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15 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN FARMACOLOGIA Aula 04 – Farmacodinâmica DEFINIÇÃO Ramo da farmacologia que estuda os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos, bem como seus mecanismos de ação. “O que o fármaco faz com o organismo”; ou seja, eventos consequentes à interação do fármaco com o seu receptor e outros pontos primários de ação SÍTIOS DE AÇÃO DOS FÁRMACOS Protéicos: Receptores para hormônios Canais iônicos Enzimas Proteínas transportadoras Não-protéicos: Ácidos nucléicos Constituintes da parede celular RECEPTORES FARMACOLÓGICOS O termo receptor ou alvo farmacológico refere-se à macromolécula (ou ao complexo macromolecular) com o qual o fármaco interage para produzir uma resposta celular (i.e., uma alteração da função celular). Muitos fármacos também interagem com aceptores (p. ex., albumina sérica) existentes no organismo. Receptores ionotrópicos: ligados diretamente ao canal iônico, resposta quase imediata. Tipicamente, esses são os receptores nos quais os neurotransmissores rápidos agem. Ex. acetilcolina Proteína G: sobre canais iônicas e enzimas (mensageiros secundários > AMP cíclico). Receptores para vários hormônios e neurotransmissores lentos. Proteína G S: excitatórias | Proteína G I: inibitórias Quinase: reações sucessivas de fosforilação. Respondem principalmente aos mediadores proteicos. Receptor nuclear: no citoplasma, moléculas lipossolúveis e de baixo peso molecular. Regulam a transcrição gênica. Reconhecem moléculas estranhas, induzindo a expressão de enzimas que os metabolizam. São as primeiras moléculas dentro ou sobre a célula que interagem com neurotransmissores, hormônios ou outra molécula sinalizadora (exógena ou endógena). Eles transmitem a mensagem da molécula para a maquinaria celular (via de transdução). Uma célula individual pode expressar vários tipos de receptores. Independente de como são administrados, os fármacos interagem com diferentes proteínas, lipídios, carboidratos, e outras substâncias no organismo, entretanto, apenas algumas dessas interações promovem efeito. Um sítio de ligação não-específico é definido como um componente no qual o fármaco se liga sem promover efeito (ex.: albumina). Se a ligação ocorrer com um componente que promova efeito na célula ou no organismo, esse componente é chamado de receptor e a ligação é dita específica. Especificidade Os receptores asseguram fidelidade na comunicação pretendida por só responderem à molécula sinalizadora específica ou a moléculas com estrutura química muito relacionada. Classes individuais de fármacos ligam-se apenas a certos alvos, e alvos individuais só reconhecem determinadas classes de fármacos. Ex. Angiotensina (m. liso vascular e renal) Afinidade Força da interação entre o fármaco e o receptor determinada pela estrutura química da substância. Sendo assim, pequenas alterações na molécula do fármaco podem provocar alterações significativas em suas propriedades farmacológicas em decorrência da alteração de afinidade por um ou mais receptores. Alteração na geração da resposta. Relação Estrutura Química - Especificidade L- Hiosciamina: para cólica DL-Hiosciamina (atropina): mistura racêmica Importância da Estereoquímica Talidomida: Isômero S – teratogênico Isômero R – anti-náusea matinal 16 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN INTERAÇÕES FÁRMACO-RECEPTOR A ligação das drogas aos seus receptores pode envolver todos os tipos de interações conhecidas: iônica, ponte de hidrogênio, hidrofóbica, interação de Van der Waals e ligação covalente. A maioria das interações droga-receptor envolve ligações fracas múltiplas. As ligações covalentes necessitam de energia considerável para se romper, sendo praticamente irreversíveis e prolongando a duração da ação do fármaco. As ligações iônicas também são fortes, mas podem ser revertidas por alterações no pH. Ativação Capacidade da molécula ligada de afetar o receptor de modo a desencadear uma resposta tecidual. A tendência de um fármaco se ligar ao receptor é determinada pela sua afinidade. Enquanto a tendência de uma vez ligado de ativar o receptor é dado pela sua eficácia (atividade intrínseca). As substâncias que possuem afinidade por um dado receptor podem ser classificadas como: agonistas ou antagonistas Agonistas: fármacos que se ligam a receptores fisiológicos e simulam efeitos de compostos reguladores endógenos Agonista total: fármaco com eficácia suficiente para promover a resposta máxima do tecido. Agonista parcial: droga com nível intermediário de eficácia, de forma que mesmo quando 100% dos receptores estão ocupados, a resposta tecidual é submáxima. A incapacidade de um agonista parcial produzir a resposta máxima não é decorrente de afinidade reduzida pelo receptor, pois agonistas parciais inibem competitivamente respostas produzidas por agonistas totais. Afinidade: tendência do fármaco de se ligar ao receptor Atividade intrínseca (eficácia): capacidade de uma vez ligado, ativar o receptor. Agonistas totais apresentam atividade intrínseca igual a 1 e antagonistas, atividade intrínseca zero, agonista inverso igual a -1. Eficácia [A] Agonista total. [B e C] Agonista parcial Potência A é mais potente que B, mas B é mais potente que C. 17 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN Potência x Eficácia A e B são agonistas totais, enquanto C é um agonista parcial. Potência e eficácia: A é mais potente que B, mas A e B são mais eficazes que C. Antagonistas: fármacos que se ligam ao receptor sem causar ativação, mas produzem efeito por inibirem a ação dos agonistas. Antagonismo Competitivo Reversível Liga-se no mesmo sítio de ligação do agonista. Caracteriza-se pelo desvio da curva de concentração para a direita, sem alterar a inclinação ou o efeito máximo; e pela razão de dose aumentar linearmente com a concentração do antagonista Os dois competem entre si, inibição pode ser superada pelo aumento da concentração do agonista é capaz de restabelecer sua ocupação; Em presença do antagonista competitivo reversível a resposta máxima ocorre na concentração mais elevada do agonista (afeta a potência do agonista) >> Não se reduz a resposta máxima. Utilizados clinicamente. Inibição pode ser superada pelo aumento na concentração do agonista Antagonismo Competitivo Irreversível Liga-se no mesmo sítio de ligação do agonista. O antagonista contém grupo reativo que forma ligações covalentes com o receptor o antagonista se dissocia de forma lenta ou nem se dissocia. A inibição não pode ser superada pelo aumento na concentração do agonista (irreversível). Respostas máximas são reduzidas. A curva dose-resposta do agonista será deslocada para a direita. Ferramenta experimental 18 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN Antagonismo não-competitivo Não se liga no mesmo sítio do agonista. Pode se ligar em um sítio alostérico ou bloquear algum ponto da sequência de eventos desencadeada por um agonista. A inibição não pode ser superada com o aumento na concentração do agonista (irreversível). A resposta máxima é reduzida. A curva dose-resposta do agonista será deslocada para a direita (redução do efeito). Exemplo 1: agmatina em receptores nicotínicos; Exemplo 2: fenciclidina (PCP) bloqueia o fluxo de cálcio através do canal do receptor NMDA. Ela se liga em um sítio dentro do canal aberto. Antagonismo entre Fármacos Químico Quando 2 substâncias se combinam em solução e a atividade da droga é perdida; Ex.: dimercaprol (agente quelante) x metais pesados | tretacilcina x leite Farmacocinético Uma substância reduza concentração da outra no sítio de ação Ex.: fenobarbital (indutor enzimático) e varfarina Fisiológico: Ocorre quando a ação de 2 agonistas, atuando em 2 receptores diferentes possuem ações opostas Ex.: histamina em receptor H1 causa broncoconstrição e adrenalina em receptores beta 2 causa broncodilatação. Agonistas Inversos ou Antagonistas Negativos Fármacos que estabilizam o receptor em sua conformação inativa. Importante apenas em situações nas quais os receptores demonstram atividade constitutiva. Ligação Fármaco-Receptor Dessensibilização e Taquifilaxia Perda de efeito de uma substância, comumente observado quando administrada de modo contínuo ou repetidamente. Mecanismos: Alteração nos receptores Exaustão de mediadores Aumento do metabolismo de substâncias Mecanismos fisiológicos compensatórios Extrusão da substância das células: antibióticos ALVOS PARA A AÇÃO DE FÁRMACOS 19 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN TIPOS DE RECEPTORES 1. CANAIS IÔNICOS São chamados às vezes de receptores ionotrópicos. Estão envolvidos principalmente na transmissão sináptica rápida. Existem várias famílias estruturais, sendo a mais comum a organização heteromérica de quatro ou cinco subunidades, com hélices transmembrana dispostas em torno de um canal central aquoso. A ligação do ligante e a abertura do canal ocorrem em uma escala de tempo de milissegundos. Despolarização >> Potencial de ação; Hiperpolarização Os exemplos incluem os receptores nicotínicos da acetilcolina, do GABA tipo A (GABAA), receptores de glutamato (NMDA) e de ATP (P2X). Receptores ionotrópicos nem sempre são excitatórios, ex.: GABA é inibitório. A macromolécula do receptor pode ter vários sítios para ligantes distintos 2. RECEPTORES ACOPLADOS ÀS PROTEÍNA G São denominados algumas vezes receptores metabotrópicos ou receptores com sete domínios transmembrana (7-TDM) >> geração de energia • As estruturas compreendem sete α-hélices que atravessam a membrana, em geral ligadas, formando estruturas diméricas. • A terceira alça intracelular interage com a prot. G. 20 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN • Quando o trímero (α, β, γ) se liga a um receptor ocupado por um agonista, a subunidade α se liga a GTP, dissocia-se e, então, fica livre para ativar um efetor (p. ex., uma enzima de membrana). Em alguns casos, a subunidade βγ é a espécie ativadora. • A ativação do efetor termina quando ocorre a hidrólise da molécula de GTP ligada, o que permite que a subunidade α se recombine com βγ. • Existem vários tipos de proteína G, que interagem com diferentes receptores e controlam diferentes efetores. • Exemplos incluem o receptor muscarínico da acetilcolina, adrenoceptores, receptores de neuropeptídeos e de quimiocinas, e os receptores ativados por protease. 1. Ligação do agonista 2. Troca de GTP-GDP 3. Ativação da proteína G 4. Difusão de α-GTP para o efetor 5. Ativação do efetor 6. Reconstituição da proteína G heterotrimérica 7. Hidrólise do GTP 8. Agonista não ligado Duas vias fulcrais de segundos mensageiros são controladas por receptores via proteínas G: • Adenilil ciclase/AMPc: podem ser ativadas ou inibidas por ligantes farmacológicos, dependendo da natureza do receptor e da proteína G – a adenilil ciclase catalisa a formação do mensageiro intracelular AMPc – o AMPc ativa várias proteínas quinases que controlam a função celular de muitas maneiras diferentes, por meio de fosforilação de várias enzimas, transportadores e outras proteínas • Fosfolipase C/trisfosfato de inositol (IP3)/diacilglicerol (DAG): catalisa a formação de dois mensageiros intracelulares, IP3 e DAG, a partir de fosfolipídeos de membrana – o IP 3 atua aumentando o Ca2+ citosólico livre, pela liberação de Ca2+ de compartimentos intracelulares – o aumento do Ca2+ livre dá início a vários eventos, incluindo contração, secreção, ativação de enzimas e hiperpolarização de membranas – o DAG ativa a proteína quinase C, que controla muitas funções celulares através da fosforilação de várias proteínas As proteínas G ligadas a receptores controlam também: • Canais iônicos: abertura de canais de potássio que resulta numa hiperpolarização da membrana – inibição de canais de cálcio, reduzindo, assim, a liberação de neurotransmissores • Fosfolipase A2 (e, portanto, a formação de ácido araquidônico e eicosanoides) SISTEMA ADENILATO CICLASE/AMPc 21 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN SISTEMA FOSFOLIPASE C • A ativação da fosfolipase C mediada por receptor resulta na clivagem do fosfatidilinositol bisfosfato (PIP2), formando diacilglicerol (DAG) (que ativa a proteína quinase C) e inositol trisfosfato (IP3) (que libera Ca2+ intracelular). O IP3 é inativado por desfosforilação em inositol. O DAG é convertido em ácido fosfatídico, e esses dois produtos são usados para regenerar o PI e o PIP2. RECEPTORES TIROSINA-QUINASE A. Receptores para NGF ou Insulina B. Receptores para IL-1, IL-6 ou TNF-α Receptores para diversos fatores de crescimento incorporam a tirosina quinase em seu domínio intracelular. • Receptores de citocinas possuem um domínio intracelular que liga e ativa quinases citosólicas quando o receptor é ocupado. • Todos os receptores compartilham uma arquitetura comum, que consiste em um grande domínio extracelular de ligação ao ligante, conectado ao domínio intracelular através de uma única hélice transmembrana. • A transdução de sinais geralmente envolve a dimerização de receptores, seguida de autofosforilação de resíduos de tirosina. Os resíduos de fosfotirosina atuam como aceptores dos domínios SH2 de várias proteínas intracelulares, permitindo, dessa maneira, o controle de muitas funções celulares. • Estão envolvidos principalmente em eventos que controlam o crescimento e a diferenciação celulares, e atuam indiretamente por regulação da transcrição gênica. • Duas vias importantes são: • A via Ras/Raf/proteína ativada por mitógenos (MAP) quinase, que é importante na divisão, no crescimento e na diferenciação celulares. • A via Jak/Stat, ativada por muitas citocinas, controla a síntese e a liberação de muitos mediadores inflamatórios. • Alguns poucos receptores de hormônios (p. ex., fator natriurético atrial) possuem uma arquitetura similar e estão ligados à guanilil ciclase. Papel central das cascatas de quinases na transdução de sinais RECEPTORES INTRACELULARES OU NUCLEARES 22 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina – UERN • Uma família de 48 receptores solúveis que podem detectar lipídeos e sinais hormonais, além de modular a transcrição gênica. • Seus ligantes são muitos e variados, incluindo fármacos esteroides e hormonais, hormônios tireoides, vitaminas A e D, vários lipídeos e xenobióticos. • Duas categorias principais: • Os RN de classe I estão presentes no citoplasma e formam homodímeros na presença de seu ligante, migrando até o núcleo. Seus ligantes são principalmente de natureza endócrina (p. ex., hormônios esteroides). • Os RN de classe II estão, em geral, constitutivamente presentes no núcleo e formam heterodímeros com o receptor retinoide X. Seus ligantes são, via de regra, lipídeos (p. ex., os ácidos graxos). • Os complexos receptores-ligantes iniciam mudanças na transcrição gênica ao se ligarem a elementos da resposta hormonal em promotores de genes e recrutarem fatores de coativação ou correpressão.
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