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Fisiopatologia das Anemias 1 � Fisiopatologia das Anemias Autor: Vinícius Ferreira Rende | Graduando de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia ✅ Introdução Hematopoese As anemias são achados frequentes no cotidiano médico independente da especialidade, dessa forma, é necessário ter uma visão geral sobre as principais anemias e seu tratamento. Hematopoese fetal As células do sangue surgem no saco vitelino na 3ª semana do desenvolvimento embrionário. A partir dai, essas células irão migrar para o fígado e posterioemente para a medula óssea no 4º mês de gestação. A partir dessa migração, haverá o início da produção de leucócitos, plaqueras e eritrócitos. Fisiopatologia das Anemias 2 Hematopoese Na hematopoese temos uma célula tronco hematopoiética que irá dar origem apenas às células sanguíneas. Essas células possuem capacidade de se autorreplicar e diferenciar. As células tronco hematopoiética são as que podem ser doadas para transplante de medula. As células pluripotentes podem se transformar em células do sistema mielóide ou linfóide, dando origem as mais diferentes células do sangue periférico. Fisiopatologia das Anemias 3 Estrutura da hemoglobina O eritroblasto dentro da medula óssea perde seu núcleo, libera o reticulócito no sangue periférico que irá perder o RNA e se transformar na hemácia madura. Obs.: o eritroblasto usualmente não é encontrado no sangue periférico. As hemácias possuem a hemoglobina que é composta por duas cadeias betas e duas cadeias alfa + um grupamento heme com ferro. O ferro é um elemento que confere a capacidade de doar e receber elétrons, sendo fundamental para o transporte de oxigênio. � Introdução Anemias Fisiopatologia das Anemias 4 A anemia resulta quando a meia vida dos eritrócitos diminui para menos de 110 dias sem o aumento compensatório na produção dos reticulócitos ou quando a produção de eritrócitos é menor que a destruição fisiológica. Em adultos sadios, cerca de 1% dos eritrócitos são produzidos e destruídos diariamente, circulando por aproximadamente 110 a 120 dias. Além disso, os reticulócitos degradam seu RNA residual e diminuem de tamanho em 1 a 2 dias depois que estão na circulação. Etiologias das anemias Diminuição da produção reticulocitária Deficiência de ferro, cobalamina e folato Diminuição de eritropoietina Aumento da apoptose dos eritroblastos Defeitos intrínsecos no progenitor eritróide: hipoplasia ou displasia Alteração da medula óssea por invasão neoplásica ou fibrose Diminuição da meia vida eritrocitária Sangramento Hemólise � Avaliação do paciente A anemia está presente em diversas patologias, é fundamental sempre avaliar a história clínica do paciente, realizar um bom exame físico e solicitar um hemograma com reticulócitos. Exame físico O exame físico é fundamental na avaliação da anemia, existem alguns sinais com maior e/ou menor sensibilidade: Palidez mãos, face e conjuntiva: sensibilidade 19 a 70% Icterícia: bilirrubina 2,5 (detectada em 58%) e bilirrubina 3,1 (detectada em 68%) Fisiopatologia das Anemias 5 Sinais e sintomas Os sinais e sintomas da anemia dependem do grau de anemia, da velocidade que ocorreu e da demanda de oxigênio pelo paciente. A sintomatologia também irá depender da demanda do paciente por oxigênio para suas atividades física. Obs.: a indicação de transfussão é clínica, não existe indicação relacionada ao valor de Hb. Alguns fatores que causam a sintomatologia são: Diminuição da oxigenação tecidual Hipovolemia em sangramentos agudos 🚨 Fisiopatologia A anemia é uma redução no número de hemácias circulantes, levando a uma hipóxia. Definição de anemia Sexo masculino: Hb<13,5 Sexo feminino: Hb<12 Existem situações especiais como anemia dilucional da gravidez (houve um aumento de líquidos) e altas atitudes. Classificação das anemias Morfológica Leva em consideração o tamanho do eritrócito e a resposta reticulocitária. Cinética Leva em consideração o medanismo que causou a anemia, havendo algo que atrapalhe o equilíbrio entre a produção, destruição e perda de hemácias. Mecanismos compensatórias Fisiopatologia das Anemias 6 Nos eritrócitos Aumento do 2,3 DPG que faz com que haja uma liberação mais rápida do oxigênio nos tecidos No coração Aumento do débito cardíaco para fazer com que as hemácias circulem mais rapidamente Sistema vascular periférico Redistribuição do sangue a partir de vasoconstrição periférica Anemia por diminuição da produção Deficiência de nutrientes: vitamina B12, ácido fólico e ferro (déficit alimentar, perda sanguínea e outros) Alterações da medula óssea: anemia aplástica, aplasia pura da série vermelha, mielodisplasias e infiltração da medula óssea (tumor ou infeção) Supressão de medula óssea: drogas, quimioterapia e radioterapia Deficiência de hormônios que estimulam a produção de hemáricas: eritropoetina, hipotireoidismo e hipogonadismo Anemia de doença crônica: associado a processos infecciosos, inflamatórios e neoplásicos Secreção de eritropoetina Quando o sangue passa no rim com baixa concentração de O2, o fígado entende que é necessário aumentar a quantidade de eritropetina para aumentar a produção de eritroblastos. Na IRC haverá uma menor procução de eritropoetina. Anemias por aumento da destruição Anemias hemolíticas hereditárias: esferocitose (hemácia menor com maior concentração de hemoglobina), anemia falciforme e talassemia (pode-se ter alfa ou beta talassemia, uma redução da cadeia beta gera hipocromia e uma alta produção de cadeia alfa) As hemácias precisam ter a capacidade de se modelar para adaptar aos vasos sanguíneos. Fisiopatologia das Anemias 7 Anemia hemolítica adquirida; anemia hemolítica autoimune, púrpura trombocitopênica trombótica (formam-se microtrombos dentro dos vasos que formam espículas que irão destuir as hemácias) e malária 🚨 Anemias Hemolíticas São um grupo de doenças onde se tem a menor sobrevida das hemácias devido a destruição prematura dessas e a incapacidade da medula de compensar com o aumento da produção. Essas anemias podem ser classificadas como hereditárias ou adquiridas, agudas ou crônicas e leves ou graves. As anemias hemolíticas podem ocorrer devido a: defeito intrínseco da hemácia (intracorpuscular) ou extrínseca (extracorpuscular) destruição imune ou não imunológica hemólise intravascular ou extravascular Defeitos intrínsecos A grande maioria são defeitos genéticos, podendo ser: Defeitos na estrutura e função da hemoglobina Hemoglobinopatias: anemia falciforme e talassemia Defeitos na membrana/citoesqueleto Esferocitose / eliptose / estomatocitose Defeitos no citoplasma / metabólicos Deficiência de G6PD e piruvato quinase Causa extracorpuscular Fisiopatologia das Anemias 8 A hemácia é normal, porém é destruída por causas mecânicas, imunológicas, infecciosas ou metabólicas, podendo ser: Anticorpos contra hemácias AHAI Anemia hemolítica autoimune Reação transfusional hemolítica aguda Drogas Outros Hiperesplenismo Mecânicas: valvas cardíacas metálicas e PTT Malária Causa intra e extravascular Intravascular PTT Reação transfusional Malátia Hemoglobinúria Urina escura Extravascular SMF AHAI Congênitas Anemia falciforme Talassemias Na anemia hemolítica pode haver redução de hemácias e hemoglobina, aumento de DHL e bilirrubina indireta aumentada. Na PTT haverá alterações neurológicas. Achados laboratoriais Aumento de reticulócitos Aumento bilirrubina indireta Coombs direto Aumento de DHL Diminuição de haptoglobina Esfregaço de sangue Reticulócitos podem estar aumentados quando se tem sangramento recente, tratamento de anemias ferropriva ou megaloblásticas. Fisiopatologia das Anemias 9 Tratamento da anemia hemolítica O tratamento de anemias hemolíticas autoimunes podem ser tratadas com: Corticóide (prednisona) 1-2 mg/kg - - - por 3 semanas e depois iniciar desmame Anticorpos monoclonais anti CD20 e outros imunossupressores Obs.: existem anemias comanticorpos frios (IgM) e anemias por anticorpos quentes (IgG). As anemias por IgM não respondem tão bem ao tratamento. 😓 Anemias Por Perda É a causa mais comum de anemia, nos EUA e Europa a deficiência de ferro é sempre quase devido a perda de sangue. Essa perda pode ser por trauma, melena, hematêmese, aumento do fluxo menstrual e outros. Motivos de perda sanguínea Sangramentos oculto Úlcera gástrica / carcinoma Doença diverticular dos cólons Doença hemorroidária Sangramento induzido Exames repetidos Perda durante hemodiálise Excessiva doação 🎈 Anemia Megaloblástica É uma anemia com macroovalócitos (hemácias com VCM > 100). Há uma hiperplasia do setor eritróide com morfologia anormal. Isso ocorre devido um efeito na formação do DNA por deficiência de vitamina B12 ou folato. Vitamina B12 → cobalamina; folato é a vitamina encontrada na natureza e o ácido fólico é a forma sintética. Obs.: o eritroblasto será destruído dentro da própria medula óssea. Fisiopatologia das Anemias 10 Deficiência de B12 Os sere humanos consomem vitamina B12 a partir de produtos animais, essa dieta fornece cerca de 5 a 7 microgramas por dia, sendo a necessidade em torno de 6 a 9. Entretanto, o fígado possui altos estoques de B12, dessa forma, mesmo sem ingestão de B12, demora-se anos para o desenvolvimento de anemia megaloblástica. Absorção de cobalamina Ocorre a ingesta, a partir disso, a pepsina do estômago irá fazer a liberação da cobalamina das proteínas alimentares. A partir das proteases pancreáticas, haverá a liberação do grupamento R da cobalamina. A secreção do fator intrínseco pelas células parietais gástricas faz com que o fator intrínseco se ligue a cobalamina e a integridade do íleo com os receptores de FI-Cbl permite a ligação desses. Cobalamina e síntese de DNA A transformação de ácido metilmalônico em succionil-CoA depende da vitamina B12 como cofator. Fisiopatologia das Anemias 11 Obs.: CH3-THF (folato). Causas da deficiência de B12 Anemia perniciosa Autoanticorpos contra fator intrínseco: bloqueiam a ligação da cobalamina ao gator intrínseco e impedem a ligação desse complexo aos receptores ileais Gastrite crônica atrófica Diminuição do fator intrínseco Gastrectomia e gastrite Ausência de acidez gástrica e pepsina diminuem a liberacão de cobalamina dos alimentos Alterações intestinais Doença de Crohn Ileíte por TB Drogas Omeprazol Metformina Causas de deficiência de folato Diminuição da ingesta Alcoolismo Aumento da demanda Gravidez Anemia hemolítica Drogas Trimetropim Pirimetamina Metrotrexato Fenitoína Fisiopatologia das Anemias 12 Manifestações clínica Apenas a deficiência de B12 leva ao quadro neurológico, uma vez que é importante para a formação da bainha de mielina. O paciente pode apresentar: Neuropatia simétrica Acometimento dos MMII Parestesias Ataxia e perda da sensação de posição 🗣 Anemia Ferropriva A maior parte do ferro está na hemoglobina, mas está presente em proteínas, no plasma ligado à transferrina e na forma de ferritina como forma de estoque no fígado, baço e medula. O ferro é ingerido na dieta e absorvido no duodeno, sendo a grande maioria utilizada para produção da hemoglobina. Fisiopatologia das Anemias 13 Fisiopatologia das Anemias 14 Deficiência absoluta de ferro Os estoques na medula óssea e sistema mononuclear fagocitário no fígado e baço estão ausentes, portanto o ferro está indisponível para eritropoiese normal ou aumentada. Causas de deficiência Perda sanguínea Diminuição da absorção Alimentação Medicamento Uso de eritropoetina Cirurgia gástrica Inicialmente na deficiência de ferro, há uma depleção dos estoques, depois uma baixa de ferritina mas sem anemia e posteriormente uma anemia. Obs.: anemia microcítica e hipocrômica, pensa-se inicialmente em anemia ferropriva, depois talassemia e anemia de doença crônica em estágio final. Deve-se fazer perfil do ferro. Deficiência funcional de ferro Baixa disponibilidade de ferro para a eritropoiese mesmo com estoque normal ou aumentada. Nesses casos, pode-se ser em pacientes com insuficiência renal e neoplasias ou anemia de doença crônica. Nos pacientes com anemia de doença crônica, a hepcidina bloqueia a liberação de ferro dos estoques para a circulação. Fisiopatologia das Anemias 15 A hepcidina é sintetizada no fígado, que é absorvida no duodeno e armazenado como ferritina. Quando se há doença crônica, ocorre o aumento da hepcidina que se liga a ferroportina e inibe a liberação do ferro. Na doença crônica a ferritina estará alta e o ferro sérico baixo. Na hemocromatose há uma mutação da DMT-1 que faz com que haja uma maior absorção de ferro no organismo. Obs.: anemia ferropriva trata com reposição de ferro, enquanto anemia de doença crônica trata-se a base. A reposição de ferro irá de acordo com a tolerância do paciente e de acordo com ferro elementar. Ferro endovenoso não é muito utilizado, deve-se tentar inicialmente VO, uma indicação é pacientes com bariátrica.
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