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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Logística Reversa Introdução aos conceitos Aula 5 Prof. Luiz Felipe Cougo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Olá, estamos chegando em um ponto alto desta disciplina, pois ela trata dos assuntos da LR associados às questões ambientais. Isso inclui as influências do desenvolvimento sustentável, das dimensões da sustentabilidade e demais importantes técnicas e ferramentas ambientais, que são reconhecidas mundialmente como referências globais para aplicação de um sistema de gestão ambiental nas empresas. Isso se reflete nas ações da LR com foco na prevenção da poluição, no atendimento à legislação ambiental e social e, também, no comprometimento à melhoria contínua nos processos voltados para as partes interessadas, como os clientes, os trabalhadores, a sociedade e o meio ambiente. Bons estudos! Contextualizando O desenvolvimento sustentável pressupõe o envolvimento da empresa com as questões do ciclo de vida dos seus produtos. Isso envolve desde a escolha de materiais a serem utilizados nos produtos e em suas embalagens e que sejam ambientalmente adequados e dentro da concepção do eco design, passando: pela manufatura limpa, que reduz o consumo de materiais, energia, e resíduos; pela distribuição que busca economizar combustível e reduzir a emissão de poluentes; pelo controle das cadeias de retorno do pós-venda e pós- consumo que atendam, no mínimo, as legislações aplicáveis, e participe na conscientização do consumidor em seu papel dentro desse sistema sustentável. O comprometimento das empresas com relação a essas questões pode ser classificado como: Reativo, Proativo e em Fase de Agregação de Valor ■ Empresas em Fase Reativa em relação ao meio ambiente são caracterizadas pelo cumprimento da legislação, regulamentos e adequação às pressões externas da sociedade, revelando uma visão introspectiva que não inclui os impactos de seus produtos ou CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 processos ao meio ambiente nas reflexões estratégicas da empresa. ■ Empresas em Fase Proativa apresentam a vantagem de se antecipar às novas regulamentações, e até mesmo influir nas mesmas, criando uma imagem satisfatória junto ao público e razoável comprometimento da hierarquia superior com os problemas ambientais. ■ Empresas em Fase de Agregação de Valor revelam grande comprometimento com o meio ambiente integrando-o em sua reflexão estratégica como diferencial competitivo. Utilizam a análise de ciclo de vida do produto no sentido de medir os impactos causados ao meio ambiente, projetam produtos para serem facilmente desmontados ou reciclados (Design for Recycling), criam uma relação de comprometimento com o meio ambiente em suas redes de suprimento e distribuição (EPR = Extended Product Responsability), incentivam as diversas áreas especializadas na concepção e operação de redes de distribuição reversas, de sistemas de reciclagens internos e em parcerias nas cadeias reversas (Reverse Supply Chain), gerando diferencial competitivo através da distribuição reversa (SHET e PARVATIYAR, 1995: 8- 19), (LEITE, 2000). Você deve estar se perguntando em qual dessas fases a empresa onde eu trabalho se encontra e como eu entendo que a LR pode contribuir nesse caminho da sustentabilidade. O objetivo maior é despertar a visão de que a LR e o desenvolvimento sustentável devem caminhar juntos para que todas as empresas se enquadrem na fase de agregação de valor, incluindo aspectos intangíveis como imagem e reputação da empresa, correto? Vamos aos estudos! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 A Logística Reversa e o desenvolvimento sustentável A evolução ambiental foi uma consequência reativa da Revolução Industrial, dos índices de crescimento, exploração e graves acidentes ocorridos pela agricultura e indústrias químicas. Esse histórico trouxe também iniciativas que, de certo modo, buscam a prevenção da poluição e a minimização dos impactos ambientais até os dias de hoje. Dentre os aspectos conhecidos da história ambiental, destacam-se: ■ Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972): publicou-se, nesse ano, o relatório Limites do Crescimento, que previa a escassez catastrófica dos recursos naturais. A previsão feita foi que em 2010 os alimentos e a produção industrial iriam declinar e, como consequência, haveria uma diminuição da população por penúria, falta de alimentos e poluição. O relatório dizia: Se se mantiverem as atuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização, contaminação ambiental, produção de alimentos e esgotamento dos recursos, este planeta alcançará os limites de seu crescimento no curso dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um súbito e incontrolável declínio tanto de população como da capacidade industrial. Esse documento foi criticado por muitos segmentos, sendo caracterizado como “alarmista”. A partir das discussões que ocorreram em Estocolmo muitas outras discussões foram registradas nos anos seguintes. Estocolmo teve uma importância muito grande ao lançar a preocupação com a conservação do planeta e o equilíbrio do crescimento econômico. ■ Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora (1973); ■ Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição pelos Navios (1973); ■ Conferência Alimentar Mundial (1974); ■ Convenção sobre a Conservação da Natureza no Pacífico Sul (1976); ■ Conferência das Nações Unidas sobre a Água (1977); CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 ■ Conferência das Nações Unidas sobre a Desertificação (1977); ■ Conferência Mundial sobre o Clima (1978); ■ Conferência sobre a Conservação de Espécies Migrantes da Fauna Selvagem (1979); ■ Convenção sobre a Conservação da Fauna e da Flora Marítimas da Antártida (1980). Muitos outros documentos foram normalizados e muitas pessoas se mobilizaram nesse sentido. Em 1983, numa assembleia da ONU, criou-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Foi presidida pela Primeira- Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, e adotou-se o conceito de desenvolvimento sustentável em seu relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), também conhecido como Relatório Brundtland. Segundo o Relatório da Comissão Brundtland, elaborado em 1987, uma série de medidas deveriam ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas, em âmbito internacional, as metas propostas foram: ■ Adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento); ■ Proteção dos ecossistemas supranacionais, como a Antártica, oceanos etc., pela comunidade internacional; ■ Banimento das guerras; ■ Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). O conceito de desenvolvimento sustentável devia ser assimilado pelas lideranças de uma empresa como uma nova forma de produzir sem degradar o meio ambiente, estendendo essa cultura a todos os níveis da organização para que fosse formalizado um processo de identificação do impacto da produção da empresa no meio ambiente e resultasse na execução de um projeto que aliasse CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 a produção e preservação ambiental, com uso de tecnologia adaptada a esse preceito. Algumas outras medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são: ■ Uso de novos materiais na construção; ■ Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais; ■ Aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, comoa solar, a eólica e a geotérmica; ■ Reciclagem de materiais reaproveitáveis; ■ Consumo racional de água e de alimentos; ■ Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos. Esse relatório foi uma referência para os debates que se fizeram em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro (CNUMAD), mais conhecida como ECO-92. Foi nessa conferência que se popularizou o conceito de desenvolvimento sustentável. Como produto da ECO-92, assinaram-se cinco documentos que direcionariam questões de desenvolvimento e meio-ambiente: ■ Agenda 21; ■ Convenção sobre Biodiversidade (CDB); ■ Convenção sobre as Mudanças de Clima; ■ Princípios para a Administração Sustentável das Florestas; ■ Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios: se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia a dia. Diante dessa constatação, surgiu a ideia do desenvolvimento sustentável (DS), buscando CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, com o desenvolvimento social. Sob o aspecto social, a responsabilidade social das organizações e o comportamento ético dos administradores estão entre as tendências mais importantes que influenciam a teoria e a prática da administração na passagem para o século XXI. O debate sobre a ética e responsabilidade social é muito antigo e acentuou-se recentemente devido a problemas, como poluição, desemprego, proteção aos consumidores, entre muitos outros que sempre envolvem as organizações públicas ou privadas. A responsabilidade social empresarial tem como principal característica a coerência ética nas práticas e relações com seus diversos públicos, contribuindo para o desenvolvimento contínuo das pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre si e com o meio ambiente. Ao adicionar às suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as empresas conquistam o respeito das pessoas e das comunidades atingidas por suas atividades, o engajamento de seus colaboradores e a preferência dos consumidores. Vale salientar que algumas características importantes impulsionam as empresas para a implantação de projetos de Responsabilidade Social, a saber: ■ Carências sociais do país; ■ Organização crescente da sociedade e do terceiro setor; ■ Ação social dos concorrentes; ■ A divulgação das ações sociais; ■ Crescimento das expectativas das comunidades e dos empregados sobre o engajamento social empresarial. No quadro a seguir podemos verificar o envolvimento do desenvolvimento de um projeto de RSE sobre o aspecto interno e externo à empresa: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Podemos citar como benefícios decorrentes de ações sociais desenvolvidas pelas empresas: ■ Ganhos de imagem corporativa; ■ Popularidade dos seus dirigentes; ■ Maior apoio, motivação, lealdade, confiança e melhor desempenho dos seus funcionários e parceiros; ■ Melhor relacionamento com o governo; ■ Maior disposição dos fornecedores, distribuidores, representantes, em realizar parcerias com a empresa; ■ Maiores vantagens competitivas (marca e produtos mais conhecidos); ■ Maior fidelidade dos clientes atuais e possibilidade de conquista de novos clientes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 O retorno da responsabilidade social interna e os respectivos programas de gestão, conforme apontados na figura anterior, demonstram alguns resultados: ■ Retenção dos talentos; ■ Melhoria da qualidade de vida dos empregados e dependentes; ■ Melhoria da qualidade de vida no trabalho; ■ Diminuição de gastos com saúde e assistência social; ■ Redução do índice de abstenção; ■ Redução de custos com ações na justiça do trabalho; ■ Maior criatividade e inovação no trabalho; ■ Aumento da autoestima dos empregados; ■ Melhoria do clima organizacional; ■ Consolidação de uma nova cultura empresarial; ■ Retorno sob a forma de cidadania profissional. Os métodos de monitoramento, controle e medição dos aspectos sociais nas organizações são realizados através de ferramentas baseadas em conhecidos processos aplicados no âmbito global e nacional, como os exemplos abaixo: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Stephen Kanitz definiu os “12 Mandamentos da Responsabilidade Social Empresarial” assim: 1. Antes de implantar um projeto social pergunte para umas vinte entidades do 3º setor para saber o que elas realmente precisam. 2. O que as entidades precisam normalmente não é o que sua empresa faz, nem o que a sua empresa quer fazer. 3. Toda empresa que assumir uma responsabilidade será mais dia menos dia responsabilizada. 4. Assumir uma responsabilidade social é coisa séria. Creches não mandam embora órfãos porque a diretoria mudou de ideia. 5. Todo o dinheiro gasto em anúncios tipo “minha empresa é mais responsável do que o concorrente” poderia ser gasto duplicando as doações de sua empresa. 6. Assumir uma responsabilidade social não é brincar de “parceria”, não é só “querer ajudar”, alguém tem de assumir uma responsabilidade no final. 7. Entidades têm no social seu “core business”, dedicam 100% do seu tempo, 100% do seu orçamento para o social. Sua empresa pretende ter o mesmo nível de dedicação? 8. O consumidor não é bobo. 9. Antes de querer criar um Instituto com o nome da sua empresa ou da sua marca favorita, lembre-se que a maioria dos problemas sociais são impalatáveis. 10. Irresponsável é a empresa que faz produtos caros sem qualidade, destruindo o meio ambiente, sendo incorreto com seus inúmeros parceiros e sonegando impostos. 11. Evite usar critérios empresariais ao escolher seus projetos sociais, como “retorno sobre investimento” ou “ensinar a pescar”. Essa área é regida por critérios humanitários, não científicos ou econômicos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 12. A responsabilidade social é, no final das contas, sempre do indivíduo, do voluntário, do funcionário, do dono, do acionista, do cliente, porque requer amor, afeto e compaixão. Existe também uma diferenciação importante que cabe ressaltar entre responsabilidade social e filantropia. A definição, segundo o Instituto ETHOS é: A filantropia é basicamente uma ação social externa da empresa, que tem como beneficiária principal a comunidade em suas diversas formas (conselhos comunitários, organizações não-governamentais, associações comunitárias etc.) e organizações. A responsabilidade social é focada na cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente). Concluindo, podemos afirmar que diversos argumentos podem ser citados com relação à implantação de um programa de Responsabilidade Social Empresarial, a saber: ■ É interessante desenvolver a comunidade; ■ As ações sociais podem ser lucrativas; ■ É ético se preocupar com a sociedade; ■ Melhora a imagem pública da empresa; ■ Aumenta a viabilidade do sistema empresarial; ■ Ajuda a evitar a intervenção governamental; ■ As leis não atendem a todas as circunstâncias; ■ Beneficia o preço das ações; ■ As empresas passam a imagem de ter pessoal capacitado a resolver alguns problemas; ■ A prevenção é sempre melhor do que a cura. Muito interessante, não acha? Para continuar seus estudos sobre o tema, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Ferramentas ambientais associadasà LR A logística vem acompanhando as mudanças na sociedade e já incorporou o conceito de sustentabilidade. O principal objetivo continua sendo o de coordenar as atividades de transporte de produtos de uma forma que atenda às necessidades do cliente a um custo mínimo. Se, no passado, esse custo era baseado apenas no fator econômico, agora, as consequências ambientais e sociais das atividades também são levadas em conta. Há uma preocupação constante em combinar eficiência com redução de ruídos, menos poluição e um ambiente colaborativo. É o surgimento da logística sustentável. A logística trabalha muito a fim de reduzir custos, e é um erro achar que implementar mecanismos de sustentabilidade aumenta os gastos do empreendimento. Muito pelo contrário, é possível economizar mais ainda. Muitas vezes, ações que eram apenas um diferencial para empresas que tinham uma visão mais moderna acabaram virando uma necessidade para reduzir custos, evitar gastos como multas ou mesmo embargo na produção devido a problemas com o meio ambiente. Vale lembrar que, hoje em dia, a legislação é bem severa em relação à poluição feita por empresas. É verdade que o conceito de sustentabilidade vem crescendo no Brasil, mas, lá fora, ele já é bem estabelecido. As empresas que querem conquistar mercados externos vão encontrar, na sustentabilidade, um grande diferencial competitivo. Além disso, dependendo da legislação do país a ser conquistado, se não adotar uma política ambiental correta em relação aos descartes na produção, a entrada do negócio pode até mesmo vir a ser proibida. Nos casos em que a LR e o desenvolvimento sustentável demandam práticas padronizadas e reconhecidas pelos clientes, existem ferramentas de abordagem sistêmica que podem contribuir com a gestão da logística reversa sob as lentes da sustentabilidade, buscando a ecoeficiência e resultados sustentáveis. Por exemplo: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 ■ O Mapeamento dos Processos; ■ Produção mais Limpa; ■ Análise do Ciclo de Vida; ■ Sistemas de Gestão Ambiental (ISO); ■ Certificações e selos verdes; ■ Tecnologias limpas, entre outros. Essas ferramentas são comumente utilizadas para melhorar os processos, assegurar o atendimento aos requisitos dos clientes e também para o comprometimento com as questões ambientais e legislação aplicável. No entanto, qualquer uma delas, sob condições descontroladas, pode falhar, assim como qualquer sistema global. Para saber o que o professor Luiz Felipe tem a dizer sobre esse assunto, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Análise do ciclo de vida do produto Como descreve Leite (2002), seria infindável a lista de autores analisando o acelerado ritmo de redução do ciclo de vida dos produtos nas últimas décadas, como forma e busca de diferenciação mercadológica, motivada por evoluções técnicas de performance em processo ou na aplicação, motivada pela redução de custos em geral, em particular os logísticos, além de outras razões. Em 1970 foram lançados 1.365 novos produtos nos Estados Unidos, em 1986 esse número foi de 8.042 novos produtos, em 1991 esse número cresceu para 13.244 e em 1994 alcançou a marca de 20.074 novos produtos lançados de acordo com dados de New Products News (apud BLECHER, 1996). Exemplos clássicos de bens com ciclo de vida rapidamente decrescentes são o dos computadores e seus periféricos, que se revelam expressivos na visão da Logística Reversa quando observamos alguns dados do Instituto Gardner Group, estimando em 680 milhões as vendas de computadores no ano de 2005 e de 150 milhões o número deles que serão descartados somente nos Estados Unidos. O nível de obsolescência atual nos Estados Unidos é de 2:3, ou seja, a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 cada três computadores produzidos dois tornam-se obsoletos, com tendência de que essa razão de obsolescência se torne 1:1 nos próximos anos. Em 1960 a produção mundial de plásticos era de 6 milhões de toneladas por ano e em 1994 passou a 110 milhões de toneladas. No Brasil, a produção de plásticos teve um aumento de cerca de 50% entre os anos de 1993 e 1998, valores altos quando comparados com o crescimento dos metais mais comuns. Ainda no Brasil, o consumo de garrafas descartáveis PET (denominação da resina constituinte – Polietileno Tereftalato), usadas como embalagem de refrigerantes e outras bebidas, iniciou-se em 1989 e alcança níveis de produção de 6 bilhões de garrafas por ano em 1998, o que corresponde a mais de 70% da embalagem do setor de refrigerantes. Esse expressivo crescimento é devido principalmente às suas características de transparência e suas vantagens logísticas na distribuição direta, substituindo a embalagem de garrafas de vidro retornável. Um dos indicadores do crescimento dessa “descartabilidade” é o aumento do lixo urbano em diversas partes do mundo. Conforme comprovam os dados da Prefeitura Municipal de São Paulo, através de seu departamento de limpeza pública, Limpurb (Departamento de Limpeza Pública Urbana da cidade de São Paulo), o lixo urbano cresceu de 4.450t por dia em 1985 para 16.000t por dia em 2000, na cidade de São Paulo, decrescendo as quantidades de lixo orgânicos e aumentando a de produtos descartáveis. O esquema da figura a seguir sintetiza a ideia de como a crescente descartabilidade dos produtos tende a tornar mais expressiva a atuação da Logística Reversa, tanto no setor de pós-venda como no de pós-consumo. Tecnologia, Marketing, Logística e outras áreas empresariais, através da redução de ciclo de vida de produtos, geram necessidades de aumento de velocidade operacional de um lado e provocam exaustão acelerada dos meios tradicionais de destinos dos produtos de pós-consumo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 A obsolescência e a descartabilidade crescentes dos produtos observados nesta última década têm-se refletido em alterações estratégicas empresariais dentro da própria organização e, principalmente, em todos os elos de sua rede operacional. Essas alterações se traduzem por aumento de “velocidade de resposta” em suas operações desde a concepção do projeto do produto até sua colocação no mercado, pela adoção de sistemas operacionais de alta “flexibilidade operacional” que permitam, além da velocidade do fluxo logístico, a capacidade de adaptação constante às exigências do cliente e pela adoção de “responsabilidade ambiental” em relação aos seus produtos após serem vendidos e consumidos, o que costuma ser identificado como “EPR”( Extend Product Responsability), a chamada “Extensão de Responsabilidade ao Produto”. Explica-se dessa forma a crescente implementação da Logística Reversa em empresas líderes do mercado em diversos setores, constituindo-se parte integrante de suas estratégias empresariais. Na sequência, apresentamos uma análise dos diversos objetivos estratégicos que têm orientado algumas estratégias empresariais. A ferramenta Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma das mais completas metodologias para avaliação dos impactos ambientais causados pelas atividades organizacionais, metodologia esta que faz uma avaliação em toda a cadeia produtiva, buscando apresentar os impactos ambientais causados durante todo o processo, do berço ao túmulo, proporcionando que as melhores alternativas para o atingimento do almejado desenvolvimento sustentável sejam CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 buscadas. A ACV, pode solucionar ou ao menos reduzir os problemas ambientais existentes na cadeia produtiva analisada, apontando as oportunidades para que se minimize ou até mesmo se anulem os impactos ambientais decorrentes dessa atividade e dos processos diretamente relacionados a ela. Na atualidade, a consciência quanto aos prejuízos já causadosao meio ambiente é relevante, mas muito dela é proveniente de organizações não governamentais, como consequência, muito do que se faz a respeito do assunto meio ambiente também é proveniente das organizações não governamentais. Esse é o caso do conjunto de normas da ISO 14000 – normas estas que definem parâmetros e diretrizes para a gestão ambiental para as empresas. Pela importância que a metodologia da análise do ciclo de vida adquiriu no que tange a gestão ambiental, ela teve sua estrutura normatizada pela ISO 14000. A ISO 14000 foi definida pela International Organization for Standartization - ISO (Organização Internacional para Padronização), com o intuito de reduzir o impacto causado pelas empresas ao meio ambiente. Sendo assim, se a empresa seguir as normas propostas pela ISO 14000 e implementar os processos indicados, ela pode obter a certificação da ISO. Como benefícios a empresa pode considerar: uma maior aceitação no mercado internacional; retenção de clientes e melhores resultados financeiros. Dentre as normas da ISO 14000, as que referenciam a análise do ciclo de vida (ACV) são: ISO 14040:2001, princípios e práticas gerais; ISO 14041:2004, definição do objetivo, escopo e análise do inventário; ISO 14042:2004, avaliação dos impactos; ISO 14043:2004, interpretação dos resultados. Estas foram substituídas pela ISO 14040:2009, tendo ainda a ISO 14044:2009, gestão ambiental – avaliação do ciclo de vida – requisitos e orientações. A ACV é uma avaliação que inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou serviço, partindo da extração e processamento das matérias-primas (berço), a fabricação, o transporte e a distribuição, assim como o uso final do produto/serviço e sua disposição final (túmulo). Tal proposta tem como seu CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 resultado final uma interpretação do inventário do ciclo de vida levantado e, nessa interpretação, são apontados os impactos causados pelos diferentes processos existentes durante todo o ciclo de vida. Santos (2002) aponta que os descartes gerados nos diferentes processos do ciclo de vida – tais como as emissões atmosféricas, a geração de efluentes e resíduos sólidos, o consumo de energia e de matérias-primas, as consequências ambientais e a disposição dos produtos – são avaliados pela ACV. Segundo Palma-Rojas et al. (2012), as normas da ISO 14000 foram desenvolvidas pela Comissão Técnica 207 da ISO (TC 207), em resposta à demanda mundial por uma gestão ambiental mais confiável, reforçando o novo papel das questões ambientais como fatores considerados de forma direta na estratégia dos negócios empresariais, sendo a ISO 14000 estruturada em duas grandes áreas: uma com foco nas organizações e outra com foco nos produtos e serviços. A norma ISO 14040 descreve os princípios e a estrutura de uma análise do ciclo de vida e a ISO 14044 especifica os requisitos e provê orientações para a ACV que, conforme apontado por Palma-Rojas et al. (2012), incluem: ■ A definição do objetivo e escopo da ACV; ■ A fase da análise do inventário do ciclo de vida (ICV); ■ A fase de análise e avaliação de impacto do ciclo de vida; ■ A fase de interpretação do ciclo de vida. As demais etapas compreendem: estabelecer comunicação e a revisão crítica da ACV; verificar as limitações da ACV; a relação entre as fases da ACV; e as considerações para o uso de escolhas de valores e de elementos opcionais. A SETAC (Society of Envirommental Toxicology and Chemistry) define a avaliação do ciclo de vida como um processo objetivo de avaliar as cargas ambientais associadas a um produto ou processo, identificando e quantificando os impactos gerados quanto ao uso de energia, matéria-prima e emissões ambientais, apresentando oportunidades de melhoria ambiental. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Para finalizar, basicamente são conhecidos seis passos a serem analisados pela ACV: 1. O impacto ecológico das matérias-primas e a energia usada na produção, incluindo a extração, transporte e os resíduos; 2. O processo de fabricação e montagem; 3. Os sistemas de transporte e distribuição; 4. Aspectos ambientais relacionados com o uso do produto; 5. O potencial do produto para ser reutilizado e reciclado; 6. Os aspectos ambientais relacionados com a disposição final do produto. Todos são essenciais para o cálculo da carga ambiental de cada produto, desde o “berço ao túmulo” do material, conforme figura a seguir: Leitura obrigatória Para consolidar seus estudos faça a leitura do item Logística reversa e Análise do Ciclo de Vida, disponível no capítulo 2 do livro-base desta disciplina. E para tirar as dúvidas, acompanhe as explicações do professor Luiz Felipe no vídeo que está disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 A LR e a ISO 14001 Devido à forte influência da opinião pública a respeito de empresas que vêm degradando o meio ambiente e à legislação cada vez mais exigente em relação a isso, as empresas têm procurado se adequar, utilizando o sistema de gestão estruturada, que é a ISO 14001. A ISO 14001 é uma norma internacional, pertencente à série de normas ISO 14000, que especifica requisitos para implementação e operação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) nas organizações. A norma ISO 14001 visa disciplinar as empresas para um desempenho ambiental correto e sustentável, controlando o impacto de suas atividades, seus produtos e serviços no meio ambiente e se aplicam a qualquer organização que deseje: a. Implementar, manter e aprimorar um sistema de gestão ambiental; b. Assegurar-se de sua conformidade com uma política ambiental definida; c. Demonstrar a conformidade a terceiros; d. Buscar certificação do sistema de gestão ambiental por uma organização externa. Ela especifica os requisitos para que um sistema de gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar políticas e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos legais significativos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Pela figura, podemos observar que, a partir da política ambiental, gira-se o PDCA, obtendo-se a melhoria contínua. A norma sugere, também, a utilização da abordagem de processos, semelhante à utilizada pela ISO 9001. Em 2011 iniciou-se um novo processo de revisão da nova versão da ISO 14001 que acaba de ser publicada como versão ISO 14001:2015, que adota a mesma estrutura da ISO 9001:15. A nova versão contará com uma estrutura que pretende facilitar sua leitura, análise e interpretação e propiciar a integração com os demais sistemas de gestão. Um dos principais objetivos dessas mudanças é propiciar uma evolução dos sistemas de gestão atuais, com base nos avanços tecnológicos, as mudanças climáticas e o aprimoramento das práticas ambientais sustentáveis em todo o mundo, tendo em vista o cenário socioeconômico e ambiental atual. Agora, acesse o material on-line e assista ao vídeo que o professor Luiz Felipe preparou para você! Rótulos ambientais É a certificação de produtos/serviços com qualidade ambiental que atesta, através de uma marca colocada no produto ou na embalagem, que determinado produto/serviço (adequado ao uso) apresenta menor impacto ambiental em relação a outros produtos "comparáveis" disponíveis no mercado. Desde 1977 começa a preocupação com a certificação ambiental. A partir dessa iniciativa alemã, com o rótulo ecológico Anjo Azul, deu-se a contrapartida para informar o consumidor sobre os produtos de vista ambiental. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Algumas imagens de selos ambientais: A série ISO sobre rotulagem ambiental apresenta três tipos diferentes de declarações ambientais:Tipo I, II e III. As normas relativas à rotulagem ambiental servem para estabelecer critérios estruturais que sejam válidos tecnicamente para que os programas existentes possam ser avaliados. As associações setoriais de vidro, plástico, papel/papelão, alumínio e aço desenvolveram símbolos padronizados para cada material, em parceria com o CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), entidade voltada para o incentivo da reciclagem no país. Esses símbolos não estariam relacionados a estratégias de vendas, tampouco que o produto referido seja mais ecológico do que o concorrente. Assim, verifica-se que as empresas se adiantaram e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 contribuíram para um caráter essencialmente mercadológico, contribuindo para uma consciência ecológica baseada em alguns princípios, sendo eles: ■ Suposição da reciclagem garantida: os símbolos apenas indicam que os materiais são potencialmente recicláveis. ■ Noção da reciclagem infinita: a simbologia apresentada muitas vezes sugere um ciclo fechado, perfeito, com a possibilidade da transformação de uma embalagem em outra; o ciclo fechado é inadequado no caso dos plásticos. ■ Mito da embalagem ecológica: as embalagens descartáveis são apresentadas como uma tendência no mercado, porém o consumidor, iludido pelos símbolos, passa a adquirir produtos com simbologias diversas, acreditando que está contribuindo com as empresas fabricantes de produtos com selos verdes. A ISO criou uma série de normas de rotulagem ambiental, sendo elas: Rotulagem tipo I – NBR ISO 14024: Programa Selo Verde Estabelece os princípios e procedimentos para o desenvolvimento de programas de rotulagem ambiental, incluindo a seleção, critérios ambientais e características funcionais dos produtos, para avaliar e demonstrar sua conformidade. Também estabelece os procedimentos de certificação para a concessão do rótulo. Rotulagem Tipo II – NBR ISO 14021: auto-declarações ambientais Especifica os requisitos para auto-declarações ambientais, incluindo textos, símbolos e gráficos, no que se refere aos produtos. Ela descreve, ainda, termos selecionados em declarações ambientais e fornece qualificações para seu uso. Descreve uma metodologia de avaliação e verificação geral para auto- declarações ambientais e métodos específicos de avaliação e verificação para as declarações selecionadas nesta Norma. A figura 1 apresenta símbolos para identificação de produtos recicláveis. Figura 1 – Símbolos para identificação de produtos recicláveis CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Fonte: CEMPRE. A Rotulagem Ambiental e o Consumidor no Mercado Brasileiro de Embalagens (2006). Rotulagem Tipo III – ISO 14025: inclui avaliação do ciclo de vida Ainda está sendo elaborada no âmbito da ISO. Tem alto grau de complexidade devido à inclusão da ferramenta Avaliação do Ciclo de Vida. Existe um longo caminho para que este tipo de rotulagem ganhe o mercado. As auto-declarações têm ganhado destaque no cenário brasileiro. Os símbolos mais comuns são os apresentados na figura 2. Figura 2 - Simbologia para os diversos tipos de embalagens Fonte: CEMPRE. A Rotulagem Ambiental e o Consumidor no Mercado Brasileiro de Embalagens (2006). Para os plásticos, a simbologia mais utilizada segue a Norma NBR 13230 da ABNT. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Figura 3 - Simbologia utilizada para os tipos de plásticos Fonte: CEMPRE. A Rotulagem Ambiental e o Consumidor no Mercado Brasileiro de Embalagens (2006). Uma outra ferramenta bastante utilizada é a P+L (Produção mais Limpa), que é a aplicação contínua de uma estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos, produtos e serviços, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, pela não geração, minimização ou reciclagem de resíduos e emissões, com benefícios ambientais, de saúde ocupacional e econômicos. Para finalizar os estudos deste tema, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Trocando ideias Dentre os estudos apresentados sobre as ferramentas ambientais, qual você já conhecia ou utilizou ou ouviu falar? Sua empresa utiliza algum tipo de técnica ambiental? Há alguma associação com a LR? Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e discuta as questões apresentadas com seus colegas de turma no fórum desta disciplina! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 Síntese Nesta aula, a abordagem foi essencialmente tratada sob os aspectos ambientais e os possíveis impactos da aplicabilidade de ferramentas sistêmicas na LR, ferramentas que reconhecidas globalmente podem contribuir com práticas internas que promovam o comprometimento com ações voltadas para a prevenção da poluição, o atendimento à legislação ambiental e normas com requisitos específicos voltados para a excelência nos processos empresariais, o que inclui a LR sob esta necessidade de atendimento. As normas ISO, por exemplo, tratam do sistema de gestão ambiental de maneira sistêmica, envolvendo a necessidade do comprometimento da alta direção da empresa, desenvolvendo políticas ambientais, identificando os aspectos ambientais associados às atividades, promovendo planos e programas de cumprimento às leis e aos aspectos significativos e desenvolvendo toda a estrutura necessária para que as práticas ambientais estejam convergentes com os processos operacionais das organizações. Para as considerações finais do professor Luiz Felipe, acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! Referências BLAUTH, P. Rotulagem Ambiental e a consciência ecológica. 1997. DEBATES SÓCIO AMBIENTAIS, 5. 1997, [S.l.]. Anais... [S.l.]: 1997. Disponível em: <http://www.lixo.com.br/rotulagem.htm> Acesso em 07/06/2016. DE BRITO, M. P.; FLAPPER, S. D. P.; DEKKER, R. Reverse Logistics: a review of case studies. Econometric Institute Report EI 2002-21, Maio. DONATO, V. Logística Verde: uma abordagem sócio-ambiental. São Paulo: Ciência Moderna, 2009. FLEURY, P. F. et. al. Logística Empresarial: a perspectiva brasileira. São Paulo: Atlas, 2000. http://www.lixo.com.br/rotulagem.htm CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 LACERDA, L. Logística Reversa – Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. Disponível em: <http://www.coppead.ufrj.br/pesquisa/cel/new/fr-rev.htm>Acesso em 07/06/2016. LEITE, P. R. Logística Reversa. 2. ed. São Paulo: Pearson / Prentice Hall, 2009. RAZZOLINI, E. F.; BERTÉ, R. O reverso da Logística e as questões ambientais no Brasil. Curitiba: IBPEX, 2009. http://www.coppead.ufrj.br/pesquisa/cel/new/fr-rev.htm
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