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#costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 1 Resumo extraído dos Pontos da Magistratura, atualizado com base no Pedro Lenza 2017, por Diovane Franco Rodrigues, em março de 2018. Texto original elaborado por Renata Padilha Gera. Resumo atualizado em janeiro de 2007 por Gustavo Moulin Ribeiro. Atualizado por Antônio J.C. Araújo em janeiro de 2008. Alterações realizadas por gleuso outubro de 2010 – TRF1. Alteração realizada por Luzia Farias da Silva em agosto de 2012 – TRF1. Alteração realizada por Bernardo Tinoco de Lima Horta em julho de 2014. Atualizações realizadas por Diovane Franco Rodrigues em fevereiro de 2018. Sumário 1. Constituição. Conceito. Classificação. Elementos. ________________________________________________ 2 1.2. Constitucionalismo: ___________________________________________________________________ 3 1.3. Neoconstitucionalismo ________________________________________________________________ 5 1.4. O que é uma Constituição? _____________________________________________________________ 6 1.5. Concepções clássicas: jurídico, político e sociológico. _______________________________________ 7 1.5.1. Concepção Sociológica ____________________________________________________________ 8 1.5.2. Concepção Política _______________________________________________________________ 8 1.5.3. Concepção Jurídica _______________________________________________________________ 9 1.6. Concepções Modernas _______________________________________________________________ 10 1.6.1. Teoria da Força Normativa da Constituição __________________________________________ 10 1.7. Concepção após análise do papel da constituição ou sua função _____________________________ 10 1.8. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ___________________________________________________ 11 2. Poder constituinte: originário e derivado. _____________________________________________________ 14 2.1. Teoria do Poder Constituinte __________________________________________________________ 14 2.2. Natureza do Poder Constituinte ________________________________________________________ 15 2.3. Titularidade do Poder Constituinte _____________________________________________________ 16 2.4. Poder constituinte formal e material ____________________________________________________ 16 2.4.1. Poder Constituinte Originário _____________________________________________________ 16 2.4.2. Poder Constituinte Derivado ou Secundário __________________________________________ 19 2.5. Graus de Legitimidade Das Constituições ________________________________________________ 25 2.6. Fenômeno do Direito Constitucional Intertemporal ________________________________________ 26 2.7. Mutação Constitucional ______________________________________________________________ 28 2.8. Revisão Constitucional _______________________________________________________________ 29 2.9. Tratados Internacionais e a Constituição _________________________________________________ 29 3. Hermenêutica Constitucional _______________________________________________________________ 30 3.1. REFORMA E MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL _______________________________________________ 30 3.2. CARACTERÍSTICAS DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL ___________________________________ 31 3.3. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL __________________________________________ 32 3.4. Interpretativismo e não interpretativismo. _______________________________________________ 33 3.5. MÉTODOS DE HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL _________________________________________ 33 3.5.1. MÉTODO JURÍDICO (HERMENÊUTICO CLÁSSICO) ______________________________________ 33 3.5.2. MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO (MÉTODO DA TÓPICA) ______________________________ 34 3.5.3. MÉTODO CONCRETIZADOR ou MÉTODO CONCRETISTA_________________________________ 34 3.5.4. MÉTODO INTEGRATIVO OU CIENTÍFICO-ESPIRITUAL ___________________________________ 35 3.5.5. MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE _____________________________________________ 35 3.6. PRINCÍPIOS DE HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL ________________________________________ 35 3.6.1. PRINCÍPIO DA UNIDADE __________________________________________________________ 36 3.6.2. PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR ________________________________________________ 36 3.6.3. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE OU DA EFICIÊNCIA ________________________________ 36 3.6.4. PRINCÍPIO DA JUSTEZA OU DA CONFORMIDADE (exatidão ou correção) ___________________ 37 3.6.5. PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA ou DA HARMONIZAÇÃO ________________________ 37 3.6.6. PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO _________________________________ 37 3.6.7. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO ___________________________ 37 3.6.8. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE _______________________________________________ 38 3.7. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS ______________________________________________________ 38 3.8. SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES – Peter Häberle ____________________________________ 39 #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 2 3.9. MODERNAS TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL _______________________________ 39 3.9.1. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM A PRONÚNCIA DE NULIDADE _____________ 39 3.9.2. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE COM APELO AO LEGISLADOR _________________ 40 3.9.3. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO _______________________________________ 40 3.9.4. DECISÕES DE EFEITO ADITIVO _____________________________________________________ 41 4. Estrutura da Constituição __________________________________________________________________ 41 4.1. Preâmbulo _________________________________________________________________________ 41 4.2. ADCT ______________________________________________________________________________ 41 4.2.1. Classificação das disposições do ADCT ______________________________________________ 42 4.2.2. O exaurimento das normas do ADCT e o seu desvirtuamento ____________________________ 42 5. Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais ____________________________________________ 42 5.1. Eficácia jurídica e eficácia social ________________________________________________________ 42 5.2. Normas de eficácia plena. _____________________________________________________________ 42 5.3. Normas de eficácia contida ____________________________________________________________ 43 5.4. Normas de eficácia limitada ___________________________________________________________ 43 5.5. Classificação de Maria Helena Diniz _____________________________________________________ 44 5.6. Classificação de Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Brito ___________________________________ 44 5.7. Normas de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada _____________________________________ 45 5.8. Normas definidoras de direitos e garantias fundamentais___________________________________ 45 6. História Constitucional Brasileira ____________________________________________________________ 45 6.1. A Constituição de 1824: _______________________________________________________________ 45 6.2. A Constituição de 1891: A primeira a estabelecer o controle difuso de constitucionalidade das leis. 46 6.3. A Constituiçãode 1934: _______________________________________________________________ 46 6.4. Constituição de 1937: ________________________________________________________________ 47 6.5. Constituição de 1946: ________________________________________________________________ 47 6.6. Constituição de 1967: ________________________________________________________________ 49 6.7. Constituição de 1969 (Emenda n° 1 à Constituição de 1967): ________________________________ 49 6.8. Constituição de 1988: ________________________________________________________________ 49 7. Teoria Geral do Estado ____________________________________________________________________ 50 7.1. Noções Gerais ______________________________________________________________________ 50 7.2. Formas de Estado – Relação entre Poder e Território _______________________________________ 51 7.2.1. Estado Federal _________________________________________________________________ 52 7.3. Formas de Governo __________________________________________________________________ 56 7.4. Sistemas de Governo _________________________________________________________________ 58 1. Constituição. Conceito. Classificação. Elementos. DIREITO CONSTITUCIONAL: “É a ciência encarregada de estudar a Teoria das Constituições e o ordenamento positivo dos Estados.” (BULOS, 2010 p. 56). Para Pinto Ferreira é a ciência positiva da Constituição. Sempre a constituição será o centro. O direito constitucional é dividido pela doutrina em 03 grandes ramos: DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO – estuda uma determinada constituição; Direito Constitucional Positivo ou Particular: é a disciplina que tem por objeto o estudo dos princípios e normas de uma Constituição concreta em vigor de um Estado determinado. Daí falar-se em Direito Constitucional brasileiro, direito constitucional americano. DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO – estuda a comparação entre duas ou mais constituições; este é muito mais um método do que uma ciência ou disciplina propriamente dita. Seu objetivo é fazer comparações entre normas e princípios de várias Constituições. Estas confrontações podem utilizar como critério distintivo o aspecto temporal – e aí se compara a Constituição vigente com outras Constituições deste mesmo Estado que não estão mais em #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 3 vigor – ou o aspecto espacial – quando se comparam Constituições de vários Estados entre si, não necessariamente vigente. DIREITO CONSTITUCIONAL GERAL – busca identificar os conceitos e noções gerais que estão em todas as constituições. É a disciplina que traça uma série de princípios e conceitos que podem ser encontrados em várias Constituições, para classificá-los e sistematizá-los de modo unitário. Constituem objeto do direito constitucional geral: o próprio conceito de direito constitucional, seu objeto genérico, seu conteúdo, suas relações com outras disciplinas, suas fontes, a evolução do constitucionalismo, a teoria da constituição, a teoria do poder constituinte etc. 1.2. Constitucionalismo: Walber Agra afirma que “o constitucionalismo significa que as condutas sociais devem ser determinadas por normas, e o ápice da escala normativa reside nas normas constitucionais.” A doutrina costuma reportar-se a, no mínimo, quatro significados do termo constitucionalismo, compreendidos como constitucionalismo antigo, da Idade Média, moderno e contemporâneo. André Ramos Tavares (2006) sintetiza que “numa primeira acepção, emprega-se a referência ao movimento político-social com origens históricas bastante remotas, que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário. Numa segunda acepção, é identificado com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas. Tem-se utilizado, numa terceira acepção possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o constitucionalismo é reduzido à evolução histórico-constitucional de um determinado Estado”. Logo: (i) limitar o poder arbitrário; (ii) imposição de que haja cartas constitucionais escritas; (iii) indicar os propósitos da sociedade; (iv) evolução histórico-constitucional do Estado. Constitucionalismo antigo: A primeira ideia de constitucionalismo está associada às pioneiras limitações ao poder do Estado. As raízes desse “movimento constitucional” 1 são encontradas entre os hebreus, para quem as leis dos homens estariam limitadas pelos comandos divinos. Os povos hebreus, juntamente com as cidades-estados gregas formam o denominado constitucionalismo antigo. Constitucionalismo da Idade Média: A segunda vertente do constitucionalismo aparece na idade média, com o surgimento da Magna Carta do Rei João Sem-Terra, de 1215. Ainda que seja mais identificada como um Documento instituidor de privilégios, a Magna Carta de 1215 representou, sem dúvida, uma limitação do poder real, tendo importância histórica para a evolução do constitucionalismo. 1 J. J. Gomes Canotilho adverte que o mais correto seria referir-se a “movimentos constitucionais, ao invés do termo constitucionalismos. In: CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7 ed. Almedina. 2003. pag. 51. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 4 Neste aspecto, Fábio Konder Comparato (2010), menciona que, mais de reconhecer que a soberania do monarca passava a ser substancialmente limitada por franquias ou privilégios estamentais, conferidos aos barões feudais, a Magna Carta “deixa implícito pela primeira vez, na história política medieval, que o rei se achava naturalmente vinculado pelas próprias leis que edita”. O autor identifica esta primeira limitação institucional como o embrião da democracia moderna. Mas o constitucionalismo inglês não se restringiu à elaboração da Magna Carta do rei João da Inglaterra. Ao contrário, enfrentou diversas fases, entre as quais se destaca a Petition of Rights e o Bill of Rights. Jorge Miranda (2003) separa a formação evolutiva do direito constitucional britânico desta época em duas fases, a saber, “a fase dos primórdios, iniciada em 1215 com a concessão da Magna Carta (pela primeira vez, porque diversas outras vezes viria a ser dada e retirada consoante fluxos e refluxos de supremacia do poder real) e a fase de transição, aberta em princípios do século XVII pela luta entre o Rei e o Parlamento e de que são momentos culminantes a Petição de Direito (Petition of Rights) de 1628, as revoluções de 1648 e 1688 e a Declaração de Direitos (Bill of Rights) de 1689”. Constitucionalismo Moderno: O marco do constitucionalismo moderno está ligado a dois grandes acontecimentos do Séc. XVIII, símbolos da limitação do poder estatal, a saber: Constituição norte-americana, de 1787, e Revolução Francesa de 1789, e na consequente elaboração da Constituição francesa de 1791. André R. Tavares pontua que este novo modelo de constitucionalismose caracteriza “a) pela publicidade, permitindo amplo conhecimento da estrutura do poder e garantia de direitos; b) pela clareza, por ser um documento unificado, que afasta incertezas e dúvidas sobre os direitos e os limites do poder; c) pela segurança, justamente por proporcionar a clareza necessária à compreensão do poder. O constitucionalismo moderno foi fortemente influenciado pelo iluminismo, movimento cultural surgido na Europa cujos expoentes, entre os quais se destaca Locke, Hobbes, Rousseau, Montesquieu, defendiam que as crenças religiosas e o misticismo, típicos da Idade Média, deveriam ceder espaço ao racionalismo. É a própria sociedade quem deve traçar seu rumo e decidir por quem e como deve ser governada, o que era inconciliável com a moral religiosa até então sedimentada. Liberalismo, o que gera exclusão social e concentração de renda. Constitucionalismo Contemporâneo: Por sua vez, o constitucionalismo contemporâneo surgiu após o fim da 2ª Guerra Mundial, quando o mundo ocidental sentiu a necessidade de reformular o conceito de Constituição, de maneira a não mais admitir como legítima a ação estatal que fragilizasse a dignidade da pessoa humana e outros valores como a justiça a paz social, ainda que supostamente amparada na lei. A ordem é que nenhum ordenamento jurídico, por mais democrático que se intitule, possa violar os direitos fundamentais, possa desrespeitar o postulado da dignidade humana, considerado valor universal pela Declaração dos Direitos de 1948. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 5 Neste período de pós-guerra, o constitucionalismo moderno possui como características o totalitarismo constitucional, o dirigismo comunitário, o constitucionalismo globalizado, os direitos de segunda dimensão (welfare state) e os direitos de terceira dimensão (fraternidade e solidariedade). Não é por outra razão que o prof. André R. Tavares insere o constitucionalismo atual no fenômeno mais amplo da globalização, no qual qualquer ameaça à paz mundial afetará o interesse de todas as nações 1.3. Neoconstitucionalismo Daniel Sarmento registra que este conceito foi formulado sobretudo na Espanha e na Itália, mas que tem repercutido na doutrina brasileira a partir da divulgação da obra Neoconstitucionalismo, organizada pelo mexicano Miguel Carbonell, em 2003. Seus adeptos buscam embasamento em Dworkin, Alexy, Peter Härbele, Gustavo Zagrebelsky, Ferrajoli e Carlos Santiago Nino, mesmo que nenhum deles tenha se definido como neoconstitucionalista. O fenômeno ocorrido na Europa Ocidental do pós-guerra foi o panorama histórico que ensejou seu advento. Sarmento destaca que “A percepção de que as maiorias políticas podem perpetrar ou acumpliar-se com a barbárie, como ocorrera no nazismo alemão, levou as novas constituições a criarem ou fortalecerem a jurisdição constitucional. (...)” As constituições do pós-guerra são marcadas por elevado teor axiológico, caracterizadas, ainda, pela abertura e indeterminação semântica, importando em sua aplicação pelo Judiciário a partir de novas técnicas e estilos hermenêuticos. Assim, muitos dizem que moral e direito têm uma conexão necessária, cujo significado último é: “norma terrrivelmente injusta não tem validade jurídica, independentemente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento”(frase de Gustav Radbruch, citada por Sarmento). No Brasil, esse movimento só iniciou com a CF/88, eis que até então as constituições não eram vistas como autênticas normas. Neste contexto, os adeptos (Luís Roberto Barroso, Lênio Streck, Ana Paula de Barcellos etc.) e críticos (Dimitri, Humberto Ávila etc.) do neoconstitucionalismo apontam suas principais características como sendo: valorização dos princípios, adoção de métodos ou estilos mais abertos e flexíveis na hermenêutica jurídica, com destaque para a ponderação, abertura da argumentação jurídica à moral, reconhecimento e defesa da constitucionalização do Direito e do papel de destaque do Judiciário na Agenda de concretização dos valores constitucionais. Sarmento aponta as principais críticas ao neoconstitucionalismo como sendo: (a) a de que seu pendor judicialista é antidemocrático; (b) a de que sua preferência por princípios e ponderação, em detrimento de regras de subsunção, é perigosa, sobretudo no Brasil, em função de singularidades de nossa cultura; e (c) a de que ele pode gerar uma panconstitucionalização do Direito, em detrimento da autonomia pública do cidadão e da autonomia privada do indivíduo. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 6 O autor citado defende um neoconstituconalismo pensado como uma teoria constitucional que, sem descartar a importância das regras e da subsunção, abra espaço para os princípios e ponderação, tentando racionalizar o seu uso; seja visto como uma concepção que, sem desprezar o papel protagonista das instâncias democráticas na definição do Direito, reconheça e valorize a irradiação dos valores constitucionais pelo ordenamento, bem como a atuação firme do Judiciário para proteção e promoção dos direitos fundamentais e dos pressupostas da democracia; seja concebido como uma visão que conecte o Direito com exigências de justiça e moralidade crítica, sem enveredar pelas categorias metafísicas do jusnaturalismo. 1.4. O que é uma Constituição? A palavra constituição, em sentido comum, está relacionada ao conjunto de elementos que constituem, que constroem determinado objeto. Do ponto de vista jurídico, a constituição é o documento que estabelece e disciplina o conjunto de elementos essenciais ao Estado. Se o Estado vai ser constituído, será necessário tratar de seus elementos (humano – povo, físico – território e político – soberania ou governo; há doutrinadores que acrescentam um 4o. elemento que é a finalidade (Mazzuoli), que serão tratados pela CONSTITUIÇÃO. O vocábulo constituição, em seu significado de ordenamento político do Estado, existe desde os primórdios. Aristóteles distinguia as leis do Estado daquelas que estabeleciam os seus alicerces e fundamentos. Cícero e Maquiavel, igualmente, distinguiam entre normas fundamentais e demais normas. Não resta dúvida de que o termo Constituição é resultado de uma evolução histórica. Não obstante, tal como concebida hoje, a Constituição provém do racionalismo do século XVIII. Documentos elaborados anteriormente, como a Magna Carta (1215), que alguns autores afirmam terem sido formas rudimentares de leis fundamentais, não podem ser consideradas como Constituições, eis que o poder ainda não havia sido unificado nas mãos do Estado e não se poderia falar em Estado do Direito, estruturado por leis vigentes para toda a população. (Walber de Moura Agra). Surgiu, na doutrina francesa, a noção de LEIS FUNDAMENTAIS DO REINO, que seriam impostas ao próprio rei contra a suas fraquezas, protegendo-se, assim, a Coroa. Penetrou na Inglaterra, sendo usadas pelo monarca contra os parlamentares e pelosparlamentares contra os STUARTS. Essa doutrina é fonte da superioridade e intocabilidade concernentes ao poder, que se empresta às constituições escritas. No séc. XVIII, surge o PENSAMENTO ILUMINISTA. Supremacia do indivíduo. Impera a não-intervenção do Estado (LAISSEZ-FAIRE). MONTESQUIEU (ESPÍRITO DAS LEIS, marcou a ideia de separação dos poderes). São marcos fundamentais do constitucionalismo: 1787 #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 7 (Constituição dos Estados Unidos2) e 1789 (Revolução Francesa)3. Somente aqui começa a surgir a noção de constituição escrita. 4 A doutrina aponta que Abade de Sieyès foi o formulador do conceito moderno de Constituição (através da publicação do livro “O que é o Terceiro Estado?”). Destaca-se, em seu pensamento, o deslocamento de eixo de legitimidade do poder político – antes calcado em bases teocráticas – para um substrato de legitimidade alicerçado na soberania da nação. A partir do Séc. XIX, teve início o que se chamou de CONCEITO IDEAL DE CONSTITUIÇÃO (CANOTILHO): Toda nação deveria ter uma constituição que, por sua vez, deveria ter 03 elementos: Sistema de garantias da liberdade (implementado a partir da existência de direitos individuais e da participação popular no parlamento), Princípio da separação dos poderes (Montesquieu) e Forma escrita. Esses elementos irradiaram por todo o mundo, com algumas variações: constituições não escritas, estados fundamentalistas. Já no Séc. XX, surgiu a ideia da RACIONALIZAÇÃO DO PODER, já não basta a previsão dos direitos fundamentais, é preciso garantir condições mínimas para que um poder democrático possa subsistir (crise econômica, minorias raciais em conflito, agitação extremista, ausência de tradição liberal e outros). OBJETO DA CONSTITUIÇÃO: é a disciplina dos elementos constitutivos do Estado (meios de aquisição do poder, sistema de governo, forma de governo). Questão é saber se o objeto é DINÂMICO ou ESTÁTICO. É sempre dinâmico, porque a sociedade humana está sempre em evolução, sempre se modificando. 1.5. Concepções clássicas: jurídico, político e sociológico. 2 Antes disso, no navio MAYFLOWER os chefes de família firmaram o acordo COMPACT (1620). 3 Preocupou-se em romper com o absolutismo, que confundia a noção de Estado e Monarca: artigo 16. Toda a sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes NÃO TEM CONSTITUIÇÃO. 4Constitucionalismo. A) Causas: os mesmos fatores que contribuíram para o desmoronamento do sistema político medieval foram, por consequência, determinantes para o aparecimento das constituições: 1) o jusnaturalismo (obra dos contratualistas); 2) a luta contra o absolutismo; 3) o iluminismo (e seu apego à razão). B) Objetivos: 1) afirmação da supremacia do indivíduo; 2) limitação do poder; 3) racionalização do poder. C) Primeiras Constituições: Estado de Virgínia (EUA), em 1776; Constituição americana, em 1787; Constituição francesa (1791). #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 8 1.5.1. Concepção Sociológica A elaboração deste conceito é de Ferdinand Lassale, apresentado na obra “O que é uma Constituição?” (obs: não seria “A essência da Constituição?”), de 1862. Para este autor, a Constituição é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que regem um determinado Estado. Neste sentido, a Constituição não é um mero produto da razão; algo inventado pelo homem, mas sim o resultado concreto do relacionamento entre as forças sociais. A Constituição escrita é uma mera “folha de papel” e só será boa e durável se seus preceitos coincidirem com os fatores reais de poder que regem a sociedade. Características do enfoque sociológico: 1) a Constituição é vista mais como fato do que como norma, prioriza-se a perspectiva do ser e não a do dever-ser; 2) a Constituição não está sustentada numa normatividade superior transcendente (como seria o direito natural), está baseada nas práticas desenvolvidas na sociedade. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade, p. 26). Ele conceitua Fatores reais de poder como as forças reais que mandam no país. Lassale diz que está mais ligado aos anseios dos detentores de poder na realidade dos fatos do que com a forma que o poder emana do povo. São as forças que atuam na política, e legitimamente, como monarquia, banqueiros, grande burguesia. 1.5.2. Concepção Política Este conceito foi concebido por Carl Schmitt, para quem a Constituição significaria a decisão política fundamental. Para Schmitt, há diferença entre Constituição e lei constitucional. A Constituição resulta da manifestação de um poder constituinte que, por intermédio de uma decisão política fundamental, crie e organize o Estado. Assim, o conteúdo próprio da Constituição é simplesmente aquilo que diga respeito à estrutura básica do Estado, à sua conformação fundamental. A Constituição limitar-se-ia, portanto, a disciplinar a forma de Estado, a forma de governo, o Sistema de governo, o regime de governo, a organização e divisão dos poderes, o rol de direitos individuais. A constituição não se apoia em suas normas, mas na decisão política que lhe dá existência. Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA, decisão política fundamental, na nossa Constituição, seria observada apenas nos seguintes dispositivos: art. 1°> forma de Estado e forma de governo; art. 1°, § único> regime de governo; art. 2°> princípio da divisão, harmonia e independência dos poderes e base da organização do sistema presidencialista; art. 5°, 12 e 14> declaração dos direitos individuais; arts. 18 a 43 e 145 a 162> organização federal e distribuição de competências; art. 44 a 125> que tratam da organização de cada um dos 3 poderes. As leis constitucionais, por sua vez, são todas aquelas normas inscritas na Constituição mas que não têm a natureza de decisão política fundamental. Estas normas só se tornam constitucionais em virtude do documento em que estão inseridas. A matéria de que tratam poderia muito bem ser relegada à legislação ordinária. EX. art. 242, § 2° da CF/88. Sobre Schmitt: JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade, p. 26 a 29 e MICHEL TEMER, p. 18. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 9 1.5.3. Concepção Jurídica5 (KELSEN, no livro TEORIA PURA DO DIREITO6) – a constituição é norma pura é um dever ser, sem qualquer pretensão ou fundamento sociológico, filosófico ou político, é pura norma. O Kelsen dá 02 sentidos à palavra constituição: JURÍDICO-POSITIVO: direito positivo é norma escrita ou posta pelo homem (pirâmide das leis – princípioda compatibilidade vertical entre as normas inferiores e superiores). Quem escreveu muito sobre esse princípio foi o MAURICE HAURIOU. No topo da pirâmide, há uma norma suprema que impõe a compatibilidade para todas as inferiores, essa norma é a CONSTITUIÇÃO. LÓGICO-JURÍDICO: a norma inferior encontra seu fundamento de validade na norma que lhe for superior. A constituição encontra o seu fundamento de validade, NÃO NO DIREITO POSTO, mas, no plano PRESSUPOSTO LÓGICO, tendo natureza jurídica, mas, em plano pressuposto, ou seja, a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL, que é a constituição no sentido lógico-jurídico. 5 A concepção jurídica da Constituição tem em Hans Kelsen seu principal representante. Neste sentido a Constituição é vista essencialmente como norma jurídica, norma fundamental ou lei fundamental de organização do Estado e da vida jurídica de um país. – A Constituição é considerada como norma pura, puro dever-ser, completamente desligada da sociologia, da política, da filosofia ou da moral. A Teoria Pura do Direito de Kelsen visa exatamente tornar puro o objeto de estudo da ciência jurídica (as normas jurídicas) livrando-o de qualquer juízo de valor moral ou político, social ou filosófico. – Constituição em Kelsen tem dois sentidos: 1) sentido lógico-jurídico: Constituição = norma hipotética fundamental. Como Kelsen não admite que o direito se fundamente em qualquer elemento sociológico, político ou filosófico, ele teve que cogitar de uma norma fundamental, meramente hipotética, que existe apenas como pressuposto lógico da validade da própria Constituição. O teor desta norma hipotética fundamental seria mais ou menos este: “obedeça a tudo o que está na Constituição”. 2) sentido jurídico-positivo: é a Constituição positiva. É a norma positiva suprema; conjunto de normas que regulam a criação de outras normas. É a Constituição que confere a unidade ao ordenamento jurídico de um Estado. Com efeito, no ápice do ordenamento jurídico está a Constituição. – Esta é o fundamento de validade de todas as outras normas jurídicas. É da Constituição que se extrai a validade de todas as outras normas infra-constitucionais em qualquer órbita: federal, estadual ou municipal. – Consideração sobre Hans Kelsen: elogia-se a grande racionalidade e a lógica que Kelsen imprimiu à ciência do direito. A grande objeção é que seu intento de purificar o direito, livrando-o da moral, da ética, da política não pode ser de todo satisfeito. Isto porque se é correto e aceitável que todas as normas infra-constitucionais devam buscar na Constituição seu fundamento de validade; é altamente arriscado e diria até inaceitável que o fundamento de validade da própria Constituição seja simplesmente uma suposta norma hipotética fundamental. A construção teórica genial de Kelsen, se não estiver ligada a uma concepção filosófica, política, respeitadora dos direitos humanos, pode ser utilizada tanto pelos Estados mais democráticos e justos quanto pelos mais injustos e autoritários. Não se poderia aceitar, por exemplo, uma norma constitucional que estabelecesse como um dos objetivos do Estado exterminar uma parcela da população. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade; e MICHEL TEMER). 6 BONAVIDES: O formalismo de Kelsen ao fazer válido todo conteúdo constitucional, desde que devidamente observado o modus faciendi legal respectivo, fez coincidir em termos absolutos os conceitos de legalidade e legitimidade, tornando assim tacitamente legítima toda espécie de ordenamento estatal ou jurídico ... até o Estado nacional-socialista de Hitler fora Estado de Direito. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 10 1.6. Concepções Modernas Além dessas 03 concepções clássicas, existem outras concepções ou teorias, mais modernas: 1.6.1. Teoria da Força Normativa da Constituição (KONRAD HESSE7, no livro a força normativa da constituição) – é uma resposta ao Lassale. A constituição escrita NÃO necessariamente será a parte mais fraca no embate, pode ser que a constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fatores reais de poder, ela pode modificar o conjunto de forças da sociedade, modificando a sociedade; não existe interpretação constitucional desvinculada dos problemas concretos. 1.6.2. Constitucionalização Simbólica (MARCELO NEVES, no livro constitucionalização simbólica) – a utilização da norma constitucional como símbolo, o legislador constituinte quando elabora o texto, tinha a real intenção de concretizar o que escrevia ou a intenção era somente entregar um símbolo à sociedade. Há um grupo prestigiado que procura influenciar a atividade legiferante, fazendo prevalecer os seus valores contra os do grupo “adversário”. Assim, a legislação é um símbolo, de modo que a aplicabilidade não é alcançada. Há uma problemática na concretização das normas constitucionais, analisando a relação entre o texto e a realidade. 1.6.3. Constituição Aberta (PAULO BONAVIDES, CARLOS ROBERTO CIRQUEIRA CASTRO) – o objeto da constituição é sempre dinâmico. A constituição deve ser o documento dinâmico que não será enclausurado em si mesmo. As necessidades sociais vão se espalhar por outros ramos, sob pena de ficar ultrapassada e ser condenada à morte. Está repleta de conceitos abertos: casa, meio ambiente ecologicamente equilibrado. 1.7. Concepção após análise do papel da constituição ou sua função (Gustavo Zagrebelsky – IL dirito mite) CONSTITUIÇÃO-LEI: a constituição seria uma lei como qualquer outra, não estando acima do poder legislativo, mas à disposição dele. Os direitos fundamentais teriam função meramente indicativa. Tal modelo permite a supremacia do parlamento. CONSTITUIÇÃO-FUNDAMENTO/TOTAL: a constituição é tão presente que a área reservada ao legislador e à autonomia privada é muito pequena. É a lei fundamental não somente da atividade estatal, mas lei fundamental de toda a vida social. Todas as ações 7 A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição tem uma força normativa, não sendo somente uma folha de papel (LASSALLE). As questões jurídicas somente serão convertidas em questões de poder, caso não haja a satisfação de determinados pressupostos. O autor reconhece a existência de uma VONTADE DA CONSTITUIÇÃO, não só há a vontade do poder, há também a vontade da própria constituição. Deve ser reconhecida a força normativa da Constituição, sob pena de ser confundida com a Sociologia ou a Ciência Política. Não pode haver o isolamento entre a norma e a realidade, como propõe o positivismo. A constituição jurídica e a constituição real complementam-se, condicionam-se mutuamente, mas não dependem, pura e simplesmente, uma da outra. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 11 humanas seriam reguladas pela Constituição. Não somente irradiarão o ordenamento, mas elas determinarão o conteúdo deles por completo. CONSTITUIÇÃO-MOLDURA: intermediária entre as duas supra. É na verdade, umaConstituição que sirva de limite para a atividade legislativa. É uma moldura, de modo que o legislador só possa agir no interior desses limites. Tudo está predefinido pela constituição. CONSTITUIÇÃO-DÚCTIL: maleável ou suave. Necessidade de a Constituição acompanhar a perda do centro ordenador do Estado e refletir o pluralismo social, político e econômico. Ou seja: deve apenas garantir condições possibilitadoras de uma vida em comum, mas não lhe pertence realizar diretamente um projeto predeterminado da comunidade. CROWDSOURCED CONSTITUTION: participação popular por meio da internet em um processo constituinte. 1.8. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES a doutrina apresenta várias classificações distintas: QUANTO AO CONTEÚDO: podem ser MATERIAIS – “são as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais” (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso, p. 44). (Obs: as normas costumeiras não são fruto de uma decisão política fundamental, elas se formam ao longo do tempo). FORMAIS – documento escrito, estabelecido de modo solene pelo poder constituinte originário e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos. Estabelece o peculiar modo de existir do Estado. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso, p. 45). As normas constitucionais, independentemente de seu conteúdo, possuem supremacia em relação à lei ordinária. EXEMPLOS CF/88: Art. 208. § 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola. Art. 242. § 2º - O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. QUANTO À FORMA: podem ser ESCRITAS ou DOGMÁTICAS – fruto de um trabalho racional ou sistemático, aplicando- se racionalmente os dogmas da sociedade. CODIFICADA – um único texto NÃO-CODIFICADA (ESPARSA/LEGAL) – dois ou mais textos (Ex: Constituição da Suécia) #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 12 NÃO-ESCRITAS ou COSTUMEIRAS ou CONSUETUDINÁRIAS ou HISTÓRICAS – é o exemplo da Constituição Inglesa, que se baseia nos costumes e na jurisprudência, também pode ter texto escrito, especificamente no caso da constituição inglesa há texto escrito, tratam-se de textos históricos que se incorporam à constituição. QUANTO À ORIGEM DEMOCRÁTICAS ou POPULARES ou PROMULGADAS – são as elaboradas por representantes do povo, ou seja, são fruto de uma assembleia constituinte que foi criada para isso. No Brasil, são: 1891 (república velha), 1934 (democracia social), 1946 (fim da CF polaca) e 1988. OUTORGADAS ou IMPOSTAS – impostas pela força, sem participação popular. No Brasil, são: 1824 (império), 1937 (fascista), 1967 (ditadura militar) (foi aprovada pelo Congresso, mas não houve ambiente para uma discussão política e soberana, além de que o congresso não foi eleito para fazer uma constituição, ou seja, não existia outorga do poder pelo povo para a elaboração de constituição) e 1969 (ditadura militar) (há discussão se se trata até mesmo de constituição ou emenda). PACTUADAS – quando o poder constituinte NÃO está na mão do seu titular o povo. Mas quando houver a divisão entre os dois (o povo e o poder constituinte), a constituição será pactuada. CESARISTAS ou PLEBISCITÁRIAS – consulta popular depois que o texto esteja escrito, na verdade, é um referendo e não um plebiscito, que é anterior à tomada de decisão e à elaboração do texto. QUANTO À ESTABILIDADE – a constituição deve ser capaz de se adequar às novas realidades sociais. A emenda é uma alteração formal que altera o texto da constituição. Quando ao processo de elaboração da emenda podem ser classificadas em: RÍGIDAS – nessas constituições, a alteração da constituição exige um processo legislativo mais árduo, mais solene e dificultoso do que o processo de alteração de uma lei ordinária. Na CF (art. 60), dois turnos e 3/5 dos votos para uma EC, bem como as iniciativas restritas. L.O é maioria simples e único turno. LC é maioria absoluta e único turno. São pilares do direito constitucional: SUPREMACIA CONSTITUCIONAL, RIGIDEZ, CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, somente se pode falar em controle se há supremacia e rigidez. É possível reforma sobre o artigo 60, §4º (cláusulas pétreas). O STF admite tal reforma, desde que não tenda a abolir os preceitos ali resguardados e dentro de uma ideia de razoabilidade e ponderação. Foi o caso da taxação dos servidores inativos, reforma previdenciária, em homenagem ao princípio da solidariedade. FLEXÍVEIS – a lei ordinária tem a mesma natureza jurídica de emenda constitucional, não há divergência entre os procedimentos de uma e outra. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 13 SEMI-RÍGIDAS – parte é rígida e parte é flexível. EXEMPLO: constituição do império. CONSTITUICÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL (DE 25 DE MARÇO DE 1824) EM NOME DA SANTISSIMA TRINDADE. Art. 178. É SÓ CONSTITUCIONAL o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, PÓDE SER ALTERADO SEM AS FORMALIDADES REFERIDAS, pelas Legislaturas ordinarias. OBSERVAÇÃO: Constituição escrita não significa Constituição rígida. Pode haver Constituições escritas e ao mesmo tempo flexíveis. Constituição histórica não significa Constituição flexível. Em verdade, as Constituições históricas geralmente são rígidas. QUANTO À EXTENSÃO CONCISAS ou BREVES ou CURTAS ou SINTÉTICAS: preveem somente princípios e normas gerais, não vão se preocupar em definir todos os efeitos. São típicas do estado liberal. LONGA ou ANALÍTICA ou PROLIXA: a extensão é bastante ampla. São típicas do estado de bem estar social QUANTO À FINALIDADE NEGATIVAS ou GARANTIA: equivalem às concisas. DIRIGENTES ou PROGRAMÁTICAS: estabelecem programas e definem os limites e a extensão de seus direitos, equivalem às constituições longas. Principal teórico é o CANOTILHO, no livro constituição dirigente e vinculação do legislador, mas o próprio Canotilho fez um novo prefácio, afirmando que a constituição dirigente MORREU. Porque na realidade contemporânea, há outros mecanismos que são responsáveis pela programação da sociedade, a CF não é mais o único instrumento, no livro, CANOTILHO e a constituição dirigente. Existe o direito internacional e a constituição da comunidade européia. CONSTITUIÇÕES BALANÇO: De conotação socialista, oriunda principalmente da ex- União Soviética, representa um estágio no desenvolvimento das forças produtivas, porque são essas forças econômicas que moldam o arcabouço jurídico. Inspirada na teoria dos “fatores reais de poder”, de Lassale, ela deve registrar a organização estabelecida em determinadomomento histórico. Com a evolução das forças econômicas deve haver uma alteração na estrutura jurídica, de modo que a Constituição sobra reflexo da infraestrutura econômica. (AGRA). Existe ainda a CLASSIFICAÇÃO ONTOLÓGICA, que foi feita pelo KARL LOEWENSTEIN. Ele vai cotejar a constituição com o processo político: #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 14 NORMATIVA – o processo político da sociedade se ajusta à constituição, ou seja, a constituição que se impõe ao processo político; NOMINAL – tem nome de constituição, mas cede ao processo político, ela se amolda a ele; SEMÂNTICA – serve aos interesses dos detentores do poder político e não ao povo. 2. Poder constituinte: originário e derivado. É o poder que cria a norma constitucional, tornando-a exigível, cria e põe em vigor a norma constitucional (Estrutura do Estado, Divisão dos Poderes e outros). Visa a criar a Constituição, a estabelecer a estrutura do Estado. Ele se manifesta em momentos de crise (não necessariamente violenta), porque instaura uma Nova Ordem Constitucional (crises jurídica, econômica, social e política). O Poder Constituinte legitima a estrutura do Poder. Inicialmente, Sieyes pensava no Poder Constituinte tendo como titular a nação, o que foi depois evoluído para povo. A Teoria do Poder Constituinte é algo distinto do Poder Constituinte, ela veio explicar o surgimento do Poder Constituinte. 2.1. Teoria do Poder Constituinte O marco foi a Teoria de SIEYÈS, com o livro “O que é o Terceiro Estado” (A Constituinte Burguesa). A manifestação deve ser feita pelos representantes do Povo, materialização do Poder, no conceito de representatividade. Exercício da soberania popular. Distinguiu: O Poder Constituinte (poder de elaborar a estrutura do Estado e dividir os Poderes) do Poder Constituído (Poderes reconhecidos pela constituição são: o Legislativo, Executivo e Judiciário). Desde o primórdio da organização das sociedades humanas, já há algo cunhado como constituição, sendo identificado o poder constituinte. A existência do poder constituinte não coincide com o marco histórico de seu surgimento. A Revolução Francesa (fev 1789) é o marco do surgimento do poder constituinte, com a obra de SIEYÈS. Nesta obra, pela primeira vez, alguém racionalmente tratou do poder constituinte. No séc. XVIII, a França vivia uma enorme crise política, econômica, social e orçamentária. Foram convocados os ESTADOS-GERAIS. ESTADOS-GERAIS se apresentavam como a assembleia consultiva do rei. Foram criados por Felipe IV (o belo) em 1303. Eram formados por 03 classes que compunham a sociedade burguesa: #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 15 o primeiro estado (clero); o segundo estado (nobreza) e o terceiro estado (comuns, posteriormente, chamados de burguesia). Os Estados tinham a seguinte forma de deliberação: cada Estado tinha um voto, em todas as questões os votos eram mantidos unidos entre a nobreza e o clero, e a burguesia que pagava a conta sempre perdia. Assim, quando Luis XVI convoca os estados-gerais, o abade propõe que a representação em cada Estado seja proporcional à quantidade de franceses que representavam. Desta forma, ao terceiro estado caberia a maior representatividade. Ele propõe ainda que o voto fosse por cabeça e não por estado, assim, cada integrante teria um voto e não o estado todo somente com um voto exclusivo. O objetivo era acabar com os privilégios tributários da nobreza e do clero. Para justificar essa mudança, ele afirmava que o Estado está submetido a certas regras, entretanto, a nação tem o poder de modificar essas normas, por meio do seu PODER CONSTITUINTE, por meio de seus PODERES CONSTITUÍDOS (executivo, legislativo e judiciário). As leis constitucionais não podem ser independentes da vontade da nação. Quem pode mudar a constituição não é a própria assembleia (estados gerais), mas a constituinte. Mas, o abade não foi bem sucedido, porque os estados gerais não aceitaram a votação por cabeça. Daí, há a rescisão por meio de uma rebelião da assembleia do terceiro estado que se autoproclama em poder constituinte, sendo que o rei não aceita essa rebeldia, e eles afirmam que quem manda é povo. Ao longo do tempo, o abade foi reescrevendo o panfleto aprofundando-o e atualizando-o de acordo com os acontecimentos da época, até alcançar a redação final que se conhece. Conclusão: a nação era escrava da vontade do rei. 2.2. Natureza do Poder Constituinte A natureza do Poder Constituinte é jurídica ou extrajurídica? Existem duas correntes doutrinárias que procuram impor suas posições: JUSPOSITIVAS (KELSEN): o poder constituinte é um poder histórico, ele simplesmente existe, ou seja, é assim, não se funda em uma ordem jurídica superior, ele inaugura toda a normatização jurídica, ele é um fato, não deriva de outro direito superior, o poder que antecede a norma, sendo um Poder Político8. No Brasil, essa é a posição adotada. 8 Poder político (governo): em sentido amplo, pode ser entendido como uma espécie institucionalizada (organizado e permanente) de poder social: possibilidade de alguém (Estado) impor sua vontade sobre os outros e exigir o cumprimento de suas ordens (leis). É preciso ressaltar que o poder político não é exclusivo: permite a existência de outros poderes paralelos (poder econômico, poder social, poder sindical etc.) mas está acima de todos eles. PRINCIPAL CARACTERÍSTICA: capacidade de editar normas jurídicas e de fazê-las cumprir. (CELSO BASTOS, cap. II). #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 16 JUSNATURALISTAS (TOMÁS DE AQUINO): o fundamento de validade do poder constituinte está no direito natural, que é superior hierarquicamente ao poder constituinte, ou seja, ele existe por força do sistema de direito natural; os adeptos reconhecem no Poder Constituinte a natureza extrajurídica, já que o Direito não é só norma. 2.3. Titularidade do Poder Constituinte Titularidade do Poder Constituinte: Quem é o titular do Poder Constituinte? Para Sieyès, é a nação, mas hoje o titular é o povo. Nação é identidade de língua, cultura e raça. Povo é parte da nação que habita determinado território. Titular do poder constituinte é o POVO, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos da CF (artigo 1o., CF/88).9 Não é possível reunir o povo no mesmo lugar para decidir sobre as normas constitucionais, por isso, é preciso que o poder seja exercido por meio de representantes, que em nome do povo iráelaborar as normas constitucionais. Assim, os exercentes do poder constituinte são os REPRESENTANTES DO POVO. Manifestação do Poder Constituinte: Referendos constitucionais (Democracia direta): Representantes do povo (Democracia representativa) A legitimidade da ordem constitucional é o que o Poder Constituinte tenta explicar ou justificar; são espécies de poder constituinte: Poder Constituinte originário e Poder Constituinte Derivado 2.4. Poder constituinte formal e material Poder constituinte material: conjunto de forças político-sociais que vão produzir o conteúdo de uma nova Constituição, a partir da ruptura jurídico-política. Ou seja, é a ideia de direito, fruto desse conjunto de forças político-sociais. Poder Constituinte formal: é aquele que vai formalizar a ideia de direito construída por meio do Poder Constituinte Material. O Poder Constituinte Formal será o grupo encarregado de redigir a Constituição. 2.4.1. Poder Constituinte Originário Poder Constituinte Originário: Poder que cria uma nova ordem constitucional. É o capaz de fazer nascer uma nova constituição, é o poder que o povo tem de escrever uma nova constituição para conduzir os seus destinos. Tem a natureza jurídica política (pré-jurídico), não é norma é fato social, antecede a formação. Aqui é importante trazer o conceito de hiato 9 Povo é o conjunto de pessoas que têm a mesma nacionalidade, ou seja, ligação jurídica a um determinado Estado (povo é um conceito jurídico). Difere da idéia de população (conceito demográfico), que é a expressão numérica dos habitantes de um Estado (inclui os estrangeiros residentes) e difere da idéia de nação (conceito sociológico, cultural), que é o conjunto de pessoas que têm em comum fatores culturais, étnicos, históricos e/ou lingüísticos. OBS: Povo mas não nação: cidadãos da antiga Iugoslávia. Nação mas não povo: os palestinos (já que a Palestina não é um Estado) e os curdos (pode-se falar em nação curda mas não em povo curdo, já que não há um Estado Curdo). #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 17 constitucional, entendido como choque entre o conteúdo da Constituição e a realidade social, que pode ocasionar os alguns fenômenos: (i) convocação de Assembleia Nacional Constituinte; (ii) mutação constitucional; (iii) reforma constitucional; (iv) hiato autoritário (falta de legitimidade na mudança do texto constitucional) A manifestação do Poder Constituinte Originário ocorre em um momento de ruptura da sociedade, quando uma nova ordem constitucional precisa ser escrita. Essa ruptura pode ser: - revolução10, que pressupõe o uso da força, que se legitima pelas injustiças da ordem anterior, é a tomada do poder por quem não está no poder. - golpe de Estado, é a tomada de poder por quem já está em exercício de uma parcela de poder; - transição constitucional, ocorre quando uma colônia tem a sua independência preparada pelo colonizador, por exemplo: Grã-Betanha fez a CF do Canadá, África do Sul e Austrália, outro exemplo de transição foi o que ocorreu no Brasil, com a ruptura do regime ditatorial para um regime democrático, por um amadurecimento político houve o surgimento de uma nova constituição. Há uma corrente que nega que a CF/88 foi resultante de um movimento soberano, porque ela foi convocada por uma emenda constitucional da constituição anterior, assim, alguns afirmam que não foi uma verdadeira constituinte, não existindo um verdadeiro poder constituinte originário. ROBÉRIO: isso é uma besteira, não importa a forma pela qual a assembleia se reuniu, o que interessa é que de fato ela não sofreu limitação pela ordem constitucional anterior, que era totalmente irrelevante para o novo poder constituinte que se formou. Outra crítica que pode ser feita à assembleia constituinte é que seria um CONGRESSO CONSTITUINTE e não uma assembleia nacional constituinte. ROBÉRIO: há duas formas/modelo de ser feita uma constituinte: - assembleia específica para o fim de constituinte e um - congresso que simultaneamente faz o papel da assembleia constituinte; Não houve prejuízo porque no momento da eleição dos congressistas, sabia-se que eles seriam eleitos para fazer também uma nova constituição. 2.4.1.1. Característica do Poder Constituinte Originário À luz da corrente juspositivista, o poder constituinte originário é: 10 Há um direito à revolução, quando o povo esteja sendo oprimido pelas instituições jurídico- políticas. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 18 Inicial – não existe nem poder de fato e nem direito acima dele; inicia toda a normatividade jurídica. Autônomo – não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma hierarquia; só o soberano, o titular, pode dizer o seu conteúdo. Incondicionado – não se sujeita a nenhuma outra norma jurídica. Ilimitado – nenhum limite de espécie alguma, muito menos imposto pela ordem jurídica anterior. Não tem que respeitar ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido. Mas, a Constituição – para relativizar ou desconstituir os institutos do ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido – deve ser EXPRESSA, não basta a omissão, os dispositivos constitucionais devem ser claros e expressos para desconstituir essas garantias constitucionais. A nova constituição tem dois fenômenos em nome da segurança jurídica: RECEPÇÃO de toda a legislação que não a contrariam e RECEPÇÃO de todo ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido que não a contrarie. Juridicamente, NÃO há limites, mas, as relações humanas não são ditadas apenas por normas jurídicas, assim, a assembleia nacional constituinte tem limites metajurídicos (sociologia, história, cultura), que estão fora do direito, mas, presentes nas relações sociais estabelecidas e reconhecidas historicamente. JORGE MIRANDA classifica essas limitações (há outras tantas propostas) em: Ideológicas – baseadas na opinião pública, no pensamento predominante; Institucionais – ligadas a instituições arraigadas na sociedade, EXEMPLO: a família, a propriedade. Substanciais – divididas em 03 grupos: Transcendentes: valores éticos superiores, uma consciência ética coletiva, direitos fundamentais ligados à dignidade do homem, isso está fora do direito positivo. Imanentes: dizem respeito à história do Estado, EXEMPLO: a revolução acabou de derrubar a monarquia, não pode a nova ordem restabelecê-la. Heterônomas: dizem respeito ao direito internacional, nenhum Estado pode mais tentar ser isolado dos problemas do planeta, que por sinal são comuns de todos os Estados. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 19 Ainda, há o poder constituinte histórico, entendido como aquele que estrutura o estado pela primeira vez; e o revolucionário, sendo todos os posteriores ao histórico, rompendo por completo com a antiga ordem e instaurando uma nova, um novo Estado. Positivação do Poder Constituinte Originário O momento da POSITIVAÇÃO ocorre quando a nova Constituição deixa de ser um PROJETO DE CONSTITUIÇÃO e passa a ser uma nova constituição. A positivação pode ser por: OUTORGA (ato de força do poder totalitário), PROMULGAÇÃO (último ato da assembleia constituinte) ou REFERENDO (aprovação posterior pelo povo). 2.4.2. Poder Constituinte Derivado ou Secundário Para garantia de maior durabilidade de uma CF, é importante que existam possibilidades de sua atualização, para se afastar de uma ruptura. As constituições obedecem ao princípio da IMUTABILIDADE RELATIVA, ou seja, não são eternas, mas, por outro lado, não podem ser modificadas de forma contumaz. Essas modificações não podem ferir o espírito da constituição, só quem pode fazer isso é o poder originário, mediante um processo de ruptura. A constituição tem que poder mudar para servir de instrumento para a sociedade. Essas alterações podem ser: i. FORMAIS – há Estados que não diferenciam as emendas da revisão, no Brasil, não há essa nítida distinção, já que a previsão de revisão foi pontual. Emenda – será uma revisão pontual Revisão – será uma revisão total Tratados equivalentes à emenda (EC/45) ii. INFORMAIS – são as que modificam a CF sem alterar o seu texto; ocorrem por meio de: interpretação evolutiva, jurisprudência, doutrina, aplicação de conceitos jurídicos indeterminados. A isso se dá o nome de MUTAÇÃO, que a doutrina admite. Neste ponto, destaca-se o que parte da doutrina chama de “Poder Constituinte Difuso”. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL não ofende o texto da lei, a sua literalidade (artigo 5o., XI, CF), na inviolabilidade de domicílio, o conceito de casa, não corresponde a um conceito literal, se no futuro houver o entendimento no sentido de restrição do conceito de casa, não há ofensa à literalidade da constituição. MUTAÇÃO INCONSTITUCIONAL (artigo 102, § 2o., CF) – as decisões definitivas de mérito admitem efeito vinculante, mas, por meio de decisão do STF admitiu-se o efeito vinculante da decisão liminar, com nítida ofensa à literalidade da constituição; dizer que a liminar tem efeito vinculante viola-se a literalidade da CF, sem mudar o texto. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 20 As mutações informais são fruto de um “PODER CONSTITUINTE DIFUSO” (JELLINEK). 2.4.2.1. Características do Poder Constituinte Derivado Ou Secundário Pelo critério jurídico-formal, a manifestação do poder constituinte derivado decorrente mantém-se adstrita à atuação dos estados-membros para a elaboração e suas respectivas constituições, não se estendendo ao DF e aos municípios, que se organizam mediante lei orgânica. Estão mais relacionadas aos mecanismos formais: Derivado: decorre do poder constituinte originário e da constituição; Subordinado: hierarquicamente em plano inferior, ou seja, está abaixo do poder constituinte originário. Condicionado ou Limitado: só pode ser exercitado nos casos previstos pelo poder constituinte originário, que estabelece regras que determinam a contenção do seu exercício. É o poder para alterar uma ordem constitucional pré-existente; além das limitações metajurídicas terá também limitações jurídicas. 2.4.2.2. Espécies de Poder Constituinte Derivado ou Secundário Ele pode ser de duas espécies: Decorrente (Poder de estabelecer uma nova constituição em um segundo nível – Estadual). Art. 11, ADCT Reformador ou de revisão: poder de alterar a própria constituição através de Emendas Constitucionais. Há quem negue a existência do poder constituinte derivado, somente existindo o poder constituinte originário. A reforma da constituição seria um PODER CONSTITUÍDO (MIN CARLOS AYRES DE BRITO). Não é possível imaginar o poder de constituir o estado sem imaginar o correlato poder de DESCONSTITUIR o estado anterior, ou seja, o PODER DESCONSTITUINTE. Enquanto, é escrito algo novo, a ordem antiga é apagada. Somente quem tem esse poder de desconstituir o estado anterior é o poder constituinte originário. O que classicamente se chama de poder constituinte reformador não tem a força de desconstituir o Estado anterior, assim, muitos doutrinadores defendem que somente é poder constituinte o originário, que tem essa capacidade correlata de desconstituir a ordem posta. Há quem diga também que somente é poder constituinte uma única espécie de poder: PODER FUNDACIONAL, qual seja, aquele que faz a primeira constituição do Estado. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 21 2.4.2.2.1. Poder Constituinte Derivado Decorrente É com base nesse poder é que são elaboradas as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais. Há, na doutrina, quem discorde de que as leis orgânicas são expressão do poder constituinte derivado decorrente11, já que os Municípios são entidades federadas. Esse poder possui as mesmas características do poder reformador. Dentre os princípios da constituição, destaca-se o princípio da rigidez constitucional, ou seja, as constituições estaduais não podem ser revogadas por lei, somente cabe por emenda. O mesmo se aplica às Leis Orgânicas. As normas derivadas do poder decorrente podem ser: NORMAS PRÓPRIAS – são as imaginadas e discutidas pelo poder decorrente dentro de sua competência. NORMAS REPETIDAS – há correspondente na constituição. Aqui, há ainda outra divisão: Normas de repetição obrigatórias: normas centrais federais, de comando obrigatório, que alcançam os estados membros de forma obrigatória. Tais normas limitam a autonomia organizativa dos estados membros. Integram o ordenamento jurídico dos Estados-membros independente de repetição dessas normas na Constituição dos Estados-membros, cabendo ao Poder Constituinte Decorrente apenas complementar a obra do Constituinte Federal. Normas de repetição facultativas – o legislador estadual ou municipal pode repetir ou não, mas, se repetir deve obedecer à simetria. EXEMPLO: estabelecimento de medida provisória. A distinção entre norma de repetição obrigatória e facultativa desperta interesse em sede de controle de constitucionalidade de leis estaduais, pois se a norma impugnada em sede de ADI Estadual for de repetição obrigatória há a possibilidade de interposição de recurso extraordinário para o STF, visualizando-se, assim, uma espécie de transformação de controle concreto para abstrato, que é a regra em sede de ADI (à exceção de ADI interventiva, onde se constata um controle concentrado e concreto).Seleção de Jurisprudência Ao Poder Legislativo Federal ou Estadual, não está aberta a possibilidade de nova revisão constitucional, como disposto no ADCT. (ADI 1722 MC/TO). Viola a separação dos poderes a norma de Constituição que proíbe a realização de prova oral nos concurso públicos em geral, notadamente na magistratura e MP. (ADI 1080 11 Classificação doutrinária tradicional (e suponho que majoritária) reduz o poder constituinte derivado decorrente ao poder constituinte dos Estados-membros, não incluindo o poder de os municípios elaborarem suas próprias Leis Orgânicas. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 22 MC/PR, Julgamento: 29/06/1994) Autonomia do Estado membro, impossibilidade de EMENDA proibir a prova oral, separação de poderes. Na ADI 425/TO (2002) o STF assentou que os Estados-membros podem editar medidas provisórias em face do princípio da simetria, obedecidas as regras básicas do processo legislativo no âmbito da União (CF, artigo 62). 2. Constitui forma de restrição não prevista no vigente sistema constitucional pátrio (CF, § 1º do artigo 25) qualquer limitação imposta às unidades federadas para a edição de medidas provisórias. Legitimidade e facultatividade de sua adoção pelos Estados-membros, a exemplo da União Federal 2.4.2.3. Limites do Poder Constituinte Reformador Na CF/88, os limites do poder constituinte derivado reformador estão fixados no art. 60. 2.4.2.3.1. Limite temporal Esse limite consiste no estabelecimento de prazo. A Constituição Federal de 1988 não tem. A Constituição Federal de 1824 tinha. 2.4.2.3.2. Limite circunstancial A Constituição não pode ser alterada em algumas circunstâncias, sob o fundamento legitimador de que o ânimus do legislador estará alterado: estado de defesa; estado de sítio e intervenção federal (§ 1o.). Esse limite é absoluto, mas provisório. Mas, a emenda pode ser proposta, mas, se for discutir, há divergência doutrinária; agora a partir de votar não pode. A emenda pode ser até discutida. Em 2018 tivemos intervenção federal no Rio de Janeiro e, até o presente dia (20/02/2018, o STF não se manifestou sobre o procedimento a ser adotado quanto às PECs em caso de intervenção federal) Nas circunstâncias em questão, o país está em uma situação crítica, na qual, não pode ser modificada a CF, o constituinte confiou nos mecanismos que a CF tem para atravessar esse momento, inclusive a guerra. O constituinte não quer que a CF seja modificada em momento de exceção. 2.4.2.3.3. Limite Material Por força desse limite, excluem determinada matéria do Poder Constituinte derivado reformador, por ser superior no ordenamento nacional. Os limites materiais podem ser: EXPRESSOS ou IMPLÍCITOS: 2.4.2.3.4. Limite Material Expresso Limitação material expressa. PROPOSTA de emenda tendente a abolir cláusulas pétreas. Pode existir o controle de constitucionalidade contra a emenda constitucional (OTTO BACHOF). No Brasil, se afirma que não se admite a teoria da norma constitucional inconstitucional: ofensa ao direito natural; hierarquia entre as normas constitucionais; (mas, uma das situações, no Brasil, é aceita) emendas constitucionais inconstitucionais, nesse ponto o Brasil, adota a teoria de OTTO. #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 23 O limite expresso trata das cláusulas de intangibilidade ou cláusulas pétreas (art. 60, § 4º ). Não será objeto de DELIBERAÇÃO, ou seja, o processo sequer pode chegar ao final, o vício é anterior à deliberação da emenda, hipótese de controle de constitucionalidade preventivo e judicial, cabimento de MS impetrado por parlamentar (STF). O voto obrigatório NÃO é cláusula pétrea, ele existe na CF, mas, pode ser abandonado por emenda, adotando-se voto facultativo. Quanto aos direitos e garantias individuais há uma discussão sobre qual a interpretação que deve ser utilizada. Assim, dependendo da interpretação, haverá consequências distintas em relação à aplicação da limitação prevista no dispositivo. Se a INTERPRETAÇÃO for: LITERAL: ficam afastados os direitos sociais, difusos, coletivos; sendo objeto de proteção somente os direitos e garantias puramente individuais. O STF já entendeu que existem cláusulas pétreas fora do artigo 5o. TELEOLÓGICA OU SISTEMÁTICA: é uma posição mais moderna, por meio da qual, deve- se entender como objeto da proteção do artigo todos os DIREITOS FUNDAMENTAIS. A interpretação literal esbarra em uma dificuldade: não há identificação, no texto constitucional, de texto idêntico à expressão utilizada no inciso IV, do § 4o, pois em nenhum lugar fala-se de direitos individuais isoladamente. Entretanto, por meio da regra geral de hermenêutica que diz que a exceção será interpretada restritivamente. Assim, como a emenda é uma EXCEÇÃO (a regra é não emendar a CF), vai-se ampliar o inciso IV. Isto é, a regra é a manutenção da constituição, a exceção é a emenda, assim, a possibilidade de emenda deve ser restringida, por ser a exceção, assim, a vedação à emenda deve ser ampliada para restringir a emenda; essa é a posição da doutrina majoritária. O inciso IV deve ser interpretado ampliativamente, para restringir a emenda. Deve ser entendido que os DIREITOS FUNDAMENTAIS são cláusulas pétreas, sejam individuais, coletivos, difusos ou sociais. Há direitos fundamentais que são FORMALMENTE FUNDAMENTAIS, mas, não têm substância de direitos fundamentais, assim, não são cláusulas pétreas, somente os que têm substância de direito fundamental não poderão ser abolidos, sem os quais não há vida humana digna. XXIX, ARTIGO 5º, não é materialmente fundamental, é formalmente fundamental. (MIN. CARLOS VELLOSO defende essa posição em um artigo). Fazendo interpretação sistemática e teleológica, o STF entendeu que medida provisória pode tratar de matéria penal, desde que seja para beneficiar o réu. (RE 254818/PR, julgado em 08/11/2000) #costurandoatoga Direito Constitucional Apostila 01 Introdução ao Direito Constitucional. Atualizado em 12/03/2018 _____________________________________________________________________________ Acesse nosso site e confira todos os nossos materiais gratuitos! www.diovanefranco.com Instagram: @diovanefranco E-mail: contato@diovanefranco.com 24 2.4.2.3.5. Limite Implícito Redução de cláusula pétrea e a titularidade do Poder Constituinte Originário (não pode existir emenda que restrinja a titularidade do poder constituinte originário); emenda modificando o exercente do poder reformador; as limitações metajurídicas; modificação do processo de emendas futuras, facilitando ou dificultando (há quem diga que pode dificultar) os processos de emenda, se permitir que dificulte, o reformador está limitando a si próprio o que não é possível juridicamente. Pode haver uma nova revisão constitucional como foi em 1993? Está relacionado com
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