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Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Sp 2.1 - Vá de táxi... Objetivo: 1. Entender o protocolo XABCDE e o atendimento inicial do paciente politraumatizado; 2. Conceituar hemorragia em trauma; 3. Compreender os mecanismos hemorrágicos - formação e dissolução de coágulo; 4. Definir choque e seus tipos (breve); 5. Elucidar os mecanismos compensatórios do choque hemorrágico, suas manifestações e tratamento (hipotensão permissiva); 6. Estudar a profilaxia intra-hospitalar pós trauma; 7. Descrever os hemoderivados e seus critérios de utilização. Protocolo XABCDE e atendimento do politraumatizado Na fase pré-hospitalar, costumam-se utilizar escalas ou escores para estratificar as vítimas segundo a gravidade. Uma das mais utilizadas, o START (Simple Triage And Rapid Treatment), utiliza como parâmetros clínicos capacidade de locomoção, respiração, enchimento capilar e nível de consciência de acordo com um algoritmo. Também cabe à equipe pré-hospitalar e de regulação médica determinar as chamadas zonas do trauma: 1. Quente: epicentro do acidente, onde se deve evitar o excesso de pessoas e recursos pelo risco de novos eventos adversos; 2. Morna: região segura mais próxima do evento onde se deve montar o posto médico avançado para tratamento inicial das vítimas mais graves; 3. Fria: região mais segura onde se deve concentrar a maior parte dos recursos humanos e materiais para o atendimento. Uma impressão geral sobre o estado de um paciente é desenvolvida estabelecendo-se valores basais para o estado respiratório, circulatório e neurológico do paciente. Um vez detectada condições que podem ser fatais, são iniciadas as intervenções imediatas e reanimação, caso necessário. Caso as condições locais, de tempo e do paciente não permitirem tais intervenções imediatas, os profissionais devem seguir para uma avaliação secundária, onda é feito a busca de lesões que não ameaçam a vida nem os membros. Por ser menos imediata, é comum que essa avaliação secundária seja feita durante o transporte do paciente. Estas etapas são realizadas de forma rápida e eficiente com o objetivo de minimizar o tempo gasto na cena e local do atendimento inicial. Os pacientes em situação crítica de trauma devem ser conduzidos o mais rápido possível, sendo realizados apenas os cuidados primários mais imediatos quanto as suas ameaças de vida - casos em exceção aqueles no qual as vítimas estejam presas em um local ou que haja outras complicações que impeçam esse transporte precoce. Essa necessidade imediata de transporte do paciente deve-se ao fato de que o paciente em trauma crítico que não responde à terapia inicial pode estar com hemorragia interna - situação resolvida exclusivamente dentro de um ambiente cirúrgico, o que deve acontecer dentro de um prazo mínimo. As preocupação primárias para a avaliação e manejo do paciente, como inicialmente citadas, devem ser (1) controle da hemorragia significativa, (2) via aérea, (3) oxigenação, (4) ventilação, (5) perfusão e (6) função neurológica. A conhecida hora do ouro - momento entre o acontecimento da lesão e o começo do atendimento, ou seja, período no qual está havendo perda de sangue e oxigenação inadequada devido a redução da perfusão, momento crucial para o sobrevida, sendo que quanto maior a hora de ouro, pior a sobrevida - é conhecida como período de ouro, atualmente, uma vez que esse período não é de exatas 1 hora; alguns pacientes tem menos tempo e outros mais, sendo o profissional de cuidados pré-hospitalares o responsável por reconhecer a urgência. Quanto mais tempo o paciente for mantido na cena, maior é o potencial para perda de sangue e morte. Estabelecimento de prioridades: Existem três prioridades imediatas na chegada da cena: 1. Avaliação primária e a segurança da cena. Os profissionais devem estar usando os equipamentos de proteção individuais apropriados à situação, e as precauções padrões - para proteção contra sangue e fluídos - devem ser seguidas. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG 2. IVM - incidentes com vítimas em massa. Nessas situações, os socorristas devem mudar sua prioridade, que seria ajudar aquele paciente com a lesão mais grave, que passa a ser salvar o maior número de pacientes - oferecer o melhor para a maioria. Os fatores que devem ter prioridade na triagem desse grande número de vítimas são: a gravidade da lesão e os recursos (humanos e equipamentos - disponíveis para o cuidado. 3. Após a avaliação da cena e a abordagem das necessidades pertinentes, pode-se voltar a atenção para a avaliação dos pacientes individualmente. O processo de avaliação e tratamento começa com o foco no paciente identificado em estado mais crítico - com ênfase nas seguintes etapas: condições que podem resultar em perda de vida, condições que podem resultar em perda de um membro, todas as outras condições que não ameaçam a vida nem algum membro. Dependendo da gravidade da lesãom do número de pacientes lesionados e da proximidade do hospital e do destino, as condições que não ameaçam a vida nem um membro podem nunca ser abordadas na cena. Avaliação primária: Nos pacientes com trauma multissistêmico, a prioridade para os cuidados é a rápida identificação e tratamento de condições potencialmente fatais. Nos pacientes com lesão crítica, o profissional pode não conseguir conduzir mas do que uma avaliação rápida, o início da reanimação e o transporte. Uma das condições fatais mais comuns no trauma é a falta de oxigenação tecidual adequada - o choque. Nessas situações, as atividades envolvidas na avaliação e intervenção primária terão o objetivo de identificar e corrigir a falta de oxigenação, ou melhor, a fonte de energia metabólica do organismos, interferindo em uma de suas etapas, sendo elas: quantidade de hemácias, oxigenação das hemácias no pulmão, oferta de hemácias às células de todo o organismo e a transferência de oxigênio para as células. Na abordagem inicial, além da busca pela falha de um dos três sistemas - cardíaco, respiratório e neurológico - o profissional deve buscar por: Hemorragia compressível grave; Paciente está movendo o ar de forma efetiva; Acordado ou não responsivo; Movimentando-se espontaneamente. Ao posicionar-se ao lado do paciente, o profissional deve se apresentar e perguntar o nome da vítima. Uma etapa razóavel é perguntar ao paciente o que aconteceu com ele. Se o paciente parecer confortável e responder coerente e com frases completas, sabe-se que ele apresenta uma via aérea livre, função respiratória suficiente para sustentar fala, perfusão cerebral adequada e função neurológica razoável; ou seja, provável que não haja ameaça IMEDIATA à vida do paciente. Se o paciente estiver em condições instáveis para fornecer uma resposta ou parece estar em sofrimento, inicia-se uma avaliação primária detalhada para identificar problemas potencialmente fatais - o que pode ser obtido em segundos, ao avaliar as funções vitais. Sequência: Deve ser feita rapidamente e de forma lógica. Caso o socorrista esteja sozinho, algumas intervenções importantes podem ser realizadas à medida que condições potencialmente fatais são identificadas - se um problema for corrigível, como uma aspiração ou a realização de um torniquete - o profissional pode obtar pela abordagem do problema antes de passar para a próxima etapa; contudo, se o problema não poder ser abordado rapidamente, como um choque causado por hemorragia interna, o restante da avaliação primária deve ser rapidamente completado. Se houverem dois socorristas presentes, um deles pode seguir para completar a avaliação e o outro inicia o cuidado dos problemas identificados. A medida que as condições forem sendo identificados, o socorrista deve fazer a ordem de intervenção. A abordagem feita na avaliação primária é utilizada para todos os pacientes, sejam eles idosos, gestantes ou pediátricos. Atualmente, a avaliação primária do paciente com trauma enfatiza o controle da hemorragia externa potencialmente fatal como a primeira etapa da sequência. Algumas etapas podem ser realizadasde maneira simultânea. Essas etapas podem ser lembradas como o mnemônico XABCDE: X - Hemorragia exsanguinante (controle do sangramento externo grave); A - Manejo da via aérea e estabilização da coluna cervical; B - Respiração (breathing) (ventilação e oxigenção); C - Circulação (perfusão e outras hemorragias); D - Incapacidade (disability) E - Exposição/ambiente (environment) X - Hemorragia Exsanguinante (controle de sangramento externo grave) Durante a avaliação primária do paciente com trauma, a hemorragia externa potencialmente fatal deve ser total prioridade, sendo imediatamente identificada e corrigida; caso ela esteja presente, deve ser controlada antes mesmo de avaliar via aérea ou de realizar outras intervenções, como a imobilização da cervical. Usualmente, essas hemorragias envolvem o sangramento arterial em uma extremidade, mas pode ocorrer a nível de couro cabeludo e em regiões juncionais (junção de uma extremidade com o tronco, é um sangramento que ocorre onde duas zonas anatomicamente distintas se unem), além de outros locais. Quando acontece uma hemorragia externa grave em uma extremidade arterial, ela é bem manejada colocando-se um torniquete o mais próximo possível na extremidade afetada - refere-se aqui como “próximo” de maneira anatômica, ou seja, localidades proximais ou distais do centro, dessa forma, entende-se que o torniquete deve localizar-se próximo a virilha ou axila, por exemplo, do membro afetado. Outros formas de controle, como compressão direta do local e o uso de agentes hemostáticos, também podem ser usados, mas NÃO substituiem ou devem ser priorizados sob o torniquete. O uso de hemostáticos e de compressão é mais indicado para aqueles casos de sangramento grave não arterial nas extremidades e em sangramentos graves a nível de tronco. Em certas situações, o sangramento por artérias distais pode ser controlado por compressão; contudo, isso so deve ser realizado se o sangramento puder ser controlado por um curativo compressivo aplicado rapidamente ou se houver um cenário de equipe em que um socorrista possa ter, como única função, manter a compressão direta manual. Já o sangramento juncional pode ser controlado tanto pela colocação de um torniquete juncional apropriado, quando o Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG mesmo estiver disponível, ou com um curativo compressivo com gaze de material hemostático. Obs. Nessas áreas juncionais, o torniquete ou curativo compressivo, em geral não são funcionais. A melhor forma de intervenção é a compressão direta dos grandes vasos que se encontram na região proximal a a lesão. Em um atendimento pré-hospitalar, uma quantidade significativa de compressão direta sobre a artéria atingida - mais comumente a femoral, axilar e ilíaca. Essa intervenção costuma ser combinada com o uso de agentes hemostáticos e curativos compressivos aplicados externamente. Os pontos mais importantes do controle de sangramento nessa região é: grande quantidade de pressão direta e compressão nos vasos sanguíneos adjacentes a região; sobre a superfície aberta do ferimento deve ser colocado um curativo compressivo direto, idealmente com um agente hemostático. Obs. Em pacientes que tiveram hemorragia juncional causada por ambutação traumática da extremidade inferior, recomenda-se o uso de uma cinta pélvica, a nível de joelho para cima, afim de controlar o sangramento. →Controle da hemorragia externa Está é uma etapa da avaliação primária porque, caso o sangramento grave não seja controlado assim que possível, o potencial para a morte do paciente aumenta da maneira drástica. As hemorragias externas podem ser de três tipos: Capilar: mais artificial; causado por lesões que acarretaram em sua abertura, logo abaixo da superfície da pele. Ele não costuma ameaçar a vida e pode ter reduzido, ou até mesmo cessado, antes da chegada dos socorristas. Venoso: é causado por laceração ou outra slesão em uma veia, o que dá a característica de um fluxo constante de sangue vermelho escuro pela ferida. Esse tipo de sangramento costuma ser controlado para compressão direta, ele também não costuma ameaçar a vida, a menos que seja prolongado ou haja o envolvimento de uma veia de grosso calibre. Arterial: causado por uma lesão que lacerou a artéria. É a forma mais significativa de perda de sangue, com prioridade no controle. É caracterizado por sangue cor vermelho vivo sendo “jorrado”; contudo, ele pode se apresentar como um sangue vermelho vivo que “derrama” rapidamente de um ferimento - em casos de lesão de artéria profunda. O ponto é: a correção é primordial e a avaliçaõa primária não deve prosseguir sem o controle da hemorragia externa. As formas de controle são: Compressão direta: aplica-se uma pressão no local do sangramento. Isso é realizando colocando-se um curativo - de preferência, gaze hemostática - diretamente sbre o local do sangramento e aplicado pressão, de maneira precisa e focal. Um dedo sobre uma artéria visível é efetivo. A compressão deve ser aplicada de maneira contínua por 3 minutos, com gaze hemostática, e por 10 minutos se for usada gaze simples. Os socorristas devem evitar remover a compressão para verificar sem o sangramento contínua antes do período de tempo indicado, além disso, o profissional deve estar exclusivamente empenhado na compressão, impedindo-o de checar os outros sinais; dessa forma, se ele for o único em cena, deve-se aplicar um curativo compressivo. Há vários modelos (bandagem, israelense) ou pode-se emendar um. Se sangramento não for parado, não importa a quantidade de líquido ou oxigénio que o paciente receba. Torniquete: eram, antigamente, considerados como última técnica de uso. Atualmente, eles são primordiais no controle efetivo de da hemorragia grave. A - manejo da via aérea e estabilização da coluna cervical Via aérea Após o manejo a hemorragia, a via aérea do paciente é rapidamente verificada para garantir que esteja aberta e limda - patente - e sem perigo de obstrução. Caso haja comprometimento, ela deve ser aberta e limpa através de, inicialmente, métodos manuais (elevação do mento no trauma ou tração da mandíbula no trauma), além de eliminado o sangue, substâncias corporais e corpos estranhos. Elevação do mento no trauma - manobra de Chin-Lift → Posicionar os dedos de uma das mãos do examinador sob o mento, que é suavemente tracionado para cima e para frente, enquanto o polegar da mesma mão deprime o lábio inferior, para abrir a boca; a outra mão do examinador é posicionada na região frontal para fixar a cabeça da vítima. Importante manter o pescoço em posição neutra, para evitar possíveis traumas secundários de coluna cervical. Tração da mandíbula no trauma -Manobra de Jaw-Thrust → Procedimento consiste na utilização das duas mãos do examinador, posicionando os dedos médios e indicadores no ângulo da mandíbula, projetando-a para frente, enquanto os polegares deprimem o lábio inferior, abrindo a boca e permitindo a pesquisa de corpos estranhos, próteses dentárias, sangramento, enfim, tudo que possa obstruir as vias aéreas superiores. Realiza-se pouco ou nenhum movimento da cervical, além de permitir a visualização da cavidade. Por fim, à medida que equipamentos e o tempo ficam disponíveis, o manejo da via aérea pode avançar e incluir aspiração e meios mecânicos (cânula oral, cânula nasal e via aérea supraglítica...) Estabilização da coluna cervical Todos os pacientes em situação de trauma e com um mecanismo de lesão fechada são suspeitos de lesão espinhal até segundo momento, sendo os pacientes idosos ou cronicamente mais debilitados, mais suscetíveis a essas lesões. Dessa maneira, ao estabelecer uma via aérea aberta, deve-ser centrar as atenções a nível da coluna cervical. Os movimentos excessivos em qualquer direção poderiam produzir ou agravar um possível dano neurológico, pois pode haver compressão óssea da medula espinal na presença de uma fratura na coluna - a solução para isso é garantir que a cabeça e o pescoço do paciente sejam imobilizados/estabilizadosem posição neutra durante toda a avaliação, especialmente durante o manejo da via aérea. Uma vez estabilizada, se for preciso remover os dispositivos de imbolização espinal para reavaliar o paciente ou realizar alguma intervanção, a estabilização manual da cabeça e do pescoço é usada até que o paciente possa novamente ser colocado em imobilização. Essa estabilização, deve ser feita da seguinte forma: Capítulo 9 B - Respiração (ventilação e oxigenação) Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Após a abertura da via aérea, a próxima preocupação é a qualidade e a quantidade de respiração (ventilação) do paciente. Estas podem ser avaliada da seguinte forma: 1. Observar a movimentação torácica e verificar se o paciente está, voluntariamente, respirando, além de sentir o movimento feito pelo ar da boca ou pelo nariz. Se houver dúvida, auscultar ambos os lados do tórax para avaliar a movimentação espontânea. 2. Caso o paciente não esteja respirando - mesmo com a via aérea limpa (apneico), começar imediatamente as ventilações assistidas (mantendo a estabilização da coluna cervical) com um dispositivo de bolsa-vâlvula-máscara e oxigênio suplementar ANTES de continuar a avaliação. Continua-se as ventilações assistidas até preparar o paciente para inserção de uma cânula oral ou nasal (se não houver sinais de trauma facial) ou via aérea supreglótica (se não houver sinal de trauma orofaríngeo grave); seguir para a intubação. Obs. Se o paciente estiver respirando, estimar se estão adequadas a frequência e a profundidade das ventilações para determinar se o paciente está movendo ar o suficiente. Não deixar o paciente ficar hipóxico, mantendo uma saturação maior ou igual a 94%. Lembrar que se o paciente estiver consciente, deve-se escutá-lo falar para avaliar se conseguir dizer uma frase inteira sem dificuldades. O paciente pode estar com cinco frequências respiratórias: 1. Apneia: paciente não está respirando, pode estar em “Gasping”, que são movimentos respiratórios assincrônicos não efetivos, caracterizado por altas amplitudes de curta duração com períodos de apneias subsequentes, nas quais não ocorre efetiva troca de ar. 2. Lenta: abaixo de 10 ventilações/minuto (bradpneia) podem indicar lesão grave ou isquemia encefálica. 3. Normal: frequência ventilatória entre 10 a 20 respirações/minuto (eupneia) 4. Rápida: frequência ventilatória entre 20 a 30 respirações/minuto (taquipneia). Usualmente, o que causa a taquipneia é o maior acúmulo de dióxido de carbono no sangue ou a diminuição do nível de oxigênio no sangue (por hipóxia ou anemia), isso indica que não há oxigênio suficiente alcançando os tecidos corporais. 5. Extremamente rápida: frequência ventilatória maior que 30 respirações/minuto (taquipneia grave), indica situação de acidose. A busca pela causa deve começar imediatamente para definir se a etiologia é um problema ventilatório primário ou se é um problema na oferta de hemácias. As lesões que podem produzir comprometimento significativo são: pneumotórax hipertensivo, tórax instável com contusão pulmonar, hemotórax massimo e pneumotórax aberto. Após a identificação da causa, a intervenção deve ocorrer imediatamente para corrigir o problema. Naqueles pacientes que não seja possível identificar a frequência, o tórax deve ser exposto, observado e palpado. Depois, a ausculta pulmonar identificará ruidos respiratórios anormais, diminuídos ou ausentes. A descompressão com agulha deve ser realizada imediatamente se houver suspeita de pneumotórax hipertensivo. Na avaliação do estado ventilatório do paciente com trauma, deve-se avaliar a profundidade ventilatória, isso quer dizer que o paciente pode estar eupneico, mas apresentar uma profundidade ventilatória reduzida. C - circulação e sangramento (perfusão e hemorragia interna) A avaliação de comprometimento ou falha do sistema circulatório é a próxima etapa no cuidado do paciente com trauma. Após a avaliação subsequente da via aérea e condição respiratória, o socorrista pode obter uma estimatica geral adequada do débito cardíaco e da perfusão do paciente. Perfusão O estado circulatório do paciente pode ser determinado verificando-se os pulsos periféricos e avaliando-se a cor, a temperatura e a umidade da pele. As situações de baixa perfusão, choque, quase sempre de deve a hemorragia. Os possíveis locais de hemorragia, agora interna, massiva incluem o tórax, abdome, pelve, espaço retroperitoneal e as extremidades (principalmente a coxa). Se houver essa suspeita, os principais locais devem ser expostos para a rápida inspeção e palpação em busca de sinais de lesão. Esse tipo de hemorragia não é fácil de controlar fora do hospital, sendo objetivo agora entregar esse paciente, o mais rápido possível, para uma equipe apropriada. Pulso É avaliado quanto a presença, qualidade e regularidade. Uma avaliação rápida do pulso revela se o paciente tem taquicardia, bradicardia ou ritmo irregular. Na avaliação primária, a determinação de uma frequência de pulso exata não é necessária. Em vez disso, obtém-se rapidamente uma estimativa grosseira, sendo a frequência de pulso real obtida mais tarde no processo. Procura-se um pulso radial (pressão arterial sistólica de 80 mmHg), pulso femoral e pulso carotídeo. Pele Revela sobre o estado de circulação de um paciente quanto a: Cor - perfusão adequada produz coloração rosada da pele, sendo que a pele fica pálida quando o sangue é desviado para longe daquele local. A coloração pálida está associada à perfusão ruim. Tem-se ainda, a coloração azulada, que significa circulação, naquela região, de sangue desoxigenado. Deve-se estar atento para pacientes com pele escura, desviando o exame da pele para regiões dos lábios, gengivas ou pontas dos dedos. Temperatura - pele fria indica redução da perfusão, independente da causa. Deve ser avaliada com um simples toque ao paciente com o dorso da mão. A pele normal é morna. Condição - em circunstâncias normais, a pele costuma ser seca. Uma pela úmida e fria pode ocorrer em pacientes com má perfusão devido à estimulação simpática; contudo, deve-se levar em conta as condições ambientes ao avaliar os achados cutâneos. Um paciente Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG em ambiente quente ou úmido pode ter pele úmida incialmente, independente da gravidade da lesão. D - Incapacidade Essa é a etapa relativa a função cerebral, que na verdade é uma medida indireta da oxigenação cerebral. Essa avaliação começa com a determinação do nível de consciência do paciente. O socorrista deve supor que um paciente confuso, agressivo, combativo ou não cooperativo está hipóxico ou sofreu uma lesão cerebral traumática (LCT) até que se prove o contrário. Durante a avaliação, a história pode ajudar a determinar se o paciente perdeu a consciência em algum momento desde a ocorrência da lesão, se pode haver envolvimento de substância tóxicas e se paciente tem alguma condição preexistente que possa produzir uma redução do NC. Observação cuidadosa da cena pode fornecer informações valiosas sobre isso. Um NC reduzido alerta sobre as seguintes possibilidades: 1. Redução da oxigenação cerebral ou hipoventilação grave; 2. Lesão do sistema nervoso central; 3. Superdosagem de drogas ou álcool; 4. Desequilíbrios metabólicos. Nesse ponto da avaliação primária, é aplicado rapidamente a escala de coma de Glasgow - para efetivar o tempo, pesquisas recentes sugerem que o uso apenas do componente motor da escala, e, especificamente, se esse componente for menor que 6 (significando que o paciente não obedece a comandos), é tão preditivo de lesão grave quando o uso de toda a escala de coma de Glasgow. Dessa forma, quando melhor a resposta motora do paciente, melhor suas chances de sobrevida. O escore de Glasgow é a ferramente mais utilizada, sendo preferida em relação a classificação AVDI. O escore de Glasgow é dividido em três seções: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. O paciente recebe uma nota de acordo com a melhor resposta a cada componente. Sobre a respostamotora, a avaliação pode iniciar com um comando simples não ambíguo, como pedir ao paciente para levantar dois dedos ou fazer o sinal de certo com o polegar. Se o paciente não conseguir responder ao comando, deve-se usar um estímulo doloroso. Quando o paciente tenta afastar o estímulo doloroso, considera-se que ele localiza a dor ou sabe onde está doendo. Os escores podem ser: Máximo de 15 - paciente sem incapacidades; Abaixo de 3 - sinal ameaçador Menos de 8 - lesão importante Entre 9 e 12 - lesão moderada Entre 13 e 15 - lesão menor Embora a utilização da escala de coma esteja quase sempre presente na avaliação, há vários problemas que podem limitar sua utilizada no ambiente pré-hospitalar. Por exemplo, naqueles pacientes que forem entubados durante a avaliação da via aérea, podem ter um score diferente. Assim, ainda busca-se um sistema mais universal; contudo, confia-se hoje em dia na função motora da escala de Glosgow. Se o pacinte estiver desacordado, o profissional pode avaliar rapidamente a movimentação espontânea das extremidades, além das pupilas do paciente. E - Exposição/ ambiente Uma etapa inicial no processo é a remoção das roupas do paciente, pois a exposição é necessária para encontrar todas as lesões. Após a inspeção corporal total, o socorrista deve cobrir o paciente para conservar o calor corporal. Ressalta-se que não estamos falando de deixar o paciente nu, mas si expor o necessário. Além das questão de privacidade, a hipotermia é um problema grave entre pacientes com trauma. Após o paciente ter sido transferido para dentro da unidade aquecida, o exame completo pode ser feito. A quantidade de roupa que deve ser removida do paciente varia, dependendo das condições do paciente ou das lesões encontradas. Por exemplo, se o paciente tem estado mental normal e uma lesão isolada, apenas a área ao redor da lesão deve ser exposta. Os pacientes com um mecanismo de lesão grave ou com alteração no estado mental devem ser totalmente expostos para a avaliação. O profissional, nessas situações, não pode ter medo de remover as roupas, uma vez que seja julgado necessário para completar a avaliação e instaurar tratamento. Algumas vezes, os pacientes podem sofrer múltiplos mecanismos de lesão, como alguém que sofre um acidente automobilístico após levar um tiro. Deve-se tomar cuidado especial ao cortar e remover as roupas de uma vítima de crime de modo a não destruir inadvertidamente as evidências. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Etapa de reanimação: Outro passo importante na ressuscitação é a restauração do volume de infusão dentro do sistema cardiovascular o mais rápido possível. Esta etapa não envolve restaurar a pressão arterial ao normal, mas sim fornecer líquido suficienteou garantir que os órgãos vitais sejam infundidos. Uma vez que o sangue geralmente só está disponível no cenário pré-hospitalar em unidades e helicópteros de saúde crítica, a solução de lactato de ringer ou solução salina normal é mais comumente utilizada para reanimação de trauma. Além do sódio e do cloro, a solução de lactato Ringer contém pequenas quantidades de potássio, cálcio e lactato, tornandoo menos ácido que o soro fisiológico. No entanto, soluções cristalizadas, como lactato Ringer ou soro lógico normal, não substituem a capacidade de transporte de oxigênio de eritrócitos perdidos ou plaquetas perdidas que são necessárias para a coagulação e controle de sangramento. Como resultado, o transporte rápido de um paciente com ferimentos graves para uma instalação adequada é uma necessidade absoluta. A caminho da instalação receptora, se possível e o tempo permite, você pode colocar um ou dois cateteres de calibre 18 intravenosos (IV) nas veias abitais do paciente. Os prestadores de cuidados pré-hospitalares devem reconhecer o risco crescente de lesões por perfuração ao dar início a uma intravenosa em uma ambulância em movimento e devem tomar medidas para minimizar esse risco. Se as tentativas de acesso intravenoso não forem rapidamente bem sucedidas, você deve iniciar o acesso intra osseous (IO). O local no zumbido proximal permite taxas de fluxo de fluidos mais rápidas do que a tíbia proximal. 27 Em geral, as linhas iv centrais (subclavia, jugular interna ou femoral) não são adequadas para o manejo de campo de pacientes traumatizados. A quantidade adequada de fluido administrado depende do cenário clínico, especialmente se o sangramento do paciente foi controlado quando o fluido intravenoso foi iniciado, se o paciente está hipotensado ou se tem evidência de EEC. Um estudo recente sugere que o fluido intravenoso pré-hospitalar é benéfico para pacientes com hipotensão, mas pode ser prejudicial para aqueles que não estão em uma hipotensão. Iniciar uma linha intravenosa na cena só prolonga o tempo no local e atrasa o transporte. Como observado acima, o tratamento definitivo para o paciente traumatizado com hemorragia interna ou perda significativa de sangue só pode ser alcançado no hospital. Por exemplo, um paciente com uma lesão no baço que perde 50 mililitros de sangue por minuto continuará a sangrar à taxa do baço por cada minuto adicional que sua chegada na sala de cirurgia(SO) ou área de angiografia continuará. Iniciar linhas IV no local em vez de transportar rápido não só aumentará a perda de sangue, mas também poderá reduzir a chance de sobrevivência do paciente. Há exceções, como armadilha, quando um paciente não pode se mover imediatamente. A hemorragia externa deve ser monitorada antes de iniciar o fluido intravenoso. A administração agressiva dos fluidos intravenosos deve ser evitada, pois pode "quebrar coágulos" e levar a mais sangramento, aumentando apressão arterial, diluindo plaquetas e fatores de coagulação. Mais importante, a substituição contínua do volume não substitui o controle manual da hemorragia externa e o início do transporte de hemorragia interna. FONTE: PHTLS - 9ª edição (2018) Conceito de hemorragia em trauma A hemorragia consiste em qualquer perda de sangue devido ao rompimento de um vaso sanguíneo. Em geral, pode-se dizer que há hemorragia quando há perda excessiva de sangue. Pequenos ferimentos podem causar uma pequena perda de sangue. O organismo possui mecanismos, que atuam rapidamente, para evitar essa perda. Por isso, os pequenos ferimentos param de sangrar em poucos minutos. As causas mais frequentes são: acidentes, cirurgias, hemorragias no tubo gastrointestinal, especialmente por úlcera péptica ou ruptura de varizes esofagianas, e hemorragia genital. A hemorragia aguda é uma emergência que exige intervenção imediata para cessá-la e repor, por meio de transfusões, o plasma e as hemácias perdidos, para evitar o choque hipovolêmico. Período evolutivos - perda de sangue aguda: Nas primeiras horas após a hemorragia, a dosagem de hemoglobina ou o hematócrito não refletem o volume de sangue perdido, pois há perda proporcional de plasma e de hemácias. A avaliação da gravidade da anemia deve ser feita com base em sinais clínicos, como frequência cardíaca, pressão arterial, palidez cutaneomucosa, sudorese e temperatura das extremidades, estado de consciência e fluxo urinário. Após a hemorragia, mecanismos hormonais (renina- aldosterona, hormônio antidiurético) provocam retenção de água e de eletrólitos, recompondo o volume circulante. Só então ocorre diluição das hemácias, e a dosagem de hemoglobina (ou o hematócrito) diminui progressivamente para estabilizar-se em novo nível 48 a 72 horas depois do episódio de hemorragia. Como consequência da hipóxia renal, há aumento da eritropoetina, que estimula a medula óssea a aumentar sua produção nos dias subsequentes, até que a hemoglobina retorne aos níveis anteriores. No período de produção acelerada, a partir do 3º ao 5º dia, ocorre elevação do número de reticulócitos. A síntese da hemoglobina para repor o sangue perdido é feita à custa de mobilização do ferro dos depósitos; para 100 mL de hemácias produzidas o organismo utiliza cerca de100 mg de ferro dos depósitos. Se a hemorragia não for tão intensa que cause choque hipovolêmico, o organismo recompõe o sangue perdido em duas a três semanas após a hemorragia. No entanto, em pacientes previamente anêmicos, ou em portadores de doenças crônicas ou de deficiências subclínicas de ferro ou folato, a perda hemorrágica pode não ser pronta ou completamente reposta, marcando o ponto inicial de instalação ou de exteriorização clínica de um processo de anemia crônica. Um dos critérios usados para classificar as hemorragias é dividi-las em quatro classes, de acordo com o volume de sangue perdido. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Sintomas O mecanismo compensatório do sistema circulatório à perda aguda de sangue é uma vasoconstrição generalizada para tentar manter o fluxo sanguíneo para órgãos importantes como rins, coração e cérebro. A taquicardia tenta manter o débito cardíaco e costuma ser o primeiro sinal de um choque hipovolêmico. A pessoa vai ficando pálida, com o coração disparado, pulso fino e difícil de palpar. Pessoas com perdas sanguíneas importantes e que demoram a receber socorro médico podem ter isquemias temporárias dos tecidos, com a liberação de substâncias típicas do metabolismo anaeróbico. Não sendo revertido o processo, finalmente ocorre a morte. sistólica e dificuldade para perceber-se a pulsação. O débito urinário estará próximo a zero. Perda total da consciência. Hemorragia interna A hemorragia interna ocorre sem que a pele seja rompida. Logo, o sangue que sai dos vasos sanguíneos não pode ser visto. Ela pode ser provocada pela lesão de algum órgão interno. Normalmente, esse tipo de hemorragia se dá (se o motivo não for por doenças especiais) imediatamente após acidentes violentos, nos quais o corpo suporta pressões muito fortes, como: colisões; soterramentos; quedas; ferimento por projétil de arma de fogo; acidentes automobilísticos. Os sintomas e os sinais dessa hemorragia demoram mais a aparecer, ao contrário da hemorragia externa, que é logo percebida. Em casos como esse, em que não é possível perceber qualquer lesão na vítima, o socorrista deve apenas acompanhá-la atentamente até a chegada de uma equipe especializada, pois não terá como ajudar. Uma situação de hemorragia interna pode levar o acidentado rapidamente ao estado de choque. Os principais sinais de uma hemorragia interna são: pulso com batimento anormal (fraco ou acelerado); pele fria; sudorese abundante; palidez intensa; tonturas; eliminação de sangue pela boca (junto com vômito ou saliva), nas fezes e na urina; sede; inconsciência Hemorragia externa Nesse tipo de hemorragia, o sangue que sai dos vasos extravasa a pele e, assim, pode ser visto. Na maioria dos casos, deve ser interrompido em um período de 5 a 10 minutos, aplicando-se os procedimentos corretos de primeiros socorros. Entretanto, em casos de lesões muito graves (como uma fratura exposta em um membro), o estancamento da hemorragia é mais complicado e só é possível com atendimento médico especializado. Há três tipos principais de hemorragia externa, de acordo com o tipo de vaso sanguíneo rompido (artéria, veia ou capilar). Como é possível reconhecer qual vaso foi rompido? Quando o sangue é vermelho vivo, claro (com bastante oxigênio) e flui em jatos rápidos e fortes, é sinal de que uma artéria foi rompida. Esse é um caso mais grave, pois perde-se uma grande quantidade de sangue e são necessários procedimentos para estancamentos urgentes. Quando o sangue é escuro, quase roxo (com pouco oxigênio) e flui de forma lenta e contínua, com uma intensidade geralmente menor, é sinal de que uma veia foi rompida. Normalmente, é um caso de hemorragia menos grave, e uma simples compressão no local do ferimento resolve a perda de sangue; porém a demora no estancamento do sangue pode ocasionar sérias complicações. No último caso, quando ocorre o rompimento de um capilar, há pouca perda de sangue. Isso porque os capilares são pequenos vasos sanguíneos. Mecanismos hemorrágicos - formação e dissolução de coágulo Coagulação refere-se ao processo que leva à formação de fibrina. Hemostasia refere-se à coagulação fisiológica que ocorre em resposta ao dano vascular. Trombose é o processo de coagulação patológica com formação de um coágulo localizado, que pode chegar a ocluir o vaso. Fibrinólise refere- se ao processo de dissolução do coágulo e atua sobre a fibrina formada. Como dito anteriormente, o termo homeostasia significa prevenção de perda sanguínea. Sempre que um vaso é seccionado ou rompido, é provocada hemostasia por meio de diversos mecanismos: (1) constrição vascular; (2) formação de tampão plaquetário; (3) formação de coágulo sanguíneo, como resultado da coagulação do sangue; e (4) eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo para o fechamento permanente no orifício do vaso. O desafio relativo a manutenção da homeostasia pela laceração de vasos é ainda mais complicado pelo fato de que o sangue no sistema está sob pressão. Se o “remendo” do reparo for muito fraco, ele é rompido pela pressão sanguínea. Por essa razão, interromper a perda de sangue envolve diversos passos. Primeiro, a pressão no vaso deve ser diminuída por tempo suficiente para criar um tampão mecânico seguro na forma de um coágulo de sangue. Uma vez que o coágulo está no lugar e a perda de sangue foi interrompida, os mecanismos de reparo do corpo podem assumir o controle. Então, enquanto a ferida é reparada, as enzimas gradualmente dissolvem o coágulo enquanto leucócitos fagocíticos ingerem e destroem os detritos. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG A hemostasia é o processo de manter o sangue dentro de um vaso sanguíneo danificado (FIG. 16.8). (O oposto de hemostasia é hemorragia.) A hemostasia possui três passos principais: Vasoconstrição, Bloqueio temporário por tampão plaquetário Coagulação, a formação de um coágulo que sela o ori- fício até que o tecido seja reparado. O primeiro passo na hemostasia é a constrição imediata dos vasos danificados, a fim de reduzir o fluxo sanguíneo e a pressão no vaso temporariamente. Se você aplicar pressão sobre um ferimento que está sangrando, você também diminuirá o fluxo dentro do vaso danificado. A vasoconstrição normalmente é causada por moléculas parácrinas liberadas do endotélio. A vasoconstrição é rapidamente seguida pelo segundo passo, o bloqueio mecânico do orifício por um tampão plaquetário solto. A formação do tampão inicia com a adesão plaquetária, quando as plaquetas aderem ou são expostas ao colágeno na área danificada. As plaquetas aderidas tornam-se ativas, liberando citocinas na área ao redor da lesão. Esses fatores plaquetários reforçam a vasoconstrição local e ativam mais plaquetas, que se agregam ou se ligam umas às outras para formar um tampão plaquetário solto. As plaquetas ativando mais plaquetas são um exemplo de alça de retroalimentação positiva (p. 16). Simultaneamente, o colágeno exposto e o fator tecidual (uma mistura de proteínas e fosfolipídeos) inicia o terceiro pas- so, a formação de uma rede de proteína fibrina, que estabiliza o tampão plaquetário para formar um coágulo. A fibrina é o produto final de uma série de reações enzimáticas, denominada cascata da coagulação. Alguns fatores químicos envolvidos na cascata da coagulação também promovem a adesão e a agregação plaquetária na região danificada. Por fim, quando o vaso danifi- cado é reparado, o coágulo retrai quando a fibrina é lentamente dissolvida pela enzima plasmina. Coagulação: É um dos mecanismos responsáveis pela mecanismo de homeostasia. Ele começa a ser formado entre 15 a 20 segundos após o trauma a parede vascular, principalmente se o mesmo for grave, e entre 1 a 2 minutos se ele for pequeno. Substâncias ativadoras da coagulação são produzidas pela parede vascular que foi traumatizada +plaquetas + proteínas sanguíneas, que aderem à parede vascular traumatizada e iniciam o processo de coagulação. Cerca de 3 a 6 minutos, após a ruptura do vaso, toda a abertura oua extremidade aberta do vaso é ocupada pelo coágulo se a abertura não for muito grande. Após período de 20 minutos a 1 hora, o coágulo se retrai, o que fecha ainda mais o vaso. Organização fibrosa ou dissolução do coágulo sanguíneo: Assim que o coágulo se forma ele pode seguir um entre dois cursos: (1) pode ser invadido por fibroblastos, subsequentemente, formando tecido conjuntivo por todo o coágulo; ou (2) pode se dissolver. O curso usual para o coágulo formado em pequeno orifício do vaso é a invasão por fibroblastos, começando algumas horas após a formação do coágulo (que é promovida, pelo menos em parte, pelo fator de crescimento liberado pelas plaquetas). Essa invasão continua até a completa organização do coágulo, em tecido fibroso, no período de aproximadamente 1 a 2 semanas. De modo inverso, quando quantidade excessiva de sangue vazou para os tecidos e os coágulos teciduais ocorreram onde não eram necessários, substâncias especiais no interior do próprio coágulo são usualmente ativadas. Essas substâncias atuam como enzimas para a dissolução do coágulo. Mecanismo de coagulação sanguínea Mecanismo geral Mais de 50 substâncias importantes que causam ou afetam a coagulação do sangue foram encontradas no sangue e nos tecidos — algumas que promovem a coagulação, chamadas procoagulantes, e outras que inibem a coagulação, chamadas anticoagulantes. A coagulação ou a não coagulação do sangue depende do balanço entre esses dois grupos de substâncias. Na corrente sanguínea normalmente predominam os anticoagulantes, de modo que o sangue não coagula enquanto está circulando pelos vasos sanguíneos. Entretanto, quando o vaso é rompido, procoagulantes da área da lesão tecidual são “ativados” e predominam sobre os anticoagulantes, com o consequente desenvolvimento de coágulo. A coagulação ocorre em três etapas essenciais: 1. Em resposta à ruptura do vaso ou a problemas relacionados ao próprio sangue, ocorre no sangue complexa cascata de reações químicas, com participação de mais de uma dúzia de fatores de coagulação sanguínea. O resultado efetivo é a formação do complexo de substâncias ativadas, chamado ativador da protrombina. 2. O ativador da protrombina catalisa a conversão da protrombina em trombina. 3. A trombina atua como uma enzima, convertendo o fibrinogênio em fibras de fibrina, formando emaranhado de plaquetas, células sanguíneas e plasma para formar o coágulo. Discutiremos inicialmente o mecanismo pelo qual o coágulo sanguíneo se forma, começando com a conversão da protrombina em trombina, e a seguir voltaremos para os estágios desencadeadores do processo de coagulação, pelo qual é formado o ativador da protrombina. Conversão de protrombina em trombina Primeiro, o ativador da protrombina é formado como resultado da ruptura de vaso sanguíneo ou da liberação de substâncias especiais no sangue. Segundo, o ativador da protrombina, em presença de quantidade suficiente de cálcio iônico (Ca ++), causa a conversão da protrombina em trombina (Figura 37-2). Terceiro, a trombina provoca a polimerização das moléculas de fibrinogênio em fibras de Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG fibrina, em 10 a 15 segundos. Assim, o fator limitador da coagulação sanguínea é usualmente a formação do ativador da protrombina e não as reações subsequentes além desse ponto, pois essas etapas terminais normalmente ocorrem, com muita rapidez, para formar o coágulo. As plaquetas têm também papel importante na conversão da protrombina em trombina, pois grande parte da protrombina se fixa, inicialmente, nos receptores de protrombina, nas plaquetas já ligadas ao tecido lesado. Protrombina e Trombina A protrombina é proteína plasmática, uma alfa 2-globulina, com peso molecular de 68.700, presente no plasma normal na concentração de cerca de 15 mg/dL. Ela é proteína instável que pode se dividir facilmente em compostos menores, um dos quais sendo a trombina, com peso molecular de 33.700, quase a metade do peso da protrombina. A protrombina é continuamente formada no fígado, e é utilizada de forma também contínua em todo o corpo para a coagulação sanguínea. Se o fígado deixa de produzir a protrombina, dentro de 1 dia a concentração plasmática de protrombina cai a ponto de não ser suficiente para produzir a coagulação normal do sangue. A vitamina K é requerida pelo fígado para a ativação normal da protrombina, bem como para a formação de alguns outros fatores de coagulação. Desse modo, a falta de vitamina K e a presença de doença hepática que impeça a formação normal de protrombina podem diminuir o nível de protrombina a valores tão baixos que provoque em aumento da tendência ao sangramento. Conversão do fibrinogênio em fibrina - formação do coágulo O Fibrinogênio Formado no Fígado é Essencial para a Formação do Coágulo O fibrinogênio é proteína de alto peso molecular (peso molecular = 340.000) que ocorre no plasma na concentração de 100 a 700 mg/dL. O fibrinogênio é formado no fígado, e doença hepática pode diminuir a concentração do fibrinogênio circulante, bem como a concentração de protrombina, antes destacada. Devido a sua grande dimensão molecular, pouca quantidade de fibrinogênio normalmente sai dos vasos sanguíneos para os líquidos intersticiais e, como o fibrinogênio é um dos fatores essenciais do processo de coagulação, os líquidos intersticiais não coagulam. Além disso, quando a permeabilidade dos capilares está patologicamente elevada, o fibrinogênio vaza em quantidade suficiente para os líquidos teciduais permitindo a coagulação desses líquidos, da mesma forma como o plasma e o sangue total podem coagular. Ação da Trombina sobre o Fibrinogênio para Formar Fibrina. A trombina é enzima proteica com fracas capacidades proteolíticas. Ela atua sobre o fibrinogênio, removendo quatro peptídeos de baixo peso molecular de cada molécula de fibrinogênio, formando molécula de monômero de fibrina, com capacidade automática de se polimerizar com outros monômeros de fibrina para formar fibras de fibrina. Portanto, muitas moléculas de monômero de fibras se polimerizam em questão de segundos, em longas fibras de fibrina que constituem o retículo do coágulo sanguíneo. Nos estágios iniciais da polimerização, os monômeros de fibrina são mantidos unidos por fraca ligação de hidrogênio não covalente, e as fibras recém-formadas não têm ligações cruzadas entre si; por conseguinte, o coágulo resultante é fraco e pode se romper com facilidade. Entretanto, nos próximos segundos ocorre outro processo que fortalece enormemente o retículo de fibrina. Esse processo envolve a substância chamada fator estabilizador de fibrina, presente em pequena quantidade nas globulinas normais do plasma, mas que é liberada também pelas plaquetas retidas no coágulo. Antes de o fator estabilizador de fibrina ter efeito sobre as fibras de fibrina, ele deve ser ativado. A mesma trombina que causa a formação de fibrina também ativa o fator estabilizador da fibrina. Essa substância ativada atua como enzima para criar ligações covalentes entre número crescente de monômeros de fibrina, bem como ligações cruzadas entre as fibras adjacentes de fibrina, aumentando muito a força tridimensional da malha de fibrina. Coágulo Sanguíneo. O coágulo é composto por malha de fibras de fibrinas que cursam em todas as direções e que retêm células sanguíneas, plaquetas e plasma. As fibras de fibrina também aderem às superfícies lesadas dos vasos sanguíneos; desse modo, o coágulo sanguíneo fica aderido a qualquer abertura vascular, impedindo a continuação da perda de sangue. Retração do Coágulo e Expressão de Soro. Alguns minutos após a formação do coágulo, ele começa a se contrair e usualmente expele grande parte do líquido do coágulo em 20 a 60 minutos. O líquido eliminado é chamado soro porque todo o fibrinogênio e a maioria dos outros fatores de coagulação foi removida; dessa forma, o soro difere do plasma. O soro não pode coagular por não conter esses fatores. As plaquetas são necessárias para a retração do coágulo. Assim, falha na retração docoágulo indica que o número de plaquetas no sangue circulante deve estar baixo. Micrografias eletrônicas das plaquetas nos coágulos sanguíneos demonstram que elas se prendem às fibras de fibrinas de tal modo que, na verdade, elas ligam fibras diferentes. Ainda mais, as plaquetas retidas no coágulo continuam a liberar substâncias procoagulantes, sendo uma das mais importantes o fator estabilizador da fibrina que cria mais ligações cruzadas entre as fibras de fibrina adjacentes. Além disso, as plaquetas Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG contribuem diretamente para a contração do coágulo pela ativação da trombostenina da actina e da miosina plaquetárias, que são proteínas contráteis causadoras de forte contração das espículas plaquetárias presas à fibrina. Esse efeito também auxilia a compressão da malha de fibrina até o volume menor. A contração é ativada e acelerada por trombina e íons cálcio, liberados dos reservatórios de cálcio nas mitocôndrias, no retículo endoplasmático e no complexo de Golgi das plaquetas. Com a retração do coágulo, as bordas da abertura do vaso sanguíneo são tracionadas, contribuindo ainda mais para a hemostasia. Feedback positivo de formação do coágulo Assim que o coágulo sanguíneo começa a se formar, ele normalmente se estende, em questão de minutos, para o sangue ao seu redor, ou seja, o coágulo, por si só, desencadeia ciclo vicioso (feedback positivo) para promover mais coagulação. Uma das causas mais importantes dessa promoção do coágulo é que a ação proteolítica da trombina permitir que ela atue sobre vários dos outros fatores da coagulação além do fibrinogênio. Por exemplo, a trombina tem efeito proteolítico direto sobre a própria protrombina, tendendo a convertê-la em mais trombina, e isso atua sobre alguns dos fatores da coagulação responsáveis pela formação do ativador da protrombina. (Esses efeitos, discutidos nos parágrafos a seguir, incluem a aceleração das ações dos Fatores VIII, IX, X, XI e XII e a agregação plaquetária.) Assim que quantidade crítica de trombina é formada, o feedback positivo se desenvolve, causando coagulação sanguínea ainda maior e maior formação de trombina; consequentemente, o coágulo sanguíneo continua a crescer até que o vazamento de sangue seja interrompido. Iniciação da coagulação: formação do ativador da protrombina Agora que discutimos o processo de coagulação propriamente dito, devemos nos concentrar nos mecanismos mais complexos que iniciam a coagulação. Esses mecanismos são desencadeados por (1) trauma da parede vascular e dos tecidos adjacentes; (2) trauma ao sangue; ou (3) contato do sangue com as células endoteliais lesionadas ou com colágeno e outros elementos teciduais por fora do vaso sanguíneo. Cada um desses casos leva à formação do ativador da protrombina, que, por sua vez, provoca a conversão da protrombina em trombina e todas as etapas subsequentes da coagulação. Considera-se, em geral, que o ativador da protrombina seja formado por duas vias, mas na realidade essas duas vias interagem constantemente entre si: (1) pela via extrínseca que começa com o trauma da parede vascular e dos tecidos vizinhos; e (2) pela via intrínseca que começa no sangue. Tanto na via extrínseca quanto na via intrínseca, série de diferentes proteínas plasmáticas, chamadas fatores da coagulação sanguínea, tem papel primordial. Em sua maioria, esses fatores são formas inativas de enzimas proteolíticas. Quando convertidas a suas formas ativas, suas ações enzimáticas causam as sucessivas reações em cascata do processo da coagulação. Grande parte dos fatores da coagulação, enumerados na Tabela 37-1, é designada por algarismos romanos. Para indicar a forma ativada do fator, uma letra minúscula “a” é acrescentada ao algarismo romano, como o Fator VIIIa, para indicar o estado ativado do Fator VIII. Via comum A formação de protrombinase marca o começo da via comum. No segundo estágio da coagulação do sangue (Figura 19.11C), a protrombinase e o Ca2+ catalisam a conversão da protrombina em trombina. No terceiro estágio, a trombina, na presença de Ca2+, converte fibrinogênio, que é solúvel, em filamentos de fibrina frouxos, que são insolúveis. A trombina também ativa o fator XIII (fator estabilizador da fibrina), que fortalece e estabiliza os filamentos de fibrina em um coágulo forte. O plasma contém um pouco de fator XIII, que também é liberado pelas plaquetas presas no coágulo. A trombina exerce dois efeitos de feedback positivo. Na primeira alça de feedback positivo, que envolve o fator V, acelera a formação de protrombinase. A protrombinase, por sua vez, acelera a produção de mais trombina e assim por diante. Na segunda alça de feedback positivo, a trombina ativa plaquetas, que reforçam sua agregação e a liberação dos fosfolipídios plaquetários. Via Extrínseca para a Iniciação da Coagulação A via extrínseca para o desencadeamento da formação do ativador da protrombina começa com o trauma da parede vascular ou com o trauma dos tecidos extravasculares que entram em contato com o sangue. Essa condição leva às seguintes etapas, mostradas na Figura 37-3: 1. Liberação do fator tecidual. O tecido traumatizado libera complexo de diversos fatores, chamado fator tecidual ou tromboplastina tecidual. Esse fator é composto, de modo especial, por fosfolipídeos das membranas dos tecidos mais complexo lipoproteico que atua, principalmente, como enzima proteolítica. 2. Ativação do Fator X — papel do Fator VII e do fator tecidual. O complexo lipoproteico do fator tecidual se combina com o Fator VII da coagulação sanguínea e, em presença de íons cálcio, atua enzimaticamente sobre o Fator X para formar o Fator X ativado (Xa). 3. Efeito do Fator X ativado (Xa) para formar o ativador da protrombina — o papel do Fator V. O Fator X ativado se combina, imediatamente, com os fosfolipídeos teciduais que fazem parte dos fatores teciduais, ou com fosfolipídeos adicionais, liberados pelas plaquetas, além de com o Fator V, para formar o complexo chamado ativador da protrombina. Em alguns segundos, em presença de Ca ++, a protrombina divide-se para formar a trombina, e o processo de coagulação prossegue do modo já explicado. De início, o Fator V no complexo ativador da protrombina está inativo, mas assim que o processo de coagulação se inicia e a trombina começa a se formar a ação proteolítica da trombina ativa o Fator V. Essa ativação passa a ser potente acelerador adicional da ativação da protrombina. Consequentemente, no complexo ativador da protrombina final, o Fator X ativado é a verdadeira protease causadora da clivagem da protrombina para a formação da trombina: o Fator V ativado acelera enormemente essa atividade de protease, e os fosfolipídeos das plaquetas atuam como veículo que acelera ainda mais o processo. Note especialmente que o efeito de feedback positivo da trombina, atuando sobre o Fator V, acelera todo o processo depois de seu desencadeamento. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Via Intrínseca para a Iniciação da Coagulação O segundo mecanismo para o desencadeamento da formação do ativador da protrombina e, portanto, para o início da coagulação, começa com o trauma ao próprio sangue ou a exposição do sangue ao colágeno da parede vascular traumatizada. A seguir, o processo continua por série de reações em cascata, mostrado na Figura 37-4. 1. O trauma sanguíneo causa (1) ativação do Fator XII; e (2) liberação dos fosfolipídeos das plaquetas. O trauma ao sangue ou a exposição do sangue ao colágeno da parede vascular altera dois importantes fatores da coagulação do sangue: o Fator XII e as plaquetas. Quando o Fator XII é afetado, tal como ao entrar em contato com o colágeno ou com superfície molhável, como o vidro, ele assume nova configuração molecular que o converte na enzima proteolítica chamada “Fator XII ativado”. Simultaneamente, o trauma sanguíneo também lesa as plaquetas, devido à sua aderência ao colágeno ou à superfície molhável (ou por outros tipos de lesão), acarretando a liberação de fosfolipídeos plaquetáriosque contêm a lipoproteína chamada fator plaquetário 3 que também tem participação nas reações de coagulação subsequentes. 2. Ativação do Fator XI. O Fator XII ativado atua enzimaticamente sobre o Fator XI ativando-o também, sendo essa a segunda etapa da via intrínseca. Essa reação também necessita do cininogênio de alto peso molecular (A APM) e é acelerada pela pré-calicreína. 3. Ativação do Fator IX pelo Fator XI ativado. O Fator XI ativado, então, atua enzimaticamente sobre o Fator IX para provocar sua ativação. 4. Ativação do Fator X — o papel do Fator VIII. O Fator IX, atuando em conjunto com o Fator VIII ativado e com os fosfolipídeos plaquetários e com o Fator III das plaquetas traumatizadas, ativa o Fator X. É claro que na falta do Fator VIII ou das plaquetas essa etapa é deficiente. O Fator VIII é o fator ausente na pessoa com hemofilia clássica, motivo pelo qual ele é chamado fator anti-hemofílico. As plaquetas constituem o fator ausente da coagulação na doença hemorrágica chamada trombocitopenia. 5. Ação do Fator X ativado na formação do ativador da protrombina — o papel do Fator V. Essa etapa, na via intrínseca, é a mesma etapa final da via extrínseca. Ou seja, o Fator X ativado se combina com o Fator V e com as plaquetas ou com fosfolipídeos teciduais para formar o complexo ativador da protrombina. O ativador da protrombina, por sua vez, desencadeia, em questão de segundos, a clivagem da protrombina para formar trombina, iniciando a etapa final do processo da coagulação descrito antes. Papel dos Íons Cálcio nas Vias Intrínseca e Extrínseca Exceto pelas duas primeiras etapas da via intrínseca, os íons cálcio são necessários para a promoção ou para a aceleração de todas as reações da coagulação sanguínea. Por consequência, na ausência de íons cálcio, a coagulação sanguínea não ocorre por qualquer das vias. No corpo vivo, a concentração de íons cálcio raramente cai até níveis significativos que afetem a cinética da coagulação sanguínea. Entretanto, quando o sangue é removido da pessoa, pode-se evitar sua coagulação pela redução dos níveis de íon cálcio, até valores abaixo do limiar para a coagulação pela desionização do cálcio, fazendo-o reagir com substâncias, como o íon citrato, ou pela precipitação do cálcio com o uso de substâncias, como o íon oxalato. Interação entre as Vias Extrínseca e Intrínseca — Resumo do Desencadeamento da Coagulação Sanguínea Está claro pelos esquemas dos sistemas intrínseco e extrínseco, que, após a ruptura do vaso sanguíneo, a coagulação ocorre de forma simultânea pelas duas vias ao mesmo tempo. O fator tecidual desencadeia a via extrínseca, enquanto o contato do Fator XII e das plaquetas com o colágeno na parede vascular desencadeia a via intrínseca. Diferença especialmente importante entre as vias extrínseca e intrínseca é que a via extrínseca pode ser explosiva; uma vez iniciada, sua velocidade até a formação do coágulo final só é limitada pela quantidade de fator tecidual liberado por tecidos traumatizados e quantidades dos Fatores X, VII e V no sangue. Com trauma tecidual grave, a coagulação pode ocorrer em 15 segundos. A via intrínseca prossegue muito mais lentamente, em geral, necessitando de 1 a 6 minutos para causar a coagulação. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Os Anticoagulantes Intravasculares Previnem a Coagulação Sanguínea no Sistema Vascular Normal Fatores da Superfície Endotelial. Provavelmente, os fatores mais importantes para a prevenção da coagulação no sistema vascular normal são: (1) a uniformidade (smoothness) da superfície das células endoteliais, impedindo a ativação por contato do sistema intrínseco da coagulação; (2) a camada do glicocálice do endotélio (glicocálice é mucopolissacarídeo adsorvido às superfícies das células endoteliais), que repele os fatores da coagulação e as plaquetas, impedindo assim a ativação da coagulação; e (3) a proteína ligada à membrana endotelial, trombomodulina, que liga a trombina. A ligação da trombina com a trombomodulina não apenas lentifica o processo de coagulação pela remoção da trombina, mas também o complexo trombomodulina-trombina ativa a proteína plasmática, a proteína C, que atua como anticoagulante ao inativar os Fatores V e VIII ativados. Quando a parede endotelial é lesada, sua uniformidade e sua camada de glicocálice-trombomodulina são perdidas, ativando o Fator XII e as plaquetas, iniciando assim a via intrínseca da coagulação. Se o Fator XII e as plaquetas entram em contato com o colágeno subendotelial, a ativação é ainda mais intensa. Ação Antitrombina da Fibrina e da Antitrombina III. Entre os mais importantes anticoagulantes presentes no sangue, encontram-se os que removem as trombinas do organismo. Os mais potentes desses agentes de remoção são (1) as fibras de fibrina, formadas durante o processo de coagulação; e (2) a alfaglobulina, chamada antitrombina III ou cofator antitrombina-heparina. Enquanto o coágulo está sendo formado, aproximadamente 85 a 90% da trombina formada pela protrombina ficam adsorvidos às fibras de fibrina que estão se desenvolvendo. Essa adsorção ajuda a impedir a disseminação da trombina para o restante do sangue e, portanto, previne o crescimento excessivo do coágulo. A trombina, que não é adsorvida nas fibras de fibrina, logo se combina com a antitrombina III que bloqueia ainda mais o efeito da trombina sobre o fibrinogênio, além de também inativar a própria trombina durante os próximos 12 a 20 minutos. Heparina. A heparina é outro potente anticoagulante, mas porque a sua concentração no sangue normalmente é baixa, exerce efeitos anticoagulantes significativos apenas em condições fisiológicas especiais. Entretanto, a heparina é muito utilizada como agente farmacológico, na prática médica, em concentrações muito mais elevadas para a prevenção da coagulação intravascular. A heparina é polissacarídeo conjugado com forte carga negativa. Por si própria, tem pouca ou nenhuma propriedade anticoagulante, mas quando se combina com a antitrombina III a eficácia da antitrombina para a remoção de trombina aumenta por 100 a 1.000 vezes e, dessa forma, ela atua como anticoagulante. Assim, em presença de heparina em excesso, a remoção da trombina livre do sangue circulante pela antitrombina III é quase instantânea. O complexo heparina- antitrombina III remove vários outros fatores ativados da coagulação além da trombina, elevando ainda mais a eficácia da anticoagulação. Os outros fatores incluem os Fatores XII, XI, X e IX ativados. A heparina é produzida por várias células diferentes do corpo, mas as maiores quantidades são formadas pelos mastócitos basofílicos localizados no tecido conjuntivo pericapilar de todo o corpo. Essas células secretam continuamente pequena quantidade de heparina que se difunde para o sistema circulatório. Os basófilos do sangue, que são funcionalmente quase idênticos aos mastócitos, liberam pequena quantidade de heparina no plasma. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Os mastócitos são abundantes nos tecidos que circundam os capilares dos pulmões, e, em menor grau, os capilares do fígado. É fácil compreender por que grandes quantidades de heparina são necessárias nessas áreas, pois os capilares dos pulmões e do fígado recebem muitos coágulos embólicos formados lentamente no sangue venoso; a formação de quantidade suficiente de heparina impede o crescimento mais acentuado desses coágulos. A plasmina provoca a lise de coágulos sanguíneos As proteínas do plasma contêm uma euglobulina, chamada plasminogênio (ou pró-fibrinolisina) que quando ativada se transforma na substância chamada plasmina (ou fibrinolisina). A plasmina é enzima proteolítica semelhante à tripsina, a enzima digestiva proteolítica mais importante da secreção pancreática. A plasmina digere as fibras de fibrina e algumas outras proteínas coagulantes, como o fibrinogênio, o Fator V, o Fator VIII, a protrombina e o Fator XII. Assim, sempre que a plasmina é formada, ela pode ocasionar a lise do coágulo, pela destruição de muitosdos fatores da coagulação, podendo, algumas vezes, causar a hipocoagulabilidade do sangue. Ativação do Plasminogênio para Formar a Plasmina e, em Seguida, a Lise dos Coágulos. Quando o coágulo é formado, grande quantidade de plasminogênio fica retida no coágulo junto com outras proteínas do plasma. O plasminogênio não vai se transformar em plasmina ou causar lise do coágulo até que seja ativado. Os tecidos lesados e o endotélio vascular liberam lentamente ativador potente, chamado ativador do plasminogênio tecidual (AP-t); alguns dias mais tarde, depois que o coágulo interrompeu o sangramento, o AP-t eventualmente converte o plasminogênio em plasmina, que, por sua vez, remove os restos inúteis do coágulo sanguíneo. De fato, muitos pequenos vasos sanguíneos, nos quais o fluxo sanguíneo fica bloqueado por coágulos, são reabertos por esse mecanismo. Consequentemente, função sobretudo importante do sistema da plasmina é a de remover diminutos coágulos de milhões de diminutos vasos periféricos, que, talvez, ficariam ocluídos em locais onde não existiria outra possibilidade de desobstrução. FONTE: Fisiologia de Guyton Choque e seus tipos O choque é um estado de alteração na função celular de metabolismo aeróbico para metabolismo anaeróbico devido a hipoperfusão das células teciduais. Como resultado, a oferta de oxigênio em nível celular é inadequada para satisfazer as necessidades metabólicas do organismo (necessidades de energia). Ou seja, choque é uma há perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas. As manifestações sistêmicas são: pressão arterial baixa, frequência de pulso rápida ou pele fria e pegajosa. Os principais componentes envolvidos na perfusão das células teciduais são o coração (agindo como bomba ou motor do sistema), o volume do liquído (agindo como fluido), os vasos sanguíneos (servindo como os condutores ou encanamentos, e por fim, as células do organismo. Dessa forma, o choque pode ser classificado como: Hipovolêmico: é relacionado a perda de células sanguíneas e de volume com capacidade de transportar oxigênio. É a causa mais comum do paciente com trauma. Distribuitivo (ou vasogênico): relacionado a anormalidades no tônus muscular podendo ser de várias causas diferentes, incluindo lesão na medula espinal e anafilaxia. Cardiogênico: relacionado a interferência na ação da bomba do coração, geralmente ocorrendo após um ataque cardíaco. Hipovolêmico A perda aguda de volume sanguíneo por hemorragia (perda de plasma e hemácias) causa desequilíbiro na relação entre volume de líquido e tamanho do reservatório, sendo que este primeiro irá diminuir. Os mecanismos corpóreos de defesa compensatórios funcionam bem até certo ponto e temporariamente ajudarão a manter os sinais vitais. Um paciente que apresenta estes sinais, como por exemplo, a taquicardia, já está em choque, e não entrando em choque. Quando os mecanismos não conseguem compensar mais, a pressão arterial diminui. Essa diminuição na pressão arterial é de enorme importância, uma vez que ela significa a mudança de um choque compensado para um descompesado. A menos que ocorra, nesse segundo, uma reanimação vigorosa, o choque descompensado tende a ir para seu último estágio, o choque irreversível, que leva à morte. Choque hemorrágico Em média, um adulto com 70 kg tem cerca de 5 litros de volume sanguíneo circulante. O choque hemorrágico - um choque hipovolêmico resultante da perda de sangue) é classificado em quatro classes, dependendo da gravidade e da quantidade de hemorragia - ressalta-se que estes valores e classificações não devem ser interpretados como absolutos pois podem ocorrer com sobreposição. 1. Hemorragia classe I - perda de até 15% do volume sanguíneo no adulto (750 mL). Esse estágio tem poucas manifestações clínicas. A taquicardia costuma ser mínima e não ocorrem alterações a nível de pressão arterial, na pressão do pulso ou na frequência ventilatória. Uma vez identificado, a intervenção pode ser apenas com a parada do sangramento e liquídios de manutenção. Com essa intervenção, os mecanismos compensatórios já iniciados podem restaurar o compartimento vascylar e volume de líquido, ajudando a manter a pressão. 2. Hemorragia classe II - perda de 15 a 30% do volume sanguíneo (750 a 1.500 mL). A maioria dos adultos é capaz de compensar essa quantidade de perda sanguínea, mantendo sua pressão arterial. Contudo, ocorrem manifestações, como o aumento da frequência ventilatória, taquicardia e estreitamento da pressão de pulso - mas, por manter a pressão, isso é chamado de choque compensado, isto é, o paciente está em choque mas consegue compensar POR UM TEMPO. O paciente costuma apresentar, também, ansiedade e medo. Embora esse dado não seja de interesse do atendimento pré- hospitalar, ocorre uma diminuição do débito urinário, que cai para valores de 20 a 30mL hora, como um esforço do organismo para preservar liquídos. Por vezes, esses pacientes podem precisa, posteriormente, de transfusão sanguínea; contudo, a maioria responderá bem com a infusão de cristaloides se a hemorragia já chegar controlada. 3. Hemorragia classe III - perda de 30 a 40% do volume sanguíneo (1.500 a 2.000 mL). Esse é um ponto crítico, pois quando a perda sanguínea chega a esse ponto, a maioria dos pacientes não consegue mais compensar a perda de volume, Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG ocorre a hipotensão. Os achados clássicos do choque nessa etapa são evidentes e incluem a taquicardia (FC > 120 a 140) taquipneia (FV > 30 a 40 respirações) e ansiedade grave ou confusão. O débito urinário cai para 5 a 15 mL/hora. Muitos desses pacientes necessitarão de transfusão de sangue e intervenção cirúrgica para reanimação adequada e controle da hemorragia. 4. Hemorragia classe IV - representa perda de mais de 40% do volume sanguíneo (mais de 2.000 mL). Esse estágio de choque grave se caracteriza por taquicardia marcado, taquipneia, confusão profunda ou letargia e grande redução na pressão arterial sistólica. Esses pacientes tem apenas mais alguns minutos de vida. 5. A rapidez com que o paciente desenvolve o choque depende de quão rápida é a perda sanguínea na cirulação. O paciente deve ter esse sangue reposto. O líquido perdido consiste em sangue total contendo todos os seus vários componentes, incluindo hemácias com capacidade de transportar oxigênio, fatores de goagulação e proteínas para manutenção da pressão oncótica - é a pressão osmótica gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo. Choque distributivo (vasogênico) Ocorre quando o reservatório vascular aumenta sem aumento proporcional no volume de líquido. Após o trauma, isso é geralmente encontrado em pacientes com lesão de medula espinal. “Choque” neurogênico O choque, ou melhor, hipotensão neurogênica (hipotensão na ausência de taquicardia) - ocorre quando a lesão de medula espinal interrompe o trajeto do sistema nervoso simpático. Isso geralmente envolve lesão de níveis cervicais inferior, toracolombar e torácico. A hipotensão é explicada devido à perda do controle simpático do sistema vascular, o qual controla a musculatura lisa nas paredes dos vasos sanguíneos, os vasos periféricos dilatam abaixo do nível da lesão. A redução marcante na resistência vascular sistêmica e a vasodilatação periférica ocorrem por que o reservatório do volume sanguíneo aumenta, resultando em hipovolemia relativa. Obs. O paciente não está realmente hipovolêmico - o volume sanguíneo normal é simplesmente insuficiente para encher o reservatório que expandiu. A oxigenação tecidual geralmente permanece adequada (PAM > 65) na forma neurogênica de choque e fluxo sanguíneo permanece normal, embora a pressão sanguínea seja baixa (hipotensão neurogênica). Além disso, a produção de energia permanece adequada na hipotensão neurogênica. Portanto, essa redução da pressão arterial não é um choque, pois a produção de energia permanece inalterada. No entanto, como há menos resistência ao fluxo sanguíneo, as pressões sistólica e diastólica são menores. Choque hipovolêmico descompensado e choque neurogênicoambos produzem diminuição da pressão arterial sistólica. Entretanto, os outros sinais vitais e clínicos, bem como o tratamento para cada condição, são diferentes. O choque hipovolêmico é caracterizado pela diminuição das pressões sistólicas e diastólicas e redução da pressão de pulso. O choque neurogênico também mostra diminuição das pressões sistólicas e diastólicas, mas a pressão de pulso permanece normal ou aumenta. A hipovolemia produz pele fria, pegajosa, pálida ou cianótica e tempo de preenchimento de cabelo atrasado. No choque neurogênicoo paciente tem a pele quente e seca, especialmente abaixo da área da lesão. O pulso em pacientes com choque hipovolêmico é fraco, filiforme e rápido. Em choque neurogênico, devido à atividade parassimpático desprovida no corazon, a bradicardia é geralmente vista em vez de taquicardia, mas a qualidade do pulso pode ser fraca. A hipovolemia produz um nível de consciência reduzido (NC) ou pelo menos ansiedade e muitas vezes combatividade. Na ausência de lesão cerebral traumática(CTL), o paciente com choque neurogênico geralmente é alerta, orientado e lúcido quando na posição supina. Pacientes com choque neurogênico frequentemente têm lesões associadas que causam sangramento significativo. Portanto, um paciente que tenha esse tipo de choque e potenciais sinais físicos de hipovovolemia deve primeiro ser tratado como se ele tenha perda de sangue. Estabilizar a pressão arterial com vasopressores pode ser útil, mas só depois confirmação de ressuscitação adequada com líquidos para abordar qualquer componente hemorrágico da hipotensão, se considerado. Choque cardiogénico Também conhecido como a falha da atividade de bomba cardíaca, resulta de causas que podem ser intrínsecas (resultando de dano direto ao coração) ou extrínsecas (relacionadas a um problema fora do coração). Causas intrínsecas Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Dano ao músculo cardíaco Qualquer lesão que danifique o músculo cardíaco pode afetar sua resposta. O dano pode resultar de uma laceração direta no músculo cardíaco (como em uma lesão cardíaca concussiva que causa concussão cardíaca). Um ciclo recorrente ocorrerá: a diminuição da oxigenação produz diminuição da contratilidade, resultando em diminuição da produção cardíaca e, consequentemente, diminuição da infusão sistêmica. A diminuição da infusão resulta em uma redução contínua da oxigenação e, portanto, na continuação dociclo. Como qualquer músculo, o coração não funciona tão eficientemente quando se machuca ou se danifica. Interrupção valvular Um impacto repentino e forte que comprime o peito ou abdômen pode danificar as válvulas cardíacas. Lesão valvular grave resultaem regurgitação valvular aguda, na qual uma quantidade significativa de sangue é filtrada de volta para a câmara de onde acaba de ser bombeada. Esses pacientes frequentemente desenvolvem insuficiência cardíaca rapidamente congestiva, que se manifesta por edema pulmonar e choque cardiogênico. A presença de um novo murmúrio cardíaco é uma pista importante para fazer esse diagnóstico. Causas extrínsecas Tamponamento cardíaco O líquido presente no saco pericárdico impedirá que o coração se encha por compelto durante a fase diastólica do ciclo. No caso do trauma, o sangue vaza para o pericárdio de um buraco no músculo cardíaco. O sangue se acumula, ocupa espaço e impede que as paredes do ventrículo se expandam completamente. Isso tem dois efeitos negativos na produção cardíaca: (1) menos volume está disponível para cada contração porque o ventrículo não pode se expandir totalmente e (2) o preenchimento inadequado reduz o alongamento do músculo cardíaco e resulta emdiminuição do inotropismo. Além disso, a cada contração, mais sangue é forçado a emergir do ventrículo através da ferida do coração e ocupa mais espaço no pericárdio, comprometendo ainda mais a produção cardíaca (Figura3.11). Choque severo e morte podem ocorrer muito rapidamente. Pneumotórax hipertensivo Quando algum lado da cavidade torácica está cheio de ar que está sob pressão, o pulmão comprime e colapsa. O pulmão envolvido é incapaz de encher com ar de fora através da nasofaríngea. Isso causa pelo menos quatro problemas: (1) o volume atual a cada respiração é reduzido, (2) os alvéolos colapsados não estão disponíveis para transferir oxigênio para os eritrócitos, (3) os vasos sanguíneos pulmonares são colapsados, reduzindo o fluxo sanguíneo para o pulmão e o coração,(4) para forçar o sangue através dos vasos pulmonares requer aumento da força de contração cardíaca (hipertensão pulmonar). Se o volume de ar e a pressão dentro do peito ferido forem grandes o suficiente, o mediastino se afasta do lado da lesão. À medida que o mediastino se move, o pulmão oposto comprime, e a compressão e torção das veias cava superior e inferior impedem ainda mais o retorno venoso ao coração, resultando em uma queda significativa na pré-carga. Todos esses fatores reduzem a saída cardíaca e o choque ocorre rapidamente. Choque distributivo A vasodilatação periférica que leva ao choque distributivo pode ser causada por subtipos de choque: Séptico (inflamação -> ativação imunológica -> lesão endotelial -> aumento da permeabilidade vascular + síntese de óxido nítrico) Anafilático (prurido, rash cutâneo, rouquidão, dispneia, manifestações do TGI) Neurogênico (lesão da medula espinal acima do nível torácico superior, grave TCE ou fármacos anestésicos) Devido a uma alteração na distribuição do fluxo sanguíneo ocorre um desequilíbrio entre a demanda tecidual e a oferta de oxigênio, levando a um quadro onde há tecidos com elevado fluxo sanguíneo, mas insuficiente para atender às necessidades metabólicas. Este tipo de choque pode ser observado como consequência da sepse, provocando inicialmente uma queda na resistência vascular sistêmica acompanhada por um aumento no débito cardíaco, e mais adiante, como consequência da vasodilatação e o aumento da permeabilidade capilar há uma diminuição da pré-carga e em casos de persistência provocará o decréscimo do débito cardíaco e consequentemente um quadro de hipoperfusão. No caso da sepse o choque resulta da interação entre o microrganismo infectante e o desenvolvimento da síndrome da resposta inflamatória e sistêmica e da coagulação intravascular. Lembrando que devido à baixa perfusão, encontrada nos demais choques, as mucosas do trato gastrointestinal sofrem necrose pela hipóxia e permitem a queda de bactérias na corrente sanguínea, o que difere este quadro do choque séptico é que a sepse é o início do choque e não uma consequência. Exemplo de choque séptico: sobrevida de pacientes com doenças crônico- degenerativas/imunossupressoras e utilização de procedimentos invasivos. Ainda se encontram nesta categoria casos de anafilaxia, dilatação/torção gástrica, anestésicos e hipotensores. Em um animal com este quadro observamos taquicardia, também pela interferência das citocinas no coração, pulso inicialmente forte, mucosas congestas, TPC aumentado, taquipnéia, temperatura central e periférica aumentadas, podendo ainda encontrar a temperatura periférica baixa, oligúria, pressão sanguínea e venosa baixa. Choque séptico É raro na admissão do paciente traumatizado e possível em um paciente com contaminação peritoneal por conteúdo intestinal que leva algumas horas para chegar ao hospital. O paciente apresenta-se, inicialmente, com volume circulante normal, discreto aumento da FC, pele rósea e quente, discreta queda pressórica e pulso cheio. Com a evolução do choque, o quadro clínico torna-se semelhante ao do choque hipovolêmico. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG FONTE: PHTLS - 9ª edição (2018) Choque hemorrágico Fisiologia do choque: A perda de volume circulante, sangue, plasma e líquido, gera no organismo resposta compensatória de estímulo simpático, à medida que os receptores de volume do átrio direito e das grandes veias detectammenor retorno venoso ao coração. Esta resposta é traduzida pela liberação de adrenalina da medula adrenal e noradrenalina
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