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LIVRO - ABRIL

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ESCOLA, CULTURA E 
CIDADANIA
TRANSFORMAÇÕES E CONTEXTOS
Jenerton Arlan Schütz 
Marco Antônio Franco do Amaral 
Sangelita Miranda Franco Mariano 
(Organizadores)
EDITORA
Jenerton Arlan Schütz 
Marco Antônio Franco do Amaral 
Sangelita Miranda Franco Mariano 
(Organizadores)
Editora Metrics
Santo Ângelo – Brasil
2021
ESCOLA, CULTURA E CIDADANIA
TRANSFORMAÇÕES E CONTEXTOS
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720
2021
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora 
Metrics
Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Metrics
Rua Antunes Ribas, 2045, Centro, Santo Ângelo, CEP 98801-630
E-mail: editora.metrics@gmail.com
https://editorametrics.com.br
Copyright © Editora Metrics
Imagens da capa: Freepik
Revisão: Os autores
 E74 Escola, cultura e cidadania [recurso eletrônico] : transformações 
e contextos / organizadores: Jenerton Arlan Schütz, Marco 
Antônio Franco do Amaral, Sangelita Miranda Franco 
Mariano. - Santo Ângelo : Metrics, 2021.
279 p.
ISBN 978-65-89700-20-3
DOI 10.46550/978-65-89700-20-3
 
1. Educação. 2. Formação de professores. 3. Ensino- 
aprendizagem. I. Schütz, Jenerton Arlan (org.). II. Amaral, Marco 
Antônio Franco do (org.). III. Mariano, Sangelita Miranda Franco 
(org.). 
 CDU: 37
Conselho Editorial
Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Drª. Célia Zeri de Oliveira UFPA, Belém, PA, Brasil
Dr. Charley Teixeira Chaves PUC Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil
Dr. Douglas Verbicaro Soares UFRR, Boa Vista, RR, Brasil
Dr. Eder John Scheid UZH, Zurique, Suíça
Drª. Egeslaine de Nez UFMT, Araguaia, MT, Brasil
Dr. Fernando de Oliveira Leão IFBA, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil
Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil
Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina
Drª. Helena Maria Ferreira UFLA, Lavras, MG, Brasil
Dr. Henrique A. Rodrigues de Paula Lana UNA, Belo Horizonte, MG, Brasil
Dr. Jenerton Arlan Schütz UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil
Dr. Jorge Luis Ordelin Font CIESS, Cidade do México, México
Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil
Dr. Manuel Becerra Ramirez UNAM, Cidade do México, México
Dr. Marcio Doro USJT, São Paulo, SP, Brasil
Dr. Marcio Flávio Ruaro IFPR, Palmas, PR, Brasil
Dr. Marco Antônio Franco do Amaral IFTM, Ituiutaba, MG, Brasil
Drª. Marta Carolina Gimenez Pereira UFBA, Salvador, BA, Brasil
Drª. Mércia Cardoso de Souza ESEMEC, Fortaleza, CE, Brasil
Dr. Milton César Gerhardt URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Dr. Muriel Figueredo Franco UZH, Zurique, Suíça
Dr. Ramon de Freitas Santos IFTO, Araguaína, TO, Brasil
Dr. Rafael J. Pérez Miranda UAM, Cidade do México, México
Dr. Regilson Maciel Borges UFLA, Lavras, MG, Brasil
Dr. Ricardo Luis dos Santos IFRS, Vacaria, RS, Brasil
Dr. Rivetla Edipo Araujo Cruz UFPA, Belém, PA, Brasil
Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil
Drª. Vanessa Rocha Ferreira CESUPA, Belém, PA, Brasil
Drª. Waldimeiry Corrêa da Silva ULOYOLA, Sevilha, Espanha
Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
PREFÁCIO ........................................................................................13
Sangelita Miranda Franco Mariano
Capítulo 1 - UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO 
PROFISSIONAL E DOCÊNCIA DO FUTURO A PARTIR DE 
UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL E COLABORATIVA 
DE PROPOSTAS INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE 
PROFESSORES ................................................................................15
Ana Paula de Melo Correa
Capítulo 2 - PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES NA VOLTA ÀS 
AULAS DURANTE A PANDEMIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS 
CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA E JUVENTUDE ..........................25
Silvia Matos de Sousa 
Rander de Souza Ferreira 
André Luiz Gusmão 
Capítulo 3 - RÁDIO NO ÂMBITO ESCOLAR: UM ESTUDO 
SOBRE A AÇÃO DE EXTENSÃO DENOMINADA E-CAST .......37
André Crepaldi 
Capítulo 4 - ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS QUASE-
LÓGICAS NA PRODUÇÃO DE REDAÇÕES PRÉ-ENEM PARA A 
DISTINÇÃO ENTRE FATO E OPINIÃO RELATIVA AO FATO ..55
Geany dos Santos Sousa 
Antonio Lailton Moraes Duarte 
Capítulo 5 - REFLEXÕES SOBRE LIBERDADE: UM DIÁLOGO 
POSSÍVEL NAS TEMÁTICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE 
SEXUAL ............................................................................................77
Rafael Machado Santana 
Tainara Ferreira Mousinho 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Capítulo 6 - EVENTOS CRÍTICOS, PESQUISA NARRATIVA 
E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE: VIVÊNCIAS 
METODOLÓGICAS ........................................................................87
Fernando Silvério de Lima 
Cristina Aparecida de Jesus 
Capítulo 7 - O PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA E 
O CONTEXTO DAS AULAS REMOTAS EM TEMPOS DE 
PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIAS ................................101
Géssica Alves de Sousa 
Sangelita Miranda Franco Mariano
Ciro Gomes Machado Neto 
Capítulo 8 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PRECONCEITO: 
LIMITES E POSSIBILIDADES ......................................................119
Jacqueline Lidiane de Souza Prais 
Adriana Fratoni 
Capítulo 9 - EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DE 
IMMANUEL KANT E ÉMILE DURKHEIM: PRINCÍPIOS, 
CONCORDÂNCIAS, DISCORDÂNCIAS E CONTRIBUIÇÕES
.........................................................................................................139
Beatriz Oliveira Alexandre 
Marco Antônio Franco do Amaral 
Capítulo 10 - O IMPACTO DA HERANÇA CULTURAL NA 
ESCOLHA E DESEMPENHO DAS ALUNAS DE PEDAGOGIA 
DO IF GOIANO - CAMPUS MORRINHOS ...............................155
Raquel Soares do Nascimento Borges 
Marcus Vinícius Costa da Conceição 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Capítulo 11 - CURRÍCULO, JUSTIÇA CURRICULAR E A SUA 
AÇÃO TRANSFORMADORA ......................................................167
Maria de Jesus F C de Albuquerque
Domingas Luciene Feitosa Sousa
 Anderson Monteiro Andrade 
Andréia Regina Silva Libório 
Capítulo 12 - A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO 
INFANTIL ......................................................................................185
Izabel Rodrigues da Silva 
Rafael Soares Silva 
Capítulo 13 - REFLETINDO SOBRE TECNOLOGIA E 
EDUCAÇÃO .................................................................................197
Rafael Soares Silva 
Lucas Daniel Batista Lima 
Izabel Rodrigues da Silva 
Capítulo 14 - A MITOLOGIA DOS ORIXÁS COMO LUGAR DE 
FALA ..............................................................................................209
Joémerson de Oliveira Sales 
Rosilene Pio 
Capítulo 15 - AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA 
EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÕES DE PROFESSORAS DA 
PRÉ-ESCOLA .................................................................................221
Sarah Marques de Oliveira 
Sabrina Silva Moura 
Géssica Alves de Sousa 
Fernanda Fátima Mendes Mendonça 
Capítulo 16 - PAULO FREIRE: A LEITURA E O LEITOR ..........243
Adriana Maria Lucena da Silva 
Simeire da Silva Santos 
Luciana Raimunda De Lana Costa 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Capítulo 17 - CULTURAS INFANTIS E O PROJETO POLÍTICO-
POLICIAL: LIMITES E POSSIBILIDADES NA GESTÃO 
EDUCACIONAL ...........................................................................261
Bruno Escalante Ferreira
Isadora Cabreira da Silva
Capítulo 18 - A BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO 
DE FORMAÇÃO: AS POTENCIALIDADES (NÃO) 
EXPLORADAS ..............................................................................271
Lucas da Costa Lage
Isadora Cabreira da Silva
SOBRE OS ORGANIZADORES ..................................................281
PREFÁCIO
Este livro é resultado de reflexões de estudiosos, pesquisadores e docentes que pensam a educação a partir 
dos olhares que abrangem as diversas áreas de conhecimento. De 
modo particular, as discussões e análises apresentadas nesta obra se 
relacionam ao planejamento e materialização de ações educativas 
no âmbitode instituições escolares, abarcando os diferentes níveis 
e modalidades escolares. 
Os textos aqui apresentados foram construídos imersos 
em um contexto que envolve todas as inquietudes inerentes à 
pandemia em razão das medidas de prevenção e enfrentamento ao 
Covid-19, momento este que tem nos deixado numa condição em 
que é exigido dos profissionais da educação que saiamos da nossa 
zona de conforto ou de (des)conforto, muitas vezes não assumido e 
não consciente. Reconhecemos que este processo tem desvelado as 
nossas fragilidades, (de agora e de sempre) não somente em relação 
às tecnologias, mas no que tange também aos nossos acertos e 
desacertos no nosso fazer cotidiano na esfera escolar e em relação à 
nossa participação no processo educativo em sua totalidade.
As instituições educativas se constituem ao mesmo tempo 
em espaços de produção, de difusão de saberes, de conhecimentos 
e visões de mundo, na medida em que se configuram como espaço 
de relações e interações (sociais, políticas, culturais, étnicas, raciais, 
de gênero e profissionais), em que estes saberes, se estruturam, 
definem-se, se organizam e se consolidam. Nessa perspectiva, tais 
instituições são também, por sua natureza e sentido histórico, 
espaços formativos. Os conhecimentos que nelas se produzem e 
reproduzem e pelas relações que em seu interior e a partir dela se 
constroem e reconstrói, a instituição educacional educa e se define 
não apenas pelo currículo que implementa, mas, sobretudo pelo 
exercício de práticas e relações, dentro e fora da sala de aula.
Portanto, a leitura deste livro nos remete a compreensão 
14 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
e reconhecimento de que os sujeitos – educandos, professores e 
demais profissionais que atuam nos processos educativos – se 
constituem em indivíduos de conhecimentos, reprodutores e 
produtores de práticas sociais e educativas. Estes atores, ao mesmo 
tempo em que expressam e trazem consigo as marcas dos processos 
formativos vividos dentro e fora do sistema educativo, enquanto 
sujeitos históricos na dinâmica das relações que vivenciam, 
também formulam saberes teórico-práticos, constroem percepções 
das relações e lugares sociais, da educação, bem como do mundo 
como um todo. 
Sob esse viés, é preciso ter um olhar para a incompletude 
do sujeito e das relações que se estabelecem com os objetos de 
conhecimento. Nesse sentido, convido-os à leitura deste livro, 
construído a partir da elaboração e reflexão crítica sobre os problemas 
e respostas quase sempre provisórias às demandas empreendidas 
pelo campo educacional. Enfim, para além de pensar sobre as 
ações, a leitura nos remete a problematização e a possibilidade de 
transformações por meio de intervenções possíveis, tendo em vista 
as táticas e estratégias, agindo nas brechas do que é pré-estabelecido, 
num movimento de resistência realizado a contrapelo.
Boa leitura!
Profa. Dra. Sangelita Miranda Franco Mariano
Capítulo 1
UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO 
PROFISSIONAL E DOCÊNCIA DO 
FUTURO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA 
MULTICULTURAL E COLABORATIVA DE 
PROPOSTAS INOVADORAS NA FORMAÇÃO 
DE PROFESSORES
Ana Paula de Melo Correa1
Introdução
A Constituição Federal em seu artigo 205° determina que a Educação é um direito de todos e é dever do Estado, 
da Família e deve ser promovida, incentivada com a colaboração 
da sociedade para formação e desenvolvimento da pessoa, 
preparando-a para o exercício da cidadania e qualificação para o 
trabalho (BRASIL, 1988). 
Nessa perspectiva Feldmann e Lima D’Água (2009) 
destacam que a escola tem uma função social, que consiste na 
formação das gerações futuras e por esse motivo deve assumir o 
compromisso em tratar temáticas que envolvem questões culturais, 
sociais, históricas, econômicas, política, especialmente por ser 
um local de encontro com pessoas de diferentes culturas, o que 
precisa ser pensada, discutida e tomada como pauta no processo de 
formação docente, sendo ela inicial ou continuada. 
Candau (2013) destaca que a escola é um lugar de múltiplas 
1 Pedagoga e especialista em Coordenação Pedagógica, Mestranda UNEATLANTICO 
– email: apaulapedagogia@gmail.com / anamelo_pedagogia@hotmail.com
16 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
culturas e que essa temática é pouco abordada nos cursos de formação 
de professores, por isso justifica-se a proposta desse trabalho, ao 
propor um curso de extensão que oportunize um diálogo acerca 
das questões culturais e da diversidade presente no contexto escolar. 
Assim, pretende-se identificar a percepção dos professores em um 
curso de formação docente nível médio acerca do multiculturalismo 
presente na escola e pensar ações que venham dirimir tais barreiras 
que podem repercutir em exclusão e preconceito. 
Na contemporaneidade a questão multicultural aparece 
com uma visibilidade maior, como o próprio Candau (2013), uma 
sociedade multicultural desencadeia o surgimento do conceito 
de multiculturalismo, o qual possui diferentes significados na 
sociedade atual, segundo Candau (2013, p. 19-20) trata a questão 
do multiculturalismo sob duas abordagens: “uma descritiva e outra 
propositiva”, sendo a abordagem descritiva uma configuração da 
sociedade de hoje, de modo que suas formas têm relação com 
“contexto histórico, político e sociocultural”.
Partindo desse pressuposto, embora o multiculturalismo 
na educação é um tema recente, considerando a escola como esse 
lugar de formação humana, colaborativo, de múltiplas relações, 
Tardif (2014) evidencia a importância de problematizar saberes 
que permeiam o ofício de ser professor, e portanto, é nesse contexto 
que se insere os profissionais docente nesse trabalho a ser realizado.
Desse modo, a preocupação com os elementos que 
proporcionem do tema saberes docentes deriva das inquietações 
das experiências como pedagoga. 
O propósito da reflexão vem ao encontro à identificar os 
principais determinantes que levam aos questionamentos quanto 
os conhecimentos, o saber fazer, as competências e habilidades 
que os professores mobilizam nas salas de aula e nas escolas 
profissionais (TARDIF,2014), no intuito de que o resultado possa 
fornecer elementos proporcionando melhoras na ação discente e 
docente, assim auxiliando nos processos de garantir efetivamente 
a aprendizagem, propor uma formação profissional em relação à 
 17
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
necessidade de convivência intercultural ou multicultural na escola. 
Considerar a escola como local de múltiplas relações, o que 
a constitui como espaço educativo, em suma, o “saber ensinar”, 
do ponto de vista de seus fundamentos na ação, remete a uma 
pluralidade de saberes. E esta pluralidade se forma, de um certo 
modo, um “reservatório” onde o professor vai buscar suas certezas, 
modelos simplificados de realidade, razões, argumentos, motivos, 
para validar seus próprios julgamentos em função de sua ação, 
para versar os conhecimentos que fundamentam o saber docente 
(GAUTHIER, 2006). 
E nessa reflexão também considerar que os alunos de uma 
escola estão de passagem, mas os professores permanecem nela e 
acompanham o seu andamento (ALARCÃO, 2001), é necessário 
considerar os conhecimentos dos sujeitos históricos que fazem 
parte dela. Também Tardif ( 2014) ao trazer os questionamentos 
sobre quais os saberes que os professores precisam mobilizar em sala 
de aula, no espaço pedagógico, questiona a natureza e origem dos 
mesmo e como é influenciado a prática educativa, pode considerar 
pensar sobre o papel da escola e do professor na valorização cultural 
e diversidade existente na sociedade.
Desenvolvimento
O multiculturalismo na formação docente permite que o 
professor perceba a diversidade presente na sociedade, bem como 
oportuniza reflexões sobre o papel da escola e os enfrentamentos 
necessários no contexto em que está inserida. Dito isso, vale destacar 
que é na formação do professor, especialmente quando pensada apartir do cotidiano escolar é que possibilita uma melhor qualidade 
do seu trabalho e o capacita para pensar em uma educação mais 
inclusiva. Zabala (1998) destaca que o processo formativo requer 
pensar em ações que desenvolvam uma consciência educativa, para 
que o sujeito aprenda a “ser” tolerante, cooperativo, respeitoso, 
rigorosos à interpretação da realidade não oferecendo grandes 
dificuldades de serem codificados. 
18 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Na sociedade contemporânea, a educação formal não 
acontece só no espaço físico da sala de aula, as tecnologias digitais 
possibilitam a integração de todos vários espaços e tempos, como 
também permite reflexões acerca de uma educação cada vez mais 
horizontalizada, que se expressa em múltiplas interações grupais 
e personalizadas. Pensar nessas múltiplas possibilidades que as 
tecnologias digitais possibilitaram, pode-se apoiar nos saberes 
docentes subjacentes que são construídos e formados nas relações 
do processo educativo, dos desafios do ensinar e aprender. 
Pensar a educação em uma visão multicultural se faz 
necessário para que o ambiente escolar e as práticas pedagógicas 
sejam mais inclusivas, promovam a igualdade e valorize a 
diversidade. Sobre essa questão, Candau destaca que no Brasil 
a questão multicultural apresenta uma configuração própria, 
visto que temos uma sociedade formada por inúmeras culturas, 
especialmente marcada por influencias indígenas e africanas. 
Pensando nisso, a escola deve ser esse espaço público 
formativo para o ensino e a aprendizagem aconteçam de maneira 
sistematizada, agregando valores ao fazer pedagógico (PIMENTA, 
1999). Tadif (2012) aponta para os saberes docentes que são 
construídos no ambiente escolar; aqueles provenientes dos 
currículos formativos; bem como aqueles advindos da experiência 
pedagógica pertencentes aos contextos escolares. 
Os saberes docentes defendidos por Tardif (2012) podem 
subsidiar discussões no campo da formação de professores, pois 
destacam ao ofício do professor e as relações com “aquilo que ele é e 
faz” sendo modelado “no e pelo trabalho”. Tais reflexões subsidiam 
pensar nos processos educativos mediados pelas tecnologias digitais, 
nas suas múltiplas articulares, interligações, desdobramentos, 
em todos os campos, atividades e situações que envolvam o fazer 
pedagógico do professor. 
Os estudos de Maurice Tardif mostram que o profissional 
da educação deve possuir tanto conhecimentos como competências 
profissionais, sendo desse modo na visão do autor o contexto é 
 19
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
relevante para orientar a formação docente, tratar dos saberes como 
forma de possibilitar que os professores adquiram subsídios para 
melhoria de sua prática pedagógica , pois para o autor o docente 
não pode ser visto como aquele que somente tem função de colocar 
em prática o conhecimento que foi produzido por outras pessoas, 
assim como não pode ser reduzido a um agente de mecanismos 
sociais, ou seja, os professores buscam além de realizar objetivos, 
eles atuam também sobre o objeto. Tardif (2014).
Pensar no papel e na ação docente requer um perfil 
reflexivo, pesquisador do professor; capaz de pensar sobre a prática, 
na prática pedagógica. Alarcão (2001) destaca que esse processo 
possibilita o compartilhar saberes e difundi-los em um ambiente 
colaborativo. O professor reflexivo imbuído dos saberes docentes 
que permeiam a prática pedagógica, aprende, ensina, amplia seus 
saberes e horizontes. 
Dessa forma, em uma sociedade multicultural, nas 
considerações de Feldmann (2009), os professores, enfrentam 
questões de diferentes naturezas, envolvendo diversos campos, 
como a questão cultural em suas realidades escolares e as diversidades 
como forma de manifestação do multiculturalismo na educação, 
pois a escola é local de diversidade e diferenças, bem como onde 
vivemos.
Portanto, ao se pensar sobre uma cultura pode admitir 
diferentes significados, há uma relação muito próxima entre educação 
e diferentes culturas e essas são trazidas pelo “multiculturalismo”, 
eis os desafios que precisam ser considerados no processo de ensino 
e de aprendizagem.
Considerações finais
Essa pesquisa assume caráter qualitativo ao buscar 
compreender o fenômeno da diversidade cultural no ambiente 
escolar, de modo a valorizar o multiculturalismo e a formação 
continuada do professor da Educação Básica. 
20 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
A pesquisa iniciará com uma revisão sistemática de literatura, 
a fim de mapear os estudos que abordam a temática nos últimos 
anos. Posteriormente, procederá uma revisão bibliográfica baseada 
em autores que discutem a temática da função social da escola 
frente as demandas multiculturais (CANDAU, 2013; TARDIF, 
2014; FELDIMANN, 2009), assim como os saberes docentes e a 
formação de professores, Maurice Tardif; Zabala; Gauthier; Izabel 
Alarcão e outros. 
Como FELDMANN( 2009) “a tarefa da escola é trabalhar 
com as relações interpessoais, pedagógicas e institucionais” 
(FELDMANN, 2009), também a formação dos profissionais do 
magistério, a valorização dos diferentes grupos que compõem os 
espaços escolares.
O produto educacional consiste na elaboração e 
implementação de um curso de extensão para formação continuada 
de professores que atuam em um curso de formação docente em 
nível médio. Os dados serão coletados durante o curso e analisados 
de forma qualitativa. 
No contexto, em uma escola pública do Norte do Paraná, 
na cidade de São Sebastião da Amoreira, no curso de Formação 
de Docentes, nível médio, descrição do cenário da escola e da 
comunidade e algumas características dos professores, dos alunos e 
do meio em que vivem.
De forma geral, dentro do percurso trazem dados relevantes 
para a formação a que se destina como também a sua aderência à área 
de concentração do Programa - Ensino, Ciências e Novas Tecnologias.
A proposta de um curso de extensão para formação 
continuada de professores da Educação Básica em uma escola 
de formação docente em nível médio, será elaborado baseado 
nas reflexões teóricas acerca da função da escola frente ao 
multiculturalismo, bem como a formação e autoformação do 
professor, tendo a escola como um espaço fecundo de múltiplas 
interações e formação dos saberes docentes. 
Os saberes só têm ou adquirem sentido na sua relação 
 21
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
com o trabalho dos professores, TARDIF ( 2014), expõe que os 
saberes docentes são sociais, contextualizados e individuais e assim 
ampliando margem para discussão porém enfatizando os cuidados 
que se deve ter sobre o assunto, já que têm a característica pessoal, está 
ligada diretamente da história de vida de cada sujeito, sua formação 
inicial e continuada, trajetória profissional e relacionamentos com 
os demais no âmbito educacional.
As atividades propostas e organizadas do planejamento, 
da formação com a finalidade de contribuir para uma reflexão 
autônoma, colaborativa que se aproxime da realidade escolar dos 
docentes, almeja-se refletir sobre o papel da escola e do professor 
na valorização cultural e diversidade existente na sociedade, 
especialmente no ambiente escolar, valorizando os diferentes grupos 
que compõem os espaços escolares, de modo que contribua para 
inclusão, enfrentamentos, combate ao preconceito e discriminação. 
A pesquisa se dará de forma qualitativa, tendo como 
instrumentos a pesquisa bibliográfica e implementação e análise 
dos dados coletados durante o curso de extensão.
O processo de ensino e aprendizagem não é um processo 
rápido, ele acompanha a evolução populacional, tecnológica e 
social cada fase do ensino é um avanço para uma incorporação 
do conhecimento baseada no esforço e interesse do aluno 
(PIMENTA,1999).
 Portanto a ação de formação deverá ser formativa 
permanente, no contexto inicial e continuada propício o ambiente 
multicultural vivenciado na escola, a experiênciade atuação 
do pesquisador como docente e como formador, os estudos 
realizados teoricamente sobre a temática, no desenvolvimento da 
aplicação do processo educacional, o curso e as observações como 
as participações devem ocorrer em momentos diversos da hora-
atividade docente, em estudos, leituras e atividade prática.
Espera-se que refletir sobre a diversidade cultural e permita 
uma tomada de consciência, de forma colaborativa, visto que temos 
uma sociedade formada por inúmeras culturas, que a questão 
22 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
apresenta uma configuração própria, sobretudo ao valorizar a escola 
como espaço de formação e autoformação do professor, pois torna-
se uma necessidade em meio a uma sociedade desigual, marcada 
pela diversidade.
Contempla um processo educacional composto por 
etapas de estudos e ao final elaborar um estudo acerca dos saberes 
que envolvem o cotidiano escolar e a valorização da diversidade 
multicultural e propor um curso de extensão para formação 
continuada de professores que atuam na Educação Básica em um 
curso de formação docente em nível médio.
A formação continuada, repensar a escola frente às 
diversidades, é um conjunto de atividades, podendo ser realizada 
de forma individual ou em grupo, e retomando sobre os saberes 
docentes iremos considerar suas duas vertentes: o saber dos 
professores em seu trabalho e em sua formação TARDIF ( 2014).
A educação deve estar voltada aos valores humanos, em que 
seja possível a transformação social, atendimento das necessidades 
de aprendizagem e para que o ensino se efetive são necessárias 
condições favoráveis pois o que faz uma escola ser mais ou menos 
inclusiva são as ações promovidas.
Em suma, na qual os professores é que têm esse papel, ou seja, 
os saberes de formação profissional, também chamados por Maurice 
Tardif de saberes pedagógicos, os saberes das ciências da educação 
e da ideologia pedagógica, o conjunto de saberes transmitidos pelas 
instituições de formação de professores (TARDIF, 2014).
Sobre o impacto e o potencial de mudanças causadas pela 
introdução do produto no ambiente social/educacional é válido 
refletir que a diversidade traz diferentes problematizações para a 
escola e para os docentes.
 Os professores identificam a escola como um ambiente 
multicultural, assim como ressaltam que não sabem como atender a 
todas essas diferenças, consideram desafiador mas reconhecem que 
cabe à escola e aos professores tratar dessa realidade tão diversa. 
Nesse processo “[...] o ato de ensinar e de se formar, embora tenha 
 23
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
características de individualidade, é sempre um trabalho coletivo” 
(FELDMANN, 2009). 
Possuindo assim uma perspectiva de transformação, 
incentivar os professores já formados a serem reflexivos, com ênfase 
em suprir possíveis deficiências existentes na formação e nas práticas 
dos professores, e desta forma, pode-se constatar a complexidade 
desta metodologia, assim como sua sistematização, possuindo 
etapas que devem ser seguidas completamente desde suas gêneses, 
para que assim seja plenamente concluída.
Alarcão (2011) descreve que a formação reflexiva tem 
ajudado os professores a tomarem consciência da sua identidade 
profissional que, só ela, pode levar à permanente descoberta de 
formas de desempenho de qualidade superior e ao desenvolvimento 
da competência profissional na sua dimensão holística, interativa 
e ecológica, contemplando assim o trabalho colaborativo na 
formação do professor traz resultados importantes para a escola, 
principalmente quando essa formação está relacionada às atividades 
que se realizam no contexto de atuação docente.
Nesse momento inovador, os projetos pedagógicos 
são importantes e precisam ser integrados para dar conta da 
complexidade de aprender na nossa sociedade cada vez mais 
dinâmica, a interconexão entre a aprendizagem pessoal e a 
colaborativa, num movimento contínuo e ritmado, nos ajuda a 
avançar muito além do que o faríamos sozinhos ou só em grupo 
e sem dúvidas que o professor se torna cada vez mais um gestor 
e orientador de caminhos coletivos e individuais, previsíveis e 
imprevisíveis.
Neste contexto, iremos descrever as propostas metodológicas 
desenvolvidas, é fundamental que o professor se proponha e desafie 
suas ações para solucionarem problemas, isto considerando-
se a aplicação dos conteúdos abordados no curso em questão, a 
implementação dos recursos tecnológicos disponíveis na instituição, 
a avaliação das novas tecnologias disponíveis no mercado, associado 
ainda ao contínuo trabalho em equipe. 
24 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Esta metodologia de trabalho pode contribuir com resultados 
muito satisfatórios, além disso, contribui para o desenvolvimento 
das habilidades dos alunos, com o protagonismo estudantil e 
docente, com o contínuo interesse dos alunos no ambiente escolar, 
o produto educacional desenvolvido vem agregar valor e estímulo 
ao professor para que continue progredindo.
Referências
ALARCÃO, Isabel. A escola reflexiva. In: ALARCÃO, Isabel. 
(org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: 
Artmed, 2001. 
CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios 
para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antônio Flávio; 
CANDAU, Vera Maria (org.) Multiculturalismo: diferenças 
culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
CANDAU, Vera Maria et al. Educação em direitos humanos e 
formação de professores(as). São Paulo: Cortez, 2013.
FELDMANN, Marina Graziela. LIMA D'AGUA, Solange Vera 
Nunes de. Escola e inclusão social: relato de uma experiência. In: 
FELDMANN, Marina Graziela. (org.) Formação de professores 
e escola na contemporaneidade. São Paulo: Ed. Senac, 2009. p. 
189-200.
GAUTHIER, C.; MARTINEAU, S.; DESBIENS, J. F.; MALO, 
A.; SIMARD, D. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas 
contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 2006.
PIMENTA, S. G. Formação de professores:identidade e saberes 
da docência. In: PIMENTA, S. G. (Org.).Saberes pedagógicos e 
atividade docente. São Paulo: 1999. 
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 
17. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
ZABALA, A. A Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: 
Artes Médicas Sul, 1998.
Capítulo 2
PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES NA VOLTA 
ÀS AULAS DURANTE A PANDEMIA: UMA 
REFLEXÃO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE 
INFÂNCIA E JUVENTUDE
Silvia Matos de Sousa1
Rander de Souza Ferreira2
André Luiz Gusmão3
 Introdução
Muitos estudiosos têm se dedicado, nas últimas décadas, à reflexão e problematização das concepções modernas 
de infância e juventude, que consideram crianças e adolescentes 
como sujeitos incompletos, como um sujeito que virá a ser, um 
ser inacabado, e que geralmente deve ser disciplinado; um ser 
incapaz de decidir por si mesmo, desprovido de senso crítico que 
lhe permita tomar decisões; um ser que não tem condições de 
opinar; um ser que, diante de sua fragilidade em relação ao adulto, 
deve ocupar uma posição subalterna àqueles. Régine Sirota (2001), 
neste sentido, afirma que:
1 Mestranda em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Cientista Social com 
especialização em Ensino de Sociologia. Professora de Sociologia na Secretaria de 
Estado de Educação de Mato Grosso. E-mail: silviamatos93@gmail.com.
2 Mestrando em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Professor de História 
na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso. E-mail: randersouza2013@
outlook.com.
3 Mestrando em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Analista Instrumental 
/ Perfil: Psicólogo na Secretaria Municipal de Promoção e Assistência Social de 
Rondonópolis/MT. E-mail: andre.luiz.gusmao@gmail.com.
26 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
A infância é suficientemente frágil para que deva ser educada e 
suficientemente móvel para poder sê-lo. A criança é, pois, aqui 
considerada antes de tudo como aquilo que os anglo-saxões 
denominam um ‘futurebeing’, um ser futuro, em devir: ela 
[a infância] apresenta ao educador não um ser formado, não 
uma obra realizada e um produto acabado, mas um devir, 
um começo de ser, uma pessoa em vias de formação. Não 
importa que período da infância consideremos, sempre nos 
encontramos em presença de uma inteligência tão fraca, tão 
frágil, tão recentemente formada, de constituição tão delicada, 
com faculdades tão limitadas e exercendo-se por um tal milagre 
que, quando pensamos nisso tudo, não há como não se temer 
por essa esplêndida e frágil máquina (SIROTA, 2001, p. 9).
A criança é descrita como uma frágil máquina e é importante 
lembrar que máquinas são controladas e dominadas por outros. 
Ainda que a maior parte das literaturas mencionadas neste trabalho 
se refira às primeiras fases da infância, para este estudo, ressaltamos 
o entendimento de que os adolescentes, enquanto sujeitos menores 
de idade, tutelados por adultos, sentem também os respingos 
dessa visão deficitária sobre infância. Por isso, neste artigo, não 
nos deteremos em distinções minuciosas sobre fases da infância e 
diferenciação entre as crianças e adolescentes.
Por estarem colocados sob essa condição de desvantagem, 
crianças e adolescentes não costumam ter voz em nossa sociedade. 
Não participam do desenvolvimento de políticas públicas, 
geralmente não são chamados para opinar, nem têm a possibilidade 
de uma participação mais ativa em contextos políticos. Até mesmo 
a possibilidade de serem ouvidos lhes é dificultada, mesmo em 
processos que os afetam diretamente. E não tem sido diferente no 
episódio que vivenciamos no momento.
Em meados de março de 2020, as aulas na educação 
pública do estado de Mato Grosso foram suspensas por período 
indeterminado devido à pandemia causada pelo SARS-Cov-2, 
que provoca a Covid-19. Assim, milhares de estabelecimentos e 
instituições foram impedidos de funcionar normalmente no Brasil 
e em diversas partes do mundo, e entre essas instituições, a escola. 
No estado de Mato Grosso, as aulas nas escolas estaduais foram 
 27
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
suspensas por mais de quatro meses e, no início de agosto, iniciou-
se um processo de retorno às aulas, de forma não presencial e com 
o auxílio de plataformas digitais.
Este ensaio começou a ser pensado e escrito neste início 
de instauração do processo de retorno às aulas. Com ele, busca-
se trazer alguns elementos para iniciar reflexão sobre esse processo 
quase que simultaneamente ao momento dos acontecimentos. 
Entende-se, portanto, que os estudantes na educação básica, 
crianças e adolescentes, têm capacidade para avaliar criticamente 
o processo que estamos vivendo e têm o direito de serem ouvidos, 
evocando aqui o entendimento de direito no sentido mais amplo, 
como nos ensina Soares (2005).
A primeira etapa deste trabalho se deteve à revisão de 
literatura sobre percepções de infância e juventude e como esse 
processo se desenvolveu nos últimos séculos. Posteriormente, 
buscou-se o contato com estudantes para tentar entender o que 
eles têm a falar sobre o processo de volta à aulas de forma remota 
neste momento. Devido à impossibilidade de contato mais pessoal 
com os estudantes, foi necessário o uso das tecnologias disponíveis. 
Foi possível perceber alguns discursos recorrentes nas falas dos 
estudantes, que serão detalhadas no decorrer deste texto.
Desenvolvimento
Já faz algum tempo que as crianças e os adolescentes se 
tornaram alvo de pesquisas entre os estudiosos, no entanto, é difícil 
saber ao certo a data de “criação” da infância, na forma como os 
conhecemos hoje, mesmo porque essa mudança é processual. A 
pesquisadora britânica Erica Burman (2009) chama atenção para o 
fato de que as concepções que temos atualmente sobre infância não 
são resultados de um processo neutro ou “ao acaso”. Ao contrário, 
há uma estreita articulação entre os modelos de desenvolvimento 
humano com o desenvolvimento econômico, de modo que o 
desenvolvimento da criança está fortemente associado à ideia de 
progresso.
28 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Entender o significado dessa articulação faz-se importante 
para entender como vemos a infância. Associa-se a imagem 
de progresso à passagem da infância para a fase adulta, ou seja, 
a mudança de uma posição inferior para uma posição superior. 
Entende-se a infância como sendo o futuro, assim, ela (a infância) 
não é vista por aquilo que é no momento, mas como aquilo que 
virá a ser.
Larrosa (1999) destaca que diversas mudanças foram 
observadas no trato dos adultos sobre as crianças a partir da 
segunda metade do século XVIII, com o advento do Iluminismo. 
Antes desse movimento, não havia uma grande diferenciação entre 
adultos e crianças, e estas não recebiam um tratamento diferenciado 
dos demais.
Esse novo olhar sobre a infância desencadeou a necessidade 
de uma pedagogização integral da criança, processo que a levou a ser 
totalmente dominada pelos adultos, especialmente com a utilização 
da literatura como instrumento de adequação, que propiciou um 
sistema de infância que:
a institui, ou melhor, a constitui, literalmente [...] e dita os 
deveres e as condutas dos adultos para com ela. A infância, 
como tal, começa a ocupar um campo bem delimitado que 
impõe, aos delimitados por essa faixa, o que devem ou não 
fazer e dizer. [...] por seu intermédio e em sua intenção, a 
sociedade inteira aprende a se disciplinar, pedagogizando-se 
(LARROSA, 1999, p.18).
Criou-se uma imagem do que é infância, com características 
bem delineadas e delimitadas. Burman (2009) tece crítica para essa 
criação de apenas um tipo de criança e de uma infância única, 
destituída de toda e qualquer subjetividade. Essa pedagogização 
deu início a um processo de tutela sobre as crianças que as colocam 
numa posição de completa submissão aos adultos e incapacidade. 
A partir de então, segundo Maria Bujes,
a criança passa a ser vista como numa perspectiva que a 
diferencia do adulto – um ser em falta, imaturo, alguém que 
depende de decisões alheias – alguém que precisa adquirir o 
 29
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
conhecimento que foi legitimado por outros mais velhos e 
inteligentes (BUJES, 2000, p. 97).
Estudiosos desenvolveram muitos trabalhos que se 
empenhavam na categorização e construções acerca do que seria 
a infância, teses essas que refletiam as concepções de juventude. A 
criança passou a ser observada como um ser que demanda atenção 
e cuidados especiais, e, ainda que indiretamente, considerada um 
ser incapaz. A partir disso, diversos direitos de participação passam 
a ser negados a elas.
Em seus estudos, Natália Fernandes Soares (2005) ressalta 
a dificuldade material de reconhecimento da criança enquanto um 
ser fundamentalmente de direitos. Segundo a autora, entendemos 
as crianças e adolescentes como seres que têm o direito à boa 
existência, por exemplo, ou mesmo o direito de serem protegidas, 
mas excluímos alguns direitos fundamentais do indivíduo, como, 
por exemplo, o direito de participação, o direito de poder opinar, o 
direito de fazer escolhas.
Existe, assim, a necessidade de atenção quanto à 
vulnerabilidade estrutural das crianças, ou seja, aquela construída 
social e culturalmente e que está relacionada com a falta de poder 
político e econômico das crianças e adolescentes. Complementar 
ao pensamento de Soares (2005), entendemos que alguns aspectos 
das crianças ainda não estão plenamente desenvolvidos, mas isso 
não justifica a total anulação de sua possibilidade de participação 
social.
Jens Qvortrup (2011), estudioso no campo dos Estudos 
Sociais da Infância, argumenta que, historicamente, o foco dos 
estudos no desenvolvimento infantil dificultou o reconhecimento 
da infância como um fenômeno construído socialmente. Segundo 
o autor, as crianças e os jovens são objetos de inúmeros projetos de 
pesquisa e de políticas que os afetam diretamente, e no entanto, 
não são ouvidos. Não sãoouvidos porque ainda os consideramos, 
no sentido biológico e fisiológico, como seres incapazes de decidir 
por si mesmos, que têm a necessidade de serem tutelados.
30 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Apenas a partir da década de 1980, como afirma Sirota 
(2001), as ciências sociais passaram a organizar movimentos efetivos 
que tentam trazer novas concepções de infância e juventude.
No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito e discussões 
a serem promovidas. Evocando uma reflexão mais local, a visão 
cercada de imagens de incapacidades associada a crianças e 
adolescentes continua a ser reafirmada em boa parte das escolas no 
Brasil. Estão tão naturalizadas que podem facilmente ser observadas 
em diversos contextos dentro da escola, quando, por exemplo, os 
professores não levam em consideração as opiniões dos estudantes, 
ou mesmo quando os consideram completamente incapazes de 
opinar ou participar de qualquer parte decisória do processo de 
ensino e aprendizagem.
As crianças e adolescentes não são chamados a opinar 
e estão condicionados a sofrer decisões exteriores que os afetam 
diretamente. Não foi diferente nesse processo de volta às aulas em 
agosto. Em março de 2020, a pandemia que assolou o mundo não 
deu alternativa aos governos aqui no Brasil a não ser parar, ainda 
que momentaneamente, diversas instituições, inclusive escolas. Os 
alunos da educação estadual de Mato Grosso ficaram sem aulas a 
partir do dia 17 de março e permaneceram assim por alguns meses.
Depois de muita discussão entre a assessoria pedagógica, 
governo e outras instituições competentes, foi anunciado um 
processo de volta às aulas de forma online (não presencial). Mas os 
alunos novamente não foram inclusos nesse processo. Percebemos 
algumas pesquisas, muito importantes, que tentam observar e 
refletir sobre esse processo de volta às aulas, algumas tratam da 
saúde dos profissionais, dos impactos desse processo de volta às 
aulas sobre os professores, mas os trabalhos que se voltam para os 
estudantes ainda são poucos.
É com objetivo de reafirmar a necessidade de chamar os 
estudantes a uma participação mais ativa que este trabalho se 
constitui. Nesse sentido, conversando com alguns estudantes sobre 
o processo de volta às aulas via plataformas online, foi possível 
 31
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
apreender algumas de suas percepções. Até o momento, foi possível 
contatar cinco estudantes de ensino médio da rede pública do 
estado de Mato Grosso, com idades entre 15 e 17 anos.
Por questões éticas, foi informado aos estudantes o motivo 
da pesquisa e eles foram convidados a falar livremente sobre como 
tem sido o processo de volta às aulas, quais são suas angústias, o que 
eles têm percebido, quais têm sido suas maiores dificuldades. Nesse 
primeiro contato, optou-se por não disponibilizar um questionário 
ou algo semelhante para que os estudantes respondessem. 
Pretendeu-se, nesse momento, deixar o estudante livre para falar o 
que mais lhe convém no momento e, posteriormente, providenciar 
novas entrevistas, utilizando-se de nossas percepções a partir desse 
primeiro contato, com aquilo que analisarmos mais importante.
Os jovens têm muitas opiniões acerca do que está 
acontecendo, e demonstram sua perfeita capacidade crítica e 
leitura de mundo a partir de suas falas. Alguns denunciam a forma 
como as aulas remotas estão sendo estruturadas, de forma vertical, 
sem diálogo entre os envolvidos. João4, 16 anos, critica o método 
implantado, entende que, devido ao momento, não deveríamos 
priorizar a volta às aulas nesse momento, pois considera que não 
temos condições materiais para isso. Em suas palavras:
E as pessoas que não têm acesso à internet? E as pessoas que 
não têm dinheiro para imprimir as apostilas? [...] eu não tenho 
uma internet ótima, vamos colocar assim, é uma internet boa, 
né? Não tenho do que reclamar, mas eu tenho um aparelho 
celular para entrar nas aulas, eu tenho um computador para 
entrar nas aulas, eu tenho internet, e o resto, como é que 
funciona? (JOÃO, 16 anos).
Juliana, 15 anos, resumiu o processo de volta às aulas de 
forma remota com a palavra “aflição”. Ela percebe que muitos alunos 
e alguns professores estão “perdidos”, pois são muitas mudanças, e 
demonstra preocupação com a efetividade da aprendizagem. Em 
suas palavras, “é nítido que não vai ser a mesma coisa e muitos 
alunos não vão entender absolutamente nada” (JULIANA, 15 anos). 
4 Os nomes dos estudantes foram alterados. 
32 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
A preocupação com o efetivo aprendizado foi uma preocupação 
de todos os alunos contatados. Neste sentido, Rogério, 16 anos, 
que cursa o terceiro ano do ensino médio em 2020, destaca sua 
chateação quanto à decisão do governo federal de adiar o ENEM 
para janeiro de 2021, ao invés de para maio de 2021, como os 
estudantes votaram em consulta pública.
A partir disso eu já pensei, gente, estamos em agosto, e em 
janeiro já tem o ENEM. Ou seja, já perdemos quase um ano 
inteiro, qual é a probabilidade de nós da escola pública, que 
ainda não tivemos aula, praticamente, a não ser as semanas 
que foram deixadas do Aprendizagem5, aí já fiquei assim, bem 
pra baixo mesmo, com relação à escola, fiquei já bem triste, até 
hoje, aliás (ROGÉRIO, 16 anos).
O estudante relatou uma angústia entre os colegas acerca 
de, voltando às aulas apenas agora em agosto, se eles ainda teriam 
chances de aprender algo para ter êxito no ENEM. Outra questão 
observada por todos os estudantes que conversamos foi sobre a falta 
de comunicação entre os professores e coordenação, observadas 
a partir da divergência de informações que eles fornecem. A 
dificuldade de lidar com a nova plataforma, com o ambiente 
virtual, também foi uma questão levantada por quase todos. Karen, 
15 anos, fez algumas observações sobre a desorganização das aulas 
por parte de alguns professores e afirma que, em sua opinião, o 
processo de volta às aulas de forma remota está “uma bagunça”. 
Demonstra também sua percepção de que alguns professores não 
estão muito dispostos ao novo meio de trabalho: “eu sei que vocês 
estão tentando de tudo pra dar aula pra gente, pra explicar, só que 
eu acho que alguns professores ainda não tão, assim..., querendo 
fazer isso” (KAREN, 15 anos). E, chamando atenção para o efetivo 
aprendizado, a estudante declara:
eu tava conversando com alguns amigos meus, e a gente fez 
uma conclusão, né, entre aspas, que se fossem passar todo 
mundo de ano, sem ter aprendido nada, a gente vai querer 
5 O estudante faz uma referência ao material disponibilizado semanalmente, desde o 
início da suspensão das aulas, pela Seduc, para os estudantes no site Aprendizagem 
Conectada. 
 33
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
reprovar de ano, quer dizer, a gente não vai querer passar, 
entendeu, porque... querendo ou não, a gente vai perder o 
ano, mas vai valer a pena perder o ano para fazer de novo [...] 
eu acho que esse ano aqui acabou, porque tem muita coisa 
pra gente aprender e eu acho que a gente não vai conseguir 
aprender pela plataforma (KAREN, 15 anos).
Essas são as percepções que mais se destacaram entre os 
estudantes que conseguimos contatar até o momento. O objetivo 
inicial era conversar também com estudantes do ensino fundamental, 
mas, devido às dificuldades do momento, ainda não foi possível. 
Supomos que os relatos surpreenderiam alguns professores e nos 
perguntamos quais seriam os impactos do conhecimento, por parte 
dos profissionais da educação, das percepções dos estudantes aqui 
relatadas.
Considerações finais
Como é possível inferir, este trabalho não tem como objetivo 
encerrar as discussões sobre o assunto abordado ou simplesmente 
entregar respostas, pelo contrário, é o início de uma pesquisa que 
continuará a se desenvolver nos próximos meses. Além disso, busca 
elaborar questões que suscitem provocações e questionamentos 
sobre as práticas daescola, da gestão e também de professores.
A partir da reflexão proposta neste ensaio, foi possível 
perceber que, embora na atualidade muitos pesquisadores tenham 
levantado críticas às imagens construídas de infância e a forma 
como temos olhado as crianças e os jovens, é preciso mover esforços 
para que essas críticas alcancem (e alterem) a realidade de crianças 
e adolescentes. Há mais de vinte anos, no Brasil, pesquisadores 
têm chamado atenção para o fato de que as crianças precisam ser 
ouvidas, mas nos deparamos, no dia a dia, com situações como 
esta da volta às aulas em tempos de pandemia, que negligenciam a 
participação dos jovens.
Com relação ao processo de volta às aulas de forma remota, 
apesar de a maioria dos consultados pensar que não temos muitas 
34 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
opções no momento e que as aulas remotas são necessárias, nenhum 
dos estudantes se mostrou satisfeito com a forma como está 
acontecendo. No geral, eles reclamaram da falta de comunicação 
da escola com eles e também entre os próprios funcionários. 
Foi possível perceber, também, a preocupação em relação ao 
funcionamento ou não desse processo, pois ele não atende a todos 
os estudantes da rede pública, e principalmente, demonstraram 
preocupação quanto à qualidade do ensino que será possível através 
das plataformas digitais.
De forma geral, foi possível perceber que os estudantes têm 
muito a falar e poderiam, inclusive, contribuir para esse processo 
tão desafiante que é a volta às aulas remotas na educação pública. 
Eles têm capacidade e criticidade para avaliar o momento em 
que vivemos. É possível pressupor que escutar mais os estudantes 
possibilitaria que os profissionais da educação tivessem um 
parâmetro direto para avaliar a sua própria atuação e indicaria 
quais os pontos errantes que se repetem e quais ações poderiam ser 
tomadas com o objetivo de beneficiar aqueles que são os principais 
receptores das ações desse projeto de volta às aulas, os estudantes.
Referências
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Que infância é esta? Reunião 
Anual da ANPED, v. 23, p. 94, 2000. Disponível em: 
http://23reuniao.anped.org.br/textos/0712t.PDF. Acesso em: 25 
ago. 2020.
BURMAN, Erica. Desenvolvimento desejado? Contribuições 
psicanalíticas para o antidesenvolvimento psicológico. A peste, 
São Paulo, v. 1, n. 2, p. 269-94, jul./dez., 2009.
LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e 
mascaradas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
QVORTRUP, Jens. Nove teses sobre a “infância como 
fenômeno social”. Pro-Posições, Campinas, v. 22, n. 1 (64), p. 
199-211, jan./abr. 2011.
 35
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
SIROTA, Régine. Emergência de uma sociologia da infância: 
evolução do objeto e do olhar. Cadernos de pesquisa, n. 112, p. 
7-31, 2001.
SOARES, Natália Fernandes. Os direitos das crianças nas 
encruzilhadas da proteção e da participação. Zero-a-Seis, v. 7, 
n. 12, p. 8-18, 2005.
Capítulo 3
RÁDIO NO ÂMBITO ESCOLAR: UM 
ESTUDO SOBRE A AÇÃO DE EXTENSÃO 
DENOMINADA E-CAST 
André Crepaldi1
Introdução
Num cenário marcado pelas profundas mudanças tecnológicas e a presença cada vez mais intensa da 
internet, o rádio tem sobrevivido com êxito a todos os cenários. 
Mostrou sua superação com a chegada da televisão nos anos 
cinquenta e nos anos noventa mais uma vez mostrou que continua 
firme e forte enquanto meio de comunicação de massa. Se o 
rádio vai morrer com a chegada da internet, certamente isso não 
vai ocorrer, pelo menos por enquanto, pois o que morre são as 
tradicionais formas de difusão, recepção e interação.
Não há mais dúvidas de que os meios de comunicação 
podem ser muito bem usados pela escola enquanto ferramentas 
potencializadoras do ensino e aprendizagem. As mídias passaram 
a ser muito mais aproveitadas no âmbito escolar após o cenário da 
pandemia da Covid-19 no ano de 2020. Muitas das ações adotadas 
demonstraram a importância das tecnologias digitais, sobretudo 
a internet e a televisão, para potencializar o ensino e estimular a 
aprendizagem. Apesar de inúmeras iniciativas envolvendo o rádio 
1 Mestrando pelo programa de pós-graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-
Americanos, pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA. 
Especialista em Educação Profissional e Tecnológica pela Faculdade São Braz – 
FSB; especialista em Mídias na Educação e Educação e Formação Empreendedora, 
ambas pela Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO. Graduado em 
Comunicação Social: Publicidade e Propaganda. E-mail: crepaldi_fm@hotmail.com
38 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
na educação, frequentemente seu potencial tem sido ignorado.
Com as mudanças dos meios de comunicação nos últimos 
tempos provocadas pelo fenômeno da convergência, o rádio não 
passou despercebido e englobou novas linguagens a partir de sua 
presença na internet. No século XXI a escuta radiofônica não está 
mais centrada no aparelho receptor tradicional, no qual capta a 
emissora hertziana por meio de uma frequência no dial, o rádio 
não é mais o mesmo, é multiplataforma, e transbordou para outros 
meios de comunicação.
Pensando nas mudanças do rádio nos últimos anos em 
decorrência do crescimento da rede mundial de computadores, 
nas possibilidades que oferece à educação enquanto ferramenta de 
ensino e aprendizagem, na necessidade de contemplá-lo no âmbito 
escolar e a emergência do podcast, surgiu o projeto de extensão 
intitulado E-cast. O referido nome deu-se com a junção da letra “E” 
de eletrônico com o “cast”, final da palavra podcast. Inicialmente, 
a ação de extensão consistia em formar profissionais para atuar 
em emissoras de rádio local, porem a ideia foi amadurecendo até 
ajustar o objetivo central.
A parceria entre UNILA e Colégio Eleodoro Ébano Pereira-
EFMP, surgiu após identificar a necessidade de inserir estudantes 
da educação profissional, ensino médio e fundamental para 
compreender os benefícios do rádio à sociedade enquanto meio de 
comunicação de massa e principalmente as vantagens que o podcast 
pode oferecer. Levou-se em consideração, também, a estrutura da 
instituição de ensino, por oferecer cursos da educação profissional 
no eixo de Produção Cultural e Design, possuí estúdios de gravação 
e captação de áudio.
A ação de extensão está presente no Facebook e Instagram, 
além das plataformas usadas para distribuir os episódios produzidos. 
Apesar de todas as medidas de segurança preestabelecidas pelo 
governo estadual para combater a Covid-19, o ensino remoto 
mostrou ser eficiente quando apropriado por excelentes ferramentas.
Após o início das atividades, o projeto obteve engajamento 
 39
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
dos integrantes, apesar dos encontros previstos para serem realizados 
presencial serem substituídos pelo online após as primeiras medidas 
anunciadas pelo governo do estado para combater o agravamento 
da pandemia. Nesse contexto, foram muitos obstáculos enfrentados 
para manter as atividades e principalmente estimular os integrantes.
Este capítulo é o resultado da investigação desenvolvida 
sobre o projeto de extensão denominado E-cast, cujo o objetivo 
é evidenciar o potencial do podcast no âmbito escolar enquanto 
ferramenta de ensino e aprendizagem. A investigação foi realizada a 
partir de um Estudo de Caso, desenvolvido com apoio de pesquisa 
bibliográfica e entrevista semiestruturada, realizada entre os meses 
de fevereiro a março de 2021. O objetivo central da ação de extensão 
investigada é desenvolver habilidade dos estudantes para produzir 
podcasts no âmbito escolar. Entre os objetivos específicos da ação 
estão: Desenvolver a leitura, produção textual e pensamento 
crítico; contribuir para a formação humana, ética e cidadã; utilizar o 
rádio escolar como meio educativo; experimentar o rádio na escola, 
numa perspectiva interdisciplinar; oferecer conhecimentos teóricos 
e práticos para a produçãode programas de rádios (podcast), a partir 
de conteúdo de cunho educativo, social e tecnológico.
Para tanto, este capítulo está estruturado em três partes. A 
primeira, Rádio no âmbito escolar, apresenta os fundamentos teóricos 
do rádio e seu uso na educação enquanto ferramenta de ensino e 
aprendizagem. Discute a relevância do rádio na sociedade e enfatiza 
seu uso na educação desde o século passado. A segunda parte, 
E-cast, apresenta o objeto de estudo desta investigação, buscando 
trazer o surgimento, objetivo principal e específicos. Além disso, 
apresenta os resultados previstos com o projeto. A etapa seguinte, 
contribuições da ação de extensão, apresenta uma discussão em torno 
das ações desenvolvidas, assim como os resultados alcançados. A 
última parte se refere as considerações finais.
40 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
Rádio no âmbito escolar
O rádio representa um meio de informação qualificada, suas 
tarefas incluem a produção de informações em fontes primárias 
para que sejam oferecidas à sociedade de forma clara e objetiva. 
Diante da situação atual, com o predomínio das redes sociais, que 
proporcionam a facilidade de fabricar e disseminar fatos e boatos, 
o rádio ganhou ainda mais importância. Seu papel amplia-se, no 
sentido de interpretar e traduzir informações e atribuir sentido e 
precisão na produção de um bem intelectual que dê ao receptor a 
possibilidade de refletir e interpretar. O rádio é a garantia de que a 
informação foi verificada antes de chegar à audiência, num processo 
envolve uma cadeia de profissionais (repórteres, redatores, editores, 
revisores, sonoplasta e locutores).
A comunicação é uma ferramenta para a circulação de 
informação e também uma lente sob a qual se enxerga a realidade, 
é parte essencial da formação do cidadão e influencia na construção 
de parâmetros éticos. Neste contexto, o rádio é um dos meios 
de comunicação mais relevantes para a sociedade, tem papel 
fundamental na superação da exclusão digital e é uma ferramenta 
para a educação em função de sua popularidade, fácil aceitação e 
mobilidade. Ainda, é um canal dá voz a múltiplos atores sociais, 
ampliando a diversidade e polifonia. Segundo Kischinhevsky 
(2016, p. 103), é um “meio em que ouvimos os sons da cidade, 
do país e do mundo e no qual temos que lutar para nos fazermos 
ouvir”.
As tecnologias digitais integram gradativamente os espaços 
educacionais, evidenciando a necessidade de formar professores 
para desenvolver uma educação para com as mídias, contribuindo 
para a formação de uma geração mais ativa e crítica, e promover 
a democratização da comunicação, diminuindo as desigualdades 
sociais, intelectuais e comunicacionais.
Desde o surgimento do rádio no Brasil no ano de 1923, 
o meio de comunicação causou um forte impacto social devido 
às suas características e potencial de penetração, tornando-se um 
 41
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
espaço coerente para despertar a consciência crítica e estimular a 
cidadania, especialmente no ambiente educativo.
[...] a rádio no espaço escolar, como ferramenta de ensino 
poderá contribuir com o exercício da cidadania e com a 
educação escolarizada de forma mais criativa e motivadora, 
fazendo com que os alunos interajam com a comunidade e 
situações próximas de seu cotidiano (ASSUMPÇÃO, 1999, 
p. 51).
O uso de tecnologias da informação e comunicação não se 
resume a habilidades técnicas, ela depende de mudança de atitude 
e postura mais ativa, autônoma, consciente e dinâmica. É preciso 
preparar as pessoas para tirar proveito das tecnologias e produzir 
conteúdo e informações que sejam relevantes para suas vidas, como 
cidadãos e não somente como consumidores passivos.
Inserir o rádio no processo de ensino e aprendizagem 
permite potencializar a formação humana, ética e cidadã, dentro 
do princípio de que “a abertura de novos meios de expressão para 
a criança e o jovem pode, por si só, trazer mudanças na realidade 
escolar (AMARANTE, 2012. p. 95). Para essa mesma autora, 
[...] o jovem que se aproxima do rádio pode dar voz aos seus 
anseios, seus sentimentos e suas expectativas em relação à vida 
política e social, organizando-se coletivamente para construir 
um novo diálogo e reinventando novas formas de participação 
(AMARANTE, 2012, p. 97).
No ano de 2022 o rádio completa cem anos de sua primeira 
transmissão realizada no Rio de Janeiro em comemoração ao 
centenário de independência do Brasil, marco importante na 
história do rádio. Em 1923, é fundado a primeira emissora oficial, 
a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por Edgar Roquette Pinto 
(TAVARES, 1997). Para este autor, as primeiras emissoras instaladas 
se caracterizavam por eruditas, restritas a classe social mais elevada 
(TAVARES, 1997).
Desde a fundação da primeira estação, o rádio foi idealizado 
enquanto meio educativo, defendido pelo professor Roquete Pinto, 
embora alguns anos mais tarde é autorizado a publicidade com a 
42 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
publicação do decreto n° 21.111 em 1932 no então governo de 
Getúlio Vargas, perdendo a essência do formato educativo e 
substituído pela programação comercial em referência ao estilo 
norte americana. A opção por este formato de programação deu-se 
em um momento muito delicado, visto que o país apresentava altos 
índices de analfabetismo.
Na década de quarenta o rádio se consolida enquanto meio 
de comunicação de massa, conquistando a preferência do público 
por meio de programas de auditórios e rádios novelas. No final 
desta década, a invenção do transistor deu fôlego ao meio num 
momento de incertezas e ameaças após a chegada da televisão 
nos anos cinquenta. O rádio transistorizado, permitiu ao ouvinte 
sintonizar sua estação preferida em qualquer local, quarto, sala, 
cozinha e ambientes externos, sem necessidade de conexão de fios 
e tomadas (PRADO, 2012).
Com o surgimento da televisão nos anos cinquenta, 
locutores, artistas e anunciantes migraram para a nova mídia 
em ascensão. O rádio perdeu boa parte de seu faturamento em 
publicidade e naquele momento sua sobrevivência parecia 
inevitável. Contudo, os anos sessenta é marcado pelo surgimento 
da frequência modulada (FM), cuja qualidade de sinal é superior 
as emissões em ondas curtas (OC), ondas médias (OM) e ondas 
tropicais (OT).
Ao final dos anos 90 e início do século XXI, o rádio revive o 
fantasma de incertezas e questionamentos quanto a sua sobrevivência 
frente a expansão da internet. No entanto, ao contrário do que 
muito se cogitou, a grande rede mundial de computadores não 
se constituiu enquanto concorrente, muito pelo contrário, houve 
uma revitalização do rádio a partir das oportunidades presentes na 
nova mídia.
[...] o rádio, que vem atravessando os tempos, modificando-se 
tecnologicamente, mas não perdendo o princípio da oralidade. 
Ainda é através das ondas eletromagnéticas distribuídas pelos 
aparelhos de rádio espalhados pelo país que muitas pessoas, 
dentre as quais os milhões de analfabetos brasileiros, ficam 
 43
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
sabendo sobre os acontecimentos diários de suas comunidades 
e dos espaços mais distantes, obtêm informações de toda a 
natureza que terminam sendo, em muitos casos, o único meio 
de Educação disponível (PRETTO, BONILLA e SARDEIRO, 
2010, p. 62).
O rádio sobreviveu ao surgimento da televisão e tem 
se adaptado fortemente à internet, construindo estratégias de 
mercado, produção de conteúdo e ferramentas interativas. O rádio 
expandido oferece mais conteúdo, seja por foto, vídeo, texto e 
podcast, aumentando o engajamento e interatividade. O ouvinte 
de hoje é multiplataforma, conectado por diversos aparelhos 
tecnológicos.
Prata (2008), conceituou as transformações do rádio 
nos últimos anos como radiomorfose, a partir do conceito de 
midiamorfose (FIDLER, 1997). Para esta autora, o rádio vive um 
processo de transformações e adaptações, que ocorrem com a criaçãoda internet. O rádio tem se adaptado ao cenário de convergência, 
criando oportunidades, formatos de programação e modos de 
escuta, possibilitando o aumento da participação e/ou interação de 
ouvintes e sua sobrevivência. Pela internet, as emissoras veiculam 
programação simultânea as das ondas hertzianas. Pelos aplicativos, 
Facebook e site, ouvintes podem ter acesso a programação a qualquer 
local do planeta, rompendo distâncias e espaços geográficos, sem 
necessidade de estar na área de abrangência da emissora.
Durante muito tempo as estações eram sintonizadas 
exclusivamente pelo dial. Com a internet o ouvinte se depara com 
novas possibilidades de escuta e interação. O rádio não é mais o 
mesmo do século passado, ampliou-se as possibilidades de difusão 
e recepção. Em tempos de convergência das mídias, a presença na 
internet permite a transmissão via streaming, além de múltiplas 
linguagens, como textos, imagem, vídeos e hipertexto.
A internet ampliou as práticas radiofônicas. Para instalar 
uma estação de rádio no Brasil é necessário adquirir uma 
concessão perante ao ministério das comunicações, processo lento 
e burocrático que pode levar mais de 10 anos. Por outro lado, a 
44 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
internet permite criar uma emissora (webradio) com mais rapidez, 
apesar da transmissão apenas online. Não há no país uma legislação 
que trate do serviço até o presente momento, fato que contribuí 
para criação de diversas iniciativas. 
O rádio supera, potencialmente, suas limitações ao se utilizar 
da internet e, com isso, pode passar a oferecer recursos de 
interatividade e, até, agregar imagens, fazendo com que 
diminua de forma considerável a distância entre o próprio 
rádio e os demais suportes, com o uso de imagens, fixas ou 
em movimento, textos e com a possibilidade de produção 
colaborativa (PRETTO, BONILLA e SARDEIRO, 2010, p. 
68).
Neste mesmo contexto, entre as possibilidades oriundas da 
internet estão a webradio, rádio sob demanda, rádio de marca e 
podcast. Para Prata, (2008a, p. 74), “podcast (ou podcasting) é um 
neologismo criado pela união das palavras pod (do tocador de MP3 
da Apple, iPod) com casting, sinônimo de transmissão, em inglês”.
[...] o podcasting, surgido em 2004, é uma radiodifusão sob 
demanda, de caráter assincrônico. Com ele, pode-se assinar 
determinada “estação”, numa página da internet, e a partir daí 
um programa agregador busca automaticamente, sempre que 
o computador estiver conectado, toda transmissão veiculada 
naquele endereço (KISCHINHEVSKY, 2009, p. 230).
São diversos os fatores que justificam o uso do rádio como 
ferramenta educativa. Do ponto de vista do desenvolvimento de 
novas tecnologias e ao fenômeno da convergência das mídias, a 
escola deixou de ser a detentora do conhecimento. A resposta para 
este cenário é a inclusão planejada das ferramentas tecnológicos 
em prol da educação, embora há instituições que insistem em 
acreditar na centralidade do conhecimento e persistem em medidas 
autoritárias de ensino, vetando a criatividade do aluno. Assim, ações 
podem ser adotadas para potencializar o ensino e aprendizagem 
com a inclusão no rádio.
A rádio como ferramenta interdisciplinar de ensino permite o 
acesso ao saber elaborado, promove a construção da produção 
escrita, facilita e aprimora competências e habilidades da 
comunicação oral e da comunicação escrita. Mas para que isso 
 45
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
ocorra, é imprescindível que os alunos participem do processo 
radiofônico como emissores e receptores, simultaneamente 
(ASSUMPÇÃO, 1999, p. 76).
O tempo de acesso diário do usuário à internet no Brasil 
ultrapassa muitas vezes o tempo de presença na escola. O usuário 
adquire informação e conhecimento muitas vezes navegando 
e interagindo pelo ciberespaço. São movidos pelas ferramentas 
interativas da internet, estimulados pelas leituras de interesse, 
participam de comunidades virtuais, navegam pelos blogs e websites, 
criam perfis nas inúmeras redes sociais e até mesmo produzem 
conteúdo.
Quando a criança chega à escola, já traz bagagem cultural, 
não sendo, como muitos educadores pensam, uma máquina 
em branco que será preenchida pela escola. A criança interage 
com outras pessoas e recebe diversas informações e realidades 
promovidas por essas tecnologias (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 
20).
O rádio permite o enriquecimento do processo de ensino 
e aprendizagem, colaborando para a formação desenvolvimento 
da comunidade. Aprender com o rádio pode tornar-se mais 
interessante do que os tradicionais métodos de ensino. É preciso 
pensar “[...] numa Educação que ensine o ser humano a pensar 
crítica e politicamente o mundo à sua volta, a pensar as relações 
que nele se constituem de forma articulada, e não pensar o mundo 
de forma compartimentada, destituída do todo” (PRETTO, 
BONILLA e SARDEIRO, 2010, p. 73).
É imprescindível práticas que inclua o rádio na escola, 
contribuindo para a construção da autonomia e ao mesmo tempo 
o “[...] exercício da cidadania e com a educação escolarizada de 
forma mais criativa e motivadora, fazendo com que os alunos 
interajam com a comunidade e situações próximas de seu cotidiano 
(ASSUMPÇÃO, 1999, p. 51).
É necessário oferecer uma educação em que professor e 
aluno construam conhecimento pela interação, considerando as 
relações horizontais e resposta ao modelo tecnicista de transmissão 
46 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
de conteúdo. O desenvolvimento da capacidade de escutar é um 
caminho para potencializar as ações reflexivas: o ouvinte melhora 
a atenção, uma habilidade essencial que contribui para a leitura e 
escrita.
E-cast
A projeto de extensão foi criado pela Universidade Federal 
da Integração Latino-Americana – UNILA de Foz do Iguaçu-PR 
no ano de 2020, sob coordenação da professora Dra. Maria Inês 
Amarante e monitoria do mestrando André Crepaldi. O projeto 
intitulado Rádio no espaço escolar: Produção de programas e 
conteúdo educativo (podcast), passou a ser chamado E-cast (nome 
fantasia). O referido nome deu-se com a junção da letra “E” de 
eletrônico com o “cast”, final da palavra podcast. O projeto foi 
idealizado para atender estudantes da educação profissional, ensino 
médio e fundamental do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira-
EFMP de Cascavel-PR e teve início no mês de abril do mesmo ano.
O objetivo central desta ação de extensão é desenvolver 
habilidade dos estudantes para produzir podcasts no âmbito 
escolar. Entre os objetivos específicos estão: Desenvolver a 
leitura, produção textual e pensamento crítico; contribuir para a 
formação humana, ética e cidadã; utilizar o rádio escolar como 
meio educativo; experimentar o rádio na escola, numa perspectiva 
interdisciplinar; oferecer conhecimentos teóricos e práticos para a 
produção de programas de rádios (podcast), a partir de conteúdo de 
cunho educativo, social e tecnológico.
Entre as ações esperadas com o projeto de extensão, 
estão o desenvolvimento de habilidades técnicas e humanas dos 
estudantes para a produção de programas radiofônicos e podcast no 
âmbito escolar. A expectativa é contribuir para elevar o bem-estar 
intelectual, cultural, ambiental e social dos estudantes do ensino 
técnico, médio e fundamental do Colégio Estadual Eleodoro 
Ébano Pereira - EFMP de Cascavel-PR, bem como prestar serviços 
de esclarecimento e conhecimento sobre o funcionamento de uma 
 47
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
rádio para a comunidade escolar. Com isto, espera-se desenvolver 
habilidades técnicas e consciência crítica dos estudantes, capazes de 
elaborar um olhar analítico e questionador os rumos de suas vidas 
e da sociedade. Por fim, o desenvolvimento humano, colaborar 
para a formação técnica e profissional frente a uma nova profissão, 
contribuindo para a construção da cidadania.
Entre as atividades previstas, pretende-se estudar os 
aspectos históricos do rádio hertziano,buscando compreender as 
transformações tecnológicas até o cenário atual de convergência 
das mídias; desenvolver nos alunos o hábito de leitura, de 
assuntos relacionados a comunicação e temas que serão abordados 
nos programas e/ou podcast; estimular a produção de texto, 
orientando, com a contribuição de um professor de Português, 
o desenvolvimento, coesão e coerência; estimular a leitura e 
pensamento crítico com base nos conteúdos radiofônicos veiculados 
pelas emissoras local; trabalhar conteúdo referente a caracterização 
de uma emissora de rádio; compreender o funcionamento de 
emissora, bem como realizar visita técnica em instituições de ensino 
superior que ofereçam cursos de graduação em Comunicação 
Social; estudar programação de rádio de emissora local, regional e 
nacional e refletir sobre o funcionamento de uma rádio e seu papel 
na sociedade.
Pretende-se, também, produzir conteúdo educativo 
e veicular nas plataformas online e no ambiente da escola, 
no intervalo e momentos específicos; integrar professores e 
participantes em atividades interdisciplinas; produzir conteúdo 
com base em assuntos na mídia local, regional e nacional; identificar 
possibilidades de uso do rádio numa perspectiva interdisciplinar; 
envolver professores das disciplinas da BNCC; oferecer a 
oportunidade aos professores interessados em se apropriar do rádio 
como ferramenta de ensino e aprendizagem. Para estes objetivos, 
preveem atividades teóricas e práticas. Deverá trabalhar conteúdo 
referente a caracterização de uma emissora de rádio; conhecer e 
operacionalizar equipamentos, como mesa de som, microfones 
dinâmicos e condensadores, amplificadores e cabos (XLR, p10, 
48 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
p2, etc.); estudar e praticar softwares de automação e gravação de 
áudio, como Zara Rádio, Rádio Boss, Audacity e Adobe Audition. 
Por fim, produção de programas de rádio e podcast, com veiculação 
em plataformas virtuais (SoundCloud). Esta etapa prevê a edição de 
áudio, utilizando os softwares Adobe Audition e/ou Audacity. Após a 
conclusão da edição, será veiculado o conteúdo/material de maior 
impacto e relevância social nas redes sociais da escola e apresentação 
ao público interno da instituição de ensino ao término do projeto. 
Para isso, os últimos dias serão destinados a edição e finalização.
A ação prevê 20 vagas aos estudantes do ensino da educação 
profissional, ensino médio e fundamental. Boa parte das vagas foram 
preenchidas pelos estudantes da educação profissional, devido 
ao maior interesse destes estudantes. No decorrer das atividades, 
alguns integrantes deixaram a ação e procurou-se substituí-los por 
novos.
Contribuições da ação de extensão
Com cenário da pandemia, o Colégio Eleodoro ficou 
fechado alguns meses, apenas em trabalho remoto e/ou com 
agendamento. Devido ao decreto estadual, não foi possível usar 
o estúdio como previsto devido ao tamanho do espaço. Apesar 
das restrições previstas para combater a pandemia, optou-se por 
avançar a etapa de abordagem sobre os assuntos teóricos, gravação, 
finalização do material produzido e, por fim, na medida do possível, 
visitas técnicas.
Apesar das dificuldades apontadas, foram realizados 
encontros online aos sábados, das 14:00 às 17 horas, muitas vezes 
até ultrapassando esse horário. Nos encontros foram abordados 
assuntos voltados ao rádio, como: tipos de emissoras, programação 
radiofônica, softwares de automação e gravação, rádio comunitária, 
rádio digital, migração AM-FM, rádio e internet e, principalmente, 
o podcast em tempos de comunicação digital.
A ação teve como público estudantes da educação 
 49
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
profissional, ensino médio e fundamental. Para tanto, foram 
produzidos vinhetas, trilhas, programas. Além disso, foram 
realizadas visitas técnicas em estúdios de rádio, como na Jovem 
Pan Cascavel 101,5 MHz., Colmeia FM 105,9 MHz., e CBN 
Cascavel 93,9 MHz. Houve também a participação de integrantes 
em programas de emissoras de rádio situadas na cidade.
Foi criado uma página no Facebook para divulgação do 
projeto e de conteúdos relacionados ao rádio – denominada E-cast2, 
retroalimentada sistematicamente pela coordenadora da ação, 
bem como pelo monitor. As produções foram armazenadas no 
computador do monitor da ação e copiadas na nuvem, para então, 
serem veiculadas nas plataformas:
- Anchor: https://anchor.fm/e-cast
- Spotify: https://open.spotify.com/
show/2tSu5RxCeTZuYsOAY8R2Gn
- Radiopublic: https://radiopublic.com/ecast-WdVgpL
- Google Podcasts: https://podcasts.google.com/feed/
hbmNob3IuZm0vcy8yMjlmNmU0OC9wb2RjYXN0L3Jzcw==
- Breaker: https://www.breaker.audio/e-cast
No que se refere as produções realizadas, a extensão 
proporcionou episódios de podcasts voltados a educação especial de 
surdos e cegos, assim como história do rádio, previdência social, 
tecnologias educacionais, cinema brasileiro, entre outros. Além dos 
episódios de podcasts, a extensão também produziu trilhas, no qual, 
3 foram selecionadas, além da definição e produção de 3 slogans, 
seguindo o padrão da identidade do E-cast. Todas as produções 
foram salvas no Google Drive e compartilhado com os integrantes.
Durante a ação, houve a colaboração de três professores da 
instituição parceira. Um dos envolvimentos deu-se na produção 
de um podcast sobre educação inclusiva, com foco na educação 
de surdos, deficientes auditivos e baixa visão. Foram entrevistados 
2 Disponível em: https://www.facebook.com/e.cast.radio.e.podcast. Acesso em: 19 abr. 
2021.
50 
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
neste podcast, professores, intérpretes de libras e estudantes.
Os resultados da referida ação de extensão mostram a 
contribuição para o engajamento dos estudantes nas diversas 
atividades realizadas, tais como produção de episódios de podcasts 
envolvendo temas como educação, cultura e política. A ação 
evidenciou também a contribuição das produções de podcast para 
o desenvolvimento da comunicação, leitura, criticidade, trabalho 
coletivo e perspectiva para uma nova profissão. É oportuno 
considerar que o podcast pode ser uma excelente ferramenta de 
cunho educacional desde que apropriado de modo planejado e 
correto.
A atividade de fechamento das ações do ano 2020 ocorreu 
em janeiro de 2021 com a realização de uma visita técnica nos 
estúdios da rádio Colmeia FM 105,9, MHz. E CBN Cascavel 
93,9 MHz., ambas situadas no Centro Universitário de Cascavel 
– UNIVEL.
Cabe esclarecer que a ação contou no início com vinte 
estudantes, porém ao longo das atividades alguns estudantes 
optaram por desistir do projeto, principalmente após as medidas 
tomadas pelo governo para conter a pandemia da Covid-19. Os 
participantes alegaram que as atividades práticas previstas em 
estúdio eram essenciais para o bom desenvolvimento das produções, 
e tinham interesse maior por estas atividades. 
Considerações finais
Este trabalho é o resultado da investigação desenvolvida 
sobre o projeto de extensão denominado E-cast, cujo o objetivo 
foi evidenciar o potencial do podcast no âmbito escolar enquanto 
ferramenta de ensino e aprendizagem. Pretendeu-se neste capítulo, 
apresentar as contribuições da ação da referida ação de extensão, 
demonstrando o potencial do podcast e envolvimento dos membros 
da ação de extensão nas produções de episódios. A investigação 
apresentada é o resultado de um Estudo de Caso, desenvolvido 
 51
Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos
com apoio de pesquisa bibliográfica e entrevista semiestruturada, 
realizada entre os meses de fevereiro a março de 2021. 
A ação de extensão intitulada E-cast foi desenvolvida no 
ano de 2020 pela UNILA em parceria com o Colégio Estadual 
Eleodoro Ébano Pereira-EFMP de Cascavel-PR, sob coordenação 
da professora Dra. Maria Inês Amarante e monitoria do mestrando 
André Crepaldi. O objetivo central da ação de extensão foi 
promover o rádio no âmbito escolar, por meio de

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