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Fisioterapeuta. Universidade Católica Dom Bosco/MS. Especialista em Educação Especial. Universidade de Cuiabá/MT. E-mail: alle_adri@hotmail.com O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL NA MODALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL ADRIANA DA SILVA PINTO E SILVA Resumo: Compreender a criança com necessidades educacionais especiais significa compreender suas necessidades básicas, psicológicas e educacionais, as quais são idênticas às de todas as crianças, onde somente aspectos específicos diferem. Educar uma criança paralisada cerebral envolve condutas específicas, que possibilitam o desenvolvimento de suas capacidades. Portanto, a especificidade da criança com paralisia cerebral não está no conteúdo, mas na forma de realizar atividades e expressar seu pensamento, sendo necessário adaptar formas de lidar e entendê-la. A iniciativa do estudo deste tema tornou-se fato por acreditar que as barreiras e/ou comprometimentos físicos e sensoriais da pessoa com paralisia cerebral não venham impedir o seu potencial criador, precisando apenas serem acrescidos recursos especiais como situações e adaptações criadas pelo ambiente escolar. Palavras-chave: Paralisia cerebral, Educação Infantil, Inclusão. Abstract: Knowning the children with special educational needs, means to understand their basics, psychological and educational necessities, that are the same as any children, with some particularities. To educate a kid that has Celebral Palsy requires special procedures, which enable the developing of their capabilities. Therefore, the specificity of the Celebral Palsy kid isn´t in the subject, but in the way that you do the activities and expressing their thoughts, being necessary to adapt how you are going to understand them. This research was started to show that barriers, physical and sensory obstacles of the person that has Celebral Palsy can´t block his/her potential, it´s only necessary to add some special resources like situations and adaptions created by the school environment. Key words: CELEBRAL PALSY, CHILD EDUCATIONAL, INCLUSION. 1 INTRODUÇÃO Ciente da importância e dificuldades que os educadores e pais encontram em relação ao ensino- aprendizagem e, mesmo nos aspectos afetivo-social com o portador de sequelas severas de paralisia cerebral, sentimos o desejo de buscar respostas ás questões envolvidas, com mais profundidade. Diante da necessidade de um conhecimento de como trabalhar com essas crianças, temos que encontrar caminhos que nos levam a compreender como se processa a aprendizagem e como podemos prevenir os problemas de ensino-aprendizagem. Para isso temos que nos embasar de pressupostos teóricos dando ênfase numa abordagem cognitivo-afetivo-social e nos remetermos a estudos e pesquisas que permitam reflexões norteadoras para melhor entendimento desse quadro. A pergunta que queríamos responder em princípio, é a mesma que tem inquietado muitos educadores e demais profissionais envolvidos. Diante dessas dúvidas faz-se necessário uma reflexão que nos impulsione e nos motive os anseios de buscar respostas para que dessa maneira possamos contribuir junto aos educadores e também junto aos pais. Por quê muitas crianças não conseguem acompanhar o rendimento escolar? De quem é a culpa do fracasso da aprendizagem? Até que ponto o problema é basicamente da criança e em quanto o educador pode estar contribuindo para tal fracasso? Estas são as questões que nortearão esta pesquisa. Para isso, parece-nos razoável que o começar mais cedo com uma perspectiva preventiva é o mais correto, desde que a estimulação precoce e a educação infantil possam favorecer o seu desenvolvimento cognitivo e também estabelecer um código de relação com o educador. Este estudo tem como objetivo analisar e compreender a relação ensino-aprendizagem na interação professor/escola/família/comunidade junto à criança com paralisia cerebral e sua possível inclusão escolar. Busca também, propiciar embasamento teórico pedagógico que facilite ao professor o seu ensinar, criar condições favoráveis aos professores e pais das crianças com paralisia cerebral para que vençam sua dificuldade de relacionamento e aceitação. Entretanto, para que consigamos alcançar estes objetivos, este estudo nos propõe realizar uma análise documental, através de levantamento bibliográfico sobre as adaptações curriculares para pessoas que apresentem paralisia cerebral, encontrados nos documentos que normatizam e embasam a educação especial. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Educação Especial A Educação Especial tem sido atualmente definida no Brasil segundo uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a simples concepção de atendimentos especializados tal como vinha sendo sua marca nos últimos tempos. Conforme define a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9.394 de 2012.1996, no Cap.V, em seu Art. 58: “Entende-se por Educação Especial, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. ” De acordo com a Política Nacional de Educação Especial (1994, p.37), “[...] a educação deve ser, por princípio, liberal, democrática e não doutrinária”. Analisando por este prisma, o educando é digno de respeito e merece uma educação de melhor qualidade. Importante rever também o que explicitam as Diretrizes Nacionais da Educação Especial, de 15 de agosto de 2001, em seu Art. 3º: por modalidade de educação escolar, entende-se um processo educacional definindo uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Porém, as medidas mencionadas acima foram elaboradas a partir de recomendações debatidas internacionalmente, como vistas ao seu cumprimento pelos diversos sistemas de educação, dos diferentes países integrantes do movimento pela inclusão social. O desenvolvimento da educação brasileira sobre interferências dos níveis de desenvolvimento social, político e econômico de outros países, porém, vários fatos como desigualdades regionais e instabilidades político-econômicas de toda ordem, não podem ser impeditivas da adoção de estratégias para enfrentar o grave e perverso problema social de milhões de brasileiros que se encontram na condição de “cidadãos menores”, por não terem tido acesso e sucesso na escola fundamental (CARVALHO, 1997). A educação tem hoje, portanto, um grande desafio de garantir o acesso aos conteúdos básicos e à qualidade que a escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos, inclusive àqueles com necessidades educacionais especiais. Assim como especifica o documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001, p.23): A igualdade e a desigualdade continuam a ter relação imediata com o trabalho. Mas seja para o trabalho, seja para a multiformidade de inserções sócio-político-culturais, aqueles que se virem privados do saber básico, dos conhecimentos aplicados e das atualizações requeridas, podem ser excluídos das antigas e novas oportunidades do mercado de trabalho e vulneráveis a novas formas de desigualdades. Se as múltiplas modalidades de trabalho informal, o subemprego, o desemprego estrutural, as mudanças no processo de produção e o aumento do setor de serviços geram uma grande instabilidade e insegurança para todos os que estão na vida ativa e quanto mais para os que se veem desprovidos de bens tão básicos, como a escrita e a leitura. Nesta perspectiva, a educação da pessoa portadorade necessidades educacionais especiais exige ações práticas e viáveis, que tenham como fundamento uma política específica, orientada para a inclusão dos serviços de educação especial na educação regular. Dessa forma, a educação especial torna-se um conjunto de conhecimentos, tecnologias, recursos humanos e materiais didáticos que devem atuar como apoio para favorecer respostas educativas de qualidade às necessidades educacionais de cada indivíduo. A educação especial tem por finalidade apoiar na prestação de auxílio ao professor e ao aluno no ensino regular no que diz respeito a recursos materiais, físicos e humanos e sala de recursos, assim como complementar o currículo viabilizando o acesso quando necessário em turno inverso e suplementar ampliando, aprofundando ou enriquecendo o currículo escolar, tendo em vista, as dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações encontradas pelos portadores de necessidades educacionais especiais no processo de desenvolvimento. 2.2 Paralisia Cerebral 2.2.1 Conceito As pessoas com deficiências, apresentam características que fogem do padrão de normalidade, mas devem ser respeitadas de acordo com suas características individuais. A deficiência física, pode apresentar comprometimentos diversos das funções motoras do organismo físico que variam em número e grau, de indivíduo para indivíduo dependendo das causas e da abrangência. Portanto, a pessoa com paralisia cerebral, que é um dos tipos de deficiência física, apresenta essencialmente um comprometimento neuromotor. O termo paralisia cerebral se originou nos trabalhos iniciais de Little, cirurgião inglês, publicados em 1843, ele “descreveu, pela primeira vez, a encefalopatia crônica da infância, e a definiu como patologia ligada a diferentes causas e caracterizada, principalmente, por rigidez muscular. ” (ROTTA, 2002, p. 48). E ainda, seguindo a mesma linha de raciocínio, [...] desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão Paralisia Cerebral foi definida como “sequela de uma agressão encefálica”, que se caracteriza, primordialmente, por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundário a esta lesão não evolutiva do encéfalo, senão devido, também, à influência que tal lesão exerce na maturação neurológica. A partir dessa data, Paralisia Cerebral passou a ser conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância que, constituindo um grupo heterogêneo, tanto do ponto de vista etiológico quanto em relação ao quadro clínico, tem como elo comum o fato de apresentar predominantemente sintomatologia motora, à qual se juntam, em diferentes combinações, outros sinais e sintomas. (ROTTA, 2002, p. 49). Para conhecer melhor tais comprometimentos relativos à paralisia cerebral partindo de um melhor entendimento de seu quadro clínico, SOUZA (2003), conceitua a paralisia cerebral para definir “[...] um grupo de afecções caracterizadas pela disfunção motora, cuja principal causa é uma lesão encefálica não progressiva, acontecida antes, durante ou depois do parto”. De uma forma mais simplificada, podemos entender que a paralisia cerebral ocasiona deficiência motora em consequência de uma lesão no cérebro, o qual não comanda corretamente os movimentos do corpo e não manda ordens adequadas para os músculos, em consequência da lesão sofrida. Em referência aos acometimentos que comprometem o sistema nervoso central em diferentes proporções na paralisia cerebral, estes podem ser classificados em endógenos e exógenos. Os fatores endógenos são conhecidos como o potencial genético herdado, ou seja, a suscetibilidade maior ou menor do cérebro para se lesar. Em relação aos fatores exógenos, ainda de acordo com ROTTA (2002), ele afirma que essa agressão vai depender da duração do agente, do momento da agressão, bem como a sua intensidade. Em relação ao momento em que o agente etiológico incide sobre o sistema nervoso central em desenvolvimento, distinguem-se o período pré-natal, perinatal e pós-natal. Então, quanto as causas de lesões cerebrais, segundo COLL (1995) podem ser classificadas em causas pré-natais, perinatais e pós-natais. Nas causas pré-natais, são mencionadas anormalidades no desenvolvimento do feto dentro do útero, infecções maternas, hemorragias uterinas, toxoplasmose, anemia da gestante, incompatibilidade de fator RH, uso de drogas pela gestante, estado emocional da gestante, e utilização de raio X na gestação. Entre as causas perinatais, destacam-se: anóxia neonatal, que é a causa mais comum da paralisia cerebral, prematuridade do bebê, compressão da cabeça do bebê pelo canal do parto, entre outras. As causas pós-natais, podem ocorrer através de encefalite, meningite, asfixia, trauma craniano ocasionado por acidentes, desidratações, distúrbios vasculares, intoxicações e acidentes anestésicos. Independente do agente etiológico, diagnosticar a paralisia cerebral não pode ser feito, [...] a menos que o distúrbio motor seja óbvio, em comparação com outros achados como o retardo de desenvolvimento, excluindo a maioria das crianças desajeitadas e as que têm alto grau de retardo mental e sinais motores como espasticidade ou hipotonia leve (HARE; DURHAN; GREEN, 2000). E ainda, por mais diversos que sejam os fatores etiológicos, os mecanismos patológicos do sistema nervoso central são sempre estacionários, mas [...] à medida que a criança avança em idade, as manifestações clínicas parecem mudar, mas essas modificações podem ser devido aos processos de maturação e adaptação, portanto, é de se esperar quer elas sejam influenciadas pelas experiências adquiridas (SHEPHERD, 1995). O conhecimento desta variedade de causas, permite-nos identificar quais as medidas necessárias após o diagnóstico, o sujeito deve ser submetido a estimulação e tratamento, dada a importância que quando necessário, possa ter início o quanto antes (COLL, 1995). 2.2.2 Tipos e Características As diferentes formas de paralisia cerebral podem ser classificadas pelos efeitos funcionais e pela topografia corporal que acomete o sujeito em questão. De acordo com os efeitos funcionais, os mais frequentes são a espasticidade, a atetose e a ataxia e, como quadros menos frequentes ocorrem rigidez e tremores. Deve-se considerar que, raras vezes uma pessoa com paralisia cerebral apresenta uma tipologia pura, mas sim quadros mistos. O tipo espástico apresenta, como aspectos principais, alterações dos padrões posturais, distúrbios dos movimentos voluntários e tônus postural aumentado. Os músculos são muito tensos, o que limita ou impossibilita os movimentos do corpo, portanto, o movimento a pessoa espástica é lento e exige um grande esforço. É o tipo mais comum de paralisia cerebral. O segundo tipo de paralisia cerebral, o atetóide, tem como características movimentos involuntários por todo o corpo, inclusive na face. A pessoa não coordena bem e não dirige de maneira correta os seus movimentos, apresentando torções e contorções nos membros, caretas, dificuldades na fala e na deglutição. O atetóide tem grande dificuldade de realizar o movimento voluntário e manter a mesma postura por muito tempo e a angústia da pessoa é aumentada pela tentativa dos movimentos voluntários e pela tensão emocional. O terceiro tipo, o atáxico, apresenta como aspectos característicos, a coordenação perturbada de grupos musculares e uma perda relativa do equilíbrio e da estabilidade do corpo. Os movimentos são incoordenados e bruscos, podendo haver a presença de um certo tremor. Portanto, a pessoa atáxica tem dificuldade em manter uma postura parada. É um tipo raro de paralisia cerebral e, quase não ocorre isoladamente, havendo uma combinação dos tipos, chamado paralisia cerebral mista, as quaisem geral, são as formas mais frequentes. A classificação quanto à topografia corporal, ou seja, membros atingidos pelo comprometimento neuromuscular temos: • Paraplegia: comprometimento dos membros inferiores; • Tetraplegia: comprometimento dos membros inferiores e superiores; • Monoplegia: comprometimento de uma extremidade; • Diplegia: comprometimento maior dos membros inferiores do que dos superiores; • Triplegia: comprometimento de três extremidades; • Hemiplegia: comprometimento de um hemicorpo, ou seja, um lado do corpo. 2.2.3 Tratamento Em relação ao tratamento do paralisado cerebral, sabe-se até o momento que a melhor forma é a prevenção, seguindo da manutenção e estimulação dos comprometimentos já instalados. O grande avanço na identificação precoce dos eventos que levam à lesão cerebral, a conduta adequada em cada caso, e a possibilidade de, através da utilização de fatores de proteção neuronal, pode influir positivamente em cada caso têm mudado o perfil da Paralisia Cerebral, que, atualmente, depende muito do aproveitamento precoce das janelas terapêuticas, que possibilitam maiores resultados relacionados à plasticidade cerebral. Sabe-se que quanto mais precocemente se age no sentido de proteger ou estimular o SNC, melhor será a sua resposta (ROTTA, 2000 apud ROTTA, 2002, p.51). É de extrema importância para o tratamento e, principalmente para o processo de ensino- aprendizagem, que todos os profissionais envolvidos com a criança com paralisia cerebral (equipe multidisciplinar), tenham acesso a todo o estudo clínico e científico da etiologia, tendo clareza das abordagens terapêuticas multidisciplinares, das intervenções terapêuticas e medicamentosa, incluindo os achados clínicos e cirúrgicos. E sempre que necessário, as autoridades escolares devem estar em contato com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, para que devidas adaptações sejam feitas de acordo com a deficiência individual de cada aluno. 2.3 Necessidades Educacionais Especiais do Paralisado Cerebral Como a paralisia cerebral inclui quadros tão diversos, mencionados no item anterior, torna-se evidente que esses alunos, além de compartilharem as necessidades educacionais de todos os demais, podem apresentar uma série de necessidades educacionais especiais. Dessa forma, a escola tem papel fundamental de formação da pessoa, sendo um momento de inserção social fora da família. Sendo assim, deve-se buscar formas positivas de interação e trocas comunicativas com o paralisado cerebral, tais como: olhar, toque, gestos, posturas, palavra adequadas ou símbolos que expressem a sua situação vivenciada. Alguns alunos com paralisia cerebral podem apresentar graves dificuldades para desenvolverem a intencionalidade em comunicar-se. Essa dificuldade de comunicação, muitas vezes apresenta grandes barreiras, não só para o aluno, mas também para o professor, pois é um requisito indispensável para o desenvolvimento da intenção da ação, necessária para a interação entre aluno, professor e os demais. Faz-se necessário, entretanto, ressaltar que a comunicação da pessoa com paralisia cerebral não se realiza somente através da linguagem oral, ou seja, da fala, existindo a necessidade de dar uma maior ênfase aos aspectos expressivos da comunicação e posteriormente aos aspectos compreensivos, facilitando assim a espontaneidade e a aprendizagem, explorando ao máximo a comunicação global: olhar, expressão, sons, gestos, respiração, entre outros. Além da ênfase dada para a comunicação do aluno no decorrer do seu aprendizado na escola, é necessário prestar especial atenção aos problemas sensoriais ocorrentes. Caso existam, irão afetar determinados processos cognitivos subjacentes a qualquer aprendizagem, como a atenção, a memória e, especialmente a percepção. Os maiores problemas educacionais das pessoas com paralisia cerebral estão concentrados na leitura, na escrita e nas atividades que envolvem a coordenação motora, tornando-se necessário a adaptação dos materiais escolares para facilitar-lhes o desempenho. A pessoa com paralisia cerebral, muitas vezes, tem dificuldade para realizar os primeiros registros e uma atividade escolar qualquer, devido à falta de coordenação motora, ou seja, a impossibilidade de segurar um lápis ou pincel inviabilizam uma atividade espontânea. No entanto, o desejo de realizar suas marcas e de comunicar-se com o mundo é o mesmo de qualquer outra pessoa. Um aluno com paralisia cerebral apresenta as mesmas necessidades e desejos de qualquer outro aluno, a sua especificidade não está no conteúdo, mas na forma de realizar as atividades e expressar seu pensamento, sendo apenas necessário adaptar formas de lidar com ela e entende- la, ao considerar que as condições de desenvolvimento não são as mesmas para todas as pessoas, com ou sem deficiências, as quais diferem-se em cada sujeito. Sobre esse assunto o documento Saberes e Práticas da Inclusão (2003), menciona: O padrão ou modelo e representação no grafismo ou no desenho representados pelas crianças sem deficiência não deverá ser esperado da criança comprometida motoramente porque, mesmo tenho a intenção, a sua execução dependerá das possibilidades motoras que apresentar. Nessas situações, o professor deverá ter muita perspicácia e aceitar aquilo que o aluno conseguiu fazer, valorizando seu produto e estimulando-o a prosseguir, não permitindo qualquer tipo de comparação negativa. Apesar de frequentemente não ser possível uma experiência comunicativa normal para algumas pessoas com paralisia cerebral, existe a necessidade de promover experiências paralelas, chamadas assim porque são iguais em intenção. Uma pessoa com paralisia cerebral incapaz de iniciar a comunicação de um ato vocal pode ser capaz de fazê-lo visualmente se a outra pessoa aprende a posicionar-se para que sejam facilitadas a visão, a interpretação e a resposta. As vocalizações e/ou fixações visuais podem também acontecer aleatoriamente por parte da pessoa com paralisia cerebral, com interpretações repetidas e reações apropriadas, elas tornar- se-ão sistemáticas e simbólicas, e a comunicação poderá ser construída. Dessa maneira, a criação de condições para facilitar a interação da pessoa com seu meio é essencial no desenvolvimento do paralisado cerebral, pois permite a exploração do próprio corpo e do meio em que vive, permitindo a aquisição de tais conceitos e de novas habilidades motoras, além de certa independência. Como podemos observar, a movimentação do paralisado cerebral poderá estar prejudicada por todos os problemas já relatados anteriormente, por isso, em todas as situações próprias da aprendizagem em sala de aula e na escola, o aluno deverá receber a atenção necessária para que possa delas participar, dentro de suas possibilidades e com o seu jeito de atuar. O aluno com paralisia cerebral deve ter as mesmas oportunidades de participação e de execução que os outros alunos, fazendo assim com que se sinta valorizado e estimulado e, desenvolvendo sua autoestima pelas experiências e oportunidades de interação social, terá condições de desenvolver suas potencialidades, o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. Nesse sentido, além do correto posicionamento do aluno nas atividades escolares, onde a posição mais adequada a cada aluno será a que oferecer conforto e possibilidade de independência, também o material pedagógico precisa ser adaptado às condições de manipulação e de uso do aluno. Partindo desta perspectiva, tona-se necessário que o ambiente escolar seja adaptado para receber esses alunos, enfatizando as adaptações físicas, e que os professores sejam treinados, realizando cursos e aperfeiçoamentos para que a inclusão seja verdadeiramente efetiva. É certo que, para trabalhar com alunos com necessidades educacionaisespeciais, são exigidos métodos e técnicas especiais, mas acreditamos que uma visão construtivista da aprendizagem, onde se valoriza a descoberta do aprender pelo próprio aluno deveria ser levado em conta. 2.4 Processo de Ensino- Aprendizagem na Educação Especial Definir aprendizagem pressupõe o entendimento de alguns conceitos básicos como sujeito, desenvolvimento e conhecimento. Deve-se considerar ainda, o meio em que ocorre tal processo, as condições necessárias à aprendizagem bem como a interação dinâmica desses elementos com a estrutura cognitiva do sujeito. Do ponto de vista comportamental, a aprendizagem seria o conjunto de mudanças observáveis no comportamento do sujeito, adquiridas através de experiências. Tal definição, supõe atuação do sujeito, enquanto possibilidades e limites, em seu ambiente que inclui outros indivíduos e os objetos de aprendizagem. A troca decorrente da interação sujeito-meio indica um movimento entre pessoas e objeto que resulta na transmissão de conhecimentos, entendido de uma forma abrangente, incluindo, portanto, aspectos cognitivos, emocionais e sociais. A transmissão de conhecimentos requer algumas condições. É necessário que o indivíduo possa recriar o reconhecimento que está no outro através do uso de símbolos significativos. Entendendo que a criança precisa da exploração do meio para adquirir conhecimento, através da manipulação de objetos, da repetição de ações e do domínio próprio do esquema corporal, para que possa identificar possíveis situações de perigo é necessário que o Sistema Nervoso Central, tenha maturação suficiente para desenvolver tais habilidades. Portanto a criança com paralisia cerebral, por ter a limitação natural, ela fica limitada ao pensamento e raciocínio para execução de tarefas básicas, perdendo oportunidades concretas de ampliação de aprendizagem em seu repertório. A educação das pessoas que apresentam necessidades educativas especiais é hoje, um direito reconhecido e concretizado pelos sistemas educacionais de todos os países desenvolvidos e da maioria dos que se encontram em desenvolvimento. A observação dos princípios de normalização, integração e individualização tem contribuído para o aperfeiçoamento dos sistemas de ensino como um todo, principalmente no que diz respeito à problemática relacionada o processo de aprendizagem de alunos com dificuldades temporárias ou permanentes ou que apresentem limitações provenientes de deficiências congênitas ou adquiridas, evitando-se com isso, a formação de grupos marginais à sociedade. Estudos relacionados ao processo de integração das pessoas com necessidades educativas especiais no sistema de ensino demonstram que o sucesso depende de planejamento, programação educacional, atendimento individualizado e existência de entrosamento sistematizado de todos os profissionais que atuam, direta ou indiretamente, no desenvolvimento do educando, sendo as equipes de educação regular e a de educação especial. Mais importante do que ser a favor do movimento em prol da inclusão dos alunos com necessidades especiais nas escolas regulares, é reconhecer que todas as ações que envolvem esses alunos devem ser planejadas e executadas por profissionais capacitados. Quando o professor tem formação como Pedagogo e com especialização em educação especial, o processo é mais fácil, pois, este profissional terá elementos suficientes para planejar e elaborar, estratégias e adaptações pedagógicas respeitando a necessidade individual de cada aluno, dando a ele igualdade de oportunidades na construção do conhecimento. Com o aluno com paralisia cerebral, serão usadas estratégias especificas, pois, como existem variedades de comprometimentos, o pedagogo precisa analisar caso a caso, para que sejam elaboradas estratégias e adaptações que promovam verdadeiramente a inclusão deste aluno. 2.5 Inclusão do Paralisado Cerebral na Educação Infantil Nos últimos tempos ouvimos muito falar em inclusão, mas afinal, o que é inclusão escolar? Trata-se da aceitação de pessoas com necessidades especiais ou com distúrbios de aprendizagem em escola não-especializadas. De acordo com as literaturas sobre inclusão escolar, reunir num mesmo espaço crianças comuns e crianças com deficiência beneficia todo o sistema escolar. Essa convivência em sala de aula traz melhorias, não apenas às relações entre os alunos, mas também à própria atividade do professor. Porém, nem sempre essas transformações são assimiladas com tanta facilidade, a transformação mais difícil encontrada até o momento, é ainda na mentalidade de professores e pais de crianças com deficiência, que acreditam que as escolas especiais são a solução educativa ideal. A inclusão social por sua vez é o processo no qual contribui para a construção de um novo modelo de sociedade, através de grandes ou pequenas transformações nos ambientes físicos e no modo como pensam as pessoas, portanto, o aluno com paralisia cerebral, também é beneficiado com este modelo de inclusão, pois, é através deste modelo que o sujeito com paralisia cerebral, terá a chance de ter igualdade de oportunidades. O grande desafio para uma escola inclusiva é o de desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas. O princípio fundamental da educação inclusiva consiste em que todas as pessoas devem aprender juntas, onde quer que isto seja possível, não importando as dificuldades ou as diferenças que possam ter. As escolas inclusivas precisam reconhecer e responder às necessidades diversificadas de seus alunos, acomodando diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando educação de qualidade para todos, mediante currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parceria com suas comunidades. Apesar de toda essa ideologia educacional que hoje vemos acontecer em nossa sociedade, deparamo-nos com o movimento da inclusão, que tem como objetivo principal oferecer oportunidades iguais para que cada indivíduo seja autônomo e autodeterminado, afirmando que todas as pessoas devem ser respeitadas, não importando o sexo, idade, origem étnica, opção sexual ou deficiência. Dessa forma, a sociedade inclusiva é democrática, reconhece todos os seres humanos como livres, iguais e com direito de exercer sua cidadania. É importante que a sociedade tome consciência de que a autonomia da pessoa com paralisia cerebral é fundamental, para que o processo se torne verdadeiramente inclusivo, sendo assim eles terão maior participação na sociedade em que vivem, podendo contribuir ativamente no seu desenvolvimento. O processo de inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente aqueles que apresentam dificuldades nas escolas, mas apoia todos: professores, alunos, corpo administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral, contando também com a colaboração e apoio de toda a família dos alunos da escola. Contudo, é preciso promover a inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais com cautela e com a devida preparação, caso contrário, poderíamos desencadear um processo que acabaria por excluí-las ainda mais. Diante disso, torna-se necessária a intensa e constante capacitação dos professores, para que estejam sempre atualizados e aptos a trabalharem com seus alunos. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabemos que a paralisia cerebral é um campo fértil em relação a problemas de aprendizagem, devido suas dificuldades motoras e, às vezes, de linguagem e também sua afetividade, pelos aspectos de rejeição e de ilegitimidade formando o ego fragilizado, marcado pelo auto estima baixa, pela dificuldade em lidar com a falta, com a incompletude. É difícil para o educador esse contato devido a suaquietude para os mais graves e, para os menos graves, o emocional rebaixado está muito presente. O educador tem que lutar com os seus próprios sentimentos para que não se tornar piegas e para que possa ajudar seus alunos a aprenderem. Devido a sua dificuldade motora, a tendência é protegê-lo ao invés de ajudá-lo a superar suas limitações e conviver com elas de uma maneira madura e consciente. Também é de extrema importância que o educador esteja se capacitando regularmente para que esteja apto a atender o aluno em toda as suas dificuldades educacionais especiais. É possível que a criança com paralisia cerebral possa desenvolver todo o seu resíduo potencial ou parte dele se as condições familiares e escolares forem facilitadoras do seu crescimento. As motivações básicas de afeto, aceitação e aprovação existem, quer o corpo seja belo o caricato, quer os movimentos sejam graciosos ou desajeitados e, quer a fala seja melodiosa ou gutural. Essas crianças, como qualquer outra, podem se sentir confortáveis e seguras quando se sentem aceitas e apreciadas e, sobretudo, amadas, do modo contrário, ficarão igualmente inseguras e inquietas ao se sentirem rejeitadas e depreciadas. Sabemos que o corpo está presente na maioria das aprendizagens: pelas demonstrações, pelos olhos, pelo tom de voz, pelo tato, que dão significado afetivo e importância ao que é ensinado. O espaço da aprendizagem deve ser de confiança, liberdade, de alegria, e criatividade, onde haja possibilidade do aluno se apropriar do produto de seu esforço de aprender. Cada pessoa tem direito igual à dignidade, à cortesia, ao respeito e aos meios possíveis para que se desenvolva qualquer potencial que disponha, não porque isso a torne um ser mais produtivo e uma pessoa aceita socialmente, mas, por que esse são seus direitos de nascimento como ser humano. A paralisia cerebral não deve ser vista meramente pelo ângulo físico ou social como um prejuízo ou ainda, como uma realidade comprometedora das atividades do indivíduo. Precisa sim ser enquadrada dentro de um contexto mais amplo, onde o aluno possa ser reconhecido como um ser indivisível, que é capaz de “organizar” sua própria vida, ainda que limitada, e estabelecer relações com o meio que o rodeia. Incluir a criança com necessidades especiais na sala de aula regular não significa apenas coloca- la numa carteira, exige mudança dos professores, diretores, colegas de turma, funcionários e da própria política educacional da escola, mas, dentre todas essas mudanças, o papel do professor é fundamental por ser considerado o principal intermediário no processo educativo. Estamos diante de uma nova perspectiva, uma nova maneira de ver socialmente pessoas com necessidades especiais. Esta mudança de atitude vem sendo notada pelos próprios protagonistas que não mais se enclausuram e se retraem em seus lares, como se fossem incompetentes ou inaptos, aceitando que façam tudo por eles, permanecendo em total ignorância e alienação. Hoje, eles buscam seu lugar como seres integrantes da sociedade, reivindicando e fazendo valer seus direitos, como cidadãos que cumprem seus deveres. Estamos diante de um quadro que exige adaptações e, até mesmo, formulações de valores para que suas solicitações não se percam no ar ou sejam esquecidas em alguma gaveta. Acredito que o problema da inclusão não está exclusivamente na existência ou não das leis, sobretudo na aplicação, na constituição de um sistema de saúde e educação inclusivo aos menos favorecidos economicamente e tecnologicamente, aos excluídos socialmente, incluindo as pessoas com paralisia cerebral e suas famílias, garantindo a estas uma ativa participação na vida pública com o seu devido reconhecimento social enquanto cidadão. REFERÊNCIAS ASSIS, R. de. Educação infantil e propostas pedagógicas. In: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Subsídios para credenciamento de instituições de educação infantil. v.2. Brasília, DF: MEC/SEF/Coedi, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004. _______. 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