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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 O QUE É ARTE? ........................................................................................ 4 2.1 As definições de arte ao longo da história ............................................ 4 3 HISTÓRIA DA ARTE - CRONOLOGIA ....................................................... 5 4 O QUE SÃO ARTES VISUAIS? .................................................................. 8 4.1 As Artes Visuais na Contemporaneidade ............................................. 8 5 ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO .............................................................. 9 6 INDEPENDÊNCIA: LIBERTAÇÃO DA ARTE NA DIMENSÃO ESTÉTICA DE HERBERT MARCUSE ........................................................................................ 10 7 O PENSAMENTO ESTÉTICO DE MARCUSE ......................................... 12 8 INDEPENDÊNCIA E LIBERTAÇÃO DA ARTE ......................................... 14 9 LINGUAGENS VISUAIS: APLICAÇÕES E TENDÊNCIAS ....................... 17 9.1 Elementos da imagem e simbolismo .................................................. 17 9.2 A cor como representatividade da imagem ........................................ 18 10 O USO DAS TENDÊNCIAS PARA A LINGUAGEM VISUAL ................ 18 11 PERCEPÇÕES SENSÍVEIS NA ARTE CONTEMPORÂNEA: CONCEPÇÃO ESTÉTICA DE GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI .................. 20 12 CATEGORIAS ESTÉTICAS DOS FILÓSOFOS GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI ..................................................................................................... 22 13 OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA QUE DIALOGAM COM A CONCEPÇÃO ESTÉTICA DOS FILÓSOFOS GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI 25 14 A LINGUAGEM VISUAL APLICADA A ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS .. 29 14.1 Breve Histórico da Imagem ............................................................. 31 14.2 Gestalt ............................................................................................. 32 15 A IMAGEM COMO LINGUAGEM .......................................................... 38 2 16 FUNDAMENTOS: ELEMENTOS GRÁFICOS QUE CONSTITUEM UMA IMAGEM 42 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 45 18 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 45 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 O QUE É ARTE? Arte é uma palavra que se origina do vocábulo latino ars e significa técnica ou habilidade. Podemos dizer que é uma manifestação humana comunicativa muito antiga. A arte possui um caráter estético e está intimamente relacionada com as sensações e emoções dos indivíduos. Como exemplo, podemos citar a pintura, a dança, a música, o cinema, a literatura, a arquitetura, etc. Vale salientar que a arte tem uma importante função social na medida que expõe características históricas e culturais de determinada sociedade, tornando-se um reflexo da essência humana. Ela existe em todas as culturas e sua definição foi e continua sendo discutida incansavelmente. 2.1 As definições de arte ao longo da história Para o filósofo grego Aristóteles a arte era uma imitação da realidade. Esse conceito, mais tarde, foi duramente refutado por diversas correntes artísticas que compreendiam que a arte não era somente baseada na imitação da realidade, e sim, na criação. Durante a Idade Média havia duas vertentes sobre ela: As artes manuais (ou mecânicas) As artes liberais (ou intelectuais) A primeira era considerada inferior à segunda, pois a arte somente era criada a partir do intelecto. Se pensarmos nessa questão hoje em dia, notamos que ela está mais desenvolvida; no entanto, o trabalho manual ainda é subjugado pelo trabalho intelectual. Como exemplo, temos o artesão e o artista, os quais compartilham um trabalho mental, ao mesmo tempo que participam da criação artística. Entretanto, o primeiro é, em grande parte, considerado um indivíduo que produz uma “arte menor” em relação ao outro. Essa analogia da "arte erudita" e da "arte popular" permanece até os dias de hoje, sendo pauta de discussão de muitos estudiosos. 5 3 HISTÓRIA DA ARTE - CRONOLOGIA A história da arte é um ramo da ciência que estuda os processos artísticos dentro do contexto em que foram realizados. Assim, com o intuito de facilitar os estudos, a arte está dividida em períodos, a saber: Arte Pré-Histórica: período anterior a 3000 a.C., por exemplo, a arte rupestre. Arte Antiga: de 3000 a.C. até 1000 a.C., por exemplo a arte egípcia. Arte Clássica: de 1000 a.C. a 300 d.C., por exemplo a arte grega e romana. Arte Medieval: de 300 a 1350, por exemplo, a arte gótica. Arte Moderna: 1350 a 1850, por exemplo, a arte neoclássica. Arte Contemporânea: de 1850 aos dias atuais, por exemplo, a arte conceitual. Arte Rupestre A arte rupestre representa uma das mais antigas manifestações artísticas que surgiu a milhões de anos no contexto da pré-história. São desenhos ou pinturas, os quais foram produzidos, sobretudo, em cavernas, por diversos povos antigos. Além das pinturas nas cavernas, é sabido que a escultura, a dança e a música também se iniciaram nesse período. Sendo assim, podemos refletir sobre a necessidade humana de se expressar, expor suas ideias, uma vez que por meio do fazer artístico o homem libera suas emoções. Na época paleolítica, por volta de 30.000 a.C., os desenhos criados tinham muita relação com a natureza. Os traços empregados para representar animais temidos eram cheios de movimentos e força. Já os animais mais dóceis como renas e cavalos eram feitos de forma mais delicada, revelando leveza e fragilidade. Arte Sacra A Arte Sacra representa o conjunto de obras que possuem como temática principal a religião. 6 Foi muito explorada antes do período do Renascimento (na Idade Antiga, Clássica e Medieval), sendo umas das principais formas de expressão durante séculos. Como exemplo temos as ilustrações, esculturas de santos e a arquitetura encontrada em diversas igrejas ou templos. Arte Barroca Com o período do Renascimento, significativas mudanças ocorreram na Europa no século XV, como: Cientificismo Contrarreforma Surgimento da burguesia Antropocentrismo Humanismo Nesse contexto, o artista barroco encontra na arte o local necessário para expor a confusãocausada pela mudança de paradigmas. Foi assim que a arte barroca, se distanciou, em partes, da Arte Sacra, criando uma arte mais erótica, profana, cotidiana e, portanto, não tanto idealizada. Arte Moderna A arte moderna surge no contexto da Revolução Industrial a partir do século XVIII. Na arte moderna, o conceito sobre arte amplia-se um pouco e chega até a ser considerada uma "antiarte", ou seja, ela não se preocupada com o teor estético e sim com a mensagem a ser transmitida. No Brasil, o marco de introdução da arte moderna foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Nesse sentido podemos pensar que a arte tem uma função importante, além da catarse (purgação de sensações). Ou seja, uma obra artística pode conter um teor ideológico e político envolvido, o que leva o público a refletir sobre o conceito e não simplesmente visualizar as obras. Arte Abstrata 7 Uma das características das artes visuais do período moderno foi o surgimento da corrente artística denominada Abstracionismo. De tal modo, a arte abstrata propõe uma obra visual não representacional, ou seja, ela prioriza as formas abstratas em detrimento de figuras que fazem parte da realidade. Essa corrente surgiu no contexto do Modernismo, mediante a liberdade de expressão e refutação ao academicismo, e está relacionada com os movimentos vanguardistas. Arte Contemporânea A arte contemporânea ou arte pós-moderna surgiu no século XX, embora muitos estudiosos preferem indicar sua origem no final do século XIX. A arte contemporânea abrange um conceito de arte mais aberto, sendo pautado, portanto, na originalidade, experimentações artísticas e técnicas inovadoras. Assim, ela admite diversas modalidades e linguagens artísticas bem como a mistura entre elas. Hoje, fala-se em arte performática, arte multimídia, arte étnica, dentre outros. Da mesma maneira que a arte moderna, a arte contemporânea foca na ideia a ser transmitida em detrimento do valor estético da obra. Sua principal função é fazer as pessoas pensarem, não somente com trabalhos que abriguem conceitos estéticos de harmonia e beleza, mas a partir de obras que muitas vezes extrapolam os limites da consciência humana. A ideia é que as pessoas tenham contato com as obras de arte através do "choque estético" e que assim ocorram processos catárticos e que favoreçam a atividade reflexiva. Artes Visuais Importante conhecer o conceito de Artes Visuais, uma vez que tem gerado muita confusão. Algumas pessoas acreditam que as artes visuais incluem somente as pinturas. No entanto, o conceito de artes visuais é muito mais amplo e está relacionado com o próprio nome “visual”. Ou seja, representa aquela arte que conseguimos ver: pintura, escultura, arquitetura, teatro, dança, fotografia, dentre outras. 8 Fonte: cursos.marco.org.mx 4 O QUE SÃO ARTES VISUAIS? As artes visuais representam um conjunto de manifestações artísticas como: pintura, escultura, desenho, arquitetura, artesanato, teatro, fotografia, cinema, dança, design, arte urbana, dentre outros. O conceito de arte visual está intimamente relacionado ao conceito de visualizar - “ver” - e por isso, engloba as artes em que a fruição ocorre por meio da visão. Dada sua importância e abrangência, atualmente existe o curso superior em “Artes Visuais”. Nele, o estudante sai com o título de artista visual, que o capacita a criar, avaliar e participar do mercado cultural e artístico. 4.1 As Artes Visuais na Contemporaneidade Importante destacar que o conceito de arte foi se ampliando com o passar do tempo. No entanto, já é certo que a arte é uma manifestação humana essencial que esteve sempre presente nas culturas desde a antiguidade, tal qual a arte rupestre. 9 De tal modo, além do conceito, as temáticas, técnicas e materiais empregados na arte, foram se ampliando e atualmente, torna-se tarefa difícil identificar como ela surge. Com o desenvolvimento da tecnologia e dos computadores, a arte visual também pode ser produzida através de ferramentas tecnológicas. Podemos citar as artes gráficas, criadas por meio de programas de computador (softwares) denominada de web art. As artes modernas e contemporâneas foram responsáveis por abranger ainda mais o conceito de arte. Pois com elas a ideia torna-se mais importante do que o caráter estético e visual do objeto artístico. Atualmente, podemos encontrar diversos tipos de artes: Vídeo-arte Animações Colagens Arte urbana Instalações artísticas Performances Arte corporal (body art) Apresentações de rua História em quadrinhos Artes decorativas Arte multimídia Design gráfico, de produtor e de moda 5 ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO Nas últimas décadas, as artes visuais passaram a ser importantes ferramentas de aprendizagem desde a infância. Isso porque ela desperta a sensibilidade estética e estimula a criatividade. Além disso, propõe a reflexão a partir de outro tipo de linguagem, “a linguagem visual”, que agrega valor à linguagem escrita. 10 Décadas atrás, a disciplina sobre arte era chamada de "educação artística" e envolvia conceitos sobre a história da arte e basicamente, a criação de desenhos e pinturas. No entanto, o conceito de arte nas escolas se expandiu e atualmente, podemos encontrar colégios em que disciplinas de arte visuais são mais abrangentes. Elas incluem, por exemplo, a dança, o teatro, a fotografia e o cinema. 6 INDEPENDÊNCIA: LIBERTAÇÃO DA ARTE NA DIMENSÃO ESTÉTICA DE HERBERT MARCUSE Marcuse (1898–1979) defende que a experiência estética e a arte são componentes essenciais para o processo de liberdade da consciência e do comportamento dos indivíduos. Suas teses sobre questões estéticas estão presentes na maioria dos seus escritos filosóficos. Ele insere, como base para sua pesquisa estética, o momento literário, artístico, filosófico e político do romantismo alemão, e outras correntes de pensamento sobre estética e teoria crítica que constituíram-se entre os séculos XVIII ao XX. Segundo (KELLNER, 2015, p. 13), “Marcuse afirma que Hegel instituiu um método de crítica racional que utilizava o poder do pensamento negativo para criticar as formas irracionais da vida social.” Neste sentido, a estética de Marcuse defende que a arte possui o poder de cindir com o aparato estabelecido, a partir da negação produzida pela fantasia constituinte da experiência estética. A arte possui o poder de negação, possibilitando outras imagens que podem constituir formas mais belas e racionais para a produção da vida social. Conforme (MARCUSE, 1960, p. 7), “pensar é sim, essencialmente a negação daquilo que está imediatamente diante de nós”. Por isso, o filósofo reconhece que dialética e linguagem fazem parte de um terreno comum, uma vez que a negação implica a recusa em aceitar o estado estabelecido de coisas. Assim, justificamos o pensamento estético de Marcuse em diálogo permanente com a dialética hegeliana, bem como sua compreensão sobre a função do belo na obra arte. Uma arte autêntica e verdadeira é compreendida como aquela que provoca denúncias e desvelamentos, quer dizer, produz liberdade e desperta o exercício do pensamento crítico e racional. 11 Como atesta Marcuse (2016, p. 18), “a obra de arte representa, portanto, a realidade, ao mesmo tempo que a denúncia”. A estética é compreendida por Hegel como ciência do belo, ou mais precisamente do “belo na arte em contraposição ao belo natural”. Noutras palavras, a estética é a manifestação do belo produzido pelo homem, compreendendo que existe uma esfera sensível no conhecimento.Assim, ela possui uma finalidade e uma verdade (forma sensível do verdadeiro). Nessa medida, concordamos com Bras (1990, p. 19), quando afirma que: “se a ciência do belo é de fato possível, é que na arte, o espírito está em ação e pode se deixar conhecer racionalmente.” Por conseguinte, afirmamos que a arte, em Hegel, assim como a religião e a filosofia, constituem momentos rumo ao espírito absoluto. Ambas possuem propósitos idênticos, ou seja, propõem uma ontologia. Em Marcuse, essa compreensão não é diferente. A arte possui a finalidade de compreender a essência (razão) na simples aparência. Ora, entendemos que, no movimento dialético, tanto a essência como aparência são necessárias, mesmo sendo distintas. Ambas fazem parte da dinâmica do movimento. Dito de outra forma, tanto o pensar em relação a arte como o pensado se pertencem mutuamente. Isso significa, todavia, que sempre ocorrerá uma superação sem deixar de conservar uma parte do todo. A arte é capaz de reduzir o aparato que a aparência externa exige de modo a preservar – se – redução aos limites em que o externo pode tornar-se – se a manifestação do espírito e liberdade. Segundo Hegel, a arte reduz a contingência imediata na qual um objeto (ou uma totalidade de objetos) existe a um estado no qual o objeto adota a forma e a qualidade da liberdade (MARCUSE, 2015, p. 226, Apud SOUZA J. S. 2018). Não obstante, é importante deixar claro que, para Hegel, a arte ou a manifestação do belo produzido pela intervenção do pensamento e da criação do homem, representam “um momento” do todo. Ora, não pretendemos aprofundar tal questão neste artigo, uma vez que nosso objetivo é trazer a compreensão do belo como busca da liberdade em contraposição à aparência (estado estabelecido de coisas), e sua relação e influência com o pensamento estético marcusiano. Talvez o problema da relação entre essência, aparência e existência na experiência da arte, sejam fundamentais para o desenvolvimento da compreensão estética de Marcuse e sua refutação aos estetas marxistas ortodoxos. 12 Ao criticar esses últimos, Marcuse deixa claro sobre o quanto eles limitaram a experiência da arte em simples “aparência,” contida na sociedade de classe e na totalidade das relações. Tal postura estaria negligenciando as potencialidades existentes na verdadeira estética marxista que, por sua vez, compreende a experiência da arte transcendendo as relações de classe e produção, além de fazer surgir outra imagem que se configura como processo de libertação. Fonte: conversamolle.blogspot.com 7 O PENSAMENTO ESTÉTICO DE MARCUSE A noção estética que Marcuse propõe é compreendida em dois momentos. No primeiro, não há distinção entre estética e arte; já, no segundo, as linguagens da arte constituem-se como componentes que fazem parte da forma estética. Neste sentido, a relação presente entre ambas estará em todo nosso percurso de exposição no interior de um movimento dialético que envolve afirmação, negação e efetividade. Seu ponto de partida é a literatura do século XVIII e XIX, sem excluir as linguagens da música, teatro, artes plásticas etc. Sua tese de doutoramento intitulada: Der Deutsche Künsterroman (O romance do artista alemão), apresentada em (1922) na Universidade de Freiburg, é a segunda experiência sistemática sobre arte. Neste estudo, Marcuse separa a experiência da arte e do artista da totalidade das relações, 13 a fim de compreender que existe um poder existente na experiência da arte que está além da vida concreta. O poder existente na arte está situado no rompimento que ela faz com o mundo estabelecido contido na concentração econômica, meios de comunicação de massa, mercado internacional, racionalidade tecnológica, personalidade tecnológica e razão instrumental. A estética e as linguagens da arte, possibilitam que os indivíduos percebam as coisas de forma diferente. Segundo Marcuse, a estética e a arte possuem o imperativo categórico segundo o qual “as coisas precisam mudar”. É fundamental perceber que, para Marcuse, é clara a aproximação da arte no contexto das relações sociais. Todavia, a experiência da arte não é “restritamente” ligada à vida cotidiana, visto que, o mundo da arte e do artista é outro. Fantasia, subjetividade e criatividade são constituintes da experiência da arte e assim, diferenciam-se da totalidade. A própria sociedade identifica o artista e a arte como tipos sociais distintos. É Marcuse (1999, p. 50) que ao citar Dieter Wellershoff (1925- 2018), nos adverte sobre a distinção da arte e o artista da vida comum. O esforço desesperado do artista para fazer da arte uma expressão direta da vida pode vencer a separação da arte da vida. Wellershoff aponta o fato decisivo: “existem diferenças sociais intransponíveis entre a fábrica de conservas e o estúdio do artista: a fábrica de Warho; entre o ato de pintar e a verdadeira vida que gira à sua volta” (MARCUSE, 2016, p. 50). A relação do pensamento estético de Marcuse com a conjuntura histórica, seus estudos sobre teoria crítica da sociedade, a política radical das forças de rebelião, onde a arte se faz presente como dimensão acusadora enquanto arte pela arte, motiva-nos a perceber e compreender toda a amplitude de seu estatuto estético e a sua contribuição em relação à filosofia e à arte. A experiência da arte na compreensão marcusiana possibilita a consciência de si a partir do momento em que produz uma outra imagem, para além da realidade concreta e estabelecida. A dimensão estética pressupõe um constante movimento da arte, em rompimento com as estruturas da sociedade estabelecida. A arte desperta a possibilidade dos indivíduos continuarem o esforço de “ser,” e, principalmente aquilo que “poderiam ser”. Esse processo só é possível inicialmente pela fantasia, que confronta a sociedade administrada do estado estabelecido de coisas. 14 8 INDEPENDÊNCIA E LIBERTAÇÃO DA ARTE A Independência da arte ocorre dentro da estrutura da própria arte, destacando as diversas formas existentes como uma espécie de transfiguração, tanto na obra, como no estilo e na técnica. Temos, como exemplo, as transformações e transgressões ocorridas nos movimentos literários como: surrealismo, dadaísmo, expressionismo. Sua independência também ocorre em contraposição à estrutura da totalidade compreendendo que, mesmo fazendo parte desta esfera, a arte possui a capacidade de suplantar o dado concreto e as suas relações mistificadas. É com a possibilidade da libertação ideal dada pela arte ao artista, através de sua manifestação que, enfim, se consegue escapar de uma realidade opressora vindo a construir a possibilidade de romper com automatismos e subjugações do fazer, alcançando, dessa forma, a ativa condição de sujeito pensante, sujeito de si. A separação da arte do processo da produção material deu–lhe a possibilidade de desmistificar a realidade reproduzida neste processo. A arte desafia o monopólio da realidade estabelecida em determinar o que é real e falo criando um mundo fictício que, no entanto, é mais real que a própria realidade (Marcuse, 1999, p. 33). A libertação e a transcendência da arte surgem a partir de sua tensão imediata com a “estrutura política” (práxis política radical). Doravante, o momento em que relacionam sua experiência com a “estrutura política”, ela (arte) passa a não fazer o movimento de recusa. Na esfera política, a própria arte findaria apenas como um aparato dentro das estruturas dominantes do estabelecido. Para comprovar a reflexão, lembramos aqui a utilização da arte como instrumento (apenas apêndice) de comunicação, sendo, pois, apropriada como aparato dominante de manipulaçãodas consciências. E, isso, seja nas campanhas publicitárias do nazi fascismo, seja na indústria da propaganda dominante na Rússia, Alemanha, China, Itália ou EUA. Sob esse prisma, a arte, uma vez empregada dentro de uma ótica da razão instrumental, se alicerça na estrutura política do estado, como forma de anestesiar e, concomitantemente, reprimir os indivíduos. A arte é conduzida como forma de aniquilação e destruição da consciência, e não como libertação. Não obstante, a arte e sua dimensão estética conservam possibilidades para um avanço qualitativo do ser humano. Segundo Marcuse (1999, p. 81), “no centro desta discussão, está a ideia de uma arte autônoma em confronto com a indústria de arte capitalista por um lado, e a parte da propaganda radical, por outro”. A arte para 15 além das experiências e relações de produção cerceadas, ela enquanto tal, é produto da subjetividade, criatividade e transcendência. Destarte, limitar a experiência da arte a base material, como fizeram os estetas marxistas ortodoxos, seria destruir as possibilidades de transformação constituintes da arte. Marcuse defende na dimensão estética a revitalização da arte, enquanto subversão da percepção dos indivíduos em meio à realidade estabelecida. O mundo concreto das relações sociais, uma vez conduzido por uma razão instrumental alicerçada no desenvolvimento das sociedades industriais avançadas, rege a vida social, fazendo com que os indivíduos, inclusive os intelectuais, permaneçam obedecendo às ordens do estado de coisas. Esta é uma das questões que levam Marcuse a preocupar-se com a defesa das faculdades mentais, bem como, da própria arte. Por isso, ele eleva a arte como componente essencial para o pensar negativo. Trata-se de pensar a arte enquanto negadora de um mundo que contradiz a si mesmo, e que, ao mesmo tempo, que se contradiz, é nele, que se construirá as possibilidades com a arte. É na forma estética que é possível surgir a oposição diante da realidade estabelecida através da catarse reconciliadora da arte. Isso pode soar romântico, e muitas vezes me censuro por ser talvez demasiado romântico, em avaliar o poder radical, libertador da arte. Recordo a observação usual, expressa há muito tempo, acerca da futilidade e talvez mesmo da culpabilidade da arte: o Parthenon não valia o sangue e as lágrimas de um só escravo grego. Igualmente leviana é a afirmação contrária de que somente o Parthenon justificou a sociedade escravocrata. Bem, qual das duas afirmações é a correta? Se observo a sociedade e a cultura ocidentais de hoje, o massacre e a brutalidade totais em que ela se empenha, parece-me que a primeira afirmação é, talvez mais correta que a segunda. Entretanto, a sobrevivência da arte poder vir a ser o único elo frágil que hoje conecta o presente com a esperança do futuro (MARCUSE, 1969, p. 1). Por fim, percebemos que os estudos iniciais de Marcuse, bem como sua preocupação com as questões da arte e da estética, apresentam-se com objetivos concretos. Ou seja, como possibilidades reais, onde a dialética se faz presente como caminho de superação das situações reais. Sua defesa da arte nos faz perceber a força que as linguagens possuem em contraposição às imagens da sociedade estabelecida. 16 Mas essa afirmação tem a sua própria dialética. Não existe obra em que não evoque, em sua própria estrutura, as palavras, as imagens, a música de uma outra realidade, de uma outra ordem repelida pela ordem existente e, entretanto, viva na memória e na antecipação, viva no que acontece aos homens e mulheres, e na rebelião contra isso (MARCUSE, 1973, p. 93). Fonte: radio.ufpa.br Compreender uma estética verdadeiramente marxista é trazer para seu campo de estudo uma visão heterodoxa da arte. Levando em consideração que, diante das sociedades estabelecidas, a única possibilidade de ruptura é por meio da fantasia e da subjetividade dos indivíduos, talvez, esse ainda seja nosso primeiro movimento de acusação do estabelecido. A ideologia ortodoxa na arte, levantada por parte de alguns estetas marxistas, deixou-a na condição de simples objeto concreto, sem vida e perspectivas de mudança radical. Como bem escreve Marcuse (1999, p. 66), “a arte abre uma dimensão inacessível a outra experiência, uma dimensão em que os seres humanos, a natureza e as coisas deixam de se submeter à lei do princípio de realidade, hoje dominante”. 17 9 LINGUAGENS VISUAIS: APLICAÇÕES E TENDÊNCIAS A Linguagem Visual é o uso de recursos gráficos para expressar um sentimento ou ideia para aquele que visualiza uma imagem. É a organização das representações de ideias de acordo com aquilo que se quer passar. A Linguagem Visual está presente desde os primórdios da humanidade, usada sempre para comunicar e expressar mensagens. Desde a pré-história, o homem sente a necessidade de comunicar através de mensagens. E antes mesmo da invenção da escrita, usavam-se imagens para descrever atividades e instruções sobre um determinado acontecimento. Assim, o uso da imagem tornou-se parte da construção humana. A imagem usada para expressar todos os acontecimentos da humanidade e suas invenções, ainda tem seu objetivo principal “alcançar o objetivo da expressão humana”. Portanto, durante logos períodos da história seu uso foi a principal forma de comunicação. Logo, após o surgimento da escrita. A Linguagem Visual foi surgindo e junto com a escrita foi se reinventando e usando a criatividade para ilustrar acontecimentos e mensagens ao seu povo durante o cotidiano. 9.1 Elementos da imagem e simbolismo Além disso, a Imagem é capaz de transmitir de forma simbólica o nosso objetivo de comunicar. Através dos elementos de ponto, linha, plano, textura, cor, forma, tom que fazem parte da estrutura morfológica de uma imagem e através desses elementos podemos remontar a compreensão humana da observação da imagem. Contudo, todos esses elementos podem nos ajudar a ter uma dimensão da mensagem e a representatividade através dos sentidos que o ser humano possui. Além dos elementos importantes na construção de uma imagem, apesar da existência de vários recursos dentro da construção de uma imagem, as cores podem ajudar entender o comportamento da imagem de acordo com o objetivo dela, ou seja, seu público, e a marca para quem as desenvolvemos. É importante salientar que o uso da imagem é essencial para passar nossas ideias e estar de acordo com o Briefing é essencial. Dentro dessa ideia, as cores podem remontar as emoções e de forma lúdica serem usadas nas mais diversas estratégias de venda, por exemplo. 18 9.2 A cor como representatividade da imagem Marcas diversas usam as cores como principal representante de sua aparência, cores frias e cores quentes se unidas podem representar os mais variados usos podem significar grandes resultados. Considerando o uso dos elementos morfológicos da construção da imagem que você pode ver melhor, considere usar a Linguagem Visual como um dos elementos importantes para o seu negócio. É com ele, que você poderá alcançar os objetivos de forma concreta e incisiva. O recurso da Imagem é o que nos ajuda a construir uma Identidade Visual, de forma original, coerente e capaz de passar ponto a ponto do objetivo de planejamento de Marca para a sua empresa. A Linguagem Visual quando bem aplicada pode obter excelentes resultados, portanto é necessário que a conheçamos de forma inteligente e faça o uso da mesma de forma equilibrada. Com o planejamento adequado se torna a melhor ferramenta que você pode utilizar em seu design. 10 O USO DAS TENDÊNCIAS PARA A LINGUAGEM VISUAL Logos Flexíveis (Responsivo) Os logotipos,servem não somente para representar uma marca no mercado. Mas, também como a porta de entrada de qualquer empresa. Os logos flexíveis têm sido usados não só pela sua capacidade de adaptação, como também pelas suas chances de obter sucesso à longo prazo. Os logos flexíveis são usados em qualquer tipo de design, para sites ou cards e até mesmo para outras finalidades. Assimetria É a composição de elementos de forma desigual, mas que cria uma coerência visual e textual, assim criando a atenção do público para a imagem em questão. Quando bem utilizada a assimetria pode mostrar um conteúdo original com estilo e personalidade. Cores Vibrantes O uso das cores na construção da imagem é inegável, como já fora explicado mais acima. O uso das cores vibrantes está na expressão das emoções humanas, é 19 através da vibração das cores que podemos determinar e exprimir os sentimentos que está na mensagem simbólica que a mensagem comum, esse elemento assim como nos anteriores irá perdurar na lista de tendências por um bom tempo. É importante tomar cuidado, pois os usos das cores vibrantes podem acarretar em desconforto visual e até tirar o objetivo inicial que a imagem expressa. Fontes ousadas A tipografia está, por muitas vezes, substituindo o uso de imagens na composição. O uso de fontes divertidas e irreverentes pode favorecer muito qualquer imagem e pode ajudar passar uma imagem totalmente positiva e confortável à visão. Ilustração Vintage e Minimalismo O minimalismo é um dos conceitos mais simples que existem e pode dar uma mensagem mais objetiva à imagem, se esse for o objetivo esta é a melhor opção para seu uso. Assim como as ilustrações vintage que podem ser excelentes para negócios de moda e design de interiores, por exemplo. Formas Geométricas Se usadas corretamente podem dar ideia de logicismo ao contexto. Criando uma mensagem harmônica e compositiva, podendo passar a ideia de rapidez, modernidade e/ou inovação. Sobreposição de elementos É uma prática usada, onde os elementos podem ser dispostos da forma a ficar harmônico onde podemos sobrepor imagens, textos, linhas, formas geométricas e outros recursos visuais de forma a imagem ficar única. A Linguagem Visual é o recurso no qual podemos aproveitar de diversas formas sua objetividade e obter ótimos resultados em seu uso. Com ela podemos criar peças únicas e tirar proveito da emoção humana, assim exprimindo em peças únicas com as principais tendências. Esta condição deve ser usada com sabedoria e que deve ser incluída sempre no planejamento. Portanto, a melhor forma para encontrar o uso perfeito da imagem é estudando onde os elementos serão aplicados e como eles serão usados, assim, não haverá erros e os resultados serão surpreendentes. 20 11 PERCEPÇÕES SENSÍVEIS NA ARTE CONTEMPORÂNEA: CONCEPÇÃO ESTÉTICA DE GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI O conceito de arte vem sendo discutido historicamente por muitos autores e muitas considerações já foram publicadas. Segundo Pareyson (1997), tradicionalmente a arte é definida de três formas distintas. As definições mais conhecidas da arte, recorrentes na história do pensamento, podem ser: como um fazer, ora como um conhecer, ora como um exprimir. Mas, de acordo com o autor, certamente a arte é expressão. Mas é importante que se perceba que todas as operações humanas são expressivas, portanto é necessário dizer que a arte também tem um caráter expressivo. Ainda segundo Pareyson (1997, p.22-23): Dizer, por exemplo, que a arte é “expressão de sentimentos” pode ter importância no plano da poética, mas é uma perigosa asserção no plano da estética. Pode existir o programa de uma arte lírica, que consista no exprimir afetos e emoções, o que, no entanto, não esgota a essência da arte, já que não se compreende qual sentimento um arabesco, ou uma música abstrata, ou uma obra arquitetônica possam exprimir, enquanto neles se exprimiu toda uma espiritualidade. Dessa forma, a arte é expressiva quando a ela se referir enquanto forma, enquanto linguagem artística. Para Pareyson (1997), a obra de arte é expressiva quando se atribui a ela um organismo que vive por conta própria e contém tudo quanto deve conter. Assim, ela irá exprimir a personalidade do seu autor. A arte contemporânea, como todas as demais artes retratadas historicamente, sofre influências sociais que fazem compreender a sua estética por meio de características próprias como o hibridismo, o efêmero e o conceitual. Isto porque a arte atual tem como proposta a utilização de diferentes materiais que permitem provocar a reflexão crítica no apreciador. A arte contemporânea, não estando mais preocupada com a beleza do objeto, nem exclusivamente com sua forma, mas com os significados que os objetos e os materiais podem produzir no observador, ou ao se propor como reflexão sobre o homem e o seu tempo, não permite uma contemplação rápida e inconsciente. Ela quer justamente se opor à velocidade do mundo atual e provocar instantes de fruição intelectual, não mais os pequenos prazeres dos grupos sociais afortunados, mas uma arte possível a todos, que traga consigo os problemas que afligem o homem contemporâneo. (BINI, 2018, p.76) 21 A arte atual é criada a partir do tempo e do espaço no qual se manifesta, passando por um processo de questionamento constante, propondo novas ideias, novas concepções artísticas que rompem com a ideologia do passado, que retratava a arte por meio de uma abordagem ritualística, religiosa e decorativa. A partir de então, o belo na arte passa a ser contestado e a compreensão de arte passa a ter novos paradigmas estéticos. Fonte: www.radarconsultoria.com A arte contemporânea se torna desafiadora para artistas e público que a aprecia, uma vez que as obras deveriam ter originalidade, afastando-se das meras novidades que até o momento se privilegiava no mundo artístico. Para Strickland (2004) a arte vai se tornando mais intencional, sem uma área geográfica dominante, e mais diversificada que nunca. Depois de muito tempo de experimentação, o legado é de liberdade total. Com essa nova perspectiva artística, a arte não pode mais ser pensada sem considerar o subjetivo, o abstrato, ou seja, as sensações existentes entre a obra, o artista e o público. Neste sentido, é importante questionar quais as percepções sensíveis que as obras de arte contemporânea provocam a partir das concepções estéticas? 22 12 CATEGORIAS ESTÉTICAS DOS FILÓSOFOS GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI Os filósofos franceses Deleuze e Guattari (1997), em sua obra “O que é a filosofia”, discorrem sobre a arte numa perspectiva de análise referente as categorias estéticas. Eles compreendem a arte a partir das sensações, considerando a linguagem sensível uma alternativa para entrar nas palavras, nas cores, nos sons ou nas pedras. Segundo esses dois autores, “a obra de arte é um ser de sensação, e nada mais: ela existe em si” (1997, p.213). Este tema propõe compreender a relação das percepções sensíveis a partir das obras de arte criadas historicamente. A arte, para eles, se conserva, existe por si só, o que significa que não está relacionada somente ao material ou à técnica utilizada pelo artista, mas a um bloco de sensações que é composto de “perceptos e afectos”, e é esta intenção que faz dela arte e a faz existir para além do seu tempo. Para os autores, a denominação de perceptos e afectos está na arte e no afetamento que a contemplação da obra pode provocar no artista e no espectador. Por isso, independentemente do tempo em que a obra foi criada, a sensação existente está nela, está noseu material, está na sua forma, está na sua técnica, está no seu significado, está na sensação que ela causa, está no espaço que ela ocupa, ou seja, está em tudo que persiste na obra de arte. Nessa perceptiva, a arte é criadora de sensações, pois toda matéria se torna expressiva. Assim, quando Deleuze e Guattari descrevem as sensações existentes, consideram as diferenciações entre perceptos e afectos. Segundo eles: O afecto não ultrapassa menos as afecções que o percepto, as percepções. Não é a passagem de um estado vivido a um outro, mas um devir não humano do homem. [...] não é uma imitação, uma simpatia vivida, nem mesmo uma identificação imaginária. Não é a semelhança, embora haja semelhança. É antes uma extrema contiguidade, num enlaçamento entre duas sensações sem semelhança [...] (1997, p. 224-225). Para Deleuze e Guattari (1997) são os perceptos e afectos que fazem com que a arte resista o tempo. Fazem com que ela crie e recrie no passado, presente e futuro. O afecto, citado dentro do bloco de sensação, está presente naquilo que a arte proporciona, a partir do que está na obra, sua forma, cor, som, bem como o que se vê, o que se ouve, o que se sente. A sensação está na criação e o percepto é considerado o motivo, ou seja, os perceptos não mais são percepções, são 23 independentes do estado daqueles que os experimentam; os afectos não são mais sentimentos ou afectos, transbordam a força daqueles que são atravessados por eles. As sensações, perceptos e afectos, são seres que valem por si mesmos e excedem qualquer vivido. Existem na ausência do homem (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.213). Corroborando os autores, a arte está carregada de perceptos e afectos, ela não precisa necessariamente do Homem para existir, ela por si só é o bloco se sensação, que pode ou não atingir e ou afetar o ser humano. Este bloco de sensações, composto por perceptos e afectos, aparecerá como a unidade ou a reversibilidade daquele que sente e do que é sentido, podendo ser percebido como seu íntimo entrelaçamento. Este bloco também precisa de bolsões de ar e de vazio, pois mesmo o vazio é considerado sensação. Segundo Deleuze e Guattari (1997, p.215): Toda sensação se compõe no vazio, compondo-se consigo, tudo se mantém sobre a terra e no ar, conserva o vazio conservando-se a si mesmo. Uma tela pode ser inteira preenchida, a ponto de que mesmo o ar não passe mais por ela; mas algo só é uma obra de arte se, como diz o pintor chinês, guarda vazios suficientes para permitir que neles saltem cavalos. Portanto, a arte vai muito além da tinta, da cor, da tela, ou de qualquer coisa real, concreta que a faça existir. A arte proporciona enxergar o que não está visível aos olhos. É necessário que o momento da apreciação provoque sensações capazes de enxergar os mais diversos signos associados a condição de vida, ao acontecimento, ao diálogo e as relações de encontro entre o objeto, o material, a técnica e as intencionalidades existentes a partir da criação da obra pelo artista. O artista contemporâneo não está mais em busca da beleza da forma: ele está em busca de uma nova sensibilidade, que pode se afastar dos ideais estéticos da beleza. Mas ele quer provocar o observador a refletir sobre si mesmo e sobre seu papel no mundo. A arte contemporânea está voltada principalmente para as questões existenciais, para o fazer pensar (BINI, 2018, p. 61-62, Apud BARBOSA A. C. A. 2018). Deleuze e Guattari (1997, p.250) vão dizer que “a visão existe pelo pensamento, e o olho pensa, mais ainda do que escuta”. Isto porque toda obra de arte, seja ela uma pintura, um desenho, uma gravura, uma escultura, ela é percebida como pensamento, entregando ao olho do espectador tudo que for possível. Neste sentido, o que se conserva na obra de arte são os perceptos e afectos, não o material ou a obra em si, mas as sensações que ela causa, fazendo com que o 24 material se integre na sensação. Para Deleuze e Guattari (1997) mesmo se o material só durasse alguns segundos, daria à sensação o poder de existir e de se conservar em si, na eternidade que coexiste com esta curta duração. Nesta perspectiva, os autores consideram que “o objetivo da arte, com os meios do material, é arrancar o percepto das percepções do objeto e dos estados de um sujeito percipiente, arrancar o afecto das afecções, como passagem de um estado a um outro” (1997, p.217). Isto é interpretado como um bloco de sensações, ou seja, um puro ser de sensações. A arte também é analisada como independente do criador, pois os artistas são percebidos como filósofos, como aqueles que viram algo na vida grande demais para qualquer um, até mesmo para eles. Os artistas, ao criar uma obra de arte, passam pelo percepto, ou seja, buscam um motivo para sua obra. Para Deleuze e Guattari (1997), os artistas são aqueles que inventam o não conhecido e desconhecido, associam o afecto a força de criação. O artista é mostrador, inventor e criador de afectos, em relação com os perceptos ou as visões que nos dá. O artista, por meio da sua obra, pode proporcionar modificações nos sujeitos afetados pela experiência estética. Mas não é somente em sua obra, representada pelo objeto em si, que o artista cria, ele vai além, ou seja, ele pode transformar o público, fazer o público pensar e refletir diferente. Este pressuposto categórico composto por técnica e estética, integra o público na manifestação artística. Para Deleuze e Guattari (1997, p. 227). É assim, de um escritor a um outro, os grandes afectos criadores podem se encadear ou derivar, em compostos de sensações que se transformam, vibram, se enlaçam ou se fendem: são estes seres de sensação que dão conta da relação do artista com o público, da relação entre as obras de um mesmo artista ou mesmo de uma eventual afinidade de artistas entre si. O artista acrescenta sempre novas variedades ao mundo. A criação que traz a luz do dia são os perceptos e afectos, são os devires não humanos do Homem. Isto porque, para estes filósofos, o olho pensa e esta visão traz à tona o invisível, ou seja: Como ver e pintar os sons? Como ouvir as cores latentes? São perguntas que dialogam com a invisibilidade da arte. É tornar sensível as forças insensíveis que povoam o mundo, é permitir que a arte provoque, que sensibilize, que afete, e por meio destas sensações, faz surgir o devir. É ir além do que é julgado real e concreto. Outro aspecto a destacar é que, para Deleuze e Guattari, a arte não tem opinião, mas ela é capaz de abstrair a sensação da opinião. 25 Estes compostos de sensações são provocados pelas categorias estéticas que a arte pode expressar. Categorias estas que estão associadas às sensações presentes na apreciação artística, no contato com a arte, na experiência provocada. 13 OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA QUE DIALOGAM COM A CONCEPÇÃO ESTÉTICA DOS FILÓSOFOS GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI O contemporâneo na arte surge a partir de 1960 com uma criação voltada para o mundo atual. A arte contemporânea se diferencia das artes criadas até este momento histórico, por privilegiar a participação do público e utilizar os meios tecnológicos, bem como materiais do cotidiano que, quando usados, ganham outro sentido na obra de arte. Ela tanto pode ser conceitual, híbrida, efêmera como pode se caracterizar pela espontaneidade, manifestando-se por meio da instalação, assemblage, performance, happening, readymade, viodeoarte, bodyart, anti-form, land art, arte povera, etc. Para representar o que a arte traz atualmente é importante destacar que os materiais utilizados, que podem ser objetos fabricados, materiais naturais e perecíveis, tal como o próprio corpodo artista, são relevantes na construção da ideia e do conceito da arte. Para Deleuze e Guattari (1997), a arte pode ser compreendida, não como virtual, nem como atual, mas como possível, e é a existência do possível que é entendida como categoria estética. Não é simples definir a arte contemporânea, como também não é fácil analisar as obras esteticamente no mundo atual. Isto porque ela permitiu o uso de inusitados materiais, permitiu todo o tipo de processo artístico, muitas vezes incompreensível pelos críticos e pelo próprio público. Segundo Millet “é nesta área de liberdade, que se continua a desenvolver alegremente a arte de hoje” (1997, p. 15- 16). Esta arte pode ser entendida como original, curiosa, que expressa liberdade total com o máximo de intensidade. Cauquelin (2005, p.11) nos diz que, para aprender a arte como contemporânea, precisamos, então, estabelecer certos critérios, distinções que isolarão conjunto dito “contemporâneo” da totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, em suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de vanguarda. Com efeito, a esse r espeito, teríamos ainda que nos defrontar com a 26 dispersão, com a pluralidade incontrolável de “agora”. De fato, os trabalhos que tentam justificar as obras de artistas contemporâneos são obrigados a buscar o que poderia torná-los legíveis fora da esfera artística, seja em temas culturais, recolhidos em registros literários e filosóficos. Fonte: www.todamateria.com.br Nesta perspectiva, a arte contemporânea passa a ser pensada a partir da relação cultural, social e filosófica, contemplando aspectos como obra, artista, público e material, considerando o espaço e o tempo da sua criação. Tudo é permitido, tudo é possível, quando se tem a aproximação com a vida, buscando usar materiais diversificados, explorando locais diversos para sua exposição, bem como, possibilitando maior participação do público. Um exemplo de arte contemporânea, mais precisamente arte povera, a qual apresenta características como a experimentação de materiais não convencionais, mostrando uma ideia inversa ao racionalismo, pode ser percebido nas obras do artista italiano Giuseppe Penone (1947), que tem interesse em realizar obras associando intervenções escultóricas com a natureza. Deleuze e Guattari (1997) também descrevem que toda obra de arte é considerada um monumento, mas é importante salientar que este monumento não está ligado ao passado, mas a um bloco de sensações presentes. Isto significa que o 27 monumento não comemora algo que já passou, mas transmite para o futuro as sensações persistentes que encarnam acontecimentos atuais, ou seja, alegrias, sofrimentos, vitórias, lutas, protestos, etc. da atualidade. Esta concepção estética atual compreende a arte numa esfera conceitual, onde a ideia proposta pelo artista pode ser mais importante que o objeto em si, valorizando a experiência que o contato com a arte pode causar no público. Mas isso nem sempre é percebido tão facilmente, porque muitas vezes a arte do passado impede que o público perceba e esteja preparado para apreciar a arte do tempo atual. Segundo Cauquelin (2005) a arte, como todas as demais áreas, sofre rupturas historicamente. A arte moderna pertence ao regime de consumo e a arte contemporânea ao da comunicação. A arte contemporânea compartilha do conhecimento das linguagens das diferentes áreas, da comunicação visual, oral, gestual, performática, tecnológica, bem como busca proporcionar reflexões sobre aspectos relevantes da vida do ser humano. A estética da arte atual supera a liberdade de criação por parte do artista, como também, propõe liberdade de interpretação para o espectador. Danto fala que “o contemporâneo é, de determinada perspectiva, um período de desordem informativa, uma condição de perfeita entropia estética. Mas é também um período de impecável liberdade estética. Hoje não há mais qualquer limite histórico. Tudo é permitido” (2006, p.15). O lugar, o espaço, a paisagem, tudo faz parte da obra. As obras contemporâneas exploram inusitados espaços, buscam surpreender e instigar o espectador a relacionar o contexto com a arte, como se arte agisse na vida. Para Pareyson (1997), a arte é uma atividade específica, com características e finalidades próprias, com uma natureza que emerge da vida. Para o autor, a vida do Homem penetra na arte porque a arte está presente em toda a vida do ser humano, constituindo-se lhe um íntimo conteúdo. Historicamente, a arte teve uma função ritualística, religiosa e decorativa. Estes conceitos de arte perduraram por muito tempo e consequentemente a perspectiva estética da arte na atualidade também ficou ligada a esses conceitos do passado. Foi a partir de artistas modernistas que a arte se mostrou ao mundo numa concepção diferente. Não mais pelo objeto artístico em si, mas pela expressividade da obra que considera o que artistas e espectadores pensam e sentem, bem como, pelo material, local e todos os aspectos pertinentes a obra. 28 A partir da arte moderna, que já começa a promover rupturas de pensamento, surge a arte contemporânea que vem com um propósito ainda mais contundente no que se refere a possibilidade de criação artística. Para a arte atual tudo é possível, existe uma liberdade de expressão. Isto significa que o artista pode se expressar por meio de diferentes linguagens, formas e materiais. Portanto, a arte enquanto acontecimento, condição de vida, liberdade de criação e de possibilidade de encontro entre obra, artista e público faz surgir a concepção dos filósofos Deleuze e Guattari. Para estes autores, a arte é uma sensação possível, é o que se mostra visível e invisivelmente. A arte na atualidade pode ser concebida como uma forma de pensamento em que transcende o material, o que está visível e invisível. Está relacionada à vida do ser humano, compartilhando alegrias, vitórias, angustias, tristezas, aflições, bem como, considera aspectos sociais, científicos, econômicos, religiosos, educativos e políticos. Atualmente, a concepção estética da arte está mais diretamente associada à liberdade de criação, ao conceito da obra, do que ao objeto em si. O objeto faz parte da obra, como o artista e o espectador também. Tudo que contempla a obra, segundo Deleuze e Guattari, faz parte do bloco de sensações. Bloco este que valoriza, inclusive, o vazio. Porque mesmo o vazio pode ter significado, pode expressar sensações. Em face desse contexto, pode-se afirmar que as percepções sensíveis que as obras de arte contemporâneas provocam a partir das concepções estéticas são de reflexões que permitem afetar-se. Este afetamento faz com que o sujeito pense, reflita e analise, de maneira que ele se transforme socialmente. Ele não será mais o mesmo. A experiência provocada a partir da apreciação estética faz com que ele se modifique enquanto sujeito integrante de um contexto social. Mas sabe-se que nem todos os espectadores estão preparados para este movimento de afetamento quando deparados com a arte. Isto acontece porque nem sempre o sujeito se abre para a apreciação artística, para a reflexão, para o questionamento, para a sensibilização que ela pode causar. O sujeito precisa permitir que o bloco de sensação, estabelecido pelo percepto e afecto, arranque as sensações possíveis entre a obra de arte e tudo que faz parte dela. 29 A apreciação estética não é simples, nem tampouco se constrói rapidamente, ela é vivida em um espaço de tempoque necessita da análise constante, da sensibilização dos sujeitos envolvidos com todo o processo artístico. 14 A LINGUAGEM VISUAL APLICADA A ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS Para melhor contextualizar a importância da percepção visual para o profissional de publicidade e propaganda é importante estudar alguns conceitos da teoria da Gestalt, porque, conforme relata Dondis (2003, p. 22), “alguns dos trabalhos mais significativos nesse campo foram realizados pelos psicólogos da Gestalt, cujo principal interesse tem sido os princípios da organização perceptiva, o processo da configuração de um todo a partir das partes”. De todos os sentidos humanos a visão é, sem dúvida, o sentido no qual mais confiamos. Muito antes da fala e da escrita, o homem já se comunicava visualmente através de desenhos deixados nas paredes das cavernas, retratando aquilo que viam ao seu redor, ou os momentos e situações que estavam passando para que outros pudessem ver também. A visão é o nosso principal meio para reconhecer os objetos e situações a nossa volta e guiar nossa interação para com eles. Todos os outros sentidos são muito importantes em nossa vida, mas eles parecem abstratos diante da relevância do olhar para a civilização ocidental atual. E, mesmo depois do surgimento da linguagem escrita, a comunicação através de imagens não deixou de existir. Porém, o seu uso se reduziu a uma função auxiliar junto às palavras, pois, conforme afirma Dondis: O alfabetismo visual jamais poderá ser um sistema tão lógico e preciso quanto a linguagem. As linguagens são sistemas inventados pelo homem para codificar, armazenar e decodificar informações. Sua estrutura, portanto, tem uma lógica que o alfabetismo visual é incapaz de alcançar. (DONDIS, 2003, p. 19-20, Apud ABREU K. C. K. 2017). Desde a Revolução Industrial, a sociedade requer muita velocidade, e velocidade também na informação. Na correria do dia-a-dia as pessoas, muitas vezes, não tem tempo para leituras longas, então os meios de comunicação acabam recorrendo ao uso de muitas imagens e de uma linguagem iconográfica. Na atualidade, o maior consumo de imagens se dá no setor da mídia, afirma Abreu (2007). 30 Uma única imagem pode ser carregada de muitas informações, e ainda tem o poder de transmitir sua mensagem de maneira muito rápida, em frações de segundos, ou de provocar a imaginação de quem a vê, em busca de significados. Fonte: docplayer.com.br Desde os primeiros pôsteres dos cabarés parisienses no final do século XIX, até os anúncios na Internet, mais atuais, a criação de imagens como meio de comunicação comercial se transformou em um negócio; cada vez mais os profissionais buscam conhecimentos especializados para melhorar suas imagens e obter respostas de seus públicos. A publicidade reconheceu o valor comunicativo das imagens, a grande maioria dos anúncios baseia-se em fotos ou ilustrações para transmitir os conteúdos propostos pelas organizações para seus públicos, de maneira mais rápida e eficiente. As agências de publicidade e os designers gráficos, as marcas, são os maiores usuários da descoberta dos símbolos que possuem alto poder de atração do olhar humano. Muitos autores acreditam que, para que se possa antecipar uma resposta do público diante das informações, é preciso conhecê-lo, além de descobrir como essas mensagens são recebidas e interpretadas por todos os seres humanos. Isso nos leva novamente à percepção visual. Conforme Dondis (2003), ver é um ato muito simples, que não gasta muita energia, e nem precisa de muito esforço. 31 No entanto, a percepção visual é algo muito complexo, e está diretamente relacionado com cada pessoa e sua experiência com o mundo a sua volta. Ver não é somente abrir os olhos diante de determinada coisa ou situação; abrange muitas outras questões, entre tantas, o saber interpretar, olhar mais a fundo, contemplar, analisar. Muitas áreas do conhecimento, entre elas a psicologia, estudam a percepção visual humana em busca de explicações sobre a complexidade do nosso processo visual. Por isso, esse trabalho buscou teorizar através de conceitos elabora dos por Abreu (2007), Alves (2010), Arnhein (1980), Aumont (1995), Cesar (2000), Dondis (2003), Gombrich (1999), Hurlburt (2002), Janson (1996), Munari (2001), Proença (2004), dados e informações que possam contribuir para a melhor compreensão do universo visual, para os profissionais de publicidade e propaganda na produção de imagens mais significativas. 14.1 Breve Histórico da Imagem A imagem, que em grego, pode ser compreendida pela palavra ídolos, é o que sobrou do objeto percebido, ou seja, o que permanece fixado em nossa consciência. Para os empiristas a imagem é a associação de vários elementos independentes provenientes da sensação e dos movimentos corporais e unificados pela mente do sujeito. Muito antes da fala, se tem registro de que o homem primitivo, no período Paleolítico (40.000 a.C.), já se comunicava visualmente através de imagens deixadas nas paredes das cavernas. As manifestações artísticas mais antigas foram encontradas na Europa, em especial, na Espanha e no sul da França. As obras mais surpreendentes do Paleolítico são as imagens de animais pintadas nas superfícies rochosas das cavernas, como as da caverna de Lascaux, na região francesa de Dordogne. Bisões, veados, cavalos e bois estão profusamente representados nas paredes e tetos, onde parecem movimentar-se com rapidez; alguns têm apenas um contorno em negro e outros estão pintados com cores brilhantes, mas todos revelam a mesma sensação fantástica de vida. (JANSON e JANSON, 1996, p. 14). 32 Aquelas imagens retratavam cenas do cotidiano, momentos vivenciados pelos povos que ali habitavam. Nesse período da história o homem usava o sangue de animais para fazer suas pinturas nas cavernas. Nos materiais dos quais se têm registros, acreditava-se que fosse uma espécie de ritual, onde desenhando a presa sob seu domínio facilitasse a “hora da caça”. A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido pelas imagens; dito em outras palavras, parece que esses caçadores primitivos imaginavam que, se fizessem uma imagem de sua presa – e até a espicaçassem com suas lanças e machados de pedra –, os animais verdadeiros também sucumbiriam ao seu poder. (GOMBRICH, 1999, p. 42). No Brasil, também existem pinturas que foram deixadas por nossos ancestrais em pedras rochosas, grutas, etc. Em Minas Gerais, as manifestações artísticas mais conhecidas e pesquisadas estão na Lagoa Santa, nas Serras do Cipó e do Espinhaço. Segundo informações disponíveis no site “Descubra Minas” as pinturas retratam principalmente animais caçados, sendo eles, veados, tatus e em algumas regiões peixes e aves. Os sinais geométricos também são comuns. Somente tempos depois as cenas de caça foram substituídas por relações familiares, com cenas de cópula, mulheres grávidas e cenas de partos. 14.2 Gestalt Por volta do século XIX, a psicologia começou a desenvolver-se como ciência e várias correntes de pensamento começaram a surgir. Entre eles, a psicologia da forma teve início. O termo alemão Gestalt possui difícil tradução para o português, as expressões mais próximas segundo Hurlburt (2002, p. 136), são “imagem” e “forma”. Gestalt ou Psicologia da Forma é uma teoria da psicologia que considera os fenômenos psicológicos como um conjunto autônomo, indivisível e articulado na sua configuração, organização e lei interna. A teoria foi criada pelos psicólogos alemães Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, na universidadede Frankfurt, no princípio do século XX. Fundamenta-se na ideia de que o todo é mais do que a simples soma de suas partes. Para Alves (2010), essa corrente de pensamento busca compreender como as pessoas recebem os estímulos do mundo e do ambiente que as rodeiam. 33 Ainda conforme Alves (2010, p. 120), o termo Gestalt significa “boa forma” para o design industrial e para o design gráfico, e é compreendido como uma tendência da função cerebral ao dar uma forma compreensível, completa, sequencial e coerente aos estímulos que chegam ao cérebro. Conforme Samara e Morsch (2005, apud, Alves, 2010, p. 120), o formato de uma embalagem, as imagens apresentadas em um anúncio, uma etiqueta ou o preço poderão induzir a diferentes comportamentos conforme são construídos e integrados. Nesse sentido a teoria da Gestalt vai sugerir uma resposta do por que algumas formas agradam mais e outras não. Essa teoria vem opor-se ao subjetivismo, pois a psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso quando procura explicar a relação sujeito-objetivo no campo da percepção. Todo o processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, está estreitamente relacionado com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral atribuído ao sistema nervoso central, responsável por um processo autorregulador que visa à estabilidade organizando as formas em um todo coerente e unificado, as quais são espontâneas arbitrárias e independem de nossa vontade. (ALVES, 2010, p. 120). Na voz de Hurlburt (2002, p. 136), compreende-se “o princípio enunciado por Wertheimer sobre a organização perceptiva (que) demonstra que o olho humano tende a agrupar as várias unidades de um campo visual para formar um todo”. A Gestalt defende que o processo visual funciona como um todo. Para os gestaltistas, desde o momento em que vemos uma imagem até que esta chegue ao nosso cérebro existe um único fenômeno evolvido nesse processo, a percepção, que se inicia através da captação da imagem pelos sentidos e depois é enviada ao cérebro para que ocorra a interpretação. Os estudos da psicologia Gestalt definem alguns pontos que conduzem a maneira como as percepções são organizadas. São eles: A figura e o fundo, o reagrupamento, e o estímulo ambíguo. Figura e fundo Dondis (2003, p. 47), referindo-se a figura e fundo como positivo e negativo, explica: “o que domina o olho na experiência visual seria visto como elemento positivo, e como elemento negativo consideraríamos tudo aquilo que se apresenta de maneira mais passiva”. No princípio da figura e fundo, as pessoas tendem a organizar as percepções a partir de dois planos, o da figura, que constitui o elemento central da 34 atenção, e o do fundo, que é diferenciado. Geralmente, representam contraste. Para Alves (2010, p. 122), “o contexto no qual é apresentado um objeto pode influenciar nossa percepção, os objetos são percebidos em relação ao seu fundo, e essa relação faz que o indivíduo chegue a um julgamento”. Reagrupamento Ocorre quando os estímulos são numerosos e distintos e, portanto, não são organizados imediatamente numa figura única, as pessoas tendem a organizá-lo, associando os objetos em função da sua proximidade, semelhança e continuidade. Proximidade Os elementos são agrupados de acordo com a distância a que se encontram uns dos outros. Conforme Dondis (2003, p. 44), “quanto maior for sua proximidade, maior será sua atração”. Existe, portanto, uma tendência a perceber os elementos mais próximos como um grupo distinto dos demais elementos. Da mesma forma, para Alves, a proximidade provoca a sensação de pertinência. Se um produto de uma determinada marca for oferecido a bom preço, juntamente com outro produto da mesma marca, os dois serão percebidos como favoráveis. Da mesma forma, quando um produto é considerado como suspeito, outros produtos da mesma marca sofrem com essa generalização. Também a proximidade de tempo faz que as marcas sejam confundidas quando lançadas ao mesmo tempo. (ALVES, 2010, p. 121). Semelhança ou similaridade Define que os objetos similares tendem a se agrupar. Essa similaridade pode acontecer devido à cor, à textura, à forma dos objetos. Para Alves (2010, p. 121), “o princípio que afirma que o ser humano tem tendência a organizar estímulos semelhantes como pertencentes a uma mesma categoria. Adquirimos artigos de qualidade inferior misturados com os de qualidade superior e preço alto se forem semelhantes”. Continuidade Está relacionado ao alinhamento e as direções dos objetos dispostos. Essa tendência à continuidade facilita a comunicação possibilitando harmonia entre os elementos. Ocorre, geralmente, quando o desenho do elemento sugere alguma 35 extensão lógica, como um arco de quase 360o sugere um círculo. Consiste na tendência do ser humano em completar algo incompleto e dar continuidade. Uma vez que algo é sentido como incompleto, resultará em tensão que diminuirá ao se realizar o fechamento. A publicidade frequentemente faz uso desse princípio quando apresenta peças na íntegra inicialmente, e, após uma exposição suficiente para a fixação na memória, reduz a exposição da peça apresentando apenas detalhes mais significativos, permitindo que essa estimulação desencadeie o todo da informação completa em nível já internalizado anteriormente. (ALVES, 2010, p. 121-122). Estímulo ambíguo Um estímulo é reconhecido como ambíguo quando apresenta mais de uma forma, ou seja, ele permite que sejam realizadas várias leituras. Dondis (2003, p. 38), ao referir-se ao estímulo ambíguo diz que é o “estado em que o olho precisa esforçar- se por analisar os componentes no que diz respeito a seu equilíbrio. A esse estado dá se o nome de ambiguidade (sic), e embora a conotação seja a mesma que a da linguagem, a forma pode ser visualmente descrita em termos ligeiramente diferentes”. No início da psicologia científica, as conclusões da escola Gestalt foram consideradas tão interessantes e completas que teorizam a maior parte dos livros sobre design gráfico, até hoje. Percepção Para Aumont (1995, p. 22), “a percepção visual é o processamento, em etapas sucessivas, de uma informação que nos chega por intermédio da luz que entra em nossos olhos”. O processo perceptivo inicia-se com a captação, através dos órgãos dos sentidos, de um estímulo que é enviado ao cérebro. A percepção pode, então, ser definida como a recepção, por parte do cérebro, da chegada de um estímulo, ou como o processo através do qual um indivíduo seleciona, organiza e interpreta esses estímulos. Assim, compreende-se que a criação da imagem visual provém da atividade do cérebro, porém este é parte integrante de organismos que interagem em meios físicos biológicos e sociais e que resultam em experiências subjetivas e 36 representações com conteúdos de projeções pessoais e individuais. (ALVES, 2010, p. 115). Este processo pode ser decomposto em duas fases distintas: a sensação, mecanismo fisiológico através dos quais os órgãos sensoriais registram e transmitem os estímulos externos; e, a interpretação, que permite organizar e dar um significado aos estímulos recebidos. Fonte: psicoportal.com A percepção é uma questão de extrema importância nos estudos da psicologia da Gestalt. Em termos gerais, a percepção pode ser descrita como a forma como vemos o mundo à nossa volta, o modo, segundo o qual, o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, das pessoas e das situações. Esse sujeito não é de definição simples, e muitas determinações diferentes, atécontraditórias, intervêm em sua relação com uma imagem: além da capacidade perceptiva, entram em jogo o saber, os afetos, as crenças, que, por sua vez, são muito modelados pela vinculação a uma região da história (a uma classe social, a uma época, a uma cultura). (AUMONT, 1995, p. 770). A percepção visual por mais que pareça um tema simples é extremamente complexo. Essa complexidade se dá porque ainda temos uma ideia muito básica sobre o processo visual, é como se não explorássemos todo o potencial que temos. 37 A visão é uma função que desenvolvemos assim como a fala, o tato, a audição como sendo muito simples, sugerindo então que ela, assim como os outros não tenha a necessidade de um desenvolvimento mais apurado. O que muitas vezes se torna no “ver por ver” sem entender o sentido ou ao menos perceber a quantidade de informações que determinada imagem está transmitindo, pois no processo visual tudo é muito rápido. A atenção é parcialmente determinada pelo que o indivíduo deseja e pela importância que lhe dá. Há, então, uma percepção consciente que realiza uma prévia seleção do que o indivíduo quer ver, no meio de tudo o que o rodeia. Nos dias de hoje, com tanta informação ao mesmo tempo numa velocidade arrebatadora, desenvolver a percepção é uma tarefa muito importante para os profissionais de comunicação, a comunicação visual é assim, em certos casos, um meio insubstituível de passar informações de um emissor a um receptor, mas as condições fundamentais do seu funcionamento são a exatidão das informações, a objetividade dos sinais, a codificação unitária e a ausência de falsas interpretações. Só será possível atingir essas condições se ambas as partes entre as quais ocorre a comunicação tiverem conhecimento instrumental do fenômeno. (MUNARI, 2001, p. 56). Para que se possa saber a reação de determinado público a determinada mensagem, antes mesmo de conhecer características desse público é preciso conhecer como essas mensagens são recebidas e interpretadas por todos os indivíduos em todos os lugares. Segundo Dondis (2003), “o que vemos é uma parte fundamental do que sabemos, o alfabetismo visual pode nos ajudar a ver o que vemos e saber o que sabemos”. (Apud ABREU K. C. K. 2017) Para que ocorra entendimento por parte do receptor as mensagens devem ser claras e objetivas. A partir do momento em que o emissor conhece o seu público a interação para com ele se torna mais fácil. Além de selecionar a informação, o indivíduo a organiza e a interpreta, dando-lhe um determinado significado. Segundo Alves (2010), o corpo e a mente estão em contato direto com o meio ambiente, e o caminho para esta interação é o aparelho sensorial. No mesmo sentido, Hurlburt (2002, p. 137), afirma que “a capacidade do olho e da mente humana de reunir e ajustar elementos e de entender seu significado constitui a base do processo de design e proporciona o princípio que torna possível o layout de uma página”. 38 Compreender a percepção humana é um desafio muito grande, tendo em vista, que cada indivíduo, possui suas particularidades. A percepção de cada um está diretamente relacionada ao meio social, ao ambiente em que vive e na cultura em que está inserido. A percepção visual possui um campo de estudos muito vasto e por vezes, complexo, impossível de ser abordado em apenas algumas páginas. Para desenvolver uma boa composição visual é necessário saber direcionar os olhos de quem está vendo para pontos importantes do layout, esse direcionamento deve ser consciente e planejado, saber equilibrar e dar movimento à composição serão os principais objetivos dos profissionais da área da criação. Muitas vezes, quando os profissionais estão criando, se depararam com o problema da distribuição dos elementos gráficos. Portanto, devem estar atentos e tomar conhecimento dos elementos básicos da composição de um layout. Os resultados dessas decisões determinam o objetivo e o significado do que é recebido e interpretado pelo espectador. Assim sendo, o profissional exerce controle sobre o trabalho e direciona o projeto para o público que ele quer atingir. E, para obter um resultado compositivo satisfatório é preciso conhecer, pelo menos um pouco, sobre como funciona a percepção humana. Entretanto, conforme Hurlburt (2002, p. 52), “somente um olho experiente e uma mente alerta é que nos possibilitarão na maioria das vezes, alcançar soluções de design verdadeiramente emocionantes”. Daí a importância de estudar e compreender a percepção na composição visual, para os profissionais de comunicação. 15 A IMAGEM COMO LINGUAGEM Comunicação visual Temos necessidade de partilharmos diferentes conhecimentos entre nós, fazemos esta tarefa através da comunicação que desde o primórdio dos tempos foi essencial para sobrevivência como ferramenta de integração, informação e desenvolvimento. Utilizamos sistemas simbólicos, como suporte para a troca de 39 experiências, o principal suporte de comunicação do ser humano é a linguagem, através dela transmitimos ideias e sentimentos. Para o mestre em educação Ronan Cardozo Couto (2000), as linguagens ocupam uma posição importante no aprendizado humano, pois funcionam como meio na elaboração e construção do pensamento, na representação e criação de signos e sistemas simbólicos, por ser um recurso da comunicação que armazena e transmite informações. As linguagens são recursos expressivos de representação da realidade e de comunicação. Elas funcionam como veículo para o intercâmbio de ideias e forma de interlocução. Portanto, é ilusória a exclusividade da linguagem verbal como forma de linguagem e meio de comunicação privilegiados. Essa ilusória exclusividade se deve muito intensamente a um condicionamento histórico que nos faz crer que as únicas formas válidas de conhecimento e interpretação do mundo são aquelas veiculadas pela língua, na sua manifestação como linguagem verbal, oral e escrita, e que essa linguagem é o meio mais apropriado para se chegar a uma forma de pensamento superior. O saber analítico que a linguagem verbal permite conduziu à legitimação consensual e institucional de que essa é a linguagem de primeira ordem, em detrimento e relegando para uma segunda ordem todas as outras linguagens, as linguagens não verbais (COUTO, 2000, p.11-12, Apud PEREIRA L. S. A. 2013). Por necessidade o ser humano organiza sinais, formas, luzes, cores, gestos, objetos, sons, cheiros, olhares, expressões para repassar uma mensagem. Essa ordenação acontece através dos vários sistemas de linguagem que utilizamos para codificar, armazenar e decodificar informações. Existe uma variedade de sinais que É comum apresentarmos a linguagem verbal como a principal fonte de informação, talvez por ser uma maneira convencional, formal de troca de conhecimento. Porém somos capazes de produzir e atuar de diferentes maneiras para interagirmos uns com os outros, assim as linguagens não verbais de representação de mundo também ocupam um espaço em nosso cotidiano e não podem ser apontadas como secundárias, merecem ser conhecidas, discutidas e estudadas. Cada uma nos transmite sua mensagem utilizando seus recursos particulares, as múltiplas linguagens estão à disposição da comunicação. Podemos observar que as imagens estão cada vez mais presentes, linguagem verbal e não verbal interagem para alcançar o espectador, o visual atingem um grande número de pessoas e vai além das palavras. Em casa a maioria das pessoas tem televisão, computador, utilizam quadros e fotografias para decorar o ambiente. No mundo consumista em que vivemos as propagandas investem cada vez mais nas 40 imagens para atingir
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