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P1 - Infecções fúngicas superficiais As infecções fúngicas (micoses) superficiais se limitam a camada superficial da pele e/ou anexos cutâneos e mucosas. Essas micoses também podem ser chamadas genericamente de “tinhas” (do latim, tinea: verme), pelas características serpiginosas das bordas das lesões causadas pelos dermatófitos. São classificadas em: ceratofitoses, dermatofitoses, dermatomicoses e candidíases (em pacientes imunocompetentes, se mostram superficiais). 1- Ceratofitoses - localizam na queratina da epiderme e dos pelos, em geral, sem provocar reação de hipersensibilidade. 1a) Pitiríase Versicolor - Distribuição universal, mais comum em adultos (pela maior oleosidade da pele), em locais quentes e úmidos; - É causada pelo fungo Malassezia sp. (principal espécie: furfur; mais frequente em culturas: globosa e sympodialis), sua principal espécie é saprófita e lipofílica, encontrada principalmente em couro cabelo e regiões ricas de glândulas sebáceas (metade superior do tronco e dos braços), comporta-se como oportunista e recorrências são frequentes; - A lesão inicial é arredondada em continuidade com a estrutura pilossebácea, ao avançar, podem confluir-se. São, em geral, hipocrômicas descamativas, mas podem ser hipercrômicas e eritematosas. Podem ser pruriginosas, principalmente após exposição solar. - Sinal de Zireli ou do estiramento: ao estirar distalmente a pele, aparecem escamas furfuráceas. O mesmo ocorre ao atritar a lesão com a cureta ou unha (Sinal da unha ou de Besnier). - Foliculite pitirospórica: mais comum em mulheres de 25 a 35 anos, pacientes acamados e/ou em uso prolongado de corticoides ou antibióticos; manifesta-se por pápulas foliculares e pústulas no pescoço, no tronco e nos membros inferiores. - Malasseziose: forma disseminada, gerando fungemia/septicemia; pode ocorrer em imunossuprimidos e crianças de baixo peso, por meio de catéteres de NPT para alimentação lipídica; a febre é o sintoma mais comum e o coração e pulmões são os órgãos mais acometidos. - Diagnóstico: exame direto com coleta por fita gomada ou raspagem, observa-se no microscópico hifas curtas, curvas e largas e elementos leveduriformes arredondados como cachos de uva (aspecto de “espaguete com almôndegas”). - A cultura é pouco usada, porém o cogumelo cresce bem entre 32 e 35°C, em meios com óleo de oliva. À luz de Wood, as lesões aparecem de cor amarelo-ouro. - Tratamento: aplicar sulfeto de selênio 2,5% + propilenoglicol 50% + cetoconazol 2% (ou outro imidazólico) em solução hidroalcoólica ou xampu por cerca de 30 minutos, em seguida remover no banho, durante 10 a 20 dias, em uma margem maior do que as áreas acometidas. Quando há envolvimento do couro cabeludo, pode-se estender a aplicação por meses. Repete-se o tratamento após 2 meses para evitar recidivas. Nos casos extensos ou recidivantes, opta-se por: cetoconazol 200mg/dia por 10-15 dias OU itraconazol 100mg 2x por 5-7 dias OU fluconazol 300mg/semana por 2 semanas. - O uso de bucha no banho é bastante eficaz, pois auxilia na remoção mecânica do fungo que está presente na camada córnea. 1b) Tinea (ceratofitose) negra - Agentes etiológicos: Hortaea werneckii ou Phaeoanellomycis werneckii; - Mais comuns em crianças do sexo feminino em regiões tropicais e/ou subtropicais. - Apresenta-se por mancha enegrecida, pequena, localizada (em geral, palmar, mais raramente, plantar ou borda dos dedos), pode ser uma lesão única ou poucas que coalescem. À dermatoscopia, visualiza-se espículas finas, superficiais e pigmentadas que não seguem as linhas naturais da palma da mão. - O diagnóstico diferencial se faz com melanoma extensivo superficial e púrpura do atleta. - O tratamento é feito com ceratolíticos e antifúngicos tópicos, com cura em poucos dias. 1c) Tricomicose nodosa (Piedra) - Piedra negra: causada pela Piedraia hortai, caracteriza-se por pequenos nódulos pretos endurecidos, bem aderidos aos pêlos do couro cabeludo, das axilas e da região pubiana. - Piedra branca: causada pelo Trichosporon beigelii ou T. cutaneum, caracteriza-se por pequenos nódulos branco-amarelados macios e aderentes aos pelos do couro cabeludo, das axilas e da região pubiana (nesta, pode produzir lesões cutâneas eritematosas e descamativas na regiões próximas). É causa frequente de onicomicose em alguns países asiáticos. - Tratamento: antifúngicos tópicos sob a forma de loções/xampus + agentes esfoliantes OU Itraconazol VO nos casos extracutâneos. 1d) Eritrasma e corinebacteriose (tricomicose) palmelina - Distribuição universal, mais comum em adultos (pela maior oleosidade da pele), em locais quentes e úmidos; 2- Dermatofitoses - Embora o termo dermatofitose não corresponda à classificação taxonômica, ficou consagrado para designar doenças causadas por um grupo de fungos que, geralmente, em vida parasitária, vivem à custa da queratina da pele, dos pelos e das unhas. Agrupam-se sob essa denominação fungos dos gêneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton, cujas características morfológicas, fisiológicas e antigênicas os relacionam entre si. Como sinonímia, há tinea ou tinha. - Existem mais de 30 espécies patogênicas de dermatófitos (a T. rubrum é a mais frequente), que se distribuem universalmente, com variações regionais e preferência a ambientes de clima quente e úmido. - Acometem, em geral, couro cabeludo, pele glabra, tronco, dobras, variando de acordo com o patógeno. Raramente, acometem as unhas, sendo mais frequente em imunossuprimidos ou nos competentes por contágio de gatos domésticos doentes. - Os dermatófitos podem ser divididos em antropofílicos (homem), zoofílicos (aniamsi, como cão, gato, porco, gado, etc) e geofílicos (solo), representando seu habitat e fonte de contágio. Habitat Espécies Reação de hipersensibilidade Tratamento Antropofílicos T. rubrum, T. concentricum, T. schoenleinii, T. tonsurans, T. Pouca ou inexistente Resistentes, exigem doses maiores e prolongadas, São mais comuns causadores de epidemias - A hipersensibilidade celular específica é dada pelo teste intradérmico à tricofitina (extrato de várias culturas de dermatófitos), com resposta papuloeritematosa, em 24 a 48 h. - Estes patógenos possuem ceratinofilia, ou seja, facilidade de cultivo na queratina. Os dermatófitos dispõem de queratinase, o que possibilita a invasão da camada córnea, mas lá ficariam restritos por um bloqueio em decorrência de fatores naturais fungistáticos séricos, como a α2 -macroglobulina e a transferrina insaturada, que impediriam a sua penetração no organismo. Em casos raros, em geral por deficiência imunológica específica ou sistêmica, os dermatófitos podem atingir a derme, a hipoderme e até mesmo os ossos, a não ser por inoculação direta (depilação, fazer barba etc.) - Clínica: ★ Clássica: lesões eritematoescamosas, pruriginosas, circinadas, isoladas ou confluentes com crescimento centrífugo com a parte periférica mais ativa (de onde é retirada a amostra para o exame micológico), usualmente localizam-se em braços, face e pescoço. Em alguns casos, pode ocorrer predominância de vesícula, pústula ou em placa de evolução lenta. ★ Dermatofitose marginada (tinea cruris): lesão tipicaa partir da prega inguinal avançando sobre a coxa, com bordas nítidas; pode invadir o períneo, nádegas, região pubiana e baixo-ventre. Não acomete a bolsa escrotal por conta da especificidade para regiões com queratina (diagnóstico diferencial da candidíase). ★ Dermatofitose dos pés (tinea pedis): existem três formas: a aguda eczematoide, representada por vesículas plantares e digitais; a intertriginosa, localizada entre as pregas interdigitais com fissuras e maceração; e a crônica, por lesões descamativas pouco pruriginosas em toda região plantar. É peculiar e rara a apresentação em “mocassim e/ou em luva”; não necessariamente simétrica e causada pelo T. rubrum. ★ Dermatofitose imbricada (tinea imbricata): lesões escamosas circulares concêntricas em forma de arabescos, atingindo grandes áreas, muito pruriginosas. Causada pelo T. concentricum, é tipica em regiões como Polinésia (“tokelau”) e no Brasil (Mato grosso e Amazônia, sendo chamada de “chimberê”). mentagrophytes var. interdigitale, M. audouinii reicidivas e cronificação são frequentes. em creches e orfanatos (T. tonsurans). Zoofílicos M. canis, T. verrucosum, T. Mentagrophytes var. mentagrophytes Quadros inflamatórios exuberantes Tendem à cura espontânea Geofílicos M. gypseum Quadros inflamatórios exuberantes Tendem à cura espontânea ★ Dermatofitose ungueal (tinea unguium) ou onicomicose: lesões crõnica destrutivas, esfarinhentas, inicialmente pelas bordas livres das unhas, de cor branco-amarelada, com ceratose do leito ungueal, envolve uma ou várias unhas (preferencialmente acomete a do hálux). ★ Dermatofitose da face: lesões típicas, pode ter disposição em asa de borboleta, com discreto prurido. ★ Dermatofitose do couro cabeludo (tinea capilis): lesões tipicas em couro cabeludo, com cabelos “fraturados” próximo à pele, formando áreas de tonsura. Na tinea tricofítica, as áreas de deglabração são pequenas, ao contrário das microspóricas, cuja área em geral é única e grande. Nessas duas, os cabelos voltam ao normal com o tratamento ou com a involução espontânea, na época da puberdade. Na variedade favosa, que apresenta-se com escútulas fávicas (crosta constituida por micélio, esporos, células, sebo e exsudato), entretanto, ocorre atrofia com alopecia definitiva ou cicatricial. Há uma variante seborreica “não tonsurante” de tinea capitis, produzida pelo T. tonsurans, que deve ser diferenciada em crianças da dermatite seborreica no couro cabeludo e da pseudotinea amiantácea. ★ Dermatofitose inflamatória: há três tipos principais: kerion, localizado no couro cabeludo ou barba, representado por uma placa de foliculite aguda ou subaguda, hiperégica, com supuração intensa e cura espontânea e eventual alopecia cicatricial; sicose tricofitica, representada por pústulas centralizadas por pelos na barba e/ou bigode, isoladas ou em conglomerados, em geral crônicas; e foliculitis capitis abscedens et sufodiens, representada por foliculite com túneis intercomunicantes no couro cabeludo, pode ter etiologia estafilocócica, porém, quando micótica, o agente mais frequente é o T. tonsurans (perifoliculite abscedante de Hoffmann). ★ Dermatofitose granulomatosa: dermatófito na derme com reação granulomatosa com ou sem hipersensibilidade à tricofitina, podem ser localizadas ou generalizadas. - As localizadas são: (1) tipo Majocchi - ocorrem por oclusão ou uso incorreto de corticosteroides, apresentam-se como nódulos com tendência à fistulização, em face (queixo) e punhos, ao diagnóstico histológico, apresentam hifas no interior dos folículos distendidos associado a infiltrado granulomatoso; (2) tipo Wilson-cremer: nódulos eritematosos, com tendência à ulceração nos membros inferiores, podem ser decorrentes da depilação com lâmina. - As generalizadas são: (1) tipo Azulay: erupção generalizada, eritematoescamosa, com pápulas, tubérculos e comprometimento ungueal; (2) tipo Artom: eritrodermia com lesões tumorais e adenopatia generalizada; (3) tipo Pelevine-thcermogoubof: erupções generalizadas, eritematoescamosas, placas de infiltrações, nódulos (alguns ulcerados), adenopatia e comprometimento ósseo. ★ Tínea incógnita: infecção mascarada por uso de corticóides tópicos ou sistêmicos. O padrão pruriginoso e a história de recidivas após suspensão do corticoide auxiliam na hipótese diagnóstica. ★ Ides ou dermatofítides: quadros hiperégicos, agudos ou subagudos, geralmente simétricos, decorrentes de disseminação hematogênica de antígenos de dermatófitos. O aspecto disidrosiforme é o mais comum; entretanto, têm-se descrito erupções liquenoides, psoriasiformes, morbiliformes, eritemas multiforme e nodoso, púrpura, eritema anular e outros. Três são os fundamentos para este diagnóstico: as lesões serem desabitadas, o fungo ser demonstrado em foco a distância e desaparecer com a cura da dermatofitose. - Diagnóstico: pode ser feito por exame direto, por raspado ou fita gomada com aplicação de KOH, com a visualização de micélios septados e artrosporos, no entanto, a cultura é importante para diagnóstico da espécie, avaliação do prognóstico e rastreio da fonte de contágio. A luz de Wood pode auxiliar no diagnóstico e acompanhamento do tratamento, pois os cabelos tornam-se fluorescentes esverdeados no caso de tineas favosas e microspóricas (a tricofítica não fluoresce). - Diagnóstico diferencial: Medalhão da pitiríase rósea, psoríase plantar ou vulgar, eczema de contato, eczema numular, alopecia areata, onicodistrofia de várias naturezas, síndrome vesicular das mãos e/ou pés, dermatite seborreica, etc. - Tratamento: ★ Tópico: solução alcóolica de iodo (1%), ácido salicílico (2%) e ácido benzoico (3%) para lesões de pele glabra, pés e unhas (tratamento tradicional); Opções mais modernas e eficazes: terbinafina tópica a 1%, derivados imidazólicos (miconazol a 2%, oxiconazol a 1%, tioconazol a 1%, isoconazol a 1%, flutrimazol a 1%) em creme, loção, spray ou pó, 1-2 aplicações diárias ; tolciclato a 1%, ciclopiroxolamina a 1%, amorolfina a 0,025%. ★ A vaselina salicilada ou ureia a 20% pode ajudar na tinea pedis com descamação. ★ Sistêmico: NÃO dispensa o tratamento tópico; É mandatório nos casos de tinea capitis, corporis extensa e onicomicoses com mais de 50% de acometimento ou quando envolve a matriz ungueal, e na tinea pedis crônica. - Griseofulvina - 10 a 20 mg/kg/dia para crianças e 1g/dia para adultos em 2 tomadas após refeições; se tinea capitis, por 30-45 dias, se corporis, 20 dias, tinea pedis, 45 dias. > Menor custo, menor toxicidade, porém menos eficaz que os novos antifúngicos, excelente para tinea capitis por Microsporum e a T. rubrum costuma apresentar resistência. - Itraconazol - 100 mg/dia OU fluconazol 150 mg/semana OU terbinafina 250 mg/dia; Se tinea corporis, 2 a 4 semanas; tenea capitis, 2 a 6 semanas. 3 - Onicomicoses - representam qualquer infecção fúngica da unha, seus princiais agentes etiológicos são: os dermatófitos e leveduras como a Cândida spp. De forma menos frequente, temos o trichosporon spp e a T. beigelii. - São raras na infância e sua incidência tende aumentar com a idade em adultos, geralmente envolve pododáctilos. - Algunsfatores predisponentes são: tinea pedis, hiperidrose, uso de chuveiros públicos, sapatos, meias sintéticas, unhas morfologicamente alteradas e com crescimento lento, diabetes, má circulação, deficiência imunológica. - São classificadas em: subungueais distais e/ou laterais, subungueais proximais, superficiais brancas, por FFND e onicomicose por Candida. Todas evoluem com distrofia total ou parcial. 3a) Dermatofitoses das unhas (tinea unguium): principal causa de alteração ungueal nos consultórios; em geral, acomete mais de uma unha dos pododáctilos. Por serem crônicas e recalcitrantes à terapia, as onicomicoses por dermatófitos representam uma fonte endógena para o acometimento de outras áreas. Os principais dermatófitos causadores são: T. rubrum (71%), T. mentagrophytes var. interdigitale (20%), E. floccosum e T. tonsurans. A apresentação clínica mais comum é a subungueal distal e/ou lateral. Estas têm início pela camada córnea do hiponíquio e do leito ungueal distal que leva a uma opacidade amarelada e ceratósica. Com a progressão da infecção para o interior da unha, esta vai se tornando cada vez mais espessada e distrófica. A apresentação superficial branca é decorrente da invasão direta da superfície dorsal da lâmina ungueal que gera uma coloração esbranquiçada bem demarcada. É geralmente causada pelo T. mentagrophytes var. interdigitale e raramente por FFND (Fusarium, Aspergillus, Acremonium, Scytalidium hialinum). Em pacientes HIV-positivos, o acometimento das unhas se dá em aproximadamente 25% dos casos. É múltiplo e mais frequentemente do tipo subungueal proximal e superficial branca (T. rubrum e raramente pelo T. megninii), sendo considerado um marcador para imunodeficiência. O acometimento inicia-se na dobra subungueal proximal que se manifesta pela opacidade esbranquiçada/bege que vai progredindo até surgir ceratose subungueal, leuconíquia e onicólise proximal. - Dermatofitoma - grande quantidade de filamentos fúngicos, esporos grandes ou ambos, em forma de “bola”, como forma de barreira física contra a imunidade do hospedeiro e a terapia medicamentosa - é a manifestação microscópica de uma infecção fúngica na unha observada pelo exame micológico direto. O dermatofitoma é uma das causas mais frequentes de falha terapêutica no tratamento das onicomicoses dos pododáctilos. O exame direto, quando positivo, revela micélios septados ramificados e artrósporos. - No diagnóstico diferencial devem ser consideradas psoríase, traumatismo e doenças genéticas das unhas. 3b) Onicomicose por fungos filamentosos não dermatófitos (FFND) - Os agentes das denominadas dermatomicoses são fungos geofílicos, filamentosos, hialinos (Scytalidium hyalinum, Scopulariopsis brevicaulis, Aspergillus spp., Fusarium spp., Penicillium spp. etc.) ou demáceos (Scytalidium dimidiatum). - Mesmo com etiologia variada, a apresentação clínica é semelhante, a não ser quando for um fungo demáceo, ou seja, de paredes escuras e que produzem lesões igualmente escuras nas unhas. - A apresentação mais característica é semelhante à distal/lateral por dermatófito, porém, muitas vezes, acompanhada de paroníquia. Alguns FFND também são capazes de causar a apresentação superficial branca. - As hifas dos FFND são mais largas e tortuosas do que as dos dermatófitos, que são mais finas e delicadas. A conjunção do aspecto clínico semelhante à dermatofitose, acompanhado de paroníquia, exame micológico direto positivo (hifas mais tortuosas e largas) e meios de cultura, possibilita que o médico faça o diagnóstico de onicomicose por um FFND. São comuns os falsos-negativos no exame direto e na cultura! - Os FFND não respondem bem à terapêutica sistêmica convencional. Em geral, são invasores secundários da queratina previamente danificada, sendo necessária a realização de uma avulsão química nos casos mais extensos, inclusive de maneira repetida, a fim de melhorar a resposta terapêutica aos antifúngicos tópicos e sistêmicos. - Nem sempre é fácil discernir entre patógenos e contaminantes, por isso devem-se seguir as regras: (1) dermatófito isolado de uma cultura deve sempre ser considerado patógeno; (2) se um fungo filamentoso não dermatófito (FFND) ou levedura crescer na cultura, deve ser considerado significativo apenas se hifas, esporos ou leveduras forem vistos ao exame microscópico; (3) a confirmação de uma infecção por FFND requer, no mínimo, três isolamentos sucessivos no meio de cultura ou 5 a 20 inoculações sem o achado de dermatófito. - Tratamento: ❏ O tempo de tratamento é de cerca de 6 meses ou mais, quando a unha a ser tratada é a dos pododáctilos. Em geral, as unhas das mãos requerem menor tempo de tratamento por terem crescimento mais rápido. ❏ Recomenda-se sempre a associação do tratamento tópico ao tratamento sistêmico. ❏ Pacientes imunodeprimidos requerem terapia mais prolongada. ❏ Se o grau de distrofia ungueal for muito importante, recomendam-se avulsão, cirúrgica ou química (preparados tópicos de ureia a 30 a 40%, uréia a 20% associada ou não a ácido salicílico a 20%) e tratamento sistêmico associado. ❏ Opções farmacológicas: - Dermatófitos: terbinafina 250 mg/dia; itraconazol em pulsoterapia (200mg 2x/dia por 7 dias/mês, por 3-9 meses) ou 100 mg/dia; fluconazol 300mg/ semana associado à avulsão química prévia; Griseofulvina 500-1000 mg/dia, tem menor custo, mas apresenta maior recidiva. - FFND: ciclopiroxolamina a 1%; ácido benzoico a 2-3%; - Infecções menos exuberantes: amorolfina a 5%, aplicada semanalmente, e ciclopiroxolamina a 8%, aplicada nas 2 primeiras semanas a cada 3 dias e, então, semanalmente, podem ser capazes de curar sozinhas as onicomicoses menos exuberantes. Antes da aplicação, recomenda-se lixar a área a ser aplicada. Tioconazol a 28% em solução, 2 vezes/dia, é também eficaz. 4- Pé de atleta (Intertrigo interpododáctilo) - Caracteriza-se clinicamente por maceração, eritema, descamação e fissura, sendo a principal porta de entrada para erisipela dos membros inferiores. - Na etiologia, são encontrados dermatófitos, Candida e bactérias, que podem agir isoladamente ou, com frequência, associados. - Em geral, o tratamento com antimicóticos tópicos é suficiente. Costuma ser recorrente. Deve-se recomendar sempre secar bem os espaços interdigitais e mesmo o uso profilático de pós-antimicóticos. 5- Candidíases - micose produzida essencialmente pela Candida albicans (70 a 80%), comprometendo, isolada ou conjuntamente, mucosas, pele e unhas e, raramente, outros órgãos. ❏ É de distribuição universal, atingindo, com muita frequência, recém-natos); pode ocorrer em adultos e idosos; certas profissões, como empregados domésticos, lavadores de pratos, cozinheiros, enfermeiros, são mais atingidos. ❏ A candidíase esofágica e a das vias respiratórias superiores são doenças definidoras da AIDS. ❏ A Candida albicans existe normalmente como saprófita no tubo gastrintestinal, na orofaringe (50%) e na mucosa vaginal (20 a 25%, e, em grávidas 30%). São fungos oportunistas que agridem o homem em determinadas condições, dentre as quais destacam-se: a gravidez, diabetes, deficiências imunológicas, endocrinopatias, tratamentoprolongado por antibióticos (alteração da flora) ou por corticoides e imunossupressores, estados de umidade prolongada (lavadeiras, fraldas dos bebês). ❏ Candidíase oral: mais comum nos recém-natos e, também, em idosos, debilitados e pacientes com AIDS; as lesões são erosivas e esbranquiçadas. ❏ Candidíase intertriginosa: atingem as dobras naturais (interdigitais, inframamárias, inguinais, axilares), é caracterizada por lesões erosivas, fissurais, úmidas, com induto esbranquiçado, pruriginoso, e também por pequenas lesões satélites arredondadas, eritematoescamosas, e, até mesmo, por pústulas abacterianas. ❏ Candidíase ungueal e periungueal: intensa lesão eritematoedematosa periungueal (paroníquia, constitui a principal causa), que é dolorosa e pode levar à onicólise, na borda proximal da unha. As unhas dos quirodáctilos, por estarem mais em contato com a água, são caracteristicamente acometidas. ❏ Perlèche (queilite angular): lesões fissuradas no canto da boca, muito comuns nas modificações da arquitetura da boca por prótese e, por isso, frequentes em pessoas idosas; tem também elevada incidência em neonatos (especula-se sobre uma contaminação vaginal); em geral, há associação bacteriana. ❏ Vaginites e balanites: lesões erosivas esbranquiçadas, úmidas e pruriginosas, na vagina e no sulco balanoprepucial (não ocorre em circuncidados), com corrimento esbranquiçado vaginal. A balanite, quando recorrente, o que é a regra, só se resolve com a postectomia. ❏ Candidíase mucocutânea crônica: um grupo heterogêneo de síndromes clínicas, muitas vezes genéticas, caracterizadas por infecção crônica e recorrente da pele, unha e orofaringe. Não existe tendência à disseminação ou ao envolvimento visceral. Em geral, inicia-se antes dos 3 anos e caracteriza-se clinicamente por lesões orais, perlèche, envolvimento ungueal e paroníquia com importante distrofia, vulvovaginite e acometimento cutâneo. Em alguns casos, observam-se lesões ceratósicas com tendência à formação de verdadeiros cornos cutâneos ou de granulomas que predominam no couro cabeludo, na face, nas sobrancelhas e nas extremidades. Os defeitos imunológicos que determinam o quadro clínico variam de efeitos específicos a quadros de falência generalizada. A associação a síndromes de endocrinopatias múltiplas é frequente. Timoma está relacionado com uma rara forma de início na idade adulta. ❏ Candidíase visceral: Pulmões, coração e outros órgãos podem ser invadidos por disseminação hematogênica, sobretudo em pessoas em uso prolongado de imunossupressores ou usuários de drogas injetáveis. ❏ Diagnóstico: No exame direto, é fundamental o achado de hifas finas ou, mais caracteristicamente, pseudohifas para confirmação diagnóstica, já que a simples presença de blastosporos (esporos arredondados) sugere apenas colonização. ❏ Tratamento: No tratamento da candidíase, devem-se considerar fatores predisponentes locais e gerais (diabetes), peculiaridades topográficas e forma clínica (superficial ou sistêmica); nesse particular, o manuseio dos casos pode ser feito empregando-se preparados tópicos antifúngicos e, também, tratamento sistêmico, se necessário, como: ❏ Paroníquia e intertrigo: fluconazol ou itraconazol oral + terapia tópica antifúngica com derivados azólicos, nistatina 100.000 UI creme, timol a 4% em clorofórmio por 2 a 3 meses para prevenir recidivas. ❏ Balanite: creme com nistatina 100.000 UI e ácido bórico a 2%; para balanites recidivantes, a postectomia está indicada. ❏ Dermatite das fraldas: cuidados gerais de higiene local e troca de fraldas, hidrocortisona a 1% associada a nistatina creme 25.000 a 100.000 UI para alívio do quadro inflamatório em caso de maceração OU imidazólicos nas trocas de fraldas. Protetores de barreira são utéis, assim como a exposição diária ao sol. ❏ Vaginite: comprimidos vaginais ou óvulos (nistatina 100.000 UI, clotrimazol 500 mg, miconazol 1.200 mg), tioconazol creme a 6,5%, itraconazol e fluconazol. ❏ Candidíase oral, estomatite, perlèche: violeta de genciana a 2% (3 a 4 vezes/dia); solução de 400.000 a 500.000 UI nistatina 3 a 4 vezes/dia ou associação das duas; fluconazol oral ou itraconazol oral. ❏ Visceral: anfotericina B, 5-fluorocitosina. ❏ Gastrintestinal: nistatina oral, cetoconazol oral. ❏ Brônquica: nistatina e pimaricina em aerossóis, cetoconazol oral, itraconazol e fluconazol. ❏ Mucocutânea crônica: itraconazol e fluconazol contínuos, pois, caso contrário, recidiva em pouco tempo.
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