Buscar

Artigo de revisão - Grupos Operativos Comunitários Psicanálise

Prévia do material em texto

8
GRUPOS OPERATIVOS COMUNITÁRIOS
Giana Lopes de Oliveira[footnoteRef:1] [1: Advogada. Bacharel em Direito pela UniRitter/RS. Estudante de graduação em Psicologia pela IMED Porto Alegre.] 
Resumo
Para que o ser humano possa se desenvolver de forma saudável, a convivência com outras pessoas é essencial, razão essa grupos para um determinado fim são criados, para encontrar sua identidade e satisfazer suas necessidades. Um dos primeiros grupos em que a pessoa é inserida é o núcleo familiar, onde a personalidade do ser humano começa a ser moldada. Os grupos são formados para um determinado propósito, que pode ser modificado com o passar do tempo. Os grupos operativos comunitários, ideais para a área da saúde, tem por finalidade a promoção de medidas preventivas e restaurativas de saúde, onde todos os envolvidos realizam atividades e dividem suas experiências umas com as outras. Aqueles voltados para a saúde mental são liderados por profissionais da saúde, que orientam sobre as medidas adequadas para o bom desenvolvimento do grupo.
DESCRITORES: Grupos operativos, liderança, identidade.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo analisar a importância dos grupos para o desenvolvimento do ser humano como forma de construir sua identidade e personalidade, em especial estudar os grupos operativos comunitários, onde se encontram os grupos da área da saúde mental.
Será apresentado um breve contexto histórico sobre a formação dos primeiros grupos operativos, que serviram de modelo para a formação de grupos operativos comunitários nos moldes atuais, que se mostram importantes para promover a interação entre as pessoas e despertar o senso de comunidade.
Conforme será visto no decorrer do presente artigo, o estudo acerca dos grupos operativos comunitários será direcionado para a área da saúde, em especial à saúde mental, para buscar melhorias nesse campo através da participação da comunidade.
Método
Este estudo constitui uma revisão bibliográfica de caráter analítico sobre grupos operativos comunitários. Foi realizado levantamento bibliográfico sobre o tema com artigos e livros, assim como consulta a sites científicos acerca do assunto.
A coleta de dados foi realizada no período de 24 de agosto a 10 de setembro de 2021, e utilizou-se para a pesquisa as bases de dados Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC), PsiBr, Biblioteca Digital de Periódicos da Universidade Federal do Paraná e livros. Outro critério a considerar diz respeito aos descritores em ciências da saúde, no qual foram utilizadas as seguintes palavras-chave: grupos operativos comunitários, dinâmica de grupos.
Após a pesquisa de artigos nas plataformas de dados citadas acima (PEPSIC e PsiBr) sobre artigos científicos com relação a alimentação e o desempenho cognitivo foi feita a escolha do artigo: Grupos Operativos Comunitários.
Após a seleção dos artigos conforme os critérios de inclusão previamente definidos, foram seguidos, nessa ordem, os seguintes passos: leitura exploratória; leitura seletiva e escolha do material que se adequam aos objetivos e tema do presente artigo; leitura analítica e análise dos textos, finalizando com a realização de leitura interpretativa. Após estas etapas, constituiu-se um corpus do estudo agrupando os temas mais abordados nas seguintes categorias: grupos, grupos operativos, comunitários.
Os descritores utilizados para encontrar as fontes para a elaboração do presente artigo foram: grupos operativos, onde foram encontrados 43 artigos na plataforma PEPSI, 4 artigos na plataforma PsiBr e 2 artigos na plataforma da Biblioteca Digital de Periódicos da Universidade Federal do Paraná. Dentre a lista de artigos apresentados, foram escolhidos quatro artigos. Junto aos artigos, foram utilizados livros para embasar a pesquisa.
Desenvolvimento
Faz parte da natureza do ser humano fazer parte de um grupo, devido à necessidade de interação com outras pessoas, seja para busca de sua identidade dentro de um certo círculo social. (Zimerman, 1997, pp. 23-24). Quando as pessoas se reúnem em grupo, elas procuram algo que satisfaçam suas necessidades e ter uma qualidade de vida adequada (Celia, 1997, p. 103), onde conseguem se enquadrar de acordo com as suas características, no qual a identidade inicia sua formação dentro do ambiente familiar e social, e se molda com o passar do tempo (Zimerman, 1993, p. 81).
Para Zimerman (1993, p. 82), “a identificação e um processo ativo, do ego do indivíduo e consiste em que este venha a se tornar idêntico a um outro (de acordo com a etimologia: identificar é o mesmo que ‘ficar idem’)”.
De acordo com cada época, o mundo possui particularidades, com suas tradições, costumes, onde valores são criados e modificados com o passar do tempo. Nos períodos atuais, o mundo está vivendo sob a “Era das Comunicações”, onde os meios de comunicação, entre eles rádio, televisão, jornais, computação, estão disponíveis ao povo (Celia, 1997, p. 101). Para Melo, Maia Filho & Chaves, (2014):
O que se observa é que as transformações econômicas, tecnológicas e culturais na sociedade têm promovido mudanças significativas em sua forma de perceber, pensar e agir nas organizações humanas. Os grupos têm sido, na maioria das vezes, a via de acesso aos processos de mudanças e isso requer que as pessoas aprendam a trabalhar em grupo. Podemos juntar a esta necessidade o fato de que todas as pessoas trazem experiências de vida em grupo e têm um conhecimento tácito sobre o grupo.
Mesmo assim, a população ainda se encontra com dificuldades “de comunicação, convivência”, pois, em vez de aproximar mais as pessoas, ocorre o contrário. Percebe-se que há um maior afastamento entre os membros da família, onde “fatores psicossociais, culturais e econômicos” fizeram com que os valores de família, inclusive sua formação, ganhasse novas formas. Um exemplo de novo modelo é a família monoparental, onde mulheres são chefes de família. Contudo, isso gera problemas de cunho psicológico pela ausência da figura paterna para os filhos. Segundo Celia (1997, p. 101), a sociedade sofre “com um fenômeno universal chamado ‘Violência Social”, que influencia na formação da personalidade de crianças e adolescentes.
Para buscar a solução dessa desintegração familiar e consequentes danos de ordem psicológica, tem-se a importância dos grupos operativos comunitários que, na visão de Zimerman (1993, p. 59), “são utilizados na prestação tanto de cuidados primários de saúde (prevenção), como secundários (tratamento) e terciários (reabilitação)”. Fazem parte dessa espécie de grupos comunitários profissionais da saúde, assistência social para orientar e prestar serviços às pessoas que precisem de atendimento.
Segundo Bastos (2010):
A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações.
Melo, Maia Filho & Chaves (2014), onde citam Lewin, um grupo não é apenas uma simples reunião de pessoas, mas algo que tem um propósito, existindo uma interdependência entre seus participantes para atingir uma determinada finalidade. Os objetivos de um grupo podem se modificar com o passar do tempo, de acordo com as necessidades que surgem. E cada grupo não funciona de forma isolada, mas interagindo com outros grupos.
Os grupos operativos foi idealizado pelo médico psiquiatra Pichon-Rivière, diante da greve de enfermeiras no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires, que deixou os pacientes de acometidos de distúrbios mentais sem atendimento. Pichon-Rivière propôs aos pacientes que estavam em um quadro clínico mais estável que ajudassem aqueles que necessitavam de maiores cuidados, demonstrando essa experiência bem sucedida, tendo em vista que foi possível “estabelecer uma parceria de trabalho, uma troca de posições e lugares, trazendo como resultado uma melhor integração” (Bastos, 2010).
Os grupos operativos comunitáriossão microgrupos formados de forma que todas os integrantes fiquem frente a frente um com o outro, sem a mediação de uma terceira pessoa. Isso possibilita criar uma “coesão grupal”, onde todos firmam compromisso de manter um “ambiente acolhedor para a aprendizagem e solidariedade” (Melo, Maia Filho & Chaves, 2014). Para que os grupos operativos comunitários atinjam suas finalidades, é preciso existir um líder ou alguns líderes para definir as atividades propostas para o bom desenvolvimento de tais grupos (Zimerman, 1993, p. 57), além da cooperação de todos os envolvidos com a troca de experiências uns dos outros (Luchese et all, 2014, p. 828).
Devido à sua importância para os programas voltados para a saúde, os grupos operativos comunitários se mostram adequados para melhorias na saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, por promoverem a integração entre as pessoas (Zimerman, 1997, p. 77). É através dos grupos operativos comunitários que se busca ver onde se encontram as dificuldades e a solução adequada para alcançar uma melhoria na saúde. Os grupos operativos comunitários oportunizam “um momento de fala e de escuta, com intercâmbios afetivos e trocas sociais que privilegiam a tarefa grupal”. Além disso, se mostraram “um meio de enfrentamento de situações de risco de população vulnerável, em especial à violência e à pobreza” (Luchese et all, 2014, pp. 828 - 829).
No que diz respeito a liderança, cabe abordar algumas espécies de líderes, devido a sua importância dentro dos grupos operativos comunitários, tendo em vista que cada grupo possui um papel a ser exercido. Isso porque a distribuição de papéis e funções dentro de um grupo faz com que cada pessoa reconheça sua identidade e a sua individualidade (Zimerman, 1993, p. 86).
A principal característica indicadora de que um grupo tem um bom desenvolvimento e evolução é a plasticidade, pois os papéis desenvolvidos por seus integrantes não são fixos e rígidos. Nas palavras de Zimerman (1993, p. 86), “à medida que os papéis forem sendo reconhecidos, assumidos e modificados, os indivíduos vão adquirindo um senso de sua própria identidade, assim como uma diferenciação com a dos demais”. Além disso, a atribuição de cada papel aos participantes dentro do grupo “permite avaliar se os mesmos facilitam ou dificultam o desenvolvimento do próprio grupo”, permitindo troca de experiências (Melo, Maia Filho & Chaves, 2014).
Vários papéis podem ser atribuídos às pessoas pertencente a um determinado grupo, segundo Zimerman (1993, pp. 86-88). Dentre eles, há o bode expiatório, onde “toda a ‘maldade’ do grupo” fica concentrada em uma única pessoa; o porta-voz, que representa o grupo perante os demais; o sabotador, que cria obstáculos para atrasar ou afastar o sucesso do grupo; a vestal, que zela pela moral e bons costumes do grupo; e o líder, que guia o grupo para atingir seus objetivos.
No que diz respeito aos grupos operativos comunitários, o papel de liderança cabe aos profissionais da saúde, cabendo a eles orientar aos demais participantes do grupo as atividades e medidas a serem tomadas, e a melhor forma de abordar os problemas acerca da saúde mental. Para Zimerman (1993, p. 59).
Técnicos de distintas áreas de especialização (além de psiquiatras, outros médicos não-psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, sanitaristas, etc.) podem, com relativa facilidade, ser bem treinados para essa importante tarefa de integração e de incentivo as capacidades positivas desde que fiquem unicamente centrados n a tarefa proposta e conheçam os seus limites.
Cumpre mencionar que o líder de um grupo operativo deve manter sua atenção nas atividades a serem ministradas, se precavendo de fatores que possam prejudicar o bom desenvolvimento do grupo (Zimerman, 1993, p. 58).
Reportando-se aos estudos de Bion, Zimerman (2008, p. 107) relata que a dinâmica realizada pelos grupos auxilia para estudar e compreender os aspectos psicológicos dos indivíduos, tendo em vista o acometimento de distúrbios de ordem psicológica ser muito frequente durante o período da Segunda Guerra Mundial, causando inaptidão aos militares para exercer suas funções em campos de batalha. No contexto histórico da época, Bion percebeu o clima de insegurança entre profissionais da saúde e pacientes no hospital em que trabalhava; por outro lado, havia muita demanda de candidatos para preencher as vagas para o posto de oficiais, necessitando assim um critério rigoroso de seleção.
Outro ponto averiguado por Bion quando estava atuando no Exército Britânico, quando coordenada os grupos na Clínica Tavistock, é a inaptidão dos pacientes em interagir em grupos ou em sociedade. Essas observações foram o ponto de partida para Bion embasar suas teorias acerca da dinâmica de grupo para a solução de problemas de ordem psíquica (Rioch, 2019).
Para resolver o problema, Bion criou grupos para discutir “problemas comum a todos” e propor atividades, visando a readaptação de pacientes às atividades militares ou avaliar se tinham condições ou não de voltar à ativa. Com isso, Bion alcançou manter a ordem e a disciplina dentro dos grupos formados e dar uma ocupação adequada, criando assim um “espírito de grupo”. Bion avaliou a capacidade dos participantes em relacionar-se entre si de forma harmoniosa e cooperativa, com o fim de “enfrentar as tensões geradas nele e nos demais pelo medo do fracasso da tarefa do grupo, e o desejo do êxito pessoal”. (Zimerman, 2008, pp. 107-108).
Com isso, Bion chegou a seguinte constatação com a dinâmica de grupo (Zimerman, 2008, p. 108):
Economia de um tempo que era habitualmente despendido na seleção; possibilidade de uma avaliação compartilhada coletivamente com outros técnicos selecionadores; observação de como os candidatos interagiam entre si e facilitação da importante observação dos tipos de lideranças.
Dessa forma, os grupos operacionais no campo da saúde são bons instrumentos de divulgação para medidas preventivas, proporcionando aos participantes atividades no qual eles alcancem resultados e melhorias em sua qualidade de vida. Isso porque “o trabalho em conjunto proporciona troca de ideias e experiências entre os participantes, especialmente com a utilização de estratégias dinâmicas”. A atuação dos profissionais da saúde se mostra importante para liderar esses grupos, orientando os demais participantes sobre as medidas adequadas para atingir a finalidade do grupo operativo comunitário, que é a promoção da saúde e bem estar (Luchese et all, 2014, p. 830).
Conclusão
O homem sempre necessitou conviver com outras pessoas para assim se manter vivo, e para isso sempre procurou se manter em grupos. Um dos primeiros grupos em que o ser humano é inserido é o grupo familiar, onde a personalidade do indivíduo começa a ser formada. Contudo, devido às mudanças sociais e à desintegração da família, a comunicação entre as pessoas passou a ser cada vez menos frequente, apesar da globalização e do fácil acesso aos meios de comunicação. Esse fato é o responsável por muitos dos transtornos psicológicos que acometem o ser humano.
Em detrimento às demandas de saúde da atualidade, os grupos comunitários oferecem estratégias efetivas que oportunizam a promoção da saúde, estimular mudanças e melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Uma vez que é ampla sua aplicação no campo da saúde, constituem-se como um importante aliado dos diversos profissionais da área, por meio de atividades grupais que possibilitam e favorecem, principalmente, que pessoas que convivem com adversidades, transtornos ou situações semelhantes, façam uso de seu próprio potencial de ajuda, umas com as outras.
Os grupos operativos comunitários, apropriados para fins psicoterapêuticos e educativos, são destinados a buscar a cooperação dos integrantes para que haja um ambiente acolhedor e solidário, visando a preservação da saúde mental de todos os participantes. Porém, cumpre frisar que os fins dos grupos operativos comunitários não podem ser confundidos com os grupos terapêuticos, mas um lugar onde todos os participantesse ajudam para buscar uma qualidade de vida.
Nos grupos comunitários é possível abordar dificuldades e conflitos experienciados por integrantes de grupos homogêneos, ou seja, entre pessoas que possuem ou enfrentam algo em comum e, dessa forma, promover mudanças por meio de ações que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas, inclusive psíquica. Para que isso seja possível, é necessário que no grupo haja objetivos claros e viáveis, participação dos integrantes e interesses concretos dos mesmos, apropriação de sua realidade, reforçando as potencialidades e iniciativas dos sujeitos, para que deem continuidade ao trabalho.
Portanto, os grupos operativos comunitários caracterizam um referencial teórico e técnico na constituição de uma prática realmente eficaz, em diferentes contextos de aplicação.
Referências
Bastos, A. B. B. I. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri Wallon. Periódicos Eletrônicos em Psicologia, v. 14, n. 14, out 2010. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-88092010000100010
Lucchese, R.; Vera, I.; Benício, P. R.; Silva, A. F.; Munari, D. B.; Fortuna, C. M. Uso do grupo operativo na atenção em saúde: Revisão integrativa. Cogitare Enfermagem, v. 19, n. 4, pp. 823 – 832, out – dez 2014. Recuperado de: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/32727
Melo, A. S. E.; Maia Filho, O. N. & Chaves, H. V. Conceitos básicos em intervenção grupal. Encontro Revista de Psicologia, v. 17, n. 26, 2014. Recuperado de: https://psibr.com.br/leituras/psicologia-clinica/conceitos-basicos-em-intervencao-grupal
Rioch, M. J. O trabalho de Wilfred Bion em grupos. 2019. Recuperado de: https://docero.com.br/doc/c5vec0
Zimerman, D. E. (1993). Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
______. (2008). Bion: da teoria à prática. 2.ed. Porto Alegre: Artmed.
______. & Osório, L. C. (Eds.) (1997) Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas.

Continue navegando