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álgEBra linEar CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I LEIBNIZ (1646 - 1716) Gottfried Wilhelm von Leibniz foi um filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. A ele é atribuída a criação do termo "função" (1694), que usou para descrever uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a inclinação ou um ponto qualquer situado nela. É creditado a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno, em particular o desenvolvimento da Integral e da Regra do Produto. Demonstrou genialidade também nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. Maringá 2010 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I Editora da UnivErsidadE EstadUal dE Maringá Reitor Prof. Dr. Décio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini ConsElho Editorial Presidente Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor Associado Prof. Dr. Ulysses Cecato Vice-Editor Associado Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza Editores Científicos Prof. Adson C. Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Prof. Dr. João Fábio Bertonha Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Profa. Dra. Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves Profa. Dra. Terezinha Oliveira Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valéria Soares de Assis EqUipE téCniCa Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima Maringá 2010 FORmAçãO DE PROFEssOREs Em FÍsICA - EAD CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I Rui Marcos de Oliveira Barros 2 Copyright © 2009 para o autor 1ª reimpressão 2010 revisada Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edição 2010 para Eduem. Endereço para correspondência: Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá - Paraná Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392 http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br Coleção Formação de professores em Física - Ead Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese Normalização e catalogação: Ivani Baptista - CRB 9/331 Revisão Gramatical: João Cesar Guirado Projeto Gráfico: Carlos Alexandre Venancio Edição e Diagramação: Renato William Tavares Capas: Arlindo Antonio Savi Kellis Germano de Freitas Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Barros, Rui Marcos de Oliveira Cálculo diferencial e integral, 1. / Rui Marcos de Oliveira Barros - Maringá : Eduem, 2009. 167 p. ; 21 cm. – (Formação de Professores em Física – EAD; v. 2) ISBN 978-85-7628-178-8 1. Cálculo diferencial. 2. Cálculo integral. I. Título. II. Série. CDD 21. ed. 515.3 B277 3 Sobre os autores ................................................................................... 5 Apresentação da coleção ..................................................................... 7 Apresentação do livro ........................................................................... 9 1 Funções de uma variável real ..............................................................11 2 limites e Continuidades ...................................................................... 45 3 derivadas .............................................................................................81 4 integração ..........................................................................................127 5 lista de Exercícios ..............................................................................155 umárioS 5 RUI MARCOS DE OLIVEIRA BARROS Graduação: Matemática pela UFSCAR (1984). Doutorado: Topologia Algébrica pelo ICMC-USP (1995). É professor associado do Departamento de Matemática da UEM desde 1996. obre os autoresS 7 Embora relativamente recente no Brasil, a Educação a Distância foi imaginada e im- plantada com relativo sucesso, há muito tempo em diversas partes ao redor do mundo. Já em 1833, na Suécia, uma publicação se referia ao ensino por correspondência, e poucos anos depois, na Alemanha, foi fundada a primeira escola por correspondência destinada ao ensino de línguas. Com o advento da transmissão radiofônica, as facilida- des se tornaram reais e as trocas de informações se agilizaram e, consequentemente, a Educação a Distância experimentou um crescimento signifi cativo. Fato semelhante ocorreu com a evolução dos setores de comunicação televisiva, e defi nitivamente, a Educação a Distância se consolidou incorporando novas formas de comunicação. O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância (SEED) tem promovido uma ampla difusão de vários cursos a distância, em parceria com di- versas Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). O curso de Física em EAD da Universidade Estadual de Maringá (UEM) foi implantado com total apoio desses ór- gãos ofi ciais. Possui disciplinas idênticas e o mesmo conteúdo programático do curso presencial. Entretanto, existem pontos entre ambos, que não podem convergir devido ao enfoque: enquanto o curso presencial requer uma metodologia característica, com a relação professor-discente acontecendo quase que exclusivamente dentro de um espaço físico próprio, o curso a distância deve abranger e considerar a relação espaço- temporal para efetivar o aprendizado. A coleção que ora apresentamos refl ete essa preocupação. Os volumes foram escritos por professores que possuem experiência sufi ciente para elaborar o conteúdo adequado a cada disciplina e, de forma bastante consistente, eleger os tópicos exigidos para a formação de um licenciado em Física. O leitor perceberá que, mesmo dentro de um único livro escrito por diversos autores, a linguagem não é uniforme e os enfoques são diferenciados; enfi m, preservamos tanto quanto possível as particularidades respeitando-se as experiências individuais e, certamente, isso se refl ete na apresentação do conteúdo e no estilo de exposição do presentação da ColeçãoA CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 8 material didático. Adicionalmente uma parcela do corpo docente do Departamento de Física – UEM tem se dedicado à tarefa de produção de textos direcionados a Educação a Distância, os Departamentos de Matemática, de Química, de Fundamentos da Educação e de Informática têm contribuído com os textos pertinentes às disciplinas que usualmente ministram na modalidade Presencial. Ao fi nal do quarto ano, a coleção contará com mais de trinta volumes. Esses foram gerados com o objetivo de proporcionar ao dis- cente da Educação a Distância um material produzido pelo empenho de um conjunto de professores que acreditam que a Educação a Distância seja uma alternativa para suprir a defi ciência de professores de Física no ensino médio. Percebe-se também que não é a modalidade de ensino que determina o aprendizado,mas ele depende, acima de tudo, do esforço e da dedicação de cada um. Esperamos que essa coleção seja uma forma de tornar essa tarefa mais fácil de Física em EAD. Sonia Maria Soares Stivari Organizadora da Coleção 9 O texto apresentado não segue o padrão de um livro texto de Cálculo. Livros textos usa- dos em cursos presenciais seguem uma padronização que não utilizaremos aqui. Uma vez que não seguiremos essa padronização, como deveria se apresentar uma obra para o aluno que não terá, basicamente, um momento presencial com o professor? Como o aluno da modalidade EAD “escutará” as observações que invariavelmente aparecem em sala de aula? Nos cursos presenciais de Cálculo, existem perguntas proferidas por alunos que contri- buem para o professor aprimorar sua argumentação, explicando com maior riqueza de de- talhes alguma parte do conteúdo. Às vezes o professor percebe que está havendo equívocos na leitura do livro texto e fornece questões que possibilitem a correção. Porém, quando a distância física aumenta e o diálogo não é mais síncrono, cabe ao texto didático prever as possíveis dúvidas e amparar o aluno para que a construção dos conceitos do Cálculo não seja desviada para “caminhos traiçoeiros”. Esse texto procurará desviar-se destes caminhos. Em muitos momentos o aluno deparar-se-á com um ambiente que denominamos carinho- samente de “conversa”. Dentro deste ambiente, procuraremos nos aproximar do aluno-lei- tor, numa linguagem direta, sugerindo atitudes e comentando acerca do disposto no corpo principal do livro. A construção desse ambiente pretende que o corpo principal da obra apresente possibilidades de uma leitura mais fl uida, no sentido de uma leitura que esteja próxima do “ouvir”. O aluno perceberá que este livro conversará com ele, pelo menos essa é a intenção. Em alguns momentos, isso fi cará bem claro, principalmente quando, após um teorema importante, ao invés de encontrar uma demonstração encontrará uma “conversa”. No que diz respeito às demonstrações, a maioria delas não está presente no texto. Para aqueles que compararem a presente obra com os demais livros tradicionais de Cálculo, per- ceberão que as diferenças são maiores do que aquelas que poderiam ser inicialmente pre- vistas. Aqui, tenta-se conversar com o aluno e propor situações que o levem à construção de conceitos. Essa não é uma tarefa fácil, pois um conceito não é algo estanque, imutável. Ao contrário, um conceito é algo que está em eterno estado de “devir”. Os compêndios de Cálculo, em geral, tratam os conceitos mediante a apresentação de defi nições. É importante destacar que uma defi nição não é o conceito. No caso da matemática, uma defi nição é algo que contém uma face do conceito, face apropriada para a construção de argumentação segundo um sistema lógico-dedutivo. Este livro tenta, pois, apresentar situa- ções que levem o aluno a conceituar e posteriormente defi nir. Esperamos que, dentro das possibilidades, esta obra cumpra seu objetivo que é o de propiciar ao aluno a possibilidade de acesso ao mundo dos “conceitos” matemáticos que surgiram após os séculos XVI e XVII, isto é, os conceitos que envolvem o infi nitamente pequeno e o infi nitamente grande. O AUTOR presentação do livroA 11 Funções de uma Variável Real 1 1.1 Conceito e defi nição 1.2 operações com Funções 1.3 gráfi cos 1.4 injetividade, Bijetividade e Composição 1.5 alguns tipos de Funções CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 12 1. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL 1.1 Conceito e Defi nição O conceito de função demorou milênios para ser lapidado. Mas hoje, sua defi nição e suas notações são partes integrantes dos programas de ensino desde o Ensino Fundamental até o Superior. Atualmente, tal conceito e suas representações permeiam tanto a nossa vida que, frequentemente, assistimos noticiários repletos de gráfi cos sobre a evolução de uma quantidade em função de algum fator ou variável. Isso signifi ca que a compreensão do conceito para seu uso cotidiano é tão importante quanto sua compreensão teórica e epistemológica no Ensino Superior. No âmbito de um curso de Cálculo, a compreensão do dinamismo do conceito de função se faz necessária, pois sua utilização na descrição de eventos físicos, químicos e biológicos é imprescindível. Com ênfase nesse aspecto, queremos que o conceito de função não seja construído alicerçado apenas na compreensão de uma “fórmula”, mas sim, que haja o entendimento de que a representação analítica (a da “fórmula”) seja uma das representações possíveis do conceito. A ferramenta “função” é apropriada para a descrição de uma miríade de eventos. Como exemplos podemos citar: i) o caso da descrição da posição de um móvel lançado verticalmente em função do tempo; ii) a descrição da temperatura de ebulição da água em função da altitude, ou iii) a descrição do alcance de um projétil lançado com velocidade constante em função do ângulo que o objeto lançado faz com a horizontal. As regras de dependência que nos interessam são as que, a cada número real x contido em um subconjunto D dos números reais, associam um único número real y. A defi nição e as notações utilizadas são as seguintes: Defi nição 1.1: Uma função real de uma variável real é uma lei de associação f que associa a cada número real x pertencente a um subconjunto ⊂ D um único número real y. A notação usual para essa defi nição é : , ( )⊂ → = f D y f x . Se a função é dada pela expressão ( )=y f x , denominamos a letra x de variável independente e a letra y de variável dependente. Observe que se uma função é dada pela defi nição ( )w h b= , essa notação estará nos dizendo que a variável independente, isto é, aquela que pode assumir valores no domínio da função, é escrita com a letra b, e a variável dependente, ou seja, aquela que depende do valor de b e de outras regras funcionais é escrita com a letra w. Exemplo 1.1: Galileu Galilei (1564−1642) afi rmava que a velocidade de um corpo em queda livre era diretamente proporcional à quantidade de tempo durante a qual ele estivesse caindo. Essa afi rmação, em notação matemática, pode ser escrita como : ,+ → = v v kt , em que k é uma constante. Aqui, t é a variável independente e v é a variável dependente. Exemplo 1.2: Uma das funções que nos acompanham desde o Ensino Fundamental é a função afi m. Ela é defi nida como: : ,→ = + f y ax b , em que a e b são constantes. Existem diferentes maneiras de representarmos uma função. Uma delas é a representação verbal. Um exemplo de representação verbal é: “a velocidade de um corpo em queda livre é diretamente proporcional à quantidade de tempo durante a qual ele esteja caindo”. Essa é a representação verbal dada por Galileu para descrever a velocidade de um corpo em queda livre. Outro exemplo é: “a velocidade de um corpo em queda livre é proporcional à força proporcionada pelo peso do corpo e inversamente proporcional à resistência do meio onde o corpo se move”. Esta última é a descrição de Aristóteles (séc. IV a.C.). A representação verbal é pouco utilizada nos meios acadêmicos devido à possibilidade de imprecisão ocasionada pela interpretação do leitor ou do ouvinte. 13 Funções de uma variável real Outra maneira de representarmos uma função é a representação tabular, ou representação numérica. Esse tipo de representação é bastante comum quando relacionamos dados referentes a coletas experimentais. Um exemplo fi ctício é dado pela seguinte tabela (Tabela 1.1), na qual relacionamos a quantidade acumulada de casos notifi cados de dengue com as semanas dos meses. Semanas Total de casos Janeiro – semana 1 15 Janeiro – semana 2 45 Janeiro – semana 3 107 Janeiro – semana 4 285 Fevereiro – semana 1 381 Fevereiro – semana 2 491 Fevereiro – semana 3 622 Tabela 1.1 A representação tabular possui algumas vantagens. Analisando o exemplo anterior percebemos o crescimento da notifi cação de casos de dengue e percebemos também que a taxa na qual esse crescimento se dá nãoé constante. Nesse exemplo, o tempo dado em semanas é a variável independente e o total de casos é a variável dependente. O terceiro tipo de representação é a representação analítica, ou representação algébrica. Esse é o tipo de representação que mais utilizaremos, esta é a representação citada na defi nição de função dada anteriormente. Quando dizemos “a função g defi nida por 2( ) 3 2= −g x x ”, estamos utilizando uma representação analítica que expressa a lei de associação entre a variável dependente e a variável independente. O último tipo de representação, que também utilizaremos com frequência, é a representação gráfi ca. Nesta, utilizam-se signos gráfi cos que expressam a associação entre a variável dependente e a variável independente. Exemplos de representações gráfi cas são os diagramas de setas, os diagramas de Euler-Venn, os gráfi cos no plano cartesiano e os infográfi cos, estes últimos, muito comuns em publicações impressas e na veiculação de notícias pela televisão. Conversa A preponderância da representação algébrica faz com que grande quantidade de alunos construa o conceito de função como um elemento “estático”, como um código escrito no papel, porém, a compreensão de que a função é um elemento dinâmico é muito importante. Queremos que você pense em função como uma transformação, como um processo dinâmico que transporta elementos entre dois conjuntos. Em nosso estudo, queremos que você, ao se deparar com alguma representação de função, pense imediatamente numa “máquina de transporte”, que, a cada número real colocado em sua “entrada”, ocorra uma transformação nesse número obtendo um novo valor de outro conjunto de números reais. Desejamos que você, ao ler a notação : ⊂ → h D , entenda que se trata de uma transformação que recebeu o nome “h” e que, para cada número x pertencente ao subconjunto D, haverá uma transformação nesse número, levando-o em outro número real. Outra representação que, de certa maneira, colabora para a construção do conceito de função “estática” é a representação gráfi ca da função no plano cartesiano. Queremos que, ao ver o gráfi co de uma função, você compreenda a transformação registrada no desenho apresentado. Voltaremos a esse assunto mais adiante. No estudo de funções, três conjuntos são importantes e recebem nomes especiais: Domínio, Imagem e Contradomínio. Ao escrevermos, por exemplo, a representação analítica ( ) =f x x , estamos representando uma transformação que a cada número x associa outro número, que podemos denotar por y, de maneira que y y x⋅ = . Podemos tomar qualquer número real x para fazer essa transformação? Evidentemente que não! Só podemos tomar números x para serem transformados por f se eles forem CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 14 positivos ou nulos. Assim, diremos que o Domínio da função f é o conjunto + . Escrevemos isso como ( )Dom f += . Se a função g é representada algebricamente por 2( )g x x= , seu domínio é dado implicitamente. Neste exemplo, podemos tomar qualquer número real x e calcular sua transformação por g, ou seja, podemos calcular 2x . Então, o domínio de g é escrito como ( )Dom g = . Podemos fazer algumas indagações: será que o número real 4 é atingido pela função? Sim. A função g transforma o número 2 em 4 ( 2(2) 2 4g = = ), e nesse caso dizemos que 4 é a imagem de 2 por g, ou, simplesmente, que 4 é a imagem de 2. Será que o número 16 é atingido pela função? Sim. A função g transforma o número 4 em 16 ( 2(4) 4 16g = = ). Dizemos, então, que 16 é a imagem de 4. Será que o número 8− é atingido pela função? Não! impossível! O número 8− não é imagem de nenhum número do domínio. O mesmo ocorre com qualquer número negativo. Percebemos que os números reais atingidos pela função g são os números não-negativos. Dizemos, então, que a Imagem da função g é + , e a notação para essa informação é ( )Im g += . O terceiro conjunto importante é o conjunto no qual a função atinge seus valores. Em nosso estudo, esse conjunto será sempre o conjunto dos números reais. O nome dado ao conjunto no qual a função atinge seus valores é denominado de Contradomínio. Exemplo 1.3: Considere a função dada pela representação analítica :k → , 2( ) 3k x x= + . Neste caso, podemos verifi car que ( )Dom k = e que ( ) [3, )Im k = ∞ . Defi nição 1.2: Então, quando consideramos :f D ⊂ → : i) o subconjunto D dos números reais nos quais a função toma valores é chamado de Domínio de f e denotado ( )Dom f ; ii) o número ( )f x será chamado imagem do número x por f (desde que ( )x Dom f∈ ); iii) o subconjunto { ; ( ), ( )}y y f x x Dom f∈ = ∀ ∈ é chamado Imagem de f e denotado por ( )Im f . Exemplo 1.4: Considere a função :f → , dada por 1( )f x x = . Seu domínio é dado implicitamente, *( ) {0}Dom f = − = . Sua imagem pode ser calculada e é ( )Im f += . Conversa Perceba que iniciamos nosso estudo apresentando exemplos de funções mediante suas representações analíticas. Nessas representações o domínio ou está escrito explicitamente ou pode ser “descoberto” mediante estudo das condições de existência da expressão analítica que defi ne a função. Já, quando trabalhamos com representações tabulares ou gráfi cas, temos que considerar, geralmente, o contexto no qual a função é considerada, pois tais representações são defi cientes no que diz respeito ao cálculo do domínio e da imagem. 1.2 Operações com Funções Um primeiro ponto a ser considerado nessa sessão, é que trabalhamos com representações de funções. Na maioria das vezes consideraremos representações analíticas. Mas o conceito de função que pretendemos preservar é aquele identifi cado com uma transformação. Nesse caso, será que uma função pode ter distintas representações analíticas? Será que essa possibilidade pode confundir-nos? Consideremos, por exemplo, as funções :f → , 2( ) 2 4f x x= − e :g → , ( ) 2( 1)( 1) 2g x x x= + − − . A princípio, poderíamos pensar que essas funções têm nomes diferentes e que as expressões algébricas que as defi nem são diferentes. Mas isso é só aparência! 15 Funções de uma variável real Os domínios de f e de g são iguais. Ambos são iguais ao conjunto . Olhemos atentamente para algumas imagens: A imagem de 0 por f é 2(0) 2 0 4 4f = ⋅ − = − , a imagem de 0 por g é (0) 2(0 1)(0 1) 2 4g = + − − = − . A imagem de 7 por f é ( )22 7 4 14 4 10− = − = , a imagem de 7 por g também é ( 7) 2( 7 1)( 7 1) 2 12 2 10g = + − − = − = . Será que essas coincidências se mantêm? A reposta é sim! Para qualquer número real b temos que 2 2( ) 2 4 2( 1) 2 2( 1)( 1) 2 ( )f b b b b b g b= − = − − = + − − = , ou seja, a imagem de qualquer número real x pela função f e pela função g é a mesma. Portanto, f e g são representações distintas da mesma função, pois transformam os números reais da mesma maneira. Neste caso, dizemos que as funções f e g são iguais. Vejamos outro exemplo: Considere as funções :[1, )m ∞ → , 2 1( ) 1 xm x x − = − e :n + → , ( ) 1n x x= + . As funções m e n são iguais? Pode-se verifi car que se 1x > , então 2 1 ( 1)( 1)( ) 1 1 1 x x xm x x x x − + − = = = + − − . Ao observar as funções anteriores apresentadas, verifi camos que não são as mesmas, seus domínios são diferentes. E isso é de muita importância, pois, por exemplo, o número 1 2 pode ser transformado pela função n e não pode ser transformado pela função m. Na verdade, existem infi nitos números reais que podem ser transformados pela função n e não podem ser transformados pela função m, eles compõem o intervalo (0,1) . Portanto, as funções não são iguais, apesar de a “regra” de associação ser a mesma. Devemos defi nir a igualdade de funções da seguinte maneira: Defi nição 1.3: Duas funções f e g são ditas iguais se possuem o mesmo domínio D e se ( ) ( )f x g x= , x D∀ ∈ . Conversa Na maioria dos livros de Cálculo podem ser encontradas defi nições semelhantes à anterior. Perceba que essa defi nição exige o que existe de maisimportante para uma função, que seu domínio e sua maneira de transformar números seja comparado ao da outra. Não é o nome ou a letra que dá nome à função e que a faz igual ou diferente a uma segunda função. Não é apenas a “fórmula” expressa em sua representação analítica que a distingue das outras funções; o domínio também é importante. Para que você compreenda melhor a situação de uma função apresentar duas ou mais representações diferentes, vamos fazer uma comparação. Comparemos uma função com uma máquina de uma linha de produção. Assim, podemos entender que uma função é uma máquina que transforma números. Ao nos depararmos com duas máquinas de transformação, devemos procurar saber: se os números que podem “entrar” nessas máquinas são os mesmos e se os resultados das transformações de um mesmo número pelas duas máquinas são os mesmos. Caso as respostas sejam afi rmativas, diremos que essas duas máquinas fazem as mesmas transformações. Podem existir diferenças externas nessas máquinas, mas intrinsecamente elas são iguais, podendo diferir na cor, no tamanho etc. No entanto, elas transformam os elementos do domínio CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 16 identicamente. Essa é uma maneira de entender que uma função pode ter diferentes representações. Lembre-se: uma função não é uma fórmula; ela é um processo de associação, um processo de transformação. Podemos construir novas funções a partir de funções que já conhecemos. Consideremos conhecidas as funções : (0,3)f → , ( ) 2f x x= e :[1,5)g → , 2( )g x x= − . Conhecemos as imagens (1) 2f = e (1) 1g = − . Podemos pensar em adicionar tais imagens, criando uma nova transformação h que associe o número 1 à soma de 2 e 1− , (1) 2 1 1h = − = . Conhecemos as imagens (2) 4f = e (2) 4g = − , podemos defi nir nossa nova transformação h no número 2, associando 2 à soma de 4 e 4− , (2) 4 4 0h = − = . Podemos continuar a pensar assim. Se conseguirmos calcular as imagens de um número x por f e por g, podemos pensar em adicionar essas imagens criando uma nova função h. Mas devemos ser capazes de calcular as duas imagens. Só podemos defi nir, portanto, a nova função h em números que estejam na interseção do domínio de f e do domínio de g. Seria impossível, por exemplo, defi nirmos nossa função h no número 3, pois podemos calcular (3) 9g = − , mas não existe (3)f . O que podemos fazer é: considerar como domínio de h o intervalo [1,3) . Aqui sim! Para todo número [1,3)x ∈ podemos calcular 2( ) ( ) ( ) 2h x f x g x x x= + = − . Dadas : (0,3)f → , ( ) 2f x x= e :[1,5)g → , 2( )g x x= − , podemos defi nir :[1,3)h → , dada por ( ) ( ) ( )h x f x g x= + . Dizemos que h é a função soma de f e g. De maneira geral, defi nimos o seguinte: Defi nição 1.4: Considere :f D ⊂ → e :g B ⊂ → , com D B∩ ≠ ∅ . Defi nimos a função soma de f e g como :f g D B+ ∩ → , tal que x D B∀ ∈ ∩ , ( )( ) ( ) ( )f g x f x g x+ = + . Pensando de maneira análoga, podemos defi nir a função diferença e a função produto. Defi nição 1.5: Considere :f D ⊂ → e :g B ⊂ → , com D B∩ ≠ ∅ . Defi nimos a função diferença de f e g como :f g D B− ∩ → , tal que x D B∀ ∈ ∩ , ( )( ) ( ) ( )f g x f x g x− = − . Definição 1.6: Considere :f D ⊂ → e :g B ⊂ → , com D B∩ ≠ ∅ . Definimos a função produto de f e g como :f g D B⋅ ∩ → , tal que x D B∀ ∈ ∩ , ( )( ) ( ) ( )f g x f x g x⋅ = ⋅ . Também podemos defi nir a função quociente de outras duas funções. Só que deveremos tomar um pouco mais de cuidado. Consideremos, por exemplo, as funções :[0,5]f → , ( ) 3f x x= − e :[1,6]g → , ( ) 2g x x= − . Se pensarmos precipitadamente em defi nir uma função quociente de f por g mediante a representação analítica / :[1,5]f g → , ( )( / )( ) ( ) f xf g x g x = , teremos um sério problema: qual será a imagem do número 2 [1,5]∈ ? Ao tentarmos calcular a imagem de 2, obteremos (2) 2 3( / )(2) (2) 2 2 ff g g − = = − . Portanto, uma indeterminação. Onde está o problema? O número 2 pertence aos dois domínios. No entanto, não podemos efetuar a divisão das imagens de 2. O problema está ocorrendo porque a imagem de 2 por g é zero! Nesse exemplo, o correto seria defi nirmos a função quociente da seguinte maneira: / :[1, 2) (2,5]f g ∪ → , 17 Funções de uma variável real( )( / )( ) ( ) f xf g x g x = . Agora sim, os quocientes das imagens podem ser calculados para todos os valores no domínio [1, 2) (2,5]∪ . De maneira geral, o que devemos fazer para defi nir uma função quociente de outras duas funções é retirarmos da interseção dos domínios os pontos que anulem a função do denominador. Utilizando a notação matemática, defi nimos: Defi nição 1.7: Considere :f D ⊂ → e :g B ⊂ → , com D B∩ ≠ ∅ . Defi nimos a função quociente de f e g como */ :f g D B∩ → , tal que *x D B∀ ∈ ∩ , ( )( / )( ) ( ) f xf g x g x = . O conjunto *B é defi nido como * { ; ( ) 0}B x B g x= ∈ ≠ . Conversa É muito comum os alunos confundirem-se com as notações utilizadas nas defi nições anteriores. Mas se vocês lembrarem que uma função é uma transformação e não uma fórmula no papel, as notações fi carão mais claras. Vejamos a notação ( )( ) ( ) ( )f g x f x g x+ = + utilizada na defi nição da função soma. O termo da esquerda da igualdade está dizendo que a “função soma” está recebendo um nome, um signo visual que possa ser registrado no papel. Em nosso caso, esse nome é “f + g”. Quando você, resolvendo algum problema, estiver criando sua “função soma”, poderá escolher qualquer nome para ela. Poderá escolher outra letra do alfabeto, uma letra grega ou poderá nomeá-la como “ _ _soma f g ” etc. O termo colocado à direita da igualdade anterior está nos dizendo como calcular a imagem de um número x, ou seja, nos diz que devemos calcular as imagens de x pelas funções f e g e depois adicioná-las. Se você, por exemplo, escolhesse nomear sua função soma como “ _ _soma f g ” sua defi nição fi caria escrita da seguinte maneira: _ _ :soma f g D B∩ → , _ _ ( ) ( ) ( )soma f g x f x g x= + . A notação ( )( / )( ) ( ) f xf g x g x = , por sua vez, nos diz que o nome da “função quociente” é ( / )( )f g x e que para calcularmos o valor dessa função em um número x devemos calcular as imagens de x pelas funções f e g e depois dividi-las. Quando estiver realizando seus exercícios de Cálculo, você poderá, por exemplo, nomear sua função quociente como “ _ _div f g ” e defi ni-la mediante a igualdade ( )_ _ ( ) ( ) f xdiv f g x g x = . Exemplo 1.5: Considere as funções ( ) 2m x x= e 1( )n x x = . Determinemos as funções m n+ , m n− , m n⋅ e /m n . A primeira atitude que devemos tomar é determinar os domínios das funções. É muito comum representarmos funções mediante escrita de expressões analíticas e não escrevermos explicitamente seus domínios. Assim, devemos descobrir se podemos calcular a expressão 2 x para qualquer número real. A resposta é sim! Logo, ( )Dom m = . Quanto à expressão 1 x , só CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 18 podemos calculá-la para números x diferentes de zero, logo *( ) {0}Dom n = − = . Então, temos: A função soma defi nida como *:m n+ → , 2 1 ( )( ) x x m n x x + + = ; A função diferença defi nida como *:m n− → , 2 1 ( )( ) x x m n x x − − = ; A função produto defi nida como *:m n⋅ → , 2 ( )( ) x m n x x ⋅ = . Como não existe número que anule a função n, a função quociente é defi nida como */ :m n → , ( / )( ) 2m n x x x= . Conversa Você percebeu que a expressão algébrica dada na defi nição da função quociente permite que a calculemos para todos os números reais? Sim, a expressão 2x x pode ser calculada para qualquer número x ∈ . Mas o domínio da função quociente não é . Portanto, quando praticar a construção de funções, tome cuidado, analise os domínios e não se precipite, preocupando-se apenas com o cálculo de expressões algébricas. Uma observação importante deve ser feita: as operações de adição, subtraçãoe produto de funções são operações comutativas. Isto é, a função f g+ é igual à função g f+ ; a função f g− é igual à função g f− e a função f g⋅ é igual à função g f⋅ . Mas a operação de divisão de funções não é comutativa. 1.3 Gráfi cos Em nosso texto não abordaremos representações gráfi cas como as dos diagramas de Euler-Venn, dos gráfi cos de barra, dos gráfi cos circulares ou os infográfi cos. Estes últimos são muito comuns nos meios de comunicação de massa. Trataremos aqui da representação gráfi ca cartesiana, ou seja, estudaremos gráfi cos de funções traçados no plano cartesiano. O gráfi co (cartesiano) de uma função apresenta algumas vantagens com relação à representação analítica. O gráfi co permite que tenhamos uma visão mais ampla do comportamento da função. Em contrapartida, essa representação não fornece, com precisão, o que ocorre com a função nos arredores de um número de seu domínio. A precisão da informação gráfi ca fi ca subordinada à escala, à precisão do traço, à granulação da tela do computador etc. Para esboçar o gráfi co (cartesiano) de uma função consideramos o domínio contido no eixo das abscissas (horizontal) e o contradomínio contido no eixo das ordenadas (vertical). Os pontos que pertencem ao gráfi co são os pares ordenados nos quais as abscissas e as ordenadas estão relacionadas pela função considerada. Se, por exemplo, a função tem nome m e sabemos que essa função m associa o número a de seu domínio ao número b de seu contradomínio, isto é, ( )m a b= , então, o ponto ( , )a b fará parte do gráfi co de m. A defi nição precisa é a seguinte: Defi nição 1.8: Seja a função :g D ⊂ → . O gráfi co de g é o subconjunto do plano cartesiano defi nido por 2( ) {( , ) ; ( ), }Graf g x y y g x x D= ∈ = ∈ . 19 Funções de uma variável real Exemplo 1.6: Uma função afi m f é defi nida por ( )f x ax b= + , com a e b constantes reais. Não havendo restrições no domínio da função afi m, seu gráfi co é uma reta. A constante a é chamada coefi ciente angular dessa reta e a constante b é chamada coefi ciente linear. Em particular, o gráfi co da função afi m ( ) 1 2 xf x = + pode ser apreciado na fi gura 1.1. 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y Figura 1.1 Exemplo 1.7: Uma função quadrática f é defi nida por 2( )f x ax bx c= + + , com a, b e c constantes reais e 0a ≠ . Não havendo restrições no domínio da função quadrática seu gráfi co é uma parábola. Em particular, o gráfi co da função 2( ) 2 1f x x= − pode ser visto na fi gura 1.2. 5 4 3 2 1 -1 -2 6 4321-1-2-3-4 x y Figura 1.2 Exemplo 1.8: Uma função cúbica f é defi nida por 3 2( )f x ax bx cx d= + + + , com a, b, c e d constantes reais e 0a ≠ . A aparência do gráfi co de uma função cúbica depende muito dos valores das constantes a, b, c e d. Em particular, os gráfi cos das funções f e g defi nidas, respectivamente, por 3( )f x x= (Figura 1.3) e 3( )g x x x= − + (Figura 1.4) são mostrados a seguir. CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 20 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 4321-1-2-3-4 x y 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 4321-1-2-3-4 x y Figura 1.3 Figura 1.4 Observando o gráfi co da função defi nida por 2( )f x x= , percebemos que ele apresenta uma simetria com relação ao eixo Oy, o eixo das ordenadas (vertical). O gráfi co da função defi nida por 3( )f x x= também apresenta uma simetria, só que, desta vez, em relação à origem. Essas duas funções são exemplos particulares de duas classes destacáveis de funções. Uma das classes é a classe das funções pares e a outra é a classe das funções ímpares. Diremos que uma função é uma função par, ou que pertence à classe das funções pares, se seu gráfi co for simétrico com relação ao eixo das ordenadas. Diremos que uma função é uma função ímpar, ou que pertence à classe das funções ímpares, se seu gráfi co for simétrico em relação à origem. Uma condição imprescindível para que uma função pertença a alguma dessas duas classes é que seu domínio seja simétrico com relação ao número zero. Com essa constatação, já percebemos que existem funções que não pertencem à classe das funções pares nem à classe das funções ímpares. Nesse ponto, uma pergunta pode ser formulada: existem funções que são pares e ímpares simultaneamente? Se investigarmos a possibilidade de um gráfi co ser simétrico com relação ao eixo das ordenadas e, simultaneamente, ser simétrico com relação à origem, veremos que só o gráfi co da função nula, :f → , ( ) 0f x = , satisfaz essas condições. Chegamos à conclusão de que existe apenas uma função simultaneamente par e ímpar: é a função nula. Se utilizarmos um software gráfi co ou uma calculadora gráfi ca, veremos que os gráfi cos das funções defi nidas, respectivamente, por 4( )f x x= , 8( )f x x= , 2 6( ) 1f x x x= + + , 4 10( ) 3 15f x x x= + − , são, aparentemente, simétricos com relação ao eixo das ordenadas. Já, se mostrarmos os gráfi cos das funções defi nidas, respectivamente, por 3 5( )f x x x= − , 5( )f x x= , 7 3( )f x x x= + , veremos que eles são, aparentemente, simétricos em relação à origem. Como podemos ter certeza da existência de tais simetrias? Será que a granulação da tela ou a imprecisão do traçado não esconde sutilezas que estariam nos confundindo? Nosso desejo de uma simetria geométrica não é tão fácil de ser verifi cado. Não basta esboçarmos uma porção do gráfi co de uma função para classifi cá-la quanto à sua pertinência a uma das classes. Para verifi carmos a pertinência de uma função a uma classe ou outra devemos utilizar a representação analítica. Vejamos. Vamos supor que a função : ( 20,20)f − → , 2 6( ) 1f x x x= + + seja uma função par (Figura 1.5). 21 Funções de uma variável real 5 4 3 2 1 -1 321-1-2-3 x y Figura 1.5 Tomemos, por exemplo, o número 1 ( 20,20)∈ − . A imagem de 1 é (1) 1 1 1 3f = + + = . Então, o ponto (1,3) é um ponto de ( )Graf f . Como a função é supostamente par, a simetria do gráfi co com relação ao eixo das ordenadas implica que o ponto ( 1,3)− também pertence ao gráfi co. Assim, devemos verifi car necessariamente se ( 1) 3 (1)f f− = = . Porém, isso realmente ocorre: 2 6( 1) ( 1) ( 1) 1 3f − = − + − + = . Se tomarmos, por exemplo, o número 5 ( 20,20)− ∈ − , saberemos que a imagem de 5− é 2 6 ( 5) 5 5 1 5 125 1 131f − = − + − + = + + = e, portanto, que ( 5,131) ( )Graf f− ∈ . Pela suposta simetria do gráfi co, podemos concluir que ( 5,131) também pertence ao gráfi co. E isso realmente acontece, pois 2 6 ( 5) 5 5 1 5 125 1 131f = + + = + + = , ou seja, ( 5) 131 ( 5)f f− = = . Consideremos agora, um número qualquer k pertencente ao domínio ( 20,20)− da função. A imagem de k é escrita como ( )f k , ou seja, o ponto ( , ( ))k f k pertence ao gráfi co da função. Como supomos que a função é par, seu gráfi co é simétrico em relação ao eixo das ordenadas. Logo, ( , ( ))k f k− também pertence ao gráfi co. Portanto, a imagem do número k− deve ser igual a ( )f k , que é a imagem de k. A igualdade ( ) ( )f k f k− = deve ser, pois, verdadeira para todo número k do domínio. Mas a conclusão de que ( )( ) ( )f k f k k Dom f− = ∀ ∈ vale independen- temente da defi nição particular 2 6( ) 1f x x x= + + . Se uma função f com domínio simétrico com relação ao número 0 tem gráfi co simétrico com relação ao eixo das ordenadas, então ( )( ) ( )f k f k k Dom f− = ∀ ∈ . Podemos concluir que para que uma função seja par deve-se ter a igualdade ( ) ( )f x f x− = para todo x no domínio de f. Assim, trocamos um critério geométrico, difícil de ser utilizado com precisão, por um critério analítico, muito mais preciso, sintetizado na seguinte defi nição: Defi nição 1.9: Dizemos que a função :f D ⊂ → é uma função par se ( ) ( )f x f x− = , para todo x D∈ . CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 22 Observemos que já se encontra na defi nição anterior a exigência de que o domínio da função seja simétrico com relaçãoao zero. Essa defi nição é o critério que utilizaremos para verifi car a pertinência ou não de uma função à classe das funções pares. Exercício 1.1: Prove que as funções defi nidas, respectivamente, por 2( )f x x= , 4( )f x x= , 8( )f x x= , 2 6( ) 1f x x x= + + , 4 10( ) 3 15f x x x= + − são funções pares. Depois de escrevermos a defi nição anterior, voltamos nossa atenção à classe das funções ímpares. Vamos descobrir um critério analítico semelhante. Voltemos nossa atenção ao fato de que, no plano cartesiano, dois pontos são simétricos com relação à origem se estão à mesma distância da origem e se a reta que passa pelos dois pontos também passa pela origem. Assim, o ponto simétrico de um ponto ( , )a b em relação à origem é o ponto ( , )a b− − . Vamos supor agora que a função : ( , )g n n− → seja uma função ímpar, ou seja, que o gráfi co de g é simétrico em relação à origem (Figura 1.6). Escolhamos um número ( , )k n n∈ − qualquer. Evidentemente, o ponto ( , ( ))k g k pertence ao gráfi co da função. Como estamos supondo que o gráfi co é simétrico com relação à origem, o ponto ( , ( ))k g k− − também pertence ao gráfi co. Mas se este ponto é um ponto do gráfi co, devemos ter a imagem de k− igual ao valor ( )g k− . 8 7 6 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 x y Figura 1.6 Daí, concluímos de que os números ( )g k− e ( )g k− devem ser iguais. Enunciamos a seguinte defi nição, que será nosso critério analítico para determinar funções ímpares. Defi nição 1.10: Diremos que a função :f D ⊂ → é uma função ímpar se ( ) ( )f x f x− = − , para todo x D∈ . Exercício 1.2: Prove que as funções defi nidas, respectivamente, por 3 5( )f x x x= − , 5( )f x x= , 7 3( )f x x x= + e 3( )f x x x= − + são funções ímpares. Exercício 1.3: Considere f e g funções pares. Prove que as funções f g+ , f g⋅ e /f g são funções pares. Exercício 1.4: Considere f e g funções ímpares. Prove que as funções f g+ , f g⋅ e /f g são funções ímpares. 23 1.4 Injetividade, Bijetividade e Composição Existem condições acerca do comportamento de funções que são importantes no estudo do Cálculo. Se construirmos nosso conceito de função, pensando em uma transformação que associa a cada número de um subconjunto D ⊂ um número em outro subconjunto I ⊂ , será interessante perguntarmos quando será possível “desfazer” essa transformação. Na situação particular :[0,5] [1,11]f → , ( ) 2 1f x x= + , a função adiciona uma unidade ao dobro do valor dos números em seu domínio. Um esboço de seu gráfi co é representado pela fi gura 1.7. x 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 -1 y Figura 1.7 A imagem da função f é o intervalo [1,11] e, neste caso, se tomarmos qualquer número em ( ) [1,11]Im f = saberemos “desfazer” a transformação f. Por exemplo, o número 9 ( )Im f∈ é imagem do número 4 ( )Dom f∈ ; 3 ( )Im f∈ é imagem de 1 ( )Dom f∈ ; 5 é imagem de 2; 7 é imagem de 3 etc. De maneira geral, se ( )y Im f∈ sabemos que ( )y f x= para algum ( )x Dom f∈ . Assim, podemos escrever 2 1y x= + para algum [0,5]x ∈ . Daí 12 1 1 2 2 yy x y x x −= + ⇒ − = ⇒ = . Então, para “desfazermos” a transformação :[0,5] [1,11]f → basta calcularmos para cada número em [1,11]y ∈ o valor 1 2 y − . Assim, obtemos uma “transformação” inversa denotada como 1 :[1,11] [0,5]f − → , 1 1( ) 2 zf z− −= . Denominamos essa nova função de função inversa de f. Uma condição que nos permitiu descobrir a “inversa” no exemplo anterior foi a existência de apenas um número no domínio associado a qualquer número da imagem. Devemos notar que essa condição é imprescindível. Considere uma função g; se houver um número p da imagem tal que existam números diferentes r e s do domínio de g que sejam transformados em p por g, isto é, ( )g r p= e ( )g s p= , então, não há possibilidade de defi nirmos uma função inversa. Qual seria a associação 1( )g p− ? Defi niríamos 1( )g p r− = ou 1( )g p s− = ? Para evitar essa situação, consideramos uma classe de funções chamadas funções injetivas (ou injetoras). A defi nição é a seguinte: Defi nição 1.11: Uma função :g D ⊂ → é uma função injetiva quando, dados 1 2,x x D∈ , se 1 2x x≠ , então 1 2( ) ( )g x g x≠ . Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 24 Uma defi nição equivalente, e que também pode ser utilizada para distinguir funções injetivas é: Defi nição 1.12: Uma função :g D ⊂ → é uma função injetiva quando dados 1 2,x x D∈ , se 1 2( ) ( )g x g x= , então 1 2x x= . Exemplo 1.9: A função :f → , 2( )f x x= não é injetiva. Se tomarmos 1 2, ( )x x Dom f∈ e exigirmos que 1 2( ) ( )f x f x= , teremos 2 2 1 2 1 2x x x x= ⇒ = ± . Então, a defi nição anterior não estará satisfeita para números diferentes de zero no domínio de f. Retomando o exemplo :[0,5] [1,11]f → , ( ) 2 1f x x= + , convém observarmos que não foi só a injetividade que nos permitiu “desfazer” a transformação. A condição de termos todos os números de [1,11] atingidos pela função foi também muito importante. Imaginemos que a função fosse defi nida da seguinte maneira: :[0,5]f → , ( ) 2 1f x x= + . Como defi niríamos a “transformação” inversa, por exemplo, no número 12 ou no número 4− ? Não haveria possibilidade de defi nirmos uma “inversa” dessa transformação em números que não fossem “atingidos” por ela. Essa condição de todos os números do contradomínio serem “atingidos” pela transformação chama-se sobrejetividade. Defi nição 1.13: Uma função :h D B⊂ → ⊂ é chamada função sobrejetiva (ou sobrejetora) se, para todo número b B∈ , existe um número a D∈ , tal que ( )h a b= . Em outras palavras, uma função :f A B→ é sobrejetiva se ( )Im f B= . Exemplo 1.10: A função :f → , 2( )f x x= não é sobrejetiva. A função :f → , ( ) 1 4f x x= − é sobrejetiva (e também injetiva). Exemplo 1.11: A função :[3, ) [9, )f ∞ → ∞ , 2( )f x x= é injetiva e sobrejetiva. Neste caso, podemos obter a transformação inversa, dada por 1 :[9, ) [3, )f − ∞ → ∞ , 1( )f z z− = . Na fi gura 1.8 mostramos um esboço do gráfi co de f e, também, o esboço do gráfi co de 1f − . Figura 1.8 25 São as funções simultaneamente injetivas e sobrejetivas que permitem a obtenção de transformações que “desfazem” o que elas fazem. Essas funções recebem um nome especial. Defi nição 1.14: Uma função :f D B⊂ → ⊂ é uma função bijetiva (ou bijetora) se ela for, simultaneamente, injetiva e sobrejetiva. A obtenção de funções bijetivas a partir de funções injetivas é possível. Suponha que :f D ⊂ → seja injetora, mas não sobrejetora. Podemos redefi nir seu contradomínio para torná-la sobrejetiva. Para isto, basta considerar a nova função : ( )f D Im f→ . Nessas condições, temos uma transformação, chamada de função inversa de f, que toma valores em ( )Im f e associa a eles números em ( )Dom f . Para cada número ( )y Im f∈ , como f é injetiva, existe um único ( )x Dom f∈ tal que ( )y f x= . Então, ao número y , a função inversa associa esse número à x . Essa é a associação da função inversa. Defi nição 1.15: Seja :f A B→ uma função bijetora. Nessas condições, existe uma função :g B A→ tal que, a cada z B∈ associa ( )w g z A= ∈ , tal que ( )f w z= . Chamamos essa função g de função inversa de f e a denotamos por 1f − . Quando, mais adiante, falarmos em uma outra operação com funções, a composição de funções, nos depararemos com mais fatos acerca da função inversa. Apesar de utilizarmos, na maioria das vezes, a representação analítica para decidirmos se uma função é injetiva ou sobrejetiva, as representações gráfi cas também podem fornecer indicações acerca disso. Se observarmos o gráfi co de :[ 3,5] [0,25]f − → , 2( )f x x= (Figura 1.9) perceberemos visualmente a sobrejetividade e a não injetividade. x 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 -1 y -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 -6 -5 -4-9 -8 -7-12 -11 -10-14 -13 Figura 1.9 Dissemos “perceberemos”, pois nãopodemos confi ar no esboço do gráfi co para confi rmar tais conclusões. Se esse for nosso interesse, devemos utilizar a representação analítica. Mas a observação do gráfi co fornece dados que são interessantes. Percebemos que, se considerarmos uma restrição de f ao intervalo [ 3,0]− , o traçado “descendente” do gráfi co (Figura 1.10) nos dá indicações de que, nesse trecho, a função é injetiva. O mesmo pode ser intuído quando restringimos Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 26 a função ao intervalo [0,5] . Neste trecho, o traçado “ascendente” (Figura 1.11) indica que a função possa ser injetiva. 1 2 3 4 5 6 7 8 x y12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 -1 -6 -5 -4 -3 -2 -1 x 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 -1 -2 y -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 -6 -5 -4-9 -8 -7-12 -11 -10-13 17 Figura 1.10 Figura 1.11 Esse comportamento geométrico “ascendente” ou “descendente” do gráfi co pode ser determinado analiticamente. A vantagem em fazermos isso é a confi rmação da injetividade em trechos nos quais o gráfi co tenha tais características. Se desejarmos caracterizar um trecho sobre um intervalo [ , ]a b , no qual o gráfi co seja ascendente, devemos exigir que, ao compararmos a imagem 1( )f x de qualquer número 1 [ , ]x a b∈ com a imagem 2( )f x de qualquer número 2 [ , ]x a b∈ situado à direita de 1x , obteremos a desigualdade 1 2( ) ( )f x f x< . Tal desigualdade indica que a altura do gráfi co sobre 2x é maior que a altura sobre 1x . Se tais desigualdades forem verdadeiras para todos os pares de números 1 2, [ , ]x x a b∈ , tais que 1 2x x< , teremos a curva ascendente do gráfi co. Podemos sintetizar esse raciocínio na seguinte defi nição. Defi nição 1.16: Uma função :f D ⊂ → é crescente sobre um intervalo I D⊂ se, para quaisquer números 1 2,x x I∈ , com 1 2x x< , for verídica a desigualdade 1 2( ) ( )f x f x< . Analogamente, se desejamos caracterizar um trecho sobre um intervalo [ , ]a b , no qual o gráfi co seja descendente, devemos exigir que, ao compararmos a imagem 1( )f x de qualquer número 1 [ , ]x a b∈ com a imagem 2( )f x de qualquer número 2 [ , ]x a b∈ situado à direita de 1x , obteremos a desigualdade 1 2( ) ( )f x f x> . Isso pode ser escrito da seguinte maneira: Defi nição 1.17: Uma função :f D ⊂ → é decrescente sobre um intervalo I D⊂ se, para quaisquer números 1 2,x x I∈ , com 1 2x x< , for verídica a desigualdade 1 2( ) ( )f x f x> . Como havíamos considerado, uma função que possui um gráfi co ascendente ou descendente sobre um intervalo I é injetiva quando considerada sua restrição a esse intervalo. Teorema: Toda função crescente em um intervalo I de seu domínio é injetiva nesse intervalo I. Demonstração: Temos por hipótese que f é crescente sobre o intervalo I. Portanto, se 1 2,x x I∈ são tais que 1 2x x≠ , então, ou 1 2x x< , ou 1 2x x> . No primeiro caso, 1 2x x< , como estamos supondo que f é crescente, temos 1 2( ) ( )f x f x< , o que, evidentemente, mostra que 1 2( ) ( )f x f x≠ . No segundo caso, 2 1x x< , como estamos supondo que f é crescente, temos 2 1( ) ( )f x f x< , o que mostra que 1 2( ) ( )f x f x≠ . Portanto, f é injetiva em I. ■ 27 Teorema: Toda função decrescente em um intervalo I de seu domínio é injetiva nesse intervalo I. Exercício 1.5: Demonstre o teorema anterior. Antes de estudarmos formalmente a inversão de funções, devemos falar de uma operação que podemos fazer, se tivermos duas funções em condições apropriadas. Considere o exemplo, já explorado, da função :[0,5] [1,11]f → , ( ) 2 1f x x= + . Consideremos outra função :[0, 20]g → , 2( )g x x= . Lembremos do conceito de função como transformação e imaginemos os números do intervalo [0,5] sendo transformados por f nos números do intervalo [1,11]. Imagine, então, que a transformação g leva os números de [0, 20] em outros números reais elevando-os ao quadrado. Como a imagem de f está contida no domínio de g, podemos pensar em transformar os números de [0,5] mediante a aplicação da função f e, em seguida, transformar essas imagens segundo a aplicação g. Para este fi m, basta considerarmos [0,5]x ∈ . Sua imagem será ( ) 2 1f x x= + . Como g transforma [0, 20]z ∈ em 2( )g z z= , transformará as imagens 2 1x − pertencentes ao intervalo [1,11] em 2(2 1) (2 1)g x x+ = + . Assim, podemos ilustrar nosso raciocínio com o seguinte desenho: 2 [0,5] [1,11] (2 1) f g x x → → − − − − − − − − → + Chamamos essa “dupla transformação” de composta de g com f e a denotamos com o símbolo “ g f ”. De maneira geral, podemos defi nir a seguinte operação: Defi nição 1.18: Considere f e g duas funções de maneira que ( ) ( )Im f Dom g⊂ . Defi nimos a função composta de g com f, denotada por g f , mediante a expressão ( )( ) ( ( ))g f x g f x= . É comum representarmos funções analiticamente sem explicitarmos seus domínios. Dessa forma, é comum nos referirmos à composição g f de duas funções, mesmo que a imagem da primeira transformação considerada, a f, não esteja inteiramente contida no domínio da segunda transformação, a g. Nesse caso, fi ca implícito que ( ) { ( ); ( ) ( )}Dom g f x Dom f f x Dom g= ∈ ∈ , como pode ser visto no seguinte exemplo: Exemplo 1.12: Considere as funções g e f defi nidas, respectivamente, por ( )g x x= e ( ) 2f x x= . Qual é a defi nição de g f ? Vejamos: Os domínios são dados implicitamente, ( ) [0, )Dom g = ∞ e ( )Dom f = . Não são todos os pontos de ( )Dom f que podem ser transformados pela composta g f . Apenas os números x ∈ tais que ( ) [0, )f x ∈ ∞ poderão ser transformados pela função composta. Sua representação analítica será ( )( ) ( ( )) (2 ) 2g f x g f x g x x= = = . Então: :[0, )g f ∞ → , ( )( ) 2g f x x= . Exemplo 1.13: Considere a função h defi nida por ( ) 2 1h x x= + − . Encontre funções f e g distintas da identidade tais que f g h= . Inicialmente, determinamos o domínio de h pela sua representação analítica, ( ) [0, )Dom h = ∞ . Visualizamos que a função f poderá ser escolhida como ( ) 1f x x= − , ( )Dom f = , e que a função g pode ser escolhida como ( ) 2g x x= + , ( ) [0, )Dom g = ∞ . Assim, ( )( ) ( ( )) ( 2) 2 1 ( )f g x f g x f x x h x= = + = + − = . Exercício 1.6: Mostre, mediante exibição de um contra-exemplo, que a operação de composição não é comutativa, isto é, exiba funções f e g tais que f g g f≠ . Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 28 Podemos pensar em fazer a composta de mais de duas funções. Se :f A B→ , :g B C→ e :h C D→ , então será possível pensar em uma transformação de A em D. Podemos pensar em fazer a composição g f e depois fazer a composição desta com a função h. Podemos pensar, ainda, em fazer a composição da função f com a composta h g . Em diagramas, essas opções são: g f hA C D→ → ou f h gA B D→ → . A princípio, não temos garantias de que [ ]h g f seja igual a [ ]h g f , mas a seguinte proposição estabelece isso. Proposição: A operação de composição é associativa, isto é, [ ] [ ]h g f h g f= . Demonstração: A composta [ ]h g f associa ao número x o seguinte valor ( ) ( ) ( )[ ] ( ) [ ]( ) ( ( ))h g f x h g f x h g f x= = . Seu domínio é ( )[ ] { ( );( )( ) ( )}Dom h g f x Dom g f g f x Dom h= ∈ ∈ = { ( ); ( ) ( ) ( )( ) ( )}x Dom f f x Dom g e g f x Dom h= ∈ ∈ ∈ . A composta [ ]h g f associa ao número x o seguinte valor ( ) ( )[ ] ( ) [ ]( ( )) ( ( ))h g f x h g f x h g f x= = . Seu domínio é ( )[ ] { ( ); ( ) ([ ]}Dom h g f x Dom f f x Dom h g= ∈ ∈ = { ( ); ( ) ( ) ( )( ) ( )}x Dom f f x Dom g e g f x Dom h= ∈ ∈ ∈ . Portanto, as duas funções são iguais. ■ Quando, anteriormente, falamos em função inversa, utilizamos uma linguagemcoloquial para descrever a inversa. Dissemos que a inversa de uma função “desfaz” o que a função faz. Agora, com a defi nição da operação de composição podemos caracterizar analiticamente essa propriedade de “desfazer”. Proposição: Se :f A B→ é bijetiva, então existe 1 :f B A− → , tal que: 1 :f f A A− → satisfaz 1 ( ) ,f f x x x A− = ∀ ∈ ; 1 :f f B B− → satisfaz 1( ) ,f f x x x B− = ∀ ∈ . Demonstração: É imediata, bastando utilizar a defi nição de função inversa. ■ O comportamento do gráfi co da função inversa de f tem semelhanças com o comportamento do gráfi co da função f. Retomemos a função considerada no início desta seção: :[0,5] [1,11]f → , ( ) 2 1f x x= + , cuja função inversa é 1 :[1,11] [0,5]f − → , 1 1( ) 2 zf z− −= . Mostraremos, na fi gura 1.12, os dois gráfi cos no mesmo plano cartesiano. 29 Figura 1.12 Na fi gura 1.12 mostramos em tracejado a reta de equação y x= , ou seja, o gráfi co da função identidade :Id → . Percebemos que os gráfi cos de f e de sua inversa 1f − são simétricos com relação à reta identidade y x= . Isso não é um mero acaso deste exemplo. Ocorre sempre que a função f é bijetora. O gráfi co de sua inversa é formado por pontos simétricos aos do gráfi co de f com relação à reta y x= . Basta percebermos que no plano cartesiano, o simétrico com relação à reta y x= de um ponto ( , )r s é o ponto ( , )s r . Assim, se ( , ) ( )a b Graf f∈ , então, 1( , ) ( )b a Graf f −∈ , ou seja, os gráfi cos são simétricos. Exercício 1.7: Determine, caso existam, as funções inversas de: i) :f → , ( ) 3 2f x x= − ; ii) * *:g → , 1( )g x x = ; iii) :h → , 2( ) 1h x x x= + + . 1.5 Alguns Tipos de Funções Nesta seção abordaremos alguns tipos especiais de funções que serão muito utilizadas no curso de Cálculo. Estudaremos alguns detalhes das funções polinomiais, das funções racionais, das funções algébricas e das funções transcendentes. Funções Polinomiais Uma função polinomial é uma função com domínio , tal que sua representação analítica é dada mediante um polinômio ( )p x . Mas o que é precisamente um polinômio? Vejamos a defi nição a seguir. Defi nição 1.19: Um polinômio ( )p x com coefi cientes reais é uma expressão 1 2 2 1 2 2 1 0( ) n n n n n np x a x a x a x a x a x a − − − −= + + + + + + na qual os coefi cientes , 1, ,ia i n= são números reais. Se 0na ≠ , dizemos que ( )p x tem grau n. Então, uma função f é uma função polinomial, se sua representação analítica satisfi zer ( ) ( )f x p x= , para algum polinômio ( )p x . Diremos que o número k é uma raiz, ou um zero, do polinômio ( )p x , se ( ) 0p k = , isto é, 1 2 11 2 1 0 0 n n n na k a k a k a k a − −+ + + + + = . Por exemplo, as raízes do polinômio 3 2( ) 6p x x x x= + − são 0, 2 e 3− . Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 30 Exemplo 1.14: Algumas funções polinomiais :f → recebem nomes especiais: a) A função constante ( )f x k= , com k ∈ ; b) A função identidade ( )f x x= , x∀ ∈ ; c) A função linear ( )f x kx= , com k ∈ ; d) A função afi m ( )f x kx b= + , com ,k b∈ ; e) A função quadrática 2( )f x ax bx c= + + , com , , , 0a b c a∈ ≠ . Funções Racionais As funções racionais recebem esse nome porque suas representações analíticas são construídas como razão de expressões polinomiais. Uma função f é uma função racional, se ( )( ) ( ) p xf x q x = , ou seja, uma razão entre dois polinômios ( )p x e ( )q x , sendo que ( )q x não é identicamente nulo, isto é, ( )q x não é constante e igual a zero. Exemplo 1.15: São exemplos de funções racionais: 2 2( ) xf x x x − = − e 4 53 2( ) 1 x xg x x − + = − . Geralmente, as funções racionais são defi nidas mediante sua representação analítica, e não trazem explicitados seus domínios. Cabe ao leitor, exigir que a função esteja defi nida em números que não sejam raízes do polinômio do denominador. Exemplo 1.16: O domínio da função f defi nida por 2 2( ) 5( ) xf x x x − = − é descoberto exigindo que 2 0x x− ≠ , o que fornece ( ) ( ,0) (0,1) (1, )Dom f = −∞ ∪ ∪ ∞ . Utilizando um software gráfi co podemos esboçar o gráfi co desta função na seguinte ilustração (Figura 1.13). 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 Figura 1.13 31 Funções Algébricas Ao trabalharmos com números reais é comum realizarmos operações envolvendo cálculos de adição, subtração, multiplicação, divisão e extração de raízes. Essas operações são chamadas operações algébricas. Uma função f é uma função algébrica quando sua representação analítica é composta de operações algébricas envolvendo números reais e a variável x. Exemplo 1.17: São exemplos de funções algébricas as funções f e g defi nidas por 5 3 2( ) 3 (2 3 ) x xf x x x x − = + − e ( ) ( ) 2 3 3( ) 2 3g x x x= − − − . Em particular, as funções polinomiais e as funções racionais são funções algébricas. Funções Transcendentes As funções que não são algébricas são chamadas de funções transcendentes. São exemplos de funções transcendentes as funções exponenciais, as logarítmicas, as trigonométricas, as hiperbólicas e as obtidas por operações que envolvam essas funções. Exemplo 1.18: As funções expressas por ( ) cosf x x= e 2 ln( ) sen( 2) xg x x = − são transcendentes. Estudaremos um pouco mais sobre algumas funções transcendentes. Funções Trigonométricas Muitos eventos são modelados mediante funções trigonométricas. De maneira geral, eventos que possuem comportamento cíclico e que são vinculados a movimentos circulares necessitam das funções trigonométricas para serem descritos. O primeiro fato importante que devemos ter em mente é que desejamos trabalhar no estudo do Cálculo com funções defi nidas em subconjuntos de números reais. Assim, as funções trigonométricas estudadas aqui não podem ser defi nidas em valores angulares. É preciso que consideremos comprimentos de arcos no lugar de medidas angulares. Para isso, utilizamos uma propriedade que envolve um ângulo cujo vértice é o centro de uma circunferência. Nessa condição, a razão determinada pelo comprimento do arco determinado pelo ângulo e o raio da circunferência é um número real que depende apenas do ângulo, ou seja, não depende do raio da circunferência. Dizemos então que a medida em radianos do ângulo é essa razão. Por simplicidade escolhemos uma circunferência S de raio unitário cujo centro é o centro do sistema de coordenadas cartesiano (0,0)O = . A associação entre números reais e ângulos se faz da seguinte maneira: A cada número real t associamos a medida do arco AP na circunferência unitária, respeitando o seguinte: (1,0)A = e P é obtido percorrendo-se a circunferência a partir de A, no sentido anti-horário, se 0t > ou no sentido horário, se 0t < . Figura 1.14 Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 32 Defi nimos as funções trigonométricas seno e cosseno com domínio real, da seguinte maneira: Defi nição 1.20: Se t ∈ e ( , )P x y= é o ponto de S associado a t, então cos( )t x= e sen( )t y= . De acordo com a defi nição anterior, as funções sen : → e cos : → gozam das seguintes propriedades: Para t∀ ∈ : a) sen( 2 ) sen( )t tπ± = e cos( 2 ) cos( )t tπ± = ; b) 2 2sen ( ) cos ( ) 1t t+ = ; c) 1 sen( ) 1t− ≤ ≤ e 1 cos( ) 1t− ≤ ≤ ; d) sen( ) sen( )t t− = − e cos( ) cos( )t t− = ; e) Se ,a b∈ , então, sen( ) sen( )cos( ) sen( )cos( )a b a b b a± = ± e cos( ) cos( ) cos( ) sen( )sen( )a b a b a b± = ; f) cos( ) sen( ) 2 t t π= + . Um esboço dos gráfi cos da função seno e da função cosseno é mostrado na fi gura 1.15 Figura 1.15 As outras quatro funções trigonométricas são defi nidas a partir das funções seno e cosseno. A função tangente é defi nida como, tg : {(2 1) ; } 2 k kπ− + ∈ → , sen( )tg( ) cos( ) xx x = . A função cotangente é defi nida como, cotg : { ; }k kπ− ∈ → , cos( )cotg( ) sen( ) xx x = . A função secante é definida como, sec : {(2 1) ; } 2 k kπ− + ∈ → , 1sec( ) cos( ) x x = . A função cossecante é defi nida como, cossec : { ; }k kπ− ∈ → , 1cossec( ) sen( ) x x = . De acordo com as defi nições, as funções trigonométricas gozam das seguintes propriedades: a) tg( ) tg( )t tπ+ = e cotg( ) cotg( )t tπ+ = ; b) sec( 2 ) sec( )t tπ+ = e cossec( 2 ) cossec( )t tπ+ = ; 33 c) 2 2tg ( ) 1 sec ( )t t+ = ; d) 2 2cotg ( ) 1 cossec ( )t t+ = . Com o auxílio de softwares gráfi cos, podemos esboçar os gráfi cos das funções trigonométricas (como podem ser vistas pelas fi guras 1.16 e 1.17). 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 -5 -5 -6-7 6 7 8 9 6 -6 -7 -8 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 -5 -5 -6-7 6 7 8 9 6 -6 -7 -8 Gráfi co da função tangente Gráfi co da função cotangente Figura 1.16 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 -5 -5 -6-7 6 7 8 9 6 -6 -7 -8 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 -5 -5 -6-7 6 7 8 9 6 -6 -7 -8 Gráfi co da função secante Gráfi co da função cossecante Figura 1.17 Conversa Na defi nição das funções trigonométricas distintas de seno e cosseno, o domínio é composto por uma infi nidade de intervalos. Por exemplo, na defi nição da função tangente escrevemos o seguinte: tg : {(2 1) ; } 2 k kπ− + ∈ → . Essa notação está nos dizendo que o domínio da função tangente é uma parte dos números reais, pois está escrito que a função pode ser calculada em números reais que não pertençam a outro conjunto. Esse outro conjunto é {(2 1) ; } 2 k kπ+ ∈ , que contém uma infi nidade de números. A notação utilizada nos diz que devemos tomar o número real 2 π e considerar seus múltiplos (2 1) 2 k π+ , quando k percorre os números inteiros . Considerando 0k = obtemos, pois, o número 1; se passarmos a considerar Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 34 1k = , obtemos 3 2 π ; se 1k = − , obtemos, 2 π − ; se 2k = , obtemos 5 2 π ; se 2k = − , obtemos 3 2 π − , e assim sucessivamente. Então, 5 3 3 5{(2 1) ; } { , , , , , , , } 2 2 2 2 2 2 2 k kπ π π π π π π+ ∈ = − − − . Portanto, o domínio da função tangente é obtido a partir do conjunto dos números reais, subtraindo-lhe essa infi nidade de pontos. O conjunto fi nal é a união infi nita 5 3 3 3 3 5{ ( , ) ( , ) ( , ) ( , ) ( , ) } 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 π π π π π π π π π π ∪ − − ∪ − − ∪ − ∪ ∪ ∪ . Observe agora o traçado do gráfi co da função tangente mostrado na Figura 1.18. Veja que ele é composto de uma infi nidade de arcos, com cada arco sendo traçado sobre um dos intervalos escritos no conjunto anterior. 5 4 3 2 1 -1 -2 -3 54321-1-2-3-4 x y -4 -5 -5 -6-7 6 7 8 9 6 -6 -7 -8 Figura 1.18 Agora fi ca mais fácil entender, por exemplo, qual é o domínio da função cotangente. Anteriormente escrevemos que, cotg : { ; }k kπ− ∈ → . Devemos considerar o conjunto dos números reais e retirar a infi nidade de pontos da forma kπ quando consideramos k assumindo todos os valores inteiros. Dessa maneira, temos { , } { , 3 , 2 , ,0, , 2 ,3 , }k kπ π π π π π π∈ = − − − . Assim, o domínio da função cotangente é a união infi nita { ( 3 , 2 ) ( 2 , ) ( ,0) (0, ) ( , 2 ) (2 ,3 ) }π π π π π π π π π π∪ − − ∪ − − ∪ − ∪ ∪ ∪ ∪ . Para compreender os domínios das funções secante e cossecante podemos raciocinar da mesma maneira. Funções Trigonométricas Inversas As funções trigonométricas seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cossecante, se consideradas com seus domínios máximos, como visto anteriormente, não são injetivas. Para que possamos falar em inversas de funções trigonométricas, necessitamos restringir os domínios adequadamente. Vejamos como proceder para encontrarmos uma função inversa para a função seno. 35 Se considerarmos a função seno defi nida apenas no intervalo [ , ] 2 2 π π − , ela será crescente, com imagem igual a [ 1,1]− . Portanto, existirá uma inversa desta restrição, com domínio [ 1,1]− e imagem [ , ] 2 2 π π − . Chamemos essa inversa de “arco seno” e a denotemos por “arcsen” ou “ 1sen− ”. A inversa da restrição da função seno será 1sen :[ 1,1] , 2 2 π π− − → − defi nida da seguinte maneira: Se [ 1,1]z ∈ − , então 1sen ( ) , 2 2 z w π π− = ∈ − tal que sen( )w z= . Evidentemente, teremos as composições: 1sen(sen ( )) , [ 1,1]z z z− = ∀ ∈ − e 1sen (sen( )) , , 2 2 w w w π π− = ∀ ∈ − . Para que não haja confusão, as composições mostradas acima podem ser representadas pelos diagramas: 1sen sen[ 1,1] , [ 1,1] 2 2 π π− − → − → − e 1sen sen, [ 1,1] , 2 2 2 2 π π π π− − → − → − . O gráfi co da função “arco seno” é esboçado mediante refl exão, em torno da reta identidade y x= , do trecho do gráfi co da função seno obtido pela restrição do domínio ao intervalo [ , ] 2 2 π π − . 1 21-1 x y y=sen(x) -1 y=arcsen(x) Figura 1.19 Para encontrarmos uma inversa para a função cosseno procederemos como se segue. Consideramos a restrição da função cosseno ao intervalo [0, ]π . Sobre esse intervalo a função será decrescente e terá imagem [ 1,1]− . Portanto, existirá uma inversa desta restrição com domínio [ 1,1]− e imagem [0, ]π . Chamemos essa inversa de “arco cosseno” e a denotemos por “arccos” ou “ 1cos− ”. Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 36 A inversa da restrição da função cosseno será 1cos :[ 1,1] [0, ]π− − → , defi nida da seguinte maneira: Se [ 1,1]z ∈ − , então 1cos ( ) [0, ]z w π− = ∈ , tal que cos( )w z= . Evidentemente, temos as composições: 1cos(cos ( )) , [ 1,1]z z z− = ∀ ∈ − e 1cos (cos( )) , , 2 2 w w w π π− = ∀ ∈ − . Para que não haja confusão, as composições mostradas acima podem ser representadas pelos diagramas: 1cos cos[ 1,1] [0, ] [ 1,1]π − − → → − e 1cos cos[0, ] [ 1,1] [0, ]π π − → − → . O gráfi co da função “arco cosseno” é esboçado mediante refl exão, em torno da reta identidade y x= , do trecho do gráfi co da função cosseno obtido pela restrição do domínio ao intervalo [0, ]π . 1 21-1 x y y=cos(x) -1 y=arccos(x) 3 Figura 1.20 Exercício 1.8: Calcule, sem o auxílio de calculadoras, os seguintes valores: a) arccos( 1)− ; b) 3arccos 2 ; c) 1arcsen 2 ; d) 3arcsen 2 − . Para encontrar a inversa da função tangente, é padrão restringirmos seu domínio para o intervalo , 2 2 π π − . Sobre esse intervalo ela é crescente e, portanto, invertível. Sua imagem é todo o conjunto . Sua inversa, chamada “arco tangente” e denotada por “arctg” ou “ 1tg− ” é defi nida da seguinte maneira: Se z ∈ , então 1tg ( ) , 2 2 z w π π− = ∈ − , tal que tg( )w z= . 37 Para encontrarmos a inversa da função secante, restringimos seu domínio para o subconjunto [0, ) ( , ] 2 2 π π π∪ . Sobre o intervalo [0, ) 2 π a função é crescente e sua imagem é [1, )∞ . Sobre o intervalo ( , ] 2 π π , a função também é crescente e sua imagem é ( , 1]−∞ − . Sua inversa, chamada “arco secante” e denotada por “arcsec” ou “ 1sec− ” é defi nida da seguinte maneira: Se ( , 1] [1, )z ∈ −∞ − ∪ ∞ , então 1sec ( )z w− = ∈ , tal que sec( )w z= . Os gráfi cos das funções arco tangente (Figura 1.21) e arco secante (Figura 1.22) são mostrados a seguir. 4 3 2 1 -1 -2 -3 4321-1-2-3-4 x y -4 4 3 2 1 -1 -2 -3 -4 4321-1-2-3-4 x y Figura 1.21 Figura 1.22 As inversas das funções cotangente e cossecante não são muito utilizadas. Para encontrarmos a inversa da função cotangente, devemos restringir seu domínio à (0, )π sobre o qual ela é decrescente. Para a função cossecante, a restrição é sobre ( ,0) (0, ) 2 2 π π − ∪ , onde ela é decrescente. Exercício 1.9: Utilize um software mostrador de gráfi cos e explore quais os traços dosgráfi cos das funções defi nidas por ( ) sen( )f x A x= ⋅ , quando A∈ assume diversos valores. Em seguida, explore quais os traços dos gráfi cos das funções defi nidas por ( ) sen( )g x kx= , quando k ∈ assume diversos valores. Faça um relatório sobre sua exploração e tire conclusões acerca dos gráfi cos das funções defi nidas por ( ) sen( )h x A kx= ⋅ , com ,A k ∈ . Funções Exponenciais e Logarítmicas Vamos supor que devemos colocar grãos de trigo nas casas de um tabuleiro de xadrez. Na primeira casa devemos colocar um grão; na segunda casa, devemos colocar o dobro do colocado na casa anterior, isto é, dois grãos; na terceira, o dobro do colocado na casa anterior, isto é, quatro grãos, e, assim sucessivamente, sempre colocando numa casa o dobro do colocado na casa anterior. Quantos grãos serão colocados na última casa do tabuleiro? Para resolver esse problema devemos utilizar exponenciais. O processo de preenchimento das casas é descrito de outra maneira na seguinte tabela (Tabela 1.2). Casa 1 2 3 4 5 ... 64 Grãos 1 2 4 8 16 ? Tabela 1.2 Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 38 A solução do problema está em considerarmos expressões exponenciais de base 2. Considerando 0 1 2 32 , 2 , 2 , 2 etc., conseguiremos encontrar a solução. Considerar uma exponencial na qual a base é um número real e o expoente é um número natural é simples. Ao encontrarmos a expressão 57 , sabemos tratar-se da multiplicação 5 5 vezes 7 7 7 7 7 7= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ . Assim, ao encontrarmos a notação nr , sabemos tratar-se de vezes n n r r r r= ⋅ ⋅ ⋅ . Se n− é um número inteiro negativo, a expressão nr− é defi nida como 1n nr r − = para que a propriedade n m n mb b b += mantenha-se verdadeira. Ao escrevermos a notação 1 nr , com n natural não nulo estamos denotando 1 nnr r= . (obs. nna b b a= ⇔ = ). Assim, a notação p qr com p q + ∈ signifi ca ( ) p pqqr r= . Se p q − ∈ , então, 1pq p q r r = . Com o auxílio da calculadora podemos encontrar boas aproximações de 2 53 , ou de 5π − . Mas qual o signifi cado do resultado mostrado na calculadora para 3π ? Quando o expoente é um número real irracional, devemos pensar em aproximações. Pensemos: Se 3 4π< < , desejamos que 3 43 3 3π< < . Se 3,1 3,2π< < , desejamos que 3,1 3,23 3 3π< < . Se 3,14 3,15π< < , desejamos que 3,14 3,153 3 3π< < . Se 3,141 3,142π< < , desejamos que 3,141 3,1423 3 3π< < . Como conseguimos calcular as aproximações ( ) 3141 3141 3,141 100010003 3 3 31,5237= = ≈ e ( )31423,142 10003 3 31,5584= ≈ , sabemos que 3π está no intervalo 31,52 3 31,55π< < . Dependendo da necessidade, podemos trabalhar com 3 31,53π ≈ . Mais adiante, em outras seções, voltaremos a defi nir analiticamente as exponenciais. Por enquanto, esse raciocínio de cálculo por aproximações é sufi ciente e nos leva a identifi car uma função com domínio defi nida por :f → , ( ) 3xf x = . As considerações feitas (nesse exemplo particular) em que a base escolhida foi 3 podem ser feitas para qualquer número a, tal que *a +∈ , donde podemos escrever a próxima defi nição. Defi nição 1.21: Uma função f é uma função exponencial se sua representação analítica é da forma ( ) xf x a= , com o número a, chamado base da função exponencial, sendo um número real positivo. O esboço do gráfi co de uma função exponencial segue um dos padrões mostrados nas ilustrações a seguir (Figura 1.23). 39 Figura 1.23 Observemos que uma característica do gráfi co das funções exponenciais é que a interseção do gráfi co com o eixo Oy se dá sempre no ponto (0,1) . Mas, funções obtidas das exponenciais mediante composições, como as da forma ( ) x kf x a l+= + , não interceptam o eixo Oy no ponto (0,1) , caso as constantes k ou l sejam diferentes de zero. Exercício 1.10: Esboce os gráfi cos das funções defi nidas por ( ) 2xf x = , 1( ) 2 x g x = , ( ) 5xh x = , 1( ) 5 x j x = e ( ) 2 xl x = . Exercício 1.11: Qual é a resposta do problema inicial desta seção? Qual a função exponencial que modela o problema? Exercício 1.12: Utilize um software mostrador de gráfi cos e explore quais os traços dos gráfi cos das funções defi nidas por ( ) 2xf x A= ⋅ , quando A∈ assume diversos valores. Explore também quais os traços dos gráfi cos das funções defi nidas por ( ) 2x kg x += , quando k ∈ assume distintos valores. Faça um relatório descrevendo suas conclusões. Funções Logarítmicas Vamos retomar ao exemplo inicial da seção anterior, o da colocação de grãos no tabuleiro de xadrez. A questão era colocar sempre o dobro do número de grãos colocados na casa anterior. Funções de uma variável real CálCUlo diFErEnCial E intEgral i 40 Casa 1 2 3 4 5 ... 64 Grãos 1 2 4 8 16 ? Tabela 1.3 E se quisermos saber quando é que colocaremos 260000 grãos? O número de grãos a serem colocados pode ser obtido de acordo com a função dada por 1( ) 2tQ t −= , onde t é tomado em dias e Q(t) indica a quantidade de grãos. Para encontrar quando é que precisaremos colocar duzentos e sessenta mil grãos, precisamos resolver a equação 1260000 2t−= , o que pode ser feito mediante aplicação de uma função que “desfaça” o que a função 1( ) 2tQ t −= faz. A função 1( ) 2tQ t −= é uma função exponencial de base maior que 1, logo, crescente e, portanto, injetiva. Sua imagem é ( ) (0, )Im Q = ∞ . Logo, ( )Q t possui uma função inversa com domínio (0, )∞ e imagem . Como encontrá-la? Para obter a resposta, vamos considerar funções exponenciais gerais da forma ( ) xf x b= . Podemos perceber que se 1b > a função é crescente e, portanto, injetiva. Se a base é positiva, mas menor que 1, 0 1b< < , a função é decrescente e, portanto, injetiva. Assim, nos dois casos, a função é injetiva e sobrejetiva em (0, )∞ . Portanto, existe uma função inversa. Defi nição 1.22: Se a +∈ e 1a ≠ , então as funções logarítmicas de base a são as inversas das funções exponenciais de base a e são denotadas por log :a + → . A condição que exprime a função logarítmica de base a, 1a ≠ e 0a > é: log ( ) ya x y a x= ⇔ = . Como já foi explorado anteriormente o caso da exponencial com números irracionais, não nos preocuparemos mais com o signifi cado de tais situações matemáticas. Como o gráfi co da função inversa é obtido a partir do gráfi co da função original mediante uma refl exão em torno da reta identidade y x= , deduzimos que: a) Se 0 1a< < , então a função f defi nida por ( ) log ( )af x x= é decrescente; b) Se 1a > , então a função f defi nida por ( ) log ( )af x x= é crescente. A seguir esboçamos os comportamentos típicos dos gráfi cos das funções logarítmicas de base a. Figura 1.24 Devemos observar que os gráfi cos das funções logarítmicas da forma ( ) log ( )af x x= interceptam o eixo Ox no ponto (1,0) , o que não ocorre com as funções da forma 41 ( ) log ( )ag x x k l= + + , caso k ou l sejam diferentes de zero. Voltando à questão dos grãos no tabuleiro de xadrez, podemos descobrir quando serão colocados duzentos e sessenta mil grãos. A equação 12 260000t− = pode ser resolvida: ( )1 12 2 22 260000 log 2 log 260000 1 log 260000t t t− −= ⇔ = ⇔ − = ⇔ 21 log 260000t = + . O valor aproximado, calculado com o uso de calculadora é 18988t ≈ dias. Portanto, a resposta à questão levantada permanece: na décima oitava casa ainda colocamos menos de duzentos e sessenta mil grãos, mas na décima nona casa colocamos praticamente o valor estipulado. Para sermos exatos, colocamos 2144 grãos a mais. Exemplo 1.19: Um material radioativo, utilizado como contraste para radiografi as do estômago, tem meia-vida de 2 horas. Se uma pessoa ingeriu 10 gramas desse material, quantos gramas ainda restarão após 12 horas? Quando é que restará exatamente 1 grama do material no corpo do paciente? Podemos iniciar a análise da situação escrevendo alguns dados na tabela a seguir (Tabela 4). Tempo (h) 0 2 4 ... 12 ... ? Material (g) 10 5 2,5 ... ? ... 1 Tabela 4
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