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Resumo - Lamoreaux, Naomi. O empreendedorismo nos Estados Unidos 1865-1920

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE ECONOMIA
Moisés Bernardo da Conceição
RESUMO DO TEXTO: “O EMPREENDEDORISMO NOS ESTADOS UNIDOS: 1865-1920" - NAOMI R. LAMOREAUX
NITERÓI-RJ
2019
O empreendedorismo nos Estados Unidos: 1865-1920
Um período de rápida expansão
Naomi R. Lamoreaux inicia o texto mostrando o grande crescimento econômico que os Estados Unidos vivenciou após a Guerra da Secessão. Foram 50 anos marcados por um rapidíssimo crescimento da economia estadunidense. O produto interno bruto do país multiplicou-se por mais de sete vezes entre os anos de 1965 e 1920. Diversos fatores contribuíram para que esse crescimento fosse possível, para a autora, o mais importante deles foi o melhoramento da rede nacional de transportes e comunicação. Os investimentos nesses setores estratégicos, por conseguinte, estimularam a inovação tecnológica e o empreendedorismo. Assim, os empreendedores passaram a explorar as áreas da indústria automobilística, metalúrgica, elétrica e química. Esse período, marcado por grandes avanços tecnológicos, ficou conhecido como a idade do ouro para os inventores e empreendedores. 
O status do empreendedor na sociedade americana
No fim do século XIX, os empreendedores eram as pessoas mais admiradas na sociedade estadunidense. Os americanos sabiam o nome dos grandes homens das indústrias e negócios e acompanhavam com atenção suas ações. Devoravam obras literárias que falavam de pessoas que enriqueceram e manuais de como ganhar dinheiro. O objetivo maior de grande parte dos jovens dos Estados Unidos naquele período era tornar-se um “self-made man”. Nessa época, as ideias do darwinismo social estavam em alta no país e segundo elas, os homens de negócios estavam em constante competição entre si e apenas os mais aptos alcançariam o sucesso. Os estadunidenses acreditavam também que a aptidão para o sucesso coincidia com os valores éticos do protestantismo, tais como: probidade, frugalidade e trabalho árduo. Logo, para eles, quem fracassasse nos negócios evidenciava grandes deficiências morais.
As instituições e o papel do governo depois da Guerra da Secessão
O governo federal dos Estados Unidos tinha ambiciosos planos de promover o desenvolvimento econômico do país, no entanto, devido a questões constitucionais e particularidades regionais, não obteve êxito. Já os governos estaduais, desde finais do século XVIII, estavam desempenhando um papel ativo na economia. Os Estados investiam sobretudo na melhoria dos transportes. Nas décadas de 1820 e 1830, os investimentos estaduais em empresas privadas de construção de estradas, canais e ferrovias foram notáveis.
Manutenção de atividades incentivadoras pelo governo federal
Alguns programas do governo federal de incentivo ao empreendimento resistiram aos óbices do período pós-reconstrução da Guerra de Secessão. Na política fundiária, o congresso aprovou, em 1862, a Lei Homestead, que permitiu aos colonos a aquisição de 65 hectares de terras nas regiões do oeste do país a preços simbólicos, a única condição era de que os colonos precisariam viver na terra durante pelo menos cinco anos. Com o passar do tempo essas exigências foram sendo abrandadas, assim, os colonos passaram a poder adquirir porções de terra maiores e também conseguir o título de propriedade com menos tempo de residência. No início do século XIX, os estados tinham financiado o desenvolvimento de pesquisas sobre práticas agrícolas. Logo, o governo federal também passou a apoiar essa iniciativa passando a patrocinar experimentos com sementes e pesquisas sobre novas técnicas de cultivo. Uma outra atividade muito incentivada pelo governo federal, no final do século XIX, foi a mineração. O governo dos Estados Unidos tomou medidas para viabilizar a exploração dos recursos minerais em terras públicas do Oeste, através da concessão do direito de propriedade aos primeiros que reivindicassem direito de posse sobre áreas em que fossem encontradas reservas minerais e que nelas quisessem trabalhar. Essa política difere das demais adotadas por diversos países, em que os minérios encontrados são considerados propriedades dos Estados. Assim, surgiu a figura do empreendedor prospector. O governo federal, assim como com as pesquisas agrícolas, financiou expedições exploradoras para a descoberta de recursos minerais. Esses estímulos do governo possibilitaram com que o país ocupasse a posição de maior produtor de minérios do mundo. 
Instituições financeiras
A partir de 1862, o Congresso aprovou Leis Bancarias Nacionais que fizeram com que os bancos trocassem suas cartas patentes estaduais por nacionais. Através da tributação, a legislação aboliu o papel-moeda emitido pelos bancos estaduais, mas os bancos nacionais podiam emitir moedas sob a forma de notas bancárias nacionais lastreadas por títulos dos Estados Unidos. Com isso, o governo do país tinha como objetivo fazer com que no país circulasse uma moeda única, que diferentemente das antigas moedas estaduais do período pré-guerra, circulasse por toda parte pelo valor nominal. 
Grupos de financistas que achavam as regras do governo federal muito restritivas passaram a convencer os governos estaduais a autorizarem novos tipos de instituições financeiras. Assim, foram criadas instituições financeiras estaduais para que os empreendedores financistas pudessem contornar as instituições financeiras federais consideradas mais restritivas. A mais importante das companhias financeiras estaduais criadas foram as fiduciárias, elas passaram a ser responsáveis por administrar as propriedades das famílias ricas. Em pouco tempo, também conquistaram o papel de intermediárias, atuando como avalistas de títulos emitidos e como financiadoras da indústria no período da segunda revolução industrial americana.
Incentivos à inovação: a disseminação da informação tecnológica
No final do século XIX, com o desenvolvimento industrial e tecnológico, passou-se a comercializar patentes. Assim, inventores vendiam patentes de peças industriais e equipamentos tecnológicos para empreendedores e homens da indústria. A princípio, os inventores de forma autônoma produziam suas patentes e as vendiam por conta própria. Com o passar do tempo, grandes empresas passaram trazer inventores para trabalhar para elas em seus próprios setores de inovação. 
Com a inundação de informações sobre patentes no mercado, tornou-se difícil para os empreendedores comprar patentes para desenvolver seus produtos. Muitas vezes, os empreendedores não sabiam o valor real da patente. Com isso, se tornou comum recorrer a um novo tipo de profissional que além de entender o funcionamento das patentes, as avaliava e entendia de questões jurídicas que envolviam o processo legal de compra delas. Esse tipo de profissional fazia a ponte entre inventores e empreendedores, assim eles tinham acesso a informações privilegiadas de tecnologia. 
Incentivos a inovação: problemas de governança corporativa
Nas últimas décadas do século XIX, os estados foram tornando cada vez mais fácil o processo de abertura de empresas, reduzindo assim uma série de restrições impostas às atividades das empresas. Em 1888, o estado de Nova Jersey aprovou uma lei de caráter liberal que permitia que as empresas pudessem ações de outras empresas. Em outros estados, as grandes empresas precisavam recorrer a trustes para conseguirem se fundir a outras empresas. Dessa forma, muitas empresas passaram a deixar seus estados de origem para se instalar em Nova Jersey. Assim, os estados passaram a adotar leis mais liberais para não verem suas empresas indo para outros estados. 
O efeito da discriminação sobre o estímulo à inovação
Os incentivos que as instituições estadunidenses ofereciam aos cidadãos que tinham interesse em empreender era maior para alguns grupos sociais. As mulheres empreendedoras sofriam as restrições legais impostas pela instituição de nome coverture, que foi sendo extinta no decorrer do século XIX. A mulher estava economicamente vinculada ao marido e ele tinha o controle legal sobre todas as suas propriedadese rendimentos auferidos. Logo, a mulher não podia negociar ou assinar contratos sem a autorização do marido. Para Naomi, essas restrições desanimavam as mulheres casadas que buscavam empreender, e os dados sobre a aquisição de patentes demonstram que isso ocorria. 
A abolição da escravidão e a aprovação da Décima Quarta Emenda à Constituição concedeu aos afro-americanos os mesmos direitos a propriedade que os demais cidadãos gozavam. No entanto, a discriminação fazia com que na prática todas as iniciativas econômicas da comunidade negra fossem incertas. Era mais difícil para um afro-americano obter crédito bancário ou comercial do que um branco em condições econômicas semelhantes. Também era provável que um afro-americano tivesse seu trabalho destruído ou expropriado ilegalmente. 
O surgimento da grande empresa: a ferrovia
O período entre 1865 e 1920 assistiu a uma importante mudança na economia americana. Nesse período surgiram empresas de grande porte que dominaram largas faixas do setor industrial. O surgimento dessas empresas foi um grande incentivo a inovação e desenvolvimento tecnológico. Dentre essas grandes empresas emergentes, as principais eram as ferrovias. A expansão da malha ferroviária uniu as mais distantes regiões dos Estados Unidos, possibilitando assim a formação e integração de um grande mercado nacional. A ferrovia também possibilitou a redução dos custos dos produtos industriais, favorecendo as atividades empresariais e ajudando no processo de dinamização da economia. 
A reorganização da descoberta tecnológica
Dentro desse contexto de competitividade que caracterizou o final do século XIX nos Estados Unidos, as grandes empresas precisavam estar acompanhando as inovações tecnológicas para poderem sobreviver. Assim, elas não podiam deixar que as empresas concorrentes conseguissem adquirir patentes essenciais para o desenvolvimento de produtos inovadores. Nesse sentido, as empresas estavam sempre atentas para com as pesquisas desenvolvidas e dispostas a comprar ou licenciar os direitos sobre qualquer coisa que pudesse ser importante para o desenvolvimento de suas atividades.
As empresas que mantinham inventores em seus setores de pesquisa e inovação tiveram que lidar com uma série de problemas relacionados a esse quadro de funcionários. Os inventores mais requisitados pelo fato de lançarem grandes patentes, eram muito difíceis de serem controlados. Muitas vezes os inventores saiam de uma grande empresa para uma outra que oferecesse mais vantagem, levando as ideias de patentes que desenvolveu na antiga empresa para a nova. Outras vezes o inventor utilizava das instalações da empresa para o desenvolvimento da patente e quando a mesma ficava pronta ele pedia demissão e iniciava um negócio próprio com a patente desenvolvida. Assim, as empresas tiveram que convencer os inventores de que uma carreira fixa oferecia recompensas e oportunidades de progresso. 
A regulação da economia pelo governo
Com o crescimento das grandes empresas industriais e ferrovias, houve uma grande concentração econômica por parte delas. Assim, o estado passou a olhar com desconfiança o poder econômico e político que essas empresas estavam concentrando. Na década de 1880, os governos estaduais, temendo o grande poder das empresas acabaram tentando adotar políticas antitruste, no entanto, não obtiveram êxito pois as empresas se deslocavam para jurisdições mais tolerantes. Em 1890, o Congresso aprovou a Lei Sherman Antitruste, que proibiu associações que prejudicassem o comércio ou que transformassem as indústrias em monopólio.
Bibliografia:
BAUMOL, William; LANDES, David; MOKYR, Joel. A origem das corporações. In: Lamoreaux, Naomi. (org.). O empreendedorismo nos Estados Unidos: 1865-1920. 2010.

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