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A CREDIBILIDADE DO DEPOIMENTO INFANTIL EM CASOS DE SUSPEITA DE ABUSO SEXUAL

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CLAUDIMARA ALVES DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS PUBLICADAS NA LITERATURA 
BRASILEIRA EM RELAÇÃO Á CREDIBILIDADE DO 
DEPOIMENTO INFANTIL EM CASOS DE SUSPEITA DE 
ABUSO SEXUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rondonópolis 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS PUBLICADAS NA LITERATURA 
BRASILEIRA EM RELAÇÃO À CREDIBILIDADE DO 
DEPOIMENTO INFANTIL EM CASOS DE SUSPEITA DE 
ABUSO SEXUAL 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdades de Ciências Sociais e Humanas 
Sobral Pinto – FAIESP unidade UNIC 
Rondonópolis curso de Psicologia, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Bacharel em Psicologia. 
Orientador: Marildes Ferreira 
 
 
 
CLAUDIMARA ALVES DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLAUDIMARA ALVES DE JESUS 
 
 
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS PUBLICADAS NA LITERATURA 
BRASILEIRA EM RELAÇÃO Á CREDIBILIDADE DO DEPOIMENTO 
INFANTIL EM CASOS DE SUSPEITA DE ABUSO SEXUAL 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdades de Ciências Sociais e Humanas 
Sobral Pinto – FAIESP unidade UNIC 
Rondonópolis curso de Psicologia como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Bacharel em Psicologia. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Rondonópolis, 09 de Dezembro de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à todas crianças 
silenciadas e desacreditadas vide Tabu 
social e ignomínia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Não, não será com métrica; nem com rima. 
Uma coisa sem nome violentou uma menina. 
Ação barata; sem a prata do pensamento 
o ouro do sentimento; o dia da empatia. Noite! 
Uma coisa. Não era o lobo; nem o ogro, nem a bruxa, 
era a fúria do real; sem o carinho do símbolo. 
Stop! A poesia parou. Ou foi a humanidade?” 
(Celso Gutfreind) 
JESUS, Claudimara Alves. Evidências Científicas Publicadas na literatura 
brasileira em relação á Credibilidade do Depoimento Infantil em casos de 
suspeita de Abuso Sexual. 2019. 31 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de 
Graduação em Psicologia– UNIC, Rondonópolis, 2019. 
 
RESUMO 
 
Para o sistema de justiça brasileiro, priorizar a detecção e fomentar a denúncia de 
casos de abuso sexual infantil aumenta a perspectiva de punição dos agressores por 
meio de processados e reclusão social, agindo portanto, de modo a garantir a 
segurança física da vítima e afirmação de seus direitos enquanto cidadão e pessoa 
humana através de seu afastamento do convívio com o algoz. Entretanto, diversas 
dúvidas, estereótipos e tabus circundam o depoimento infantil. Nesse enredo o 
presente trabalho possui como tema as Evidências Científicas Publicadas na literatura 
brasileira em relação á Credibilidade do Depoimento Infantil em casos de suspeita de 
Abuso Sexual, tendo por objetivo identificar as premissas e parâmetros que possam 
nortear avaliação da oitiva infante; analisar os aspectos que podem influir na tomada 
de decisão quanto a fidedignidade ou não do depoimento infantil em âmbito jurídico 
sob suspeita de abuso; compreender a importância do Depoimento Especial (D.E.) no 
processo judicial. Os principais resultados observados no decorrer do trabalho 
apontam como critérios de validação a coerência do relato, a consistência e 
plausibilidade do discurso, assim como a observação do comportamento não verbal e 
as respostas emocionais ou sofrimentos psíquicos manifestos ou latentes no mesmo. 
Destaca-se a escassez de bibliografias nacionais voltadas a temática. 
 
Palavras-chave: Depoimento Infantil; Depoimento Especial; Abuso sexual Infantil; 
Credibilidade do Depoimento Infantil. 
JESUS, Claudimara Alves. Scientific Evidence Published in the Brazilian literature 
regarding the Credibility of Child Testimonials in Cases of Suspected Sexual 
Abuse. 2019. 31 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em 
Psicologia– UNIC, Rondonópolis, 2019. 
ABSTRACT 
 
For the Brazilian justice system, prioritizing detection and encouraging reporting of 
child sexual abuse cases increases the prospect of punishing perpetrators through 
prosecution and social imprisonment, thereby acting to ensure the physical safety of 
the victim and the assertion of their rights as citizens and human beings through their 
distancing from living with the tormentor. However, several doubts, stereotypes and 
taboos surround the testimony of children. In this plot the present work has as its theme 
the Scientific Evidence Published in the Brazilian literature regarding the Credibility of 
the Child Testimony in cases of suspected Sexual Abuse, aiming to identify the 
premises and parameters that may guide the assessment of the infant infant; to 
analyze the aspects that may influence the decision making as to the trustworthiness 
or not of the child legal testimony under suspicion of abuse; understand the importance 
of the Special Statement (D.E.) in the judicial process. The main results observed 
throughout the study point out as validation criteria the coherence of the report, the 
consistency and plausibility of the speech, as well as the observation of nonverbal 
behavior and the emotional responses or manifested or latent psychological suffering 
in it. The shortage of national bibliographies focused on the theme stands out. 
 
Key-words: Children's testimony; Special Testimony; Child sexual abuse; Credibility 
of Child Testimonial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10 
2. PRESMISSAS E PARÂMETROS QUE PODEM NORTEAR A ANÁLISE DO 
DEPOIMENTO INFANTIL (DI) .................................................................................. 12 
3. ASPECTOS QUE PODEM INFLUIR TOMADA DE DECISÃO QUANTO A 
FIDEDIGNIDADE DO DEPOIMENTO INFANTIL (DI) .............................................. 18 
4. COMPREENDENDO A IMPORTÂNCIA DO DEPOIMENTO ESPECIAL (DE) 23 
4.1 A IMPORTÂNCIA DO PSICOLOGO NO DEPOIMENTO ESPECIAL (D.E.) ...... 26 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 29 
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 31 
 
 
10 
1. INTRODUÇÃO 
 
A violência sexual é um fenômeno multicausal de ampla complexidade e lidar 
a temática compreende um trabalho de natureza multidisciplinar exigindo o diálogo 
entre diversas áreas do conhecimento cientifico. A investigação das denúncias de 
abuso sexual infantil é um processo complexo, porém de extrema importância para a 
proteção dos direitos fundamentais infantojuvenil. Mas para que tais medidas sem 
adotadas, realiza-se um longo e escrupuloso processo de averiguação das denúncias, 
haja vista que, crimes sexuais frequente são marcados pela ausência de provas 
factuais tornando o relato da possível vítima o principal meio de investigação dos fatos. 
Contudo, a baixa credibilidade atribuída ao depoimento infantil tem se mostrado 
um agravante não só dentro do âmbito familiar, como também no sistema legal, devido 
à crença popular de que crianças mentem ou é vista como de menor confiança. Em 
meio às incertezas e dubiedades que assolam o de depoimento infantil, ressalta-se a 
falta de parâmetros específicos para fomentar a credibilidade do relato da vítima ou 
munir os jurados com informação que possam auxilia-los em sua tomada de decisão 
quando ao relato, neste ensejo peritos psicólogos são comumente chamados a 
contribuir nas averiguações. 
O presente trabalho surge a partir da necessidade de se elucidar os aspectos 
e parâmetros avaliados durante a análise da credibilidade do depoimento infantil no 
âmbito jurídico em casos com suspeita de abusosexual, justificando-se pela escassez 
de pesquisas especificas sobre a temática em detrimento a crescente demanda do 
dilema. 
Neste enredo, delimitou-se o tema de pesquisa visando responder a seguinte 
questão problema: Quais as evidências científicas publicadas em bases eletrônicas 
nacionais que norteiam os critérios de validação e credibilidade do depoimento infantil 
em casos de suspeita de abuso sexual? 
Fundamentado pela seguinte pergunta, o presente trabalho circunscreve com 
o objetivo de realizar uma revisão sistemática da literatura brasileira disponível em 
bases eletrônicas gratuitas referente aos critérios de validação da credibilidade do 
depoimento infantil em casos com suspeita de abuso sexual traçando assim, como 
metas mais especificas: identificar premissas e parâmetros que possam nortear 
avaliação da oitiva infante; analisar os aspectos que podem influir na tomada de 
 
 
11 
decisão quanto a fidedignidade ou não do depoimento infantil em âmbito jurídico sob 
suspeita de abuso e por fim, compreender a importância do Depoimento Especial 
(D.E.) no processo judicial. 
O estudo constitui uma revisão sistemática na literatura brasileira disponível em 
bases eletrônicas sobre o problema em questão visando perscrutar estudos originais, 
disponíveis, em português, sem limite de tempo. Não foram utilizados livros, 
periódicos e monografias. Os procedimentos de coleta de dados ocorreram através 
das bases de dados eletrônicas: BVS; Google acadêmico; Scielo; CAPES e LILACS 
utilizando o seguinte descritor: abuso sexual e as seguintes palavras-chave: 
credibilidade; depoimento, criança e violência sexual em consonância com o booleano 
And. Durante a busca inclui-se nas bases BVS e Google Acadêmico o filtro Idioma-
Português. Após a investigação realizou-se uma análise e seleção de dados de acordo 
com sua relevância e congruência com tema da presente pesquisa. Os resultados 
foram apresentados através de texto expositivo argumentativo em três capítulos que 
discorrem sobre os resultados encontrados quanto a cada objetivo específico. 
 
 
 
12 
2. PRESMISSAS E PARÂMETROS QUE PODEM NORTEAR A ANÁLISE DO 
DEPOIMENTO INFANTIL (DI) 
 
Com a ressignificação do olhar sobre criança emergente na sociedade pós 
moderna, o infante tem conquistado parcial autonomia e voz de direito nos processos 
de decisões quanto a aspectos fundamentais de sua vida. Uma vez que estes passam 
a ser assentidos como sujeitos de direito na condição de pessoa humana e 
constatando-se que, o núcleo familiar primário pode, por vezes, não ser capaz de 
assegurar a integridade física e psicoemocional dos mesmo, a criança poderá, em 
situações adversas, ter voz ativa perante o estado. (ELOY, C. B. 2007). 
 Neste enredo, a inquirição infantil tem se tornado um recurso frequente no 
sistema judiciário brasileiro, tendo sua execução organizada e regulamentada pela Lei 
13.431 de 4 de Abril de 2017. Entretanto, enfrenta-se ainda a depreciação da oitiva 
infantil há cerca de situações de violência e vulnerabilidade, sobretudo quando este 
discurso lança dúvidas quanto à conduta de um adulto como acontece nos casos em 
que há suspeita de abuso sexual. (BRASIL, 2017). 
Conforme salientam Pelisoli e Dell’aglio (2011), os casos com suspeita de 
abuso sexual são transpassados por dúvidas e incertezas, uma vez que geralmente 
apresentam histórias complexas e dinâmicas difíceis, e mostram-se comumente 
acompanhados da ausência de provas factuais ou testemunhas oculares dificultando 
um diagnóstico mais preciso da situação. 
Desmistificar a dubiez que permeia oitiva infantil consiste em perscrutar a linha 
tênue entre a verdade factual, a alienação e a verdade subjetiva. Entretanto, é possível 
orientar-se pela presença ou não de aspectos e parâmetros que possam nortear a 
análise destes depoimentos de modo a auxiliar os processos de tomada de decisões. 
As premissas que possibilitam identificar e distinguir estes marcadores no discurso 
infantil podem, por vezes, serem difusas e ambíguas considerando o fato de não haver 
uma linguagem universal ou mesmo um padrão de sintomas especifico para vítimas 
de abuso sexual. (ELOY, C. B. 2007). 
Dentre as muitas adversidades nesta distinção sobressai-se a complexidade 
de se legitimar os sinais e sintomas identificados como decorrentes de uma situação 
de abuso e não de outras violações de direitos ou vulnerabilidades possivelmente 
experienciadas pela criança, haja vista que, os indicadores frequentes como 
 
 
13 
retraimento, comportamento exibicionista, condutas herotisadas em relação à faixa 
etérea ou aversão a aproximações pessoais, bem como irritabilidade, medo, enurese, 
distúrbios de sono e alimentares, dificuldades escolares dentre outros podem englobar 
o quadro sintomatológico de uma gama de outras síndromes, situações e transtornos 
que não necessariamente tem relação com o abuso sexual de tal forma que, estes 
marcadores tornam-se insuficientes respaldar o discurso da criança. (PELISOLI; 
DELL’AGLIO, 2011). 
Uma vez ressaltados estes percalços, Pelisoli e Dell’aglio (2011) corroboram 
dizendo que muitas vítimas não apresentam sintomas específicos e que indicadores 
isolados de abuso são raramente definitivos, sendo necessária a investigação de 
diversos sinais antes de chegar a um veredito. Com esta premissa, as autoras 
apontam que a coerência do relato da vítima é especialmente observada durante a 
inquirição salientando que, observados os princípios de consistência e plausibilidade, 
bem como os possíveis sintomas apresentados no histórico e contexto familiar da 
criança, estes podem contribuir amplamente para fundamentar suas decisões (não 
judiciais). 
Ao introduzirmos o conceito de coerência e plausibilidade como parâmetros 
avaliativos capazes de fomentar ou denegrir a credibilidade da oitiva infante é 
necessário compreender que a consistência é entendida como uma propagação na 
qual a história se apresenta sólida, livre de contradições enquanto a plausibilidade 
avalia por meio de comparações as sequências dos eventos narrados devendo 
atentar-se para os aspectos pertinentes a maturidade psicológica e as características 
da fase do desenvolvimento no qual a criança se encontra. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 
2011). 
Nestes casos judiciais, embora não devidamente valorizada, a palavra da 
criança tem uma real importância, visto que, em sua vivência infantil, utiliza 
uma linguagem que traduz as relações estabelecidas com os membros 
familiares e com seus pares no grupo social a que pertence. As palavras 
utilizadas revelam não somente o grau de maturidade psicológica da criança 
e a intensidade de sua compreensão da sexualidade humana, como também 
a estimulação social que recebe sobre tal temática. (ELOY, 2007. p. 64) 
 
A denominação dada pela criança ao referir-se aos órgãos genitais ou a atos 
eróticos e libidinosos evidencia as influências as quais foi exposta em sua narrativa 
possibilitando ao examinador discernir quanto a espontaneidade da mesma ou até 
evidenciar as construções adultas que influenciam, pressionam ou induzem o relato. 
Deve-se ressalvar o fato de que, embora a espontaneidade seja um fator característico 
 
 
14 
da infância, este aspecto vai sendo moldado pelas influências socioculturais conforme 
a criança avança em seu desenvolvimento. (ELOY, 2007). 
Deste modo, a incorporação de conceitos e representações sociais é um 
processo estritamente ligado a educação infantil que tende a limitar a expressividade 
com o aproximar-se da vida adulta. Reforça-se então a necessidade do preparo 
profissional e do conhecimento para a identificação dos fatores característicos de cada 
fase do desenvolvimento infantojuvenil para que se torne possível compreender e 
avaliar a que ponto esta educação influi sobre o relato da criança ou a que ponto este 
relato foi manipulado. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). 
Em concordância com esta premissa,Eloy (2007, p.63), fundamenta dizendo 
que, “há um longo caminho a percorrer antes que a linguagem se torne um verdadeiro 
instrumento do pensamento e o meio adequado de comunicação, utilizado de forma 
consciente, até chegar a uma completa conceitualização”. Esta afirmativa leva à 
reflexão quanto aos fatores cognitivos respectivos da infância fazendo-se necessária 
uma melhor compreensão dos mesmo ao se analisar o discurso infantil. 
Atentar-se para as referências presentes no discurso infantil que se arremetem 
ao contexto sociocultural no qual a criança está inseria é outro aspecto de suma 
importância na compreensão e no acolhimento da verdade subjetiva da vítima 
podendo ainda, através destes, identificar e discriminar os marcadores que diferem o 
discurso infantil de possíveis contaminações no relato. (ELOY, C. B. 2007). 
Outra premissa importante na análise do depoimento é a observação, estar 
atento ao comportamento não verbal da criança auxilia na compreensão total de sua 
fala bem como possibilita identificar respostas emocionais ou sofrimentos psíquicos 
latentes em seu discurso. Pelisoli e Dell’aglio (2014), salientam a importância do 
preparo profissional do avaliador e de suas habilidades e capacidades de estar 
sensível a avaliar o dano psíquico e o impacto emocional manifesto ou contido no 
relato durante a inquirição, uma vez que, dentro de sua individualidade as crianças, 
assim como todos os seres humanos, podem ser afetadas por eventos de violência e 
situações de vulnerabilidade de modo a não só demostrarem com ampla intensidade 
suas emoções, como também estão susceptíveis a reprimi-las em processo visa sua 
reestruturação psíquica. 
Considerando-se que o discurso infantil é desvalorizado pela vulnerabilidade 
em ser contaminado por expressões e conceitos dos adultos, faz-se necessária a 
 
 
15 
diferenciação entre a crença e o reconhecimento da palavra da criança pelos 
profissionais que a atendem. A crença seria de ordem religiosa e cultural, na qual a 
criança ocuparia um papel santificado, e por isso não humana e que fala sempre a 
verdade. (ELOY, C. B. 2007). 
Em contrapartida, o reconhecimento levaria em conta sua humanidade, suas 
fragilidades e a possibilidade de conduzir à responsabilização do acusado, como 
também para o acompanhamento da criança em suas dificuldades (Informação 
verbal). Sob tal aspecto, percebe-se que os sentidos formados no cotidiano podem 
levar a conceitos diferenciados e que a limitação entre o senso comum e a atuação 
profissional podem não estar tão às claras. (ELOY, C. B. 2007. p. 65). 
Em casos com suspeita de abuso sexual infantil, o examinador tende a aspirar 
que o relato da situação de violência possua em sua narrativa aspectos familiares aos 
casos nos quais a denúncia foi legitimada em experiências anteriores do profissional 
ou de terceiros. Esta conjectura compreendida como pensamento representativo pode 
influenciar a tomada de decisão ao atribuir ou não credibilidade ao oitiva do infante. 
(PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). 
Dentre os fatores elencados como emblemáticos nos casos de abuso sexual, 
cabe citar a presença de “famílias reconstituídas, antecedentes criminais do réu, 
características de negligência e/ou depressão maternas, dinâmica de segredo, 
barganhas e ameaças” (PELISOLI, DELL’AGLIO, 2011. p. 7). 
Neste enredo, é necessário ao profissional o preparo e as habilidades 
necessárias para adotar cuidados técnicos e metodológicos para impedir que ocorra 
a contaminação do relato por crenças ou sugestionabilidade involuntária do mesmo 
para com a criança tornando se imprescindível a cautela com os aspectos técnicos e 
metodológicos da inquirição. 
Conforme afirma Eloy (2007), o rapport e o acolhimento apropriado, livre de 
julgamentos e aliado ao incentivo para que a criança se expresse a sua maneira, 
expondo suas ideias, sentimentos e percepções são imprescindíveis para criar um 
espaço de segurança onde o infante possa manifestar-se de maneira livre, clara e 
coerente a seu próprio modo. 
Ainda que a criança disserte de modo difuso demonstrando pequenas 
contradições, deve-se considerar que sua estrutura cognitiva e sua organização 
psicológica diferem de modo fundamental entre as características e os aspectos de 
 
 
16 
personalidade apresentados da fase adulta. É necessário, portanto, policiar-se 
quantos as exigências de clareza, coerência e coesão equivalentes há um discurso 
adulto na oitiva infantil como é comumente exigido na concepção de “relato da 
verdade” almejada pelo sistema judiciário. Deste modo é possível valorizar a palavra 
da criança respeitando-a na qualidade de pessoa humana e propiciando-lhe um 
ambiente favorável a “um fluxo de comunicação com a justiça capaz de garantir seu 
direito de expressão livre da opressão” (ELOY, 2007. p. 65). 
Em situações nas quais uma criança é exposta a experiências adultas para as 
quais não possui maturidade física ou psicologia para compreender em sua plenitude, 
as denominadas situações de abuso, esta pode apresentar um impacto emocional 
intenso, o que pode influenciar no modo com que percebe os fatos conturbando assim, 
sua compreensão real da situação, principalmente quando há presença de vínculos 
ou sentimentos preceptores a situação de abuso. Em decorrência de circunstâncias 
estressoras e do fator emocional, o entendimento do infante pode apresentar 
conteúdos ambivalentes sofrendo induções do meio sejam elas intencionais ou não. 
(ELOY, 2007). 
Outro fator agravante para o qual a atenção do profissional deve ser voltada é 
a quantidade de intervenções e procedimentos aos quais a criança é exposta desde 
o momento da revelação do abuso, a denúncia e os processos de investigação que 
precedem o depoimento em juízo, pois estes podem influir sobre a lembrança dos 
fatos, haja vista que, a cada vez que se relata o ocorrido há um processo de 
revitimização e ressignificação dos mesmos em decorrência da situação original. 
(PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). A este respeito, Eloy (2007) esclarece que: 
Contudo a memória da criança também poderá ser afetada pelas 
intervenções dos diversos questionamentos e das reações dos familiares e 
pessoas próximas, o que, na área jurídica, é dada maior atenção em função 
da própria formação dos operadores do Direito. Nos estudos sobre 
vitimologia, são aventadas as possibilidades das falsas memórias, que se 
baseiam em sugestões e/ou sensações de haver experimentado algo que, na 
realidade, nunca vivenciou, e assim, pode confundir ou equivocar os 
julgadores, oferecendo com isto fundamentos para a defesa do criminoso 
autêntico. (ELOY, 2007. p. 65-67) 
 
Neste sentido o uso de instrumentos complementares que possam auxiliar na 
análise do depoimento infantil faz-se relevante para uma visão global do quadro, 
métodos como a ludoterapia, o desenho, dentre outros podem contribuir para uma 
melhor avaliação da denúncia. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). 
 
 
17 
A investigação e busca por indicadores que reforcem ou não o relato devem 
ser feitas de maneira cuidadosa e instrumentalizada. É importante que o inquiridor 
verifique outros recursos como documentos do processo, entrevistas com outras 
fontes, dentre outras medidas disponíveis para assegurar uma avaliação completa e 
dinâmica. Quanto à própria suspeita de abuso sexual, a decisão do profissional 
exprime as hipóteses levantadas pelo mesmo com base nos fatores anteriormente 
descritos, bem como outros aspectos passiveis de influir em seu julgamento. 
(PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). 
Nota-se, entretanto, que a literatura brasileira carece de aprofundamento e 
investigação dos indicadores presentes em relatos de violência sexual infantil para 
instrumentalizar o inquiridor e garantir os direitos fundamentais, sociais e individuais 
da criança em situação de vulnerabilidade uma vez que, os atuais recursos literários 
mostram-se precários e insuficientes para elucidaras nuances que circundam o 
depoimento infantil. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 2011). 
 
 
 
 
18 
3. ASPECTOS QUE PODEM INFLUIR TOMADA DE DECISÃO QUANTO A 
FIDEDIGNIDADE DO DEPOIMENTO INFANTIL (DI) 
 
A investigação das denúncias de crime sexual contra infante tem como cerne a 
proteção do menor, a garantia de seus direitos e a prevenção de novas situações de 
abuso, mas para que tais medidas sejam adotadas é necessária uma importante 
decisão quanto a veracidade da denúncia. Neste ensejo Pelisoli e Dell’Aglio (2014), 
dilucidam dizendo que a tomada de decisão em âmbito judicial é um mecanismo que 
implica na ação do poder do estado através de um Juiz de direito na regulação da vida 
social. 
Para auxiliar o operador de direito nesta primordial decisão, diversas provas 
são apresentadas a fim de desmistificar os fatos e compor um quadro geral da 
denúncia tendo estas evidências poder de influir diretamente no desfecho do 
processo. Dentre os diversos procedimentos de coleta de dados apresentados ao júri, 
Pelisoli, Gava e Dell’Aglio (2011) pontuam alguns dos recursos mais frequentes em 
auxílio a tomada de decisão: 
Num survey conduzido com profissionais que avaliam situações de ASI, os 
mais frequentes procedimentos e/ou indicadores de abuso foram 
operacionalizados como: (a) exames médicos; (b) relato da criança sobre a 
ocorrência do abuso; (c) informações obtidas a partir de procedimentos de 
avaliação incluindo bonecos, desenhos, fantoches, e casa de bonecas; (d) 
presença-ausência de comportamento hipersexualizado não-apropriado; e 
(e) dados obtidos de testes psicológicos aplicados na criança e no abusador 
alegado. (PELISOLI; GAVA; DELL’AGLIO, 2011. p. 6). 
 
Evidenciou-se em no estudo Pelisoli et. al. (2011), a preponderância do uso de 
informações complementares a prova testemunhal para a tomada de decisão. 
Recursos como o exame médico-legal e aparatos que possam oferecer evidencias 
mais concretas apresentam grande relevância neste processo. A convicção do Juiz 
de direito em relação à denúncia pragmaticamente baseia-se na busca objetiva pela 
“verdade real” do acontecimento alegado sendo esta indispensável para a aplicação 
das medidas necessárias sem que haja a violação dos direitos da criança ou do 
suposto abusador. (Pelisoli; Dobke; Dell’Aglio, 2014). 
Ressaltada a importância do parecer jurídico para o desfecho da denúncia é 
necessário compreender os processos cognitivos que influem no julgamento humano 
neste transcurso de deliberação. De acordo com Pelisoli, et. al. (2011) denúncias nas 
quais há suspeita de crimes sexuais contra crianças são transpassadas por uma 
 
 
19 
grande intensidade emocional exercendo considerável pressão sobre os profissionais 
envolvidos. 
 A ausência de materialidade nestes casos culmina em situações de muitas 
incertezas. Nestas circunstâncias o julgamento humano é tendencioso à não 
respaldar-se em probabilidades estatísticas, mas em diretrizes heurísticas e 
pensamentos subjetivos podendo assim, ocasionar falhas sistêmicas. A heurística 
pode ser compreendida como um conjunto de regras gerais que assiste a tomada de 
decisões exigindo poucos esforços e tempo. (PELISOLI; GAVA; DELL’AGLIO, 2011). 
As heurísticas da representatividade e da disponibilidade podem se 
configurar como vieses cognitivos influenciando a tomada de decisão em 
situações de incerteza, que são características nos casos de abuso sexual 
contra crianças e adolescentes. A heurística da representatividade pressupõe 
que o julgamento da probabilidade de um evento incerto é tomado de acordo 
com o quão similar ou representativo ele é da população da qual se origina e 
de acordo com o grau no qual ele reflete os aspectos proeminentes do 
processo pelo qual é gerado. (PELISOLI; GAVA; DELL’AGLIO, 2011. p. 7). 
 
Com esta premissa, pode-se considerar que experiências anteriores do Júri e 
do examinador apresentam poder denotativo na compreensão do relato do como 
verídico ou não. Em casos com suspeita de abuso sexual evidencia-se de maneira 
implícita a busca pela presença perspectiva de elementos similares a relatos 
anteriores nas quais a eventual denúncia foi efetivamente comprovada sendo este 
fenômeno chamado de pensamento representativo. (PELISOLI; GAVA; DELL’AGLIO, 
2011). 
Em um estudo conduzido por Pelisoli et. al. (2011), identifica na obra de doze 
literatos alguns dos elementos representativos tendenciosos a comumente reforçar a 
credibilidade do relato de abuso sexual infantil listando-os como: a associação da 
vítima ao o gênero feminino como mais arremetido; a composição familiar 
reestruturada ou reconstruída com novos membros; histórico de violência ou 
antecedentes criminais do acusado; evidencias de negligencia, depressão materna e 
outras situações de vulnerabilidade; características comuns a dinâmica do segredo, 
coação, barganhas ou ameaças a vítima ou sujeitos de seu afeto. 
Neste enredo pode-se observar a busca tendenciosa por características que 
associem a vítima a um perfil já conhecido pelo avaliador, por exemplo, Pelisoli et. al. 
(2011) descreve em seu estudo que psiquiatras que obtiveram um maior grau de 
assertividade deferindo seu parecer em favor da vítima de sexo feminino ou em lar 
reestruturado, em situações similares nas quais os elementos apresentem-se difusos 
 
 
20 
podem ser influídos por suas experiências anteriores unilateralizando-se a repetir o 
padrão de decisões de modo a evidenciar uma predominância da experiência em 
relação ao conhecimento científico e teórico quanto as decisões em investigações de 
abuso sexual infantil. 
As crenças preexistentes, valores e moral pessoais em relação ao abuso sexual 
e sobre os aspectos da infância também podem inconscientemente reverberar na 
postura adotada pelo profissional durante a análise do depoimento em que existam 
dúvidas. Pelisoli et. al. (2011) evidencia em sua obra a controvérsia em relação a 
postura de profissionais e psicólogos que atuam no depoimento especial aos quais 
estes adotam uma postura maternal ou defensora da criança possivelmente vítima de 
abuso em agravo a outros papeis passiveis de serem desempenhados. 
Cabe ressaltar a necessidade de o profissional estar apito a exercer seu papel 
com sabedoria e imparcialidade em todo o processo de inquirição a fim de ater-se a 
justiça com todos os envolvidos no processo. A prova testemunhal é um recurso 
importante na investigação de possíveis situações de abuso, contudo é imprescindível 
lembrar que este tipo de coleta de dados pode variar de acordo com as habilidades 
do inquiridor possibilitando assim uma variação no procedimento dentre os diferentes 
grupos de profissionais e no diálogo entre os mesmo, como por exemplo, a nítida 
divergência dos olhares do psicólogo em detrimento ao operador de direito. Deste 
modo a escolha do inquiridor pode refletir na decisão final do júri. (PELISOLI; 
DELL’AGLIO, 2014). 
Corroborando esta afirmativa Eloy (2007), esclarece que a técnica utilizada pelo 
inquiridor, o rapport e o vínculo estabelecido com a testemunha também podem influir 
no parecer tanto do avaliador quando do Júri. Um examinador hábil pode exprimir uma 
maior quantidade de informações, sejam estas verbais ou não. Em contra partida um 
profissional inapto pode inibir, sugestionar ou interpretar de maneira equivocada o 
relato da vítima de modo causar a impugnação do mesmo. 
Deve-se considerar que o conteúdo das entrevistas realizadas no contexto 
da justiça fornece informações concretas proporcionadas tanto pela vítima, 
quanto pelo interlocutor, seja este profissional de qualquer área. Portanto, 
não apenas o que é dito verbalmente aponta caminhos para esclarecer as 
dúvidas ou as suspeitas, mas também o comportamento não verbalizado e o 
estilo da linguagem utilizada. A qualidade do relacionamento estabelecido 
entre a vítima e o interlocutor durante as entrevistas é fundamental para uma 
comunicação com amplitude e interação.(ELOY, 2007. p. 83). 
 
 
 
21 
Outro aspecto evidenciado como sectário na postura de análise quanto a 
veracidade da oitiva infantil é o gênero do avaliador, seja este o inquiridor ou o juiz de 
direto. Segundo Pelisoli et. al. (2011), as profissionais do sexo feminino, usualmente, 
mostram-se tendenciosas ao rigor para com o acusado no que tange denúncias de 
crimes contra crianças. 
Em casos em que há suspeita de abuso sexual infantil estas costumam 
manifestar crenças mais concretas em relação a fidedignidade do relato da vítima em 
relação aos homens que avaliam “a credibilidade do réu em níveis significativamente 
mais altos do que as juradas mulheres”. O trabalho atenta-se ainda para a influência 
do gênero em relação a concepção de desejo ou contribuição involuntária da vítima 
para a ocorrência do crime atribuindo o júri masculino “níveis mais altos de 
responsabilidade para a vítima, comparados às mulheres”. (PELISOLI; GAVA; 
DELL’AGLIO, 2011. p. 8). 
Ainda conforme as autoras, este mesmo estudo ressalta a influência da área 
de atuação no profissional no processo de decisão do caso. Psiquiatras, assistentes 
sociais e psicólogos que trabalham com vítimas de assedio ou abuso sexual de 
alguma natureza frequentemente atribuem mais credibilidade ao relato da criança em 
detrimento aos operadores de direito e profissionais da área da saúde aos quais lidam 
com idosos ou sujeitos que apresentam outros sofrimentos pós-traumáticos. 
(PELISOLI et. al. 2011). 
Em se tratando do processo de investigação da denúncia, devido a frequente 
ausência de provas materiais dos casos, profissionais de diversas áreas do 
conhecimento são chamados a contribuir com o mesmo e necessitarão tomar uma 
decisão quanto veracidade da denúncia em alguma instancia, seja para proferir uma 
sentença, solicitar uma medida de proteção ou posicionar-se através de pareceres 
técnicos e laudos. Deste modo a atividade pericial e a participação ativa neste 
processo requerem não só um amplo conhecimento no assunto, como também 
habilidades para discernir e aptidão para a tomada de decisão. (FINNILÄ-TUOHIMAA 
et al., 2009). 
Ao lançar olhar apara a pluralidade de profissionais envolvidos no processo 
investigativo e no desfecho do mesmo, salienta-se a divergência e elementar do 
conceito de verdade presente em cada área do saber. No âmbito judiciário, encontra-
se a primazia da verdade real ou objetiva em detrimento da verdade subjetiva 
 
 
22 
perscrutada pelo psicólogo fazendo-se necessária a busca por uma linguagem comum 
a ambas as áreas. Neste ensejo, as abordagens cognitivas tem apresentado maior 
respaldo na produção de evidencias mais próximas a compreensão de verdade 
objetiva corroborando assim, com a psicologia forense na dicotomia psicologia-direito. 
(PELISOLI; DOBKE; DELL’AGLIO, 2014) 
Partindo de tal compreensão, Pelisoli et. al. (2014), reforçam que a postura 
adotada por juízes de direito inclina-se à desvalorização de relatos vagos ou com 
conteúdo ambíguo reafirmando a postura que descreve em sua obra de 2011, na qual 
Pelisoli et. al. relata a frequência com a qual os laudos de avaliação psicológica são 
desprezados no judiciário por não contemplarem provas materiais da violência. 
Entretanto, esses profissionais não se mostraram da mesma maneira 
sensíveis a outros componentes que podem influenciar a entrevista, como 
presença de ameaças e recompensas, que podem fazer com que o 
entrevistado decida por não abordar determinados assuntos (quando algum 
tipo de ameaça por parte do entrevistador se coloca) ou a investir e 
desenvolver algum tópico (quando recompensado). Esses autores 
observaram também que, quando não há transcrição da entrevista, os 
profissionais tendem a confiar que seus colegas não fizeram uso de questões 
sugestivas e acabam por não considerar isso como uma preocupação. Um 
importante resultado encontrado neste estudo foi uma associação positiva 
entre experiência clínica, competência científica e perícia autoavaliada com a 
sensibilidade para perguntas sugestivas. Dessa forma, fica demonstrado que 
quanto mais experiência e competência tem o profissional, mais ele percebe 
a sugestionabilidade de entrevistas com crianças. (PELISOLI; GAVA; 
DELL’AGLIO, 2011. p. 5) 
 
 Em contra partida Santana e Rios (2013) apontam a relevância do 
relatório psicossocial no processo jurídico defendendo a efetividade da ação dos 
profissionais psicólogos e assistentes sociais no desfecho concreto da investigação e 
sua influência junto aos envolvidos. A tomada de decisão quanto uma denúncia de 
abuso é ponderada e embasada através de um processo de construção da verdade 
factual do ocorrido. Por permear diversas crenças culturais e tabus sociais estigmas 
e ressalvas acompanham as dúvidas neste processo. 
Todos os dias, inúmeras decisões errôneas equivocadas são tomadas a 
respeito da veracidade de crimes sexuais contra crianças e adolescentes resultando 
por vezes na impunidade e propagação de situações de vulnerabilidade ao menor. 
Evidencia-se, nestes casos, a preponderância do júri a proferir sentenças em desfavor 
penal quando não compreende as evidencias e relatos como suficientes para 
esclarecer a denúncia, pois, teme-se a violação de direitos do acusado. (BALBINOTTI, 
2009. p. 13.) 
 
 
23 
4. COMPREENDENDO A IMPORTÂNCIA DO DEPOIMENTO ESPECIAL (DE) 
 
O Depoimento Especial (DE) também chamado de “Depoimento Humanizado” 
é um recurso, e acima de tudo um direito, previsto no Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) normatizado e organizado através da Lei 13.431 de 4 de Abril de 
2017. O depoimento especial é um dispositivo legal que visa assegurar uma escuta 
especializada para crianças e adolescentes possivelmente vítimas ou testemunhas de 
violência de quais quer natureza, de modo a compor mecanismos para coibir e 
prevenir a violação dos direitos fundamentais do infante enquanto pessoa humana. 
(PELISOLI; DELL’AGLIO, 2016.). 
De acordo a Lei 13.431/2017 art. 7° o Depoimento Especial consiste em um 
procedimento de entrevista no qual a criança ou adolescente pode relatar a situação 
de violência mediante a um órgão de proteção, atendo-se estritamente aos dados 
necessários para sua finalidade. Deste modo Coimbra (2017), ressalta que esta Lei 
também estabelece os devidos parâmetros para a realização do depoimento especial 
sendo: 
[...] as propostas e práticas para a tomada de depoimento de crianças e 
adolescentes giram em torno dos seguintes itens: que ocorra uma única vez; 
o mais cedo possível; em sala diferenciada e pelo intermédio de profissionais 
capacitados – principalmente psicólogos ou assistentes sociais – a fim de que 
sejam feitas perguntas de forma mais adequada ao depoente. (SANTOS; 
COIMBRA, 2017. p. 596). 
 
Conforme salientam Pelisoli e Dell’Aglio (2016), os crimes e delitos sexuais 
comumente são acometidos pela não materialidade dos fatos resultando em diversas 
vezes na palavra da vítima como principal meio de apuração dos fatos. Neste enredo 
o depoimento especial manifesta-se como uma ferramenta primordial na investigação 
e na proteção dos direitos fundamentais infantojuvenil. 
Corroborando esta premissa Brito e Pereira (2012), argumentam que os delitos 
sexuais, assim como outros crimes de cunho moral, tem como cerne uma natureza 
clandestina tornando a palavra da vítima um fator preponderante para combater a 
impunidade. 
Deste modo o Depoimento Especial surge como uma possibilidade de 
substituição do depoimento infantil em uma audiência tradicional, na qual a possível 
vítima experienciaria um processo de revitimização em seus relatos quanto a situação 
de violência, podendo ser exposta à presença do agressor. É necessário esclarecer 
 
 
24 
que o depoimento especial não evita que a revitimização aconteça, mas proporciona 
um espaço adequado para a mesma ocorra de modo a atenuar os percalços de 
processo. Assim sendo, o depoimento especial atribuium certo grau de humanização 
do processo de escuta infantojuvenil. (BRITO; PEREIRA, 2012). 
Aprofundando um pouco mais a natureza do caráter de humanização do 
depoimento especial Pelisoli et. el. (2014), aponta a estrutura do mesmo com produto 
de um esforço de diversos países à proteção e cuidado da vítima durante o processo 
investigativo. 
[...] tem sido realizado um esforço, em diversos países, para que a vítima seja 
menos prejudicada possível com as intervenções que ocorrem ao longo do 
processo legal. Uma das estratégias que buscam minimizar o sofrimento e 
diminuir a quantidade de momentos que a vítima precisa falar sobre o evento 
traumático é a tomada de Depoimento Especial. Durante a instrução do 
processo, a coleta de dados com a vítima deve ser realizada sob a vigência 
dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Trata-se do 
depoimento da vítima no contexto processual, o que difere do contexto pré-
processual, onde não há ainda a garantia do devido processo legal por não 
estarem vigentes os princípios antes referidos. (PELISOLI; DOBKE; 
DELL’AGLIO, 2014, p. 27). 
 
Dentre as diversas vantagens que a escuta especializada atribui, pode-se 
salientar a redução do número de entrevistas e/ou entrevistadores envolvidos na 
coleta de dados, além de produzir uma entrevista documental completa através de 
recursos de áudio-vídeo que preservam o relato inicial da vítima. Além disto, a 
diminuição do número de operadores intervindo no relato do infante reduz a 
probabilidade de sujestionabilidade do mesmo, embora estes agentes da lei não 
percam a oportunidade de revisar e analisar os dados coletados. (PELISOLI, C. e 
DELL’AGLIO, D. D. 2016.). 
No Brasil o depoimento especial é realizado através do sistema CCTV, que 
coleta depoimentos por meio de um circuito fechado de televisão e de videogravação. 
(PELISOLI; DOBKE; DELL’AGLIO, 2014). Deste modo, o mesmo também pode ser 
utilizado pelo entrevistador para revisar ou relembrar o testemunho da possível vítima 
antes de prestar seu próprio testemunho em uma audiência, além do fato de que a 
exibição da entrevista em áudio-vídeo possui maior poder de persuasão do que o 
relato do entrevistador sobre o que a criança disse. (PELISOLI, C. e DELL’AGLIO, D. 
D. 2016.). 
Estudos anteriores também apontaram resultados positivos do uso do CCTV 
como o fato de as crianças estarem mais relaxadas e proverem depoimentos 
mais detalhados e completos (Goodman et al., 1998). É provável que o fato 
de não encontrar o perpetrador atue como um importante aspecto, uma vez 
 
 
25 
que este é o maior medo de crianças vítimas. (PELISOLI; DOBKE; 
DELL’AGLIO, 2014, p. 29). 
 
Outro benefício plausível de obtenção através do depoimento especial é a 
melhoria da qualidade da comunicação interdisciplinar que surge junto a 
obrigatoriedade de sua existência implícita na metodologia de ação do mesmo. Uma 
vez que, a presença de uma entrevista gravada pode ser analisada por múltiplos 
profissionais possibilitando um maior número de reuniões dentre eles a fim de analisar, 
ponderar e contribuir com a compreensão geral dos fatos. (PELISOLI; DOBKE; 
DELL’AGLIO, 2014). 
Neste enredo o Depoimento Especial ocupa um lugar complexo, mas primordial 
na interação e interlocução dentre as diversas áreas do saber atuantes do sistema 
judicial e em suas decisões que reverberam de maneira significativa sobre a vítima e 
seus familiares, do agressor e da busca de justiça em si. (PELISOLI; DOBKE; 
DELL’AGLIO, 2014). 
Embora a Lei 13.431/2017, Brasil (2017), garanta a obrigatoriedade de um local 
adequado e um entrevistador capacitado para a coleta de dados, a literatura aponta o 
Depoimento Especial como um mecanismo em construção na justiça brasileira 
apresentando falhas ainda passiveis de serem sanadas. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 
2016.). 
Dentre as desvantagens assinaladas neste processo, diversos autores 
apontam anomalias na infraestrutura como um dos aspectos contraproducentes para 
eficácia da escuta especializada. Irregularidades como vídeos de baixa qualidade ou 
a técnica do entrevistador podem não deixar os dados claros tornando-se motivo de 
contestação ou impugnação do depoimento infantojuvenil. (CONTE, 2008; PELISOLI 
E DELL’AGLIO, 2011; PELISOLI E DELL’AGLIO, 2016). 
[...] dentre os aspectos desfavoráveis, foram encontrados: (a) igualdade entre 
inquirição e escuta psicossocial, o que seria um desrespeito à ética do 
psicólogo e do assistente social; (b) privilégio da busca de provas para a 
punição do agressor, transformando o direito da criança em depor em 
obrigação; (c) evidenciaria o discurso da criança e ignoraria a possibilidade 
de falsas denúncias; (d) desconsideraria outros danos e colocaria a criança 
como corresponsável pela sanção do acusado; e, por último, (e) a ocorrência 
em outros países não significa sucesso (Brito & Parente, 2012). (PELISOLI; 
DOBKE; DELL’AGLIO, 2014, p. 33-34). 
 
Outras inconsistências também podem surgir deste processo como a inibição, 
desconforto ou a mudança de discurso ou comportamento da vítima por estar sendo 
 
 
26 
filmadas podendo influir na confiabilidade dos dados. (CONTE, 2008; PELISOLI E 
DELL’AGLIO, 2011; PELISOLI E DELL’AGLIO, 2016). 
O Depoimento Especial, embora um avanço nas práticas jurídicas, ainda é um 
mecanismo em construção e por tanto, está sujeito a trabalhadores que o realizam 
para aperfeiçoamento e execução. Vários profissionais podem ser chamados a 
realizar e contribuir oferecendo um atendimento mais humanizado e que possibilite o 
exercício da cidadania e da dignidade da pessoa humana. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 
2016.) 
O Depoimento Especial, portanto, constitui-se como espaço também 
complexo, de interação e interlocução entre essas áreas, mas onde a 
Psicologia pode contribuir com seu saber para a formação da convicção do 
juiz a respeito do caso sob julgamento e este, por sua vez, vai tomar decisões 
que afetam a todos os envolvidos: vítima, agressor, familiares, sempre na 
busca do melhor interesse da criança (ECA, 1990) e da garantia dos direitos 
humanos (CF, 1988). (PELISOLI; DOBKE; DELL’AGLIO, 2014, p. 31). 
 
Psicólogos, conselheiros tutelares, assistentes sociais, médicos, enfermeiros, 
policiais e outros operadores da lei podem atuar como entrevistadores na escuta 
especializada para qual, além da capacitação adequada, é esperado que este 
profissional seja dotado de empatia e sensibilidade para realizar uma escuta 
acolhedora as crianças e adolescentes que venham a necessitar deste recurso. 
(PELISOLI, C. e DELL’AGLIO, D. D. 2016.). 
Conforme a Lei no 13.431/2017 (Brasil, 2017), o depoimento especial é uma 
ferramenta para fomentar a qualidade da escuta criança e amenizar efeitos negativos, 
desta forma a mesma prevê que a coleta de informações sejam realizadas em horários 
flexíveis, adequados e convenientes ao menor garantindo assim os direitos sociais e 
individuais dos mesmos. 
 
4.1 A IMPORTÂNCIA DO PSICOLOGO NO DEPOIMENTO ESPECIAL (D.E.) 
 
Quando abordamos a atuação do profissional psicólogo como sujeito ativo no 
processo de coleta de dados através do depoimento infantil, várias controvérsias 
fazem-se presentes de modo a emergir um debate quanto aos valores éticos e morais 
desta classe que, por sua vez, podem mostrar-se conflitantes com os objetivos do 
Depoimento Especial. (PELISOLI; DELL’AGLIO, 2016). 
Este embate nasce em meio a obscuridade quanto ao papel do psicólogo 
enquanto agente de mudança social e defensor dos direitos humanos que visa 
 
 
27 
promover a saúde do indivíduo. Pelisoli (2016), ao citar Conte e o Conselho Federal 
de Psicologia, compreende que a escuta infantil no depoimento especial embora, seja 
apresentada como um direito da criança, esta pode atribuir um caráter de 
obrigatoriedade em revelar a “verdade”. 
Neste sentido, o papel do psicólogo seria fornecer amparo a uma escuta 
comprometida com a realidade psíquica da criança fomentandoos mecanismos de 
simbolização e resiliência do evento traumático. “Para Conte (2008), insistir no relato 
objetivo (realidade factual) pode causar dano psíquico, enquanto somente a escuta 
(da realidade psíquica) possibilita a recomposição simbólica”. (PELISOLI; 
DELL’AGLIO, 2016. p. 3). 
De acordo com o Concelho Federal de Psicologia os profissionais psicólogos 
estão presentes em todos os pontos da rede de proteção infantil podendo realizar a 
escuta psicológica em qualquer um destes ambientes desde que, observe as normas 
éticas da categoria, “respeitando a legislação profissional e marcos teóricos, técnicos, 
éticos e metodológicos da psicologia como ciência e profissão”. (CONSELHO 
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2018 p. 5). 
 Quanto ao Depoimento Especial enquanto parte da rede de proteção infantil 
não pode ser compreendido como um processo de escuta psicológica uma vez que, 
seu foco principal é a inquirição e a produção de provas que sustentem ou não o caso, 
a escuta psicológica por outro lado visa a elaboração dos fatos por parte do sujeito e 
a promoção da saúde psíquica. 
[...] o Conselho Federal de Psicologia entende que o DE “ignora a função do 
psicólogo” (p.10) e afirma que o psicólogo é usado para punir o maltratante, 
que tem relação de afeto com a criança (Conselho Federal de Psicologia, 
2008). Afirma ainda que a metodologia é “supostamente humanizada”, tendo 
em vista que o profissional não é chamado a realizar uma intervenção, mas 
a atuar como mediador para o inquiridor (juiz). É importante considerar, 
entretanto, que os textos publicados, em sua maioria, retratam opiniões 
técnicas e não necessariamente dados empíricos. Neste tema, há uma 
carência evidente de estudos que possam lançar luz a essa questão e 
contribuam para a resolução dessas ambiguidades. (PELISOLI; 
DELL’AGLIO, 2016. p. 3) 
 
Os questionamentos das autoridades judiciárias acerca da possibilidade da 
criança evitar o abuso sexual revelam o desconhecimento das estratégias do agressor 
no processo abusivo que paralisam a criança. É imprescindível que a criança encontre 
no atendimento judicial um ambiente que favoreça a explicitação das ameaças, 
chantagens, subornos ou terror que vivenciou durante o processo abusivo, pois assim, 
 
 
28 
conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente, será tratada como um 
sujeito de direitos. (ELOY, 2007. p. 41). 
 
 
 
 
29 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A investigação das denúncias de crime sexual contra infante tem como cerne a 
proteção do menor, a garantia de seus direitos e a prevenção de novas situações de 
abuso, mas para que tais medidas sejam adotadas é necessário um parecer jurídico 
quanto a veracidade da denúncia. Contudo, a baixa credibilidade atribuída ao 
depoimento infantil tem se mostrado um agravante não só dentro do âmbito familiar, 
como também no sistema legal. 
No decorrer deste trabalho foi possível identificar alguns dos critérios e 
parâmetros que podem nortear a tomada de decisão quanto a fidedignidade desta 
prova testemunhal, bem como: a coerência do relato da vítima, a observação dos 
princípios de consistência e plausibilidade, as palavras utilizadas e a denominação 
dada pela criança ao referir-se aos órgãos genitais ou a atos eróticos e libidinosos no 
decorrer do discurso, as referências ao contexto sociocultural presentes na fala e a 
observação do comportamento não verbal e as respostas emocionais ou sofrimentos 
psíquicos manifestos ou latentes na fala infante. Deste modo, a capacitação e as 
habilidades profissionais, bem como o conhecimento básico dos processos de 
desenvolvimento infantil que englobam estas áreas são indispensáveis na 
identificação destes marcadores. 
Compreendeu-se a importância do Depoimento Especial enquanto ferramenta 
jurídica de coleta de dados, humanização e garantia de direitos salientando a melhoria 
da qualidade da comunicação interdisciplinar uma vez que, a entrevista gravada 
através do sistema CCTV favorece a análise por múltiplos profissionais sem que haja 
uma nova inquirição. Deste modo reduz-se a probabilidade de sujestionabilidade ou 
contaminação do relato e contribui com a melhor compreensão geral dos fatos. 
Constatou-se entretanto, a preponderância de informações complementares à 
prova testemunhal na atribuição de credibilidade ao depoimento infantil e na tomada 
de decisão quanto a denúncia. Exames médicos, dados obtidos de testes psicológicos 
aplicados na criança e no possível abusador, informações obtidas a partir de 
procedimentos de avaliação incluindo bonecos, desenhos, fantoches, e casa de 
bonecas, marcadores sociais como famílias reconstituídas, antecedentes criminais do 
réu, características de negligência e/ou depressão maternas, presença-ausência de 
 
 
30 
comportamento hipersexualizado não-apropriado bem como, documentos do 
processo e entrevistas com outras fontes. 
Destaca-se a influência de processos psicológicos como a heurística, 
pensamentos representativo, experiências anteriores, crenças e valores, bem como 
questões relativas ao gênero e a profissão do avaliador como fatores que reverberam 
de forma indireta em seu julgamento quanto a credibilidade do testemunho infantil. 
Verificou-se a atribuição de maior credibilidade a oitiva infante e a validação da 
denúncia por jurados e inquiridores do sexo feminino e aos profissionais Psiquiatras, 
assistentes sociais e psicólogos que trabalham com vítimas de assedio ou abuso 
sexual de alguma natureza. Ressalta-se a ressalva masculina em relação a 
“contribuição” da vítima para situação relatada em denúncia e a atuação tendenciosa 
de algumas inquiridoras, psiquiatras e psicólogos como defensor da criança 
reafirmando a necessidade de capacitação adequada para o exercer desta função. 
Evidenciou-se no presente trabalho à escassez de pesquisas especificas sobre 
os parâmetros de análise quanto a credibilidade do depoimento infantil em detrimento 
a crescente demanda do dilema. Deste modo compreende-se que a literatura 
brasileira carece de aprofundamento e investigação dos indicadores presentes em 
relatos de violência sexual infantil para instrumentalizar os profissionais que permeiam 
o âmbito jurídico a discernir quanto necessidade de proteção dos direitos 
fundamentais, sociais e individuais de crianças em situação de vulnerabilidade não 
sendo os objetivos desta revisão alcançados de forma abrangente e satisfatória para 
contemplar as necessidades da temática. 
 
 
 
 
31 
6. REFERÊNCIAS 
 
BALBINOTTI, C. A violência sexual infantil intrafamiliar: a revitimização da criança 
e do adolescente vítimas de abuso. Direito e Justiça, v. 35, n. 1, p. 5-21, 2009. 
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmera dos Deputados, Lei no 
8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF. 
BRASIL. Lei Nº 13.431, de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia 
de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera 
a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). 
Diário Oficial da União. 
BRITO, L. M. T. & PEREIRA, J. B. Depoimento de crianças. Psico-USF, Bragança 
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PELISOLI, C. & Dell’Aglio, D. D. A Humanização do Sistema de Justiça por meio 
do Depoimento Especial: Experiências e Desafios. Psico-USF. Bragança Paulista, 
v. 21, n. 2, p. 409-421, mai./ago. 2016. 
PELISOLI, C., E DELL’AGLIO, D. D. As contribuições da Psicologia para o sistema 
de justiça. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(4), 916-930. 2014. 
PELISOLI; DOBKE; DELL’AGLIO, Depoimento Especial: Para Além do Embate e 
pela Proteção das Crianças e AdolescentesVítimas de Violência Sexual. Temas 
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32 
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PELISOLI, C., GAVA, L. L., DELL’AGLIO, D. D. Psicologia jurídica e tomada de 
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SANTOS, A. R. & COIMBRA, J.C. O Depoimento Judicial de Crianças e 
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