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Resenha Documentário Sem Pena

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FACULDADE ESCOLA PAULISTA DE DIREITO
DIREITO – 6º SEMESTRE
CARINA GOMES DE JESUS – RA: 202020008
RESENHA DOCUMENTÁRIO “SEM PENA”
DIREITO PENAL
PROFESSOR FERNANDO MAGRI
SÃO PAULO
2021
O documentário “Sem Pena”, do diretor Eugenio Puppo, mostra as
adversidades vividas pelas pessoas presas e processadas criminalmente no Brasil,
apresentando testemunhos de juízes, promotores, advogados e especialistas do sistema de
justiça criminal. 
Puppo traz por meio de seu filme um espaço de reflexão acerca de todo o
processo, desde a prisão até a reinserção social.
A partir de imagens impactantes de prisões brasileiras, o documentário
pretende estimular uma análise crítica da realidade do sistema de justiça, destacando temas
relativos à alta taxa de encarceramento e a falta de acesso à justiça no Brasil.
A predileção do diretor em omitir os rostos dos detentos tem um duplo
efeito de colocar o orador não como um sujeito que relata uma experiência pessoal, mas o
representante que fala em nome de um grupo de excluídos, uma voz de múltiplos rostos que
não pode ser individualizada na tela. A ausência de imagem dos depoentes torna a obra mais
áspera e menos comercial.
Um jovem que cumpre pena de quatro anos em regime fechado por um
crime que não cometeu. Outro, há anos, teria direito à progressão de regime e, no entanto,
continua atrás das grades. Dezenas de casos como esses são retratados no documentário
“Sem Pena”, que vai muito além da situação dramática das penitenciárias brasileiras e
retrata a realidade do sistema de justiça criminal e a dificuldade de obtenção de direitos
pelos presidiários.
O documentário mostra o que está por trás dos crimes, como a falta de
oportunidades de estudo, trabalho e a disparidade social, o que faz com que a maior parte
da população carcerária seja jovem, negra e pobre, ou, como define um dos entrevistados
do filme, trata-se do “encarceramento da pobreza”, uma vez que a pessoa sem recursos não
consegue se defender e, até conseguir obter o direito ao seu “benefício”, já cumpriu a pena
toda.
Para Augusto de Arruda Botelho, presidente do IDDD: “A política do Estado
é a do encarceramento em massa. Não são respeitadas, em primeira instância, súmulas do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinam
requisitos para a prisão preventiva, ou que tratam de penas alternativas, por exemplo”. 
Outro aspecto levantado no documentário é o desrespeito aos direitos
humanos no cárcere, a exemplo da falta de oportunidades de trabalho para remissão da
pena, que reflete na vinculação de réus primários a facções criminosas. Augusto chama a
atenção para dados da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), no estado de São
Paulo, onde o índice de reincidência no crime de presos que cumprem penas alternativas é
de 7%, enquanto o mesmo índice para os que cumprem penas no regime fechado é de 60%.
A cadeia, em “Sem Pena”, é um problema social, uma questão que toca a
todos os cidadãos.
A fala de um dos entrevistados no documentário resume o espírito do
filme: “Não existe crime individual, todo crime é social”. Na opinião de Augusto, o
documentário contesta alguns lugares comuns como de que “as leis são ruins” ou “no Brasil
o preso só cumpre um sexto da pena e vai embora”, o que não acontece na realidade, e que
o processo é muito lento, a estrutura é falha e há poucos juízes que atendem a um número
desumano de processos.
 Cria-se uma narrativa oficial que exclui qualquer responsabilidade do
Estado, colocando-o como vítima do crime “organizado” e abafando qualquer discussão mais
ampla sobre as condições degradantes das penitenciarias brasileiras, a falência do sistema
jurídico, a relação da ausência do Estado para as questões sociais e seu excesso para a
repressão.
O documentário “Sem Pena” ressalta a falta de oportunidades de trabalho
no sistema carcerário muitas vezes, como mostra o filme, encarcerados têm como única
alternativa atividades como a confecção de bolas de couro dentro das celas, o que não é
considerado para a remissão da pena. De acordo com o filme, trata-se de verdadeira
“loteria”, já que uma pessoa acusada por tráfico de drogas, por exemplo, pode ser tanto
condenada a oito anos de reclusão ou a um ano e meio no regime aberto com prestação de
serviços.
Os depoimentos coletados são muito bons, não apenas pelo valor de
denúncia, mas pela profundidade do discurso. Todas as pessoas entrevistadas, desde juízes a
detentos, possuem uma reflexão complexa sobre o assunto, marcada pelo distanciamento
de quem convive com o tema há muitos anos. Não há lágrimas ou súplicas neste filme,
apenas uma série de constatações amargas a respeito do preconceito contra os mais pobres,
a corrupção de policiais e juízes, a impossibilidade de reinserção social dos presos e os maus-
tratos e humilhações estendidos à família dos detentos.
O filme apresenta o fato de que o Brasil tem a terceira maior população
carcerária do mundo, e a primeira em termos de crescimento anual. “Sem Pena” apresenta o
sistema carcerário brasileiro como uma instituição totalmente falida, não por falta de
investimentos, mas por pertencer a uma estrutura que visa, acima de tudo, proteger os bens
dos cidadãos em liberdade contra aqueles mantidos em isolamento.
Sem pena externa as feridas de um sistema injusto, corpos “sem rostos”,
indivíduos que já eram reduzidos a uma massa indesejável e fora do corpo político da
Sociedade, sem face para a mídia e resumidos a “criminosos”.
Relato Pessoal (Confidencial)
Falar desse tema é algo que me desperta inúmeros gatilhos, o que acabou
interferindo na minha narrativa e talvez a deixando tendenciosa.
Infelizmente tive o desprazer de conhecer de perto a realidade do sistema
prisional, o que o filme relata muito bem, mas ainda assim não chega nem perto da
verdadeira realidade.
Desde a abordagem policial que é extremamente falha, manipulável e
desrespeitosa. A humilhação é constante, em todos os órgãos e setores, da delegacia ao
CDP. Filas imensas, falta de informação, informações desencontradas, olhares de repúdio
sem ao menos conhecerem a história.
Hoje me pergunto baseado em que eles apresentam os valores que cada
preso custa ao Estado, uma vez que são os familiares que precisam arcar com tudo, da
escova de dente e sabonete, ao uniforme e chinelo, que o Estado não fornece, roupa de
cama, banho, comida, tudo, tudo, tudo. Celas imundas, úmidas, molhadas o dia todo,
refeições terceirizadas que já chegam estragadas e causam diversas feridas no corpo dos
presos, dentre muitas outras situações desumanas.
Os familiares são tratados como lixos, como se tivessem cometido o crime
em conjunto e eles soubessem, grosseria, falta de respeito, piadinhas, etc, são comuns nas
filas. Não basta a vergonha de estar ali, naquela situação, eles ainda fazem questão de
tripudiar mais um pouquinho.
Meu filho, com 19 anos a época, foi preso por portar 60 gramas de
maconha, foi enquadrado por tráfico de drogas, coagido a confessar algo que não fez em
troca de um acordo para que respondesse em liberdade, após ficar dois meses preso
aguardando a audiência de instrução, não cedeu as minhas súplicas de provar sua inocência
e tentar pela absolvição, e assinou o acordo se declarando culpado pra sair daquele inferno.
Não bastasse o sofrimento de ver melhor filho algemado pelo pés e mãos,
cabeça baixa, pele de coloração extremamente anormal, no dia seguinte a audiência,
aguardei por mais de 8 horas da porta do CDP para que eles cumprissem o alvará de soltura,
a tortura e humilhação não cessam nunca.
Já se passaram dois anos da condenação e a prestação de serviços até hoje
não saiu, ele quando é abordado é sempre humilhado e ameaçado pelos policiais que dizem
que vão levá-lo, a vidanunca mais foi a mesma, é um inferno, um medo constante, um abalo
em toda a família. 
Eu que sempre julguei, quando passava em frente ao Metrô Carandiru
dentro do conforto do meu carro, aquelas pessoas que ficavam esperando os ônibus para
irem visitar os seus familiares em presídios distantes, jamais imaginei que um dia viveria
uma situação semelhante a delas. Que sairia da minha bolha de julgamento para ver que ali,
naquelas filas quilométricas, existem milhares de pessoas boas, honestas, dignas e que não
mereciam toda aquela humilhação suportada. Mas infelizmente, por conta de uma parcela
que desrespeita e tenta burlar as regras, todas pagam.
Como sou, relativamente, jovem, não aparento ter um filho adulto, logo
antes de verem os documentos, carteirinha, etc, achavam que eu era esposa/amásia, e o
tratamento era ainda pior. Quando verificavam que não, que eu era mãe, mudavam um
pouco o tratamento, eram mais cordiais e passavam a responder com mais educação.
É um período que tento esquecer, mas que me persegue a cada notícia que
leio sobre prisões injustas, impossibilidade de defesa, etc. Hoje estudo para ser criminalista e
um dia conseguir contribuir, de alguma forma, na luta por um julgamento justo aos menos
favorecidos.