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Alterações fisiológicas da gravidez 1 � Alterações fisiológicas da gravidez Created Property Tags TRATO REPRODUTIVO Útero Nas pessoas não grávidas, o útero pesa cerca de 70 g e é quase sólido, exceto por uma cavidade de 10 mL ou menos. Durante a gravidez, o útero transforma-se em um órgão muscular de parede fina com capacidade suficiente para acomodar feto, placenta e líquido amniótico. O volume total desses conteúdos ao final da gestação é, em média, de 5 L, podendo chegar a 20 L ou mais! O aumento correspondente no peso uterino é tal que, ao final da gestação, o órgão pesa cerca de 1.100 g. Contratilidade uterina A partir do início da gravidez, o útero contrai-se irregularmente, o que pode ser percebido como contrações leves. Durante o segundo trimestre, essas contrações podem ser detectadas por meio do exame bimanual. Elas aparecem de forma imprevisível e esporádica e geralmente são arrítmicas. Sua intensidade varia entre 5 e 25 mmHg. Até próximo do termo, essas contrações de Braxton Hicks são @July 13, 2021 5:15 PM Alterações fisiológicas da gravidez 2 infrequentes, mas seu número aumenta nas duas últimas semanas. Nesse período, as contrações podem ocorrer até a cada 10 a 20 minutos e assumir algum ritmo. No final da gestação, essas contrações podem causar algum desconforto e constituem o chamado falso trabalho de parto. Fluxo sanguíneo uteroplacentário Observou-se que o fluxo sanguíneo uteroplacentário aumenta progressivamente durante a gravidez – de aproximadamente 450 mL/min no segundo trimestre para quase 500 a 750 mL/min em 36 semanas Os vasos que suprem o corpo uterino aumentam e alongam-se, preservando ainda a sua função contrátil. Por outro lado, as artérias espiraladas, que nutrem diretamente a placenta, sofrem vasodilatação, mas perdem completamente a contratilidade. É essa vasodilatação que permite que o fluxo sanguíneo materno- placentário aumente progressivamente durante a gestação. Colo do útero Ao completar 1 mês da concepção, o colo uterino inicia um processo intenso de amolecimento e cianose. Tais efeitos resultam de aumento da vascularização e edema em todo o colo, de alterações na rede de colágeno, além de hipertrofia e hiperplasia das glândulas cervicais. Esse tecido parece vermelho e aveludado, sangrando aos menores traumatismos, como na coleta de amostra para exame citológico do colo uterino. As células da mucosa endocervical produzem grandes quantidades de muco espesso que obstrui o canal cervical logo após a concepção. Esse muco é rico em imunoglobulinas e citocinas e pode atuar como barreira imunológica para proteger os conteúdos uterinos contra infecções. No início do trabalho de parto, se não antes, esse tampão mucoso é expelido, resultando na chamada perda do tampão. Alterações fisiológicas da gravidez 3 Ovários A ovulação cessa durante a gravidez, e a maturação de novos folículos fica suspensa. O único corpo lúteo na gestante funciona no máximo durante as primeiras 6 a 7 semanas de gestação – 4 a 5 semanas após a ovulação. Depois disso, contribui relativamente pouco para a produção de progesterona. A remoção cirúrgica do corpo lúteo antes de 7 semanas resulta em queda rápida dos níveis séricos maternos de progesterona e em abortamento espontâneo. Relaxina Esse hormônio proteico é secretado por corpo lúteo, decídua e placenta em um padrão semelhante ao da gonadotrofina coriônica humana (hCG). Auxilia no remodelamento do tecido conectivo do trato reprodutivo para acomodar o trabalho de parto, inicia os processos de aumento da hemodinâmica renal, redução da osmolalidade sérica e aumento na complacência da artéria uterina, que estão associados à gestação normal. Apesar de seu nome, os níveis séricos de relaxina não estão relacionados com o aumento da flexibilidade das articulações periféricas ou dor na cintura pélvica durante a gestação. Tubas uterinas A musculatura das tubas uterinas, isto é, a miossalpinge, sofre pouca hipertrofia durante a gravidez. O epitélio da endossalpinge torna-se um pouco achatado. Alterações fisiológicas da gravidez 4 Vagina e períneo Durante a gestação, há aumento da vascularização e hiperemia na pele e nos músculos do períneo e da vulva, com afrouxamento do tecido conectivo abundante subjacente. Esse aumento da vascularização afeta principalmente a vagina e o colo do útero, resultando na coloração violácea característica do sinal de Chadwick. Dentro da vagina, o volume consideravelmente elevado de secreções cervicais durante a gravidez forma uma secreção branca um tanto espessa. O pH é ácido, variando de 3,5 a 6. Esse pH resulta do aumento da produção de ácido láctico por Lactobacillus acidophilus durante o metabolismo das reservas de energia de glicogênio no epitélio vaginal. A gravidez está associada a um risco elevado de candidíase vulvovaginal, principalmente durante o segundo e o terceiro trimestre. Taxas mais altas de infecção podem resultar de alterações imunológicas e hormonais e de maiores reservas de glicogênio vaginal. As paredes vaginais sofrem modificações impressionantes, preparando-se para a distensão que acompanha o trabalho de parto e o período expulsivo. A incontinência urinária afeta quase 20% das mulheres durante o primeiro trimestre e quase 40% no terceiro trimestre. A maioria dos casos decorre de IUE em vez de incontinência urinária de urgência. Nas primigestas, idade materna superior a 30 anos, obesidade, tabagismo, constipação e diabetes melito gestacional são fatores de risco associados ao desenvolvimento de IUE durante a gravidez. MAMAS No início da gravidez, é comum que as gestantes manifestem sentir suas mamas doloridas e parestésicas. Após o segundo mês, as mamas aumentam de tamanho, e veias delicadas são visíveis sob a pele. Os mamilos aumentam consideravelmente de tamanho, tornando-se mais pigmentados e eréteis. Após alguns meses, é possível fazer surgir um líquido espesso e amarelado – o colostro – com massagens suaves nos mamilos. Nesses mesmos meses, a aréola aumenta de tamanho e torna-se mais pigmentada. Distribuídas por cada aréola, observam-se várias pequenas elevações, as glândulas de Montgomery, que são glândulas sebáceas hipertrofiadas. Quando as mamas aumentam muito de tamanho, podem surgir estrias de pele semelhantes às observadas no abdome. Raramente, as mamas podem tornar-se patologicamente aumentadas, o que é denominado gigantomastia e pode exigir redução cirúrgica pós-parto. Alterações fisiológicas da gravidez 5 PELE Parede abdominal Estrias avermelhadas ligeiramente deprimidas costumam se desenvolver a partir do meio da gestação na pele do abdome, bem como, algumas vezes, sobre as mamas e as coxas. Elas são chamadas estrias gravídicas. Nas multíparas, linhas brilhantes e prateadas que representam as cicatrizes de estrias anteriores frequentemente coexistem. Os fatores de risco associados mais fortes incluíram idade materna mais jovem, histórico familiar e peso pré-gestacional e ganho de peso durante a gravidez. A etiologia das estrias gravídicas é desconhecida, e não há etapas preventivas ou tratamentos definitivos. Hiperpigmentação Ocorre em até 90% das mulheres e geralmente é mais acentuada naquelas com pele mais escura. Em locais específicos, a linha de pele pigmentada na linha média da parede abdominal anterior – a linha alba – assume pigmentação marrom escura- preta, formando a linha nigra. Algumas vezes, manchas amarronzadas de tamanhos variáveis surgem na face e no pescoço, originando o cloasma ou melasma gravídico – a chamada máscara da gravidez. A pigmentação das aréolas e da genitália também pode estar acentuada. Alterações fisiológicas da gravidez 6 A etiologia dessas alterações pigmentares não é completamente entendida, no entanto sabe-se que fatores hormonais e genéticos desempenham um papel. Por exemplo, os níveis de hormônio estimulador de melanócitos, um polipeptídeo semelhante à corticotrofina, estão notavelmente elevados durante toda agravidez, e também se relata que o estrogênio e a progesterona têm efeitos estimuladores de melanócitos. Alterações vasculares Angiomas, chamados aranhas vasculares, são particularmente comuns na face, no pescoço, na parte superior do tórax e nos braços. São pápulas minúsculas de pele vermelha com radículas que se ramificam de uma lesão central. A condição frequentemente é designada nevo, angioma ou telangiectasia. Eritema palmar é observado durante a gravidez. Nenhuma das condições tem importância clínica, desaparecendo na maioria dos casos logo após a gestação. Alterações capilares Ao longo da vida, o folículo piloso humano sofre um padrão de atividade cíclica que inclui períodos de crescimento capilar (fase anágena), involução acionada por apoptose (fase catágena) e um período de repouso (fase telógena). Com base em um estudo de 116 mulheres grávidas saudáveis, a fase anágena aumenta durante a gravidez, e a taxa da telógena aumenta no pós-parto. Nenhuma delas é exagerada na maioria das gestantes, mas a perda excessiva de cabelo no puerpério é denominada eflúvio telógeno. ALTERAÇÕES METABÓLICAS Ganho de peso A maior parte do aumento no peso durante a gestação é atribuída ao útero e seus conteúdos, às mamas e ao aumento dos volumes de sangue e dos líquidos extracelular e extravascular. Uma fração menor resulta de alterações metabólicas que promovem o acúmulo de água, gordura e proteínas celulares, chamadas reservas maternas. O ganho médio de peso durante a gravidez se aproxima de 12,5 kg. Metabolismo hídrico Na gravidez, uma maior retenção de água é normal e mediada em parte por uma queda na osmolalidade plasmática de 10 mOsm/kg. No final da gestação, o volume de água do feto, da placenta e do líquido amniótico aproxima-se de 3,5 L. Outros 3 L acumulam-se em razão do aumento do volume Alterações fisiológicas da gravidez 7 sanguíneo e do tamanho do útero e das mamas. Assim, a quantidade mínima de água extra que uma mulher média acumula durante a gravidez normal se aproxima de 6,5 L. Edema claramente visível dos tornozelos e pernas é encontrado na maioria das mulheres grávidas, especialmente no final do dia. Esse acúmulo de líquido, que pode chegar a algo próximo de 1 L, resulta de aumento da pressão venosa abaixo do nível do útero como consequência da obstrução parcial da veia cava. A redução na pressão osmótica coloidal intersticial, observada normalmente nas gestações, também favorece a ocorrência de edema no final da gravidez. Metabolismo de carboidratos A gestação normal caracteriza-se por leve hipoglicemia em jejum, hiperglicemia pós-prandial e hiperinsulinemia. Esse nível basal elevado de insulina plasmática na gestação normal está associado a várias respostas singulares à ingestão de glicose. Especificamente, após a ingestão de glicose por via oral, as mulheres grávidas apresentam hiperglicemia e hiperinsulinemia prolongadas, assim como maior supressão de glucagon. Esse fenômeno não pode ser explicado por redução no metabolismo da insulina porque não há alteração em sua meia-vida durante a gravidez. Em vez disso, tal resposta reflete um estado de resistência periférica à insulina induzido pela gravidez, que assegura o suprimento pós-prandial de glicose ao feto. Os mecanismos responsáveis por essa sensibilidade reduzida à insulina incluem inúmeros fatores endócrinos e inflamatórios. Em particular, hormônios relacionados à gravidez, como progesterona, hormônio de crescimento derivado da placenta, prolactina e cortisol; citocinas, como fator de necrose tumoral; e hormônios derivados da adiposidade central, especialmente a leptina e sua interação com a prolactina, todos têm um papel na resistência à insulina da gravidez. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Volume sanguíneo É bem conhecida a hipervolemia associada à gravidez normal e, após 32 a 34 semanas de gestação, o volume sanguíneo das gestantes é entre 40 e 45% maior que o das não gestantes. A hipervolemia induzida pela gravidez tem diversas funções. Primeiro, responder às demandas metabólicas do útero aumentado com seu sistema vascular intensamente hipertrofiado. Segundo, prover nutrientes e elementos em abundância para dar suporte ao rápido crescimento da placenta e do feto. Terceiro, o volume Alterações fisiológicas da gravidez 8 intravascular aumentado também protege a mãe e, consequentemente, o feto contra os efeitos deletérios das posições supina e ereta sobre o retorno venoso. Por fim, salvaguardar a gestante contra os efeitos adversos da perda sanguínea associada ao parto. Concentração de hemoglobina e hematócrito Em razão do grande aumento no volume plasmático, a concentração de hemoglobina e o hematócrito sofrem uma discreta redução durante a gravidez. Como consequência, a viscosidade sanguínea é reduzida. Ao final da gestação, a concentração de hemoglobina atinge a média de 12,5 g/dL e, em cerca de 5% das gestantes, fica abaixo de 11 g/dL. Assim, concentrações de hemoglobina abaixo de 11 g/dL são consideradas anormais, em particular no final da gestação, sendo em geral causadas por anemia ferropriva, e não pela hipervolemia da gravidez. Metabolismo do ferro O conteúdo total de ferro em mulheres adultas varia entre 2 e 2,5 g, que corresponde a cerca de metade da quantidade encontrada normalmente nos homens. A maior parte desse ferro está incorporada na hemoglobina ou mioglobina e, assim, as reservas de ferro em mulheres jovens normais são de somente cerca de 300 mg. Como a maior parte do ferro é utilizada durante a metade final da gestação, as necessidades de ferro são maiores após o meio da gravidez e atingem a média de 6 a 7 mg/dia. Na maioria das gestantes, essa quantidade em geral não é suprida pelas reservas de ferro ou pela dieta. Assim, sem suplementação não haverá o aumento ideal no volume eritrocitário materno, e a hemoglobina e o hematócrito diminuirão de forma evidente à medida que o volume plasmático aumentar. Ao mesmo tempo, a produção de hemácias pelo feto não é prejudicada porque a placenta transfere ferro mesmo quando a mãe apresenta anemia ferropriva grave. Funções imunológicas A gravidez está associada à supressão de várias funções imunológicas humorais e mediadas por células. Isso permite a acomodação do enxerto fetal semialogênico “estranho” que contém antígenos de origem materna e paterna. Coagulação e fibrinólise Durante a gravidez normal, tanto a coagulação quanto a fibrinólise ficam aumentadas, mas se mantêm em equilíbrio para que haja hemostasia. Entre as evidências de ativação estão as maiores concentrações de todos os fatores da coagulação, exceto os fatores XI e XIII. Alterações fisiológicas da gravidez 9 SISTEMA CARDIOVASCULAR As alterações na função cardíaca tornam-se evidentes durante as primeiras 8 semanas de gestação. O débito cardíaco aumenta já com 5 semanas de gestação e reflete a redução na resistência vascular periférica e o aumento da frequência cardíaca. Comparados com os valores medidos em não grávidas, a pressão sistólica braquial, a pressão diastólica e a pressão sistólica central são todas significativamente menores 6 a 7 semanas após a data da última menstruação. A gestação normal induz alterações eletrocardiográficas características, sendo a mais comum um leve desvio do eixo à esquerda como resultado da mudança na posição do coração. Também podem ocorrer ondas Q nas derivações II, III e avF e ondas T planas ou invertidas nas derivações III, V1-V3. Muitas das bulhas cardíacas normais podem estar alteradas durante a gestação. São elas: (1) desdobramento exagerado da primeira bulha com aumento da intensidade de ambos os componentes; (2) nenhuma alteração definida nos elementos aórtico e pulmonar da segunda bulha; e (3) terceira bulha evidente e facilmente audível. Circulação e Pressão arterial A pressão na artéria braquial é mais baixa com a paciente sentada do que em decúbito lateral. Além disso, a pressão arterial sistólica é mais baixa nas posições lateraisem comparação com as posições sentada flexionada ou supina. A pressão arterial geralmente atinge o valor mais baixo entre 24 e 26 semanas de gestação, aumentando a partir de então. A pressão diastólica reduz mais do que a sistólica. Renina, angiotensina II e volume plasmático O sistema renina-angiotensina-aldosterona está intimamente envolvido no controle renal da pressão arterial via equilíbrio de água e sódio. Todos os componentes desse sistema mostram níveis aumentados na gravidez normal. Nulíparas que se mantiveram normotensas tornaram-se e permaneceram resistentes aos efeitos pressores da infusão de angiotensina II. Por outro lado, as que finalmente se tornaram hipertensas desenvolveram inicialmente essa refratariedade, mas depois a perderam. TRATO RESPIRATÓRIO Entre as alterações anatômicas, o diafragma é elevado em aproximadamente 4 cm durante a gravidez. Quanto às alterações fisiológicas pulmonares, a capacidade residual funcional (CRF) é reduzida em cerca de 20 a 30%, ou 400 a 700 mL, durante a gravidez. Alterações fisiológicas da gravidez 10 Essa capacidade é composta pelo volume de reserva expiratório – que é reduzido em 15 a 20%, ou 200 a 300 mL, – e pelo volume residual – que é reduzido em 20 a 25%, ou 200 a 400 mL. A CRF e o volume residual diminuem progressivamente durante a gravidez em virtude da elevação do diafragma. SISTEMA URINÁRIO O sistema urinário sofre várias mudanças notáveis na gravidez. O tamanho dos rins aumenta cerca de 1 cm. A taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo plasmático renal aumentam precocemente na gestação. A TFG aumenta até 25% duas semanas após a fecundação, e 50% no início do segundo trimestre. Exame de urina A glicosúria pode não ser anormal durante a gravidez. O considerável aumento na TFG, associado à menor capacidade de reabsorção tubular da glicose filtrada, é responsável pela maioria dos casos de glicosúria. Chesley calculou que cerca de um sexto das gestantes eliminam glicose pela urina. Dito isso, embora seja comum Alterações fisiológicas da gravidez 11 durante a gravidez, quando se identifica glicosúria, o diabetes melito deve ser considerado. A hematúria frequentemente resulta de contaminação durante a coleta. Se não, sua presença indica infecção ou doença do trato urinário. É comum haver hematúria após parto difícil em razão do traumatismo na bexiga e na uretra. Em pacientes não gestantes, define-se proteinúria como excreção de proteína acima de 150 mg/dia. Em razão da mencionada hiperfiltração e possível redução da reabsorção tubular, durante a gravidez define-se a proteinúria como significativa quando alcançado o limiar de excreção de proteínas de pelo menos 300 mg/dia. Dosagem da proteína urinária Os três métodos mais empregados para avaliar proteinúria são teste qualitativo com fita reagente, coleta de urina de 24 horas e relação albumina/creatinina ou proteína/creatinina em uma única amostra de urina. TRATO GASTROINTESTINAL À medida que a gravidez progride, estômago e intestinos são deslocados em direção cefálica pelo útero crescente. Como consequência, os sinais físicos de algumas doenças são alterados. O apêndice, por exemplo, em geral é deslocado para cima e um pouco lateralmente. Algumas vezes, chega a alcançar o flanco direito. A pirose (azia) é comum durante a gestação, sendo provavelmente causada por refluxo de secreções ácidas para o segmento superior do esôfago. Embora a posição alterada do estômago provavelmente contribua para a frequência de ocorrência do sintoma, o tônus do esfincter esofágico inferior diminui também. SISTEMA ENDÓCRINO Hormônio do crescimento Durante o primeiro trimestre, o hormônio do crescimento é secretado predominantemente pela hipófise materna. Já com 6 semanas de gestação, o hormônio do crescimento secretado pela placenta se torna detectável e, em aproximadamente 20 semanas, a placenta é a principal fonte de secreção do hormônio do crescimento. O hormônio do crescimento placentário – que difere do hipofisário em 13 resíduos de aminoácidos – é secretado pelo sinciciotrofoblasto de forma não pulsátil. Sua regulação e efeitos fisiológicos não são totalmente compreendidos, mas influenciam o crescimento fetal por meio da regulação positiva do fator de crescimento Alterações fisiológicas da gravidez 12 semelhante à insulina 1 (IGF-1). Níveis mais altos foram associados ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia. Prolactina Os níveis de prolactina plasmática materna aumentam acentuadamente durante a gravidez normal. As concentrações são geralmente dez vezes maiores ao termo – cerca de 150 ng/mL – em comparação com as de mulheres não grávidas. Paradoxalmente, as concentrações plasmáticas caem após o parto mesmo nas mulheres que estão amamentando. No início da lactação, há surtos de secreção de prolactina em resposta à sucção. A principal função da prolactina materna é assegurar a lactação. Glândula tireoide As necessidades de iodo aumentam durante a gravidez normal. Nas mulheres com ingestão baixa ou limítrofe, a deficiência pode se manifestar na forma de baixa T4 e aumento nos níveis de TSH. É importante ressaltar que mais de um terço da população mundial vive em áreas em que a ingestão de iodo é marginal. Para o feto, a exposição precoce ao hormônio tireoidiano é essencial para o sistema nervoso e, apesar dos programas de saúde pública para suplementar iodo, a grave deficiência de iodo, resultando em cretinismo, afeta mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo. Glândulas suprarrenais Cortisol Durante a gravidez normal, as suprarrenais maternas, diferentemente das fetais, sofrem pouca ou nenhuma alteração morfológica. A concentração sérica circulante de cortisol aumenta, mas grande parte está ligada à transcortina, a globulina ligadora de cortisol. A taxa de secreção de cortisol pelas suprarrenais não aumenta, e provavelmente diminui em comparação às mulheres não grávidas. Entretanto, a depuração metabólica do cortisol é menor durante a gestação, uma vez que sua meia-vida quase dobra em relação à das mulheres não grávidas. A administração de estrogênio, incluindo a maioria dos contraceptivos orais, produz alterações nos níveis séricos do cortisol semelhantes às observadas durante a gravidez. A elevação do cortisol ocorre em resposta aos níveis elevados de progesterona durante a gravidez, haveria necessidade de mais cortisol livre para manter a homeostase. Outras teorias incluem possíveis papéis para o maior cortisol livre na preparação para o estresse da gravidez, parto e lactação. SISTEMA NERVOSO CENTRAL Alterações fisiológicas da gravidez 13 Memória As alterações do sistema nervoso central são relativamente poucas e principalmente sutis. As gestantes com frequência relatam problemas com atenção, concentração e memória ao longo da gravidez e no pós-parto imediato. Esse declínio não pode ser atribuído a depressão, ansiedade, privação de sono ou outras alterações físicas associadas à gestação. Mostrou-se transitório, com rápida resolução após o parto. Sono A partir de 12 semanas de gestação e até os 2 primeiros meses de pós-parto, as mulheres apresentam dificuldade para dormir, despertares frequentes, redução nas horas de sono e perda de eficiência do sono.
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