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Ascaridíase Na família Ascarididae, subfamília Ascaridinae, existem espécies de importância médico-veterinária, como o Ascaris lumbricoides (lombriga) e Ascaris suum, que parasitam o intestino delgado de humanos e de suínos, possuem ampla distribuição geográfica e causam a ascaridíase, ascaridose ou ascariose. Do ponto de vista morfológico e biológico, há diferenças com relação ao comprimento, tamanho dos dentículos das margens serrilhadas dos 3 lábios e à grande quantidade de ovos colocados pela espécie parasita de suínos (1 milhão/dia), pode haver infecções cruzadas, isto é, a espécie do suíno pode infectar humanos e vice-versa, com duração normal do parasitismo. O Ascaris lumbricoides em vários países, com frequência variada em virtude das condições climáticas, ambientais e do grau de desenvolvimento socioeconômico, em 1947, estimava-se 644 milhões indivíduos parasitados por A. lumbricoides, em 1984, 1 bilhão de infectados, e, em 1944, 1,5 bilhão - no Brasil, em 1967, a prevalência da era 71,4%, em 1971, estimou em 60%, e, atualmente, os níveis continuam elevados, principalmente em crianças com < 12 anos em várias regiões brasileiras. Morfologia As formas adultas são longas, robustas, cilíndricas e com extremidades afiladas, mas, o tamanho dos exemplares de A. lumbricoides depende do número de parasitos albergados e do estado nutricional do hospedeiro. Biologia HABITAT: em infecções moderadas, os vermes adultos ficam no intestino delgado (jejuno e íleo), mas, em infecções intensas, podem ocupar todo o intestino delgado, podem ficar presos à mucosa, com auxílio dos lábios ou migrarem pela luz intestinal. MACHO: quando adultos, medem 20-30 cm de comprimento, cor leitosa, a boca ou vestíbulo bucal está na extremidade anterior, e é contornado por 3 fortes lábios com serrilha de dentículos e sem interlábios, dela segue-se o esofago musculoso e o intestino retilíneo. O reto está próximo à extremidade posterior, tem um testiculo filiforme e enovelado, que se diferencia em canal deferente, continua pelo canal ejaculador, abrindo-se na cloaca, localizada próximo à extremidade posterior, tem 2 espículos que atuam como órgãos acessórios da cópula, a extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral é o caráter sexual, como a cauda papilar pré e cloacais. FÊMEAS: medem 30-40 cm, quando adultas, a cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho, tem 2 ovários filiformes e enovelados que continuam como ovidutos, diferenciados em úteros que se unem em 1 vagina, esta se exterioriza pela vulva no ⅓ anterior do parasito, a extremidade posterior é retilínea. OVOS: são brancos e ficam castanhos no contato com as fezes, são grandes (≃ 50 µm de diâmetro), ovais e com cápsula espessa, em razão da membrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada por mucopolissacarídeos, segue-se uma membrana média constituída de quitina e proteína e outra mais interna, delgada e impermeável, constituída de 25% proteínas e 75% lipídios, conferindo resistência às condições ambientais. Internamente, há uma massa de células germinativas, pode-se encontrar nas fezes ovos inférteis, que são mais alongados, com membrana mamilonada mais delgada e citoplasma granuloso, já os ovos férteis podem não ter a membrana mamilonada. CICLO BIOLÓGICO: monoxênico, 1 hospedeiro, cada fêmea fecundada pode colocar ≃ 200.000 ovos não embrionados/dia, que saem com as fezes, os ovos férteis em temperaturas de 25-30oC, O2 abundante e umidade > 70%, tornam-se embrionados em 15 dias. 1. L1 forma dentro do ovo rabditóide, possui esôfago com 2 dilatações, 1 em cada extremidade e 1 constrição no meio; 2. após 1 semana, dentro do ovo, L1 sofre mudas para L2 e L3, infectante com esôfago filarióide (retilíneo), ambas permanecem infectantes no solo por meses podendo ser ingeridas pelo hospedeiro; 3. após a ingestão, os ovos com L3 atravessam o trato digestivo e as larvas eclodem no intestino delgado, graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo hospedeiro, como a presença de agentes redutores, pH, temperatura, sais e concentração de CO2, cuja ausência inviabiliza a eclosão; 4. as larvas liberadas atravessam a parede intestinal na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e veias, invadem o fígado 18-24 horas após a infecção, em 2-3 dias chegam ao coração direito, pela veia cava inferior ou superior e 4-5 dias nos pulmões (ciclo de Loss); 5. ≃ 8 dias, as larvas sofrem muda para L4, rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde mudam para L5, sobem pela árvore brônquica e traquéia, chegando até a faringe, podem ser expelidas pela expectoração ou deglutidas, atravessando incólumes, o estômago e fixando-se no intestino delgado, tornam-se adultos jovens 20-30 dias após a infecção; 6. em 60 dias alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula, ovipostura e são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro, os vermes adultos vivem de 1- 2 anos. TRANSMISSÃO: através da ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo L3, há registros de que a contaminação das águas de córregos utilizadas para irrigação de hortas levando a contaminação do depósito subungueal com ovos viáveis, principalmente em crianças (20-52%). Os ovos de A. lumbricoides tem grande capacidade de aderência a superfícies, quando presente no ambiente ou em alimentos, não são removidos com facilidade por lavagens, por isto o uso de substâncias com capacidade de inviabilizar o desenvolvimento dos ovos é importante para controle da transmissão, - a ação de detergentes e desinfetantes de uso doméstico realizam a inibição do embrionamento dos ovos. A resistência a vários agentes terapêuticos é importante na transmissão da doença, testando-se a capacidade ovicida de levamisol, cambendazol, pamoato de pirantel, mebendazol, praziquantel e tiabendazol concluiu-se que o último foi efetivo na inibição completa do embrionamento dos ovos 48 horas após o tratamento, com o uso de tiabendazol em indivíduos infectados com Ascaris há atividade ovicida intra-uterina, após eliminação dos vermes. Há situações ectópicas que podem levar o paciente a quadros graves que podem necessitar intervenção cirúrgica, como: apêndice cecal, causando apendicite aguda, canal colédoco, causando obstrução, canal de Wirsung, causando pancreatite aguda e eliminação do verme pela boca e narinas. É comum em crianças o aparecimento de uma alteração cutânea, que são manchas circulares, disseminadas pelo rosto, tronco e braços ("pano"), causadas pelo verme que consome grande quantidade de vitaminas A e C, provocando despigmentações circunscritas. Patogenia ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, causando um quadro de subnutrição e depauperamento físico e mental; ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, urticária, convulsões epileptiformes; ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução, as crianças são mais propensas pelo menor tamanho do intestino delgado e pela intensa carga parasitária; localização ectópica: pacientes com altas cargas parasitárias ou em que o verme sofra alguma ação irritativa, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados, ele desloca-se para locais não-habituais ("ascaris errático"). Acompanhando-se o ciclo deste helminto, ou seja, a patogenia das larvas e dos adultos, observa-se a intensidade das alterações provocadas relaciona-se com o número de formas presentes no parasito. LARVAS: em infecções maciças, estão em lesões hepáticas e pulmonares, no fígado, quando são encontradas numerosas formas larvares migrando pelo parênquima, podem haver pequenos focos hemorrágicos e de necrose que tornam-se fibrosados, nos pulmões, há pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos. A migração das larvas pelos alvéolos pulmonares, dependendo do número de formas presentes, pode determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispnéia e eosinofilia,edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofílico, manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia, na tosse produtiva, o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto - comum em crianças, associadas ao estado nutricional e imunitário. VERMES ADULTOS: nas infecções médias, 30-40 vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes, podemos encontrar as seguintes alterações: Vermes adultos e formas larvares já foram encontrados no ouvido médio, narinas e trompa de Eustáquio. Diagnóstico CLÍNICO: é pouco sintomática, sendo a gravidade determinada pelo número de vermes que infectam cada pessoa, como o parasito não se multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectados é a fonte responsável pelo acúmulo de vermes adultos no intestino. LABORATORIAL: pesquisa de ovos nas fezes, como as fêmeas eliminam milhares de ovos por dia bastando a técnica de sedimentação espontânea - o método de Kato modificado permite a quantificação dos ovos e estima o grau de parasitismo dos portadores, deve-se ressaltar que em infecções exclusivamente com vermes fêmeas, os ovos expelidos serão inférteis, já em infecções só com vermes machos o exame de fezes será negativo. Tratamento A OMS recomenda 4 drogas (albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato de pirantel) para tratamento e controle de helmintos transmitidos pelo solo - podem ser usados por lactantes e grávidas, após o 1o trimestre de gravidez, em dose oral única. albendazol: benzimidazol com amplo espectro antiparasitário, comprimidos de 200-400 mg ou suspensão oral de 100mg/5ml, a dose única de 400 mg é altamente eficaz contra ascaridíase (níveis de cura e de redução de ovos de até 100%), pode atuar através da ligação seletiva nas tubulinas inibindo a tubulina-polimerase, prevenindo a formação de microtúbulos e impedindo a divisão celular e a captação de glicose inibindo a formação de ATP. A droga é pouco absorvida pelo hospedeiro e sua ação anti-helmíntica ocorre no trato gastrointestinal, a fração absorvida é metabolizada no fígado em ≃ 9 horas, depois é excretada com a bile pelos rins. mebendazol: benzimidazol com ampla e efetiva atividade anti-helmíntica, comprimidos de 100-500 mg ou suspensão oral de 100mg/5ml, a dose única de 500 mg mostrou alta efetividade contra ascaridíase e outras parasitoses intestinais, tem absorção pequena, aumentada pela ingestão de alimentos gordurosos, é metabolizada no fígado e sua excreção pode ser pela bile e urina - a maior parte é encontrada inalterada nas fezes - tem níveis de cura entre 93,8%-100% e taxas de redução de ovos de 97,9-99,5%. O tratamento com benzimidazóis em crianças com < 2 anos é crucial, já que quando as infecções helmínticas se estabelecem em crianças de até 24 meses causam danos para o desenvolvimento físico, mental e o crescimento saudável da criança, o uso de benzimidazóis em crianças < 2 anos indica benefícios à saúde, e os riscos são minimizados com a correta administração da droga. Outras drogas utilizadas são: levamisol: isômero levógiro do tetramisol, comprimidos de 40 mg em dose única de 2,5 mg/kg, inibe os receptores de acetilcolina, causando contração espásmica seguida de paralisia muscular e eliminação dos vermes, é absorvida pelo trato gastrointestinal, alcançando picos de concentração plasmática em 2 horas, metabolizada no fígado e eliminada pela urina. pamoato de pirantel: derivada de pirimidina, comprimidos de 250 mg em dose única oral de 10 mg/kg, é pouco absorvida pelo TGI, uma pequena fração é metabolizada no fígado e eliminada pela urina, os níveis de cura varia de 81-100% e taxas de redução de ovos entre 82-100%. ivermectina: potente lactona macrolítica semisintética, em dose única de 0,1-0,2 mg/kg, que atua na indução do fluxo de Cl- que atravessam a membrana, fazendo uma disruptura nervosa na transmissão de sinais, resultando na paralisia do parasita e sua eliminação, é absorvida pelo sangue e níveis máximos são alcançados em 4 horas e é excretada nas fezes. Quando há complicações como oclusão e suboclusão, é recomendado manter o paciente em jejum e administrar pela sonda nasogástrica hexahidrato de piperazina e 50 ml de óleo mineral, caso não haja resolução recomenda-se cirurgia. Epidemiologia LAYANE SILVA grande quantidade de ovos produzidos e eliminados pela fêmea; viabilidade do ovo infectante por até 1 ano, principalmente no peridomicílio, em decorrência do hábito das crianças de aí defecarem; concentração de indivíduos em condições precárias de saneamento básico; temperatura e umidade elevadas; dispersão fácil dos ovos; conceitos equivocados sobre a transmissão da doença e hábitos de higiene da população. A A. lumbricoides é o helminto mais frequente nos países pobres, sua prevalência é de ≃ 30% (1,5 bilhão de pessoas), distribuído por > 150 locais, atinge ≃ 70-90% das crianças de 1-10 anos, a maior parte das infecções ocorre na Ásia (73%), África (12%) e América Latina (8%), a prevalência é baixa em regiões áridas, sendo relativamente alta onde o clima é úmido e quente, ideal para a sobrevivência e o embrionamento dos ovos. As áreas desprovidas de saneamento com alta densidade populacional contribuem para o aumento da carga parasitária, a infecção humana por A. lumbricoides está relacionada com a interação de diversas características que asseguram o processo de transmissão, como: O contato entre crianças portadoras e suscetíveis no peridomicílio ou escola, aliado às brincadeiras relacionadas com o solo e o hábito de levarem a mão suja à boca, aumentam a prevalência da faixa etária de 1-12 anos, nos adultos, ocorre devido à mudança de hábitos higiênicos e/ou porque se infectaram quando crianças, desenvolvendo imunidade. A infecção está associada a fatores sociais, econômicos e culturais que proporcionam condições favoráveis à sua expansão, sobretudo onde os fatores ambientais são apropriados, como o crescimento desordenado da população, em áreas desprovidas de saneamento básico, baixo poder econômico, educacional e hábitos pouco higiênicos. Essas precárias condições ambientais, decorrentes da insalubridade das habitações coletivas e de favelas, são potencialmente favoráveis para o aumento das infecções por helmintos, o que contribui para maior intensidade de transmissão inclusive em áreas pois pois foram encontrados ovos em amostras de água, solo e alimentos contaminados por fezes de portadores deste parasito. As migrações humanas são responsáveis pela introdução e disseminação do agente etiológico em áreas indenes. Controle repetidos tratamentos em massa em áreas endêmicas com drogas ovicidas; tratamento das fezes humanas que possam ser utilizadas como fertilizantes; saneamento básico; educação para a saúde. educação em saúde; construir redes de esgoto, com tratamento e/ou fossas sépticas; tratar a população com drogas ovicidas por 3 anos consecutivos; proteger os alimentos de insetos e poeira. A principal rota de transmissão dos helmintos intestinais é o contato físico, no ambiente, com as fezes contaminadas, a maioria dos tratamentos em habitante de áreas sem saneamento básico tem efeito de curto prazo e os ganhos obtidos são superados pelas reinfecções, que podem levar a altas cargas parasitárias. São medidas importantes para controle: Cerca de 27 milhões de ovos são encontrados no útero de uma fêmea grávida, que, após o tratamento de habitantes de áreas não saneadas com drogas não ovicidas, são expelidas com as fezes e muitos ovos férteis são liberados para o ambiente, mantendo altos níveis de infecção em áreas urbanas com higiene precária e alta concentração populacional apesar de tratamentos regulares. O saneamento é essencial para a manutenção a longo prazo do controle das helmintoses, a educação em saúde provoca também a redução da prevalência em 265 e intensidade de infecção do A. lumbricoides, e, junto ao tratamento, há redução de 42-75% na prevalência e na intensidade da infecção de 73-85%, em especial para crianças, nas quais a doença apresenta: alta prevalência, alta porcentagem de resistência ao tratamento,altas taxas de eliminação de ovos e altos níveis de reinfecção. As medidas para o controle de helmintose intestinais são:
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