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PROCESSO CIVIL I 
 
NOÇÕES GERAIS 
 
Não é possível a vida em sociedade sem uma normatização do 
comportamento humano. Daí surgir o Direito como conjunto das normas gerais e 
positivas, disciplinadoras da vida social. 
Mas não basta traçar a norma de conduta. O equilíbrio e o 
desenvolvimento sociais só ocorrem se a observância das regras jurídicas for 
obrigatória. 
Assim, o Estado não apenas cuida de elaborar leis, mas também 
institui meios de imposição coativa das determinações expressas na norma. 
Por outro lado, diante da complexidade com que se travam as relações 
sociais, é impossível evitar conflitos de interesse entre os cidadãos, ou entre estes e o 
próprio Estado, a respeito da interpretação dos direitos subjetivos e da fiel aplicação do 
direito objetivo aos casos concretos. 
Para manter o império da ordem jurídica e assegurar a paz social, o 
Estado não tolera a justiça feita pelas próprias mãos dos interessados. Divide, pois, suas 
funções soberanas, de molde a atender a essa contingência, em atividades 
administrativas, legislativas e jurisdicionais. 
A função administrativa diz respeito à gestão ordinária dos serviços 
públicos e incumbe ao Poder Executivo. 
A legislativa consiste em traçar, abstrata e genericamente, as normas 
de conduta que formam o direito objetivo, e cabe ao Poder Legislativo. 
A terceira é a jurisdição, que incumbe ao Poder Judiciário, e que vem a 
ser a missão pacificadora do Estado, exercida diante de situações litigiosas. Através dela, 
o Estado dá soluções às lides ou litígios, que são os conflitos de interesses, 
caracterizados por pretensões resistidas, tendo como objetivo imediato a aplicação da 
lei ao caso concreto, e como missão mediata restabelecer a paz entre os particulares e, 
com isso, manter a da sociedade. 
Para cumprir com essa tarefa – solucionar as lides, aplicando a lei ao 
caso concreto para garantir a paz social – o Estado utiliza método próprio, que é o 
processo, que recebe denominação de civil, penal, trabalhista, administrativo, etc, 
conforme o ramo do direito material perante o qual se instaurou o conflito de interesses 
(lide). 
Para regular esse método de resolução de litígios, cria o Estado normas 
jurídicas que formam o direito processual, por servir de forma ou instrumento de 
atuação da vontade concreta das leis, que há de solucionar o conflito de interesses 
estabelecido entre as partes. 
 
DEFINIÇÃO 
 
Na essência, o direito processual é um só, porquanto a função 
jurisdicional é única, qualquer que seja o direito material debatido, sendo, por isso 
mesmo, comuns a todos os seus ramos os princípios fundamentais da jurisdição e do 
processo. 
Conveniências de ordem prática, no entanto, levam o legislador a 
agrupar as normas processuais em códigos ou leis especializadas, conforme a natureza 
das regras aplicáveis à solução dos conflitos, e daí surgem as divisões que individuam o 
direito processual civil, o direito processual penal, o direito processual do trabalho, etc. 
Diante disso, o Direito Processual Civil pode ser definido como o ramo 
da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da 
jurisdição civil. 
Contudo, não apenas as questões de direito civil são solucionadas 
através do processo civil, mas também as de direito comercial e até as de direito público 
não penal que não caibam a outros ramos especializados do direito processual. 
Funciona o direito processual civil, então, como principal instrumento 
do Estado para o exercício do Poder Jurisdicional. Nele se encontram as normas e os 
princípios básicos que subsidiam os diversos ramos do direito processual, como um 
todo, e sua aplicação faz-se, por exclusão, a todo e qualquer conflito não abrangido 
pelos demais processos, que podem ser considerados especiais, enquanto o civil seria o 
geral. 
 
HISTÓRIA DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
Desde o momento em que, em antigas eras, se chegou à conclusão de 
que não deviam os particulares fazer justiça pelas próprias mãos e que os seus conflitos 
deveriam ser submetidos a julgamento de autoridade pública, fez-se presente a 
necessidade de regulamentar a atividade da administração da Justiça. E, desde então, 
surgiram as normas jurídicas processuais. 
As primeiras normas se referiam apenas à aplicação das sanções 
penais e à composição dos litígios civis. Mas, com o tempo, a par da solução dos conflitos 
de interesses, foi-se confiando aos órgãos judiciários outras funções que correspondiam 
à tutela de interesses de pessoas desvalidas ou incapazes, como as interdições, 
curatelas, ausências, etc., e a fiscalização de certos atos, como a sucessão causa mortis. 
Após a queda do Império Romano, houve, além da dominação militar 
e política dos povos germânicos, a imposição de seus costumes e de seu direito. O 
processo bárbaro era acusatório e tinha início por acusação do autor, que se considerava 
ofendido. O ônus da prova cabia ao acusado. Nos julgamentos, considerava-se a 
intervenção divina, sem qualquer critério objetivo para apreciação das provas. 
No Brasil, após a independência, foram mantidas em vigor as normas 
portuguesas, no que não contrariasse a soberania brasileira. Em 1850, foi editado o 
Regulamento 737, que se destinava, a princípio, a regular o processamento das causas 
comerciais, e posteriormente foi estendido também aos feitos civis. 
Com a Constituição de 1891, permitiu-se a elaboração de códigos 
estaduais de Processo Civil, além do direito processual da União, elaborado em 1898. 
Em 1934, a nova Constituição Federal instituiu o processo unitário, 
atribuindo à União a competência para legislar a respeito. 
Foi instituída uma comissão para elaborar o Código Nacional de 
Processo Civil, que não conseguiu ultimar seu trabalho por divergências entre seus 
membros. 
Em 1940, entrou em vigor o Decreto Lei 1.608/39, oriundo de projeto 
elaborado por um dos membros da referida comissão. 
Contudo, o Código de 1939 apresentava várias falhas, o que acarretou 
a sua reforma, surgindo o Código de Processo Civil brasileiro em 1973. 
Para se evitar o número excessivo de emendas ao Código de 1973, foi 
editado o Novo Código Civil através da lei 13.105/2015 que entra em vigor em 
16/02/2016. 
 
FONTES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
As fontes do Direito Processual Civil são as mesmas do direito em 
geral, isto é, a lei e os costumes, como fontes imediatas, e a doutrina e a jurisprudência, 
como fontes mediatas. 
Em razão do caráter público do direito processual, é a lei, sem dúvida, 
sua principal fonte. 
Não obstante, não raros são os problemas que surgem no curso dos 
processos que não encontram solução direta na lei, mas que o juiz tem de resolver. Daí 
o recurso obrigatório aos costumes judiciais, à doutrina e à jurisprudência como 
remédios adequados à superação de tais impasses. 
 
LEI PROCESSUAL 
 
Lei processual civil é a que regula o processo civil. Não é apenas a que 
regula a forma, os modos e os termos do desenvolvimento da relação processual ou da 
tramitação do processo em juízo. Seu objeto compreende o complexo de tudo o que 
concerne ao exercício da jurisdição civil, de modo que nele se incluem: 
1) Regras de organização estática da jurisdição, como a distribuição de atribuições 
entre os componentes dos órgãos do judiciário e o horário de funcionamento 
dos serviços forenses; 
2) Regras sobre a forma e a dinâmica do exercício da ação em juízo (procedimento); 
3) Normas e princípios de interpretação e equacionamento da função jurisdicional 
e do exercício do direito de ação, como as condições e pressupostos processuais, 
a definição dos ônus e faculdades das partes no processo, etc. 
Assim, Lei Processual Civil é toda aquela que disciplina a função 
jurisdicional desenvolvida pelos juízes e tribunais, quando convocados pelos titulares de 
interesses jurídicos na esfera civil. 
O Código é lei geral que regula exaustivamente os procedimentosnele 
contidos. Exerce, também, a tarefa suplementar de preencher subsidiariamente as 
lacunas das leis extravagantes que regulam a tutela jurisdicional confiada a 
procedimentos e juízos especiais. 
Existem leis especiais regulando, entre outros, o procedimento da 
recuperação judicial e falência (Lei n. 11.101/2005), das desapropriações (Dec. Lei n. 
3.365/1941), dos mandados de segurança (Lei n. 12.016/2009). 
 
A LEI PROCESSUAL NO TEMPO 
 
Toda lei, como criação humana, é sujeita a um princípio e um fim, isto 
é, a um começo de vigência e a um momento de cessação de eficácia. 
As leis processuais não diferem das demais, subordinando-se às regras 
comuns da Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro. 
Assim, começam a vigorar após a publicação, respeitada a vacatio legis 
de 45 dias, se outro prazo não for estipulado. 
Não sendo temporária (casos em que o prazo de vigência consta da 
própria lei), os diplomas legais de natureza processual conservam-se em vigor até que 
outra lei a modifique ou revogue. 
A lei que se aplica em questões processuais é a que vigora no 
momento da prática do ato formal, e não a do tempo em que o ato material se deu. 
A lei processual respeita o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a 
coisa julgada. 
Quando a lei nova atinge um processo em andamento, nenhum efeito 
tem sobre os fatos ou atos ocorridos sob o império da lei revogada. Alcança o processo 
no estado em que se achava no momento de sua entrada em vigor, mas respeita os 
efeitos dos atos já praticados, que continuam regulados pela lei do tempo em que foram 
consumados. 
Em suma: as leis processuais são de efeito imediato frente aos feitos 
pendentes, mas não são retroativas, pois só os atos posteriores à sua entrada em vigor 
é que se regularão por seus preceitos. Tempus regit actum. 
 
A LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO 
 
É universalmente aceito o princípio da territorialidade das leis 
processuais, ou seja, o juiz apenas aplica ao processo a lei processual do local onde 
exerce a jurisdição. 
Somente com relação às provas, seus meios e ônus de produção, é que 
prevalecerá a lei estrangeira, quando o negócio jurídico tiver sido praticado fora do país, 
mesmo que a demanda seja ajuizada no Brasil. 
Embora prevaleça o sistema probatório do local em que se deu o fato, 
não se permite ao juiz brasileiro admitir provas que a lei brasileira desconheça (art. 13, 
LICC).

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