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Ent e Manual Certificado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa De acordo com Programa e Metas Curriculares PORTUGUÊS António Vilas-Boas Manuel Vieira Edição do Professor pp. Educação literária 10 Contextualização histórico-literária 18 20 O pregador dirige-se aos peixes Capítulo I Recurso expressivo: gradação 21 Ficha de apoio nº 1 Texto e textualidade: coerência e coesão textual 24 Estrutura do sermão: virtudes e vícios Louvores aos peixes, em geral Capítulo II 26 Louvores aos peixes, em particular Capítulo III 30 Repreensões aos peixes, em geral Capítulo IV 34 Ficha de apoio nº 2 Intenção persuasiva e exemplaridade 35 Repreensões aos peixes, em particular Capítulo V 41 Temas comuns «Sermão de Santo António» e Os Lusíadas 42 Ficha de apoio nº 3 Crítica social e alegoria 45 Despedida e conselhos aos peixes Capítulo VI 46 Ficha de apoio nº 4 Linguagem e estilo pp. Educação literária 60 Contextualização histórico-literária 68 «Memória ao Conservatório Real» 70 Ato primeiro Cena I 71 Temas comuns D. Madalena de Vilhena de Frei Luís de Sousa e D. Inês de Castro de Os Lusíadas 72 Cena II 80 Cena III 78 Ficha de apoio nº 1 Dêixis 82 Ficha de apoio nº 2 O Sebastianismo: história e ficção 83 Cenas IV e V 86 Cenas VI e VII 88 Cenas VIII a XII 92 Ficha de apoio nº 3 A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica 93 Ato segundo Cena I 97 Temas comuns O retrato de D. Sebastião em Frei Luís de Sousa e em Os Lusíadas 98 Cena II 101 Cena V 106 Cena XI 99 Cena III 103 Cenas VI e VII 107 Cenas XII a XIV 100 Cena IV 104 Cenas VIII a X 110 Cena XV 111 Ficha de apoio nº 4 A dimensão trágica 114 Ato terceiro Cena I 120 Cenas II e III 125 Cenas VIII e IX 121 Cenas IV a VII 126 Cenas X a XII 128 Ficha de apoio nº 5 Recorte das personagens principais 131 Ficha de apoio nº 6 Linguagem e estilo pp. Gramática 21 Ficha de apoio nº 1 Texto e textualidade: coerência e coesão textual 29 Subordinação 33 Coesão textual pp. Oralidade Compreensão do oral 25 Capítulo II do «Sermão de Santo António» (excerto) 51 Discurso de José Saramago no banquete de receção do Prémio Nobel de Literatura Expressão oral 48 Filme Selma – a marcha da liberdade pp. Escrita 41 A crítica social no «Sermão de Santo António» 52 A atualidade e intemporalidade do pensamento do Padre António Vieira p. Leitura 49 Martin Luther King, «Tenho um sonho» 53 Esquema-síntese 54 Teste de avaliação de conhecimentos pp. Gramática 78 Ficha de apoio nº 1 Dêixis 81; 85; 97; 100; 119 Funções sintáticas 85; 97; 119 Dêixis 85; 106; 119 Coesão textual pp. Oralidade Compreensão do oral 77 «A química do amor» Expressão oral 81 Documentário «D. Sebastião, o rei mito» 91 Ameaças à vida privada na atualidade 133 Direito ao asilo e a questão da imigração pp. Escrita 91 110 127 Exposição sobre Os jovens e a crítica social um tema D. Madalena de Vilhena, personagem trágica Valor simbólico dos espaços em geral 136 A questão dos refugiados p. Leitura 134 «Nacionalismo de exclusão» 137 Esquema-síntese 138 Teste de avaliação de conhecimentos 1 2Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 6 Projeto de leitura 2 Índice geral pp. Educação literária 182 Contextualização histórico-literária 186 Introdução 188 Ficha de apoio nº 1 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico 190 Ficha de apoio nº 2 Linguagem e estilo 192 Questões familiares Capítulo I 194 Amor Capítulo II 196 Teresa Capítulo IV 202 Mariana Capítulo X 205 Temas comuns Teresa Albuquerque, Mariana e Maria de Noronha – três tipos femininos românticos 206 Simão Capítulo X 210 O crime Capítulo X 214 Conclusão 220 Ficha de apoio nº 3 Relações entre personagens 223 Ficha de apoio nº 4 O amor-paixão pp. Educação literária 144 Contextualização histórico-literária 146 Capítulo I 151 Capítulo VIII 155 Ficha de apoio nº 1 Deambulação geográfica e sentimento nacional 156 Capítulo X 160 Ficha de apoio nº 2 A representação da Natureza 161 Capítulo XX 164 Temas comuns Joaninha de Viagens na minha terra e a senhor das cantigas de amor 165 Ficha de apoio nº 3 Personagens românticas: Carlos e Joaninha 166 Capítulo XLIX 170 Ficha de apoio nº 4 Dimensão reflexiva e crítica 171 Ficha de apoio nº 5 Linguagem, estilo e estrutura pp. Gramática 187; 200 Funções sintáticas 193 Coerência e coesão 200; 209 Dêixis pp. Oralidade Compreensão do oral 201 «Igualdade de género» Expressão oral 201 A mulher, vítima de violência pp. Escrita 200 A vivência do amor entre os jovens 219 Simão – herói romântico 224 Texto Sensibilidade e bom senso, de Jane Austen p. Leitura 224 Sensibilidade e bom senso, de Jane Austen (apreciação crítica de livro) 225 Esquema-síntese 226 Teste de avaliação de conhecimentos pp. Gramática 159 Funções sintáticas 159 Subordinação 168 Coerência e coesão 150; 168 Dêixis pp. Oralidade Compreensão do oral 154 «Meios de comunicação e transportes» Expressão oral 169 Emigração entre os jovens pp. Escrita 150 O narrador – um projeto plural 169 O materialismo na sociedade moderna 174 Miss Julie, de Liv Ullmann p. Leitura 173 Miss Julie, de Liv Ullmann (apreciação crítica de filme) 175 Esquema-síntese 176 Teste de avaliação de conhecimentos 43 Camilo Castelo Branco, Amor de perdiçãoAlmeida Garrett, Viagens na minha terra 3 pp. Educação literária 232 Contextualização histórico-literária 241 O Ramalhete Capítulo I 243 Temas comuns Indícios trágicos associados aos espaços: o Ramalhete, em Os Maias, e o palácio de D. João de Portugal, em Frei Luís de Sousa 244 246 Pedro da Maia Capítulo I Recurso expressivo: sinestesia 247 Paixões fatais Capítulo II 250 O Jantar em Santa Olávia Capítulo III 253 O Jantar no Hotel Central - I Capítulo VI 255 Ficha de apoio nº 1 A descrição do real e o papel das sensações 256 O Jantar no Hotel Central - II Capítulo VI 258 Temas comuns Comicidade de Ega, Pero Marques e Brás da Mata 259 Ficha de apoio nº 2 Linguagem e estilo: reprodução do discurso no discurso 261 Ega Capítulo IX 265 As Corridas do Hipódromo Capítulo X 266 Temas comuns Crítica social em Os Maias e no «Sermão de Santo António» 267 Ficha de apoio nº 3 A representação de espaços sociais e a crítica de costumes 269 Maria Eduarda Capítulo XI 271 Paixão Capítulo XII 273 Temas comuns Carlos da Maia, de Os Maias, e Manuel de Sousa Coutinho, de Frei Luís de Sousa 274 Carlos e Maria Capítulo XIII 277 Ficha de apoio nº 4 Espaços e seu valor simbólico e emotivo (I) 279 Tragédia Capítulo XVII 282 Ficha de apoio nº 5 Características trágicas dos protagonistas: Afonso da Maia, Carlos da Maia, Maria Eduarda 284 Emoções Capítulo XVIII 286 Ficha de apoio nº 6 Espaços e seu valor simbólico e emotivo (II) 287 Ficha de apoio nº 7 Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga amorosa (Pedro da Maia, Carlos da Maia e Ega) 288 Ficha de apoio nº 8 Os Maias: personagensda ação central pp. Gramática 249; 276; 281 Funções sintáticas 259; 273 Ficha de apoio nº 2 Reprodução do discurso no discurso Uso do adjetivo e do advérbio 276 Coerência e coesão 276 Dêixis pp. Oralidade Compreensão do oral 290 Filme Debate pela liberdade, de Denzel Washington Expressão oral 246 Autorretrato de Edgar Degas (pintura) 290 Filme Debate pela liberdade, de Denzel Washington pp. Escrita 252 O papel dos avós na vida dos netos, na sociedade atual 266 Relação da sociedade atual com o desporto 285 Filme Os Maias, de João Botelho p. Leitura 291 «Como vemos a luz» 293 Esquema-síntese 294 Teste de avaliação de conhecimentos 5 Eça de Queirós, Os Maias 4 pp. Educação literária 300 Contextualização histórico-literária 302 «O palácio da ventura» 304 «Nox» 305 «Nihil» 306 Temas comuns Desilusão de Antero de Quental e de personagens como D. Madalena de Vilhena, de Frei Luís de Sousa, ou Afonso da Maia, de Os Maias 307 Ficha de apoio nº 1 Configurações do Ideal e a angústia existencial 308 Ficha de apoio nº 2 Linguagem, estilo e estrutura pp. Educação literária 318 Contextualização histórico-literária «O sentimento dum ocidental» 320 I - Avé Marias 322 II – Noite fechada 324 III – Ao gás 326 IV – Horas mortas 327 Temas comuns O imaginário épico em Os Lusíadas e em «O sentimento dum ocidental» 328 Ficha de apoio nº 1 Deambulação e imaginação: o observador acidental e o imaginário épico 330 «Cristalizações» 333 Ficha de apoio nº 2 A representação da cidade e dos tipos sociais 334 «De tarde» 336 «Num bairro moderno» 340 Ficha de apoio nº 3 Perceção sensorial e transfiguração poética do real pp. Gramática 303 Funções sintáticas 303 Coesão textual 303 Subordinação 303 Dêixis p. Oralidade Expressão oral 303 O descontentamento como motor do progresso humano p. Escrita 306 Os jovens e o mundo atual p. Leitura 309 «As Sete Cidades e as Furnas» 311 Esquema-síntese 312 Teste de avaliação de conhecimentos pp. Gramática 325; 338 Funções sintáticas 335; 338 Coerência e coesão 335; 338 Dêixis pp. Oralidade Compreensão do oral 323 «A Lisboa de Cesário» Expressão oral 335 Pintura Almoço na relva, de Édouard Manet 339 A Lisboa de Cesário pp. Escrita 332 A relação entre o sujeito poético e a cidade presente em «Cristalizações» 339 Fotografia de Lisboa, do livro Lisboa – cidade triste e alegre, de Victor Palla e Costa Martins p. Leitura 341 «Um poema gráfico», texto de Ana Soromenho 343 Esquema-síntese 344 Teste de avaliação de conhecimentos 6 7Antero de Quental, Sonetos completos Cesário Verde, Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde) 348 Anexo Informativo 5 William Shakespeare Romeu e Julieta Edição: 2007 Editor: Oficina do livro ISBN: 978-989-55-5317-4 «Julieta – Se eles te veem, matar-te-ão. Romeu – Ai! Há mais perigo nos teus olhos do que em vinte das suas espadas. Basta que me olhes com ter- nura e ficarei couraçado contra a sua inimizade. Julieta – Por nada deste mundo eu queria que te vissem aqui. Romeu – O manto da noite oculta-me aos olhos deles. Mas, se tu não me amas, que me importa que me en- contrem? Seria melhor que o ódio deles pusesse fim à minha vida do que a morte tardasse faltando-me o teu amor.» Saul Bellow Jerusalém – ida e volta Edição: 2011 Editor: Tinta da China ISBN: 978-989-67-1068-2 «Saímos para a rua, e o meu amigo David Shahar, que tem um peito largo, respira fundo e aconselha-me a fa- zer o mesmo. O ar, o próprio ar, é inspirador em Jerusa- lém, foram os Sábios que o disseram. Estou disposto a acreditar nisso. Eu sei que deve ter propriedades espe- ciais. A delicadeza da luz também me afeta. Olho lá para o fundo, na direção do Mar Morto, por sobre rochedos fendidos e casinhas com telhados bolbosos. A cor do te- lhado é a do chão, e no meio daquela paisagem estranha e mortiça o ar abrasador cai sobre nós com um peso qua- se humano.» Jane Austen Orgulho e preconceito Edição: 2012 Editor: Relógio d’Água ISBN: 978-989-64-1321-1 «Minha querida Lizzy, Desejo-te grande felicidade. Se o teu amor pelo sr. Darcy é apenas metade do que eu sinto pelo meu mari- do Wickham, então és decerto muito feliz. É um consolo saber-te tão rica, e, quando não tiveres mais nada para fazer, espero que te lembres de nós. Wickham gostaria muito de enveredar pela carreira jurídica, mas não creio que tenhamos dinheiro suficiente para vivermos sem auxílio. Qualquer emprego de trezentas ou quatrocen- tas libras por ano serviria; mas, se preferes, não mencio- nes o asunto ao sr. Darcy. A tua, etc.» Agustina Bessa-Luís Fanny Owen Edição: 2009 Editor: Guimarães editora ISBN: 978-972-66-5403-2 «– Há um baile em casa do barão do Corvo. Queres tu vir comigo? Apresento-te as três mulheres mais belas do Porto. – Que são duas, se estou bem ao par das tuas contas. – Pois que sejam duas. Mas merecem o nome das três Graças, pela abundância de beleza que elas têm. – Pa- receu aturdido e levou a mão ao pescoço, afrouxando o lenço de cetim com um puxão leve. – Ou não te serve a companhia? Eu sou boa pessoa. – Há boas pessoas que nos metem medo. Mas acom- panho-te. Um baile nunca é uma coisa trivial.» PR OJ ET O DE L EIT UR A: A NO SS A SE LE ÇÃ O 1º Período 2º Período eare a 17-44 te veem, matar-te-ãão. mais perigo nos teus olhos do que em do Luís tora 0303-2-2 le em casa ddo bab rãrão o dodo CCorvo. Queres resento te as três mulheres mais belas onceito 2121-1-1 da Lizzy, do a e volta 6868-2-2 a rua, e o meu u amamigigo o DaDavividd ShShahahar, que go respira fundo e aconselha-me a fa- Estes livros podem relacionar-se com Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, e Viagens na minha terra, de Almeida Garrett. Estes livros podem relacionar-se com Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Contudo Romeu e Julieta, de William Shakespeare, poderá associar-se a Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, e Jerusalém – ida e volta, de Saul Bellow, a Viagens na minha terra. 6 P R O F E S S O R EL11 15.1, 15.2, 15.3, 15.4, 15.6 O11 3.1, 3.2, 3.3; 4.2, 4.3, 4.4; 5.1, 5.2, 5.3, 5.4; 6.1, 6.2, 6.3 E11 10.1; 11.1; 12.1, 12.2, 12.3, 12.4, 12.5, 12.6; 13.1 Outras sugestões programáticas Proposta de atividades AA.VV. Antologia da poesia do século XVIII (poemas escolhidos) ALEXANDRE DUMAS Os três mosqueteiros ALMEIDA GARRETT Folhas caídas ANTON TCHEKOV Três irmãs ANTÓNIO NOBRE Só BRANQUINHO DA FONSECA O barão CHARLES BAUDELAIRE As flores do mal CHARLES DICKENS Grandes esperanças LEÃO TOLSTOI Ana Karenina LUANDINO VIEIRA Luuanda LUÍS CARDOSO Crónica de uma travessia LUÍS CARLOS PATRAQUIM Manual para incendiários e outras LUÍS DE GÓNGORA Antologia poética (poemas escolhidos) LUÍS DE STTAU MONTEIRO Felizmente há luar! MANUEL M. BARBOSA DU BOCAGE Antologia poética (poemas escolhidos) MÁRIO CLÁUDIO Guilhermina MIA COUTO A confissão da leoa MOACYR SCLIAR O centauro no jardim MOLIÈRE O Burguês gentil-homem OSCAR WILDE O retrato de Dorian Gray PEPETELA Crónicas com fundo de guerra RUBEM ALVES A torre da Barbela RUY DUARTE DE CARVALHO Como se o mundo não tivesse Leste RAINER MARIA RILKE Cartas a um jovem poeta STENDHAL O vermelho e o negro TOMAS TRANSTRÖMER 50 Poemas VICTOR HUGO Nossa Senhora de Paris VOLTAIRE Cândido ou o optimismoWILLIAM SHAKESPEARE Romeu e Julieta EMILY BRONTË O monte dos vendavais GONZALO TORRENTE BALLESTER Crónica do rei pasmado GUSTAVE FLAUBERT Madame Bovary GUY DE MAUPASSANT Contos HONORÉ DE BALZAC Tio Goriot JOHANN WOLFGANG VON GOETHE Fausto (excertos escolhidos) JOSÉ CRAVEIRINHA Antologia poética (poemas escolhidos) JOSÉ DE ALENCAR Iracema Florbela Espanca Sonetos Edição: 2011 Editor: Bertrand Editora ISBN: 978-972-25-2338-7 Amar! Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... 3º Período PR OJ ET O DE L EIT UR A ra 38-77 r amar perdidamente! do Apreciação crítica As obras indicadas para o desenvolvimento do Pro- jeto de Leitura estão relacionadas tematicamente com as obras em estudo no âmbito da educação literária. No leque das opções sugeridas, seleciona uma ou duas obras para leres ao longo do ano e para desenvol- veres uma apreciação crítica, numa apresentação oral, com duração entre dois e quatro minutos, ou num texto escrito, com uma extensão entre 200 e 300 palavras. Qualquer que seja a forma de apresentação da apre- ciação crítica a produzir, considera os seguintes tópicos: descrição sucinta do livro, enquanto objeto (for- mato, capa, contracapa, editor, ano, lugar de edi- ção, organização interna…); comentário crítico, com a indicação dos aspetos mais valorizados, como, por exemplo, um episódio relevante, personagens marcantes, espaço, rela- ção do autor/narrador/personagens, uma citação ou um excerto que valha a pena ler, reler e guar- dar na memória. Segue as fases habituais do processo de produção oral e escrita. Este livro pode relacionar-se, mais especialmente, com Sonetos completos, de Antero de Quental. 7 Educação literária Contextualização histórico-literária Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) Intenção persuasiva e exemplaridade Crítica social e alegoria Linguagem, estilo e estrutura: – visão global do sermão e estrutura argumentativa – o discurso figurativo: a alegoria, a comparação, a metáfora – outros recursos expressivos: a anáfora, a antítese, a apóstrofe, a enumeração e a gradação Leitura Martin Luther King, discurso político: «Tenho um sonho» Gramática Texto e textualidade: – coerência textual – coesão textual Escrita Exposição sobre um tema: a crítica social no «Sermão de Santo António» Exposição sobre um tema: atualidade e intemporalidade do pensamento do Padre António Vieira Oralidade Compreensão do oral Exposição sobre um tema: capítulo II do «Sermão de Santo António» (excerto) Discurso político: José Saramago no banquete de receção do Prémio Nobel da Literatura Expressão oral Apreciação crítica: filme Selma – a marcha da liberdade Em destaque: 1Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» 1500 1600 1640 1700 1800 SÉCULO XVII Barroco 1580 1640 1608 1619 1697 1716-17281654 Início da dominação filipina Restauração da Independência Início do reinado de D. João IV Padre António Vieira – «Sermão de Santo António» Morte do Padre António Vieira, em S. Salvador da Baía, Brasil Publicação da coletânea Fénix Renascida, de poetas da 1ª metade do século XVII Nascimento do Padre António Vieira, em Lisboa Publicação de Corte na aldeia, de Francisco Rodrigues Lobo Acontecimentos literários Acontecimentos históricos Contextualização histórico-literária I. O Barroco Texto 1 A arte barroca A arte barroca estendeu-se por todo o século XVII e pelas primeiras décadas do século XVIII. A sua difusão abrangeu quase toda a Europa e a América Latina. O Barroco nasceu e desenvolveu-se, no princípio do século XVII, na Roma dos papas. Mais do que um estilo definido, era uma tendência comum a todas as artes: um gosto, em suma. Em seguida, espalhou-se como que em círculos concêntricos pelo resto da Europa e por regiões sob a sua influência. Esta onda, proveniente de Itália, encontrou-se e fundiu- -se com escolas e tendências locais. Dela nasceram numerosas artes de tipo nacional, cada uma delas com características próprias, particulares. São essas artes, no seu conjunto, que constituem a arte barroca. Os resultados que elas alcançaram, tanto na arquitetura como na pintura e nas outras disciplinas, não são, de forma alguma, inferiores às italianas. No plano teórico, o caráter típico do Barroco foi uma enorme ambiguidade. Os seus artistas proclamavam-se herdeiros do Renascimento e declaravam aceitar-lhe as regras; mas violavam-nas sistematicamente, quer na letra quer no espírito. O Renascimento era equilíbrio, medida, sobriedade, racionalismo, lógica. O Barroco foi movimento, ânsia de novidade, amor pelo infinito e pelo não finito, pelos contrastes e pela audaciosa mistura de todas as artes. Foi dramático, exuberante, teatral, tanto quanto a época anterior fora serena e comedida. Flavio Conti, Como conhecer a arte barroca, Lisboa, Edições 70, 1996, pp. 3-4 (texto adaptado) 1. Indica as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F). Corrige as afirmações falsas. a. A arte barroca circunscreveu-se à Europa. b. A arte barroca apresenta variantes nacionais ou regionais. c. A arte do Renascimento caracteriza-se, tal como a do Barroco, pela exuberân- cia formal. d. A arte barroca apresenta como traço essencial a inquietação formal. - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - O Barroco na pintura O Barroco na arquitetura Caravaggio, detalhe de O tocador de alaúde (1594), Museu Hermitage, em São Petersburgo, Rússia Basílica de S. Pedro, em Roma, concebida por Donato Bramante et alii (1506-1626) Torre dos Clérigos, no Porto, concebida por Nicolau Nasoni (1754-1763) Guido Reni, detalhe de O massacre dos inocentes (1611), Pinoteca Nacional de Bolonha, Itália Diego Velázquez, detalhe de As meninas (1656), Museu do Prado, em Madrid, Espanha Josefa de Óbidos, detalhe de Menino Jesus salvador do mundo (1684), Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, em Coimbra, Portugal 10 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R Nota geral A indicação dos tópicos de con- teúdo do Programa e os descri- tores das Metas Curriculares surgirão sempre, no Manual, no início de cada unidade didática, sumariamente. Nota específica O Programa e Metas Curricula- res prevê oito tempos letivos [de 45 minutos] para o tratamento do «Sermão de Santo António». Sugestão didática A linha cronológica localizada no separador desta sequência didática poderá ser explorada com os alunos no âmbito da con- textualização histórico-literária. 1. a. F (A arte barroca difundiu-se também na América Latina.) b. V c. F (Diferentemente da arte barroca, marcada pela exube- rância, a arte da renascença caracterizava-se pela medida e pelo equilíbrio.) d. V 2. (B) 3. (C) 4. (A) Apresentação Contextualização históri- co-literária (Sequência 1) Vídeo Padre António Vieira (vida, obra e atualidade) visto por Professora Micaela Rámon EL11: 16.1 L11: 7.1, 7.4, 7.5; 8.1 EL11 Contextualização histórico-literária Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) Intenção persuasiva e exemplari- dade Linguagem, estilo e estrutura – visão global do sermão e estrutu- ra argumentativa Texto 2 A literatura barroca Na literatura barroca, a expressão da beleza alcança um fulgor, um engenhoso requin- te e uma exuberante riqueza que a poesia renascentista está longe de oferecer. Através de um léxico opulento e raro,através de uma profusa e audaciosa utilização de hipérboles, acumulações, alusões e metáforas, a literatura barroca compraz-se na representação de tudo quanto é peregrinamente belo na figura humana, nas coisas, nas paisagens, nas cria- ções artísticas devidas ao engenho dos homens. O tema da fugacidade, da ilusão da vida e das coisas mundanas ocupa um lugar cen- tral na literatura barroca. As motivações religiosas desse tema são bem evidentes: trata-se de lembrar ao homem que tudo é vão e efémero à superfície da terra, que a vida carnal é uma passagem e que é necessário procurar uma realidade suprema isenta de mentira e de imperfeição. As ruínas atestam a transitoriedade do homem e os poetas meditam angus- tiados sobre a fragilidade da vida humana, sobre a destruição e o vazio que espera tudo o que é grácil e luminoso. Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da literatura, Coimbra, Almedina, 2009, pp. 486, 487 e 493 (texto adaptado) 2. Atenta no primeiro parágrafo do texto. Escolhe a opção correta. A arte literária barroca caracteriza-se essencialmente pela (A) presença de um vocabulário requintado. (B) variedade de recursos expressivos. (C) insistência na beleza da figura humana. (D) utilização de hipérboles. 3. Escolhe a opção que permite obter uma afirmação correta. No segundo parágrafo, estabelece-se uma relação direta entre (A) a efemeridade da vida e a dimensão religiosa do homem barroco. (B) a dimensão religiosa do homem barroco e a transitoriedade da vida. (C) a mentalidade religiosa do homem barroco e a temática da literatura barroca. (D) a mentalidade religiosa do homem barroco e a visão da vida enquanto ilusão. 4. Indica qual das duas opções seguintes sintetiza mais adequadamente o conteúdo do segundo parágrafo. (A) O tema principal da literatura barroca é o da fugacidade da vida. Este tema está intimamente ligado a uma visão religiosa do mundo que valoriza o Além, o eterno, e desvaloriza a vida na terra, pelo facto de ser transitória. (B) O tema principal da literatura barroca é o das ruínas. Estas são o símbolo da fugacidade da vida, do que foi belo e morreu. O escritor barroco desvaloriza, através deste símbolo, a vida terrena. - - - - 5 - - - - 10 - - - 11 Contextualização histórico-literária 1 P R O F E S S O R 1. a. V b. V c. F (A oratória barroca carac- terizava-se por abordar temas de natureza religiosa, mas tam- bém temas de natureza política ou cívica.) d. V II. Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) Texto 1 A oratória A oratória é um género literário que compreende todo o discurso oral dirigido a um au- ditório com a finalidade de o convencer de uma determinada mensagem, pela razão, pela sensibilidade ou pelo prazer que nele provoca o texto dito. A oratória pode ser sagrada ou profana. A primeira aborda temas de natureza religiosa, a segunda temas de natureza política ou cívica. Durante o período Barroco, a oratória sagrada caracteriza-se por juntar temas sagrados e profanos, uma vez que os sermões são motivo para tratar uma infinidade de assuntos, desde a comemoração do nascimento de um príncipe à morte de uma rainha, entre outros. Síntese elaborada com base em Aníbal Pinto de Castro, «Oratória», in Biblos, Enciclopédia Verbo das literaturas de língua portuguesa, volume 3, Lisboa, 1999, colunas 1280-1282 Texto 2 Características da oratória barroca Tende a captar a atenção do destinatário mediante a concentração de recursos expres- sivos, com a intenção de persuadir: a metáfora inesperada, a alegoria, a antítese, a hi- pérbole, a enumeração… Concretiza-se através de uma linguagem poética engenhosa, isto é, trabalhada intelec- tualmente para estabelecer relações inesperadas e insólitas entre as coisas, as palavras, as ideias. Valoriza o período longo, organizado engenhosamente em várias secções dispostas antitética ou simetricamente ou em sucessões compostas por duas ou mais partes. Visa, deste modo, provocar admiração no recetor, deslumbrado por uma linguagem marcada pelo excesso, pela acumulação de detalhes e pelo virtuosismo verbal. Apresenta três objetivos principais: docere (ensinar), delectare (encantar, deleitar) e movere (persuadir). Síntese elaborada com base em António José Saraiva, O discurso engenhoso – Estudos sobre Vieira e outros autores barrocos, São Paulo, Editora Perspectiva, 1980 1. Assinala as afirmações verdadeiras (V) e a única afirmação falsa (F), relativamente aos textos anteriores. Corrige a afirmação falsa. a. A oratória implica obrigatoriamente uma intenção persuasiva. b. Tradicionalmente, distinguem-se dois tipos de oratória. c. A oratória barroca caracterizava-se por abordar exclusivamente temas de natureza religiosa. d. A arte da persuasão assentava na utilização de recursos expressivos que espantavam pela novidade. - - - - 5 - - - - - - - 5 - - - - 10 - - 12 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R 2. a. V b. V c. F (O sermão barroco aborda- va temas religiosos e também temas sociais e políticos.) 3. (A) Texto 3 Objetivos da eloquência barroca [No sermão do período Barroco] os seus assuntos e objetivos alargam-se a múlti- plos aspetos da vida social e política, trans- formando-se em verdadeiros espetáculos estranhos à celebração litúrgica, onde as multidões acorrem como se fossem ao tea- tro. E os pregadores servem-se não raro do púlpito para defenderem ideias políticas e tecerem duras críticas aos comportamentos individuais e coletivos. Deste modo, o sermão cumpre um dos objetivos da oratória barroca – docere. Con- tudo, dadas as características de virtuosis- mo verbal do pregador barroco, os outros dois objetivos, delectare e movere, passaram, principalmente o primeiro destes dois, a ocupar lugar central no sermão: o ouvinte era mais atingido pelo deleite e pela emoção – originados no estilo engenhoso do pregador – do que pelos seus ensinamentos. Síntese elaborada com base em Aníbal Pinto de Castro, «Retórica» e «Sermão», in Biblos – Enciclopédia Verbo das literaturas de língua portuguesa, volume 4, Lisboa, Verbo, 2001, colunas 733 e 1273 2. Indica as afirmações verdadeiras (V) e a afirmação falsa (F), relativamente ao texto 3. Corrige a afirmação falsa. a. O sermão barroco propiciava a reflexão sobre a vida coletiva. b. O sermão barroco caracterizava-se pela teatralidade. c. O sermão barroco abordava exclusivamente temas religiosos. 3. Escolhe a opção correta. No período barroco, o objetivo de ensinar através da prega- ção era difícil de atingir porque (A) a linguagem dos pregadores era de tal modo extraordinária que os ouvintes prestavam mais atenção à forma do discurso do que ao seu conteúdo. (B) os ouvintes estavam mais interessados no que os pregadores diziam do que no modo como o faziam. (C) as temáticas que o pregador trazia para o púlpito não interessavam aos ouvin- tes. (D) os ouvintes se interessavam mais pelos temas religiosos do que pelos assun- tos profanos que o pregador tratava. - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - - - 20 Rembrandt, Pregação de S. João Baptista (1634-1635), Galeria Gemälde, Berlim, Alemanha 13 Contextualização histórico-literária 1 P R O F E S S O R 1. a – 3; b – 1 ; c – 2; d – 4 III. Padre António Vieira – o homem missionário e a obra Texto 1 Vida e obra VIEIRA, Pe. António (6/2/1608, Lisboa – 13/6/1697, Baía). Foi levado para o Brasil aos 6 anos de idade, onde fez a sua primeira educação. Voltan- do ao Reino com pouco mais de 30 anos, já ordenado, trazia fama de orador, a qual não cessou de aumentar. Começou, pois, também a pregar em Portu- gal. Após a subida ao trono de D. Afonso VI [1656], perdeu o apoio régio de que gozava e foi perseguido e atacado pelo Santo Ofício, chegando a estar encarcerado dois anos. Aos 70 anos regressa ao Brasil, onde morre, avança- do em anos, após uma vida quedividira e gerira entre a missão social, evan- gelizadora e político-diplomática. A vida, a personalidade e a obra deste jesuíta apresentam-se marcadas por uma intrínseca coerência. Um dos as- petos que primeiro ressaltam como característica é a concordância entre a sua obra humana, o seu pensamento e a sua palavra. O dinamismo como marca fundamental do seu perfil torna-se também a marca inconfundível do seu estilo. O anticonvencionalismo faz dele o missionário que percorre quase descalço os sertões brasileiros com o mesmo à-vontade e o mesmo entusiasmo com que desempenha as suas funções de embaixador diplomático de Portugal em Paris, Haia, Londres e Roma. É, antes de mais, um espírito combativo, e essa combatividade é moldada, simultaneamente, pelo vigor, pela lógica e também pelo visionarismo. Um dos motivos centrais da sua ação reformadora e crítica é a luta contra a escravatura e contra a sede de ambição e domínio dos colonos do Brasil. A sua obra compreende quinze volumes de Sermões e Cartas, que, idênticos no vigor da argu- mentação e no poder de convicção, se mostram, todavia, diferentes quanto ao estilo, na medida em que, nos Sermões, predominam as características oratórias e, nas Cartas, o estilo se atenua numa maior familiaridade e serena simplicidade de expressão. Maria Leonor Carvalhão Buescu, «Padre António Vieira» in Álvaro Manuel Machado (org. e dir.), Dicionário de literatura portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1996, p. 502 (texto adaptado) 1. Associa as informações de ambas as colunas, de modo a obteres afirmações condizentes com o sentido do texto. A B a. Humanamente, o Padre António Vieira caracteriza-se 1. pelo empenho com que defendeu o que consi- derava injustiças. b. Socialmente, o Padre António Vieira distingue-se 2. por um estilo marcado pela capacidade argu- mentativa. c. Os Sermões do Padre António Vieira definem-se 3. pela grande capacidade de adaptação aos mais variados e diferentes ambientes. d. As Cartas do Padre António Vieira caracterizam-se 4. por um estilo marcado pela simplicidade. - 15 - - - - 20 - - - - - - - 5 - - - - 10 - - - Arnold van Westerhout, António Vieira, padre jesuíta e escritor português (c. 1600), coleção privada 14 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R 1. b. (Os colonos apresentavam três argumentos a favor da es- cravização dos índios.) Texto 2 «Sermão de Santo António»: contexto histórico Vinham de longe as diferenças entre o zelo evangelizador dos Jesuítas e a ganância da maioria dos colonos. Estes não queriam ceder a ninguém a tutela dos índios que capturavam como escra- vos, nas entradas pelo sertão; aqueles desejavam organizá-los em comunidades que os mantivessem ao abrigo da rapacidade e dos maus exemplos de comportamento moral e social dos portugue- ses. A publicação de uma ordem régia que concedia liberdade aos índios cativos foi o rastilho que rapidamente ateou o fogo da dis- córdia. Os protestos atingiram tal violência que só a intervenção da força armada, às ordens do capitão-mor, impediu a expulsão dos missionários recém-chegados. Reunido na Câmara [da cida- de do Maranhão], o povo amotinado exigiu a imediata suspensão da lei, sob pretexto de que os cativeiros e, por consequência, os escravos, eram legítimos, os índios eram bárbaros e sempre po- tenciais inimigos de Portugal e (razão sobre todas ponderosa) a economia do Estado não podia sustentar-se sem o seu trabalho. […] As hostilidades assumiam proporções cada vez mais graves. Os colonos recorreram a Lisboa, procurando um instrumento que anulasse definitivamente as ordens régias anterio- res que favoreciam a posição dos padres. Perante a crescente agudização do conflito, Vieira resolve ir ao reino, crente de que, com o seu valimento, poderia resolvê-lo a favor das suas posições. Antes, porém, não resistiu à tentação de, mais uma vez, defrontar os seus inimi- gos e os inimigos da Companhia quando, a 13 de junho de 1654, prega o famoso «Sermão de Santo António», onde, com acerada ironia, se vai servindo dos vários peixes para verberar de novo as vilanias, as hipocrisias e as extorsões que muitos dos seus ouvintes praticavam, no foro privado como em público. Aníbal Pinto de Castro, António Vieira – Uma síntese do barroco luso-brasileiro, Lisboa, CTT Correios, 1997, pp. 93-107 (texto adaptado) 1. Das afirmações seguintes, só uma não se pode comprovar com o texto. Identifica-a e corrige-a. a. Na origem do «Sermão de Santo António» está o conflito entre os colonos do Maranhão e os Jesuítas – ordem religiosa a que pertencia o Padre António Vieira –, a propósito da escravatura dos índios. b. Os colonos apresentavam quatro argumentos a favor da escravização dos índios. c. O Padre António Vieira decidiu ir a Lisboa, convencido de que poderia influenciar o poder político a favor dos Jesuítas no conflito com os habitantes do Maranhão a propósito da escravatura dos índios. d. Antes de partir, o Padre António Vieira pronunciou um sermão, no qual se dirigiu aos peixes, criticando os seus maus comportamentos como se estes fossem seres humanos. - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - - - 20 - - - - 25 Charles Legrand, O Padre António Vieira (1839), Litografia da R. N. dos Martyres, nº 12, Lisboa, Portugal 15 Contextualização histórico-literária 1 P R O F E S S O R 1. a. Texto 1 b. Texto 3 c. Texto 2 - - - - 5 - - - - - 5 - - - - - - - 5 - - IV. Vieira, pregador barroco Texto 1 Função do pregador Ao chamar a si o papel de medianeiro entre Deus e os homens, proje- tando para o exterior a imagem de uma entidade de recorte ético e espi- ritual mais elevado, o pregador predispunha-se a guiar a comunidade que lhe fora confiada, em questões que transcendiam largamente a esfera es- piritual ou religiosa, servindo-se para o efeito de vários momentos do ca- lendário litúrgico, de festividades religiosas ou de cerimónias oficiais […]. Paulo Mota Oliveira, «Poder e eloquência sacra em António Vieira», in Carlos Reis, José Augusto Cardoso Bernardes e Maria Helena Santana (coord.), Uma coisa na ordem das coisas – Estudos para Ofélia Paiva Monteiro, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012, p. 632 (texto adaptado) Texto 2 O sermão como espetáculo Convirá atender à diferença entre pregação e sermão: este último é um texto escrito, que teria sido apenas uma das componentes do espetáculo da pregação; outras intervinham nesse ato irrepetível: o espaço, a ilumi- nação, as reações do auditório, os gestos, o olhar, os tons de voz e toda a expressão corporal do pregador, segundo regras minuciosas em que os jesuítas eram cuidadosamente treinados. A própria arquitetura adotou o modelo jesuítico da igreja-salão, para que o púlpito fosse visto e a voz do pregador inteiramente captada. Margarida Vieira Mendes, «O Padre António Vieira, pregador barroco», in História da literatura portuguesa, volume 3, Lisboa, Publicações Alfa, 2002, p. 178 Texto 3 «Sermão de Santo António»: intenção persuasiva Todo o discurso de Vieira assenta sobre o trabalho simultaneamen- te analítico, interpretativo e inventivo que exerceu sobre as palavras, tratando-as como seres desmembráveis, reestruturáveis, combináveis, polissémicos e não sobre o recurso a um vocabulário especialmente rico ou rebuscado. Este trabalho não foi concebido meramente como um jogo verbal, mas sobretudo como uma forma de encadear e de desenvolver o pensamento, de argumentar, de demonstrar e de persuadir. Mafalda Ferin Cunha, Padre António Vieira, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 58 (texto adaptado) 1. Associa as afirmações seguintes aos textos respetivos. a. O pregador barroco era um guia em assuntos religiosos e também profanos. b. O pregador barroco tinha como principal objetivo argumentar e convencer. c. O pregador barroco fazia do sermão uma encenaçãoteatral. João Alvim, Padre António Vieira (2013), in Revista Círculo de Leitores, edição nº 208, Lisboa, p. 3 Autor desconhecido, ilustração de livro, Perúgia (1579) Um sacerdote prega socorrendo-se de quadros expostos na igreja para ilustrar o seu sermão. 16 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» V. Visão global e estrutura argumentativa da obra «Sermão de Santo António» Partes Estrutura argumentativa Exemplos Exórdio Capítulo I Conceito predicável: expressão bíblica «vós sois o sal da terra» O pregador apresenta a TESE que vai ser defendida através de argumentos apropriados, com a intenção de persuadir, convencer o auditório: A TERRA ESTÁ CORRUPTA (não se deixa salgar) «Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes.» Exposição Capítulo II O pregador indica o plano do sermão, que dividirá em virtudes (ou louvores) e defeitos (ou vícios) dos peixes. «[…] dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo repreen- der-vos-ei os vossos vícios.» Confirmação Capítulo II O pregador apresenta as virtudes ou os louvores dos peixes, em geral. Capítulo III O pregador louva alguns peixes, em particular. Cada um deles apresenta virtudes que não existem nos homens. Argumentos a favor da tese inicial: argumento da exploração do homem pelo homem, de diversos modos; argumento das discórdias entre os homens; argumento da vaidade dos homens. Capítulo IV O pregador apresenta os defeitos gerais dos peixes, isto é, dos homens. Capítulo V O pregador analisa defeitos de peixes específicos, isto é, de tipos humanos concretos: argumento da presunção, do orgulho e da soberba (o exemplo do peixe roncador); argumento do compadrio e do parasitismo (o exemplo do peixe pegador); argumento da vaidade e da ambição desmedida (o exemplo do peixe voador); argumento da traição (o exemplo do polvo). «Começando pois pelos vossos louvores…» «Descendo ao particular, infinita matéria fora, se houvera de discorrer pelas virtu- des que o Autor da natureza a dotou e fez admirável em cada um de vós. De alguns somente farei menção.» «[…]assim como ouvistes os vossos lou- vores, ouvi também agora as vossas repreensões.» «Descendo ao particular, direi agora, pei- xes, o que tenho contra alguns de vós.» Peroração Capítulo VI Exortação aos ouvintes no sentido de louvarem a Deus. «Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos» 17 Contextualização histórico-literária 1 Antes de ler Lê o excerto da carta do Papa Francisco, uma das vozes que mais se faz ou- vir em defesa dos oprimidos, e refere a sua posição relativamente ao valor que os aborígenes atribuem à terra e às pressões de que estes são alvo pelos interesses económicos. 146. É indispensável prestar atenção especial às comunidades aborígenes com as suas tradições culturais. […] Para eles a terra não é um bem económico, mas dom gra- tuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores. Eles, quando per- manecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida. Em várias partes do mundo, porém, são objeto de pressões para que abandonem as suas terras e as deixem livres para projetos extrativos e agropecuários que não prestam atenção à degradação da Na- tureza e da cultura. Papa Francisco, Encíclica sobre o cuidado da casa comum, http://w2.vatican.va/ (consultado em 17.09.2015) P R O F E S S O R Antes de ler O papa recorda os aborígenes, que não atribuem valor econó- mico à terra, vendo-a como um dom de Deus e dos seus ante- passados. A terra é, por isso, um espaço sagrado com o qual eles interagem como forma de man- terem a sua identidade e os seus valores. Por isso, o papa defende a per- manência dos aborígenes nos seus territórios, alertando para o erro relativamente às pres- sões de que são alvo para que os abandonem. Sugestão didática Os alunos podem ser levados a inferir relações possíveis da encíclica com o sermão: a explo- ração dos índios e a ocupação das suas terras pelos colonos europeus. L11 7.2, 7.6 (Antes de ler) EL11 14.1, 14.2, 14.4, 14.11, 14.12; 15.1, 15.2 G11 18.1, 18.2 EL11 Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) Linguagem, estilo e estrutura – o discurso figurativo: a alegoria, a comparação, a metáfora – outros recursos expressivos: a anáfora, a antítese, a apóstrofe, a enumeração, a gradação G11 Texto e textualidade a) coerência textual (compatibi- lidade entre as ocorrências tex- tuais e o nosso conhecimento do mundo; lógica das relações intra- textuais) b) coesão textual: – lexical: reiteração e substituição; – gramatical: referencial (uso ana- fórico de pronomes, frásica (con- cordância), interfrásica (uso de conectores), temporal (expressões adverbiais ou preposicionais com valor temporal, ordenação corre- lativa dos tempos verbais) Sermão de Santo António Pregado na Cidade de São Luís do Maranhão, ano de 16541 Este Sermão (que todo é alegórico) pregou o Autor três dias antes de se embarcar ocul- tamente para o Reino, a procurar o remédio da salvação dos Índios, pelas causas que se apontam no 1.º Sermão do 1.º Tomo2. E nele tocou todos os pontos de doutrina (posto que perseguida) que mais necessários eram ao bem espiritual, e temporal daquela terra, como facilmente se pode entender das mesmas alegorias. O pregador dirige-se aos peixes Vos estis sal terrae [Mt 5]3. Capítulo I «Vós», diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, «sois o sal da terra»; e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; ou é por- que o sal não salga, e os Pregadores dizem uma coisa, e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que di- zem; ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - 1 No sábado de 13 de junho 2 «Sermão da Sexagésima» 3 [Mt 5, 13] «Vós sois o sal da terra» Educação literária 18 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» 4 «E se o sal perde a sua força, com que se há de salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora, para ser pisado pelos homens.» 5 valente 6 cidade atual de Rimini 7 protesto 8 forte dedicação 9 decisões Suposto pois que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar; que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta ter- ra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras, et conculcetur ab hominibus4 [Mt 5, 13]. Se o sal per- der a substância, e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina, e ao exemplo, o que se lhe há de fazer é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal coisa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência, e de ser posto sobre a cabeça, que o Pregador, que ensina, e faz o que deve; assim é merecedor de todo o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra, ou com a vida prega o contrário. Isto é o que se deve fazer aosal, que não salga. E à terra, que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho; mas temos sobre ele a resolu- ção do nosso grande Português Santo António, que hoje celebra- mos, e a mais galharda5, e gloriosa resolução, que nenhum Santo tomou. Pregava Santo António em Itália na Cidade de Arimino6, contra os Hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o Santo, mas chegou o Povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação7, e uns pés, a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência, ou a covar- dia humana; mas o zelo8 da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a seme- lhantes partidos9. Pois que fez? Mudou somente o púlpito, e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: «Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes». Oh mara- vilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava, e eles ouviam. Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos estis sal terrae: é muito bom Texto para os outros Santos Doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os outros Santos Doutores da Igreja foram sal da terra, Santo António foi sal da terra, e foi sal do mar. Este é o assunto, que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que nas festas dos Santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais, que o sal da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta Igreja, e noutras de manhã, e de tarde, de dia, e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária, e importante é a esta terra, para emenda, e reforma dos vícios, que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis, e eu por vós o sinto. - - 20 - - - - 25 - - - - 30 - - - - 35 - - - - 40 - - - - 45 - - - - 50 - - - - 55 - - - - 60 - - Garcia Fernandes, Santo António pregando aos peixes (c. 1600), Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal 19 1Capítulo I | Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) P R O F E S S O R Educação literária 1. O sermão inicia-se com a me- táfora na qual os pregadores são metaforizados em «sal da terra». 1.1 Trata-se de uma expressiva metáfora, pois o sal salga, isto é, conserva, impede que os ali- mentos se estraguem ou cor- rompam. Do mesmo modo o pregador deve, pela palavra, al- cançar o objetivo de impedir a corrupção da terra, dos fiéis, mantendo-os dentro da boa dou- trina e de práticas cristãs e éti- cas. 2. Trata-se da anáfora – uma sequência anafórica – da con- junção «ou», através da qual o pregador tenta analisar, desco- brir as várias causas da corrup- ção na terra. 2.1 Os pregadores são acusados de não pregarem a doutrina ca- nónica; os ouvintes de não faze- rem caso da doutrina pregada – quando ela é boa. Por outro la- do, os pregadores são ainda acu- sados de não serem coerentes entre palavras e obras, aprovei- tando-se disso os ouvintes para os imitar não nas palavras mas nos atos. Além disso, os prega- dores são acusados de esque- cerem a palavra de Cristo na pregação, pregando antes os seus interesses, que leva os ou- vintes a uma conduta de vida pautada pelos seus próprios in- teresses. 3.1 É estabelecido um contraste entre os pregadores que pregam a doutrina, mas dela se afastam nos atos, e os que são coerentes entre palavras e ações: os pri- meiros devem ser criticados e os segundos louvados. 4.1 Santo António pregava em circunstâncias difíceis, pois o seu auditório era composto por hereges, desinteressados na sua doutrina e agressivos para com ele. 4.2 A ação do santo tornou-se exemplar no sentido em que não desistiu de pregar a sua doutrina, para glória de Deus: não a podia pregar aos homens, foi fazê-lo aos peixes, que o escutaram. Isto suposto, quero hoje à imitação de Santo António voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto, que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o Sermão, pois não é para eles. Maria quer dizer Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria. Padre António Vieira, «Sermão de Santo António», in Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, volume X, Lisboa, Circulo de Leitores, 2014, pp. 137-139 1. Identifica a metáfora bíblica com a qual se inicia o sermão. 1.1 Explica a sua expressividade literária, relacionando-a com a intenção do pregador. 2. Identifica o recurso expressivo usado no primeiro parágrafo para apresentar as causas da corrupção na «terra», que engloba os que pregam e os que escutam a pregação. 2.1 Refere as críticas que são feitas aos pregadores e aos seus ouvintes. 3. O segundo parágrafo apresenta, em forma de antítese, dois tipos de pregadores. 3.1 Justifica esta afirmação. 4. O pregador apresenta Santo António como um exemplo. 4.1 Explicita as circunstâncias difíceis em que ele pregava «na Cidade de Arimino» (l. 36). 4.2 Refere, justificando, em que consistiu a sua exemplaridade. 5. Considera o segmento textual que começa em «Mudou somente […]», (l. 45) e termi- na em «[…] e eles ouviam.» (l. 50). 5.1 Apresenta, justificadamente, uma opinião sobre a reação dos ouvintes a este momento do sermão. 6. Atenta nas expressões destacadas no segmento textual seguinte: «Muitas vezes vos tenho pregado nesta Igreja, e noutras de manhã, e de tarde, de dia, e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária, e importante é a esta terra, para emenda, e reforma dos ví- cios, que a corrompem.» (ll. 58-60). - - 65 - - Nota informativa A sequência de quatro expressões destacadas concretiza um recurso expres- sivo denominado gradação que consiste na disposição em cadeia dos termos de uma enumeração ou série, segundo uma ordem progressiva – que pode ser de natureza ascendente ou descendente. 6.1 Define a natureza da série de expressões destacadas. 6.2 Refere a intencionalidade comunicativa do pregador ao utilizar esta gradação. 6.3 Identifica, no mesmo segmento, outra série de expressões com valor de gradação. 7. Explicita a invocação e o pedido feitos no final do capítulo. 20 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» Ficha de apoio nº 1 P R O F E S S O R 5.1 Dada a sequência «Deixa […]», «vai […]», dadas as excla- mações do pregador, dada a lin- guagem metafórica «[…] ferver as ondas […]» (l. 48), o auditório ficou certamente encantado e emocionado com a arte do pre- gador. 6.1 A natureza desta gradação é ascendente, pois inicia-se com uma parte do dia, a «manhã», e termina na «noite», recobrindo assim o dia inteiro. 6.2 Com esta gradação, o prega- dor define-se como alguém que não cessa de pregar a doutrina cristã, sempre pronto para o fa- zer – em qualquer altura do dia. 6.3 «doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira,» (l. 59) 7. No final do capítulo, o prega- dor invoca o auxíliode Nossa Senhora, «Senhora do mar», pe- dindo-lhe que o ajude na sua pregação, já que vai pregar aos peixes, o que é algo de extraor- dinário – «assunto […]» «desusa- do» (l. 66). Ficha de apoio nº 1 1. 1 – (B); 2 – (C); 3 – (E); 4 – (A); 5 – (D) O texto coerente: O padre António Vieira dirige-se aos pregadores afirmando que eles são o sal da terra. Isto quer dizer que Jesus Cristo quer que eles façam na terra o que faz o sal – impedir a sua corrupção. De seguida estranha que havendo no Maranhão tantos pregadores, a terra seja, afinal, tão corrup- ta. Por isso, pergunta qual será a causa dessa corrupção, avan- çando com um conjunto de hipó- teses. Entre elas sobressaem a má conduta dos pregadores que não pregam e a teimosia da ter- ra que se não deixa salgar. Con- clui, lamentando que tudo o que afirma seja verdade. Texto e textualidade: coerência e coesão textual Coerência textual Ao leres o capítulo I do sermão pudeste observar que: nada nele vai contra o que conheces do mundo, em geral, e do mundo do século XVII, em particular; por outras palavras, o ouvinte do sermão ou o leitor do mesmo reconheceria ao ouvi-lo ou ao lê-lo nesse século as coordenadas reli- giosas, culturais ou sociais do seu mundo como corretas; ele se apresenta ordenado logicamente, seguindo uma progressão evidente, que começa na constatação de que a terra está corrupta e na indagação das causas deste estado; o texto progride, criticando os maus pregadores e os maus ouvintes; apresenta depois o exemplo de Santo António e da sua pregação aos peixes, dado não ter audiência humana, e termina com a resolução do pregador em pregar também aos peixes, uma vez que nada espera dos homens. Por estes motivos, o texto apresenta coerência textual, a propriedade dos textos que: representam a normalidade do mundo; se apresentam logicamente ordenados; progridem através de relações lógicas internas ou intratextuais – de causa, de consequência, etc.; não apresentam informação contraditória entre si. 1. Ordena os segmentos textuais seguintes de modo a obteres um texto coerente. (A) Entre elas sobressaem a má conduta dos pregadores que não pregam e a tei- mosia da terra que se não deixa salgar. (B) O padre António Vieira dirige-se aos pregadores afirmando que eles são o sal da terra. Isto quer dizer que Jesus Cristo quer que eles façam na terra o que faz o sal – impedir a sua corrupção. (C) De seguida estranha que havendo no Maranhão tantos pregadores, a terra seja, afinal, tão corrupta. (D) Conclui, lamentando que tudo o que afirma seja verdade. (E) Por isso, pergunta qual será a causa dessa corrupção, avançando com um con- junto de hipóteses. Coesão textual Se releres o primeiro parágrafo do capítulo I com a intenção de encontrares palavras ou expressões que se repetem, detetarás vários exemplos desse facto: «sal», «sal da terra», «terra», «corrupção», «ouvintes»… Através destas repetições, o texto apresen- ta-se como um objeto coeso: elas são a primeira marca evidente de coesão textual, propriedade dos textos que assentam numa rede sequencial lógica. 21 1Ficha de apoio nº 1 Texto e textualidade: coerência e coesão textual No quadro seguinte, encontrarás os principais processos de sequencialização que contribuem para a coesão textual. Mecanismos de coesão Explicação Exemplos 1. Coesão lexical Constrói-se através de a. repetições ou reiterações de palavras ou expressões b. substituições – por sinonímia – por antonímia – hiperonímia / hiponímia – holonímia / meronímia a. «pregadores» (palavra várias vezes repe- tida no capítulo) b. – «galharda» / «gloriosa» (l. 35) – «reverência» (l. 27) / «desprezo» (l. 29) – peixe / rémora – peixe / escamas 2. Coesão gramatical 2.1 Coesão referencial Constrói-se através de a. anáforas (palavras, frequentemente pro- nomes, mas também advérbios, que re- cuperam referentes que ocorreram antes no texto) b. catáforas (palavras, frequentemente pro- nomes, que antecipam referentes que ocorrerão depois no texto). a. «[…] o que se lhe há de fazer é lançá-lo fora […]» (l. 24) [ambos os pronomes têm como referente «o pregador», que surgiu antes no texto] Nota: o conjunto sequencial de palavras que se re- ferem à mesma realidade anteriormente men- cionada, ou a retomam, designa-se cadeia de referência. Neste exemplo: pregador – lhe – o. b. Ouvimo-lo e vimo-lo em S. Roque: o Padre António Vieira é um pregador extraordinário! [Os dois pronomes an- tecipam um referente que ocorre à sua direita no texto.] 2.2 Coesão frásica Constrói-se através de mecanismos de concordância (entre sujeito e verbo, entre sujeito e predicativo do sujeito, entre com- plemento direto e predicativo do comple- mento direto): marcas idênticas de pessoa e número, de género e número. «Os outros Santos Doutores da Igreja fo- ram sal da terra, […]» (l. 53) [Concordância entre sujeito e verbo – pes- soa e número] 2.3 Coesão interfrásica Constrói-se através de conectores (conjun- ções e locuções conjuncionais e advérbios conectivos) que ligam frases ou orações (coordenação ou subordinação). Estes conectores estabelecem relações de natureza semântica muito variada entre as frases ou as orações. «[…] é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos.» (ll. 24-25) [valor de fim ou objetivo] “«Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes.»” (l. 47) [valor de causa] 2.4 Coesão temporal Constrói-se através a. da ordenação correlativa dos tempos verbais: fomos… vimos b. da utilização de expressões adverbiais ou preposicionais de valor temporal: de manhã… à tarde; primeiramente… a. «Deixa as praças, vai-se às praias, dei- xa a terra, vai-se ao mar, e começa […]» (l. 46) b. «Este é o assunto, que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que nas festas dos Santos é melhor pregar como eles, […]» (ll. 54-55) Quadro elaborado com base em AA. VV., Gramática da língua portuguesa, 6ª edição, Lisboa, Caminho, 2003, pp. 87-114 22 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R 1. (C) 2.1 a. «já que» b. «tão… que» c. «pois» d. «posto que» 3. (A) 4. (C) Apresentação Coerência e coesão textual 1. Seleciona a opção que completa corretamente a frase. As reiterações das palavras «sal» e «salgar», ao longo do primeiro parágrafo do capítulo I, asseguram, no texto, a (A) coesão interfrásica. (B) coesão frásica. (C) coesão lexical. (D) coesão temporal. 2. Atenta no último parágrafo do capítulo I. «Isto suposto, quero hoje à imitação de Santo António voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto, que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o Sermão, pois não é para eles. Maria quer dizer Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desu- sado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.» (ll. 63-67) 2.1 Identifica os conectores interfrásicos com valor de a. causa; b. consequência; c. explicação; d. concessão. 3. Seleciona a opção que completa corretamente a frase. O pronome pessoal destacado em «Quem se atrevera a dizer tal coisa, se o mesmo Cristo a não pronunciara?» (ll. 25-26) concretiza (A) uma anáfora. (B) uma catáfora. 4. Seleciona a opção que completa correta- mente a frase. No segmento textual «Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; […]» (ll. 9-12), as duas anáforas pronominais sublinhadas concre- tizam exemplos de (A) coesão temporal. (B) coesão interfrásica. (C) coesão referencial. (D) coesão lexical. Santo António pregando aos peixes (c. 1600), registo de faiança policroma, Oficina de Lisboa,Escadinhas do Jogo da Pela, Museu da Cidade, Lisboa, Portugal Caderno de Atividades Ficha nº 7: Coerência textual p. 22 Ficha nº 8: Coesão textual p. 24 Anexo Informativo Coerência e coesão textual pp. 372-373 23 1Ficha de apoio nº 1 Texto e textualidade: coerência e coesão textual P R O F E S S O R EL11 14.1, 14.2, 14.3, 14.4, 14.6, 14.7 a), 14.11, 14.12; 15.1, 15.2 O11 1.1, 1.4, 1.5, 1.6 EL11 Crítica social e alegoria Linguagem, estilo e estrutura – outros recursos expressivos: a antítese, a apóstrofe e a enumeração O11 Exposição sobre um tema: caráter demonstrativo, elucidação evidente do tema (fundamentação das ideias), concisão e objetividade, valor expressivo das formas linguísticas (deíticos, conectores…) Educação literária Estrutura do sermão: virtudes e vícios Louvores aos peixes, em geral Capítulo II Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem, e não falam. Uma só coisa pudera desconsolar ao Pregador, que é serem gente os peixes que se não há de con- verter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu, nem Inferno: e assim será menos triste este Sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre à lembrança des- tes dois fins. Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são, e preservá-lo, para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações do vosso Pregador Santo António, como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma é louvar o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar, e repreender o mal, para preservar dele1. Nem cuideis que isto pertence só aos homens, porque também nos peixes tem seu lugar. Assim o diz o grande Dou- tor da Igreja, São Basílio: Non carpere solum, reprehendereque possumus pisces, sed sunt in illis, et quae prosequenda sunt imitatione. «Não só há que notar», diz o Santo, «e que repreender nos peixes, senão também que imitar, e louvar». Quando Cristo compa- rou a Sua Igreja à rede de pescar, Sagenae missae in mare2 [Mt 13, 47], diz que os pesca- dores recolheram os peixes bons, e lançaram fora os maus: Collegerunt bonos in vasa, malos autem foras miserunt3 [Mt 13, 48]. E onde há bons, e maus, há que louvar, e que repreender. Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vos- so Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segun- do repreender-vos-ei os vossos vícios. E desta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que melhor vos está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos. Começando pois pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem vos pudera eu dizer que entre todas as criaturas viventes, e sensitivas, vós fostes as primei- ras, que Deus criou. A vós criou primeiro que as aves do ar, a vós primeiro que aos animais da terra, e a vós primeiro que ao mesmo homem. Ao homem deu Deus a monarquia, e o domínio de todos os animais dos três elementos, e nas provisões, em que o honrou com estes poderes, os primeiros nomeados foram os peixes: Ut praesit piscibus maris, et volatilibus caeli, et bestiis, universaeque ter- rae4 [Gn 1, 26]. Entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais, e os pei- xes os maiores. Que comparação têm em número as espécies das aves, e as dos animais terrestres com as dos peixes? Que comparação na grandeza o Elefan- te com a Baleia? Por isso Moisés, Cronista da criação, calando os nomes de to- dos os animais, só a ela nomeou pelo seu: Creavit Deus cete grandia5 [Gn 1, 21]. E os três músicos da fornalha da Babilónia o cantaram também como singular entre todos: Benedicite cete, et omnia quae moventur in aquis Domino6 [Dn 3, 79]. Estes, e outros louvores, estas, e outras excelências de vossa geração, e grandeza vos pudera dizer, ó peixes; mas isto é lá para os homens, que se deixam levar destas vaidades, e é também para os lugares, em que tem lugar a adulação, e não para o púlpito. […] Padre António Vieira, «Sermão de Santo António», in Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, volume X, Lisboa, Circulo de Leitores, 2014, pp. 139-140 - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - - - 20 - - - - 25 - - - - 30 - - - - 35 - - - - 40 - Tobias Verhaecht, detalhe de A torre de Babel (c. 1600), Museu-Castelo e Galeria de Arte de Norwich, Reino Unido 1 defender-se dele 2 «Redes lançadas ao mar» 3 «Recolheram os bons em vasos, mas deitaram fora os maus.» 4 «Para que tenha poder sobre os peixes do mar, as aves do céu e os animais selvagens e a terra inteira.» 5 «Criou Deus as grandes baleias.» 6 «Bendizei o Senhor, baleias e tudo quanto se move nas águas.» 24 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R Educação literária 1. O pregador vai começar por louvar os peixes, mostrando as suas virtudes; depois vai repreen- dê-los, denunciando os seus ví- cios ou pecados. 1.1 Ele segue este caminho por- que entre homens como entre os peixes há os bons e os maus: os primeiros devem ser louva- dos, os segundos censurados. 2. Fá-lo através da apóstrofe «ir- mãos peixes» (l. 8). 2.1 Esta apóstrofe contribui para a surpresa do auditório, fazendo- -o estar mais atento e mais próxi- mo do pregador. 3. Trata-se de uma relação de identidade: tanto nos homens como nos peixes se encontram motivos de censura e de louvor. 4. O pregador louva os peixes devido ao facto de terem sido criados por Deus antes de Ele ter criado outros seres vivos, in- cluindo o homem. Além disso, os peixes são o tipo de animal mais comum na Terra e entre eles se encontra o maior, a baleia. Compreensão do oral 1.1 a. a obediência, a ordem, a quie- tação e a atenção com que ou- vem a palavra de Deus; o respeito e a devoção que dedicaram aos pregadores b. perseguem Santo António, querendo lançá-lo ao mar; mos- tram-se furiosos e obstinados c. a apóstrofe «vós», a antítese «mar / terra» e a enumeração d. o tom de voz, a entoação, a ex- pressividade 2.1 Louvores gerais dos peixes 2.2 Expor as qualidades dos pei- xes 3.1 (A) 3.2 (B) Áudio «Sermão de Santo António», capítulo II (excerto) 1. Explicita a estrutura que o pregador vai dar ao sermão. 1.1 Apresenta a razão pela qual o pregador o estruturou desse modo. 2. Identifica o recurso expressivo através do qual o pregador se dirige ao seu público. 2.1 Menciona a sua função, justificando. 3. Esclarece a relação entre peixes e homens presente no segundo parágrafo. 4. Apresenta os vários louvores feitos pelo pregador aos peixes. Oralidade COMPREENSÃO DO ORAL Exposição sobre um tema Para convencer os habitantes do Maranhão a ouvirem a palavra de Deus, o Padre António Vieira segue alegoricamente o exemplo de Santo António, fingindo falar aos peixes, quando, de facto, prega aos homens. 1. Ouve o excerto áudio relativo à parte final do capítulo II do «Sermão de Santo António». 1.1 Toma notas no caderno sobre os seguintes tópicos: a. louvores aos peixes; b. comportamentos dos homens; c. recursos expressivos; d. recursos verbais e não verbais. 2. Escuta novamente o excerto. 2.1 Indica o tema dominante. 2.2 Refere a intenção comunicativa própria deste género textual. 3. Seleciona a opção que permite completar cada afirmação corretamente. 3.1 O Padre António Vieira refere as virtudes dos peixes. A sua primeira virtude – a obediência – é «confusão e afronta» para os homens porque (A) sendo irracionais, os peixes se comportam racionalmente, escutando a pregação de Santo António. (B) sendo racionais, os homens obedecem à doutrina pregada por Santo António. (C) sendo irracionais, os peixes se comportam irracionalmente, não ouvindo a pregação de Santo António. (D) sendo racionais, os homens não obedecemà doutrina pregada por Santo António. 3.2 Os peixes são louvados por não se domarem nem domesticarem. Eles merecem ser louvados porque (A) podem viver mais harmoniosamente com o homem pois este os protege. (B) podem viver livremente sem terem por perto o homem que os escraviza. (C) podem viver sem que a escravidão a que são submetidos os preocupe. (D) podem viver aceitando livremente o cativeiro do homem que os escraviza. «Sermão de Santo António», capítulo II (excerto) FAIXA 1 25 1Capítulo II | Crítica social e alegoria P R O F E S S O R Antes de ler 1. A sardinha nas festas de Lisboa de 2015 2. Possíveis relações de sentido: a sardinha enquanto peixe associa-se a Santo António como pregador; outras relações são possíveis. Link Festas de Lisboa (2015) Santo António, figura central do «Sermão de Santo António», é hoje associado a festividades de natureza popular nas quais o peixe possui um lugar central. 1. Vê o vídeo das sardinhas vencedoras do concurso «Sardinhas Festas de Lisboa ‘15», de Catarina Sobral, com música dos Deolinda, e identifica o tema tratado. 2. Tenta prever possíveis relações de sentido entre o conteúdo do vídeo e o excerto que vais ler do capítulo III, partindo do título. Educação literária Louvores aos peixes, em particular Capítulo III Passando dos [peixes] da Escritura aos da História natural1, quem haverá que não louve, e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora2? No dia de um Santo Me- nor3, os peixes menores devem preferir4 aos outros. Quem haverá, digo, que não ad- mire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo, e tão grande na força, e no poder, que não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas, e dos ventos, e de seu próprio peso, e grandeza, a prende, e amarra mais, que as mesmas5 âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos have- ria na vida, e que menos naufrágios no mundo! Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de Santo António, na qual como na Rémora se verifica o verso de São Gregó- rio Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit6. O Apóstolo Santiago naquela sua eloquentíssima Epístola compara a língua ao leme da Nau, e ao freio do cavalo. Uma, e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Ré- mora, a qual pegada ao leme da Nau é freio da Nau, e leme do leme. E tal foi a virtude, e força da língua de Santo António. O leme da natureza humana é o alvedrio7, o Piloto é a razão: mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do al- vedrio? Neste leme porém tão desobediente, e rebelde mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar, e parar a fúria das paixões humanas. Quantos correndo Fortuna na Nau soberba com as velas inchadas do vento, e da mes- ma soberba (que também é vento) se iam desfazer nos baixos8, que já rebentavam por proa, se a língua de António como Rémora não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora, e a de den- tro? Quantos embarcados na Nau Vingança com a artilharia abocada9, e os bota-fogos acesos10, corriam enfunados11 a dar-se batalha, onde se queimariam, ou deitariam a pi- que12, se a Rémora da língua de António lhes não detivesse a fúria, até que composta a ira, e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos navegando na Nau Cobiça sobrecarregada até às gáveas13, e aberta com o peso por todas as costuras14, - - - - 5 - - - - 10 - - - - 15 - - - - 20 - - - - 25 - - 1 aos da natureza; 2 pequeno peixe, de forma achatada, que tinha a capacidade de, aderindo ao timão de um navio, o impedir de avançar; 3 é um santo da Or- dem Franciscana, canonicamen- te designada Ordem dos Frades Menores; 4 ser preferidos, ter precedência em relação a; 5 as próprias; 6 «A língua é pequena, mas em força tudo vence»; 7 li- vre arbítrio, vontade de cada um; 8 baixios, isto é, bancos de areia ou rochedos cobertos por escas- sa quantidade de água do mar, perigosos para a navegação; 9 artilharia pronta para disparar; 10 morrões acesos, isto é, peda- ços de corda que se acendiam numa das extremidades para comunicar fogo às peças de ar- tilharia; 11 impelidos pelo vento, isto é, com as velas inchadas pelo vento, com grande velocidade; 12 iriam ao fundo; 13 tipo de vela; 14 junção de tábuas contíguas no casco de embarcação Antes de ler Vídeo promocional «Sardinhas Festas de Lisboa ‘15», de Catarina Sobral (2015) 26 1 Padre António Vieira, «Sermão de Santo António» P R O F E S S O R O11 1.1, 1.4 (Antes de ler) EL11 14.1, 14.2, 14.3, 14.4, 14.12; 15.1, 15.2 G10 18.1 G11 17.1 EL11 Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) Crítica social e alegoria Linguagem, estilo e estrutura – o discurso figurativo: a alegoria, a comparação e a metáfora G10 / G11 1. Retoma (em revisão) dos conteú- dos estudados no 10º ano: a frase complexa – subordinação. Nota O excerto relativo ao Santo Peixe de Tobias é apresentado e explorado nas páginas 54 e 55, no teste de avaliação de conhecimentos. 15 excessiva, irracional; 16 ne- voeiro forte; 17 Cila e Caríbdis – rochedos famosos, na Antigui- dade, por provocarem naufrá- gios, no Mediterrâneo; 18 Neste parágrafo alegórico, cada nau corresponde a um vício verbera- do pela língua-rémora do prega- dor; 19 peixe elétrico, conhecido como tremelga; o seu nome latino, torpedo, deve-se ao en- torpecimento que provoca o seu choque incapaz de fugir, nem se defender, dariam nas mãos dos Corsários com per- da do que levavam, e do que iam buscar, se a língua de António os não fi- zesse parar, como Rémora, até que aliviados da carga injusta15, escapassem do perigo, e tomassem porto? Quantos na Nau Sensualidade, que sempre navega com cerração16, sem Sol de dia, nem Estrela de noite, enganados do canto das Sereias, e deixando-se levar da corrente, se iriam perder ce- gamente, ou em Cila, ou em Caríbdis17, onde não aparecesse Navio, nem navegante, se a Rémora da língua de António os não contivesse, até que esclarecesse a luz, e se pusessem em via. Esta é a língua, peixes, do vosso grande Pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem, e choram na terra tantos naufrágios18. Mas para que da admiração de uma tão grande virtude vossa passemos ao louvor, ou inveja de outra não menor; admirável é igualmente a quali- dade daqueloutro peixezinho a que os Latinos chamaram Torpedo19. Am- bos estes peixes conhecemos cá mais de fama, que de vista; mas isto têm as virtudes grandes: que quanto são maiores, mais se escondem. Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a boia sobre a água, e em lhe picando na isca o Torpe- do, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve, e mais admirável efei- to? De maneira que num momento passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana, e da cana ao braço do pescador. Com muita razão disse que este vosso louvor o havia de referir com inveja. Quem dera aos pescadores do nos- so elemento, ou quem lhes pusera esta qualidade tremente, em tudo o que pescam na terra! Muito pescam; mas não me espanto do muito: o que me espanta é que pesquem tanto, e que tremam tão pouco. Tanto pescar, e tão pouco tremer? Pudera-se fazer pro- blema: onde há mais pescadores, e mais modos, e traças de pescar, se no mar, ou na terra. E é certo que na terra. Não quero discorrer por eles, ainda que fora grande con- solação para os peixes: baste fazer a comparação com a cana, pois é o instrumento do nosso caso. No mar pescam as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas), pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões, e até os cetros pescam, e pescam mais que todos, porque pescam
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