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ANATOMIA INTERNA DOS ELEMENTOS DENTÁRIOS Quando ocorre uma cárie que compromete o complexo dentino-pulpar é necessário ser feito o acesso ao tecido dentário para se tratar o tecido doente. Nos dentes anteriores o acesso é feito pela a palatina e nos posteriores por oclusal. O objetivo do tratamento é a remoção da polpa coronária e polpa radicular, onde o primeiro passo é o acesso coronário seguido pela instrumentação (via canal) para depois ser feito o preenchimento/obturação. O preenchimento deve ser feito para se evitar que microrganismos invadam o interior do dente, além disso, esse preenchimento também gera estabilidade a função mastigatória. Devido a anatomia dos dentes o acesso visual se torna limitado e por isso a visualização dos canais radiculares é auxiliada pela radiografia, mas a imagem radiográfica não gera uma visão no sentido mésio-distal da estrutura dentária, impossibilitando que o dente seja observado como uma estrutura tridimensional. Este fato, somado à visualização deficiente da polpa dental faz com que sejam necessários os conhecimentos da anatomia interna dos dentes, bem como das possíveis variações anatômicas para que o cirurgião dentista tenha um direcionamento que reduzirá o acontecimento de iatrogenias. Alguns dentes não favorecem o tratamento dentário, devido a curvatura das raízes e alterações da morfologia de seus canais, logo um bom exame radiográfico somado aos conhecimentos de anatomia dos canais e câmaras pulpares permitem que o profissional observe o volume da câmara pulpar, presença de calcificações, relação de proximidade do teto com o assoalho da câmara pulpar, nódulos pulpares, etc. embasado nesses princípios, mesmo que haja grandes alterações na polpa, o profissional conseguirá executar a sua técnica, fazendo as devidas modificações. Identificação da anatomia dental Os métodos antigos não eram possíveis de serem utilizados na prática clínica, pois necessitavam da extração do dente e hoje são mais restritos a estudos. A morfologia externa não oferece maiores dificuldades, já a interna requer técnicas mais elaboradas, hoje sendo introduzida até mesmo técnicas tomográficas. Pré-requisitos para o tratamento endodôntico • Conhecimento profundo da morfologia dental. • Acesso adequado ao interior dos canais. • Interpretação cuidadosa das radiografias. • Domínio das técnicas de abertura, instrumentação e obturação. Reconhecimento da anatomia endodôntica por meio de radiografias As radiografias geram imagens bidimensionais de um objeto tridimensional. As limitações em relação a essa imagem formada influenciam muito nos tratamentos endodônticos. A identificação dos canais nas radiografias são presentes antes da obturação, pois é difícil se visualizar a área radiolúcida que corresponde ao canal. Os canais se mostram radiopacos após o preenchimento, sendo de mais fácil observação. Cavidade pulpar A cavidade pulpar abriga a polpa dentária, limitada em toda extensão pela dentina exceto ao nível do forame ou forames apicais. Ela é dividida em câmara pulpar, porção coronária, e canal radicular, porção radicular. Câmara pulpar: cavidade única, geralmente volumosa e que aloja a polpa coronária. Nos dentes anteriores é mais complicado se limitar o final da câmara pulpar e o início do canal radicular devido ao fato de serem contínuos. As paredes da câmara pulpar possuem os nomes das faces para com as quais estão voltadas. O teto da câmara pulpar é a primeira parte a se ver quando se acessa o dente, após esmalte e dentina, côncavo. Oposto ao teto há o assoalho da câmara polpa, limite de atuação em relação a abertura, devemos saber que este é convexo, essa convexidade direciona a orientação direto para os canais radiculares. Na extremidade de cada teto existem os divertículos, região onde resíduos podem ficar agarrados escurecendo os dentes. Obs.: com o passar da idade a câmara pulpar se oblitera, isso porque ocorre a deposição de dentina, logo cavidades pulpares de pacientes idosos são mais reduzidas, este fato influencia no tratamento de pessoas idosas. Neles o teto e assoalho se encontram próximo, tal como se encontram próximos do periodonto, que não deve ser perfurado Obs.: nos dentes anteriores as margens cervicais delimitam câmara/canais. Canal radicular: divide-se em três terços (cervical, médio e apical), afunila-se progressivamente para o ápice (o dente pode ter o ápice curvo e isso deve ser preservado), aloja a polpa radicular, apresentam variações quanto ao número, forma, direção e configuração. Para cada parte do canal existem instrumentos adequados, sendo que podem haver canais com curvatura e sem curvatura. A porção mais apical do canal radicular há o limite CDC (cemento-dentina-canal) que é a área de atuação do endodontista, onde há o menor diâmetro do canal, nele é feito a limpeza e desobstrução do dente, mas não deve ser alargado, a instrumentação é feita até esse limite. Sistemas de canais radiculares (SCR) –Alguns desses canais não podem ser acessados por radiografias, mas o material de obturação consegue alcança-los. 1. Incisivo central superior (comp.med. 21,80 mm) Câmara pulpar: achatada no sentindo V-L e mais ampla no M-D, com cornos pulpares mais evidentes, principalmente em indivíduos jovens. Canal radicular: longo, amplo e na maioria das vezes único e reto (75%), porém pode apresentar desvio discreto para distal (25%), sendo que o forame apical pode desviar-se para vestibular ou palatina. Complicação anatômica: Existe uma complicação anatômica em relação do incisivo, o ombro palatino. Ele é uma saliência dentinária localizada internamente na área cervical palatina correspondendo ao cíngulo, que dificulta o acesso direto ao canal. A inclinação ou projeção para vestibular induz o principiante a direcionar a broca em direção labial (vestibular), o que pode determinar uma perfuração na raiz. 2. Incisivo lateral superior (comp.med. 23.1 mm) Câmara pulpar: Assemelha-se muito ao incisivo central superior, mas com menores dimensões, inclusive em diâmetro. Canal radicular: Possui canal radicular único e cônico. É um dente com muitas variações anatômicas (dens in dente, fusão, microdontia, fusão). Sempre que se trabalha nesse dente deve-se pensar em um canal curvo deslocado para palatino e distal, devido ao desvio radicular no terço apical, na maioria das vezes, podendo não ser visível em radiografias. Canais curvos possuem algumas particularidades em relação a instrumentação. O desconhecimento desse fato pode provocar perfurações e desvios, além de poder comprometer a limpeza. Kuttler destaca que esse dente apresenta a menor proporção de canais retos, cerca de 0,4%. Complicação anatômica: É o dente com maior proporção de traumas na cavidade oral, podendo ser observado calcificações que dificultariam a técnica de abertura coronária. 3. Incisivos central e lateral inferior (comp.med ICI 20,8; ILI 22,6) Câmara pulpar: São extremamente parecidos no formato, configuração e dimensão. Se assemelham também aos superiores, porém com dimensões muito menores. O ICI menor dente da arcada. Canal radicular: Possuem apenas uma raiz, o canal se afunila suavemente até chegar ao ápice, a constrição pode ocorrer 3 a 4 mm do ápice e, devido ao afunilamento, esse dente pode apresentar dois canais, um para vestibular e um para lingual. O acentuado achatamento MD gera, no terço médio, septos de dentina que determinam frequentemente a bifurcação do canal. A configuração interna é variada, podendo apresentar: a. Um canal único desde a câmara pulpar até o ápice. b. Dois canais separados que partem da câmara pulpar, mas convergem perto do ápice formando um único canal. c. Dois canais separados que partem da câmara pulpar e desenvolvem trajetos independentes terminando no periodonto apical através de forames independente. Complicaçãoanatômica: ombro lingual pode ocultar a entrada do canal lingual. Obs.: Quando se tem um incisivo inferior a abertura deve ser feita de forma a permitir o acesso aos dois possíveis canais, isso quando se suspeita. Sinais radiográficos da presença de canais extras: • Descentralização da imagem radiolúcida do CR. • Estreitamento do abrupto da imagem do CR. • Dificuldade de visualização da imagem do CR em toda sua extensão. Obs.: radiografias mesiorradial ou distorradial. 4. Canino superior (comp.med. 26,4 mm) Câmara pulpar: ampla, com maior diâmetro no sentido V-L. O teto apresenta uma reentrância bastante acentuada (cúspide perfurante). A cúspide perfurante deve ser removida para evitar a permanência de resíduos (sangue, restos pulpares, medicamentos) que possam se alojar e gerar o escurecimento do dente. Canal radicular: amplo e quase sempre reto, podendo apresentar uma curvatura apical para distal ou vestibular. Câmara pulpar e terço cervical muito amplos, sendo que o canal se afila abruptamente quando se aproxima do terço apical, diferindo dos outros dentes anteriores. Isso é importante para se evitar iatrogenias deve-se saber do afunilamento no terço apical. Complicação anatômica: ombro palatino pode estar presente. Outra complicação seria a curvatura, caso ela seja vestibular recomenda-se modificar a angulação radiográfica para conseguir determinar o comprimento de trabalho. Ápice do dente afilado: contra indicado maior alargamento apical, o que pode determinar trepanação e consequente hemorragia. Dente muito longo: limitação em relação ao comprimento dos instrumentos (31mm). 5. Canino inferior (comp.med. 25 mm) Câmara pulpar: semelhante ao superior. Mais achatada M-D. Canal radicular: frequentemente em um único canal, podendo apresentar duas raízes e dois canais, como consequência da presença de ilhotas de dentina. Depois do ICS é o dente que oferece maior porcentagem de raiz reta. Em relação ao canino superior, possui o ápice mais afilado. Complicação anatômica: Se observa certo grau de curvatura na região apical, geralmente para vestibular. Outra complicação seria o canal mais afilado na região apical, portanto é importante utilizar instrumentos de menor calibre. Além disso deve-se remover o ombro lingual para se verificar a porção lingual do canal, pois este dente possui um canal alargado no sentido vestibulolingual. 6. Primeiro pré-molar superior (comp.med. 21,5 mm) Câmara pulpar: corresponde a forma da coroa, estreita/achatada no sentido M-D; Assoalho da câmara pulpar: a. Pode ter dois canais radiculares, um vestibular e um palatino (70% dos casos); b. Uma única entrada, comum aos dois canais; c. Canal único; d. Raramente apresenta 3 canais, sendo o terceiro canal na vestibular, gerando um canal mesiovestibular e um distovestibular; Obs.: Quanto as raízes, pode haver duas raízes não totalmente separadas ou uma raiz bem larga, achatada no sentido M-D, tal como seu canal radicular. Complicação anatômica: pode haver sobreposição radiográfica das raízes VP, sendo necessário o uso de técnicas radiográficas para dissociação de imagem. Também há raiz delgada e afilada gerando risco de trepanação e sobre-instrumentação, pode apresentar três raízes e três canais (dois vestibulares e um palatino). Obs.: secção transversal: forma de haltere. 7. Segundo pré-molar superior (comp.med. 21.6 mm) Câmara pulpar: forma semelhante ao primeiro, porém com dimensões maiores. Canal radicular: a raiz desse dente apresenta-se reta em 40% dos casos, e depois do ICI é o dente que apresenta maior porcentagem de curvatura para vestibular. Raiz única em 90% dos casos e muito achatada no sentido mésio-distal; 50% com um canal; 50% dois canais. Secção transversal forma de haltere e os comprimentos das raízes se equivalem. Obs.: as vezes não a formação de ilhotas de dentina, não formando dois canais radiculares e se mantendo achatado. 8. Pré-molares inferiores (comp.med 1º 21.9; 2º 22.3) Câmara pulpar: geralmente amplas e semelhantes, para os dois casos. Canal radicular: secção de forma oval (mais comum) O primeiro pré-molar inferior possui canal único, achatado no sentindo M-D, podendo apresentar bifurcações, principalmente a nível de terço médio/apical, onde estas aparecem em cerca de 31% dos casos, já três canais em 2,1% dos casos. Já o segundo pré-molar inferior se assemelha ao primeiro, porém é maior e menos achatado e apresenta dois canais em 10,7% dos casos. Complicações anatômicas: relacionadas a esses dentes estão no fato deles apresentarem grande inclinação da face vestibular para lingual. Essa projeção faz com que a oclusal dos pré-molares assuma a posição “olhando para a língua” o que faz que haja maior risco de perfuração. Extremas variações na morfologia do canal que causam altas incidências de falhas no tratamento. 9. Primeiro-molar superior (21.3) Câmara pulpar: a câmara deste dente apresenta forma irregular cúbica, achatada no sentido M-D com tendência a conformação triangular com base vestibular quando se aproxima do assoalho. Sua parede mesial mais convexa dificultando a localização e instrumentação do canal mesiovestibular (pode haver dois – MV1/MV e MV2/MP). Possui sulco em forma de Y no assoalho que liga os canais. Obs.: Sempre considerar 4 canais. Obs.: Apresenta ponta de esmalte ligando a cúspide disto-vestibular e a mésio-lingual. Canal radicular: três raízes separas em 100% dos casos, uma palatina e duas vestibulares, que não se fusionam. Canal mesiovestibular: o orifício de entrada desse canal está situado acima da cúspide correspondente, sendo geralmente em forma de fenda, em direção vestibulolingual. Também pode ser encontrado um orifício em cada extremidade dessa fenda correspondendo a dois canais com trajetos diferentes, o que resulta em quatro canais que são de difícil visualização radiográfica devido a sobreposição das imagens. Canal mesiovestibular com curvatura para distal (78%) dos casos, dificulta a instrumentação. Canal distovestibular: canal único e mais atresiado. Forma arredondada e reta em 54% dos casos, 17% para distal e 19% para mesial. Raiz palatina ou lingual: canal único com raiz ampla e mais volumosa, quando apresenta curvatura, esta encontra-se para vestibular. Complicação anatômica: na radiografia ortorradial identifica-se as três raízes sem sobreposição, mas a avaliação da parede mesial, que é mais convexa dificulta a visualização dos canais embaixo da cúspide mesial. Não podemos invadir a ponte de esmalte na hora do acesso, ou seja, essa abertura deve ficar mais voltada para a mesial do dente. 10. Segundo molar superior (comp.med 21.7 mm) Câmara pulpar: semelhante ao 1º molar superior, mas apresenta maior achatamento no sentido mésio-distal. Faz com que a entrada do canal DV seja frequentemente localizada nas proximidades do MV quando comparado ao 1º molar, gerando uma conformação triangular menos evidente. Raízes: um pouco menores, mais curtas e menos divergente (localização dos canais mais facilitada com os instrumentos dentro dos canais) quando comparadas ao primeiro molar. As raízes vestibulares são paralelas, muito próximas e se inclinam para a distal, podem apresentar fusão das raízes e ele pode possuir 4 canais, porém mais raramente. Complicação anatômica: pode haver sobreposição do arco do zigomático sobre os ápices radiculares desde elemento dificultando a odontometria. 11. Primeiro molar inferior (comp.med 21 mm) Câmara pulpar: cuboide, com tendência a forma triangular quando se aproxima do assoalho, o teto apresenta reentrâncias na mesma quantidade das cúspides (3 vestibulares e 2 linguais) e a parede mesial acentuadamente convexa o que dificulta localização dos canais mesiais. Canal radicular: apresenta duas raízes diferenciadas e separadas, na maioria dos casos, excepcionalmente pode apresentaruma terceira raiz, disposta separadamente na altura distolingual. Canal distal: apresenta amplo diâmetro, longo e reto (73,54%) e com desvio para distal (10,5%). Mais raramente pode possuis dois canais. Canais mesiais: os canais mesiovestibular e mesiolingual são únicos, atresiados, longos, arredondados e com curvatura para distal (79%). Apresentam dupla curvatura – distal para mesial – mesial para distal. Raiz intermediaria: fica localizada entre a mesial e a distal, é uma raiz acessória, gerando um canal mésio-intermediário. Complicações anatômicas: raiz mesial possibilita o rasgo por uso das brocas de Gates Glidden, devido a uma concavidade presente na superfície distal no terço cervical. Também pode haver presença de 3º canal na raiz mesial (canal mesial intermediário) 12. Segundo molar inferior (comp.med. 22.4 mm) Câmara pulpar: semelhante a do primeiro molar, tendo forma retangular. Não é raro apresentar-se em forma de “C” (complicação anatômica) Raízes: são um pouco menores, mais retas e menos divergente do que no primeiro molar, gerando uma tendência a fusão. Nem sempre seus ápices se inclinam para distal; eles podem se direcionar em direção ao outro – aspecto de “chifres de touro”. Os canais, semelhantes ao do primeiro molar, tendem a convergir mais, podendo haver fusão dos canais MV e ML. Pode haver a presença de apenas dois canais, 1 mesial e 1 distal, ambos no centro da raiz, porém de forma menos comum. Complicação anatômica: tem tendência a fratura vertical por carga mastigatória. Obs.: Pode ter dois ou três canais, ou fusão de canais mesiais no ápice, mais raramente 1 canal.
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