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COMPREENSÃO ORAL EM LÍNGUA INGLESA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Clarita Gonçalves de Camargo Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C172c Camargo, Clarita Gonçalves de Compreensão oral em Língua Inglesa. / Clarita Gonçalves de Camargo. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 142 p.; il. ISBN 978-65-5646-301-8 ISBN Digital 978-65-5646-300-1 1. Língua Inglesa. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 820 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL......................................7 CAPÍTULO 2 BREVE HISTÓRICO DAS ABORDAGENS DE ENSINO ...............51 CAPÍTULO 3 A PRÁTICA DE ENSINO DE CO ....................................................99 APRESENTAÇÃO Você sabia que a compreensão oral é uma das habilidades comunicativas mais complexas no ensino de uma língua estrangeira? Isso ocorre devido às características do discurso oral, que pode sofrer influência do contexto cultural onde a língua é falada. Além disso, fatores, como velocidade da fala, ruído e aspectos fonéticos e fonológicos característicos de uma língua podem também contribuir com a dificuldade. Estudos em compreensão oral (doravante CO) envolvendo a língua inglesa têm mostrado que existem vários conhecimentos necessários no momento em que processamos a informação. Dos conhecimentos que influenciam a CO temos os conhecimentos gramaticais, que englobam aspectos fonéticos, fonológicos, lexicais, sintáticos e semânticos da língua. Há também fatores cognitivos, como a percepção, a memória e a atenção do indivíduo durante a compreensão. Fatores discursivos e pragmáticos também estão presentes, inclusive relacionados ao contexto da situação discursiva e à função social do texto oral. É importante lembrar que a compreensão oral é uma das habilidades comunicativas mais necessárias em contextos comunicativos, por isso, compreender a sua natureza pode contribuir para facilitar o ensino dessa habilidade. Você pode pensar: como posso aprimorar a minha CO? Bem, para termos sucesso nessa habilidade, podemos encontrar estratégias de aprendizagem que possam contribuir para o entendimento do discurso oral. Além disso, conhecer as características do discurso e as particularidades das estratégias de ensino pode facilitar, principalmente em aprendizagens iniciantes. Vejamos um exemplo para entender o processo no uso de estratégias: Prestar atenção no contexto para identificar o assunto (estratégia de inferência). Prestar atenção na ocorrência de uma palavra em diferentes contextos (estratégia de memória). Nota-se, no exemplo 1, que a estratégia de inferência é uma estratégia cognitiva que envolve a maneira como o indivíduo irá agir para facilitar a sua compreensão, uma forma de conectar as informações prévias com a mensagem ouvida para facilitar o entendimento. Já a estratégia de memória é uma forma de tentar estocar algumas informações para serem recuperadas quando necessárias. Vejamos algumas considerações: A abordagem baseada em estratégias é uma metodologia ancorada no ensino da estratégia. Ela tem como objetivo ensinar aos alunos a ouvir. Isso se faz, primeiramente, conscientizando os alunos de como a língua funciona e, num segundo momento, conscientizando-os das estratégias que eles utilizam, isto é, desenvolvendo sua “consciência metaestratégica”. Na sequência, a tarefa do professor é instruir os alunos no uso de estratégias adicionais, que os ajudarão a lidar com a tarefa de compreensão oral (CAMARGO, 2012, p. 51). Perceba que algumas atitudes podem melhorar a aprendizagem, inclusive quando identificamos nossas dificuldades e depois agimos para aprimorá-las. A compreensão oral envolve perceber o som, reconhecer a palavra ou o enunciado, conectar a parte linguística e a não linguística para então compreender o conteúdo da mensagem. Esse processo ocorre em tempo real, exigindo do aprendiz um conhecimento prévio da situação na qual o discurso ocorre e do conhecimento linguístico da língua estrangeira. Diante disso, conclui-se que a CO é um processo ativo de reconstrução de significados construídos socialmente. “Vale ressalvar que as características da oralidade, como hesitações, falsos começos, informalidade, traços da fala, entre outras ocorrências, são desafiadoras para qualquer contexto de aprendizagem que envolva uma língua estrangeira” (ROST, 1990, p. 28). Neste livro, você encontrará três capítulos. O Capítulo 1 apresentará dois importantes processos cognitivos (os processos descendentes e ascendentes); algumas características marcadas no discurso oral; tipos de amostras na pronúncia e no vocabulário da língua britânica e americana e algumas considerações sobre língua, cultura e aprendizagem. O Capítulo 2 trará um levantamento a ser discutido envolvendo as três principais abordagens de ensino de inglês ao longo da história (abordagem audiolingual; abordagem natural e abordagem comunicativa). Além disso, quatro abordagens voltadas à CO (abordagem por sub-habilidade, abordagem por estratégia, abordagem por compreensão e abordagem por gênero oral) também serão dialogadas. Por último, o Capítulo 3 trará a complexidade do ensino da compreensão oral, modelos de atividades e o conceito do inglês como língua internacional – Língua Franca. Esperamos que você goste desse aprofundamento, pois acreditamos que este material servirá tanto para o seu conhecimento teórico como para você refletir sobre a teoria e a prática de ensino de CO. CAPÍTULO 1 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Descrever as características da habilidade da compreensão oral, incluindo características que envolvem a aprendizagem da habilidade. • Reconhecer os processos ascendentes e descendentes como forma de entender a natureza cognitiva da linguagem. • Identifi car os objetivos que estão implícitos nas atividades de ensino como forma de sensibilizar a prática dessa habilidade. • Verifi car as características do discurso oral e a relação com a aprendizagem. 8 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA 9 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Nesta seção, será apresentada a natureza da compreensão oral, envolvendo dois processos cognitivos: os processos descendentes (top-down) e os ascendentes (bottom-up). Também serão mostrados a prática da habilidade e o conceito de língua e aprendizagem. 2 COMPREENSÃO ORAL: UMA HABILIDADE COMUNICATIVA A compreensão oral é uma habilidade complexa, porque o ouvinte precisa discriminar o som, buscar a relação com o signifi cado (vocabulário), conectar com a estrutura sintática e tentar uma interpretação coerente com o discurso, considerando o contexto e as relações construídas pela interação. Isso nos leva a compreender que é necessário o conhecimento da situação discursiva e do sistema linguístico. Na Figura 1, veremos a primeira etapa desse processo: a decodifi cação. FIGURA 1 – PROCESSO DE DECODIFICAÇÃO FONTE: Field (2008, p. 128) 10 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESAConforme a fi gura, o primeiro momento da compreensão é marcado pela percepção do som (match to knowledge of sounds). Esse processo envolve a habilidade para identifi car as distinções do som e, após, a busca pela palavra (match to knowledge of words), para então recuperar o signifi cado (retrieve word meaning). Isso dependerá do conhecimento do indivíduo sobre o conteúdo fonológico e também sobre o conhecimento do léxico, que poderá sofrer alterações conforme a situação discursiva. É nesse sentido que o ouvinte assume um papel ativo no processo de compreensão, pois ele terá que ativar seus conhecimentos implícitos sobre o conteúdo linguístico, para então tentar construir uma interpretação precisa do que foi ouvido. O problema é que o ouvinte não consegue prever o que será dito e, dada a velocidade da fala, fi ca difícil conectar todas as informações ao mesmo tempo. FIGURA 2 – TYPES OF LISTENING FONTE: <https://www.aconsciousrethink.com/9861/types- of-listening/>. Acesso em: 18 jan. 2021. Outro conhecimento que implica o desempenho em CO é o aspecto pragmático, que envolve o contexto da comunicação, ou seja, a construção de sentido dentro de um evento comunicativo. Por isso, pode-se dizer que o ouvinte terá que lidar, em primeiro lugar, com as características do discurso oral, que envolve hesitações, falsos começos, entonações, entre outros traços da oralidade, para só depois iniciar o processo da informação semântica na memória. É importante lembrar, num contexto comunicativo, que o indivíduo também precisará dar uma resposta (output) coerente com a situação apresentada, atribuindo ao ouvinte um papel importante na fl uidez do discurso. Rost (1990), importante pesquisador em CO, afi rma que essa habilidade envolve também testar hipóteses, perceber as intenções do falante, fazer inferências, associar ideias, entre outros procedimentos que são importantes para a aprendizagem. Por isso, entendemos que a CO não ocorre pela decodifi cação isolada de palavras ou 11 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 sentenças, mas na interpretação de enunciados, o que signifi ca retomar um olhar pragmático no uso da língua. [...] O processo de compreensão do texto obedece a regras de interpretação pragmática porque a coerência textual não consegue se estabelecer sem atribuir crenças, desejos, preferências, normas e valores que permeiam o momento discursivo dos interlocutores (CAMARGO, 2012, p. 16). De fato, a CO exige muito mais processo de interpretação do que decodifi cação, mesmo que ambas aconteçam simultaneamente durante a comunicação. Isso se explica devido a nossa capacidade cognitiva de processar as informações na busca pelo signifi cado. Vejamos: ao ouvirmos a frase: What´re you doing here? Pelo tom, sabemos que é uma pergunta e se soubermos o valor semântico do verbo, já sabemos do que se trata, sem necessariamente decodifi car toda a frase. O contexto ajudará muito nesse processo. No Quadro 1, veremos um esquema de conhecimentos que envolvem a CO. QUADRO 1 – FATORES QUE ENVOLVEM A CO FONTE: Field (2008, p. 126, tradução nossa) · insumo (também referido aqui como fl uxo de voz ou sinal do som): os sons que chegam ao ouvido do ouvinte; e as sílabas, palavras e clause que esses sons representam; · conhecimento linguístico: conhecimento dos sons, vocabulário e gramática da língua (in- cluindo o conhecimento do signifi cado das palavras); · contexto: que inclui (a) conhecimento geral e experiência pessoal que o ouvinte fornece; (b) conhecimento do que foi dito até o momento da conversa. É possível notar que esses três elementos são necessários à aprendizagem, uma vez que as atividades de CO podem contribuir para o aprimoramento de várias sub-habilidades, como lidar com a pronúncia, com a linguagem coloquial, com o aspecto prosódico, com o item lexical, entre outros conhecimentos, que serão aprofundados a seguir. Vejamos cinco conhecimentos gramaticais que envolvem a CO: · Phonological knowledge of the sound system of the language, including phonemes, phonological rules, prosodic elements; ability to process speech quickly. · Syntactic knowledge of sentence - and discourse-level rules, structures, and cohesion; ability to perform accurate parsing quickly. · Semantic knowledge of words, lexical phrases, word categories, semantic relationships between lexical items; ability to perform semantic calculations (e.g. identifying synonyms and superordinate relationships between words) quickly. · Pragmatic knowledge of how fl uent users of the language 12 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA communicate, including use of formulaic expressions, gambits, indirectness, and ellipsis (omission of mutually understood information). · General knowledge of commonly discussed topics and common human relationships, and the general knowledge of the world (history, geography, science, math), knowledge of how to utilise one’s knowledge intesting situation. · (For the interview portion of tests) interactive pragmatic knowledge, including activation of phonological, syntactic, semantic knowledge in real-time interactions, real-time inferencing and updating representations; responding to interlocutor questions and feedback without lengthy pauses, employing repair strategies for misunderstanding (ROST, 2011, p. 212). Vejamos também na descrição a seguir: FIGURA 3 – MODELO DE ESQUEMA FONTE: Rost (2011, p. 212) Diante desses componentes linguísticos, as atividades de compreensão oral podem ser divididas em tarefas de natureza pedagógica (pedagogic tasks) ou desenhadas para refl etir o mundo real (real-world tasks). As tarefas pedagógicas são aquelas que servem para apoiar o aprendizado, como ouvir um texto para discriminar o som (foco na gramática). Já as tarefas de mundo real envolvem um propósito comunicativo, como ouvir uma reportagem para escrever um artigo de opinião (foco no signifi cado da língua). As tarefas do mundo real, por sua vez, “refl etem os contextos externos à sala de aula” e quando transportadas para este ambiente “podem gerar uma situação comunicativa artifi cial ou não” (XAVIER, 1999, p. 3). Assim, quando o indivíduo assume um papel refl exivo na aprendizagem, ele poderá usar estratégias de aprendizagem. No Capítulo 2, veremos a contribuição de estratégias metacognitivas para a CO. 13 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 Na sequência, exploraremos dois processos importantes que envolvem a habilidade e que estão presentes em muitas práticas de ensino. Você poderá pesquisar mais sobre o assunto no livro a seguir: ROST, M. Teaching and Researching Listening. 2nd ed. Boston: Pearson, 2011. FONTE: <https://repository.dinus.ac.id/docs/ajar/(Applied_Linguistics_ in_Action)_Michael_Rost-Teaching_and_Researching__Listening- Pearson_Education_ESL_(2011).pdf>. Acesso em: 16 jun. 2021. CAMARGO, C. G. de. O desempenho dos alunos de inglês em prática repetida de tarefa e compreensão oral apoiada em vídeo. Dissertação (Mestrado em Linguística). Florianópolis: UFSC, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/103393. Acesso em: 16 jun. 2021. 14 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA 2.1 A COMPREENSÃO ORAL: O PROCESSO DESCENDENTE E ASCENDENTE A compreensão oral é uma habilidade comunicativa que deve ser ensinada por considerar que ela não é adquirida naturalmente, ou seja, não adianta expor o indivíduo apenas ao material linguístico por meio de fi lme, música, fala gravada etc., sem o objetivo de aprimorar algum conhecimento. É nesse sentido que surgem as atividades de ensino em CO, conforme Quadro 2: QUADRO 2 – ATIVIDADES DE ENSINO DE CO - Ouça para detalhar: Entender e identifi car uma informação específi ca do texto, por exemplo, palavras-chave, números e nomes. - Ouça para um entendimento global: Entender a ideia geral do texto, por exemplo, o tema, o tópico e a visão geral do locutor. - Ouça para ideiasprincipais: Entender os pontos-chave ou proposições de um texto: por exemplo, pontos de apoio a um argumento ou partes de uma explicação. - Ouça e infi ra: Demonstrar compreensão, preenchendo informações omissas, não claras ou ambíguas, e fazer conexões com o conhecimento prévio, “ouvir nas entrelinhas”, por exemplo, usando pistas visuais para avaliar o propósito do falante. - Ouça e preveja: Antecipar o que o falante vai dizer antes e durante a compreensão oral. Por exemplo, usar o conhecimento do contexto de uma interação para tirar uma conclusão sobre a intenção do falante antes de ele/ela expressar isso. - Ouça seletivamente: Prestar atenção em partes específi cas de uma mensagem e ignorar outras partes menos importantes, a fi m de alcançar um objetivo específi co [...]. FONTE: Vandergrift e Goh (2012, p. 169) Como visto no Quadro 2, esses modelos ocorrem em muitos materiais pedagógicos e têm por objetivo o treino de algum aspecto da língua. Vejamos o item “Ouça e preveja”: é uma forma de lidar com algum desconhecimento linguístico, ou seja, se tivermos difi culdade em reconhecer uma palavra num discurso não signifi ca que não possamos entendê-la, podemos usar informações do nosso conhecimento pessoal para conectar as informações. Isso deve ser trabalhado com o uso de estratégias, o qual veremos detalhadamente no Capítulo 2. 15 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 Agora, você deve estar se perguntando: e os processos descendentes e ascendentes, onde eles se encaixam? Veja, quando ouvimos um discurso oral e ativamos nosso conhecimento de mundo para tentar entender a mensagem, usamos o processo descendente. Entretanto, quando buscamos apenas entender o que signifi ca uma palavra naquele contexto, usamos o processo ascendente. Explicando melhor: muitas vezes, ao ouvir uma mensagem em inglês, temos a preocupação em prestar atenção somente naquilo que é dito, sem recorrer a nossa experiência anterior. Essa atitude chamamos de processo ascendente, porque não usamos nossa experiência ou conhecimento contextual para entender a mensagem. É relevante relacionar nosso conhecimento de mundo com o discurso do outro, porque as relações sociais em qualquer língua são as mesmas. Enfatizando, num contexto comunicativo, temos vários recursos que ajudam no entendimento da mensagem, sem necessariamente recorrer à parte linguística. Em resumo: a decodifi cação linguística é um processo ascendente (de baixo para cima), que inclui perceber o som e reconhecer uma palavra, mas podemos vincular essa informação com algo que já ouvimos antes. Usamos o processo descendente (de cima para baixo) porque queremos relacionar a informação com algo que já temos conhecimento. É importante considerar que a aprendizagem ocorre em um processo contínuo e, por isso, devemos relacionar nossa bagagem (conhecimento de mundo) para construir a aprendizagem. Entenda como funciona os dois processos: [...] processos bottom up (de baixo para cima) são processos que iniciam no nível sensorial, passando pelos vários níveis até chegar à cognição [...]. Os processos top down (de cima para baixo) percorrem o caminho inverso: da cognição até os movimentos articulatórios, onde se produz o material bruto (SCLIAR- CABRAL, 1991, p. 36). 16 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Segundo Richards (2008), são exemplos de atividades que envolvem o processo ascendente: reconhecimento de um referencial temporal de um enunciado, identifi cação de marcadores discursivos, diferenciação de verbos e suas características e a percepção de uma palavra-chave. Já as atividades que envolvem os processos descendentes são: identifi car o propósito da mensagem e perceber os objetivos de um locutor, suas intenções e propósitos comunicativos. Independente de quais processos usamos, o importante é desenvolver práticas que levem à refl exão e ao aprimoramento da habilidade, sabendo que o processamento linguístico acontece: [...] por mecanismos independentes que agem na memória e que são responsáveis por organizar esses dados, recuperando- os quando necessário. O processo de reconhecimento do léxico durante a compreensão pode ser comparado a um sistema computacional, em que o indivíduo segmenta a entrada sensorial percebida em unidades linguísticas isoladas. A identifi cação lexical envolve desde o acesso ao código fonético (som e identidade dos fonemas) até o código semântico ou nível de signifi cado (CAMARGO, 2012, p. 14-15). O processamento cognitivo é responsável pela memória de curto e longo prazo. Geralmente, quando ouvimos uma mensagem, guardamos apenas algumas partes importantes, por isso não é necessária a compreensão do todo, apenas das informações consideradas relevantes. Na próxima seção, estudaremos a prática de CO, com o objetivo de termos maior detalhamento sobre o processo de aprendizagem. 2.2 A PRÁTICA DE ENSINO DA COMPREENSÃO ORAL As práticas de CO, produção oral e análise linguística devem ser organizadas de forma integrada, já que numa situação comunicativa elas ocorrem simultaneamente. Vejamos: quando ouvimos uma notícia, podemos querer anotar alguma informação (listening + writing) ou podemos ouvir a notícia e depois confi rmar a informação na internet (listening + reading). Podemos também ouvir a notícia e contar para alguém (listening + speaking). Essas são situações rotineiras que envolvem as quatro habilidades comunicativas. A prática num contexto de aprendizagem pode ser abordada por um tema de forma a prevalecer a relação social da linguagem, mas a pouca relevância aos assuntos pertencentes à complexidade dos acontecimentos da vida cotidiana, quando não aprofundados, aparece como fragilidade numa proposta que deve trazer uma dimensão crítica do uso da língua. Nessa perspectiva, o ensino da 17 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 CO mostra-se importante no sentido de valorar a heterogeneidade discursiva e a participação ativa do ouvinte como sujeito. Você precisa conhecer dois assuntos importantes: o tratamento da língua como discurso e o conceito de letramento crítico. A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento; a linguagem enquanto discurso é interação e um modo de produção social; ela não é neutra, inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação da ideologia [...]. A linguagem é um lugar de confl ito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, uma vez que os processos que a constituem são histórico-sociais (BRANDÃO, 2013, p. 11). BRANDÃO, N. H. H. Introdução à análise do discurso. São Paulo: Unicamp, 2013. FONTE: <https://www.amazon.com.br/Introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0- An%C3%A1lise-do-Discurso/dp/8526809911>. Acesso em: 2 jul. 2021. Nota-se que a perspectiva da linguagem como discurso é perceber como os indivíduos se relacionam na tentativa de alertá-los dos possíveis problemas que implicam suas condições sociais. O discurso é construído pela interação e, por isso, pode envolver confl itos da sociedade, como desigualdade, preconceito, status, poder, entre outros. No contexto do ensino de língua estrangeira, muitos alunos têm bloqueios na produção oral por acreditar que não possuem uma boa pronúncia ou por não terem uma boa fl uência, isso acaba prejudicando o desenvolvimento da aprendizagem. 18 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Por sua vez, o conceito de letramento surgiu na perspectiva de que a linguagem carrega um viés ideológico, cuja manifestação com a língua abrangerá o conhecimento do contexto onde a língua é usada, desenvolvendo a capacidade de usar a língua criticamente e não apenas reproduzir a língua de forma passiva. Neste livro, não aprofundaremos esse conceito, mas você poderá encontrar o assunto nas indicações a seguir. CARBONERI, D.; JESUS, D. M. de (Orgs.). Práticas de multiletramentose letramento crítico: outros sentidos para a sala de aula de línguas. Campinas: Pontes, 2016. EDMUNDO, E. S. G. Letramento crítico no ensino de inglês na escola pública: planos e práticas nas tramas da pesquisa. Campinas: Pontes Editores, 2013. Por sua vez, compreende-se que a falta de avanços da transposição entre teoria e prática em CO ocorre pela fragilidade na orientação em manuais de ensino, os quais trazem amostras de uso da língua que não condizem mais com as práticas sociais da atualidade. As práticas de CO geralmente seguem o mesmo formato, conforme mostra o Quadro 3: QUADRO 3 – FORMATO DE ATIVIDADES DE CO 1. Pré-escuta (Pre-listening) Ensino do vocabulário “para assegurar o máximo do entendimento”. 2. Atividades de Compreensão oral (Listening Activities) Compreensão oral extensiva permite questões de compreensão geral. Compreensão oral intensiva permite questões de compreensão detalhada. 3. Pós-escuta (Post-Listening) Ensino do novo vocabulário. Análise da língua (Why did the speaker use the Present Perfect here?). Reprodução do áudio: alunos ouvem e repetem. FONTE: Field (2008, p. 14) 19 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 Nota-se que o primeiro momento é destinado à preparação para a escuta, ou seja, perceber as informações lexicais, permitindo refl etir sobre o tópico da mensagem, com o intuito de criar certa familiaridade com o discurso. No momento da escuta, questões de compreensão geral e específi ca do texto podem ser manipuladas ou apenas atividades de compreensão auditiva, como a percepção do som, por exemplo. Vejamos outro exemplo com a prática de repetição: (Students are asked to repeat short phrases or complete utterances said by the teacher or recorded). Essa é uma abordagem que pode parecer tradicional, mas quando usada para aprimorar um determinado conhecimento linguístico, pode benefi ciar o conhecimento. O problema ocorre quando muitas dessas práticas acontecem mecanicamente, sem um objetivo. Além disso, a prática deve envolver atividades contextualizadas, permitindo compartilhar ideias, fazer comparações e discussões. Nessa perspectiva, a abordagem comunicativa surgiu com o conceito de competência comunicativa de Hymes (1972). As habilidades comunicativas começavam a ser ensinadas de forma integrada, justifi cadas pela função social da linguagem. “A língua assume, portanto, papel social, funcional, ideológico e propositado na interação (XAVIER, 2012, p. 23). Por que é tão importante o contexto para as atividades de CO? Uma das justifi cativas ocorre porque quando o indivíduo conhece as relações entre os personagens, suas intenções e o ambiente daquela interação, consegue entender com mais precisão o texto oral. Isso também ocorre no contexto comunicativo, quando o aluno sabe o real propósito de um diálogo. Você se lembra dos processos descendentes? Então, eles são responsáveis por ativar nosso conhecimento prévio para suprir um possível desconhecimento linguístico. 2.3 O CONCEITO DE LÍNGUA E APRENDIZAGEM Alguns conceitos sobre a língua/linguagem vêm infl uenciando a aprendizagem de língua estrangeira ao longo da história. Na literatura, encontram-se três principais perspectivas que tiveram forte impacto no ensino. Na primeira, a língua é vista como um sistema (structure view), em que os componentes gramaticais são responsáveis por defi nir o uso da língua. Segundo Richards e Rodgers (1986, p. 17), “o alvo da aprendizagem de línguas é o domínio de elementos desse sistema, geralmente defi nidos em termos de unidades fonológicas (por exemplo, fonemas); unidades gramaticais (por 20 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA exemplo, cláusulas, frases, sentenças)” (the target of language learning is seen to be mastery of elements of this system, which are generally defi ned in terms of phonological unites (e.g. phonemes); grammatical units (e.g. clauses, phases, sentences)), entre outros. Esse conceito foi infl uenciado na aprendizagem por teorias cognitivistas, que defendiam o ensino por meio de estímulo e resposta. No segundo momento, a língua foi compreendida pelo aspecto funcional (functional view), ou seja, a aprendizagem passa a ser organizada por conteúdos, eventos comunicativos, categorias e não pelas regras do sistema linguístico (RICHARDS; RODGERS, 1986). Aqui, o objetivo é situar o sujeito socialmente e usar a língua para uma determinada função. Nessa perspectiva, o estudo da língua possui uma relação com a função social a ser desenvolvida de acordo com o uso. Por último, a visão interacional (interactional view), em que a língua funciona como um veículo das relações interpessoais, envolvendo questões políticas, econômicas e culturais que fazem parte da construção social do indivíduo. Nessa vertente, “o conteúdo do ensino da língua [...] pode ser deixado sem especifi cação, para ser moldado pelas inclinações dos aprendizes como interatores” (RICHARDS, RODGERS, 1986, p. 17). Nessa concepção, a CO é vista como uma habilidade que necessita de um propósito real que possa motivar o ouvinte a participar de questões que envolvem a sociedade. Isso deve prevalecer, uma vez que: [...] os efeitos de sentidos existem a partir de construções discursivas, das quais o sujeito “não é a fonte de seu dizer”, uma vez que se constitui, de modo dinâmico, com a instituição histórico-social. Em outras palavras, o sujeito e os sentidos constroem-se discursivamente nas interações verbais na relação com o outro, em uma determinada esfera de atividade humana (DI FANTI, 2003, p. 98). Conforme a citação, a linguagem por ser construída socialmente, fazer parte do processo histórico e deve ser aprendida de forma a construir um sujeito refl exivo das suas relações sociais. Vejamos: quando assistimos a um jornal, quantas questões podem ser problematizadas? Será que apenas compreender uma reportagem é o sufi ciente para o indivíduo assumir um papel na sociedade? Então, o que é o ensino da língua numa visão interacionista? A linguagem numa posição interacionista tem em vista a aproximação dos indivíduos e suas relações pragmáticas na construção do signifi cado, com uma abordagem em que a língua não é colocada como um sistema engessado, mas está em constante movimento e na dependência de seus usuários (CAMARGO; MARSON; KONDO, 2016, p. 89). 21 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 O ensino de línguas também contou com estudos da vertente cognitiva de Vygotsky, que defendia que “a linguagem adquire signifi cado pela sua tendência intencional, isto é, pela tendência à signifi cação” (COELHO; PISONI, 2012, p. 31). Para o teórico, a aprendizagem é concebida socialmente por meio da linguagem que, por sua vez, pode ser mediada, compartilhada e construída em contato com o outro. 1 Conforme o material estudado, classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O processo de CO envolve compreender o signifi cado da palavra antes da sua decodifi cação. ( ) O papel ativo do ouvinte na aprendizagem é justifi cado porque ele tem que ativar seus próprios conhecimentos para conseguir compreender a mensagem. ( ) A CO não deve ser ensinada porque é aprendida naturalmente durante a conversação. ( ) O conhecimento pragmático refere-se ao conhecimento do contexto da situação discursiva. 2 Leia o texto e responda: A listener (whether in L1 or L2) engages in two different types of listening behaviour. Firstly, she has to deal with the signal that reaches her ear. It comes in the form of a set of acoustic cues which have to be translated fi rst into the sounds of the target language and then into words and phrases in the listener’s vocabulary and then into an abstract idea. The operation is basically one of changing information from one form into another; and it is therefore often referred to as decoding. What the listener derives from the decoding operation is just the literal meaning of what thespeaker has said. Clearly, this is not enough. If the speaker says Fair enough or What a pity! The sentence is meaningless without some kind of earlier context. So the listener then has to bring external information to bear on what she has heard. She might draw upon her knowledge of the world or upon her recall of what has been said so far in the conversation. She also has to make important decisions as to the importance 22 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA and relevance of the sentences she has just heard. This whole operation will be referred to as meaning building. FONTE: FIELD, J. Listening in the language classroom. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. A) O texto trata de duas etapas importantes que envolvem a CO. O primeiro parágrafo explica sobre a decodifi cação, que envolve o processo ascendente. O segundo parágrafo mostra a construção do signifi cado, que se refere ao processo descendente. Explique o que são esses processos: R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. B) O texto explica que a decodifi cação não é o sufi ciente para garantir a compreensão do signifi cado. Qual outro conhecimento é mencionado como importante? R.:____________________________________________________ ___________________________________________________. 3 Relacione as colunas de acordo com os parágrafos explicativos referentes às três concepções de língua: a) Língua como estrutura. b) Língua como função. c) Língua como interação. A) ( ) A relação pragmática do discurso é mais importante do que a construção estrutural da língua, tendo por objetivo principal a construção do signifi cado. B) ( ) O ensino do sistema linguístico deve prevalecer em relação aos aspectos sociais, priorizando as normas que regem a gramática da língua. C) ( ) Aprender a língua é reconhecer que ela deve atender a um determinado objetivo, ou seja, tem que haver uma fi nalidade, como ouvir uma notícia e reportar a informação. 23 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 3 ASPECTOS DO DISCURSO ORAL Por muito tempo, as marcas da oralidade eram problemas enfrentados no ensino da CO. Havia a crença de que a representação da fala deveria adequar- se à escrita, uma vez que a supremacia de valores culturais atribuía ênfase ao discurso orientado pelos padrões estruturais da língua. A partir da década de 1980, a visão de dicotomia entre fala e escrita começa a perder espaço para a compreensão de que fala e escrita são processos diferentes. Os recursos orais são diferentes dos da escrita, por isso, aprender a CO é reconhecer que traços da fala, como entonação, agrupamento de sons, elisão e aspectos prosódicos têm implicação no ensino da habilidade. Além disso, a variação linguística, incluindo pronúncia, dialetos e determinadas construções sintáticas são peculiares no discurso oral. Quer dizer, as condições de produção da oralidade e da escrita são diferentes, por isso a escrita não pode ser entendida como uma representação da fala que, por sua vez, é adquira em situações mais naturais e em espaços menos formais. As características da oralidade, como a interação simultânea, também permitem uma comunicação diferente do da escrita, a qual a falta da presença do interlocutor pode gerar difi culdades na comunicação, caso o discurso não seja contextualizado. Neste capítulo, aprenderemos algumas características da oralidade e breves aspectos na diferença de vocabulário entre americanos e britânicos. FIGURA 4 – CARACTERÍSTICAS DA ORALIDADE FONTE: <https://www.glassdoor.com.br/blog/como-transformar- feedbacks-negativos-em-crescimento/>. Acesso em: 18 jan. 2021. 24 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA 3.1 CARACTERÍSTICAS DA ORALIDADE As modifi cações lexicais e fonológicas podem correr pelas regras da língua ou por diversas outras situações, inclusive por diferenças culturais e o uso da língua em situações menos formais. Vejamos um exemplo: Hello, how are you? (formal) ou Hey, man! What’s up? (informal). Existem muitas relações envolvidas no discurso, idade, escolaridade, contexto, familiaridade entre as pessoas, entre outros fatores, que implicam na característica do discurso. Em inglês, algumas modifi cações fonológicas podem acontecer por: · Assimilação: quando um som infl uencia a pronúncia do segmento do som adjacente. Por exemplo, “won´t you” é geralmente pronunciado como “wonchoo”. · Elisão: quando os sons são eliminados. Por exemplo: “next day” é usualmente pronunciado “nexday”. · Intrusão: quando um novo som é introduzido em outros sons. Por exemplo: no inglês britânico, o som /r/ no fi nal da palavra “far” não é normalmente pronunciado, mas se a palavra é seguida por uma vogal, como em “far away”, então é inserido entre as palavras (BUCK, 2001, p. 33, tradução nossa). De acordo com Buck (2001), a habilidade da compressão oral exigirá que o aprendiz saiba lidar com o sotaque, com as características prosódicas, a entonação, a velocidade da fala e a estrutura do discurso. Vejamos alguns exemplos: a expressão: “beach” /biytsh/ (praia) e “bitch” /bitsch/ (cadela) podem ser confundidas em aspectos de pronúncia, mas nunca dentro de um contexto comunicativo. Você sabia que muitas palavras podem ser confundidas devido a sua pronúncia e que é possível entendê-las se estivermos atentos ao contexto? Vejamos: The sheep /shiyp/ is sick. 25 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 The ship /ship/ is broken. FONTE: <https://suburbanodigital.blogspot.com/2018/02/navio- desenho-para-imprimir-e-colorir.html>. Acesso em: 25 jan. 2021. Não fi ca claro quando estamos falando de uma ovelha ou de um navio? As diferenças de signifi cado entre uma língua e outra ocorrem devido: a) ao sotaque (marcas regionalistas), b) à regra ortográfi ca (ex.: diferença do inglês britânico e americano), c) ao vocabulário (léxico, envolve o contexto) e, principalmente, d) aos aspectos culturais (marcados por grupos sociais). Além disso, para um aprendiz de língua estrangeira, aparece como difi culdade a entonação. A entonação refere-se à tonicidade de uma palavra ou sentença, ou seja, o tom da voz de um locutor, sendo ela ora mais alta, ora mais baixa. Notamos, por exemplo, que nas sentenças interrogativas, que exigem uma resposta mais detalhada, geralmente a marcação ocorre no fi nal. Já em sentenças que exigem uma resposta curta, a entonação cai no início. Ex. Do you speak English? Ex.: Where were you born? A entonação refere- se à tonicidade de uma palavra ou sentença, ou seja, o tom da voz de um locutor, sendo ela ora mais alta, ora mais baixa. 26 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Outros seis fatores podem ocorrer: 1. emocionais: como entusiasmo e dúvida; 2. gramaticais: como marcadores na formulação de uma pergunta; 3. informativo: quando o falante quer marcar um ponto do enunciado; 4. textual: quando marcamos parágrafos para ajudar a manter a coerência num discurso; 5. psicológico: quando encaixamos informações mais complexas dentro de estruturas mais simples, por exemplo, agrupamento de um número de telefone; 6. local: quando marca a característica de um determinado grupo social (ROST, 2011, p. 34). Retomando o problema com a entonação: a entonação também recai no ‘tom’ de um discurso, que pode ser notado explicitamente. Vejamos: “a. Jane said, “Is that Mister Fogg?” b. Jane said, “Is that mist or fog?” Question: What was Jane talking about?” (GILBERT, 2008, p. 3). O autor analisa que mesmo as duas frases terem uma única pronúncia, o que contribuirá com a construçãodo signifi cado será o padrão do tom que será usado pelo locutor, chamado de melodia. Vejamos que o ritmo da fala pode modifi car a percepção de uma palavra ou discurso, prejudicando a CO: “1. Yest’day I rent’ ‘car. (Yesterday I rented a car.) 2. Where’ ‘book? (Where is the book?) 3. We’ been here’ long time. (We’ve been here a long time” (GILBERT, 2008, p. 5). O exemplo anterior mostra que se o indivíduo não está acostumado com o ritmo da fala, pode cometer erros de compreensão. Isso só consegue ser suprido quando há familiaridade com as características do discurso oral. Na manifestação da fala, muitos padrões de pronúncia impostos pelas regras da gramática fonológica não ocorrem, difi cultando a aprendizagem em língua estrangeira. Por isso que a exposição da fala em contextos naturais é tão necessária à aprendizagem. É importante saber que a representação do som pode ser acessada pelo Alfabeto Fonético Internacional (AFI), mas nem sempre é o que acontece em situações reais. Explicando melhor: geralmente em inglês a letra (a) é pronunciada [ei], como exemplo de ‘name’. Isso também ocorre na língua portuguesa, como é o caso da palavra ‘queijo’, muitas vezes pronunciada ‘quejo’. [′kej.ʒʊ] conforme 27 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 a transcrição. Vamos entender melhor: um segmento sonoro tem diferentes pronúncias, dependendo, por exemplo, dos sons que lhe são adjacentes na cadeia. O segmento [n] do inglês não é foneticamente o mesmo em tenth e em ten. Saiba mais em: https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/ request/trilha/materiais/livro/livro.php?codigo=22868. ALENCAR, F. B. de. As regras completas da pronúncia do inglês: regras da fonologia inglesa para uso didático. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019. Outro problema é com alguns sons que não aparecem, como em /sprint/, que muitas vezes não é pronunciado o fonema /t/. Esse exemplo ocorre com frequência, o que pode confundir o ouvinte. Você sabia que o inglês tem 25 letras e mais de 40 sons? É uma língua que precisa de um estudo sobre os aspectos fonológicos. Vejamos outras características da língua oral para CO: 28 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM ORAL Características Exemplos A linguagem oral contém reformulação de tópicos. The people in this town – they’re not as friendly as they used to be. A fala é marcada por unidades gramaticais incompletas, falsos começos, estruturas incom- pletas/abandonadas. “I was wondering if... Do you want to go together? It’s not that I...I mean, I don’t want to imply...”. Os falantes costumam usar exclusões, omitindo elementos gramaticais conhe- cidos. “Are you) Coming (to dinner)? (I’ll be there) In a minute”. Os falantes usam as palavras mais frequentes do idioma, resultando em uma linguagem mais fracamente marcada e geralmente imprecisa. “the way it’s put together (v. its structure)”. Os falantes usam muitos preenchimentos, mar- cadores interativos e expressões evocativas. “That’s not a good idea. (The topic is that, the action referred to earlier, but never explicitly mentioned)”. Os falantes empregam referências exofóricas frequentes e contam com gestos e pistas não verbais. “And, well, um, you know, there was, like, a bunch of people... And I’m thinking, like, what the hell’s that got to do with it?”. Os falantes usam velocidades variáveis, acen- tos, recursos paralinguísticos e gestos. “that guy over there this thing why are you wearing that?”. FONTE: Rost (2011, p. 29) Nota-se que a oralidade é diferente da escrita, inclusive há outros fatores, por exemplo: a fala muitas vezes não é planejada quanto à escrita, a fala não é tão dependente nas regras gramaticais quanto à escrita, a fala pode ser fragmentada e não completa como deve ser a escrita. Na escrita, predomina a norma padrão, cujo componente linguístico precisa de adequação. Já a oralidade pode envolver variedades menos controladas, como uma linguagem coloquial. A relação da aprendizagem da leitura (reading approach) com a compreensão oral (listening approach) tem mostrado que essas habilidades exigem um comportamento diferente por parte do aprendiz. Vejamos: na oralidade, nem sempre o ouvinte pode retomar o discurso, também precisa enfrentar a velocidade da fala e lidar com a falta de previsão do que será dito. Sintetizando, o indivíduo precisa discriminar o som, reconhecer a estrutura da palavra, buscar o signifi cado, identifi car o propósito do falante, suas ideias e entender informações que muitas vezes estão implícitas. Resta claro para Brown (2007) que a aprendizagem da oralidade pode diferenciar da escrita pelas características do discurso oral, que exige uma demanda cognitiva maior, principalmente relacionada aos níveis de atenção 29 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 e à memória. Outros autores também compreendem dessa forma, vejamos considerações: Entre as muitas diferenças na relação do texto falado x escrito podemos lembrar a seguinte: a) a fala tende a ser plurissistêmica, com fatores organizacionais verbais e não verbais, tais como a prosódia e a gestualidade [...]. A fala, sobretudo a conversação, envolve uma interação mais direta, face a face, no mesmo tempo social, em contextos comuns e imediatos, com troca de falantes, pouca fi xidez temática, maior espontaneidade, [...] a organização textual da fala exige maior frequência de redundâncias, repetições, elipses, anacolutos, autocorreções, marcadores elocutórios e elementos metacomunicativos (MARCUSCHI, 1998, p. 42-43). Para a autora, o fato de a fala acontecer naturalmente e de forma mais fragmentada pode exigir maior atenção ao signifi cado, sentido da informação, já que ele não poderá retomar o discurso, como pode ocorrer no texto escrito. A discussão anterior sugere também que o ouvinte presencie diversas situações discursivas e esteja atento às modifi cações do discurso oral. Na sequência, trataremos alguns aspectos do inglês britânico e do inglês americano como forma de entendermos a infl uência desses discursos no processo de ensino. 3.2 DISCURSO ORAL: O INGLÊS BRITÂNICO E O AMERICANO No Brasil, muitas escolas que ensinam a língua inglesa recebem a infl uência britânica ou americana. No entanto, muitas dessas infl uências podem prejudicar a aprendizagem da língua caso o aluno não perceba que há muito mais contato com falantes de outras nacionalidades do que com falantes nativos. Você já parou para pensar que a comunicação na língua inglesa ocorre muito mais em contextos externos à língua nativa? Exemplos: usamos o inglês numa viagem à Europa, numa entrevista de emprego no Brasil, em um bate-papo na internet etc. Por isso, mesmo que necessitamos conhecer o sistema linguístico, ainda não podemos deixar de reconhecer a grande diversidade linguística que não está no âmbito da cultura inglesa ou americana. Para o estudante de inglês é muito mais importante saber os aspectos culturais de uma língua usada em outros territórios do que variação de pronúncia ou memorização de vocabulário (britânico ou americano), já que o motivo de uma variedade pode ser devido a vários fatores como: idade (jovens usam expressões que os mais velhos não usam), localização (o vocabulário do Sul difere ao uso no 30 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Norte). Há regiões mais preservadas, predominando um dialeto mais regional, há também diferentes grupos sociais (pessoas escolarizadas usam expressões mais formais do que grupos com menos escolarização), por exemplo. O importante é estar exposto a diversos contextos onde a língua é usada, inclusive fora do país do falante nativo. Certamente, a língua inglesa vem assumindo uma perspectiva global, ou seja, uma língua intercultural que não aceita um modelo ideal ou a noção de um único modelo. Exploraremos mais esse assunto no Capítulo 3, no qual será aprofundado o conceito do inglêscomo Língua Franca/Língua Internacional. Neste momento, dialogaremos com algumas curiosidades que envolvem as duas línguas para pensarmos que nada ocorre por acaso. Vejamos a diferença da palavra Cinema (inglês britânico) e Movie theather (inglês americano). Cinema é uma palavra do ano de 1899, de origem francesa Cinéma, que signifi ca “sala de fi lmes”. É a forma reduzida da palavra cinématographe. Essa palavra foi criada em 1890 pelos irmãos Lumiére, que foram os inventores do cinematógrafo, máquina de fi lmar e projetar fi lmes. Cinématographe originou-se da palavra grega kinema, que signifi ca “movimento”, que oriunda do verbo kinein, que signifi ca “mover”. A palavra foi adotada pelo vocabulário inglês sem nenhuma alteração na escrita; houve apenas a supressão do acento gráfi co, já que nenhuma palavra na língua inglesa é acentuada grafi camente. Movie é uma palavra de 1912. É a forma reduzida da palavra moving picture, que signifi ca “imagem em movimento”. A palavra theater foi registrada, no vocabulário inglês, em 1374, derivada do vocábulo theatre, do francês arcaico, que se originou do latin theatrum. A palavra sofreu várias alterações semânticas através dos tempos. O primeiro signifi cado apresentava o seguinte conceito: “lugar ao ar livre para sessão de espetáculos”. Em 1577, seu sentido evoluiu para “edifício onde peças teatrais são apresentadas”. Já em 1668, seu signifi cado alterou-se para “peças, escritos, produção ou palco”. A ortografi a da palavra permaneceu com o fi nal “re” na região da Bretanha, depois do ano de 1700, mas o inglês americano conservou ou reviveu a ortografi a com o fi nal “er” e o seu sentido genérico como “lugar de ação”, que é do ano de 1581. A união das duas palavras pelos norte-americanos movie + theater deu origem à palavra movie theater. 31 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 FONTE: MARZARI, K. G.; VARGAS, C. J. Diferenças lexicais entre o inglês britânico e o inglês americano e suas implicações para a língua-alvo. Artes, Letras e Comunicação, Santa Maria, v. 16, n. 1, p. 75-93, 2015. Você percebeu o quanto de um conceito pode haver por trás de uma palavra? É nesse sentido que nós devemos olhar a língua, valorizando o seu conhecimento histórico e cultural para então pensar nos aspectos linguísticos. Em compreensão oral, você deve saber que a habilidade envolve muito além dos aspectos estruturais da gramática, mas principalmente aspectos cognitivos, sociais e socioculturais que estão presentes nas práticas comunicativas. Rost (1990) alerta que a busca pelo signifi cado (sentido do texto) envolve conhecer as intenções dos falantes, testar hipóteses, fazer inferências, associar ideias, entre outros procedimentos, que envolvem uma demanda extraverbal de conhecimentos. Esses conhecimentos englobam o contexto da situação discursiva: [...] as membership in a discourse community that shares a common social space and history, and common imaginings. Even when they have left that community, its members may retain, wherever they are, a common system of standards for perceiving, believing, evaluating and acting. There standards are what is generally called their culture (KRAMSCH, 1998, p. 10). Para Kramsch (1998), o indivíduo mesmo fora de seu habitat de origem carregará as características de sua comunidade, sejam elas no nível linguístico ou cultural. A linguagem é marcada por uma identidade, um valor cultural, uma construção social. Na sequência, por curiosidade, compararemos o léxico do inglês britânico e americano, que tem vocabulário e uso signifi cativamente diferente. Existem palavras diferentes para o mesmo conceito, ou a mesma palavra tem signifi cados diferentes. Mais de mil palavras têm diversos signifi cados ou diferentes usos no inglês britânico e americano. Aqui estão algumas palavras com seus signifi cados: 32 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA QUADRO 5 – DIFERENÇAS DE VOCABULÁRIOS Americano Britânico Tradução apartment fl at apartamento candy sweets doce cookie/cracker biscuit biscoito french fries chips Batata frita sidewalk pavement calçada vacation holiday(s) férias oven cooker fogão fall autumn outono solicitor lawyer profi ssional de justiça for rent to let Para alugar rest-room, bathroom (public) toilet toalete, banheiro (em restau- rantes, hotéis etc.) FONTE: <https://www.solinguainglesa.com.br/conteudo/ brit_amer2.php>. Acesso em: 21 jan. 2021. É importante saber que as diferenças entre as línguas ocorrem por questões gramaticais, como o uso de verbos, adjetivos, preposições etc., mas também por fatores culturais. Vejamos um exemplo: o inglês britânico prefere o uso de formas irregulares do verbo, diferente do americano, que prefere a forma regular. Ex.: the house burned (USA); The house burnt (GB). Isso acontece também com verbos no particípio quando aparece ‘have’. Vejamos: His tenis has gotten (USA) e his tennis has got (GB). Outro exemplo ocorre no uso do sufi xo (ed) para marcar um adjetivo (SAFAA, 2015). Para fi nalizar, as diferenças de pronúncia também recaem na marcação do inglês britânico e americano. Vejamos um exemplo: nem sempre ocorre a pronúncia do [r] no inglês britânico, como em ‘car’, mas diante de vogais é obrigatório. Já no americano não há essa diferença. No americano, diante de vogais, a consoante [t] é pronunciada como [d], o que não ocorre entre os britânicos. As diferenças também recaem na preposição: Ex. ‘Stay home’ (US) ‘stay at home’ (GB) ou ‘on a team’ (USA) ‘in a team’ (GB). 33 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 1 As características da oralidade podem difi cultar a habilidade da CO. Escolha uma das alternativas que justifi que corretamente essa afi rmação. A) ( ) A entonação é um processo que pode expressar uma ironia ou surpresa por parte do locutor, mas que não prejudica a compreensão da mensagem por parte do ouvinte. B) ( ) A oralidade é diferente da escrita porque contém diferentes características, como falsos começos, repetições, frases incompletas e recursos paralinguísticos, por isso o ouvinte precisa prestar atenção no contexto da situação discursiva. C) ( ) A diferença mais relevante entre fala e escrita ocorre porque a fala é planejada e a oralidade é espontânea. 2 A compreensão oral envolve alguns tipos de conhecimentos. Relacione as colunas corretamente: A) Conhecimento cognitivo. B) Conhecimento linguístico. C) Conhecimento cultural. ( ) A compreensão oral envolve a decodifi cação da palavra. ( ) A compreensão oral envolve reconhecer uma expressão dentro de um contexto. ( ) A compreensão oral envolve a percepção e a atenção do som. 4 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO: INGLÊS BRITÂNICO/AMERICANO O surgimento da língua inglesa ocorreu com a invasão dos celtas na Grã- Bretanha. Esses povos habitaram por muito tempo também outros países, como a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Espanha, tornando-se importantes grupos a colonizar a Europa. Entretanto, não foram somente eles que estiveram por lá, os romanos, que invadiram a região e trouxeram características latinas, também infl uenciaram a língua. 34 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Decorrente de grandes revoluções, as tribos germânicas, a princípio, se aliaram aos celtas, logo após foram derrotados e suas infl uências apagadas. Nesse contexto, a língua passou a ter traços anglo-saxônicos. A expansão da colônia trouxe importantes avanços para o comércio, o que favoreceu o uso do inglês tanto para assuntos administrativos como para o comércio em geral. É importante destacar que a língua inglesa teve três importantes momentos, marcando principalmente as mudanças linguísticas, tanto na forma sintática, semântica morfológica ou fonológica. Esses três momentos foram chamados de: 1) Fase inicial “Old English”. Quando o sistema linguístico foi marcado por diferentes dialetos, ou seja, diferentes povos tinham certas identidades linguísticasque infl uenciavam a comunicação. Nessa época, o inglês não era tratado como língua ofi cial. Com a infl uência da conquista dos normandos, o dialeto francês denominado Norman French ganhava espaço. Nesse período, a língua inglesa era caracterizada pela fl exibilidade de criar novos sentidos às palavras já existentes, surgindo também a derivação com o uso de afi xos ou prefi xos. Alguns dialetos surgiram: Northumbrian e Mercia na região Norte, West Saxon na região Sul e Kentish ao Sudeste. Isso mostrou que sempre houve diferenças linguísticas regionais, por isso é impossível sistematizar a língua completamente. 2) Fase do “Middle English”. Por volta do fi nal do século XI, diante da batalha de Hastings, com a derrota dos anglo-saxões, predominando a cultura franco-normanda no contexto anglo-saxônico. Vejamos como exemplo: a palavra ‘house’ – “casa, habitação” (anglo-saxão) e mansion (francês). Vejamos considerações: O período do inglês médio (Middle English) pode ser considerado como tendo iniciado com a invasão normanda de 1066 e a subsequente conquista de toda a Inglaterra. O francês normando substituiu o inglês como língua da aristocracia e da igreja. Já em fi ns do século XI, o alto clero e a nobreza ingleses haviam sido substituídos pelos franceses. No Domesday Book (1086), um detalhado registro de propriedades de terras na Inglaterra, proposto por Guilherme e executado em seu nome, não existe virtualmente nenhum proprietário inglês mencionado – os mais altos escalões da sociedade inglesa haviam sido eliminados (OLIVEIRA, 2013, p. 2). Nessa época, houve inúmeros empréstimos do francês normando ao inglês. Infl uência essa decorrida da conquista normanda da Inglaterra, colocando Londres como sua capital. Assim, o vocabulário do inglês anglo-saxônico permanecia 35 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 com esses novos dialetos do francês normando. A Inglaterra após a Revolução Industrial obteve um processo importante para o desenvolvimento econômico e social, colocando o país em destaque na Europa. 3) Fase do “Modern English”. No século XV e XVI, em decorrência de muitas transformações socioeconômicas, a ciência, a cultura e a arte foram ganhando representatividade, contribuindo para a riqueza linguística. Diante de tal diversidade linguística, foi o momento de tentar uma padronização com a introdução de dicionário e regras que descreveriam a estrutura linguística. No âmbito da produção do som, houve algumas modifi cações: a pronúncia /fi :ne/ (fi ne) passou para /fayn/. Outro exemplo: a pronúncia /hu:s/ (house) passou para /haws/. Há vários exemplos de mudança na pronúncia, mas o importante nesse estudo é reconhecer a diversidade linguística como um processo histórico que não pode ser deixado de lado no aprendizado de uma língua estrangeira (SCHÜTZ, 2020). Você sabia que Shakespeare foi um grande escritor a infl uenciar a língua inglesa? A readaptação de obras clássicas, o enredo dramático, o vocabulário que atraía as pessoas e o comportamento dos personagens traziam da literatura uma refl exão para a sociedade. Com certeza, ele foi um grande dramaturgo e poeta que infl uenciou o teatro, o cinema e a literatura com obras famosas, como Hamlet e Romeu e Julieta. FIGURA 5 – SHAKESPEARE FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Shakespeare>. Acesso em: 17 jun. 2021. 36 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA A língua britânica continuava na tentativa de padronização, mas com a perda de hegemonia da Inglaterra para outros países da Europa e o surgimento dos Estados Unidos como uma grande potência após a Segunda Guerra Mundial, o inglês passa a ser percebido como uma língua internacional. A fl exibilidade linguística também motivara o modo de falar dos britânicos, como a redução de morfemas gramaticais, omissões de preposição etc. Vejamos um exemplo: the car I had bought is cheap em troca de ‘the car that I had bought is cheap’ (nesse caso ocorreu a omissão do pronome). Inúmeras ocorrências foram surgindo, justifi cadas pelas relações sociais e aspectos culturais. Por sua vez, no contexto americano, os primeiros imigrantes europeus que infl uenciaram os Estados Unidos foram certamente os ingleses. Eles fundaram treze colônias, chamadas de Treze Marias. Logo, foram agrupadas em três importantes colônias: 1) Colônia do Norte: Connecticut, Rhode Island, Nova Hampshire e Massachusetts; 2) Colônia Central: Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware e 3) Colônia do Sul: Virgínia, Maryland, Carolinas do Sul e do Norte e a Geórgia. Entretanto, somente em 1776 ocorreu a independência dos Estados Unidos da Inglaterra. Isso foi reconhecido só em 1783 por um acordo internacional chamado de Tratado de Paris. A república federalista foi o modelo adotado como proposta à liberdade do comércio, mas a elite colonial, a qual teve maior infl uência, acabava não aceitando os valores da metrópole. Nesse período, o dialeto norte-americano já tinha maior representatividade do que o vocabulário do inglês britânico. A partir da Segunda Guerra Mundial, com a infl uência econômica e cultural dos americanos, caracterizava-se o poder linguístico da língua e sua expansão pelo mundo. A infl uência política e cultural dos Estados Unidos ocorreu após a guerra, período em que grandes empresas americanas começavam a se expandir pela Europa. A expansão do inglês americano cresce ao longo da história, infl uenciando a música, a moda, o cinema, a tecnologia, entre outros, inclusive o Brasil no vocabulário. Nós utilizamos palavras do inglês, principalmente no âmbito tecnológico. Você sabia que a língua inglesa é infl uenciada por 29% da língua francesa, 29% da língua latina, 26% da língua germânica e 16% de outras infl uências? Isso mostra a semelhança entre as línguas, podendo contribuir com o aprendizado. Vamos pensar um pouco: o que faz uma língua ser mundial? Retornaremos ao século XIX, quando houve o crescimento do poder econômico nos Estados Unidos: o poder econômico, cultural e tecnológico tiveram infl uência nesse processo. 37 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 4.1 AS INFLUÊNCIAS CULTURAIS DO INGLÊS NO CONTEXTO BRASILEIRO O termo cultura envolve uma complexa relação com as crenças, os valores e os aspectos que entrelaçam a construção de uma identidade nacional. É nesse sentido que compreendemos que a língua não existe sem a cultura. Então, qual é a relação da língua com a cultura? Para Kramsch (1993), a linguagem não é um agrupamento de formas linguísticas aplicadas a uma determinada realidade, mas sim a construção de signifi cados construídos ao longo do tempo, em que os signifi cados vão ganhando sentido à medida que a sociedade age por meio dela. Com a expansão territorial e a globalização, as culturas americana e britânica ganharam maior representatividade para o modelo de ensino de inglês no Brasil. Isso representou um olhar hegemônico para o tratamento da língua. Explicando melhor: quando aprendemos inglês, muitas vezes temos a ideia de que precisamos falar como um falante nativo, nos comportando como um nativo, incorporando características dessa língua e, consequentemente, afetando a nossa identidade. Vejamos um exemplo: muitos cursos de idioma adotam um material britânico, outros o americano, mostrando estereótipos culturais que acabam desvalorizando a nossa cultura local, o nosso modo brasileiro de falar inglês, de compreender a nossa realidade. A padronização da norma também pode ocultar a realidade linguística e enfatizar uma crença de que há um ideal linguístico que deve ser alcançado pelo aprendiz (HOLLIDAY, 2005). Nesse sentido, surgiram certas ideologias capazes de legitimar a expansão de uma determinada língua (aquela pertencente ao falante nativo). Nesse processo, surgiu o termo ‘linguicismo’, marcado para expressar a imposição da regra e valores culturais advindos dessa língua, aparentemente idealizada. Otermo linguicismo refere-se às normas linguísticas e culturais impostas pelos países da língua nativa, atribuindo um certo status dessas línguas na sociedade. Vejamos outras considerações: As relações de comunicação linguísticas são relações de força simbólica (já que a língua é um bem simbólico), ou relações de força linguística; elas é que explicam por que determinados falantes exercem poder e domínio sobre outros, na interação verbal, determinados produtos linguísticos recebem mais valor que outros. Assim, as relações de força simbólicas e presentes na comunicação linguística defi nem quem e como; atribuem valor e poder à linguagem de uns e desprestígio à linguagem de outros (OLIVEIRA, 1999, p. 56, grifos nossos). 38 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA Nessa perspectiva, as infl uências culturais de países hegemônicos acabam colocando o inglês num status de supremacia, ou seja, intrinsecamente ligado ao poder militar, econômico e cultural de um país (CRYSTAL, 2005). Por isso é importante refl etirmos o quanto que o período histórico refl ete na representatividade de uma língua. A difusão da língua se fortifi cou no início do século XIX quando a Inglaterra era a maior potência econômica e industrial, e no século XX quando os Estados Unidos se tornaram o país com a economia que mais crescia no mundo. Logo, enquanto no século XIX o imperialismo político britânico era o responsável por disseminar a língua inglesa pelos continentes, durante o século XX, esta presença mundial era mantida e promovida quase que unicamente através da supremacia econômica da nova superpotência americana (HAUS, 2018, p. 18). A globalização capitalista manteve forte decisão na divulgação dessas culturas por trás de um discurso hegemônico. É preciso ter em mente que a profi ciência linguística de uma língua estrangeira não capacita o indivíduo para agir criticamente com ela, por isso é necessária a construção refl exiva das diferentes realidades para melhor compreender a cultura do outro. Para Santos (2006, p. 15), “a diversidade das culturas existentes acompanha a variedade da história humana, expressa possibilidades de vida social organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza”. Por esse motivo, ele defende que: As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo desigual. As relações internacionais registram desigualdades de poder em todos os sentidos, os quais hierarquizam de fato os povos e as nações. Este é um fato evidente da história contemporânea e não há como refl etir sobre cultura ignorando essas desigualdades. É necessário reconhecê-las e buscar sua superação (SANTOS, 2006, p. 17-18). Para o autor, não há a relação de superioridade entre as diferentes culturas, mas conhecer o processo histórico pode contribuir para o enfrentamento de julgamentos de valor. Um exemplo disso é o cinema americano, que acaba infl uenciando num estilo de vida, num modelo de moda ou até de um certo comportamento social, mas isso pode marcar negativamente o cinema brasileiro. Tudo vai depender da formação do indivíduo para lidar com os discursos dominantes da sociedade. Notamos que, no Brasil, algumas infl uências ocorrem na comida fast food, nos festivais, como Halloween, Sant Patrick Day, na música, como no Rock, entre muitos outros, sem haver prejuízo para a nossa cultura. Entretanto, em contexto 39 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 de aprendizagem, ocorrem algumas ideologias linguísticas, como ‘pronúncia correta’, ‘o inglês britânico é melhor’, ‘a cultura americana é mais evoluída’ etc., criando certos olhares preconceituosos em relação a outros países, inclusive o Brasil. É preciso cuidar com esses discursos para não afetar a nossa identidade. Por sua vez, algumas infl uências ocorrem no vocabulário, chamadas por alguns linguistas de estrangeirismo. Esse termo, segundo Bechara (2009), são construções linguísticas realizadas pelos empréstimos lexicais de línguas estrangeiras. Vejamos: sale (liquidação), delivery (entrega) e off (desconto). É um processo de empréstimo da língua inglesa, formando uma heterogeneidade linguística. Isso ocorre porque a globalização aproximou as línguas, colocando o inglês como uma língua global. É importante destacar que quando uma palavra nova entra no vocabulário, nem sempre terá uma explicação semântica com base etimológica, mas com o momento onde ela acontece, “tem a ver com a coisa ou o fato que ela designa, com o mundo de referências ao qual ela remete” (FARACO, 2001, p. 73). Para fi nalizar, destacamos que na atualidade o aprendizado da língua inglesa deve estar a favor de alcançar inteligibilidade discursiva, ou seja, garantir uma comunicação fl uída sem estar engessada por motivos de padronização linguística. Para isso é importante desenvolver um conhecimento intercultural que possa interpretar os vários contextos onde o inglês é usado, sem deixar a sensibilidade crítica. É importante pensar a CO como uma habilidade que exigirá em menor grau os conhecimentos linguísticos, porque as interpretações dependerão mais do conhecimento intercultural que atravessa a linguagem. 4.2 O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NO BRASIL A língua inglesa como disciplina obrigatória no Brasil ocorreu no início do século XVIII. Na época, um decreto de D. João VI (Príncipe Regente de Portugal) determinou o ensino da língua inglesa e francesa por motivos comerciais. A Inglaterra teve forte infl uência no comércio, o que exigiu o conhecimento da língua inglesa pelos brasileiros. Vejamos um trecho do decreto: Sendo, outrossim, tão geral e notoriamente conhecida a necessidade de utilizar das línguas francesa e inglesa, como aquelas que entre as vivas têm mais distinto lugar, e é de muita utilidade ao estado, para aumento e prosperidade da instrução pública, que se crie na Corte uma cadeira de língua francesa e outra de inglesa (OLIVEIRA, 1999, p. 26). 40 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA FIGURA 6 – VINDA DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL FONTE: <https://www.todamateria.com.br/dom-joao-vi/>. Acesso em: 17 jun. 2021. Os trabalhadores precisavam do idioma para o mercado de trabalho, o que gerou algumas manifestações a favor do sentimento nacionalista. Entretanto, vendo a necessidade de incorporar o aprendizado da língua inglesa nos currículos de ensino, no século seguinte, houve a Reforma de Francisco Campos (1931), modernizando o sistema de ensino secundário com a implementação de aumento do “número de anos do curso secundário e sua divisão em dois ciclos, a seriação do currículo, a frequência obrigatória dos alunos às aulas, a imposição de um detalhado e regular sistema de avaliação discente e a reestruturação do sistema de inspeção federal” (DALLABRIDA, 2009, p. 185). Essa reforma exigiu a obrigatoriedade do ensino das línguas estrangeiras, como o inglês, o francês, o alemão e também o latim, explorando um método (Método Direto) que valorizava aspectos estruturais da língua. A abordagem Direta (AD) é quase tão antiga quanto a AGT (Abordagem Gramatical). Surgiu como uma reação a esta e evidências de seu uso datam do início do século XVI. O caso de Montaigne, o famoso ensaísta francês, que já na década de 1530 aprendeu latim pelo método direto, é citado pelos defensores da AD como um exemplo de seu sucesso. [...] O princípio fundamental da AD é de que a L2 se aprende através da L2; a língua materna nunca deve ser usada na sala de aula. A transmissão do signifi cado dá-se 41 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 através de gestos e gravuras, sem jamais recorrer à tradução. O aluno deve aprender a “pensar na língua”. A ênfase está na língua oral, mas a escrita pode ser introduzida já nas primeiras aulas. O uso de diálogos situacionais (exemplo: “no banco”, “fazendo compras” etc.) e pequenos trechos de leitura são o ponto de partida para exercícios orais (compreensão auditiva, conversação“livre”, pronúncia) a exercícios escritos (preferencialmente respostas a questionários). A integração das quatro habilidades (na sequência de ouvir, falar, ler e escrever) é usada pela primeira vez no ensino de línguas. A gramática e mesmo os aspectos culturais da L2 são ensinados indutivamente. O aluno é primeiro exposto aos “fatos” da língua para mais tarde chegar a sua sistematização. O exercício oral deve preceder o exercício escrito. A técnica da repetição é usada para o aprendizado automático da língua. O uso de diálogos sobre assuntos da vida diária tem por objetivo tornar viva a língua usada na sala de aula. FONTE: LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de línguas. In: BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tópicos em linguística aplicada: o ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: UFSC, 1988. p. 211-236. Por sua vez, foi em 1942, com outro documento chamado Reforma do Capanema (segunda reforma da Era Vargas), que houve um aumento signifi cativo de horas destinadas ao ensino das línguas estrangeiras, priorizando o ensino de quatro habilidades (leitura, compreensão oral, produção oral e escrita). Essa reforma preocupava-se com questões metodológicas de ensino ancoradas ainda no método direto, mas com a preocupação também de aspectos refl exivos da cultura estrangeira. O problema é que embora houvesse uma preocupação metodológica de ensino, nas salas de aula prevalecia a abordagem da leitura, difi cultando a aprendizagem de outras habilidades. Além disso, o sentimento nacionalista continuava incomodando os docentes, que entendiam esse decreto como um documento que enaltecia a língua estrangeira, desvalorizando a identidade nacional. É importante lembrar que esse período favorecia um aprendizado que valorizava a cultura clássica e deixava de lado a cultura popular. Somente após a Quarta República (1945-1964) é que se pode pensar numa educação mais democrática, principalmente com a vinda da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), publicada em 1961. Para a língua inglesa, essa lei não trouxe tantas mudanças, mas após 10 anos, com a LDB de 1971, a carga horária 42 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA de ensino da língua estrangeira foi reduzida, dando lugar ao ensino profi ssional. A redução de um ano na escolaridade da educação básica para dar lugar à educação profi ssional colocava a jornada destinada ao ensino de inglês de apenas uma hora por semana, prejudicando o aprimoramento da língua. Por fi m, na LBD de 1996, o ensino de primeiro e segundo grau foi substituído pelo Ensino Fundamental e Médio, atribuindo à escola a escolha da língua a ser ensinada (LEFFA, 1999). No Capítulo 2, você encontrará as diferentes abordagens de ensino de língua estrangeira após o método direto. É importante o conhecimento dessas abordagens para pensar como o inglês vem sendo manipulado nos contextos de ensino e, assim, pensar a sua representatividade. Para fi nalizar nossa compreensão sobre o percurso do sistema de ensino no Brasil, outro importante documento veio com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), cujo objetivo é baseado na diversidade cultural e linguística que abrange as diferenças sociais. Nessa proposta, as disciplinas se unem para desenvolver um conhecimento compartilhado, envolvendo uma abordagem transdisciplinar (ver Capítulo 2), que possa conduzir o indivíduo a um processo contínuo de aprendizagem. Essa abordagem leva em conta olhar para o objeto de estudo e encontrar um diálogo com as diferentes disciplinas (área de conhecimento). No caso da língua inglesa, o indivíduo pode aprender a língua junto da história do país, dos aspectos culturais, da formação geográfi ca, entre outros conhecimentos que agregam ao objeto a ser investigado. Vejamos algumas considerações, segundo as orientações de ensino: Duas questões teóricas ancoram os parâmetros de Língua Estrangeira: uma visão sociointeracional da linguagem e da aprendizagem. O enfoque sociointeracional da linguagem indica que, ao se engajarem no discurso, as pessoas consideram aqueles a quem se dirigem ou quem se dirigiu a elas na construção social do signifi cado. É determinante nesse processo o posicionamento das pessoas na instituição, na cultura e na história. Para que essa natureza sociointeracional seja possível, o aprendiz utiliza conhecimentos sistêmicos, de mundo e sobre a organização textual, além de ter de aprender como usá-los na construção social do signifi cado via Língua Estrangeira. A consciência desses conhecimentos e a de seus usos são essenciais na aprendizagem, posto que focaliza aspectos metacognitivos e desenvolve a consciência crítica do aprendiz no que se refere a como a linguagem é usada no mundo social, como refl exo de crenças, valores e projetos políticos (BRASIL, 1998, p. 15). 43 A NATUREZA DA COMPREENSÃO ORAL Capítulo 1 Notam-se alguns objetivos para o ensino de inglês, como o conhecimento histórico e cultural como forma de socialização entre os indivíduos, valorizando a refl exão do aluno sobre o processo de aprendizagem. Você deve estar se questionando: será que com a vinda desse documento houve melhora na educação de língua estrangeira? Para refl exionarmos essa questão, é preciso pensar sobre o que entendemos por língua e o conceito de aprendizagem, pensar sobre o poder da língua inglesa na nossa sociedade e promover espaços de refl exão. Em resumo, a aprendizagem de uma segunda língua envolve técnicas de aprendizagem, refl exão sobre questões culturais, identidade linguística, política e econômica. Essas questões serão abordadas no próximo capítulo. 1 Leia o trecho do texto a seguir e assinale a alternativa que corresponda com a ideia defendida pelo autor: Cultural information should be presented in a nonjudgmental fashion, in a way that does not place value or judgment on distinctions between the students’ native culture and the culture explored in the classroom. Kramsch (1993) describes the “third culture” of the language classroom – a neutral space that learners can create and use to explore and refl ect on their own and the target culture and language. Some teachers and researchers have found it effective to present students with objects or ideas that are specifi c to the culture of study but are unfamiliar to the students. The students are given clues or background information about the objects and ideas so that they can incorporate the new information into their own worldview. An example might be a cooking utensil. Students would be told that the object is somehow used for cooking, then they would either researcher be informed about how the utensil is used. This could lead into related discussion about foods eaten in the target culture, the geography, growing seasons, and so forth. The students act as anthropologists, exploring and understanding the target culture in relation to their own. In this manner, students achieve a level of empathy, appreciating that the way people do things in their culture has its own coherence. FONTE: <http://media.startalk.umd.edu/workshops/2009/SeattlePS/sites/ default/fi les/fi les/CAL_%20Digests_%20Culture%20in%20Second%20 Language%20Teaching.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2021. 44 ComPrEENSÃo OrAL Em LÍNGuA INGLESA A) ( ) O autor preocupa-se com as relações culturais que envolvem o ensino da língua estrangeira e propõe que o professor discuta esses valores como forma de tentar fazer um comparativo da cultura da língua materna com a cultura da língua estrangeira. B) ( ) O autor defende que a pesquisa é uma alternativa para entender os valores culturais da língua-alvo como forma também de refl etir sobre a própria língua materna. C) ( ) Para o autor, o ensino da cultura é um pré-requisito para aprender uma língua estrangeira. 2 Assinale V para verdadeiro e F para falso: Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em língua estrangeira defendem a língua numa visão sociointeracionista
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