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ISSN 2176-1396 O ENSINO DE ARTE E A SUA FINALIDADE: EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Andrieli Tochetto1 - UNINTER Lidiane Gomes dos Santos Felisberto2 - PUCPR Eixo – Educação, Arte e Movimento Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Cada disciplina escolar presente nos currículos escolares possui uma razão específica para ser contemplada, ou seja, as disciplinas possuem objetivos que devem ser atingidos pelo aluno em seu processo de formação. Tendo em vista que muitas vezes a disciplina de Arte é considerada como um momento de recreação ou de passatempo escolar, o presente artigo tem por objetivo entender a real finalidade do ensino Arte na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Considerando como abordagem metodológica a pesquisa qualitativa, esta investigação privilegiou como fontes de pesquisa os documentos oficiais que norteiam a construção dos currículos escolares. Neste sentido, foram analisados o Referencial Curricular da Educação Infantil (BRASIL,1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (BRASIL, 1997) destinados aos Anos iniciais do Ensino Fundamental, ambos elaborados pelo Ministério da Educação (MEC). Como referenciais teóricos foram consultados autores como Barbosa (1979; 1991), Fusari e Ferraz (2001), Pallarés (1981), que discutem a Arte no âmbito educacional. O estudo mostra que a Arte possui objetivos claros e significativos à educação das crianças. Os segmentos da Arte (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro), contemplados no ensino, possuem finalidades específicas que contribuem para a formação integral do sujeito. O ensino de Arte permite ao aluno desenvolver aspectos como a sensibilidade, a percepção, a expressividade, a espontaneidade, a consciência de si, do outro e das diversas culturas. As análises dos documentos oficiais mostram que o ensino de Arte tem por objetivo desenvolver aspectos sociais do aluno bem como auxiliá-lo na construção do conhecimento, permitindo-o a compreender a sua realidade e a tornar-se criativo diante de seus problemas. Palavras-chave: Disciplina de Arte. Educação. Ensino. 1Graduanda em Licenciatura em Pedagogia pela Uninter. Licenciada em Artes pela Univel. Pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes pela Uninter. E-mail: andrielitochetto@hotmail.com 2Doutoranda em Educação no Programa de Pós Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professora na Rede Municipal de Curitiba. Pedagoga pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná. E-mail: lidianegomesdossantos@hotmail.com 11149 Introdução Desde a era primitiva, nossos ancestrais já utilizavam a arte como expressão do que vivenciavam na época, registrando nas paredes das cavernas esboços e esquemas de acontecimentos que ocorriam cotidianamente. Observamos que desde os feitos remotos até a consolidação da arte como meio de produção e sensibilização na civilização historicamente desenvolvida, tem-se plena asseveração da importância desse saber para a humanidade. Neste sentido, este artigo traz reflexões que foram suscitadas durante o Estágio Supervisionado de Docência na Educação Básica, realizado em um Colégio de Cascavel/PR, durante o curso de Licenciatura em Pedagogia pela Uninter. Por meio de um projeto de intervenção, notou-se que os professores que lecionavam Arte sentiam dificuldades em lecionar, mesmo com auxílio de materiais, sendo que algumas vezes a disciplina foi ministrada como modo simples de recreação. É com o objetivo de entender a real finalidade do ensino Arte na Educação Infantil e nos Anos iniciais do Ensino Fundamental que este artigo é produzido. A partir da perspectiva qualitativa, traremos a análise de documentos oficiais que norteiam a construção dos currículos escolares. No transcorrer das páginas, traremos as orientações contidas no Referencial Curricular da Educação Infantil (BRASIL, 1998) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte (BRASIL, 1997), ambos da Secretaria de Ensino Fundamental (MEC). Ainda, estão presentes no texto, autores que discutem a Arte no âmbito educacional como Barbosa (1979; 1991), Fusari e Ferraz (2001), Pallarés (1981), entre outros. A Arte e a Educação Conforme Fusari e Ferraz (2001), o representar, por meio da arte, é sinônimo de expressão que permite orientar e ressignificar situações diárias, de maneira menos alienada, mais crítica e sensibilizada. Assim, a arte age como formadora de mentes pensantes, possibilitando que qualquer cidadão que tenha acesso ou pratique algum meio artístico, consiga observar e analisar profundamente os fatos grupais e individuais, mostrando a relevância que cada um deve configurar dentro da sociedade. A Arte, enquanto disciplina escolar abrange os segmentos de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro (BRASIL, 1997). Nessas quatro áreas há inúmeras possibilidades de conteúdos permitindo ao aluno exprimir-se, manifestar-se, comunicar-se e desenvolver-se por meio da fruição alcançada com os estudos. A partir de estudos históricos, práticos e técnicos, a práxis 11150 educativa transforma-se em constante incentivador do desenvolvimento dos educandos. Conforme Barbosa, isso permite analisar “a ideia de que a Arte na educação tem como finalidade principal permitir que a criança expresse seus sentimentos e a ideia de que a Arte não é ensinada, mas expressada”. (1979, p.46). Na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o uso do ensino de Arte se faz de maneira imaginativa, envolvente e estimuladora, buscando instigar a criatividade e a capacidade de criar e inventar das crianças. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. (BRASIL, 1997, p. 19) Neste sentido, enquanto professor é preciso compreender que os processos e evoluções são mais relevantes que o resultado final. Sendo assim, deve ser desconsideradas perspectivas e exigências por grandes produções artísticas, e ponderar a importância de “desenvolver a capacidade de formular hipóteses, julgar, justificar e contextualizar julgamentos diferentes acerca de imagens e de Arte”. (BARBOSA, 1991, p.64). O ensino de Arte traz contribuição ao âmbito social, no sentido de possibilitar à criança compreender o ambiente em que vive, ampliar o conhecimento cultural e aprender a viver em sociedade de maneira atuante. Conforme Fusari e Ferraz “a arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhecê-lo” (1999, p. 16). Os PCNs indicam a contribuição no âmbito social por meio do conhecimento da arte de outras culturas. Segundo o documento, isso permite ao aluno compreender “a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana” (BRASIL, 1997, p. 19). Do mesmo modo, possibilita ao aluno perceber a sua realidade de modo mais vivo, reconhecer as formas e objetos que estão à sua volta e exercitar a observação crítica de sua própria cultura, criando condições para uma melhor qualidade de vida (BRASIL, 1997). O alunoque tem uma sólida base artística dentro da escola, sendo este o lugar que frequenta e participa grande parte de sua vida, torna-se mais sensível ao observar as mais diversas situações e aprende a refletir de forma mais ampla, dando sentido às inúmeras 11151 informações que tem aproximação. É neste sentido que o ensino de Arte vem contribuir com as demais disciplinas, pois permite ao aluno absorver e dialogar, opinar e fazer com que suas ideias não se bastem somente em senso comum, mas pela frenética procura de dados, que constatem e afirmem a veracidade dos fatos. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná consideram a Arte e seu ensino como um amplificador de conhecimento, como se verifica no trecho a seguir: A Arte é fonte de humanização e por meio dela o ser humano se torna consciente da sua existência individual e social; percebe-se e se interroga, é levado a interpretar o mundo e a si mesmo. A Arte ensina a desaprender os princípios das obviedades atribuídas aos objetos e às coisas, é desafiadora, expõe contradições, emoções e os sentidos de suas construções. Por isso, o ensino da Arte deve interferir e expandir os sentidos, a visão de mundo, aguçar o espírito crítico, para que o aluno possa situar-se como sujeito de sua realidade histórica. (PARANÁ, 2008, p. 56). A Arte tem por objetivo promover uma educação humanizadora e transformadora, construindo formadores de opinião, se trabalhada e atribuída corretamente a cada faixa etária com atividades e exercícios expressivos e estimulantes. Porém, nota-se que a educação em Arte, mesmo inserida há tempos nos currículos escolares, ainda não é trabalhada de maneira apropriada, tanto por se ponderar que é uma ocasião para recreação, quanto pela própria preparação dos professores. Nesta mesma perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais salientam que o ensino de Arte favorece o relacionamento do aluno com as outras disciplinas do currículo, exemplificando que: O aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático. (BRASIL, 1997, p. 19) É neste sentido que a disciplina de Arte não pode ser vista como um momento de entretenimento ou recreação. Como as demais disciplinas do currículo, em Arte existem objetivos a serem alcançados por meio de métodos que visam o aprendizado. Os PCNs, reconhecendo as dificuldades enfrentadas pelos professores polivalentes, afirmam que: Sem uma consciência clara de sua função e sem uma fundamentação consistente de arte como área de conhecimento com conteúdos específicos, os professores não conseguem formular um quadro de referências conceituais e metodológicas para alicerçar sua ação pedagógica; não há material adequado para as aulas práticas, nem material didático de qualidade para dar suporte às aulas teóricas. (BRASIL, 1997, p. 26) 11152 Desta maneira, o professor que leciona Arte, mesmo não tendo a formação específica, deve buscar conhecimentos que lhe dê suportes à sua prática educativa, devido à relevância desta disciplina na vida dos alunos. É necessário provocar e despertar nos alunos querer algo além do que é desenvolvido em sala de aula, tendo em vista uma nova forma de observar as mais variadas situações, até mesmo fora do ambiente escolar. Estas observações precisam servir de estímulo e levar à fruição livre dos pensamentos com criatividade, diante de diversas linguagens artísticas. Como afirma as Diretrizes do Paraná: O ensino de Arte deve basear-se num processo de reflexão sobre a finalidade da Educação, os objetivos específicos dessa disciplina e a coerência entre tais objetivos, os conteúdos programados (os aspectos teóricos) e a metodologia proposta. Pretende- se que os alunos adquiram conhecimentos sobre a diversidade de pensamento e de criação artística para expandir sua capacidade de criação e desenvolver o pensamento crítico. (PARANÁ, 2008, p.52). Os alunos devem ser guiados a relacionar-se com a arte, na qual esta interfira em seus pensamentos e hábitos simples, elevando-os a algo criador. A partir do momento em que se compreendem conceitos estéticos, ocorre uma transformação na capacidade de ver, observar, descobrir e analisar os fatos, tornando cada momento de formação humana. Com isso, surgem novas mentes pensantes, dispostas a adentrarem em mundos diferentes do que estão habituados, de enfrentar desafios e posicionar-se com determinação, procurando caminhos que se desloquem a uma conclusão coerente e abrangente. As autoras Fusari e Ferraz afirmam que é necessário pensar em “um trabalho escolar consistente, duradouro, no qual o aluno encontre um espaço para o seu desenvolvimento pessoal e social por meio da vivência e posse do conhecimento artístico e estético” (2001, p. 21). Continuam afirmando que isso “requer uma metodologia que possibilite aos estudantes a aquisição de um saber específico, que os auxilie na descoberta de novos caminhos, bem como na compreensão do mundo em que vivem e suas contradições” (IDEM). Compete então, ao professor responsável pelas aulas de Arte, mediar e atrair a vontade pela busca e pela pesquisa, despertando a curiosidade, difundindo novos elementos, indagando e gerando dúvidas, que deixem os alunos instigados e inquietos por respostas, gerando assim uma vasta construção de conhecimento. Essa curiosidade deve ser guiada até que se torne objetiva, não sendo somente ingênua ou de senso comum, mas aprimorada, com o professor mostrando caminhos e dando livre arbítrio para que o aluno exprima as suas próprias manifestações, permitindo ao educando opinar e atuar como cidadão crítico. 11153 Assim sendo, o papel do professor é o de: Valorizar o repertório pessoal de imagens, gestos, “falas”, sons, personagens, instigar para que os aprendizes persigam ideias, respeitar o ritmo de cada um no despertar de suas imagens internas são aspectos que não podem ser esquecidos pelo ensinante de arte. Essas atitudes poderão abrir espaço para o imaginário. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 118) Estas discussões permitem concluir que a Arte deve ser colocada como disciplina formadora de opinião, pela qual os conteúdos trabalhados não se resumam a meros desenhos, trabalhos manuais, ou cantigas e representações sem sentido. Ao contrário disto, a Arte deve propiciar que cada situação apresentada gere diálogo e discussões, permitindo ao aluno expor o que pensa e interagir com o grupo, trocando informações, ideias e socializando, além de ser instigado a refletir e raciocinar sobre manifestações simples e complexas. Sempre respeitando a idade e o nível de desenvolvimento do aluno, o professor deve buscar dar significação e conjunção de forma única e pessoal ao conteúdo exposto, permitindo que isso seja debatido e que todos tenham direito e oportunidade de opinar e defender suas convicções, ponderando a igualdade entre todos. Fusari e Ferraz atentam para o fato de que esse tipo de prática pedagógica é: Na verdade, um movimento educativo e cultural que busca a constituição de um ser humano completo, total, dentro dos moldes do pensamento idealista e democrático. Valorizando no ser humano os aspectos intelectuais, morais e estéticos, procura despertar sua consciência individual, harmonizada ao grupo social ao qual pertence. (2001, p. 19) Todas e quaisquer manifestações artísticas levadas aos alunos devem aguçar os seus sentidos, incentivando-os a tornarem-se seres criadores. Segundo Freinet, “a livre expressão facilitaa criatividade da criança, no desenho, na música, no teatro, extensões naturais da atividade infantil, progressivamente responsável por seus comportamentos afetivos, intelectuais e culturais“ (apud SAMPAIO, 1994, p. 30). Com as discussões até aqui expostas, verifica-se nos documentos oficiais e nos referencias teóricos que a disciplina de Arte não é um passatempo escolar, mas se constitui como formadora de personalidade, contribuindo para o desenvolvimento perceptível e crítico do sujeito. A seguir discutiremos de que maneira os eixos de Arte são entendidos pela legislação educacional e em que medida estes auxilia no desenvolvimento do aluno, demonstrando que cada segmento possui uma finalidade própria. 11154 O ensino de Arte e a sua finalidade a partir de seus segmentos Assim como em qualquer outra disciplina do currículo escolar, Arte também exige planejamento. O planejamento das aulas é um dos quesitos fundamentais para o sucesso do professor no aprendizado dos seus alunos, pois, é através dele que se percebem os erros e acertos de suas aulas, além de possibilitar adaptações às formas de ensinar, conforme o aproveitamento da turma e do indivíduo. A partir dessa análise, o professor pode também se autoavaliar, observando e levantando suposições, buscando melhorar e proporcionar aos alunos um melhor aprendizado, além da satisfação pelo que faz. Nas palavras de Zabala, o planejamento é: Um conhecimento e uma reflexão sobre os possíveis modelos, uma análise e uma avaliação das normas, uma apropriação e elaboração do conteúdo, que implica a análise dos fatores positivos e negativos, uma tomada de posição, um envolvimento afetivo e uma revisão e avaliação da própria atuação. (1998, p. 48) Para que os conteúdos e atividades possam ser planejados, se faz necessária a prática da pesquisa. A pesquisa inicia no momento em que o professor estuda o currículo, sente as necessidades dos seus alunos e busca entendimento e suporte para apresentar novos conhecimentos. Para Paulo Freire todo professor é um pesquisador, afirmando que “faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa” (1996, p.32), porém, é necessário que o professor se reconheça como tal para estar em formação permanente. Fusari também reafirma a importância do planejamento ao dizer que “nada substitui a tarefa de preparação da aula em si” (2008, p. 47). O planejamento, segundo a autora, é uma competência teórica do professor que busca meios de adequação pelos quais a sua turma terá mais facilidade e interesse pelo assunto, pensando também nas formas mais compatíveis de assimilação e apreensão dos contextos visualizados. É fato que tudo começa pelo senso comum, pela cultura que cada um traz em sua bagagem pessoal ou pela curiosidade ingênua. Este é o ponto de partida da aprendizagem e deve ser encarado pelo professor como uma oportunidade para uma nova busca pelo saber, tornando o conhecimento ou acontecimento comum em um questionamento a ser sanado. Partindo deste ponto, a criança passa a absorver e a entender mais informações a respeito do que procura, o que torna essa curiosidade ingênua em curiosidade intelectual, daí o aprendizado. As aulas de Arte para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental devem partir da soma da ludicidade com a instigação do interesse do aluno pelo conteúdo apresentado. É a união destes fatores que podem gerar no aluno a vontade pela prática, fazendo com que 11155 formule argumentos e questionamentos. Trata-se em instigar a curiosidade dos alunos para motivar a capacidade criadora. Segundo Freire: A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere e alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (FREIRE, 1996, p. 18). Neste sentido, o professor deve agir como mediador, estimulando o diálogo e práticas artísticas como expressividade e fruição dos pensamentos, a fim de que o aluno chegue a um senso de conhecimento e aprendizado. As ideias devem ser colocadas e a partir disso, deixar o educando exprimir o que sente e consequentemente causar uma movimentação na mente, considerando a possibilidade de participação e as particularidades de cada indivíduo. Freire, neste mesmo sentido, já relatava: Quando estou diante de uma platéia de estudantes, nem sempre se trata de convencê- los ou de mostrar que sua idéia x ou y é errada e, consequentemente, que a minha seria a certa. Ao explicitar a minha ideia, trata-se mais de fazer com que eles percebam em que medida as deles, que partem das suas próprias práticas, se assemelham às minhas, quando é o caso, ou divergem das minhas. (1996, p. 71) No planejamento das aulas de Arte, o professor precisa levar em conta os quatro segmentos da arte, já citados anteriormente (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro), considerando que todos são de grande importância e que com suas peculiaridades conseguem promover a expressão e a autonomia dos alunos. Além disso, é preciso considerar a faixa etária e o desenvolvimento dos alunos, apresentando atividades dinâmicas adaptadas ao nível em que cada turma se encontra. Mesmo sendo alunos pequenos, dentro de suas possibilidades perceptivas, eles conseguem apreender os conteúdos e refletir sobre aquilo que produzem. Acerca disso, Martins, Picosque e Guerra afirmam que a “arte é a linguagem básica dos pequenos e deve merecer um espaço especial, que incentive a exploração, a pesquisa, o que certamente não será obtido com desenhos mimeografados e exercícios de prontidão” (1998, p. 102). Nas Artes Visuais, é importante salientar que os objetivos principais são aguçar a imaginação, o conhecimento e a sensibilidade das crianças, por meio de obras de artistas conceituados e pelos desenhos e pinturas criados na escola. Isso os incentiva a serem mais criativos e posicionados, sabendo opinar e reconhecer os seus lugares no mundo. Segundo Moreno: 11156 A construção da capacidade de criação na infância é uma forma da criança manifestar a sua compreensão da realidade que o cerca, de exercitar sua inteligência ao criar, alterar, organizar e reorganizar elementos plásticos, é uma construção do ser humano. Na sua interação com o mundo, ela vivencia inúmeros contatos com experiências estéticas que envolvem ideias, valores e sentimentos, experiências estas que envolvem o sentir e também o pensar e o interpretar. Portanto a linguagem visual faz parte da formação integral do indivíduo e não pode ser desconsiderada no contexto da educação infantil. (2007, p.44) Infelizmente, ainda nem todas as escolas desenvolvem um trabalho conveniente em matéria de arte. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) indica que há “um descompasso entre os caminhos apontados pela produção teórica e prática pedagógica existente” (BRASIL, 1998, p. 87). Não considerando a relevância que a Arte possui no desenvolvimento humano, muitos professores a consideram apenas como um mero passatempo. O documento revela que “atividades de desenhar, colar, pintar e modelar com argila ou massinha são destituídas de significados” (IDEM), quando não, “outra prática corrente considera que o trabalho deve ter uma conotação decorativa, servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com motivos para os pais, etc.” (IDEM). Neste ultimo caso, os Referenciais apontam que “é comum que os adultos façam grande parte dotrabalho, uma vez que não consideram que a criança tem competência para elaborar um produto adequado” (IDEM). Já para o Ensino Fundamental, os PCNs (BRASIL, 1997) indicam que no trabalho de Artes Visuais devem se relacionar aos conteúdos e às experiências os materiais, as técnicas e as formas visuais de diferentes momentos históricos. Precisam ser considerados diferentes tipos de visualidades, como as tradicionais (a pintura, a escultura, o desenho, etc.) e também as contemporâneas advindas dos avanços tecnológicos, como a fotografia, o cinema e a televisão. Segundo o documento, “a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal” (BRASIL, 1997, p. 45). Quanto à Dança, este é o segmento que unifica o pensar, o sentir e o movimento do corpo, fazendo com que a criança situe-se no espaço, note as suas limitações e possibilidades, desenvolvendo o aspecto motor, a concentração e a espontaneidade. A dança permite que a criança se torne mais desinibida e participativa individual ou coletivamente, desenvolvendo a autonomia e o reconhecimento e respeito pela diversidade. Segundo Ávila e Silva, o ritmo, exigido na dança, “leva a ordenação do pensamento, e suas características de organização do tempo exigem das funções cerebrais maior agilidade e maior presteza” (2003, p.78). Assim, os PCNs afirmam que “a ação física é necessária para que a criança harmonize de maneira 11157 integradora as potencialidades motoras, afetivas e cognitivas” (BRASIL. 1997, p. 49), complementando que a escola ao possibilitar o entendimento do corpo, leva o aluno a “usá-lo expressivamente com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade” (IDEM). O segmento da Música permite aos alunos momentos de interação e sensibilização emocional, ativando a criatividade e o entendimento da realidade e do próprio ser em si, além da compreensão da atividade social na qual está inserido. Para Nogueira, a referência musical: Acompanha os seres humanos em praticamente todos os momentos de sua trajetória neste planeta. E, particularmente nos tempos atuais, deve ser vista como umas das mais importantes formas de comunicação [...]. A experiência musical não pode ser ignorada, mas sim compreendida, analisada e transformadas criticamente. (2003, p.01) A prática musical na escola pretende oportunizar à criança “vivências de tempo, duração de sons, por meio do acento dos movimentos, utilizando deslocamentos naturais, canções, percussão com instrumentos ou utilizando o próprio corpo, palavras e frases ritmadas” (PALLARÉS, 1981, p. 10). Isso, segundo Pallarés (1981), proporciona aos alunos desenvolver a afetividade, aguçar a capacidade de entender e reagir a mudanças e obter aprimoramentos na percepção, na comunicação e na atenção. A música objetiva propiciar e oportunizar o desenvolvimento dos alunos, desconsiderando as ações mecânicas que ocorrem ao se fazer uso de cantigas infantis conhecidas e decoradas para ocasiões peculiares da rotina escolar. Mais do que um simples “cantarolar”, o segmento da Música deve se constituir de atividades planejadas e contextualizadas com finalidades concretas. Os PCNs destacam que todos os alunos precisam “participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula” (BRASIL, 1997, p. 54). Afirmam ainda que a partir do segmento musical, “a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talentosos ou músicos profissionais” (IDEM). Do mesmo modo que ao incentivar a participação de eventos culturais que envolvem a música “pode proporcionar condições para uma apreciação rica e ampla onde o aluno aprenda a valorizar os momentos importantes em que a música se inscreve no tempo e na história” (IDEM). No segmento do Teatro, para que as expressões teatrais aconteçam, é necessário que o indivíduo libere “a sua presença de forma completa: seu corpo, sua fala, seu gesto, manifestando a necessidade de expressão e comunicação” (BRASIL, 1997, p. 57). Com o objetivo de que o teatro ocorra dentro da sala de aula, existe a necessidade de observar se a criança se adapta e 11158 sente atração pela atividade, pois, mesmo sendo um exercício de interação, pode persistir a inibição em participar. Havendo desconforto, deve-se então, ser trabalho lentamente o envolvimento de cada um. De início, é interessante inserir jogos teatrais e improvisos, que são espontâneos e considerados também como brincadeiras, além da contação de histórias, que envolve interação e não leva a nenhuma necessidade de exposição, mas somente de expressão. Conforme a evolução, tanto de faixa etária quanto de desenvoltura e sociabilidade, surgirão na prática teatral o cumprimento de regras e uma nova visão coletiva, ensinando também a contribuição da ação grupal. A partir disso, amparado em imaginações, saberes e emoções, o teatro promove aos alunos a análise e a compreensão de si próprios e de outros com quem convive além da percepção de sentimentos e valores, sendo que cada um se exprime nos próprios personagens que interpreta, mesmo sem a real intenção. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, afirmam que o ensino teatral permite ao aluno: Exercitar suas capacidades cognitivas, sensitivas, afetivas e imaginativas, organizadas em torno da aprendizagem artística e estética. Ao mesmo tempo, seu corpo se movimenta, suas mãos e olhos adquirem habilidades, o ouvido e a palavra se aprimoram, enquanto desenvolve atividades nas quais relações interpessoais perpassam o convívio social o tempo todo. (BRASIL, 1997, p. 114) Conforme podemos verificar, o ensino de Arte, com seus segmentos, possibilita o desenvolvimento de diferentes aptidões necessárias à vida do ser humano. É neste sentido que reiteramos a importância de a escola servir como base artística e dispor aos alunos aulas de Arte pautadas nas propostas curriculares dos documentos nacionais, dispondo de um ambiente propício às práticas artísticas. Considerando que a vida escolar é um dos fatores mais influentes para a evolução da criticidade nos alunos e que o conhecimento adquirido na escola reflete significativamente nos cidadãos e na sociedade, a Arte, com todas as contribuições advindas das finalidades de seus segmentos, já discutidos anteriormente, não pode passar despercebida do contexto do ensino e da educação. Considerações Finais Este artigo, que teve por objetivo entender a finalidade do ensino Arte na Educação Infantil e nos Anos iniciais do Ensino Fundamental, apontou que existem objetivos sólidos pelos quais a Arte é importante à educação das crianças e não se faz presente nos currículos para ser recreação ou passatempo. 11159 Conforme os referenciais teóricos e os documentos oficiais analisados, a Arte se constitui importante disciplina no currículo escolar. Seu ensino possui finalidades claras e significativas à educação das crianças, visando desenvolver os aspectos sociais do aluno bem como auxiliá-lo na construção do conhecimento. A Arte permite à criança compreender o ambiente em que vive, reconhecendo os objetos e formas que estão ao seu redor; a ampliar o conhecimento sobre outras culturas, exercitando a observação crítica de sua própria realidade; a se relacionar, interagir e se posicionar de maneira crítica e criativa diante de seus problemas e da sua realidade. Referente ao ensino, o estudo indica que, como em qualquer outra disciplina, há necessidade que o professor planeje suas aulas. Se for o caso de ser professor polivalente,sem formação específica em Arte, precisa dedicar-se em buscar conhecimentos que lhe dêem suportes à sua prática educativa, levando em consideração a sua relevância na formação dos alunos. O artigo refletiu ainda sobre os quatro segmentos da Arte que devem ser levados em conta nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O estudo mostrou que cada segmento tem objetivos específicos que contribuem para a formação integral do sujeito. As Artes Visuais desenvolvem no aluno a percepção, a imaginação, a sensibilidade, o conhecimento e a produção artística. A Dança permite ao aluno a consciência sobre seu corpo e o espaço, desenvolve a concentração, a expressividade, a inteligência, a autonomia e a espontaneidade. O segmento da Música desenvolve aspectos como a interação, a criatividade, a atenção, a apreciação e a valorização de repertórios. Já o Teatro, exercita capacidades cognitivas, sensitivas, afetivas, aprimoram o ouvido e a palavra e promovem relações e atividades interpessoais. Diante do exposto, conclui-se que a Arte deve ser colocada como disciplina formadora de opinião, pela qual os conteúdos trabalhados não se resumam a meros desenhos, trabalhos manuais, ou cantigas e representações sem sentido. Todas e quaisquer manifestações artísticas levadas aos alunos devem aguçar os seus sentidos, incentivando-os a tornarem-se sujeitos pensantes e criadores. REFERÊNCIAS ÁVILA, M. B.; SILVA, K. B. À. A música na educação infantil. In: NICOLAU, M. L. M; DIAS, M. C. M (orgs). Oficinas de Sonho e Realidade: Formação do educador da infância. Campinas: Papirus, 2003. 11160 BARBOSA, A. M. T. B. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Editora Perspectiva, 1991. BARBOSA, A. M. T. B.. 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