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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 Parasitologia Humana SP 3.4: SÓ A BAILARINA QUE NÃO TEM . 1) RELACIONAR FATORES SOCIOAMBIENTAIS COM AS VERMINOSES; As parasitoses intestinais representam um fator preocupante para a saúde pública no Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, sendo amplamente distribuídas. Estima-se que cerca de 3,5 bilhões de pessoas sofram dessa condição mundialmente. No Brasil, milhões de habitantes são acometidos por alguma espécie, muitas dessas pessoas na maioria das vezes encontram-se ou vivem em locais de risco social, com condições de vida insalubres. Por certo, quando as crianças são parasitadas, necessitam de uma maior atenção, principalmente aquelas em que a carência alimentar e hábitos familiares de cuidado pessoal deficiente estão associados. As crianças são as mais acometidas, com consequências importantes, como deficiência nutricional, logo que algumas espécies espoliam elementos essenciais ao crescimento e maturação celular, ocasionando um prejuízo no crescimento e desenvolvimento. Dentre os fatores de risco social em que o indivíduo está conectado, pode-se considerar que a falta de saneamento básico, características socioeconômicas, educacionais, consumo de água sem tratamento e a contaminação de alimentos estão associado a diversas causas de infecção, principalmente as enteroparasitoses. As parasitoses intestinais no Brasil acometem principalmente a população de baixa renda, sem acesso ao saneamento básico, à assistência médica e às informações adequadas sobre medidas profiláticas. Tal situação é comum em todas as cidades brasileiras, sendo mais notável nos bairros periféricos e cidades distantes dos polos industriais. Mas elas, tem relação estreita com o nível educacional e cuidado em saúde, sendo considerada uma infecção democrática e restrita a um público com deficiências em acessar bens básicos, tanto de saúde, como de saneamento. As hortaliças e água não tratada, representam importantes meios de transmissão de enteroparasitoses, uma vez que helmintos e protozoários podem estar presentes nas mesmas, por meio de material fecal de origem humana, ou ainda contaminação do solo por uso de adubo orgânico com dejetos fecais. 2) ESTUDAR A EPIDEMIOLOGIA DAS PRINCIPAIS PARASITOSES; A prevalência de enteroparositoses em crianças no Brasil é elevada, sendo os problemas sociais enfrentados pelas pessoas de baixa renda, como colaboradores na propagação de enfermidades. O estímulo de práticas de prevenção e autocuidado, em ambiente doméstico e escolar, são uteis para que a quantidade de casos de enteroparasitoses seja atenuada. Essa temática necessita de maior atenção principalmente nos centros com pouca visibilidade e em localidades periféricas da sociedade onde as condições de vida são degradantes. As políticas públicas de saúde devem ser inseridas e desfrutadas pela comunidade desassistida nesses locais no intuito de diminuir os números de hospitalizações por causas evitáveis. A região que detém maior percentual dessas internações causadas por helmintos é o Nordeste com um total de 160 (38%) hospitalizações, seguido pelo Sudeste 121 (29%), Norte 67 (16%), Sul 60 (14%), e Centro Oeste 15 (3%). Certamente um dos fatores para essa quantidade de hospitalizações nas regiões nordeste e sudeste, está ligado ao saneamento básico e consumo de água tratada, inexistente ou ineficaz em determinadas pontos. No Nordeste a cobertura de saneamento básico e água as residências é bem inferior, em analogia a região sul. O Brasil promove o acesso de água, ainda em uma realidade distante, locais periféricos ainda acessam com diversas dificuldades. Cerca de 35 milhões de brasileiros, não tem acesso a esse serviço, estando a maior parcela concentrada principalmente no norte e nordeste do país. Em relação ao saneamento básico a região Sudeste possui 77,4% de cobertura por redes de esgoto, enquanto as regiões Nordeste, Sul e Norte têm, respectivamente, 27%, 25,9% e 4% de cobertura. A água pode ser veículo para a transmissão de inúmeras doenças, pois, além de conter a presença de bactérias e dos vírus, a água serve também como vetor para inúmeros protozoários e vermes que podem provocar efeitos patológicos, não somente no ser humano, mas também em muitos animais. O risco de mortalidade por doenças diarreicas é maior entre as crianças menores de um ano, devendo- se evitar a desidratação e manter um aporte adequado de nutrientes que garantam uma recuperação mais rápida, recomendando o uso de soro caseiro e a procura por um serviço médico o mais precocemente possível, para ser adotada conduta adequada. Ascaris Lumbricoides O A. lumbricoides continua sendo o helminto mais frequente em regiões pobres com uma estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo. Distribuído por Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 mais de 150 países e territórios, atinge cerca de 70% a 90% das crianças na faixa etária de 1 a 10 anos. A ascaridíase é cosmopolita e a maior parte das infecções ocorre na Ásia (73% de prevalência), seguida pela África (12%) e pela América Latina (8%). Condições climáticas têm um importante papel nas taxas de infecção. Em geral, a prevalência é baixa em regiões áridas. Contudo é relativamente alta em locais de clima úmido e quente, condição ideal para a sobrevivência e o embrionamento dos ovos. Além disso, áreas desprovidas de saneamento com alta densidade populacional contribuem significativamente para o aumento da ascaridíase. A infecção humana por esta espécie de helminto está relacionada com a interação de diversas características que asseguram o processo de transmissão, como o parasito, o hospedeiro, o meio ambiente e a falta de noções ou condições de higiene. Ancylostomatidae – Ancylostoma duodenale e Necator americanos N. americanus é a espécie da família Ancylostomatidae predominante no mundo, exceto em algumas localidades onde a endemicidade do A. duodenale é focal. As principais regiões endêmicas para N. americanus incluem o sul e sudoeste da China, sul da índia, sudeste Asiático, África subsaariana e Américas Central e do Sul. A infecção por N. americanus ocorre em países de clima tropical, principalmente nas regiões costeiras. A. duodenale é predominante em regiões de clima temperado a frio e, diferentemente de N. americanus, sua sobrevivência em regiões mais frias é devida à sua capacidade de dormência (hipobiose) em tecidos do hospedeiro em períodos de seca ou frio. Infecções por A. duodenale foram descritas nas latitudes mais altas da China e da índia, no Egito, no nordeste da Austrália e em algumas localidades da América latina, incluindo El Salvador, Honduras, Argentina, Paraguai, Peru e Brasil, e a existência de infecções mistas (N. americanus e A. duodenale) pode ocorrer em algumas dessas localidades. Estim ativas recentes indicam que a ancilostomose acomete cerca de 440 milhões de pessoas distribuídas principalmente nas regiões dos trópicos e subtrópicos do mundo. Estrongiloidose O geo-helminto S. stercoralis infecta aproximadamente de 30 a 100 milhões de pessoas no mundo, podendo também infectar cães, gatos e macacos. O parasito do cão é morfobiologicamente indistinguível do humano. Observações epidemiológicas sugerem que cepas originárias do homem podem infectar os cães e vice-versa. Com o emprego da reação em cadeia da polimerase (PCR) demonstrou-se que S. stercoralis, isolados de pacientes de diferentes partes do mundo, apresentam padrões idênticos e podem ser diferenciados geneticamente dos isolados de cães. Muitos aspectos epidemiológicos da infecção por Strongyloides são pouco conhecidos: as taxas de prevalência que podem ser esperadasem diferentes setores da população, os aspectos zoonóticos e ambientais, variações geográficas, além da transmissão e da apresentação clínica, da imunidade do hospedeiro e dos fatores de risco para disseminação. A estrongiloidose tem distribuição mundial heterogênea, sendo a prevalência dividida em três categorias: esporádica (5%). Todas as áreas agrupadas como hiperendêmicas estão situadas nos trópicos; há áreas endêmicas subtropicais, mas também estão presente nos EUA, na Europa e na Ásia. Nos países desenvolvidos, a infecção prevalece em agricultores, hortigranjeiros, trabalhadores rurais, imigrantes e viajantes que visitaram áreas endêmicas. A prevalência de S. stercoralis é subestimada, sobretudo pela baixa sensibilidade dos métodos parasitológicos de diagnóstico empregados na rotina laboratorial e nos inquéritos epidemiológicos que não incluem os métodos específicos para pesquisa de larvas. No Brasil, um estudo, no período de 20 anos (1990 a 2009), utilizando métodos parasitológicos revelou 5,5% de prevalência de S. stercoralis, o que confirma hiperendemia no país. Revelou também que a ocorrência aumentou com a idade, sendo de 12,1% para os indivíduos com idade superior a 60 anos, e que nos indivíduos imunossuprimidos a positividade alcançou 11,8% por métodos parasitológicos e 19,5% pelos métodos imunológicos. No final de 2015 um estudo desenvolvido por nosso grupo de pesquisa demonstrou que o risco relativo de ocorrer estrongiloidose, foi 11 vezes maior em alcoolistas do que em não alcoolistas, com razão de possibilidades (odds ratio [OR]) de 13,24. Também demonstramos que pacientes com câncer gastrointestinal apresentaram 6,7 mais chances de ser positivos para estrongiloidose e que pacientes diabéticos apresentaram OR de 3,9 vezes. Uma revisão global realizada sobre fatores de risco relacionados com a estrongiloidose revelou que pacientes com HIV/AIDS apresentaram duas vezes maior risco em comparação com indivíduos sem o vírus. A infecção natural pelo S. stercoralis confirmada em cães, gatos e macacos que estão em contato com o Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 3 homem pode ser um importante reservatório da parasitose. Os fatores que influenciam o aparecimento, a manutenção e a propagação da estrongiloidose são: • fezes de homens ou animais infectados contaminando o solo; larvas infectantes originárias dos ciclos direto e de vida livre no solo; • solo arenoso ou arenoargiloso, úmido, com ausência de luz solar direta; • temperatura entre 25° e 30°C; • condições sanitárias inadequadas; • hábitos higiênicos inadequados; • contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes; • não utilização de calçados. 3) DESCREVER A FISIOPATOLOGIA DAS PARASITOS ES COM O CICLO PULMONAR (SINDROME DE LOEFFLER - ASCARIDIASE, ANCILOSTOMOSE, ESTRONGILOIDIASE E NECARTOR AMERICANOS); → Helmintos: São seres pluricelulares visíveis ao olho nu, que possuem sistemas nervoso e muscular rudimentares e se reproduzem por oviposição (depositam ovos no meio externo, que se transformam em larvas, maturadas até a forma adulta), ou de forma sexuada, por heterofecundação (machos e fêmeas) e auto-fecundação (hermafroditas).4 Os helmintos estão divididos em: 1. Platelmintos, vermes achatados, subdivididos em: • Trematódeos (vermes chatos, não segmentados): Schistosoma mansoni • Cestódeos (vermes chatos, segmentados em forma de fita): Taenias solium e saginata e Hymenolepis nana 2. Nematelmintos (vermes cilíndricos, não segmentados): • Ascaris lumbricoides; • Ancylostoma duodenale/ Necator americanos; • Enterobius vermicularis; • Strongyloides stercoralis; • Trichuris trichiura. Ascaris Lumbricoides O A. lumbricoides é um helminto encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com frequência variada em virtude das condições climáticas, ambientais e, principalmente, do grau de desenvolvimento socioeconômico da população. O estudo da morfologia deste parasito deve ser feito observando-se as fases evolutivas do seu ciclo biológico, isto é, o verme macho, a fêmea e o ovo. As formas adultas são longas, robustas, cilíndricas e apresentam as extremidades afiladas. O tamanho dos exemplares de A. lumbricoides está na dependência do número de parasitos encontrados no intestino delgado e do estado nutricional do hospedeiro. Assim, as dimensões dadas para machos e fêmeas referem-se a helmintos recolhidos de crianças com baixas cargas parasitárias e bem nutridas. → Machos Os vermes adultos apresentam cor leitosa e medem cerca de 20 a 30 centímetros de comprimento por 2 a 4 mm de largura. A boca, ou vestíbulo bucal, localizada na extremidade anterior, é contornada por três fortes lábios com serrilha de dentículos e sem interlábios. A boca, segue-se o esôfago musculoso e, logo após, o intestino retilíneo. O reto é encontrado próximo à extremidade posterior. Apresenta um testículo filiforme e enovelado, que se diferencia em canal deferente, continua pelo canal ejaculador, abrindose na cloaca, localizada próximo à extremidade posterior. Apresenta ainda dois espículos iguais que funcionam como órgãos acessórios da cópula. A extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral é o caráter sexual externo que o diferencia da fêmea. Notam-se, ainda na cauda, papilas pré e cloacais. → Fêmeas Medem cerca de 30 a 40 cm de comprimento por 3 a 6 mm de largura quando adultas, sendo mais robustas que os exemplares machos. A cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho. Apresentam dois ovários filiformes e enovelados que continuam como ovidutos, diferenciando em úteros que vão se unir em uma única vagina, que se exterioriza pela vulva, localizada no terço anterior do parasito. A extremidade posterior da fêmea é retilínea. → Ovos Originalmente são brancos e adquirem cor castanha devido ao contacto com as fezes. São grandes, medindo aproximadamente 50 x 60 pm, ovais e com cápsula espessa, em razão da m embrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 por mucopolissacarídeos. Essa membrana facilita a aderência dos ovos a superfícies propiciando sua disseminação. A esse envoltório seguem-se uma membrana média de constituição proteica e outra mais interna, delgada e impermeável à água, constituída de 25% de proteínas e 75% de lipídeolipídeos. Esta última camada confere ao ovo grande resistência às condições adversas do ambiente. Internamente, os ovos apresentam uma massa de células germinativas. Frequentemente podem-se encontrar nas fezes ovos inférteis. São mais alongados, possuem membrana mamilonada mais delgada e o citoplasma granuloso. Algumas vezes podem ser observados nas fezes ovos férteis sem a membrana mamilonada. → Hábitat Em infecções moderadas, os vermes adultos são encontrados no intestino delgado, principalmente no jejuno e no íleo, mas, em infecções intensas, ocupam toda a extensão do órgão. Podem ficar presos à mucosa, com auxílio dos lábios, ou migrarem pela luz intestinal. → Ciclo Biológico É do tipo monoxênico, isto é, possuem um único hospedeiro. Cada fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não embrionados, que chegam ao ambiente juntamente com as fezes. Os ovos férteis em presença de temperatura entre 25° a 30°C, umidade mínima de 70% e oxigênio em abundância tomam-se embrionados em 15 dias. A primeira larva (L1) formada dentro do ovo é do tipo rabditoide, isto é, possui o esôfago com duas dilatações, uma em cada extremidade e uma constrição no meio. Após uma semana, ainda dentro do ovo, essa larva sofre muda transformando-se em L2 e, em seguida, nova muda transformando-se em L3 infectante comesôfago tipicamente filarioide (esôfago retilíneo). Estas formas permanecem infectantes, dentro do ovo, no solo, por vários meses podendo ser ingeridas pelo hospedeiro. Após a ingestão, os ovos contendo a L3 atravessam todo o trato digestório e as larvas eclodem no intestino delgado. A eclosão ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro como a presença de agentes redutores, o pH, a temperatura, os sais e o mais importante, a concentração de CO2, cuja ausência inviabiliza a eclosão. As larvas, uma vez liberadas, atravessam a parede intestinal na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e na veia mesentérica superior atingindo o fígado entre 18 e 24 horas após a infecção. Em 2 a 3 dias chegam ao átrio direito pela veia cava inferior e 4 a 5 dias após são encontradas nos pulmões (ciclo de LOSS). Cerca de 8 dias da infecção, as larvas sofrem muda para L4, rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde mudam para L5. Sobem pela árvore brônquica e traqueia, chegando até a faringe. Podem então ser expelidas com a expectoração ou serem deglutidas, atravessando ilesas o estômago e fixando- se no intestino delgado. Transformam-se era adultos entre 20 a 30 dias após a infecção. Em 60 dias alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula e a ovipostura, quando são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de 1 a 2 anos. → Transmissão Ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo a larva L3. A literatura registra grande número de artigos que avaliam a contaminação das águas de córregos que são utilizadas para irrigação de hortas levando a contaminação de verduras com ovos viáveis. Poeira, aves e insetos (moscas e baratas) são capazes de veicular mecanicamente ovos de A. lumbricoides. Pesquisas demostraram que, além destes mecanismos, a transmissão pode ocorrer pela contaminação do depósito subungueal com ovos viáveis, principalmente em crianças, verificando se níveis de contaminação que variam de 20 a 52%. Ovos de A. lumbricoides têm grande capacidade de aderência a superfícies, o que representa um fator importante na transmissão da parasitose. Uma vez presente no ambiente ou em alimentos não são removidos com facilidade por lavagens. Por isto, o uso de substâncias que tenham capacidade de inviabilizar o desenvolvimento dos ovos em ambientes e alimentos é de grande importância para o controle da transmissão. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 A ação de 16 produtos detergentes e desinfetantes de uso doméstico e laboratorial foi observada e verificou-se a inibição completa do embrionamento dos ovos de A. lumbricoides por apenas um dos produtos em todos os tempos e diluições testadas. A resistência dos ovos de A. lumbricoides a vários agentes terapêuticos é outra característica importante na transmissão da doença. Testando a capacidade ovicida in vivo do levamisol, cambendazol, pamoato de pirantel, mebendazol, praziquantel e tiabendazol observou-se que somente o último medicamento foi efetivo na inibição completa do embrionamento dos ovos 48 horas após o tratamento. Já o tratamento com tiabendazol de indivíduos infectados confirmou a atividade ovicida intrauterina da droga, após eliminação dos vermes. Patogenia Deve ser estudada acompanhando-se o ciclo deste helminto, ou seja, as alterações produzidas pelas larvas e adultos. Em ambas as situações, a intensidade das alterações provocadas está diretamente relacionada com o número de formas presentes no hospedeiro. → Larvas: Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração. Por outro lado, infecções maciças podem determinar a ocorrência de lesões hepáticas e pulmonares. No fígado, quando são encontradas numerosas formas larvares migrando pelo parênquima, podem ser vistos pequenos focos hemorrágicos e de necrose que futuramente tomam-se fibrosados. Nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos. Há edemaciação dos alvéolos com infiltrado inflamatório por polimorfonucleares neutrófilos e eosinófilos. Dependendo do número de formas presentes, a migração das larvas pelos alvéolos pulmonares pode determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispneia, manifestações alérgicas, bronquite e eosinofilia. A conjunção de sintomatologia das vias respiratórias (sintomas alérgicos) é denominada síndrome de Lõeffler. Na tosse produtiva (com muco), o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto. Estas manifestações geralmente ocorrem em crianças e estão associadas ao estado nutricional e imunitário. Nessa fase da infecção a resposta imunológica é normalmente caracterizada pelo aumento de eosinófilos sanguíneos e teciduais, bem como anticorpos IgE específicos, responsáveis por reações de hipersensibilidade. → Vermes Adultos: Em infecções com três a quatro vermes, em geral não há alterações clínicas e os sintomas quando ocorrem são inespecíficos. Já nas infecções médias, 30 a 40 vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes, podem ocorrer: • Ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídeos e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, à subnutrição e depauperamento físico e mental. Estudos sobre enteroparasitoses e déficit nutricional em crianças hospitalizadas mostraram que as parasitoses foram as principais causas de internação. Quanto à condição clínica destas crianças, 28% apresentavam obstrução intestinal grave; 39,1%, semiobstrução e eliminação de A. lumbricoides, e 32,8%, diarreia. • Ação tóxica: a reação entre antígenos parasitários e os anticorpos alergizantes do hospedeiro causam edema, urticária e convulsões. • Ação mecânica: os vermes causam irritação na parede intestinal e podem enovelar-se na luz, levando à obstrução. Estudos realizados em sete países com diferentes níveis de prevalências de ascaridíase concluíram que a obstrução intestinal é a complicação aguda mais comum contabilizando três quartos de todas as complicações. As crianças são mais propensas, principalmente pelo menor tamanho do intestino delgado e pela intensa carga parasitária. • Localização ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra alguma ação irritativa, a exemplo de febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de Alimentos muito condimentados, o helminto desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não habituais. Aos vermes que fazem esta migração dá-se o nome de “áscaris errático”. A literatura registra um número de situações ectópicas que podem levar o paciente a quadros graves necessitando algumas vezes de intervenção cirúrgica: • apêndice cecal causando apendicite aguda; • duto colédoco, causando obstrução; • duto pancreático, causando pancreatite aguda; • eliminação do verme pela boca e pelas narinas. Além destes locais, já foram encontrados vermes adultos e formas larvares no ouvido médio e na tuba auditiva. É muito comum entre crianças o aparecimento de uma alteração cutânea, que consiste em manchas circulares disseminadas em rosto, tronco e braços. Tais manchas são popularmente denominadas de “pano”, e são comumente relacionadas com o parasitismo pelo A. lumbricoides. Na realidade não existe nenhuma Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 comprovação científica deste fato, mas algumas observações sugerem uma analogia entre estas manchas e ascaridíase. Parece que seriam causadas pelo parasito que consume grande quantidade de vitaminas A e C, provocando despigmentações circunscritas. Após a terapêutica e a eliminação do verme, as manchas tendem a desaparecer. Ancylostomatidae – Ancylostoma duodenale e Necator americanosA família Ancylostomatidae apresenta diversas espécies de nematódeos hematófagos de grande importância médica cujo parasitismo pelo verme adulto causa a ancilostomose. Das centenas de espécies pertencentes à esta família, arenas três são agentes etiológicos da ancilostomose humana: Ancylostoma duodenale, Necator americanus e A. ceylanicum. A família Ancylostomatidae pertence ao filo Nematoda e classe Chromadorea. Sua principal característica morfológica é a presença de cápsula bucal, uma projeção da cutícula na região anterior do verme adulto. Apresenta divisão em várias subfamílias, sendo duas de importância médica: Ancylostominae, cujas espécies apresentam dentes na cápsula bucal (A. duodenale e A. ceylanicum) e Bunostominae, que possuem lâminas cortantes na margem da boca (N. americanus). De maneira geral, o dimorfismo sexual é evidente pelo tamanho da fêmea (maior do que o macho) e pela presença de bolsa copuladora (projeção da cutícula na região posterior) bem desenvolvida nos machos. A ancilostomose é conhecida também por Amarelão ou doença do Jeca Tatu. → Necator americanus Os vermes adultos apresentam forma cilíndrica e cápsula bucal contendo duas lâminas ou placas cortantes semilunares subventrais e duas lâminas cortantes subdorsais. • Machos: Medem de 5 a 9 mm de comprimento por 300 pm de largura e possuem bolsa copuladora bem desenvolvida com dois espículos longos mas sem gubemáculo (presentes nas espécies de Ancylostomatinae). • Fêmeas: Medem de 9 a 11 mm de comprimento por 350 pm de largura e apresentam a extremidade anterior afilada, sem a presença de processo espiniform e (presente em Ancylostomatinae). → Ancylostoma duodenale Os vermes adultos apresentam dois pares de dentes ventrais na margem interna da boca e duas lancetas subentrais no fundo da boca. • Machos: Medem 8 a 11 mm de comprimento por 400 pm de largura, com bolsa copuladora bem desenvolvida apresentando dois espículos longos e gubernáculo bem evidente. • Fêmeas: Medem 10 a 18 mm de comprimento por 600 pm de largura, vulva no terço posterior do corpo, cauda afilada com pequeno processo espiniforme terminal. O A. ceylanicum possui morfologia e tamanho semelhantes ao A. duodenale mas com presença de dois pares de dentes na cápsula bucal. Cada par é formado por um dente grande e um dentículo. → Ciclo Biológico Os ancilostomatídeos apresentam um ciclo biológico direto, sem a necessidade de hospedeiros intermediários. Ovos liberados nas fezes do hospedeiro darão origem aos dois primeiros estádios larvais (L1 e L2), com esôfago rabditoide e, posteriormente, ocorrerá a muda para a forma de vida infectante, com esôfago filarioide, que é a larva de terceiro estádio (L3). As L3 apesar de livre movimentação, já não se alimentam e apresentam dupla cutícula (durante a muda entre L2 e L3, há preservação da cutícula externa e formação de uma nova cutícula interna). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 As condições de oxigenação, temperatura e umidade do ambiente favorecem o desenvolvimento dos ovos até a formação das larvas de terceiro estádio. Em ambientes de boa oxigenação (p. ex., terrenos arenosos), umidade (superior a 90%) e temperatura (27-32°C para N. americanus e 21-27°C para Ancylostoma spp.) o embrionamento e a eclosão da L1 ocorrem em 12 a 24 horas, a muda de L1 para L2 em 3 a 4 dias e, a muda para L3, após 5 dias. O homem adquire a infecção pela penetração na pele (N. americanus, A. duodenale e A. ceylanicum) ou pela ingestão (A. duodenale e A. ceylanicum) da larva de terceiro estádio. A possibilidade do parasitismo após a ingestão por L3 de N. americanus é relatada pela invasão do epitélio bucal. Ao entrar em contato com o ser humano, as larvas são estimuladas por sinais térmicos e químicos derivados do hospedeiro e continuam o seu desenvolvimento a partir da expressão gênica diferenciada que culmina na produção de produtos de secreção e excreção (majoritariamente constituído por enzimas) que, junto com a movimentação (contração e extensão) da larva, auxiliam na penetração de tecidos do hospedeiro. O processo de penetração dura cerca de 30 minutos e as L3, após liberação da cutícula externa no meio externo, migram pela circulação sanguínea ou linfática até alcançar os pulmões. Em seguida atravessam os capilares do pulmão para a luz dos alvéolos pulmonares, onde ascendem para os bronquíolos, brônquios e traqueia, auxiliadas pela movimentação de cílios da árvore brônquica e pelo carreamento em muco e produtos de secreção do hospedeiro. Nos pulmões, estimuladas pela alta oxigenação, ocorre a mudança para o estádio de L4, que apresenta uma cápsula bucal provisória. Ao atingir a laringe, as L4 podem ser expectoradas ou deglutidas. Neste caso, as larvas entram no trato gastrointestinal e migram até chegar ao intestino delgado. No intestino delgado, as L4 já exercem a hematofagia e, transcorridos 15 dias da infecção, mudam para formas adultas jovens, que darão origem a vermes adultos sexualmente maduros em mais alguns dias. Após a reprodução sexuada entre casais, as fêmeas depositam ovos na luz intestinal que são liberados ao meio exterior junto com as fezes. A hematofagia e a consequente perda de sangue do hospedeiro ocorre antes da produção de ovos e continua por toda a vida do parasito. Ancilostomatídeos podem viver por anos no intestino humano (3-10 anos para N. americanus e 1-3 anos para A. duodenale e A. ceylanicum). O período pré-patente para N. americanus é de 42 a 60 dias; de 35 a 60 dias para A. duodenale e de 21 a 35 dias para A. ceylanicum. Parasitos da subfamília Ancylostomatinae podem infectar o homem por via oral, pela ingestão de L3 em alimentos ou água contaminada. Nesta via de infecção, as L3 deglutidas perdem a cutícula no estômago e migram para o intestino delgado (região do duodeno), onde penetram na mucosa intestinal e mudam para L4. As L4, após emergirem na luz intestinal e iniciarem a hematofagia, mudam para adultos jovens e, posteriormente, para adultos sexualmente maduros. O período pré-patente para infecção por via oral é menor, de 30 dias para N. americanus e A. duodenale e de 15 dias para A. ceylanicum. → Patogenia e Manifestações Clínicas Após a penetração das L3 pela pele, o primeiro sintoma é o aparecimento imediato de erupções papulovesiculares pruriginosas eritematosas. A gravidade das erupções pode variar de acordo com a infecção primária ou reinfecção, desde o aparecimento de simples pápulas eritematosas até o surgimento de pápulas vesiculadas, com edema generalizado e inchaço de linfonodos locais. Os sinais e sintomas sequenciais são decorrentes da migração larval inicial, geralmente observados pela tosse, inflamação na garganta e febre, ou pela presença do parasito no pulmão, que pode desencadear febre transiente em 2 a 4 semanas após a infecção. Durante a migração no trato respiratório, sinais e sintomas incluindo coriza, faringite, laringite, sensação de obstrução da garganta e dor ao falar e deglutir foram descritas na ancilostomose. Já na migração no trato gastrointestinal, é relatada dor epigástrica relacionada com a presença das L3 e, em razão da presença e do desenvolvimento do verme adulto, podem ocorrer diminuição do apetite, indigestão, cólicas, náuseas, vômitos, flatulência e diarreia e, em casos mais graves, ulceração intestinal e colecistite. Após o estabelecimento no hábitat final, a laceração da mucosa e da submucosa pelos aparatos bucais Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 cortantes dos vermes adultos, acompanhados por sucção e secreção de enzimas hidrolíticas e agentes anticoagulantes, resultam em uma intensa perda de sangue intestinal. As principais manifestações clínicasda ancilostomose são consequentes da perda crônica de sangue, acarretando em anemia por deficiência de ferro e hipoalbuminemia. A anemia microcítica e hipocrômica e a eosinofilia coincidem com o estabelecimento dos vermes adultos no intestino e são proeminentes durante a infecção. A hipoalbuminemia estaria associada à diminuição da capacidade de síntese da albumina no fígado, à perda de plasma durante a hematofagia e à desnutrição do hospedeiro. Indivíduos com baixa carga parasitária (de acordo com a Organização Mundial de Saúde, infecções com carga entre 1 e 1.999 ovos por grama de fezes) são usualmente assintomáticos, infecções moderadas (entre 2.000 e 3.999 ovos por grama de fezes) e altas (carga parasitária acima de 4.000 ovos por grama de fezes) resultam em dores epigástricas recorrentes, náusea, dispneia, palpitações, dores no esterno e juntas, dor de cabeça, fadiga e impotência. Alguns indivíduos podem desenvolver a alotriofagia (também conhecida por síndrome de Pica) que consiste em um apetite compulsivo por substâncias não nutritivas ou não alimentares como solo, argila, tijolos ou areia. Finalmente, anemia e subnutrição podem afetar a produtividade e a capacidade de trabalho de indivíduos doentes, com potencial perda de função assalariada e aumento do desequilíbrio social. → Imunologia Muito do entendimento atual acerca da resposta imune na ancilostomose humana é baseada na observação a partir da infecção experimental em humanos ou da infecção natural em indivíduos residentes em áreas endêmicas. Apesar da diferença de carga parasitária e curso clínico quando comparado com a infecção experimental da natural, uma intensa resposta Th2 com a produção de IgE total e específica bem como elevados níveis de eosinofilia, IL-5, IL-10 e TNF são observados comumente durante a ancilostomose. Durante a infecção natural por ancilostomatídeos, ocorre a produção de anticorpos específicos (IgA, IgD, IgE, IgG e IgM) a antígenos brutos do parasito, parcialmente associados à resistência à reinfecção e à eliminação do parasito. Durante o estabelecimento do parasitismo, diversas moléculas liberadas pelo parasito são responsáveis pela modulação da resposta imune, culminando na apoptose de linfócitos T e B, proliferação e atividade específica de células T reguladoras, anergia de linfócitos T e redução da apresentação de antígenos por células dendríticas. Além disso, algumas proteases produzidas pelo parasito atuam na clivagem de quimiocinas e anticorpos, reduzindo a proteção mesmo diante de uma resposta imunológica previamente formada. De forma geral, a infecção por ancilostomatídeos reduz a capacidade do hospedeiro em montar uma resposta imune eficiente para eliminar o parasito. Por outro lado, a intensa regulação da resposta imune desencadeada por produtos do parasito tem sido estudada na modulação de doenças de curso crônico ou inflamatórias. Indivíduos portadores de doença celíaca e de doença de Crohn, quando infectados por carga controlada de L3 de N. americanus apresentaram remissão das respectivas doenças, representando uma potencial aplicação de produtos parasitários no controle de doenças inflamatórias ou de doenças autoimunes. Estrongiloidose A estrongiloidose é uma importante parasitose emergente e relevante causa de morbidade e mortalidade em áreas tropicais e subtropicais, principalmente em indivíduos imunossuprimidos. Apresenta a particularidade de desenvolver um ciclo de autoinfecção interna contribuindo para a severidade desta helmintíase. Morfologia → Fêmea Partenogenética Parasito: Possui corpo cilíndrico com aspecto filiforme longo, extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Mede 1,7 a 2,5 mm de comprimento por 0,03 a 0,04 mm de largura. Apresenta cutícula fina e transparente, levemente estriada no sentido transversal em toda a extensão do corpo. Aparelho digestivo simples com boca contendo três lábios; esôfago longo, ocupando 25% do comprimento do parasito, tipo filarioide ou filariforme, cilíndrico, que, à altura do quinto anterior, é circundado por um anel nervoso também Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 denominado colar esofágico; seguido pelo intestino simples, terminando em ânus, próximo da extremidade posterior. O aparelho genital, com útero em disposição anfidelfa ou divergente, apresenta ovários, ovidutos e a vulva, localizada no terço posterior do corpo. Os ovos são alinhados em diferentes estádios de desenvolvimento embrionário, no máximo até nove em cada ramo uterino, o anterior e o posterior. Não há receptáculo seminal. A fêmea, que pode viver até cinco anos, produz 30 a 40 ovos por dia, via partenogênese, ou seja, não há machos, durante a vida parasitária. Também é ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado; a larva rabditoide, frequentemente libertada ainda no interior do hospedeiro, toma-se a forma evolutiva de fundamental importância no diagnóstico. → Fêmea de Vida Livre ou Estercoral: Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Mede 0,8 a 1,2 mm de comprimento por 0,05 a 0,07 mm de largura. Apresenta cutícula fina e transparente, com finas estriações. Aparelho digestivo simples, com boca contendo três lábios; o esôfago, que é curto, tem aspecto rabditoide, pois apresenta-se dividido em três porções sendo uma anterior, cilíndrica e alongada (corpo), uma intermediária estreitada (istmo) e uma posterior globulosa (bulbo), o anel nervoso contorna a parte estreitada um pouco adiante do bulbo; o intestino é simples e de difícil observação devido à presença dos órgãos genitais; terminando em ânus. Aparelho genital e constituído de útero anfidelfo, contendo até 28 ovos, ovários, ovidutos e a vulva situada próxima ao meio do corpo. Apresenta receptáculo seminal. → Macho de Vida Livre: Seu aspecto é fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente. Mede cerca de 0,7 mm de comprimento por 0,04 mm de largura Boca com três lábios, esôfago tipo rabditoide, seguido de intestino terminando em cloaca. Aparelho genital contendo testículos, vesícula seminal, canal deferente e canal ejaculador, que se abre na cloaca. Apresenta dois pequenos espículos, auxiliares na cópula, que se deslocam sustentados por uma estrutura quitinizada denominada gubemáculo. → Ovos: São elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos dos ancilostomídeos. Os originários da fêmea parasito medem 0,05mm de comprimento por 0.03 mm de largura e os da fêmea de vida livre são maiores medindo 0,07 mm de comprimento por 0,04 mm de largura. Excepcionalmente, os ovos podem ser observados nas fezes de indivíduos com diarreia grave ou após utilização de laxantes. → Larvas Rabditoides: O esôfago, do tipo rabditoide, dá origem ao nome das larvas. As originárias das fêmeas parasitos são praticamente indistinguíveis das originadas das fêmeas de vida livre. Apresentam cutícula fina e hialina. Medem 0,2 a 0,3 mm de comprimento por 0,015 mm de largura. Apresentam vestíbulo bucal curto, cuja profundidade é sempre inferior ao diâmetro da larva, característica que a diferencia das larvas rabditoides de ancilostomídeos em que o vestíbulo bucal é alongado e sua profundidade é igual ao diâmetro do corpo (10 p.m). O intestino termina em ânus, afastado da extremidade posterior. Apresentam primórdio genital nítido formado por um conjunto de células localizadas um pouco abaixo do meio do corpo. Essa característica também auxilia na diferenciação das larvas de ancilostomídeos que apresentam somente vestígio de primórdio genital. Terminam em cauda pontiaguda. Visualizada a fresco, as larvas se mostram muito ágeis, com movimentos ondulatórios. As larvas L1 ou L2originadas da fêmea parasito atingem o meio externo, sendo encontradas de uma a 25 larvas por grama de fezes. Nas formas disseminadas são encontradas na bile, no escarro, na urina ou nos líquidos duodenal e pleural e liquor. → Larvas Filarioides: O esôfago, do tipo filarioide, dá origem ao nome das larvas. Este é longo correspondendo à metade do comprimento da larva. Cutícula fina e hialina. Medem de 0,35 a J.50 mm de comprimento por 0,01 a 0,03 mm de largura. Apresenta vestíbulo bucal curto e intestino terminando em ânus, um pouco distante da extremidade posterior. A porção anterior é ligeiramente afilada e a posterior afina-se gradualmente terminando em duas pontas, conhecida como cauda entalhada, que a diferencia da larva filarioide de ancilostomídeos, que é pontiaguda. Há dois tipos de larvas L3 - a larva infectante derivada dos ciclos direto ou indireto, vistas no meio ambiente e capaz, portanto, de penetrar a pele ou mucosas; e a L3 autoinfectante (L3a) que evolui no interior do hospedeiro, ocasionando os casos de autoinfecção interna. Biologia → Hábitat: As fêmeas partenogenéticas em seu hábitat normal localizam-se na parede do intestino, mergulhadas nas Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 10 criptas da mucosa duodenal, principalmente nas glândulas de Lieberkühn e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. Nas formas graves, são encontradas da porção pilórica do estômago até o intestino grosso. → Ciclo Biológico: Strongyloides apresenta uma complexa biologia com três ciclos de vida distintos: o ciclo direto, ou partenocenetico, e o indireto, sexuado ou de vida livre, ambos monoxênicos. As fêmeas parasitos podem produzir, simultaneamente, três tipos de ovos, dando origem a três tipos de larvas rabditoides: 1) larvas rabditoides que se diferenciam em larvas filarioides infectantes, completando o ciclo direto; 2) larvas rabditoides que originam as fêmeas de vida livre; e 3) larvas rabditoides que evoluem para macho de vida livre, em que as duas últimas completam um ciclo indireto. A fase dos ciclos que se passa no solo exige condições semelhantes às dos ancilostomídeos: solo arenoso, umidade alta, temperatura entre 25° e 30°C e ausência de luz solar direta. No ciclo direto as larvas rabditoides no solo ou sobre a pele da região perianal, após 24 a 72 horas, transformamse em larvas filarioides infectantes. No ciclo indireto as larvas rabditoides produzem fêmeas ou machos de vida livre. Ocorre somente um ciclo de vida livre, pois os ovos originados do acasalamento das formas adultas de vida livre uma vez que as larvas rabditoides originadas evoluem para larvas filarioides infectantes. As larvas filarioides não se alimentam e graças à ausência de bainha, são menos resistentes que as larvas filarioides dos ancilostomídeos, podendo permanecer no solo durante quatro semanas. Os ciclos direto e indireto se completam pela penetração ativa das larvas L3 na pele ou em mucosas oral, esofágica ou gástrica do hospedeiro. Essas larvas secretam metaloproteases, que as auxiliam, tanto na penetração quanto na migração através dos tecidos, que ocorre em uma velocidade de 10 cm/h. Algumas morrem no local, mas o ciclo continua pelas larvas que alcançam as circulações venosa e linfática e através desses vasos seguem para o coração e os pulmões. Chegam aos capilares pulmonares, onde se transformam em L4, atravessam a membrana alveolar e, por meio de migração pela árvore brônquica, chegam à faringe. Podem ser expelidas pela expectoração ou deglutidas, chegando ao intestino delgado, onde se transformam em fêmeas partenogenéticas que depositam poucos ovos por dia na mucosa intestinal. Nesse local, as larvas rabditoides maturam, alcançam a luz intestinal e são eliminadas com as fezes do paciente, constituindo a forma diagnostica visualizada em microscopia óptica. O período pré-patente, isto é, o tempo decorrido desde a penetração da larva filarioide na pele até que ela se tome adulta e comece a eliminar ovos larvados e eclosão das larvas no intestino, é de aproximadamente 15 a 25 dias. Transmissão → Hetero ou Primoinfecção: Larvas filarioides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele (não tendo preferência por um ou outro ponto do tegumento) ou, ocasionalmente, pelas mucosas, principalmente da boca e do esôfago. Em condições naturais, a infecção percutânea realiza-se de modo idêntico à dos ancilostomídeos. Nas pessoas que não usam calçados, a penetração ocorre pela pele dos pés, particularmente nos espaços interdigitais, e lateralmente, uma vez que a superfície plantar muito espessa pode constituir uma barreira. Esse modo de transmissão parece ser o mais frequente. → Autoinfecção Externa ou Exógena: Larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarioides infectantes e aí penetram, completando o Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 11 ciclo direto. Esse modo de infecção pode ocorrer em crianças, idosos ou pacientes internados que defecam na fralda, ou na roupa ou ainda em indivíduos que, por deficiência de higiene, deixam permanecer restos de fezes em pelos perianais. → Autoinfecção Interna ou Endógena: Larvas rabditoides, ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, transformam-se em larvas filarioides, que penetram a mucosa intestinal (íleo ou cólon). Esse mecanismo pode cronificar a doença por vários meses ou anos. Em casos raros, nesse tipo de autoinfecção, podem ser encontradas fêmeas partenogenéticas nos pulmões. Essa modalidade pode ocorrer em indivíduos com estrongiloidose e constipação intestinal devido ao retardamento da eliminação do material fecal. Em pacientes com ou sem retardo de eliminação das fezes, mas com baixa de imunidade (uso de substâncias imunossupressoras, radioterapia, indivíduos imunodeprimidos por neoplasias, transplantes, síndrome nefrótica, portadores do vírus da imunodeficiência humana [HIV], síndrome da imunodeficiência adquirida [AIDS], infecção pelo vírus linfotrópico T humano I [HTLV-I], tuberculose, gravidez, desnutrição proteico-calórica, alcoolismo crônico e idade avançada), pode ocorrer a autoinfecção interna com presença de L1, L2 e L3 em diferentes órgãos. A autoinfecção interna pode acelerar-se, provocando a elevação do número de parasitos no intestino e nos pulmões (localizações próprias das larvas), fenômeno conhecido como hiperinfecção; ou disseminar-se por vários órgãos do paciente, condição conhecida como forma disseminada. Ambas são consideradas formas graves, potencialmente fatais, em indivíduos imunodeprimidos. As associações mais comuns da hiperinfecção são aquelas induzidas farmacologicamente (corticosteroides) sobretudo por tratamento de doença autoimune, alergia ou doenças inflamatórias e no tratamento para prevenir rejeição de órgãos transplantados, sendo que os sinais e os sintomas da estrongiloidose grave surgem perto dos 20 dias após o início do uso dos corticosteroides e persistem por muitos anos mesmo sem a continuação de seu uso. A utilização intravenosa do quimioterápico vincristina para tratamento de neoplasia tem sido associada à grave estrongiloidose quando o paciente está também sob o uso de corticosteroides. Contudo, somente poucos casos de estrongiloidose disseminada têm sido relatados em pacientes com AIDS, sendo a hiperinfecção a forma mais frequente e realmente fatal, possivelmente pela associação do tratamento com corticosteroides, em decorrência de outras doenças concomitantes, com a maioria dos casos diagnosticados post-mortem. → Imunidade: A interação entre S. stercoralis e o hospedeiro humano é complexa graças à sua capacidade intrínseca de reprodução, existindo em indivíduos infectadostrês possibilidades de evolução: a erradicação da infecção, a cronicidade decorrente da autoinfecção e a possibilidade de hiperinfecção ou disseminação. Esses fatores dependem do sistema imune do hospedeiro e da capacidade de evasão do parasito. Larvas L3 autoinfectantes (L3a) foram descritas somente nas infecções por S. stercoralis e a imunidade, em humanos, não é protetora contra a larva autoinfectante. As espécies que infectam roedores (S. ratti e S. venezuelensis não possuem o estádio autoinfectante. A defesa local mediada por mastócitos pode ser responsável pelo controle da intensidade da infecção, tanto diretamente, pela capacidade dessas células de lesar os parasitos, quanto indiretamente, pela desgranulação de substâncias que atraem e ativam os eosinófilos. A longa permanência do parasito no hospedeiro humano (cronicidade) e a contínua passagem de larvas fílarioides através dos tecidos resultam em incessante exposição sistêmica aos antígenos parasitários. Ocorre um equilíbrio entre o parasito e o sistema imune do hospedeiro e a infecção raramente causa doença clínica visível. A maioria dos indivíduos desenvolve anticorpos das classes IgG, IgA, IgM e IgE específicos. Os anticorpos IgG, predominantemente IgG1 e IgG4, são os mais frequentemente detectados, positivam a partir da segunda semana pós-infecção, permanecendo por longo tempo, após a cura terapêutica. Sabe-se que existe um balanço entre a presença de IgE e IgG4 com demonstração de níveis elevados de IgE em pacientes imunocompetentes com estrongiloidose, indicando proteção. Na doença disseminada e nos casos de imunossupressão, os níveis de IgE total e específica podem estar dentro da normalidade, enquanto níveis elevados de IgG4 ocorrem em casos graves da doença. O ciclo do parasito sugere também que ele pode estimular as respostas local e sistêmica mediadas por anticorpos IgA. O mecanismo efetor da IgA está relacionado com a modulação da eliminação das larvas pelo decréscimo da fecundidade da fêmea e da viabilidade dos ovos. A IgA pode ser detectada no soro, na saliva ou no leite materno. Crianças de áreas endêmicas podem adquirir anticorpos IgA e IgG específicos para S. stercoralis pelo leite materno. O Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 12 pico de IgM sérica ocorre na primeira semana pós- infecção, mantendo-se por duas a três semanas. O estudo da concentração local das imunoglobulinas intestinais em biópsias do intestino delgado e reação de imunofluorescência direta de indivíduos sem imunodeficiência prévia demonstrou diminuição significativa da concentração de IgA nos pacientes sintomáticos graves. Observou-se também diminuição da concentração de IgM nos assintomáticos, sintomáticos leves e graves, não havendo alterações da concentração de IgG nos três grupos. No homem, a imunidade para L3 infectante não é protetora contra L3a, sugerindo que esta apresenta diferente padrão de reconhecimento antigênico. Em camundongos foi demonstrado que a imunidade à larva L3 é dependente de complemento, eosinófilos e IgM; se um desses componentes estiver ausente, a imunidade protetora ficará comprometida. Foi demonstrado in vitro que antígenos de larvas fílarioides de S. stercoralis ativam o sistema complemento (vias clássica e alternativa), possibilitando a aderência de monócitos do sangue periférico e de células polimorfonucleares à superfície dessas larvas, lisando-as. Observa-se que a eosinofilia está presente na maioria dos pacientes imunocompetentes e a eosinopenia tem sido relatada como mau prognóstico, porém não está claro se a disseminação das larvas aumenta a demanda de eosinófilos até um esgotamento ou se a própria eosinopenia favorece a disseminação. As células T, da resposta protetora, são predominantemente do tipo Th2 e essa resposta é essencial para prevenir formas de hiperinfecção ou disseminação. Tais células secretam citocinas, como as interleucinas (IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13). A estimulação de basófilos é função das IL-3 e IL-4. IL-4 também desempenha um papel na adesão e migração de eosinófilos através das membranas vasculares; IL-4 e IL-13 estimulam células B para produzir anticorpos IgE e IgG l, promovem também o aumento da contração da musculatura lisa, induzindo trânsito intestinal mais rápido e a diminuição delas propicia a transformação das larvas rabditoides em filarioides e, consequentemente, autoinfecção; IL-5 é essencial para diferenciação, ativação e proliferação de eosinófilos, os quais estão envolvidos na morte do helminto, e também indução e produção de IgA; IL-6 é responsável pela estimulação de granulócitos e de células B e T; e IL-10 juntam ente com IL-13 modulam negativamente a ativação de células T hl. Desse modo, as células T respondem aos antígenos (secretados, excretados e de superfície) do parasito e estes são danificados por anticorpos e produtos dos mastócitos sensibilizados por IgE, que desgranulam após contato com o antígeno, liberando histamina, que, por sua vez, aumenta a permeabilidade do epitélio intestinal. Entretanto, esses processos não são suficientes para eliminar os helmintos. No mecanismo T-independente, moléculas pró-inflamatórias inespecíficas, secretadas por macrófagos, incluindo o fator de necrose tumoral alfa (TN F-a) e IL-1, contribuem para a proliferação das células caliciformes e provocam aumento na secreção de muco, que reveste os parasitos facilitando a sua expulsão. IL-12 e IL-18 (citocinas produzidas primariamente por macrófagos e outras células acessórias) induzem a produção de interferon gama (IFN-y) que favorece a proliferação e a ativação de células Th1, modulando ou inibindo a resposta imune protetora dependente de Th2. As infecções graves têm sido associadas à imunossupressão, como ocorre em linfomas, leucemias agudas ou crônicas, carcinomas metastáticos, síndrome nefrótica, glomerulonefrite crônica, subnutrição (deficiências proteico-calóricas graus II e III), alcoolismo crônico, tuberculose, diabetes melito, transplante renal, HIV, AIDS, HTLV-1, uso de corticosteroides ou de outros imunossupressores. Sabe-se que os corticosteroides e seus metabólitos exercem efeito estimulatório direto sobre as larvas intraintestinais acelerando sua conversão (rabditoide em filarioide), e favorecendo a autoinfecção, ou ainda um efeito sobre a fêmea parasito, levando ao aumento da oviposição. Há relatos de hiperinfecção por S. stercoralis em pacientes com artrite reumatoide após terapêutica com anti-TNF-a. Patogenia, Patologia e Sintomatologia A apresentação da infecção é determinada pela interação entre o parasito e o hospedeiro, uma vez que o tempo de sobrevida de S. stercoralis no hospedeiro infectado pode se dar por diversos mecanismos de evasão da resposta imune, alguns dos quais dependentes das propriedades da superfície externa do parasito. Assim, a identificação e a caracterização de proteínas de superfície de L3, obtidas por análise proteômicas, tomam-se essenciais para este entendimento. Indivíduos portadores de pequena quantidade de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos, mas isso não significa ausência de ação patogênica e de lesões. Formas graves, às vezes fatais, relacionam-se com fatores extrínsecos, principalmente pela carga parasitária adquirida e com fatores intrínsecos (subalimentação com carência de proteínas provocando enterite; diarreia e vômito facilitando os mecanismos de autoinfecção; alcoolismo Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 13 crônico, infecções parasitárias e bacterianas associadas; comprometimento da resposta imunitária natural ou adquirida, intervenções cirúrgicas gastroduodenais e outras cirurgias que utilizam anestesia geral, poisfacilitam a estase broncopulmonar). As principais alterações na estrongiloidose são devidas a ações mecânica, traumática, irritativa, tóxica e antigênica decorrente não apenas das fêmeas partenogenéticas, mas também das larvas e dos ovos. Essas ações podem ser estudadas acompanhando as suas localizações no hospedeiro humano. → Cutânea: Em geral é discreta, ocorrendo nos pontos de penetração das larvas infectantes, tanto na pele como nas mucosas, com reação celular apenas em tomo das larvas mortas que não conseguiram alcançar o sistema circulatório. Nos casos de reinfecção, há reação de hipersensibilidade com formação de edema, eritema, prurido, pápulas hemorrágicas e urticárias. Como consequência da disseminação das larvas, observa-se migração única ou múltipla das larvas filarioides no tecido subcutâneo determinando um aspecto linear ou serpiginoso urticariforme com prurido, lesão caracterizada como larva currens, que ocorre mais frequentemente no tronco, nádegas, perineo, virilha e coxas, avançando de 5 a 15 cm/h. → Pulmonar: Apresenta intensidade variável, porém presente em todos os indivíduos infectados, caracterizada por tosse, com ou sem expectoração, febre, dispneia e crises asmatiformes decorrentes das larvas filarioides e, ocasionalmente, de fêmeas, que aí podem alcançar a maturidade, produzindo ovos e larvas rabditoides. A travessia das larvas do interior dos capilares para os alvéolos provoca hemorragia, infiltrado inflamatório constituído de linfócitos e eosinófilos, que podem ser limitados, ou em casos mais graves, provocar broncopneumonia, síndrome de Loeffler, edema pulmonar e insuficiência respiratória. → Intestinal: As fêmeas, com a finalidade de se fixar ou se alimentar, localizam-se principalmente na mucosa do duodeno e jejuno, limitando-se à zona glandular, raramente ultrapassando a muscularis mucosae, onde são aprisionadas pelas células epitelioides e depois removidas pelos leucócitos polimorfonucleares. Fêmeas partenogenéticas, ovos e larvas no intestino delgado ou ocasionalmente no intestino grosso podem determinar, em ordem crescente de gravidade: (1) enterite catarral: os parasitos são visualizados nas criptas glandulares e ocorre uma reação inflamatória leve, caracterizada pelo acúmulo de células que secretam mucina e, portanto, acompanhada por aumento de secreção mucoide, com caráter reversível. (2) enterite edematosa: os parasitos são visualizados em todas as túnicas da parede intestinal e ocorre reação inflamatória com edema de submucosa e desaparecimento do relevo mucoso, caracterizado por síndrome de má absorção intestinal; considerado de certa gravidade, porém de caráter reversível. (3) enterite ulcerosa: os parasitos em grande quantidade provocam inflamação com eosinofilia intensa; ulcerações, com invasão bacteriana, que durante a evolução serão substituídas por tecido fibrótico determinando rigidez da mucosa intestinal. Essa lesão é irreversível e considerada grave uma vez que a fibrose pode provocar alterações no peristaltismo, ocasionando íleo paralítico. Os sintomas mais comuns vão desde dor epigástrica antes das refeições, que melhora com a alimentação e piora com o excesso; diarreia em surtos; náusea e vômito, até síndrome disentérica com esteatorreia, seguida de desidratação, que pode levar a choque hipovolêmico, se associada a vômito, emagrecimento e acentuado comprometimento do estado geral do doente, muitas vezes fatal. → Disseminada: Observada em pacientes infectados e imunocomprometidos pelas situações citadas ou por megacólon, diverticulite, íleo paralítico, uso de antidiarreicos e constipação intestinal, que favorecem a autoinfecção com grande produção de larvas rabditoides e filarioides no intestino, às quais alcançam a circulação e se disseminam para múltiplos órgãos. Inúmeras larvas completam o ciclo, entretanto, além do intestino e dos pulmões, são encontradas nos rins na urina acompanhadas de hematúria e proteinúria), fígado nos espaços porta, causando padrões obstrutivos com elevação de bilirrubina e enzimas hepáticas) vesícula biliar com quadro semelhante à colecistite), coração (no líquido cericárdico), cérebro (no liquor, nos vasos das meninges e nos espaços cerebrais), pâncreas, ovários, tireóide, adrenais, nróstata, glândulas mamárias, linfonodos. Esse quadro rode complicar-se com infecções bacterianas secundárias bacteremia, peritonite, endocardite, meningite culminando com sepse de Gram negativos, preferencialmente por Escherichia coli, Enterococcus faecalis e Klebsiella pneumoniae), uma vez que bactérias intestinais poderiam ser transportadas pelas larvas para a circulação ou por ulcerações da mucosa Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 14 intestinal que permitiriam que as enterobactérias penetrassem a circulação. Ocorrem dor abdominal, vômito, diarreia intensa, pneumonia hemorrágica, broncopneumonia bacteriana, insuficiência respiratória, culminando em óbito. Além dos sintomas já descritos, o paciente com esrongiloidose crônica pode apresentar anemia (hipocrômica com redução da taxa de hemoglobina e número de glóbulos), eosinofilia, sudorese, incontinência urinária, palpitações, tontura, alterações no eletrocardiograma, astenia, irritabilidade, depressão, insônia e emagrecimento ou manifestações incomuns, como ascite, perfuração intestinal e artrite. Nos casos graves são relatadas perda de proteínas, hipoalbuminemia e lipopotassemia. As alterações sanguíneas na estrongiloidose (anemia e eosinofilia) são semelhantes às demais helmintoses intestinais, apresentando-se discretas nas infecções leves, porém com características peculiares nas formas graves por hiperinfecção ou disseminação. 4) DESCREVER DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS PARASITOSES DE CICLO PULMONAR; Ascaris Lumbricoides → Diagnóstico Clínico: Usualmente a ascaridiose humana é pouco sintomática, por isto mesmo difícil de ser diagnosticada em exame clínico, sendo a gravidade da doença determinada pelo número de vermes que infectam cada pessoa. Como o parasito não multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectados é a única fonte responsável pelo acúmulo de vermes adultos no intestino do hospedeiro. → Diagnóstico Laboratorial: O diagnóstico da ascaridiose é feito pela identificação de ovos nas fezes. Em fases precoces da infecção, ou seja, quando as larvas estão passando pelo pulmão, o exame de rezes é negativo. Portanto os primeiros ovos só aparecem nas fezes cerca de 40 dias após a contaminação do paciente. Como as fêmeas eliminam diariamente milhares de ovos por dia, não há necessidade, nos exames de rotina, de metodologia específica ou métodos de enriquecimento, bastando a metodologia de sedimentação espontânea. O método de Kato modificado por Katz é recomendado pela Organização Mundial de Saúde para inquéritos epidemiológicos. Esta técnica permite a quantificação dos ovos e consequentemente estima o grau de parasitismo dos portadores, compara dados entre várias áreas trabalhadas e demonstra maior rigor no controle de cura. Deve-se ressaltar que em infecções exclusivamente com vermes fêmeas, todos os ovos expelidos serão inférteis, enquanto em infecções somente com vermes machos o exame de fezes será consistentemente negativo. → Tratamento: Atualmente a Organização Mundial de Saúde recomenda o albendazol e o mebendazol para o tratamento e o controle de geo-helmintos. Albendazol. É um componente dos benzimidazois com um amplo espectro antiparasitário. O medicamento é encontrado sob a forma de comprimidos de 200 e 400 mg, e de suspensão oral de 100 mg/5 mL. A dose única de 400 mg é altamente eficaz contra o Ascaris, mostrando níveis de cura e de redução de ovos de até 100%. Estefármaco pode atuar de duas maneiras: pela ligação seletiva nas tubulinas inibindo a tubulina- polimerase, prevenindo a formação de microtúbulos e impedindo a divisão celular; e, ainda, impedindo a captação de glicose inibindo a formação de ATP, que é usado como fonte de energia pelo verme. O albendazol é pouco absorvido pelo hospedeiro e sua ação anti- helmíntica ocorre diretamente no trato gastrointestinal. A fração absorvida é metabolizada no fígado, tendo uma vida média de aproximadamente 9 horas. Após este período é excretada com a bile pelos rins. Mebendazol. É outro derivado dos benzimidazois com ampla e efetiva atividade anti-helmíntica. E encontrado sob a forma de comprimidos de 100 e 500 mg e também em suspensão oral de 100 mg/5 mL. O mecanismo de ação do mebendazol é semelhante ao descrito para o albendazol. A dose única de 500 mg mostrou alta efetividade contra o Ascaris e outras helmintoses intestinais. A absorção do medicamento é pequena, mas pode ser aumentada pela ingestão de alimentos gordurosos. É metabolizada predominantemente no fígado e sua excreção pode ocorrer pela bile e pela urina. Usualmente a maior parte do medicamento é encontrada inalterada nas fezes, o que explica sua excelente atividade contra os Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 15 helmintos intestinais. O tratamento com mebendazol alcança níveis de cura entre 93,8 a 100% e taxas de redução de ovos de 97,9 a 99,5%. Ivermectina: é uma potente lactona macrolítica semissintética com boa eficácia contra o A. lumbricoides e outras infecções por nematódeos. E administrada em dose única de 0,1 a 0,2 mg/kg. Sua atuação está baseada na indução do fluxo de íons-cloro que atravessam a membrana, fazendo uma disruptura nervosa na transmissão de sinais, resultando na paralisia do parasito e sua posterior eliminação. O medicamento é absorvido pelo sangue e níveis máximos são alcançados 4 horas após a sua administração. E inteiramente excretada com as fezes. Os medicamentos são eficientes contra vermes adultos, não havendo ação contra as larvas. Por isso, após 3 meses do tratamento, o paciente deve fazer novamente o exame de fezes para o controle de cura. No tratamento da ascaridíase quando há complicações como oclusão e suboclusão pelos vermes adultos recomenda-se manter o paciente em jejum e com o uso de sonda nasogástrica administrar hexa- hidrato de piperazina (100 mg/kg) e 50 mL de óleo mineral. A piperazina causa paralisia flácida nos vermes por meio da ação sobre os canais de cloro dependente do ácido gama-aminobutírico (GAMA). Caso não haja resolução do processo oclusivo é recomendada a intervenção cirúrgica. Ancylostomatidae – Ancylostoma duodenale e Necator americanos → Diagnóstico: O diagnóstico clínico da ancilostomose é baseado na anamnese associada aos sintomas cutâneos, pulmonares e intestinais, acompanhados ou não de anemia e eosinofilia. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo exame coproparasitológico, utilizando métodos qualitativos ou quantitativos (para avaliação de carga parasitária do hospedeiro). O diagnóstico diferencial para determinar a infecção por N. americanus ou Ancylostoma sp. pode ser realizado pela coprocultura (método de Harada e Mori). Algumas características morfológicas permitem também a diferenciação entre larvas de Ancylostomatidae e de Strongyloides stercoralis. Métodos imunológicos (ELISA, hemaglutinação, reação de fixação de complemento etc.) apresentam eficácia diagnostica limitada uma vez que não diferenciam infecção presente de passada. Métodos moleculares (PCR em fezes) têm sido aplicados em inquéritos epidemiológicos e desenvolvidos para futura aplicação em rotina. Uma vantagem do método é a possibilidade de diagnóstico de múltiplas infecções (incluindo todas as helmintoses e protozooses intestinais) de forma específica. → Tratamento: O primeiro programa de controle com base no tratamento em massa (aplicação de vermífugo em ampla escala nas áreas endêmicas) para a eliminação da ancilostomose foi conduzido sob a supervisão da Fundação Rockefeller no início do século XX nos Estados Unidos e, posteriormente, na região da América latina e no Caribe. O programa incluía não apenas o tratamento médico mas apresentava um foco importante na educação sobre a doença e sobre a importância do uso apropriado de toaletes. O tratamento com anti-helmínticos é considerado um processo simples e pode ser realizado com uma dose única de fármacos à base de benzimidazóis, independente do peso e da idade do paciente (400 mg de albendazol ou 500 mg de mebendazol). Devido à simplicidade do tratamento e seu baixo custo relativo, a Organização Mundial de Saúde recomenda o tratamento de crianças em idade escolar para o controle das geo-helmintoses, com expectativa de necessidade de tratamento em massa por 5-20 anos para o controle efetivo dessas infecções. Por outro lado, reinfecções ocorrem frequentemente e a eficácia da terapia usualmente diminui com o tempo. No Brasil, a administração de fármacos em massa, diferente do observado para infecções por Ascaris sp., não foi efetiva para o controle da ancilostomose pela constante reinfecção após o tratamento (geralmente ocorrendo 120 dias após o tratamento e a eliminação do parasito). Alcançando prevalência e intensidade de infecção similares ou maiores do que as observadas antes do tratamento. Programas de vermifugação em escolares podem ser particularmente eficientes para reduzir a transmissão de ancilostomatídeos pela alta intensidade de infecção em indivíduos adultos. Além disso, uma dose única de mebendazol geralmente não é eficaz para remover vermes do trato gastrointestinal do hospedeiro. A preocupação de possível resistência a fármacos anti- helmínticos, observado para infecções em ruminantes por nematódeos e a falta (ou disponibilidade limitada) de novos agentes anti-helmínticos resulta na busca de novas ferramentas complementares para o controle da infecção, como o desenvolvimento de vacinas. Estrongiloidose → Diagnóstico Clínico: O diagnóstico clínico é dificultado, uma vez que em aproximadamente 50% dos casos não há sintomas; quando existentes, são comuns em outras helmintíases intestinais. A tríade clássica de diarreia, dor abdominal e urticária é sugestiva. A eosinofilia e os achados radiográficos e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 16 sorológicos podem auxiliar na suspeita diagnostica. A infecção deve ser lembrada em situações de imunossupressão mencionadas anteriormente e investigada nos casos em que o paciente for submetido a tratamentos imunossupressores. Recomenda-se o diagnóstico diferencial com ancilostomose, ascaridíase, giardose, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite e eosinofilia pulmonar tropical. Em pacientes asmáticos, residentes nos trópicos, que não respondem à terapia convencional, devem-se realizar repetidos exames de fezes para pesquisa de S. stercoralis, uma vez que a reação de hipersensibilidade, em decorrência migração da larva, pode induzir ao broncoespasmo. O diagnóstico diferencial é difícil, requerendo vários métodos laboratoriais conforme indicado a seguir. → Diagnóstico Laboratorial: Os métodos parasitológicos ou diretos se fundamentam no achado das formas evolutivas de S. stercoralis. Entre os métodos indiretos, destacam-se os imunológicos, que podem ser utilizados como testes de screening, e quando positivos, realiza-se a pesquisa do parasito. Recentemente a tecnologia empregada em biologia molecular vem contribuir com novas ferramentas no diagnóstico da estrongiloidose. Os profissionais da saúde devem ser alertados para a importância da detecção precoce do parasito em viajantes, imigrantes e pacientes imunossuprimidos, com a finalidadede reduzir a morbidade e mortalidade. Métodos Parasitológicos ou Diretos. A confirmação parasitológica da infecção pode ser dificultada pelo pequeno número de parasitos, além de a liberação de larvas nas fezes ser mínima e irregular na infecção moderada (cerca de 25 larvas/g de fezes). Nessas circunstâncias, os métodos de rotina utilizados (Lutz ou Hoffmann, Pons e Janer, Ritchie ou formol-éter ou MIFC, Faust ou centrífugo-flutuação) não são adequados. É necessário lançar mão de métodos específicos para pesquisa de larvas que, mesmo analisando repetidas amostras de fezes ou de outros espécimes, apresentam baixa sensibilidade. Resultados parasitológicos negativos podem não indicar ausência de infecção. Exame de fezes. Realiza-se a pesquisa de larvas em fezes sem conservantes pelos métodos de Baermann- Moraes e de Rugai. Esses métodos se baseiam em hidro e termotropismo das larvas, necessitando de três a cinco amostras de fezes, coletadas em dias alternados, para confirmação da presença de larvas rabditoides. Ocasionalmente, podem ser visualizadas larvas filarioides em fezes envelhecidas ou em casos com ritmo intestinal lento; ou em fezes frescas de indivíduos hiperinfectados. A identificação morfológica correta das larvas é fundamental pela semelhança com ancilostomídeos. Demonstrou-se que uma única amostra de fezes falha em detectar larvas em até 70% dos casos. Repetidos exames de fezes aumentam a chance de encontrar os parasitos, elevando a sensibilidade para 50% com três amostras e aproximadamente para 100% com sete amostras fecais seriadas. Em fezes diarreicas, na vigência de hiperinfecção, podemse identificar larvas acompanhadas de ovos de S. stercoralis. Nas infecções por S. fuelleborni, cuja eclosão das larvas ocorre no solo, o diagnóstico parasitológico é confirmado pela presença de ovos nas fezes. Apresenta como vantagens a simples e rápida execução e como desvantagens a necessidade de fezes frescas e a possibilidade de contaminação do manipulador pela motilidade das larvas. Coprocultura. Método de Looss (carvão vegetal), método de Brumpt (papel de filtro em placa de Petri), método de Flarada e Mori (papel de filtro em tubos) e método de cultura em placa de ágar (fezes semeadas em ágar contendo extrato de carne, cloreto de sódio e peptona) podem ser utilizados. Os métodos de cultura têm como base o desenvolvimento do ciclo indireto do parasito, com possibilidade de visualização de diversas formas evolutivas, principalmente a caracterização da larva filarioide. A coprocultura é um método limitado pela demora na obtenção dos resultados (cinco a sete dias) e risco de infecção durante a manipulação de larvas infectantes. Mesmo diante dessas limitações, atualmente o método de cultura em placa de ágar alcança a mais elevada positividade quando são utilizadas três amostras de fezes e é considerado o método de escolha para o diagnóstico parasitológico da estrongiloidose. Pesquisa de larvas em secreções e outros líquidos orgânicos. A pesquisa das formas evolutivas por exame direto ou após centrifugação, conforme o quadro clínico: broncopulmonar - exame de escarro e lavado broncopulmonar; duodenal - coletado por tubagem; urina; líquido pleural; vômito; líquido ascítico e liquor. Endoscopia Digestiva. Visualização da mucosa gastrointestinal, recomendada em pacientes com infecção maciça e alterações duodenojejunais. Propicia a ampla visualização do aspecto da mucosa intestinal, que se apresenta principalmente edemaciada, com vilosidades esbranquiçadas e eritema, e possibilita a realização de biópsia em várias localizações. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 17 Biópsia e Análise Histopatológica. A biópsia ou o tecido removido durante cirurgia podem ser realizados em todo trato gastrointestinal. A visualização das diferentes formas evolutivas de Strongyloides ou é confirmada diretamente ou realizada após coloração pela hematoxilina-eosina. Necropsia. Possibilita o estudo de vários órgãos, às vezes, definindo a causa mortis. Esfregaços Citológicas. A partir de aspirado gástrico ou de secreção cervicovaginal, prepara-se esfregaços citológicos, corados por Papanicolaou ou por outras colorações citológicas. Métodos Indiretos. Auxiliam no diagnóstico, contribuindo para esclarecimento em casos de suspeita clínica. Hemograma. Mesmo na ausência de sintomas, a eosinofilia pode ser indicativo da parasitose. Na fase aguda, a taxa de eosinófilos pode ser elevada até 82%; entretanto diminui na fase crônica (8 a 15%) desaparecendo nos casos de evolução grave ou fatal. A eosinopenia está associada a mau prognóstico, uma vez que os eosinófilos desempenham pare importante na proteção à estrongiloidose fulminante. Após seis meses do tratamento específico, a contagem de eosinófilos volta a níveis normais (1 a 3%). Imagem. Radiografia de tórax, identificando a síndrome de Lõeffler, e de trato digestivo, demonstrando aceleração do trânsito intestinal, ou apagamento difuso do relevo mucoso duodenojejunal e imagem de tubo rígido nos casos graves mas não há nenhum sinal patognomonico, detectado na radiologia. Ultrassonografia e tomografia computadorizada também podem ser requisitadas. Métodos Imunológicos. Esses métodos são utilizados preferencialmente pari detecção de anticorpos, mas também na detecção de antígenos e de imunocomplexos, sendo úteis na avaliação da resposta imune do hospedeiro nos casos de forma: assintomáticas e no esclarecimento do diagnóstico clínico, além da possibilidade de emprego em inquéritos soroepidemiológicos por apresentarem elevada sensibilidade em relação aos métodos parasitológicos. A maior limitação encontrada na padronização dos testes é a dificuldade de se obter quantidades suficientes de larvas filarioides de S. stercoralis, situação vencida com sucesso pelo emprego de S. ratti, S. venezuelensis ou S. cebus como fontes alternativas de antígenos heterólogos. Outra limitação é o fenômeno de “reação cruzada” com outras parasitoses, principalmente esquistossomose e filariose e, dependendo do método, com ancilostomídeos. No decorrer dos anos têm sido desenvolvidos diferentes testes imunológicos: a intradermorreação, que sinaliza a resposta imune celular do hospedeiro, foi a reação pioneira. Embora não seja atualmente utilizada na rotina diagnostica, sua reintrodução é possível com o desenvolvimento de testes cutâneos empregando-se antígenos recombinantes. A resposta imune humoral é avaliada pela detecção de anticorpos IgG e subclasses (principalmente IgG4), IgA, IgM e IgE no soro, saliva, leite ou ocasionalmente em liquor. Vários métodos descritos, incluindo a aglutinação indireta em partículas de gelatina, hemaglutinação indireta, radioimunoensaio, radioimunoabsorção, reação de imunofluorescência direta em biópsias, imuno-histoquímica. As reações de imunofluorescência indireta são empregadas utilizando como antígeno larvas filarioides (homólogas ou heterólogas) em cortes de congelação ou em partículas. A saliva tem sido recomendada como fluido alternativo para detecção de anticorpos IgA pela técnica de imunofluorescência indireta graças a sua fácil aquisição e coleta não invasiva. Nos testes imunoenzimáticos ELISA, utilizam-se extratos salino e alcalino totais ou purificados (homólogos ou heterólogos) como antígenos e detecção de várias classes de imunoglobulinas. Nos testes de Western blot (WB) para detecção de IgG específica, pode-se utilizar extrato salino de S. stercoralis, visualizando-se principalmente as frações proteicas de 97, 66, 41, 31 e 28 kDa, ou empregar extratos salino ou alcalino de S. ratti ou de S. venezuelensis, totais ou purificados, útil como teste confirmatório na estrongiloidose humana, nos casos de sorologia discordante.
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