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Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 59 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE Tipos de liderança na relação dos gestoresTipos de liderança na relação dos gestoresTipos de liderança na relação dos gestoresTipos de liderança na relação dos gestoresTipos de liderança na relação dos gestores com seus assessorescom seus assessorescom seus assessorescom seus assessorescom seus assessores Guilherme Steinmann Especialista em Administração de Negócios pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Adilson Caldeira Professor da Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas da Universidade Presbiteriana Mackenzie RESUMO Com a tendência de redução de níveis em suas estruturas, as atividades operacionais antes confiadas a gerentes intermediários têm sido cada vez mais atribuição da alta gerência, que em virtude da limitação de tempo necessita apoiar-se em profissionais de assessoria. Trata-se de uma parceria que requer confiança, determinada pela liderança exercida pelo gestor. Neste trabalho aplicou-se um questionário a uma amostra de profissionais gestores e profissionais assessores a fim de conhecer os diferentes níveis de conscientização sobre o estilo de liderança.visando identificar estilos e características de liderança praticadas nessa relação. Os resultados demonstram a utilização de vários estilos, comumente determinada pela situação específica, com maior ou menor grau de autonomia e delegação. A prática de cada estilo não parece representar fator determinante do grau de satisfação e expectativa de assessores e gestores. Outra conclusão é a de que poucos líderes e assessores demonstram consciência para a influência do estilo de liderança nos resultados de sua parceria profissional, desperdiçando a oportunidade de melhorá-los. Palavras-chave: Estilo de liderança. Parceria. Assessoria de gestão. Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 60 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE 1 INTRODUÇÃO Os movimentos de mudança que atingem a humanidade e, em particular, as organizações empresariais, reforçam a necessidade de que cada ser humano assuma o papel de agente transformador do ambiente em que vive. A capacidade de transformação pode ser multiplicada por meio da liderança, relação de influência e poder entre indivíduos como forma de integrar procedimentos individuais, obtendo-se, por conseguinte, a sinergia no comportamento coletivo (LESSA, 1999). Com a crescente horizontalização das estruturas organizacionais, os níveis intermediários de gerência vão sendo reduzidos e os gestores passam a depender de um staff de extrema confiança para a operacionalização de suas decisões. Como agente que interage com líderes de diferentes níveis, o assessor desempenha um papel estratégico na organização. Os gestores necessitam confiar em colaboradores, compartilhando sobretudo a execução e o controle das medidas gerenciais necessárias às diversas circunstâncias que se apresentam. Trata-se de uma relação de parceria que requer respeito, confiança e estreita identidade de valores e propósitos. O objetivo do artigo é contextualizar as variantes dessa relação gestor-assessor com base no estilo de liderança utilizado. Ao compreender como o estilo de liderança do gestor afeta a relação profissional, o assessor poderá preparar-se melhor para representá-lo condignamente nas situações em que ele não puder estar presente. 2 REFERENCIAL TEÓRICO A relação entre líderes e liderados é tema de diversos trabalhos conceituais que permitem embasar as práticas aqui investigadas. Nesta seção, procurou-se recorrer a esse referencial para melhor compreender os fatores que podem afetar essas práticas. 2.1 CONCEITO DE LIDERANÇA Liderar não é tão somente ter controle ou autoridade (SELZNICK, 1971), mas um papel assumido por pessoas, seja esse papel consciente ou não. Dentre as diferentes teorias destinadas ao estudo da Liderança, serão aqui abordadas quatro principais. A primeira delas, a Teoria dos Traços, enfoca os estilos de liderança a partir das qualidades pessoais do líder relacionadas a habilidades ou aspectos da personalidade. Sobre essa teoria, explica Bergamini (1994, p.29): “As características dos líderes passam a ser estudadas dentro de uma perspectiva universalista, como elementos em si mesmos, independentemente da situação e demais variáveis em meio às quais estejam em ação”. A essa teoria seguiu-se, nas décadas de 50 e 60 do século XX, a Teoria do Comportamento, segundo a qual ser líder não é uma questão de possuir uma combinação de características, mas sim comportar-se como tal. Diferentemente da Teoria dos Traços, essa teoria admitia que como algo relacionado ao comportamento, a liderança poderia ser aprendida e aplicada. Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 61 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE A terceira teoria, conhecida como Teoria das Trocas, de autoria de Paul Hollander (apud BERGAMINI, 1994) foca a relação entre as expectativas dos subordinados e as respostas que lhes oferece o líder. A liderança se define pela relação dinâmica de ação e reação. “É, portanto com essa nova perspectiva de caracterizar estilos que começa a aparecer a figura do subordinado em meio ao processo de liderança e que mais tarde passará a ser cada vez mais valorizada” (BERGAMINI, 1994, p. 29). A quarta teoria é a do Enfoque Situacional onde a compreensão da liderança não se dá somente por traços de personalidade, das características dos subordinados, mas também conhecendo e analisando o contexto interno e externo. Segundo Krause (1981), a simples nomeação de alguém para um cargo não é suficiente para criar o líder nem a situação na qual ele poderá atuar. A liderança funcionará em um contexto integrado. Por fim, Bergamini (1994) pontua que a ausência de liderança também existe, não por ser esta desnecessária, mas por omissão ou incompreensão de papéis para a proteção de conflitos ou ainda, por indefinição ideológica. 2.2 ESTILOS DE LIDERANÇA E PERFIL DO LÍDER Krauz (1991) afirma que o líder pode ter “autoridade delegada” ou “autoridade natural”. A primeira trata de um cargo, de escolha não necessariamente do grupo para ocupar essa posição; enquanto que a segunda emana da dinâmica de relacionamento do grupo. Ainda segundo o autor (KRAUZ,1991), a liderança pode ser conquistada pelo “carisma”, uma característica individual inata. O líder “executivo” aspira a ordem. É o reflexo do esforço humano em tentar se organizar. O líder “coercitivo” ganha legitimidade na violência. Seja na imposição física ou verbal. Líder e liderado se repelem. Medo é a palavra chave. O líder “distributivo” limita-se a distribuir tarefas, não vai além do que já existe. Necessita estar por perto, dando serviço e cobrando resultados. É um relacionamento de posições e de papéis (KRAUZ, 1991). O líder “educativo” exerce a liderança pela troca. Segundo Selznick (1971), a educação é mais que uma técnica de treinamento; também ensina homens a pensar em si mesmos. É o que possibilita ao liderado entender suas próprias necessidades. O líder “inspirador” raramente precisa dar ordem, cada um sabe o que fazer e aonde ir (PENTEADO, 1981), pela própria referência proporcionada pela liderança. Diante de tal diversidade, conforme destacam Renesch (1999) e Uris (1972), a parceria gestor-assessor pode ocorrer em diferentes estilos de liderança com diferentes graus de satisfação, expectativa e autonomia. 2.3 COMPORTAMENTO DOS LIDERADOS Os liderados lutam satisfazer suas necessidades. O líder é detentor do controle dos recursos para a satisfação destas necessidades. Cad. de Pós-Graduaçãoem Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 62 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE O impacto direto de quase todas as forças que atuam sobre o indivíduo é causado pelo comportamento de outras pessoas (TANNEBAUM, 1972). Seja uma ordem da chefia ou a disciplina do superior imediato podem significar diferentes reações como a falta de segurança, que é a possibilidade da não satisfação da necessidade. 2.4 Relação Gestor-Assessor Neste trabalho busca-se identificar a relação mantida entre líderes e assessores e de que forma estes reagem à liderança empregada. Para Selznick (1971), aspectos externos e internos sobre os líderes e liderados influenciam a relação entre eles. Hierarquia da organização, tempo de relação profissional, faixa etária, tempo de parceria, tempo no cargo e aspectos financeiros são alguns exemplos de aspectos internos. Por outro lado, representação da organização na estrutura social, as expectativas dos liderados e o clima social são aspectos externos. Conforme afirma Selznick (1971), a variável externa é relevante quando se trata, principalmente, da tomada de decisão, mas isso não significa que fatores como a reputação ou a estabilidade sejam critérios para avaliar o sucesso da organização. Aspectos intrínsecos à relação líder-assessor podem determinar o fluir da rotina e dos resultados em menor ou maior grau. São eles: autonomia, delegação de autoridade, confiança, respeito mútuo, sintonia e crítica (MAEKER, 2001; ALEXANDER, 2002) 3 METODOLOGIA Tendo como problema de pesquisa a relação entre estilo de liderança praticado pelos gestores e o sucesso da parceria com seus assessores, optou-se por investigar quais estilos apontados no referencial teórico são praticados nas relações gestor-assessor de empresas, por meio de uma pesquisa exploratória do tipo qualitativa. Utilizou-se um questionário que foi aplicado a uma amostra determinada por conveniência, composta por 117 pares formados por gestores e seus assessores, funcionários de 25 empresas selecionadas, na Região Metropolitana de São Paulo. O interesse foi estudar pares conjugados, para entender a liderança e suas diferentes influências nos liderados e nos resultados da parceria. O estudo restringiu- se ao assessor e gestor, mesmo quando a equipe era composta por outros integrantes. Em casos em que o gestor possuía dois ou mais assessores, os pares foram pesquisados separadamente. O mesmo aconteceu quando o assessor possuía dois ou mais gestores. Foi efetuado um teste piloto com o modelo inicial de questionário para validá- lo, aplicando os questionários em duas empresas selecionadas em virtude de atenderem aos critérios determinados, localização e receptividade à proposta de pesquisa. O número de participantes do teste piloto foi de 5% da população. Não houve desistência ou recusa de nenhum dos participantes do teste piloto, portanto foi descartada a possibilidade de morte amostral. Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 63 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE A aplicação do questionário foi realizada, em sua maioria, via correio eletrônico, embora algumas tenham sido aplicadas via fax. Os contatos com as empresas-alvo da pesquisa começaram no final de novembro de 2003, através de telefone, fax e/ou email. A seleção das empresas foi efetuada conforme descrito no Quadro 1: Empresa Ramo de Atividade Qtde de pares Porte Setor 1 A Shopping Center 3 Médio Serviços 2 B Rede Hoteleira 4 Grande Serviços 3 C Petroquímica 5 Médio Indústria 4 D Metalúrgica 12 Grande Indústria 5 E Proteção Ambiental 13 Grande Indústria 6 F Companhia de Seguros 5 Médio Serviços 7 G Shopping Center 2 Médio Serviços 8 H Shopping Center 7 Médio Serviços 9 I Shopping Center 3 Médio Serviços 10 J Shopping Center 3 Médio Serviços 11 K Química 8 Médio Indústria 12 L Química 12 Grande Indústria 13 M Gráfica 3 Médio Indústria 14 N Hospital 3 Médio Serviços 15 O Hospital 4 Médio Serviços 16 P Celulose 3 Grande Indústria 17 Q Insumo Hospitalar 2 Médio Indústria 18 R Escritório de Advocacia 2 Médio Serviços 19 S Construção Civil 3 Grande Indústria 20 T Petroquímica 2 Médio Indústria 21 U Mídia e Comunicação 5 Médio Serviços 22 V Complexo Hoteleiro 2 Médio Serviços 23 W Hospital 3 Médio Serviços 24 X Telecomunicação 2 Médio Serviços 25 Y Emissora de Televisão 6 Grande Serviços TOTAL DE PARES 117 Quadro 1 – Empresas selecionadas para a pesquisa. Fonte: Os autores Das empresas selecionadas, apenas as de número 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 10, 11, 12, 16, 17, 19, 20, 21 e 23 autorizaram a aplicação do questionário para o andamento da pesquisa, totalizando 87 pares. Ainda entre as empresas selecionadas, a de número 16 foi eliminada por não consentir na aplicação dos questionários a todos os pares da empresa, determinando que tão somente um par, dentre três, participaria da pesquisa. A empresa de número 1 foi utilizada no Teste Piloto e, portanto, excluída da etapa de Coleta de Dados, restando, no final, 81 pares. 4 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS O Gráfico 1 ilustra a busca das empresas pela horizontalização na hierarquia organizacional, com predomínio de gestores em nível de gerência. Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 64 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE Nível Estrutural 0 5 10 15 20 25 Presidência Outros Assessor Gestor Gráfico 1 – Nível estrutural do cargo ocupado Fonte: Os autores Quanto ao estilo de liderança, houve uma tendência dos entrevistados darem as respostas de acordo com convenções, pois ocorre uma certa rejeição por lideranças com estilo autocrático, aqui identificado nos estilos coercitivo e executivo, ao passo que o estilo democrático, com características como desenvolvimento do grupo, interação que engloba os estilos de liderança educativo e inspirador, é apontado mesmo quando o mesmo não existe na pessoa referenciada, como mostra o Gráfico 2. Os estilos de liderança encontrados refletem as situações mais freqüentes na relação assessor-gestor que, nesse caso, é o “líder inspirador”. Estilo de liderança 0 5 10 15 20 25 Ordena Simplesmente Outros Não respondeu Anulada Atua para que todos operem de maneira harmônica Assessor Gestor O segundo estilo de liderança mais indicado pelos assessores foi o “educativo”, cuja questão relativa no questionário enunciava “compartilha suas dúvidas e decisões”. Os líderes com estilo coercitivo, distributivo, carismático e executivo ficaram quase fora das escolhas dos gestores e assessores participantes. Porém, mais a frente ver-se-á que esses estilos aparecem através das características desses profissionais. A maioria dos assessores e gestores afirmaram que conseguem perceber no cotidiano o estilo de liderança adotado (Gráfico 3), porém poucos conseguiram descrevê-la, possivelmente por se ter uma idéia vaga ou nula sobre o estilo de liderança e comportamentos a ele relacionados. Gráfico 2 – Estilo de Liderança Fonte: Os autores Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 65 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE Consciência do tipo de liderança 0 10 20 30 Anulada Não Respondeu Não Sim Assessor Gestor Gráfico 3 – Consciência do tipo de liderança. Fonte: Os autores Pouco mais da metade dos gestores afirmaram reconhecer o próprio estilo de liderança, embora apenas 57% desses conseguiram identificar uma ferramenta de seu estilo. A consciência do estilo de liderança leva ao assessor a possibilidade de melhorar suas habilidades em assessorar,seja ao escolher o momento certo de encaminhar um assunto, seja proporcionando autoconfiança ao priorizar atividades. Entretanto, essa consciência não surge entre os resultados da pesquisa. O objetivo da questão não era de que o gestor ou assessor identificasse o nome do estilo de liderança, mas através das situações mencionadas identificar-se com o estilo. Da mesma maneira a identificação do estilo pelo assessor torna-se uma habilidade em assessoria, auxiliando a explicar questões passadas ou prevenindo para situações futuras. No ambiente de trabalho, além da recompensa financeira, há outras necessidades a suprir, como respeito e reconhecimento. Nesse contexto, estar satisfeito sempre implica ter suas necessidades atendidas, no caso pela organização ou pelo líder. Satisfação com os resultados da parceria 0 5 10 15 20 25 Pouco Sat is feito Insat is feito Não Respo ndeu Raramente Sat is feito Muito Sat is feito Satis feito Assessor Gestor Gráfico 4 – Satisfação com os resultados da parceria. Fonte: Os autores O nível de satisfação depende também do grau de expectativa. A aponta como satisfatórios os resultados da parceria (Gráfico 4). Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 66 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE A razão para a satisfação dos gestores ocorre na seguinte ordem: em primeiro lugar os objetivos comuns da dupla, em segundo a forma como o assessor trabalha e em terceiro o próprio estilo. Os assessores também devotam o segundo lugar ao colega de trabalho e o terceiro ao estilo por ele adotado (Gráfico 5). Causa da satisfação com resultados da parceria. 0 10 20 30 Nã ... Ou ... Es t... F.. . Ob j... Assessor Gestor Gráfico 5 – Causa da satisfação com resultados da parceria. Fonte: Os autores Apesar da liderança inspiradora ter despontado como o mais freqüente estilo, apontar pontos positivos e negativos da situação criticada (Gráfico 6) é característica marcante dos estilos de lideranças executivo e distributivo, que não foram apontados por nenhum dos pares. Isso significa que na situação de crítica, outros estilos de liderança são mais utilizados do que aqueles apontados como mais freqüentes. Abordagem 0 10 20 30 Pontos - da atuação geral Pontos +e- da atuação geral Pontos - da situação crit icada Pontos +e- da situação criticada Assessor Gestor Gráfico 6 – Abordagem em momento de crítica. Fonte: Os autores O sucesso na parceria entre gestor e assessor pode ser medido de acordo com a maneira com que são tratados os aspectos conflituosos da relação. O que os resultados mostram é que o estilo de liderança coercitivo é o mais usado no momento da crítica. Mesmo a advertência escrita pode ser gentil, porém é sempre formal, o que caracteriza a liderança distributiva, outro estilo não identificado pelos pesquisados. Por outro lado, o assessor pesquisado pode não sabe como lidar com essa dificuldade Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 67 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE para se sobressair e por isso omita o fato. Mas de uma maneira geral, o momento da crítica dá-se de maneira confortável para ambos, assessor e gestor. O conceito de delegação de autoridade pode não ser o mesmo para o gestor e para o assessor, visto a grande diferença entre as respostas deles. Está evidenciado (Gráfico 7) que enquanto o gestor pensa estar delegando autoridade com freqüência, o assessor não a reconhece desta maneira ou acredita que lhe poderia ser dada com mais assiduidade. Delegação de autoridade 0 5 10 15 20 Ra ra s Ve z e s Nunc a Muit a s Ve z e s Alguma s Ve z e s S e mpre Asse ssor Ge st or Gráfico 7 – Delegação de autoridade na ausência do gestor. Fonte: Os autores A delegação de autoridade é unilateral, ou seja, depende tão somente do líder conceder ou não, dependendo de seu estilo. A autonomia, por outro lado, é bilateral, pois pode ser recebida ou conquistada pelo assessor. Enquanto assessores apontam que sempre possuem autonomia somente algumas vezes têm sobre si autoridade delegada. Delegação e autonomia dependem da confiança entre as partes envolvidas. Assim, uma das principais características da parceria entre assessores e gestores são confiança e respeito mútuo, conforme se observa no Gráfico 8. Aspectos como lealdade, que poderiam ser mais valorizados, não tiveram qualquer destaque. Aspectos presentes na relação 0 5 10 15 20 25 30 35 Om iss ão De sre sp eit o Di ve rgê n.. . Ou tro s De sc on f... Pr ob lem a.. . Int era çã o.. . Le ald ad e Co nfi an ça Re sp eit o.. . Assessor Gestor Gráfico 8 – Aspectos presentes na relação. Fonte: Os autores Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 68 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE Ao ressaltar confiança, os assessores demonstram que há nos gestores uma coerência de propósito mesmo que o liderado discorde de seu ponto de vista. Em termos gerais, a pesquisa revelou uma concordância nas respostas de líderes e liderados; o que varia são as expectativas de cada um quanto a parceria e quanto aos resultados futuros. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta investigação não se identificou um estilo de liderança único aplicado sempre, mas sim como uma variável situacional. O que parece determinar o sucesso da parceria é a satisfação da necessidade do assessor na relação e o nível de confiança do gestor. Nesse sentido, o assessor necessita ser pró-ativo para que o gestor tenha confiança em seu desempenho e conceda maior autonomia. Os lideres abertos à descentralização proporcionam maior envolvimento por parte do subordinado com aquilo que faz, além de ganhar sua admiração e respeito. Com o passar do tempo de parceria, gestor e assessor passam a agir cada vez mais em sintonia, um tendo consciência sobre o momento exato de apresentar determinado assunto ao outro ou como e quando lhe solicitar auxílio (MAEKER, 1999). Outro aspecto relevante identificado é de que o assessor não se conforma com o papel de apenas um executor de tarefas, mas sente necessidade de desenvolver trabalhos mais elaborados. Por isso um crescente número de assessores buscando o crescimento profissional, através do aprendizado. Segundo estudos apresentados por Uris (1972), o estilo de liderança que se prefere “receber” é o mesmo que se prefere “exercer”. Nesse sentido para o recrutamento e seleção interessa selecionar para cada estilo de liderança, um assessor com preferência de estilo de liderança similar ao do gestor. Lessa (1999) afirma que ser percebido, reconhecido e apreciado por seus esforços são necessidades humanas básicas. Se não as realizam, as pessoas se sentem excluídas, desconsideradas. Enfim, os diferentes estilos de liderança influenciam a relação entre o assessor e o gestor de forma direta ou indireta, a depender da necessidade do líder e da expectativa do assessor. Parcerias podem ser consideradas de sucesso quando há sinergia entre o que o assessor busca e o que o assessor concede; entre o que o gestor espera e o assessor realiza. Devido às limitações deste estudo, restrito a um enfoque situacional e aplicado a determinada região geográfica, e a dados decorrentes da percepção relativamente restrita a pares de agentes escolhidos por conveniência, descarta-se a possibilidade de generalização das conclusões. Apesar desse fato, é possível perceber tendências, como a de observar que os resultados e a produtividade do trabalho de uma equipe de Cad.de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 69 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE gestão formada pelo gestor principal e sua assessoria podem ser significativamente influenciados pela forma como a liderança é exercida. Por outro prisma, restaram evidências de que tanto gestores quanto seus assessores não têm consciência da possibilidade de discutirem formas de exercerem esse relacionamento de forma a aumentar o grau de delegação e autonomia, potencializando o tempo para a execução das atividades e impactando a produtividade da equipe de trabalho. Leadership types in the managers’ relationship with their advisor ABSTRACT Trends to reduce structural levels result in trust operational activities to staff workers. High administrators have no time enough to decide and execute, and need that kind of support. Confidence and synergy are important qualities to achieve team results. Based on theoretical approach, leadership styles have important role on relationship between professional partners. Different styles influence proportionally the degree of autonomy given to the assessor, however they don’t seem to directly influence the assessor’s degree of satisfaction and expectation. This research made possible to conclude that few leaders and assessors are conscious of the leadership style influence on partnership results. Therefore, they do not use this information for its own success. Keywords: Leadership Style. Partnership. Management Advisory REFERÊNCIAS ALEXANDER, Roy. Seu chefe sabe delegar? Revista Secretária Executiva, Curitiba, p. 21, jan. 2002. BERGAMINI, Cecília W. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas, 1994. KRAUSE, Werther Maynard. Chefia: conceitos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1981. KRAUZ, Rosa R. Compartilhando o poder nas organizações. São Paulo: Nobel, 1991. LESSA, Jorge. Mandar é fácil, liderar é difícil. 2. ed. 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São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 71 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE APÊNDICE Questões que compuseram o questionário de pesquisa, agrupadas por tema 1 Tipos de liderança encontrados na relação gestor-assessor 1.1 Qual dos comportamentos abaixo mais se aproxima daqueles identificados no seu gestor? Assinale apenas uma opção. ! Resolve aquilo que mais ninguém tem competência para fazer ! Ordena simplesmente ! Impõe-se através da força verbal ou o cargo ocupado ! Apenas distribui tarefas ! Dá o exemplo e compartilha suas dúvidas e sugestões ! Atua de forma que seus subordinados operem de maneira harmônica ! Outro. Qual? _________________________________________________________ 2 Consciência do gestor ou do assessor sobre o tipo de liderança exercida 2.1 Você consegue recordar situações do dia a dia em que percebe o comportamento assinalado acima? ! Sim. Cite o exemplo: ____________________________________________________ ! Não 2.2 (Gestor) Quais as ferramentas de seu estilo de liderança no desempenho de suas atividades? _____________________________________________________________________________________________________ 3 Grau de satisfação dos assessores em face de cada tipo de liderança 3.1 A forma como o seu gestor conduz as atividades no seu setor é satisfatória? ! Sempre ! Muitas vezes ! Algumas vezes ! Raras vezes ! Nunca 3.2 Você acredita que os resultados da parceria entre você e seu gestor são ! Muito satisfatórios ! Satisfatórios ! Regularmente satisfatórios ! Pouco satisfatórios ! Insatisfatórios Por quê?______________________________________________________________ 3.3 A resposta acima se deve (marque quantos julgar necessários) ! Ao estilo de seu gestor ! À forma como você trabalha ! Aos objetivos em comum da dupla ! Outro.Qual?_________________________________________________ 4 O tipo de liderança do gestor influi no grau de expectativa do assessor diante da profissão? 4.1 A forma como seu gestor atua contribui para o seu crescimento profissional? ! Sempre ! Muitas vezes ! Algumas vezes ! Raras vezes ! Nunca 4.2 Você acredita que atuar com esse gestor lhe traz vantagens profissionais? ! Sempre ! Muitas vezes ! Algumas vezes ! Raras vezes ! Nunca Em caso positivo, quais? __________________________________________________ Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 59-72, 2003. 72 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas MACKENZIE 4.3 Para médio prazo quais suas expectativas com relação à profissão? ___________________________________________________________________ 4.4 Essas expectativas são contempladas no seu trabalho atual? ! Sim ! Não 5 Como se dá o momento da crítica na relação gestor-assessor para cada tipo de liderança? 5.1 Quando há necessidade de chamar sua atenção sobre alguma atividade que não saiu conforme esperado, isso ocorre através de: ! Diálogo ! Orientação ou instrução ! Advertência verbal ! Advertência escrita ! Outro. Qual? 5.2 Quando há necessidade de crítica, seu gestor: ! Aponta pontos positivos e negativos da situação criticada ! Aponta pontos negativos da situação criticada ! Aponta pontos positivos e negativos da sua atuação geral ! Aponta pontos negativos da sua atuação geral 6 Qual o grau de autonomia do assessor em cada estilo de liderança? 6.1 Seu gestor lhe dá liberdade para decidir em suas atividades diárias? ! Sempre ! Muitas vezes ! Algumas vezes ! Raras vezes ! Nunca 6.2 Esse grau de liberdade concedido é suficiente para desenvolver bem suas atividades? ! Sim ! Não Por quê?_______________________________________________________________ 6.3. Seu gestor delega autoridade para que você atue na ausência dele? ! Sempre ! Muitas vezes ! Algumas vezes ! Raras vezes ! Nunca 7 Qual a característica principal da relação em cada tipo de liderança? 7.1 Assinale o aspecto presente na relação entre você e seu gestor (marque quantos julgar necessário): ! Confiança ! Lealdade ! Respeito mútuo ! Interação/Harmonia ! Problemas na comunicação ! Desconfiança ! Omissão ! Desrespeito ! Divergências/Desarmonia
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