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A história do Direito no Brasil Império: A construção de uma cultura jurídica nacional sob a influência do liberalismo 1. O reconhecimento da independência O reconhecimento da independência • Guerras de independência • A mediação britânica: empréstimo de 2 milhões de libras esterlinas para pagamento de indenização • Renovação dos Tratados de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação (em 1826) • A tarefa de construir um quadro legal e institucional 2. A fundação dos primeiros cursos jurídicos nacionais • Era necessário formar uma nova elite político- burocrática nacional responsável pela administração do país. • O direito a serviço do Estado oligárquico e não da sociedade: prioridade para a formação de burocratas políticos e não de advogados A fundação dos primeiros cursos jurídicos nacionais • Faculdades como centro irradiadores do liberalismo • Principais escolas jurídicas do Império: Escola do Recife e Faculdade de Direito de São Paulo 3. A Assembleia Constituinte de 1823 • Prorrogação da vigência das Ordenações Filipinas na parte civil e penal até a aprovação dos Códigos Criminal (1830), Processo Criminal (1832) e Civil (1916!). • O imperador jura defender a futura constituição “se fosse digna do Brasil e dele próprio”. A Assembleia Constituinte de 1823 • A postura liberal moderada dos constituintes: a defesa do modelo da monarquia constitucional que garantisse os direitos individuais e limitasse o poder no monarca. • Polêmicas entre o Imperador e a Constituinte: o poder de veto e da dissolução da câmara dos deputados. 4. A Constituição de 1824: a outorgada • Disputas e tensões culminam com a dissolução da constituinte • A outorgada: uma invenção autoritária “de cima para baixo” • O liberalismo à brasileira: escravos não são “iguais”. • Governo hereditário, monárquico, representativo (elitista) e constitucional A Constituição de 1824: a outorgada • Existência de uma nobreza, não aristocracia (os títulos não eram hereditários). • Catolicismo como religião oficial, sendo permitido o culto privado de outras crenças • Garantias individuais: igualdade jurídica, liberdade de religião, liberdade de pensamento e imprensa. • Estado centralista e unitário A Constituição de 1824: a outorgada • Divisão do país em províncias com presidentes nomeados pelo imperador • Padroado régio continua • Direito inviolável à propriedade • A condição de livre ou liberto definia a cidadania. • A oposição dos liberais radicais: a soberania é do povo, em defesa da autonomia provincial Críticas dos liberais à outorgada • O imperador com poderes de sem ouvir a assembléia ceder ou trocar territórios • O caráter centralizador que retirava das províncias poderes de legislar sobre seu interesse • O poder moderador como instrumento de opressão da vontade nacional • O caráter vitalício do senado: um instrumento das vontades do Imperador Críticas dos liberais à outorgada • Centralismo ou federalismo? • Onde reside a soberania política? • Quais os critérios para a representação política? Voto indireto e censitário: • Cidadãos passivos: homens, livres e escravos libertos, idade superior à 25 anos, renda anual mínima de 100 mil-reis. Elegiam o colégio eleitoral provincial. • Cidadãos ativos no colégio eleitoral provincial: homens, livres, idade superior à 25 anos, renda anual mínima de 200 mil-reis. Elegiam os postulantes. ELEITORES • Cidadãos ativos candidatos: homens, livres, católicos, idade superior à 25 anos, renda anual mínima de 400 mil-reis. A divisão dos poderes • Legislativo: Senado (nomeado pelo imperador e vitalício) e Câmara (eletiva e temporária) • Executivo: Imperador, ministros nomeados e presidentes de províncias • Judiciário: Tribunais e magistrados escolhidos pelo Imperador • Moderador: Imperador com garantias “absolutistas” para garantir a “independência” e o “equilíbrio” entre os poderes. • A presença do “Conselho de Estado” • A confusão entre os poderes executivo e moderador. O poder moderador • O imperador como chefe supremo e Primeiro Representante da Nação • Interferência no legislativo: nomeando senadores, sancionando ou vetando leis, dissolvendo a Câmara • Interferência no Judiciário: nomeando ou suspendendo juízes • Interferência no executivo: o Imperador definia o Gabinete de ministros 5. Código Criminal (1830) • Inviolabilidade dos direitos civis, igualdade jurídica em uma sociedade escravista • Do castigo exemplar para a pena moderna: respeito à integridade física Crimes segundo o código criminal (1830) • Públicos: crimes contra o império, contra a tranquilidade interna do império, contra a administração, o tesouro e a propriedade pública • Privados: contra a liberdade e a segurança individual, contra a propriedade particular • Policiais: contra as normas policiais e regras públicas (posturas municipais) Código Criminal (1830) : penas • proporcionalidade entre o crime e a pena, • a pena exclusiva do condenado, • humanização da pena de morte, • proibição das penas cruéis • Persistência das penas de degredo, banimento, galés, multas, privação dos direitos políticos, desterro (exílio) 6.Código do Processo Criminal (1832) • Habeas corpus • Conselho de jurados (tribunal do juri – formado por eleitores homens, livres, idade superior à 25 anos, renda anual mínima de 200 mil-reis): patriarcalismo • Adoção do sistema acusatório: o direito ao contraditório Sociedade desigual, direito penal desigual • Permanência do castigo exemplar para os escravos: açoites • Omissão dos direitos do índios e escravos: direito etnocêntrico • Escravos aparecem apenas na lei penal onde desaparece a pena de morte (proteção da propriedade do senhor e não direito do apenado. Sociedade desigual, direito penal desigual • Tolerância para o crimes justificados pela “defesa da própria pessoa ou de seus direitos” (liberdade, honra, vida e propriedade): vingança, assassinato da esposa adúltera 7. Estrutura do Judiciário no Império7. Estrutura do Judiciário no Império A estrutura do judiciário no Império • Juiz de Direito: nomeado pelo Imperador, atua na comarca e preside o conselho de jurados, são vitalícios e letrados • Juiz municipal: nomeado pelo Presidente de província por três anos, cuidavam da execução das sentenças e controle sobre o cumprimento das leis do município. Nem sempre eram letrados A estrutura do judiciário no Império • Juiz de Paz: eleitos anualmente pelas câmaras municipais, possuíam funções de polícia, investigativa e de jurisdição no processo sumário. Recebiam as queixas e denúncias. • Os promotores: nomeados pelo Presidente de Província entre os que poderiam ser jurados A estrutura do judiciário no Império • Conselhos de jurados: aceitavam ou não denúncias e queixas e sentenciavam A estrutura do judiciário no Império • Estrutura que favorecia a descentralização da justiça • Fortalecimento dos Juízes de Paz, possuíam a jurisdição policial, e recebiam as denúncias e as aceitavam em função de compromissos políticos locais (oposição ou situação) A estrutura do judiciário no Império • Reformas centralizadora e policilizante em 1841: A criação da “chefia de polícia” a ser ocupada por um juiz de Direito escolhidos pelo imperador Esvaziamento do poder dos juízes de paz A estrutura do judiciário no Império • O Supremo Tribunal Federal: julgava o recurso de revista, ou seja, se no julgamento da Relação houve erros processuais que anulam a decisão, ou injustiça notória. • Se a revista for aceita o processo retorna ao Tribunal da Relação • Tensões entre o poder local e o poder imperial 8. O código comercial de 1850 • Dinamizar a atividade comercial e bancária do Império • Direitos econômicos, do comércio e da produção de riquezas O código comercial de 1850 • O comerciante, praças de comércio, auxiliares do comércio, banqueiros, contratos, penhora, juros, hipoteca, sociedadeslimitadas, sociedades anônimas (controle do Estado da especulação) • A criação da Pessoa Jurídica independente dos funcionários e sócios, com responsabilidades e patrimônio. Regulamento 737 • O processo comercial: processo, execução e recursos cabíveis 9. A falta do código civil no império • O código comercial substituiu o civil nas questões econômicas • Desobrigação da garantia dos direitos civis em uma sociedade escravocrata • A falta de um código que assegurasse a estabilidade da vida privada e do direito à propriedade em relação às mudanças institucionais futuras 10.Magistrados e judiciário no Império • Funções: 1. Interpretar e aplicar a legalidade estatal, 2. Garantir a segurança do sistema 3. Resolver conflitos de interesse Magistrados e judiciário no Império • Uma nova magistratura: Coimbrão elitista e arrogante defensor da metrópole na colônia Magistrado como espinha dorsal do governo e com envolvimento profundo na política imperial A atuação do magistrado no Império • Agentes da centralização política e da manutenção da unidade territorial • Agentes da padronização do funcionamento do poder público • Possuíam unidade de valores • Compromissos políticos impediram a independência O magistrado no império • Instrumento de exercício do poder político local e dos interesses partidários imediatos: • Corrupção, nepotismo, impunidade • Dependência do partido da situação: legitimavam fraudes eleitorais • Cargo como recompensa a aliados políticos e parentes O magistrado no império • Identificação e dependência do poder político local: as ameaças de suspensão, remoções, promoções e aposentadoria • Entre o dever (lei) e as conveniências políticas • A permanência do patrimonialismo, dos critérios de pessoalidade, amizade, parentesco, retribuição, parentesco 11. O advogado no império Magistrados: a ordem oficial e os preceitos legais Advogados: representantes dos interesses individuais e coletivos e porta-voz da oposição ou da situação. Porém, ambos representavam os interesses das elites rurais escravocratas O bacharelismo no Império • O advogado bacharel como carreira política e como vocação literária e jornalística. • Utilizavam-se de um discurso retórico e ornamental para a justificativa da forma contemporânea da sociedade imperial. • Os bacharéis como defensores dos direitos individuais dos sujeitos habilitados à cidadania sem prejuízo do direito à propriedade privada 12. Uma cultura jurídica sob a “influência” do liberalismo europeu • Nova concepção de mundo de orientação individualista: o indivíduo contra o Estado • Ideário crítico do Antigo Regime • Liberdade comercial, de pensamento, e de imprensa • Fraternidade, garantias individuais, tolerância e dignidade humana 13. Liberalismo à brasileira • O liberalismo convive com uma estrutura político-administrativa patrimonialista, conservadora e com uma dominação econômica escravista das elites agrárias • Diversidade na leitura do liberalismo nas diversas regiões brasileiras: vitória do liberalismo moderado e conservador sobre o radical e democrático Liberalismo à brasileira • Ideário que justificava o rompimento com os vínculos coloniais • Sua adoção representava a adequação do novo país ao ideário ilustrado europeu. Liberalismo à brasileira • Suporte à reconfiguração política do país independente de acordo com os interesses das oligarquias rurais • Aplicação de formas pseudo-democráticas ao conteúdo conservador e autoritário Liberalismo à brasileira • Conciliação do liberalismo com a escravidão: fórmulas representativas, defesa da soberania popular, garantias individuais conviviam com a escravatura e a restrição na participação política para a maioria da população. O imaginário do bacharel no império • Um imaginário afastado de uma legalidade produzida pela população • Talentosos reprodutores de uma legalidade estreita, fechada e artificial. • Atuação conservadora comprometida com a justificação da exclusão de significativos setores da sociedade e a manutenção da ordem vigente. 14. Leis importantes do Império: leis abolicionistas • Contra o conceito do escravo enquanto “coisa” ou mercadoria sujeita aos direitos econômicos e ao usufruto do senhor • A favor da alforria: o que não significava o rompimento definitivo com a dependência em relação ao senhor • Contra a escravidão herdada através da mãe • Contra a comercialização dos capturados na África Leis importantes do Império: leis abolicionistas • Tratado de 1810: D. João VI se compromete com a Inglaterra para abolir o tráfico negreiro nos territórios portugueses • Tratado de 1815: renovação da obrigação • Convenção de 1817: o direito de visita e busca de navios suspeitos. Julgamento feito por portugueses e ingleses • O reconhecimento da independência: obrigação de extinção do tráfico após três anos. Leis abolicionistas avançam com as pressões inglesas • Lei de 7 de novembro de 1831: extinção do tráfico “para inglês ver”. • Parlamento britânico aprova a Lei Bill Aberden: o direito da marinha inglesa aprisionar navios negreiros • A lei Eusébio de Queiroz: a extinção do tráfico externo. Permanece a escravidão e o tráfico interprovincial. Senhores se livram das dívidas para com os grandes traficantes. • Decreto de 6 de novembro de 1866: alforria para os escravos soldados na guerra do Paraguai A lei do ventre livre • Aprovação da Lei do Ventre livre em 28 de setembro de 1871 • Os limites da liberdade A lei do ventre livre: Nº 2040 de 28.09.1871 • Art. 1.º - Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados de condição livre. • E as entrelinhas? A lei do ventre livre: Nº 2040 de 28.09.1871 • Art. 1.º - § 1.º - Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso, o Govêrno receberá o menor e lhe dará destino,em conformidade da presente lei. A lei do ventre livre: Nº 2040 de 28.09.1871 • Art. 2.º - O govêrno poderá entregar a associações, por êle autorizadas, os filhos das escravas, nascidos desde a data desta lei, que sejam cedidos ou abandonados pelos senhores delas, ou tirados do poder dêstes em virtude do Art. 1.º- § 6º. § 1.º - As ditas associações terão direito aos serviços gratuitos dos menores até a idade de 21 anos completos, e poderão alugar êsses serviços [...] A lei do ventre livre: Nº 2040 de 28.09.1871 • Art. 4.º - É permitido ao escravo a formação de um pecúlio com o que lhe provier de doações, legados e heranças, e com o que, por consentimento do senhor, obtiver do seu trabalho e economias. O govêrno providenciará nos regulamentos sôbre a colocação e segurança do mesmo pecúlio. [...] § 7.º - Em qualquer caso de alienação ou transmissão de escravos, é proibido, sob pena de nulidade, separar os cônjuges e os filhos menores de doze anos do pai ou da mãe. Lei dos sexagenários: 28.09.1885 • Artigo 3º. • §10. São libertos os escravos de 60 anos de idade, completos antes e depois da data em que entrar em execução esta lei, ficando, porém, obrigados a título de indenização pela sua alforria, a prestar serviços a seus ex-senhores pelo espaço de três anos. Lei dos sexagenários • §12. É permitida a remissão dos mesmos serviços, mediante o valor não excedente à metade do valor arbitrado para os escravos da classe de 55 a 60 anos de idade. Lei dos sexagenários • §13. Todos os libertos maiores de 60 anos, preenchido o tempo de serviço de que trata o §10º, continuarão em companhia de seus ex- senhores, que serão obrigados a alimentá-los, vesti-los, e tratá-los em suas moléstias,usufruindo os serviços compatíveis com as forças deles, salvo se preferirem obter em outra parte os meios de subsistência, e os Juizes de Órfãos os julgarem capazes de o fazer. Lei dos sexagenários • §14. É domicílio obrigado por tempo de cinco anos, contados da data da libertação do liberto pelo fundo de emancipação, o município onde tiver sido alforriado, exceto o das capitais. • §15. O que se ausentar de seu domicílio será considerado vagabundo e apreendido pela polícia para ser empregado em trabalhos públicos ou colônias agrícolas. A Lei Áurea • Contexto de fugas, rebeliões escravas, abondono das fazendas e intensas atividades abolicionistas A Lei Áurea • A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte: • Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. • Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário. Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. 14. Lei de Terras - 1850 • No Brasil, a Lei de Terras (lei nº 601 de 18 de setembro de 1850. • Trata-se de legislação específica para a questão fundiária. Esta lei estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias. Lei de Terras - 1850 • Definiu que: as terras ainda não ocupadas passavam a ser propriedade do Estado e só poderiam ser adquiridas através da compra nos leilões mediante pagamento à vista, e não mais através de posse, e quanto às terras já ocupadas, estas podiam ser regularizadas como propriedade privada. • inibição da propriedade da terra através de apropriação pela posse
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