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1 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva O ESÔFAGO • Inicialmente, vamos fazer uma breve introdução sobre o esôfago, já que vamos estudar doenças relacionadas a ele. Precisamos destacar que o órgão com menos complicações e informações é o esôfago. Ele não produz hormônios nem grandes produções enzimáticas. • Serve basicamente para duas coisas: ✓ Levar comida da boca para o estomago ✓ Evitar que o conteúdo do estomago volte para a boca. SINTOMAS MÃES PARA DOENÇAS DO ESÔFAGO • Paciente com algum distúrbio do esôfago vai referir DISFAGIA e DISPEPSIA. DISFAGIA • É a dificuldade de deglutição. • Existem dois tipos: Disfagia de transferência: Dificuldade de deglutir no início do processo, ou seja, durante a mastigação. Portanto, o problema está no momento em que o bolo alimentar vai ser TRANSFERIDO. Por algum motivo, o arco reflexo que faz com que a língua vá para trás, a glote se feche, o EES se abra, entre outros processos, acaba sendo prejudicado, e com isso o paciente não consegue deglutir de forma adequada e refere ENGASGO. O que vai causar a disfagia de transferência são doenças da parte da neurologia (doenças da placa motora por exemplo, AVC, tumor cerebral). Disfagia de Condução: O conteúdo alimentar sofre dificuldade de passagem já no final do esôfago, portanto, durante a sua CONDUÇÃO para o estômago. Esse tipo de disfagia pode ocorrer por problema na peristalse ou por alguma obstrução. O paciente vai referir ENTALO. • Vale lembrar que existem tipos diferentes de músculo no decorrer desse órgão. ✓ No 1/3 superior: músculo estriado – não possui controle voluntario, porém é ligado ao SNC por arcos reflexos. Relacionado com a disfagia de transferência. ✓ No 2/3 distal: músculo liso – ligação com o SNA. Relacionado com a disfagia de condução. DISPEPSIA • Queimação • Ocorre uma produção de enzimas no estômago que acaba chegando na mucosa esofágica. Como ele não é preparado para receber esse tipo de substância, literalmente queima. • Existem dois tipos de dispepsia: Dispepsia do Esôfago: quando por alguma falha, o conteúdo gástrico passa para o esôfago. É o que chamamos de PIROSE (queimação retroesternal). Dispepsia do Estômago: acontece por causa de alguma bactéria ou alguma condição que diminui a barreira mecânica desse 2 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva órgão. É o que chamamos de AZIA (queimação epigástrica). • Por que existe essa queimação? Por causa do esfíncter esofagiano inferior (cárdia). Ele é um esfíncter muito problemático e o grande responsável pelas doenças do esôfago. TIPOS DE DISTÚRBIOS DO ESÔFAGO Distúrbios Motores: o motorzinho do esôfago não está funcionando. Estou falando da PERISTALSE. Ou ele vai ter peristalse de menos (Acalasia) ou de mais (Espasmo esofagiano difuso). Distúrbios Inflamatórios Distúrbios Neoplásicos INTRODUÇÃO À ACALASIA • Agora vamos começar a falar da nossa patologia propriamente dita, que é a acalasia. • É uma doença cirúrgica em que o termo “Acalasia” significa “sem relaxamento”. • Atinge principalmente o esfíncter distal do esôfago. Esse esfíncter serve para evitar refluxo do conteúdo gástrico e alimentar. • Como já vimos, na acalasia temos uma peristalse DE MENOS. EPIDEMIOLOGIA • Acalasia idiopática tem 8-14% das causas de disfagia (incidência de 8 em 100.000 pessoas/ano). • Onde existe doença de chagas essa é a principal causa. • Esofagopatia tem 8% com predominância de acalasia chagásica. ETIOPATOGENIA • A peristalse vem do SNA, que controla toda musculatura lisa. • Relembrando a anatomia, temos que o esôfago é constituído por camadas, sendo elas: mucosa, submucosa, muscular e adventícia (não esquece que ele NÃO possui serosa). • A camada da submucosa é revestida pelo plexo nervoso submucoso ou de Meissner. Controla o funcionamento das glândulas para secreção de substâncias. • E entre a camada muscular dos intestinos vai haver o plexo mioentérico ou de Auerbach. Grande responsável pela peristalse. • Quando o motor, que é a peristalse, não está funcionando, é devido a destruição do plexo mioentérico. CAUSAS • A acalasia pode ser primária ou secundária: Primária: doença que surgiu naquele próprio órgão. Na acalasia essa causa primária é IDIOPÁTICA. É a mais comum! Secundária: doença que surgiu em algum local e acometeu outro. Na acalasia, o responsável é a doença de Chagas, em que o protozoário acaba causando uma resposta inflamatória intensa que destrói o 3 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva plexo mioentérico. Isso causa a necrose de interneurônios responsáveis pelo relaxamento do EEI e lesão dos neurônios importantes para a peristalse do corpo esofagiano. • Resumindo, possui três causas básicas: ✓ Idiopática – não se sabe a causa ✓ Chagásica – no Brasil, é a principal causa. Já que é um país endêmico ✓ Traumática QUADRO CLÍNICO • Como já sabemos, o quadro clínico mais comum é DISFAGIA (de condução). O alimento passa pelo esôfago, chega ao estômago, o paciente sente que o alimento entala, porque ele ficou preso no tórax, e uma hora o alimento regurgita. • Vômito: precede náusea • Regurgitação: eliminação dos alimentos sem náusea. • Perda de peso: pois o paciente tem dificuldade para se alimentar e perde o prazer por comer. • Halitose: devido ao acúmulo dos restos bolo alimentar no esôfago. Obs: a disfagia do paciente com acalasia, em sua maioria, tem início com líquidos. Como há uma hipertonia do EEI, é necessário que uma pressão muito grande seja exercida para vencer a pressão do esfíncter e o alimento passe para o estômago. Concorda comigo que um sólido exerce pressão maior que o líquido? Então, é por isso que os pacientes com esse distúrbio relatam se alimentar com grandes quantidades de água. Dessa forma, conseguimos entender que isso facilita o processo da descida do bolo alimentar por meio do aumento de pressão que essa “mistura” causa para vencer a pressão do esfíncter. Diferentemente da disfagia de tumor. Como ele é progressivo, inicialmente o paciente relata disfagia por sólido, depois pastoso e depois líquido. Esse processo dura meses. Obs II: paciente idoso chega ao consultório/ambulatório referindo disfagia e perda de peso, qual a primeira coisa que você irá pensar? Em CÂNCER! Sim, em câncer. O quadro clínico é muito parecido com o da acalasia, mas primeiramente o que você vai investigar é o câncer. Depois de descartado, pensa-se em acalasia. Por isso o câncer de esôfago é um importante diagnóstico diferencial. DICA PARA MATAR QUESTÃO: tem como saber só por esses dados, se é acalasia ou câncer de esôfago? TEM. Se o paciente refere esse quadro clínico e fala que isso já perdura por um longo tempo (muitos anos), pensamos em acalasia. Mas se tudo isso for em um curto período de tempo (evolução em meses), apontamos para câncer. DIAGNÓSTICO • O exame para diagnóstico não é EDA! • Existe um exame que consegue avaliar a pressão (em determinados segmentos do esôfago) do esôfago, se a pressão não está variando como deveria, percebe-se alteração da peristalse. Ele se chama ESOFAGOMANOMETRIA. • O que consegue ver em um paciente com acalasia na esofagomanometria: ✓ Peristalse anormal ✓ Hipertonia do EEI ✓ Não relaxamento • Padrão ouro (para qualquer distúrbio de motilidade do esôfago). • Exame caro 4 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva • Podemos ver que em um paciente normal, sempre quando o alimentopassa em determinado segmento a pressão tende a aumentar. Quando o bolo chega no EEI, essa pressão que já é aumentada (do EEI) diminui, ocorrendo o relaxamento para que o alimento passe. • Já no paciente com acalasia, as pressões vão diminuindo cada vez mais, e quando chega no EEI, note que ele fica contraído além do normal (linha do gráfico perto de 80mmHg). • Outra forma de Manometria é essa colorida. • Em cima está o EES e embaixo o EEI. • O gráfico mostra o percurso do alimento nos segmentos do esôfago pelo tempo. • Cor é a pressão, quanto mais azul maior a pressão, quanto mais preto mais relaxado. EXAMES COMPLEMENTARES • EDA: importante fazer pois é o que vai descartar o câncer de esôfago. Podemos observar o esfíncter e diminuição do lúmen, bem como restos de alimentos. • Esofagografia Baritada: quando dou contraste ao paciente e vejo esôfago através do RX. ✓ É preciso fazer, pois esse exame estadia a acalasia, mostrando o quanto o esôfago está dilatado. ✓ Como o contraste é líquido, ele passa pelo esôfago e deve cair no estômago. Como há uma menor abertura para isso devido ao não relaxamento, acaba passando POUCA quantidade de contraste e é mostrado no exame. Conseguimos visualizar um sinal que é chamado BICO DE PÁSSARO ou CHAMA DE VELA. Obs: se for tumor de esôfago temos outro sinal, chamado SINAL DA MAÇA MORDIDA. CLASSIFICAÇÃO MASCARENHAS/REZENDE 5 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva • Classifica o esôfago em 4 graus: Grau I (forma anectásica): calibre < 4 cm, o esôfago apresenta dificuldade de esvaziamento. Calibre normal e PEQUENA retenção de contraste. - TT: Nitrato, Nifedipina/injeção de toxina botulínica (por endoscopia). Grau II (esôfago discinético): 4-7 cm, começa a apresentar bico do pássaro. Franca retenção do contraste (megaesôfago leve). - TT: Dilatação Pneumática por balão. Grau III (megaesôfago/francamente dilatado): 7-10 cm, esôfago francamente dilatado. Atividade motora reduzida e GRANDE retenção de contraste. - TT: Cardiomiotomia a Heller + associação de Fundoplicatura (para evitar refluxo). Grau IV (dolicomegaesôfago): >10 cm, mesmo resolvendo um problema lá embaixo precisa remover o esôfago. Ele fica tão grande que acaba “dobrando” e repousando sobre o diafragma. Fator de risco para CA de esôfago. - TT: Esofagectomia (retirar o esôfago). Sem linfadenectomia. TRATAMENTO • A acalasia é uma doença não curável. • Logo, os objetivos do TT são: 1. Alívio dos sintomas 2. Melhorar o esvaziamento esofágico 3. Prevenir o desenvolvimento de megaesôfago. DROGAS 1. Nitratos e Antagonistas dos canais de cálcio: • São medicações que relaxam musculatura lisa. • Nifedipina 10-20mg sublingual antes das refeições. Agem por 30 minutos • Nitratos: aumentam a concentração de oxido nítrico e reduzem a pressão do EEI dentro de 15 minutos e persistem até 90min. • Efeitos colaterais: cefaleias, tonteiras, edema de MMII. 2. Toxina botulínica: • A toxina tem ação de bloquear a acetilcolina, que é um peptídeo que fica na sinapse nervosa e ajuda a fazer a contração. Com a aplicação (através da EDA), vai haver o relaxamento da musculatura. • O grande problema é que só dura de 3-6 meses, então o paciente precisa sempre estar se submetendo a EDA. Há medida que vai usando, o corpo vai se acostumando e vai diminuindo seu efeito. • Injeta 100u nos quatro quadrantes do esfíncter. • A vantagem é que possui baixo risco de perfuração. 3. Dilatação pneumática da cárdia: • Utilizada no grau II. 6 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva • Entra com endoscopia, infla balão e dilata lá na região da cárdia. • O problema é que corre o risco de romper o esôfago e com isso o TT passa a ser cirúrgico. TRATAMENTO CIRÚRGICO • É feito a partir do Grau III Cardiomiotomia a Heller • Chega no esôfago e faz uma incisão na musculatura sem furar a mucosa (quando enxerga a submucosa “pulando para fora” para a incisão). Só corta a muscular e adventícia e deixa aberto sem dar o ponto. • O esfíncter é cortado sem cortar o esôfago. • Realizada por vídeo. • Geralmente a cardiomiotomia é combinada com a Fundoplicatura, ou seja com válvula de refluxo. Há medida que corta o esfíncter e “afrouxa”, acaba que regurgitando conteúdo gástrico, o que vai ocasionar refluxo no paciente. Obs: Miotomia endoscópica peroral (POEM) Nesse procedimento, realizado por EDA, é feita uma pequena incisão na mucosa esofágica (na parte superior) seguida da introdução de um instrumento que disseca a submucosa até chegar ao EEI, onde é feita a secção das fibras musculares circunferenciais “por dentro” da parede do órgão. Trata-se de um procedimento menos invasivo que a miotomia. Esofagectomia • É uma cirurgia de grande porte, pois como sabemos, o esôfago possui três partes: cervical, torácica e lombar. Logo, afeta grande parte do corpo. • Consiste em remover o esôfago e fazer uma anastomose do estômago com sua parte cervical. • A vantagem é que evita o câncer de esôfago como também trata. • Possui muitas complicações e alta morbidade. • O pós-operatório: Dieta mais pastosa, não exagerar. 15 dias com alimentação pastosa. Não precisa mais de medicamento. 7 Letícia Santos P6A Turma I – Clínica Cirúrgica I Prof. Dr. Icaro Daniel – Cirurgia Geral/Digestiva Resumindo: MELHOR tratamento e o que dura mais é a cardiomiotomia de Heller.
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