Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BACHAREL EM TEOLOGIA O CRISTIANISMO E SUA INFLUÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO Luiz Cláudio Antonino Barbacena 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................4 1.1. Referencial teórico.....................................................................................5 2. A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA E AS PRIMEIRAS UNIVERSIDADES......6 2.1. A reforma protestante e o avanço da educação...................................10 2.2. O cristianismo e a educação no Brasil..................................................15 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................20 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................22 RESUMO A finalidade do artigo em questão é abordar as questões relacionadas ao cristianismo, à Idade Média, à Reforma Protestante e as incontáveis contribuições que, ao longo dos séculos, a igreja proporcionou à área da educação. Desta forma, utilizou-se, como metodologia o uso da pesquisa bibliográfica, buscando aportes os quais possam desnudar, bem como apontar os desafios e contribuições do cristianismo para o campo educacional. A princípio, o trabalho fará uma breve análise a respeito da Igreja Primitiva e a forma como Deus usou as perseguições para espalhar os seus servos e, a partir disto, abençoar outros povos e nações, levando-lhes cultura, educação e promoção da arte. Após esse pano de fundo, o assunto seguirá falando do magistério, porém, no contexto da Reforma Protestante e a forma direta como esse movimento influenciou o campo do conhecimento, inclusive com a formação de ginásios e grandes universidades. Por fim, o foco dar- se-á em torno do Brasil e o desempenho de missionários católicos e protestantes, os quais contribuíram de forma avultada para a promoção educacional e intelectual da nação brasileira. Palavras-chave: História; Universidades; Educação; Missões, Cristianismo. 4 1. INTRODUÇÃO Geralmente, quando se fala em cristianismo, é comum as pessoas pensarem em missionários que, após chegarem a determinada região, preocupam-se tão somente em proclamar a fé, confrontar os nativos quanto à gravidade do pecado e batizar os novos convertidos. Entretanto, conforme será observado mais adiante, o cristianismo é muito mais do que isto. É sim, centrado na propagação da fé e chamado ao arrependimento, todavia, a história aponta para algo mais. Embora fosse de praxe ser oferecida com um único objetivo —, que era a formação do clero —, as páginas a seguir, especialmente, o primeiro tópico, desenvolverá uma argumentação consistente, cujo intuito é provar o envolvimento dos cristãos com a tarefa de educar desde os primeiros séculos. Conforme se verá, os monges do deserto não eram pessoas que se afastavam da agitação para buscar única e exclusivamente meditação espiritual, mas eram pessoas altamente comprometidas com a literatura, com as artes e o ensino. De igual modo, à proporção que o trabalho se desenvolver, observar-se-á, portanto, que o envolvimento da igreja com a educação foi a porta aberta para a formação das grandes universidades, a saber, Paris, Cambridge, Oxford, Bolonha, Yale, Harvard e muitas outras instituições altamente comprometidas com a fé e empenhadas em promover a ciência, a cultura e o conhecimento. O último tópico, este, por sua vez, se empenhará na perspectiva de desnudar os mitos e falácias a respeito da Reforma Protestante. Para muitos, Martinho Lutero não passou de um revolucionário. Por contraste, outros o imaginam como um padre que se rebelou contra a Igreja Católica com o objetivo de se tornar livre para casar. Porém, conforme será observado, a Reforma foi um chamado às Escrituras, mas também uma promotora da ciência, da educação e fundação de escolas e universidades. Portanto, o trabalho compõe-se de extensa pesquisa bibliográfica, fundamentando-se em Aquino (2015), Bacelar (sem data), Cambi (1999), Cordeiro (2016), González (2011), Garschagen (2015), Hurlbut (2007), Klein (2016), MacGrath (2007), Matos (2008, 2009), MacArthur (2016), Mangalwadi (2016), Piper 5 (2002), Rops (1993), Ryken (2013), Sousa e Cavalcante (2016), Woods (2008), e muitos outros os quais contribuíram de forma satisfatória e relevante para o trabalho em destaque. Quanto à sua metodologia, o presente trabalho será fundamentado a partir da pesquisa indireta, contendo instrumentos bibliográficos como livros, artigos e periódicos relacionados ao cristianismo, à Idade Média, à Reforma Protestante e suas contribuições para o fomento e avanço da educação. 1.1. REFERENCIAL TEÓRICO Nunca a humanidade se viu diante de tantos defensores da educação conforme se vê nos dias atuais. Habitualmente, quando se discute a respeito da educação e seus desdobramentos ao longo da história, é comum ouvir pessoas recorrendo a argumentos cujos conteúdos dizem respeito às pessoas as quais se empenharam em dar suas vidas em favor da causae ducacional. Contudo, pouco se fala no grande empenho da igreja e do cristianismo no tocante à educação. Na Idade Média, por exemplo, Carlos Magno, cristão e grande incentivador das artes e da cultura. De acordo com Aquino (2015), Carlos Magno, educado pela Igreja, incentivou a educação, as artes, chamando os bispos para organizar escolas ao redor das catedrais (AQUINO, 2015, p. 105). Aquino (2015) destaca ainda que na educação carolíngia estudava-se o quadrivium e o trivium. Tal incentivo foi de suma importância para a construção da literatura ocidental, o que foi uma importante inovação no conhecimento da escrita. Aliás, se faz oportuno observar que, no contexto de Carlos Magno, muitos escritos em uso antes do “minúsculo carolíngio” eram difíceis de serem lidos, pois não haviam letras minúsculas, pontuação, espaço entre as palavras, parênteses, etc. Em razão disso, a escrita foi transformada (AQUINO, 2015, p. 105). Observa-se, nesse sentido, que a influência do cristianismo na educação revolucionou, não só a Europa, mas sim, todo o mundo ocidental. Malgalwadi (2012), ao comentar tal influência, destaca que: 6 A Bíblia exerceu uma autoridade única sobre escritores literários ao apresentar uma visão que se desvela do mundo e da vida que alega ser verdadeira. Essa alegação exige que nossa literatura e cultura sejam confrontadas e conformadas à vontade de Deus (MANGALWADI, 2012, p. 218). Portanto, ao passo que nos dias atuais os cristãos são taxados de ignorantes e avessos ao conhecimento, por contraste, a história prova que na Idade Média, a Igreja foi a única instituição empenhada em promover a cultura, as artes e a literatura. É como destaca Woods (2008), “a igreja desenvolveu o sistema universitário porque era a única instituição na Europa que manifestava um interesse consistente pela preservação e cultivo do saber” (WOODS, 2008, p. 46) Segue-se que, conforme se verá no desenvolvimento da pesquisa, a influência dos cristãos no campo da educação não se limitou somente ao território europeu, mas estendeu-se a outros continentes, inclusive Américas do Norte e do Sul. Ryken (2013) destaca o seguinte: Na América, nenhum dos outros colonizadores de fala inglesa estabeleceu tão cedo a educação universitária após sua chegada quanto o fizeram os puritanos. Apenas seis anos depois da sua chegada na Baía de Massachusetts, o Tribunal Geral votou quatrocentas libras para uma escola ou faculdade. Assim, após estabelecida, a faculdade de Harvard foi mantida durante seus primeiros anos parcialmente pelo sacrifício de fazendeiros, que contribuíam com trigo para sustentar professores e alunos (RYKEN, 2013, p. 264). E assim, da Europa às Américas, e, das Américas à Ásia, chegandoà Coreia do Sul e Índia, os cristãos sempre se destacaram não só na divulgação das boas novas do evangelho, mas também, promovendo a cultura, a literatura e a abertura de instituições cujas finalidades davam-se na perspectiva de oferecer o conhecimento e fomentar a dignidade humana. 2. A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA E AS PRIMEIRAS UNIVERSIDADES Ao analisar o Novo Testamento, sobretudo, Atos dos Apóstolos, é possível perceber o rápido crescimento do cristianismo após a descida do Espírito Santo (At 2. 1-4). Contudo, como Deus tem os seus planos, a descida do Espírito não foi uma concessão para que a igreja se estagnasse na plataforma do conforto, mas sim, a capacitação para enfrentar as lutas e perseguições que se seguiriam ao longo da história. Perseguição esta, inaugurada com a prisão de Pedro e João (At 4. 1-4). 7 Segue-se que, no contexto do livro de Atos, à medida na qual a igreja se desenvolve, aos poucos, Deus permite doses crescentes de perseguição, justamente, para que os cristãos se espalhassem levando a mensagem das boas novas e fundassem novas comunidades com intuito de propagar a fé. Prova disso é o que ocorre em Atos 5. 17-32. Entretanto, a morte de Estevão (At 7. 54-60), foi o sinal definitivo de Deus para que a igreja começasse a se espalhar. Shelley (2018), ao descrever o início da perseguição aos cristãos primitivos destaca o seguinte: Esse primeiro massacre cristão, ocorrido por volta de 36 d.C., marcou a expansão do abismo entre judaísmo e cristianismo e transformou a nova fé em um movimento missionário. Os apóstolos hebreus não foram importunados, mas os discípulos helenistas foram obrigados a fugir de Jerusalém, encontrando refúgio na Síria e em Samaria, onde fundaram comunidades cristãs. Outros cristãos helenistas fundaram igrejas nas cidades de Damasco, Antioquia e Tarso, na Síria, na ilha de Chipre e no Egito (SHELLEY, 2018, p. 37). E assim, após a estratégia divina pra espalhar os cristãos, inicia-se, portanto, os mosteiros e, sob a tutela destes, os primeiros movimentos os quais objetivavam o ensino e a propagação da educação. Dito isto, cumpre observar que, Bento de Núrsia foi o primeiro monge ocidental a encabeçar a fundação de um mosteiro. De acordo com González (2011), Bento nasceu na pequena aldeia italiana de Núrsia, por volta de 480 [...] A família de Bento pertencia à velha aristocracia romana, e é de supor que ele presenciou, na juventude, as tensões entre católicos e arianos características dessa época na Itália. Quando tinha mais ou menos vinte anos de idade, Bento se retirou para viver sozinho em uma caverna, onde se dedicou a um tipo de vida extremamente ascético. Levava ali uma luta contínua contra as tentações. Seu biógrafo Gregório, o grande, relata que nessa época o futuro criador do monasticismo beneditino sentiu-se dominado por uma grande tentação carnal. Uma mulher formosa que ele vira anteriormente apresentou-se em sua imaginação com tanta nitidez que Bento não conseguia conter sua paixão, e chegou a pensar em abandonar a vida monástica (GONZÁLEZ, 2011, p. 250, 251). De forma semelhante, ao falar das origens monásticas e sua influência para a vida espiritual e intelectual, MacGrath(2007) é certeiro ao dizer: Uma das desenvoluções mais relevantes na história do início do cristianismo foi o monasticismo [...] As origens do movimento costumam ser situadas nas regiões montanhosas remotas do Egito e partes da Síria oriental do século 3º. Um número considerável de cristãos começou a viver nessa região procurando se afastar dos 8 grandes centros populacionais com todas as suas respectivas distrações. Um exemplo é Antônio do Egito que deixou a casa de seus pais em 273 para buscar uma vida de disciplina e solidão no deserto (MACGRATH, 2007, p. 112). Conforme destacar-se-á mais adiante, é salutar aludir-se ao fato segundo o qual, os mosteiros da antiguidade não se resumiam somente à solidão, disciplina e contemplação espiritual, mas sim, funcionavam também como escolas, pois além das práticas já ventiladas, tais comunidades dedicavam-se com zelo e esmero à educação, isto é, à vida intelectual. Para MacGrath (2007), O ideal monástico se mostrou atraente para muitos. No século 4º já havia mosteiros em vários lugares do Oriente cristão, especialmente na Síria e na Ásia menor e o movimento não tardou em ser adotado pela igreja ocidental. No século 5º, surgiram comunidades monásticas na Itália (especialmente junto à costa ocidental), Espanha e Gália. Agostinho de Hipona fundou dois mosteiros no norte da África no período de 400-425. Para Agostinho, a vida comunitária (que recebeu a designação latina de vita communis) era essencial para a prática do ideal cristão do amor. Agostinha complementou essa ênfase na vida comunitária com a avaliação favorável da importância da atividade intelectual e do estudo espiritual (MACGRATH, 2007, p. 112). Vale destacar, portanto, que, no excerto acima, junto às atividades relacionadas à vida comunitária e ao estudo espiritual, uma das menções reverberadas por MacGrath (2007) consiste na atividade intelectual. Desse modo, pode-se dizer que os monges não consistiam num grupo de pessoas extasiadas na busca do transcendente, mas sim, davam valor à razão mediante a prática do estudo e desenvolvimento pessoal. Segundo informa Cambi (1999), A nova estrutura educativa elaborada pelo cristianismo, aquela que, talvez, mais profundamente — e historicamente — deixou uma marca fundamental no Ocidente foi o mosteiro. Essa instituição veio se fixando como um lugar de formação, construindo segundo um modelo que orientava a vida espiritual no sentido religioso e que submetia o processo formativo ao princípio da ascese (da renúncia e da mortificação), necessário para purgar e disciplinar a vida interior das tormentas das paixões e submetê-la ao guia da razão e da fé. Tratava-se de formar a própria individualidade por meio do trabalho e da contemplação, acrescentando depois também o estudo, sobretudo quando os monges, primeiro isolados, foram se reunindo em cenóbios (do grego koinobion “vida em comum”) e submetendo-se a uma regra de vida coletiva. Com esse escopo, gradativamente, se constituíram cursos de estudo nos mosteiros, para os noviços (os monges mais jovens) e também para os externos, que gravitavam em torno do estudo, sobretudo das Sagradas Escrituras (CAMBI, 1999, 131). Cambi (1999, p. 31, 32), chama a atenção ao enfatizar que os mosteiros tiveram seus modelos mais significativos no âmbito cultural e educativo. Prova disso 9 é o Vivarium, fundado na Calábria em 552 por Flávio Magno Aurélio Cassiodoro (480-572). Ali, se desenvolvia uma vida espiritual culta, disciplinada e ligada às atividades físicas, mas, sobretudo à instrução. Uma regra que impunha a leitura da Bíblia e dos padres, mas também, as artes liberais como instrumentos de cultura. Para Aquino (2015, p. 28), após seis séculos evangelizando e educando a Europa, a partir de 1050 a igreja contempla o nascimento de um novo tempo, a saber, a cristandade unidade a uma união sólida entre a fé e a vida social. De igual modo, Matos (2008), A situação começou a mudar após o ano 1000, quando ocorreu grande florescimento da reflexão teológica e filosófica, além de forte dinamismo em muitas outras áreas. Até o século XI a vida intelectual e acadêmica concentrava-se nas escolas anexas aos grandes mosteiros e catedrais. Surgiram então as associações de professores e estudantes leigos que resultaram nas primeiras universidades, como as de Bolonha, Toulouse, Oxford e especialmente a de Paris, onde haveriam de atuar alguns dos maiores teólogos medievais, indivíduos como Pedra Abelardo, Alberto Magno, Tomás de Aquino e Boaventura (MATOS, 2008, p. 107). Aquino (2015) corrobora tal assertiva ao ponderar dizendo: A Idade Média chegou a seu ponto alto no século XIII, que começa com o Papa Inocêncio III (1198-1216),chamado de “o Embaixador do Rei dos reis”. Foi o pontífice que com mais êxito conseguiu orientar segundo a fé cristã os eventos do seu tempo. A igreja gozou então de grande prestígio. Neste tempo surgiram as grandes Catedrais e Universidades: Bolonha, paris, Oxford, Salamanca, Coimbra, La Sapienza... (AQUINO, 2015, p. 29). Um aspecto que deve ser observado, entretanto, diz respeito à relevância das catedrais para o desenvolvimento da educação, pois quase todas as grandes universidades foram fundadas durante a Idade média. E uma vez mais, destaca-se a realidade segundo a qual todas elas foram iniciadas por eclesiásticos e com origens nas escolas ligadas às catedrais e aos mosteiros (HURLBUT, 2007, p. 165). Portanto, ao passo que alguns consideram a Idade Média como um período de ignorância e obscurantismo, Woods (2008, p. 46) reforça que, o período em questão presenteou a humanidade com a maior e — inigualável — contribuição intelectual da civilização ocidental para o mundo, isto é, o sistema universitário. Em respeito a isso, sobre o surgimento das primeiras universidades, Aquino (2015) é claro e assertivo: 10 A primeira delas foi a de Bolonha em 1158, na Itália, que teve a sua origem na fusão da escola episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix. A segunda e que teve maior fama foi a Sorbonne de Paris, que surgiu da escola episcopal de NotreDame. Foi fundada pelo confessor de São Luiz IX, rei de França, Sorbon. Ali foram estudar muitos grandes santos como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Tomás de Aquino. O documento mais antigo que contém a palavra “Universitas” utilizada para um centro de estudo é uma carta do Papa Inocêncio III ao “Estúdio Geral de Paris”. A universidade de Oxford, na Inglaterra surgiu de uma escola monacal organizada como universidade por estudantes da Sorbonne de Paris. Foi apoiada pelo Papa Inocêncio IV (1243 – 1254) em 1254) (AQUINO, 2015, p. 124). Não há dúvida de que a Idade Média tenha sido um tempo de grande desenvolvimento religioso, cultural e, principalmente intelectual. Tanto é que, o Papa Inocêncio IV (1243-1254), chegou a dizer que a universidade era o “rio da ciência que rege e fecunda o solo da igreja universal. Da mesma forma, Alexandre IV (1254- 1261), se referia à universidade como “luzeiro que resplandece na casa de Deus” (Rops, 1988, p. 348). Na Idade Média as universidades atraíram multidões de estudantes de todas as partes do ocidente. E mais, de acordo com Rops (1993): Só na França havia uma dezena de universidades: Montpellier (1125), Orleans (1220), Toulouse (1217), Anger (1220), Gray, Pont-á- Mousson, Lyon, Parmiers, Sorbonne e Cabors. Na Itália: Salerno (1220), Bolonha (111), Pádua, Nápoles e Palerno. Na Inglaterra: Oxford (1214), nascida nas Abadias de Santa Frideswide e de Oxevey, Cambridge. Além de Praga na Boêmia, Cracóvia (1362), Viena (1366), Heidelberg (1386). Na Espanha: Salamanca e Portugal, Coimbra (ROPS, 1993, p.351. Em suma, a luz da história aponta para uma realidade extremamente oposta àquilo que comumente se ouve a respeito da Idade Média e da igreja. Ademais, o período em questão fora guiado pelo próprio Deus, objetivando assim, a formação de uma Europa cristianizada, culta e berço da instituição educacional que, até os dias de hoje é vital para uma sociedade equilibrada e pautada pelo conhecimento: a universidade. 2.1. A REFORMA PROTESTANTE E O AVANÇO DA EDUCAÇÃO No dia 31 de outubro de 1517, quando Martinho Lutero fixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha, o cristianismo encontrava-se nas cinzas do descrédito. O problema não se limitava somente à venda de indulgências. Já no século IV, surgiu um sacerdote norte-africano chamado Ário, que insistia em resistir a doutrina da natureza divina de Cristo MACARTHUR, 2016, p. 11 137). As falsas doutrinas de Ário se enfraqueceram graças ao pulso firme dos concílios de Niceia (325) e de Constantinopla (381). Após o “arianismo”, surgiu o “monofisismo”, uma corrente de pensamento que negava abertamente a humanidade de Cristo, alegando que o Filho de Deus tinha uma única natureza: a divina. No século II, antes do “arianismo” ou “monofisismo” atacarem a pureza das doutrinas cristãs, todos os habitantes do Império Romano que não professavam a fé cristã eram considerados pagãos. Já, os pagãos que viviam fora dos limites do Império Romano, eram denominados “bárbaros”. Porém, com a transformação do cristianismo em religião oficial do império, a partir de 538, o paganismo greco- romano recebeu o golpe fatal. Entretanto, se por um lado, com a transformação do cristianismo em religião oficial colaborou para que cessasse a perseguição contra os cristãos, por outro, desde então —, inúmeros pagãos passaram a professar a fé cristã, sem ao menos experimentar uma conversão genuína. Sendo assim, durante toda a idade média, a prática de receber inúmeras pessoas sem nenhum preparo e de forma apressada gerou uma série de problemas que passaram ameaçar a saúde espiritual da igreja. Não havia preocupação com santidade cristã, faltavam discipulados e instrução bíblica favorecendo o desenvolvimento de todo tipo de superstições entre os cristãos. Nessa época a igreja passou a ser seduzida pelo mundanismo. Pois, na ânsia de adquirir poder político e econômico perdeu-se o poder espiritual. Por toda a Europa, os sacerdotes de vida escandalosa superavam os de vida honesta, de tal forma que nem mesmo o papado ficou isento do lamaçal que envolvia a igreja de Cristo. A igreja encontrava-se mergulhada num estado deplorável, envolvida nas mais escandalosas denúncias de corrupção e vergonha. O povo estava totalmente entregue às práticas pagãs, e o clero, não muito preocupado com os princípios éticos trabalhava de forma árdua na perspectiva de transformar a igreja numa instituição cada vez mais poderosa econômica e politicamente. Ao descrever o contexto no qual emergiu a Reforma Protestante, Cairns (1995) declara: A tentativa papal de tirar mais dinheiro da Alemanha no século XVI aborreceu a classe media emergente em estados como a Saxônia. A situação se agravou com a inflação e elevação do custo de vida. A inflação foi provocada pela Espanha, que lançou sobre a sangrada economia da Europa as grandes somas de dinheiro amealhadas pela 12 exploração do novo mundo. O abuso do sistema das indulgencias que empobrecia ainda mais a Alemanha em beneficio do papado enfureceu Lutero (CAIRNS, 1995, p. 226). Entretanto, à medida que se estuda o movimento reformista do século XVI, observa-se, portanto, que tal efeméride não se resume simplesmente à revolta de um monge insatisfeito e disposto a fixar suas 95 teses nas portas da igreja de Wittenberg. A Reforma Protestante é muito mais do que isso. Trata-se de reforma doutrinária, avanço na área científica e, adjacentes a tais mudanças, contribuiu também de forma assombrosa para o avanço da educação. De acordo com Valentin (2010), A primeira universidade protestante, a Phillipps-Universität Marburg, fundada em 1º de julho de 1527, foi criada pelo Conde Philipp (Conde de Hessen) por recomendação de Martinho Lutero. A expectativa era criar um espaço para o aperfeiçoamento dos eruditos e religiosos, pregadores e leigos [...] Outras instituições de ensino surgiram na Europa durante o século XVI. Em destaque temos a Academia de Genebra, criada em 1559 por Calvino. Esta Academia tornou-se um importante centro de educação e difusão das ideias reformistas. Com a mesma intenção, John Knox lançou o desafio para que se fundasse uma escola em cada cidade da Escócia. Em 1689 foi criada a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (VALENTIN, 2010, p. 65). Daí, então, pode-se perceber que, com base no excerto acima destacado, os interesses de Martinho Lutero estavam muito além de tão somente revolucionar a fé, mas sim, reformar a igrejaem todos os sentidos. Pois, de acordo com a sua concepção a educação era de vital importância. Cambi (1999) clarifica a iniciativa de Lutero quando diz: O interesse de Lutero pelos problemas de educação e da escola está contido numa série de discursos e de apelos dirigidos aos homens políticos alemães (carta aos conselheiros comunais de todas as cidades da Alemanha, de 1524; Sermão sobre a necessidade de mandar os filhos à escola, de 1530), além de alguns escritos de caráter religioso (Grande e pequeno catecismo, de 1529). A sua concepção pedagógica baseia-se num fundamental apelo à validade universal da instrução, afim de que todo homem possa cumprir os próprios deveres sociais. “Se não existissem nem a alma nem o Paraíso nem o Inferno, e ainda se não se deve levar em consideração apenas as questões temporais, haveria igualmente necessidade de boas escolas, masculinas e femininas, e isso para poder dispor de homens capazes de governar bem e mulheres em condições de conduzir bem as suas casas”. A instrução é, portanto, uma obrigação para os cidadãos e um dever para os administradores das cidades (CAMBI, 1999, p. 248, 249). 13 Em razão disso, quando se fala na Reforma Protestante e suas contribuições para o fomento e avanço da educação, um fato o qual não pode deixar de ser mencionado diz respeito a uma reorganização das escolas e o nascimento dos ginásios. Nesse sentido, Cambi (1999) reitera dizendo: Graças à estreita colaboração entre a nova Igreja reformada e as autoridades civis, sobretudo as da Saxônia, efetua-se primeiro uma reorganização das escolas municipais e, sucessivamente, chega-se a fundar algumas escolas secundárias financiadas e controladas pelo Estado. Nascem assim os ginásios, que são o primeiro e mais duradouro núcleo da escola nacional alemã (CAMBI, 1999, p. 250). De forma semelhante, observa-se, portanto, que outros reformadores aderiram-se à causa de Lutero em prol da educação e do conhecimento. Sobre a Academia de Genebra, fundada por João Calvino, e sua relevância para o avanço da educação González (2011) pondera que: Em 1559, Calvino viu cumprir-se um dos seus sonhos, ao ser fundada a Academia de Genebra, sob a direção de Teodoro Beza, que depois sucedeu Calvino como chefe religioso da cidade. Naquela academia, a juventude genebrina se formou segundo os princípios calvinistas. Porém, seu principal impacto se deve a que pessoas procedentes de vários outros países cursaram nela estudos superiores. Depois elas levaram o calvinismo a seus países (GONZÁLEZ, 2011, p. 69). Após o início da reforma com Lutero, Calvino e Zwínglio, outros vultos deram prosseguimento à causa da educação, entre os quais, João Amós Comênio (1592- 1670), conhecido como o pai da educação moderna. Portanto, ao falar de Comênio, Mangalwadi (2012) destaca o seguinte: Comênio nasceu no dia 28 de março de 1592 em Nivnice, Morávia, atualmente na República Checa. Faleceu em 15 de novembro de 1670 depois de servir aos Irmãos morávios como bispo, escrever cerce de 90 livros sobre educação, demonstrando sua filosofia educacional em vários países, inspirando o nascimento da Real Sociedade de Ciências na Inglaterra e ajudado a organizar a primeira universidade moderna em Halle, Alemanha. A Universidade de Halle mais tarde se uniu à de Lutero para formar a Universidade Wittenberg-Halle (MANGALWADI, 2012, p. 253). Conforme observado até o momento, fica clara a impossibilidade de negar a influência do cristianismo, sobretudo, da Reforma Protestante e seu avanço na educação e fundação de instituições para este fim. Pois, segundo Neto (2018), antes da reforma, existiam em todo o mundo apenas 60 universidades. E mais, tais 14 instituições eram restritas á formação do clero. Contudo, após esse movimento as portas das universidades foram abertas à população de modo geral, graças a criação de grandes universidades fundadas por cristãos, a saber, Yale, Harvard, Princeton e a Universidade Livre de Amsterdã, fundada por Abraham Kuyper, em 1881. Os puritanos, pais fundadores da nação americana e responsáveis por lançar as bases para a fundação das principais e mais prestigiadas instituições educacionais da América do Norte opunham-se veementemente à ignorância. Os puritanos defendiam de forma maciça a causa do estudo e a faculdade da razão. Tanto é que John Preston chegou a declarar: “Eu não nego que um homem possa ter muito conhecimento sem ter graça, por outro lado... não se pode ter mais graça do que se tem conhecimento” (Ryken, 2013, p. 266). Por volta de 1740, período no qual a nação americana encontrava-se em seu início, as únicas escolas de ensino superior resumiam-se a Yale, William and Mary e Harvard. Entretanto, os ventos do avivamento trouxeram consigo não só apela à santidade, mas também, zelo pela educação. E, como resultado disso, os presbiterianos fundaram Princeton, os batistas fundaram, Brown, os reformados holandeses fundaram Rutger e, os congregacionais, por sua vez, fundaram Dartmouth (PIPER, 2002, p. 176). É importante destacar o fato de que, quando se fala do avanço educacional encabeçado pelo cristianismo, tais conquistas não ficaram restritas à Europa e América do Norte, mas outras nações, inclusive da Ásia, foram abençoadas por homens e mulheres de grande envergadura espiritual e intelectuais, os se empenharam em levar educação de qualidade ao povo. Um exemplo disse foi William Carey (1761-1834). Em 1793 Carey foi para a Índia para se tornar o pai da educação nas línguas do povo. Seguido por Joshua Marshman, a faculdade da missão organizada em Serampore em 1818 foi a primeira da Índia a usar línguas populares. Carey, o líder da missão, lecionava metade de cada semana em Serampore e a outra metade na faculdade Fort William, em Calcutá. Um dos maiores tradutores da Bíblia de todos os tempos, Carey se tornou um modelo para um incontável número de missionários-educadores. Além de seu trabalho linguístico, Carey lecionava regularmente sobre ciências e astronomia e tinha grande conhecimento de botânica, jardinagem, silvicultura e agricultura (MANGALWADI, 2012, p. 239). 15 De forma semelhante, o impacto e influências do cristianismo em outras partes da Ásia não foram diferentes. Para se ter uma ideia, a maior universidade para mulheres do mundo é a Ewha, em Seul, na Coréia do Sul. Nesse sentido, Mangalwadi (2012) destaca a seguinte explicação: Enquanto a Sociedade Missionária Feminina Estrangeira da Igreja Episcopal Metodista discutia planos missionários para o Japão e a China, uma mulher idosa suplicou aos seus pares que não desprezassem o pequeno reino na península Coreana aninhado entre os dois gigantes asiáticos. Três anos mais tarde, Fary F. Scranton (1832-1909), uma missionária metodista com 52 anos de idade, iniciou a primeira escola para mulheres da Coreia em uma casa localizada nhoque atualmente é o bairro Chong-dong em Seul. Não foi fácil para ela encontrar moças estudantes. A única mulher disposta a assumir o risco da desaprovação social foi a concubina do rei. Por volta de 1887 Mary já tinha sete alunas, e Minbee, a esposa de Gojong, o imperador da Coreia, deu à nova escola o nome de ER ha Hagdang, que significa “escola da pera que floresce”. Um labor como esse ajudou a transformar aquele pequeno reino em um dos maiores países da Ásia (MANGALWADI, 2012, p. 256). Em suma, pode-se dizer que, com base na história, antes da Reforma Protestante, embora a educação já fosse fomentada pelos cristãos, ainda assim, tratava-se de um luxo propenso somente ao clero. Contudo, a reforma foi a luz que revolucionou o sistema educacional, promovendo a abertura de escolas, universidades da Europa à Ásia, sendo literalmente testemunha de Cristo até os confins da terra (At 1. 8). 2.2. O CRISTIANISMO E A EDUCAÇÃO NO BRASIL É quase uma ofensa escrever artigos, desenvolver teses e textos sofisticados sobre a influência docristianismo na história, na educação e transformação do Ocidente, sem, no entanto, mencionar o brilhante desempenho dos padres jesuítas no processo de escolarização e alfabetização em terras brasileiras. Mas primeiro, se faz necessário um breve e sucinto relato sobre a origem dos jesuítas. Com a Reforma Protestante, vários outros movimentos reformistas espalharam-se pela Europa, chegando à Suíça, Inglaterra, Escócia e Países Baixos, o que obrigou a Igreja Católica a instalar a Reforma Católica. Em razão disso, conforme González (2011), alguns monges e líderes católicos viram-se obrigados a reformar também a vida monástica: 16 Havia inúmeros monges e monjas convencidos da necessidade de reformar a vida monástica, dedicando-se a fazê-lo. Assim, começaram a aparecer em diversas partes da Europa novas ordens. Algumas delas eram um esforço de voltar às antigas observâncias; outras, entretanto, iam longe, e tratavam de criar novas organizações que pudessem responder melhor às necessidades da época. Aliás, o melhor exemplo das primeiras foi a Ordem das Carmelitas Descalças, fundada por Teresa de Jesus; e das segundas, a dos jesuítas, que devem sua existência a Inácio de Loyola (GONZÁLEZ, 2011. p, 109- 110). Desse modo, Ao falar sobra a Companhia de Jesus e seu surgimento, Castro e Silveira (2016), informa que: Já em 1539, depois de peregrinar por Espanha e Veneza, sete homens reunidos em torno do basco Inácio de Loyola foram a Roma e fundaram a Companhia de Jesus, ou SocietatisIesu. No ano seguinte, no dia 27 de setembro de 1540, o Papa Paulo III oficializou a Sociedade como Ordem eclesiástica por meio da bula Regimini Militantis Ecclesiae. Dez anos mais tarde, em 21 de julho de 1550, a bula Exposcit Debitum, do Papa Júlio III, aprovou a Formula Instituti da SocietatisIesu, confirmando a Companhia de Jesus como Ordem missionária. Nesse momento das grandes transformações econômicas, culturais, políticas, sociais e religiosas do século XVI nasceu, portanto, a Companhia de Jesus, fruto da Reforma da Igreja Católica, que juntamente com o Concílio de Trento e a Inquisição, tentava devolver a confiabilidade e a seriedade perdidas no trajeto histórico dessa instituição, ajudando principalmente no combate aos partidários da Reforma Protestante. O que se espera deixar claro, nesse momento, é a dimensão cultural, o aspecto intelectual que influenciou e possibilitou que um pequeno grupo de homens pudesse reunir-se, fundar e manter, sob a orientação de Inácio de Loyola, uma das maiores e mais atuantes Ordens missionárias do mundo (CASTRO E SILVEIRA, 2016. p, 29). A instituição teve papel importante na reestruturação da Igreja Católica, após a Reforma Protestante, quando o Clero passou a ser duramente criticado por certas doutrinas e práticas. Desse modo, citando Azevedo (1976), Neto e Maciel (apud, 2008, p, 4), afirmam que, a princípio, a Companhia de Jesus tinha como objetivo formar um exército de soldados da Igreja Católica capazes de combaterem a heresia e converter os pagãos, apresentando desse modo características de uma milícia. Logo, para atingir seus objetivos, os jesuítas – soldados de Cristo –, deveriam passar por uma reciclagem intelectual e científica para combater os vícios e os pecados e purificá-los contra o mal. Seu papel na sociedade portuguesa da época foi fundamental, pois cabia a eles propiciar as condições necessárias para educar os grupos sociais menos favorecidos da população. Portanto, sua obra tornava-se uma 17 atividade de caridade. Portanto, o ensino jesuítico, no início de suas atividades, não era um ensino para todos e sim para uma pequena parcela da população, pois se destinava exclusivamente a ensinar os “ignorantes” a ler e escrever. Consequentemente, os jesuítas alastraram-se rapidamente pela Europa e logo fundaram missões na Ásia, África e América. Em 1626, eram mais de 15 mil membros e, em 1749, mais de 22 mil. Observa-se que, ao falar da contribuição dos jesuítas para com outras nações, Woods (2008), destaca o seguinte: A contribuição dos jesuítas para o conhecimento científico e a infraestrutura de outras nações menos desenvolvidas não se limitou à Ásia, mas estendeu-se à África, e às Américas Centra e do Sul. A partir do século XIX, os jesuítas montaram nesses continentes observatórios destinados a estudos de astronomia, meteorologia, sismografia e física solar. Esses observatórios introduziram nesses lugares a medição acurada do tempo, permitiram fazer previsões climáticas, [...] e avaliar o risco de terremotos, e forneceram os primeiros dados cartográficos. Nas Américas Central e do sul, os religiosos trabalharam principalmente em meteorologia e sismologia, lançando os fundamentos dessas disciplinas nesses lugares. A eles se deve o desenvolvimento científico de muitos desses países, do Equador até o Líbano ou as Filipinas (WOODS, 2008. p, 96-97). Ademais, muitos dos jesuítas se distinguiram nas mais variadas áreas da filosofia, ciência e educação. Posto isto, tendo em vista um breve pano de fundo o qual auxilia na descoberta da origem dos jesuítas, agora, a pergunta é: Como eles chegaram ao Brasil? De mister, há de se observar que os jesuítas dispunham de grande influência política em Portugal, país responsável pelo envio dos religiosos ao Brasil. Portanto, segundo González (2011, p, 242), para que a ordem fosse estabelecida, em 1549 o rei fez do Brasil uma colônia real, e comprou seus direitos dos donatários. Entretanto, na companhia do primeiro governador, Tomé de Sousa, chegaram às terras brasileiras os primeiros jesuítas, sob a direção de Manuel da Nóbrega. Pouco depois, em 1551, Júlio III nomeou como primeiro bispo do Brasil a Dom Pero Fernandes Sardinha. Todavia, conforme informa Garschagem (2015, p, 43), embora Marquês de Pombal (1699-1782) tenha travado ferrenhas lutas contra os jesuítas, à época, responsáveis pelo ensino em Portugal e que também utilizavam a Bíblia e as obras 18 de Aristóteles e de São Tomás de Aquino como base para a instrução, é oportuno salientar que, O Colégio das Artes e a Universidade de Coimbra eram duas instituições administradas pelos religiosos e responsáveis pela formação da elite política portuguesa e de uma parcela significativa da elite política e intelectual brasileira durante os primeiros cinquenta anos do século XIX (GARSCHAGEN, 2015. p, 43). Portanto, nota-se em tais palavras que a influência dos jesuítas católicos não se restringia tão somente ao campo da política, mas, também, estendia-se à educação e aos altos escalões da esfera intelectual da época. Segue-se que, uma vez estabelecidos no Brasil, de acordo com Klein (2016), 15 dias após o primeiro desembarque no Estado da Bahia, ao passo que os portugueses trabalhavam com ímpeto para erguer a cidade de Salvador —, hoje capital do Estado —, ao mesmo tempo, os jesuítas colocavam em pleno funcionamento a primeira instituição educativa em solo brasileiro, escola esta a qual foi construída por suas próprias mãos, buscando madeira na floresta e fazendo as taipas. Destaca-se que era uma escola elementar de ler, escrever, contar e cantar, dirigida pelo estudante jesuíta Vicente Rodrigues, que à época, contava apenas 21 anos de idade, o primeiro mestre-escola do Brasil. Sobre os jesuítas e seus relevantes serviços prestados à nação brasileira, observa-se a necessidade de colocar em destaque o Padre José de Anchieta. Nascido na Ilha de Tanarife, Ilhas canárias, no ano de 1533. Tendo aprendido a ler e escrever muito cedo, fora enviado à Universidade de Coimbra, onde se formou como o primeiro da classe em prosa e verso, tendo também se especializado em dialética e filosofia (RODRIGUES, 1897. p, 8). De acordo com Klein (2016), Padre José de Anchieta sabia português, latim, espanhol e tupi, língua na qual escreveu a primeira gramática e traduzindo o catecismo e outros textos para catequisaras crianças. Ademais, conforme destaca Klein (2016), Anchieta foi professor nos Colégios de Salvador, de São Vicente e de São Paulo, tendo também sido diretor dos colégios do Rio de Janeiro e de Vitória. Portanto, após a fundação do primeiro Colégio Jesuíta na cidade de salvador, vários outros colégios foram instituídos em diversas regiões do Brasil. Vejamos na íntegra o que diz Bacelar (sem data): 19 Vários outros colégios foram criados no Brasil, pelos jesuítas, em Porto Seguro, São Paulo (1554), Rio de Janeiro (1568), Olinda (1576), Ilhéus (1604), Recife (1655), São Luís, Paraíba, Santos, Belém, Alcântara (1716), Vigia (1731), Paranaguá (1738) e Desterro (1750). Em geral, eram escolas elementares que ensinavam a ler, escrever e contar, além de ensinamentos católicos (BACELAR, sem data). Um aspecto interessante é que, ao falar sobre os jesuítas e sua influência no sistema educacional brasileiro, Cordeiro (2016) destaca o seguinte: ...foram os jesuítas que trouxeram para o Brasil a matemática – os colégios da Bahia do Rio de Janeiro e de Pernambuco logo começaram a ministrar aulas de aritmética, e em 1757 o Colégio da Bahia instituiria uma Faculdade de Matemática. Os religiosos traziam para a colônia livros como Geometria, do grego Euclides, e importavam professores de peso, como Manuel do Amaral, que veio da Universidade de Coimbra para o Maranhão em 1690. Aliada à matemática estavam a astronomia e a cartografia, importantíssimas em tempos de longas navegações e viagens imprecisas para a exploração de novas terras. De colégios jesuíticos, saíram os primeiro construtores navais e pilotos de navios brasileiros, além de cais, canais e pontes construídos em todo o país, em especial no Rio de Janeiro e na Bahia (CORDEIRO, 2016. p, 111-112). Uma prova viva de que tais missionários, além de preocupação com a educação, empenharam-se também no progresso e construção da nova nação que acabara de iniciar seus primeiros passos rumo à história. A seguir, já no ano de 1847, de acordo com Klein (2016), os jesuítas fundaram uma escola de gramática na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Falando sobre os jesuítas e suas inúmeras contribuições educacionais em terras Brasileiras Klein (2016), ainda acrescenta que: Em 1870 os jesuítas da então Província da Galícia e da Província Germânica estabeleceram em São Leopoldo o Ginásio Nossa Senhora da Conceição, visando a formação de professores para as escolas da redondeza, fechado em 1912, para converter-se em Seminário Provincial. Nos 43 anos de existência foi o mais antigo colégio católico no Sul do Brasil. Em 1886, foi criado em Nova Friburgo o Colégio Anchieta, e em 1890 o seu homônimo, em Porto Alegre. Já no final do século XIX, em 1895, os jesuítas alemães fundaram o Ginásio São Luís Gonzaga, em Pelotas, cuja direção passou a ser assumida, em 1926, pelos Irmãos Lassalistas (KLEIN, 2016). No entanto, uma vez destacadas as contribuições e serviços dos jesuítas em prol da educação no Brasil, cumpre observar, portanto, que os protestantes não deixaram a desejar, pois, com o envio dos primeiros missionários às terras 20 brasileiras, além da evangelização o estabelecimento de instituições educacionais era a meta constante. Sobre isso, Matos (2009) é claro: Além de evangelizarem agressivamente, tanto nas principais cidades do litoral quanto no vasto interior do país, os missionários e seus colegas brasileiros abriram muitas escolas [...] a Escola Americana, embrião do futuro Mackenzie College e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Outras iniciativas dos primeiros tempos, todas da década de 1880, foram a Escola Evangélica de Botucatu (SP); a Escola Americana de Laranjeiras (SE), mais tarde transferida para Aracaju, e o Colégio de Dois Córregos (SP), do Rev. John B. Howell, um misto de escola agrícola e instituto bíblico, além de um grande número de pequenas escolas paroquiais (MATOS, 2009, p. 19, 20). Da mesma forma, presentes no Brasil desde 1870, os metodistas não deixam a desejar em nada quando se trata de investimento educacional. Segundo o Portal Metodista, Sua história tem início em 1881, graças à visão inovadora da missionária Martha Watts, que fundou o Colégio Piracicabano. Com a expansão das instituições educacionais por todo o País, em 1967 é criado o Cogeime – Instituto Metodista de Serviços Educacionais, agora sob o nome de Educação Metodista do Brasil, para celebrar a integração das instituições educacionais de qualquer nível ou especialização. Hoje são seis instituições de nível superior, 31 de educação básica ou suplementar, 13 teológicas, um centro de estudos e pesquisas sobre educação e metodismo, uma escola de música, um centro cultural e cerca de 100 polos de educação a distância; todas com a missão de formar profissionais éticos e conscientes da responsabilidade de sua atuação profissional na transformação da sociedade (PORTAL METODISTA, 2019). Por fim, embora não haja espaço para esgotar o assunto —, e este não é o objetivo do artigo —, ainda assim, cumpre observar que, embora citados apenas presbiterianos e metodistas, outras denominações tais como, batistas e luteranos muito contribuíram para o avanço da nação e o fomento educacional, mostrando que, ao contrário do que pensam os ateus e céticos, o cristianismo sempre prezou pela razão e desenvolvimento intelectual. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando se analisa a história da igreja, sobretudo, a trajetória dos grandes homens e mulheres, não se pode negar que a condição de seres humanos contribuiu para que os mesmos errassem. Portanto, admirar os feitos e contribuições de pessoas admiráveis não é o mesmo que aprovar tudo quanto fizeram e nutrir vistas grossas para com os erros e deslizes de tais pessoas. Logo, é plausível 21 considerar que, sendo formado por pessoas falhas e pecadoras, o cristianismo nem sempre acertou, pois seres humanos, erram, caem, cometem desacertos e, em alguns casos, até mesmo escândalos. Contudo, apesar dos erros, cumpri observar e destacar o fato segundo o qual o cristianismo cometeu mais acertos do que erros, imensuravelmente mais. A história é clara em mostrar as grandes contribuições cristãs através dos séculos entregando à humanidade uma das mais importantes instituições cuja influência ainda marca a trajetória da sociedade até a era contemporânea, as universidades. Em razão disso, uma vez que não seja possível construir uma sociedade sem educação, é visível a dívida que o mundo atual tem para com o cristianismo. Não fosse o cristianismo não existiriam as universidades. Logo, não fossem as universidades, a raça humana estaria estagnada no tempo e, as várias áreas do saber, hoje em pleno vigor, provavelmente sequer existiriam. Em suma, se hoje a população tem acesso ao ensino superior, escolas de alto padrão e o conhecimento cada dia mais simplificado, tudo isto, graças ao cristianismo. O ateísmo milita contra a fé e, na medida do possível, emprega grandes esforços para denegrir a imagem do cristianismo, todavia, o que muitos relutam em aceitar diz respeito ao fato da igreja defender o uso da razão, pois na ausência desta, provavelmente omundo seria um mar de ignorância. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz. Uma história que não é contada. 11º ed. – Lorena: Cléofas, 2015). BACELAR, Jonildo. Os jesuítas: a companhia de Jesus. Disponível em: https://www.historia-brasil.com/colonia/jesuitas.htm. Acesso em: 26/10/2020. CAMBI, Franco. História da pedagogia:São Paulo Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999. CORDEIRO, Tiago. A grande aventura dos jesuítas no Brasil. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2016. GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo: a era dos mártires e dos sonhos frustrados. vol. I.2 ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2011. —, História ilustrada do cristianismo: a era dos reformadores até a erainconclusa. Vol. II. 2 ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2011. GARSCHAGEN, Bruno. Pare de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. 3. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2015. HURLBUT, Jesse Lyman. História da igreja crista. São Paulo: Editora Vida, 2007. KLEIN, Fernando Luiz. História da educação jesuíta no Brasil. Disponível em: http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao- jesuita-no-brasil/. Acesso em: 26/10/2020. MCGRATH, Alister E. Teologia histórica: uma introdução à história do pensamento cristão. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2007. MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da teologia histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. —, Uma igreja peregrina: História da Igreja Presbiteriana do Brasil de 1959 a 2009. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. https://www.historia-brasil.com/colonia/jesuitas.htm http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-jesuita-no-brasil/ http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-jesuita-no-brasil/ 23 MACARTHUR, John. A Guerra pela verdade: lutando por certeza numa época de engano. São José dos Campos, SP: Fiel, 2016. MANGALWADI, Vishal. O livro que fez o seu mundo: como a Bíblia criou a alma da civilização ocidental. São Paulo: editora Vida, 2012. NETO, Benedito Guimarães Aguiar. Como a educação foi influenciada pela Reforma Protestante. Disponível em: https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/como-a-educacao-foiinfluenciada-pela- reforma-protestante/. Acesso em: 25/10/2020. PIPER, John. O sorriso escondido de Deus: o fruto da aflição na vida de John Bunyan, David Brainerd e William Cowper. São Paulo: Shedd Publicações, 2002. ROPS, Henri – Daniel. A igreja das catedrais e das cruzadas.vol. III, Ed. Quadrante, São Paulo, 1993. RYKEN, Leland. Santos no mundo: os puritanos como realmente eram. 2. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. SOUSA E CAVALCANTE, et al. Os jesuítas no Brasil: entre a Colônia e a República. Brasília: Liber Livro, 2016. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. Conheça a educação metodista do Brasil. Disponível em: http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a- educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista %20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&te xt=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o %20Metodista%20em%202018. Acesso em: 26/10/2020. VALENTIN, Ismael Forte. A reforma Protestante e a educação. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistascogeime/index.php/COGEIME/article/vi ewFile/66/66. Acesso em: 25/10/2020. WOODS JR, Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008. https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/como-a-educacao-foiinfluenciada-pela-reforma-protestante/ https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/como-a-educacao-foiinfluenciada-pela-reforma-protestante/ http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a-educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&text=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20em%202018 http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a-educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&text=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20em%202018 http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a-educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&text=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20em%202018 http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a-educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&text=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20em%202018 http://portal.metodista.br/noticias/2019/junho/conheca-a-educacaometodistadobrasil#:~:text=A%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20no%20Brasil,ensino%20e%20valores%20%C3%A9tico%2Dcrist%C3%A3os.&text=O%20Guia%20do%20Estudante%2C%20uma,da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Metodista%20em%202018 https://www.metodista.br/revistas/revistascogeime/index.php/COGEIME/article/viewFile/66/66 https://www.metodista.br/revistas/revistascogeime/index.php/COGEIME/article/viewFile/66/66
Compartilhar