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Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 1 APG IV DOCTORALIA Objetivos: 1. Identificar as complicações gastrointestinais da Doença de Chagas. 2. Compreender a fisiopatologia do megaesôfago chagástico. 3. Entender o desenvolvimento de neoplasia associado ao megaesôfago. Complicações gastrointestinais da Doença de Chagas As manifestações são semelhantes às de pacientes com acalasia idiopática; Pacientes com anormalidades de motilidade menores podem ser assintomáticos, mas desenvolver disfagia e regurgitação progressivas devido a perda neuronal; A disfagia ocorre incialmente com sólidos, mas eventualmente também se desenvolve com líquidos; Os pacientes afetados comem mais lentamente e muitas vezes adotam manobras específicas, como levantar o pescoço ou jogar para trás, a fim de melhorar o esvaziamento esofágico; A regurgitação de alimentos de alimentos ou saliva ingeridos não é comum e, em casos graves, pode resultar em aspiração; À medida que a doença progride, os alimentos podem ficar alojados no esôfago, e causar dor retroesternal devido a irritação local, ulceração, sangramento, perfuração e fístulas; Na doença terminal, a desnutrição pode se desenvolver, além disso, os pacientes com megaesôfago ainda também têm risco aumentado de câncer de Esôfago; Descobriu-se que mutações no gene PIK3CA têm um suporto papel no desenvolvimento de carcinoma espinocelular de esôfago em pacientes chagásicos com megaesôfago. Megaesôfago Chagástico O esôfago é sede de alterações funcionais que produzem sintomas, conhecidos como distúrbios motores do esôfago (DME) que são divididos em: 1. Distúrbios da musculatura estriada; 2. Distúrbios da musculatura lisa. Nos distúrbios da musculatura estriada, o acometimento será na faringe e esfíncter esofágico superior e nos distúrbios da musculatura lisa o acometimento será relativo ao corpo do esôfago e EIE; Tais distúrbios podem ser primários quando a alteração esofágica é a própria manifestação da doença ou secundários quando alguma doença de base sistêmica causa comprometimento do esôfago. Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 2 APG IV Acalasia (AC): é uma doença caracterizada por ausência de relaxamento do EIE e ausência de peristaltismo do corpo esofágico. Ela pode ser idiopática ou chagásica. Megaesôfago: expressão anatômica da acalasia chagásica em estágio mais avançado. Etiopatogenia da Acalásia Chagástica Existe uma correlação anatomopatológica entre a doenças de Chagas e o megaesôfago, identificando a forma amastigota de leishmânia do T. cruzi na musculatura do esôfago de pacientes com esta patologia; Nas pessoas acometidas, ocorre uma desnervação que se segue e reduz as células nervosas do plexo mioentérico, repercutindo na fisiologia motora de vários segmentos; São duas as teorias que tentam explicar a destruição do plexo mioentérico: 1) Neurotóxica: substâncias neurolíticas liberadas pelo T. cruzi destroem o neurônio. Esta destruição estaria reservada a fase aguda da doença, e suas consequências surgiriam meses ou anos depois. 2) Autoimune: Onde há a liberação de antígenos a partir da forma amastigota, que se depositariam nas células neuronais sensibilizando-as. A partir daí seriam formados autoanticorpos contra essas células levando a sua destruição. Fisiopatologia O substrato fisiopatológico da acalasia chagásica ou idiopática é a desnervação esofágica, caracterizada pela destruição do plexo mioentérico do esôfago. Há evidências também de degeneração de fibras aferentes vagais e do núcleo dorsal motor do vago; Ocorre a perda dos neurônios do plexo miontérico que inervam o EIE e que através de neurotransmissores causam o relaxamento desse esfíncter, ou seja, o relaxamento será ausente ou incompleto dificultando a passagem do alimento para o estômago; Consequências dessa destruição: - Falta de peristaltismo; - Ausência de abertura ou abertura incompleta do EIE (acalasia); - Ondas terciárias e espontâneas, o que denota a hipersensibilidade do órgão desnervado nas fases iniciais e que geram assincronia de movimentos; - Estase do conteúdo esofágico e dilatação; - Hipertrofia da musculatura; - Progressiva atrofia muscular; - Metaplasia epitelial e risco de malignização. Dessa forma, o paciente inicialmente tem um quadro de aperistalse e acalasia, estase alimentar e intensa atividade motora do órgão, apresentando-se a musculatura hipertrofiada e o esôfago sem dilatação; Porém, tardiamente, observa-se exaustão das fibras musculares, sua distensão e atrofia por hipóxia, tendo como consequência a dilatação e diminuição da Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 3 APG IV espessura do esôfago sendo o tecido muscular substituído por tecido conjuntivo denso. No megaesôfago não existe obstáculo orgânico ou hipertonia do EIE impedindo a passagem do bolo alimentar, mas sim falta de coordenação do impulso nervoso. Com isso não existe peristaltismo no corpo do esôfago e, portanto, o bolo alimentar caminha basicamente pela força gravitacional. Simultaneamente, o EIE abre- se de forma irregular independente do estimulo da deglutição e, em consequência, ocorre estase alimentar; A estase constitui estimulo para contrações do corpo do esôfago, que tenta vencer o obstáculo funcional representado pelo EIE. De início as contrações são intensas e progressivamente perdem sua força, ao mesmo tempo que as fibras musculares, que no começo apresentaram hipertrofia vão alongando e gradativamente sendo substituídas por tecido conjuntivo; A estase gerada contribuirá para a formação de esofagite, ulceras, leucoplasia e também podem evoluir para um carcinoma espinocelular. Além dessas apresentações ocorrerá também uma hipersalivação e uma hipossecreção de suco gástrico pela chegada deficiente do alimento no estômago. Sinais, sintomas e diagnóstico A disfagia, inicialmente intermitente e depois lentamente progressiva, tanto para líquidos quanto para sólidos, podendo apresentar-se como disfagia paradoxal, ou seja, apenas para líquidos; Disfagia percebida principalmente no terço distal da região retroesternal; Manobras podem ser de alivio como elevação dos braços e rotação da cabeça, inspiração profunda, ingestão de líquidos; Fatores como ansiedade ou emoções fortes podem agravar a disfagia; Regurgitações com frequência, no início com material semelhante a clara de ovo que corresponde à estase salivar. À medida que avança ocorre regurgitação até horas após a ingestão e principalmente à noite, provocando tosse, engasgos, sensação de sufocação, o que desperta o paciente; Outros referem acordar com travesseiro manchado de líquidos ou secreção contendo restos alimentares, e alguns evoluem com pneumonias de repetição pela broncoaspiração; Emagrecimento; Nas fases iniciais pode haver dor torácica abdominal de localização Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 4 APG IV retroesternal irradiada para mandíbula. Esta dor geralmente surge espontaneamente e melhora com a ingestão de líquidos (principalmente gelados) e com eructação (arrotos); Pirose pela acidificação dos alimentos provocada devido à fermentação alimentar no esôfago; Pode ocorrer sialorreia (Produção excessiva de saliva) em grande quantidade, surgindo durante a alimentação, acompanhado de disfagia ou dor torácica. Nos pacientes com Chagas viu-se que a sialorreia acompanha-se de hipertrofia das glândulas salivares, especialmente das parótidas. Isto se deve ao fato de que as glândulas por estarem desnervadas apresentam hipertrofia e hiperatividade funcionalao reflexo esôfago salivar de Roger, exacerbado ainda pela estase alimentar e irritação constante da mucosa gástrica. Diagnóstico Etiológico Fase Aguda: 1. Critério parasitológico: elevada presença de parasitos circulantes demonstráveis no exame direto do sangue periférico. - Principal: teste direto a fresco; - Alternativa em caso de teste direto negativo ou após 30 dias de sintomatologia: testes de concentração micro-hematócrito, Teste de Strout e QBC; - Alternativa caso a sintomatologia permaneça com teste direto e de concentração negativos: associar PCR com técnicas sorológicas (pesquisa de IgM); 2. Critério sorológico: a presença de anticorpos anti-T. cruzi da classe IgM no sangue periférico é considerada indicativa da fase aguda, particularmente quando associada a alterações clínicas e epidemiológicas sugestivas. Os exames sorológicos possíveis são: - Imunofluorescência indireta com pesquisa de IgM; - Western-blot (WB); - ELISA-IgM. Atualmente existem dificuldades para realizar testes sorológicos na fase aguda devido à falta de kits comerciais registrados na ANVISA. Fase Crônica: 1. Critério parasitológico: devido à baixa parasitemia na fase crônica, os métodos parasitológicos tradicionais são de baixa sensibilidade, o que implica em pouco valor Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 5 APG IV diagnóstico tornando desnecessária sua realização para manejo clínico. - Hemocultura; - Xenodiagnóstico. 2. Critério sorológico: considera-se indivíduo infectado pelo T. cruzi aquele que apresenta anticorpos anti-IgG identificados por dois testes sorológicos de princípios distintos ou com diferentes preparações antigênicas. - IFI (Imunofluorescência Indireta); - ELISA; - HAI (Hemoaglutinação Indireta). Avaliação do Esôfago Achados sugestivos de AC: - Retardo do meio de contraste; - Ausência de peristalse do órgão com ou sem contrações terciárias; - Junção gastroesofágica afilada com aspecto de “bico de pássaro”; - Diferentes graus de dilatação esofágica; Classificação para o Megaesôfago: Endoscopia Digestiva Alta (EDA): Exclusão de alteração orgânica como causa da disfagia e eventualmente diagnóstico de complicações da AC. Achados líquidos e Restos alimentares após Jejum sugerem diagnóstico. Esofagomanometria (EM): Tem como objetivo avaliar o relaxamento e a pressão do EIE pré e pós-tratamento, além de orientar o local de posicionamento do cateter da pHmetria prolongada, em casos em que o exame for utilizado. Achados importantes: falta de relaxamento ou relaxamento incompleto do EIE e aperistalse do corpo esofágico. Tratamento Os objetivos de qualquer terapêutica na AC são: 1) aliviar os sintomas; 2) melhorar ou aliviar o esvaziamento esofágico; 3) prevenir o desenvolvimento de megaesôfago e suas complicações. Todas as opções terapêuticas, com exceção da esofagectomia, objetivam diminuir a pressão do EIE para desobstruir o transito alimentar. - Nitratos: Aumentam a concentração de óxido nítrico e faz relaxamento das células musculares lisas; - Antagonista dos canais de cálcio (difedipeno): Também causa relaxamento das células musculares lisas; - Toxina Botulínica: Inibidor da acetilcolina que tem ação excitatória no tônus do EIE tem sido usada em injeções endoscópicas com Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 6 APG IV reduções dos sintomas do paciente, da pressão do EIE e do diâmetro esofágico. - Dilatação pneumática da cárdia (DPC): É um tratamento conservador definitivo e tem como objetivo romper as fibras do EIE, reduzindo sua pressão e a obstrução funcional do esôfago. - Tratamento Cirúrgico: Neoplasias Esofágicas Epitélio do esôfago: epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado; No esôfago podemos ter neoplasias de células escamosas dentro do epitélio e também neoplasias estromais; NOMENCLATURA EPITÉLIO ESCAMOSO: - Benigno: Papiloma + nome da célula + nome do órgão; - Maligno: Carcinoma + nome da célula + nome do órgão. ESTR0MA/MESÊNQUIMA: - Benigno: Tipo de célula + sufixo oma; - Maligno: Tipo de célula + sufixo sarcoma. Agentes carcinogênicos: Álcool, Tabaco, Bebidas quentes, etc; Pessoas com DRE alteram a parte do terço inferior do esôfago, podendo apresentar esôfago de barret; Esôfago de Barret: Um processo adaptativo causado pelo contato com substâncias como HCl estomacal e que gera metaplasia do tipo intestinal. Alguns fatores predispõe o aparecimento, tais como Hérnia Hiatal, Incompetência do esfíncter esofágico inferior e DRE; Esses pacientes metaplásicos (esôfago de barret) possuem 2 populações de célula: no terço superior Células escamosas e no terço inferior células glandulares (metaplásicas) que podem gerar neoplasias de células glandulares. NOMENCLATURA EPITÉLIO GLANDULAR: - Benigno: Adenoma + Nome do órgão; - Maligno: Adenocarcinoma + Nome do órgão. A maioria dos casos de Esôfago de Barret e DRE são assintomáticas; Quando há ataque das células da mucosa do esfíncter esofágico inferior, as células tronco dessa região tentam se diferenciar para substituir àquela que foi lesada, porém elas não atingem seu grau máximo de diferenciação, formando uma célula imatura e indiferenciada, que tem apresentação igual a uma célula intestinal (Metaplasia Glandular Intestinal); Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med 7 APG IV Essas metaplasias possuem mais chance de virar neoplasia; SINÔNIMO DE ESÔFAGO DE BARRET; Algumas dessas células do terço inferior do esôfago podem sofrer metaplasia e formar células que têm uma apresentação estomacal (Metaplasia Glandular Gástrica); NÃO É ESÔFAGO DE BARRET. - Investigação: EDA (Endoscopia Digestiva Alta) + Biópsia; - Clínica Principal: Disfagia Progressiva (Antes comia sólido, passa para pastoso e agora só líquido). Referências Bibliográficas DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo Friche. Gastroenterologia essencial. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.