistema econômico internacional favorável e aberto, que levasse ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável de todos os países, a fim de abordar em melhor forma os problemas da degradação ambiental. Princípio 14: Os Estados deveriam cooperar efectivamente para diminuir ou evitar a transferência a outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave ou sejam consideradas nocivas para a saúde humana. Princípio 27: Os Estados e as pessoas deverão cooperar de boa fé e com espírito de solidariedade na aplicação dos princípios consagrados na Declaração. •Principio da Cooperação entre os Povos-entre as nações etc. A cooperação internacional para a preservação do meio ambiente é o penúltimo capítulo da Lei nº 9.605/1998: Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, anecessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para: I - produção de prova; II - exame de objetos e lugares; III - informações sobre pessoas e coisas; IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa; V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e especialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. No plano interno, as distribuições das competências constitucionais (arts. 21, 22, 23, 24, 25 e 30 da CF) no modelo do federalismo cooperativo permite que todos os entes atuem na proteção ambiental, visando ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Além disso, o "caput" do art. 225 coloca como dever do Poder Público e da coletividade a proteção ao meio ambiente, como obrigação comum e obrigatória. •Principio da Natureza Pública da Proteção Ambiental . Decorre do poder público a proteção do meio ambiente; O meio ambiente é, nos termos do art. 225 da Constituição de 1988, bem de uso comum do povo, indisponível e insuscetível de apropriação. Dessa forma, o meio ambiente é considerado como valor a ser necessariamente assegurado e protegido para uso de todos, já que é um bem de fruição humana coletiva. Nesse sentido, “(…) a natureza pública que qualifica o interesse na tutela do ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o indisponível. Não é dado, assim, ao Poder Público – menos ainda aos particulares – transigir em matéria ambiental, apelando para uma disponibilidade impossível”. •Principio da Participação (social). Por este postulado, a sociedade deixa de ser mera espectadora e assume o papel de coadjuvante e parceira na preservação ambiental. Estabelece o envolvimento de todos os segmentos sociais nas questões ambientais, como decorrência do pleno exercício da cidadania. Atribuiu responsabilidade à sociedade pela preservação ambiental, e institui uma associação com os órgãos governamentais, para gerir e zelar pelo meio ambiente. Cria políticas públicas ambientais. • Principio da Participação (social). Nesse sentido, estabelece a Declaração do Rio (1992) em seu Princípio 10: Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos”. A participação na tomada de decisões ambientais é um dever jurídico, fundado no caput do art. 225 da Constituição Federal, impondo ao Poder Público e à coletividade a obrigação de proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Desdobra-se sob três aspectos: esfera administrativa / esfera legislativa / esfera judicial. Na esfera administrativa: audiências e consultas públicas; com a participação em órgãos colegiados (conselhos de meio ambiente); e no exercício do direito de petição aos órgãos públicos ambientais. Na esfera legislativa: os instrumentos clássicos elencados no art. 14 da Constituição Federal, a saber: plebiscito, referendo e iniciativa popular de projeto de lei. A participação na esfera judicial, observada a legitimidade para a propositura, ocorre por meio das ações constitucionais, tais como mandado de segurança individual ou coletivo, a ação popular, o mandado de injunção. • Principio da Função Socioambiental da propriedade privada. Fundamento: art. 186, II, da Constituição Federal de 1988: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; Como se vê: o regime jurídico da propriedade foi tornado público com a Constituição de 1988. Nesse sentido, art. 5º, XXII, da CF/88, garante-se o direito de propriedade, mas este somente será legitimado se ela atender a sua função social (art. 5º, XXIII, da CF). Com efeito: "A expressão “função socioambiental” nada mais é que a função social da propriedade com ênfase em seu aspecto ambiental. A função socioambiental da propriedade urbana, no bojo constitucional, assenta-se no § 2º do art. 182 da CF, enquanto a função socioambiental da propriedade rural é estabelecida no art. 186 da CF". A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (art. 182, § 2º, da CF). O plano diretor é instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, sendo obrigatoriedade para as cidades com mais de 20 mil habitantes. - Lei nº 10.257/2001 – Estatuto das Cidades. • Principio da Função Socioambiental da propriedade privada. A leitura do art. 186 da Constituição destaca três aspectos para o cumprimento da função social da propriedade rural: - O aspecto econômico, com o aproveitamento racional e adequado (inciso I); - O aspecto ambiental, fixando a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente (inciso II); - O aspecto social, com observância das disposições que regulam as relações de trabalho e a exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (incisos III e IV). São exemplos da preservação do meio ambiente e da utilização adequada dos recursos naturais a manutenção na propriedade rural da vegetação de possível área de preservação permanente, da instituição e manutenção da reserva legal, da não contaminação dos lençóis freáticos, entre outros. Já na seara infraconstitucional, o Código Civil, em seu art. 1.228, § 1º, dispõe sobre a função social: “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”. • Principio da Informação. Decorre do principio da publicidade e da transparência; Essencial para a proteção do meio ambiente e saúde da coletividade. O Princípio 10 da Declaração do Rio (1992) estabelece que: “(…) no nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos (…)”. A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981), no inciso V do art. 4º, igualmente relaciona a informação ambiental como um de seus objetivos, o qual visa “(…) à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico”. Além disso, o Governo Federal criou o Sistema Nacional de Informações Ambientais (Sinima), visando articular as informações dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). A fim de garantir a efetivação desse princípio editou-se a Lei nº 10.650/2003, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). • Principio da Informação. Assim, qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações ambientais, mediante requerimento escrito, sobre os seguintes aspectos: a) qualidade do meio ambiente; b) políticas, planos e programas potencialmente causadores de impactoambiental; c) resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição e de atividades potencialmente poluidoras, assim como planos e ações de recuperação de áreas degradadas; d) acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais; e) emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos; f) substâncias tóxicas e perigosas; g) diversidade biológica; h) organismos geneticamente modificados (art. 2º). Importante destacar que o indivíduo que acessa esses dados assume a obrigação de não utilizá-los para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como é obrigado a citar as fontes, na eventualidade de divulgar os dados obtidos (art. 2º, § 1º). Outra manifestação do princípio da informação ambiental é o direito dos consumidores serem informados sobre produtos e alimentos que contenham organismos geneticamente modificados (OGM). Dispõe o art. 40 da Lei nº 11.105/2005 que “(…) os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento. • Principio do Limite. Também chamado princípio do controle do poluidor pelo poder público. Fundamento: natureza de Direito Público da Proteção ao Meio Ambiente. Impõe ao Estado fixar padrões máximos de degradação, com vistas ao equilíbrio ambiental; Segundo Milaré: “resulta das intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente”. Aplicação do poder de polícia administrativa ambiental, para obstar ou limitar a devastação. Tem previsão na Constituição Federal de 88, mais especificamente no art. 225, V, parágrafo 1º: §1º Para assegurar a efetividade desse direito, incube ao poder público: V- controlar a poluição, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. Assim, a Administração Pública estabelece modelos (padrões, metas) de qualidade ambiental, a exemplo, dos limites aceitáveis para a emissão de gases pelos automóveis (Lei nº 8.723, de 28 de outubro de 1993), limites de desmatamento em propriedades rurais Lei estadual nº 18.104, de 18 de julho de 2013 (Código Florestal do Estado de Goiás) etc. • Principio da Responsabilidade Comum, Mas Diferenciada. Decorrência do Princípio da Cooperação entre os Povos, pelo qual: “quem gera maior degradação ambiental deve arcar com mais custos”. Outrossim, fundamenta-se no Princípio da Igualdade Material. A "responsabilidade" está expressamente prevista no art. 225, § 3º, da CF/88: § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. O artigo 14 § 1º da Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) também prevê a responsabilidade de índole objetiva por danos causados ao meio ambiente. Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: § 1º- Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Resumo dos princípios mais relevantes Princípio do desenvolvimento sustentável: compatibiliza o desenvolvimento econômico com a proteção ao meio ambiente, para assegurar sua fruição às futuras gerações (aspecto social). Princípio da solidariedade intergeracional: significa atender às necessidades do presente “sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias”. Princípio da função socioambiental da propriedade: a utilização da propriedade, urbana ou rural, se legitima quando se cumpre a função socioambiental (art. 186 da CF e Estatuto das Cidades). Princípio da prevenção: o risco é conhecido, por meio de pesquisas e informações, ou porque já ocorreu antes. Ex.: mineração. Princípio da precaução: o risco é desconhecido (perigo in abstracto), por ausência de informações ou pesquisas conclusivas. Na dúvida, não há intervenção no meio ambiente. Princípio do poluidor-pagador:área econômica; internalização dos custos ambientais a serem atribuídos ao empresário-empreendedor. Princípio do usuário-pagador: reconhece ser imprescindível valoração economicamente os recursos naturais, atribuindo valor a sua utilização. Evitar hiperexploração e o custo zero. Ex.: água. (Lei nº 9.433/97); Princípio do protetor-recebedor: benefícios econômicos (fiscais e tributários) a quem adota boas práticas ambientais. Ex. ICMS Eco. Princípio da informação ambiental: acesso à população sobre informações acerca de procedimentos, públicos ou privados, que intervenham no meio ambiente. Princípio da participação comunitária: visa garantir políticas públicas ambientais na esfera administrativa (audiências, consultas públicas e recursos administrativos); na esfera judiciária (ações judiciais); ma esfera legislativa (plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei). Princípio da cooperação: atuação em conjunto na esfera internacional e nacional, para a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Princípio da natureza pública da proteção ambiental: dispõe que o interesse na tutela do ambiente é bem de uso comum do povo, logo, indisponível. Princípio da vedação ao retrocesso: veda o recuo para níveis de proteção inferiores. Princípio do progresso ecológico: impõe ao Estado rever e melhorar a legislação e os mecanismos protetivos ao meio ambiente. Princípio da Educação Ambiental: "Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade". Lei nº 9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental)
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