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ESCOLA, CULTURA E CIDADANIA TRANSFORMAÇÕES E CONTEXTOS Jenerton Arlan Schütz Marco Antônio Franco do Amaral Sangelita Miranda Franco Mariano (Organizadores) EDITORA Jenerton Arlan Schütz Marco Antônio Franco do Amaral Sangelita Miranda Franco Mariano (Organizadores) Editora Metrics Santo Ângelo – Brasil 2021 ESCOLA, CULTURA E CIDADANIA TRANSFORMAÇÕES E CONTEXTOS CATALOGAÇÃO NA FONTE Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720 2021 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora Metrics Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Metrics Rua Antunes Ribas, 2045, Centro, Santo Ângelo, CEP 98801-630 E-mail: editora.metrics@gmail.com https://editorametrics.com.br Copyright © Editora Metrics Imagens da capa: Freepik Revisão: Os autores E74 Escola, cultura e cidadania [recurso eletrônico] : transformações e contextos / organizadores: Jenerton Arlan Schütz, Marco Antônio Franco do Amaral, Sangelita Miranda Franco Mariano. - Santo Ângelo : Metrics, 2021. 279 p. ISBN 978-65-89700-20-3 DOI 10.46550/978-65-89700-20-3 1. Educação. 2. Formação de professores. 3. Ensino- aprendizagem. I. Schütz, Jenerton Arlan (org.). II. Amaral, Marco Antônio Franco do (org.). III. Mariano, Sangelita Miranda Franco (org.). CDU: 37 Conselho Editorial Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Drª. Célia Zeri de Oliveira UFPA, Belém, PA, Brasil Dr. Charley Teixeira Chaves PUC Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil Dr. Douglas Verbicaro Soares UFRR, Boa Vista, RR, Brasil Dr. Eder John Scheid UZH, Zurique, Suíça Drª. Egeslaine de Nez UFMT, Araguaia, MT, Brasil Dr. Fernando de Oliveira Leão IFBA, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina Drª. Helena Maria Ferreira UFLA, Lavras, MG, Brasil Dr. Henrique A. Rodrigues de Paula Lana UNA, Belo Horizonte, MG, Brasil Dr. Jenerton Arlan Schütz UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil Dr. Jorge Luis Ordelin Font CIESS, Cidade do México, México Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil Dr. Manuel Becerra Ramirez UNAM, Cidade do México, México Dr. Marcio Doro USJT, São Paulo, SP, Brasil Dr. Marcio Flávio Ruaro IFPR, Palmas, PR, Brasil Dr. Marco Antônio Franco do Amaral IFTM, Ituiutaba, MG, Brasil Drª. Marta Carolina Gimenez Pereira UFBA, Salvador, BA, Brasil Drª. Mércia Cardoso de Souza ESEMEC, Fortaleza, CE, Brasil Dr. Milton César Gerhardt URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Dr. Muriel Figueredo Franco UZH, Zurique, Suíça Dr. Ramon de Freitas Santos IFTO, Araguaína, TO, Brasil Dr. Rafael J. Pérez Miranda UAM, Cidade do México, México Dr. Regilson Maciel Borges UFLA, Lavras, MG, Brasil Dr. Ricardo Luis dos Santos IFRS, Vacaria, RS, Brasil Dr. Rivetla Edipo Araujo Cruz UFPA, Belém, PA, Brasil Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil Drª. Vanessa Rocha Ferreira CESUPA, Belém, PA, Brasil Drª. Waldimeiry Corrêa da Silva ULOYOLA, Sevilha, Espanha Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc. SUMÁRIO PREFÁCIO ........................................................................................13 Sangelita Miranda Franco Mariano Capítulo 1 - UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E DOCÊNCIA DO FUTURO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL E COLABORATIVA DE PROPOSTAS INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................................................................15 Ana Paula de Melo Correa Capítulo 2 - PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES NA VOLTA ÀS AULAS DURANTE A PANDEMIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA E JUVENTUDE ..........................25 Silvia Matos de Sousa Rander de Souza Ferreira André Luiz Gusmão Capítulo 3 - RÁDIO NO ÂMBITO ESCOLAR: UM ESTUDO SOBRE A AÇÃO DE EXTENSÃO DENOMINADA E-CAST .......37 André Crepaldi Capítulo 4 - ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS QUASE- LÓGICAS NA PRODUÇÃO DE REDAÇÕES PRÉ-ENEM PARA A DISTINÇÃO ENTRE FATO E OPINIÃO RELATIVA AO FATO ..55 Geany dos Santos Sousa Antonio Lailton Moraes Duarte Capítulo 5 - REFLEXÕES SOBRE LIBERDADE: UM DIÁLOGO POSSÍVEL NAS TEMÁTICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL ............................................................................................77 Rafael Machado Santana Tainara Ferreira Mousinho Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Capítulo 6 - EVENTOS CRÍTICOS, PESQUISA NARRATIVA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE: VIVÊNCIAS METODOLÓGICAS ........................................................................87 Fernando Silvério de Lima Cristina Aparecida de Jesus Capítulo 7 - O PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA E O CONTEXTO DAS AULAS REMOTAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIAS ................................101 Géssica Alves de Sousa Sangelita Miranda Franco Mariano Ciro Gomes Machado Neto Capítulo 8 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PRECONCEITO: LIMITES E POSSIBILIDADES ......................................................119 Jacqueline Lidiane de Souza Prais Adriana Fratoni Capítulo 9 - EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DE IMMANUEL KANT E ÉMILE DURKHEIM: PRINCÍPIOS, CONCORDÂNCIAS, DISCORDÂNCIAS E CONTRIBUIÇÕES .........................................................................................................139 Beatriz Oliveira Alexandre Marco Antônio Franco do Amaral Capítulo 10 - O IMPACTO DA HERANÇA CULTURAL NA ESCOLHA E DESEMPENHO DAS ALUNAS DE PEDAGOGIA DO IF GOIANO - CAMPUS MORRINHOS ...............................155 Raquel Soares do Nascimento Borges Marcus Vinícius Costa da Conceição Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Capítulo 11 - CURRÍCULO, JUSTIÇA CURRICULAR E A SUA AÇÃO TRANSFORMADORA ......................................................167 Maria de Jesus F C de Albuquerque Domingas Luciene Feitosa Sousa Anderson Monteiro Andrade Andréia Regina Silva Libório Capítulo 12 - A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................................................................185 Izabel Rodrigues da Silva Rafael Soares Silva Capítulo 13 - REFLETINDO SOBRE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO .................................................................................197 Rafael Soares Silva Lucas Daniel Batista Lima Izabel Rodrigues da Silva Capítulo 14 - A MITOLOGIA DOS ORIXÁS COMO LUGAR DE FALA ..............................................................................................209 Joémerson de Oliveira Sales Rosilene Pio Capítulo 15 - AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÕES DE PROFESSORAS DA PRÉ-ESCOLA .................................................................................221 Sarah Marques de Oliveira Sabrina Silva Moura Géssica Alves de Sousa Fernanda Fátima Mendes Mendonça Capítulo 16 - PAULO FREIRE: A LEITURA E O LEITOR ..........243 Adriana Maria Lucena da Silva Simeire da Silva Santos Luciana Raimunda De Lana Costa Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Capítulo 17 - CULTURAS INFANTIS E O PROJETO POLÍTICO- POLICIAL: LIMITES E POSSIBILIDADES NA GESTÃO EDUCACIONAL ...........................................................................261 Bruno Escalante Ferreira Isadora Cabreira da Silva Capítulo 18 - A BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO: AS POTENCIALIDADES (NÃO) EXPLORADAS ..............................................................................271 Lucas da Costa Lage Isadora Cabreira da Silva SOBRE OS ORGANIZADORES ..................................................281 PREFÁCIO Este livro é resultado de reflexões de estudiosos, pesquisadores e docentes que pensam a educação a partir dos olhares que abrangem as diversas áreas de conhecimento. De modo particular, as discussões e análises apresentadas nesta obra se relacionam ao planejamento e materialização de ações educativas no âmbitode instituições escolares, abarcando os diferentes níveis e modalidades escolares. Os textos aqui apresentados foram construídos imersos em um contexto que envolve todas as inquietudes inerentes à pandemia em razão das medidas de prevenção e enfrentamento ao Covid-19, momento este que tem nos deixado numa condição em que é exigido dos profissionais da educação que saiamos da nossa zona de conforto ou de (des)conforto, muitas vezes não assumido e não consciente. Reconhecemos que este processo tem desvelado as nossas fragilidades, (de agora e de sempre) não somente em relação às tecnologias, mas no que tange também aos nossos acertos e desacertos no nosso fazer cotidiano na esfera escolar e em relação à nossa participação no processo educativo em sua totalidade. As instituições educativas se constituem ao mesmo tempo em espaços de produção, de difusão de saberes, de conhecimentos e visões de mundo, na medida em que se configuram como espaço de relações e interações (sociais, políticas, culturais, étnicas, raciais, de gênero e profissionais), em que estes saberes, se estruturam, definem-se, se organizam e se consolidam. Nessa perspectiva, tais instituições são também, por sua natureza e sentido histórico, espaços formativos. Os conhecimentos que nelas se produzem e reproduzem e pelas relações que em seu interior e a partir dela se constroem e reconstrói, a instituição educacional educa e se define não apenas pelo currículo que implementa, mas, sobretudo pelo exercício de práticas e relações, dentro e fora da sala de aula. Portanto, a leitura deste livro nos remete a compreensão 14 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos e reconhecimento de que os sujeitos – educandos, professores e demais profissionais que atuam nos processos educativos – se constituem em indivíduos de conhecimentos, reprodutores e produtores de práticas sociais e educativas. Estes atores, ao mesmo tempo em que expressam e trazem consigo as marcas dos processos formativos vividos dentro e fora do sistema educativo, enquanto sujeitos históricos na dinâmica das relações que vivenciam, também formulam saberes teórico-práticos, constroem percepções das relações e lugares sociais, da educação, bem como do mundo como um todo. Sob esse viés, é preciso ter um olhar para a incompletude do sujeito e das relações que se estabelecem com os objetos de conhecimento. Nesse sentido, convido-os à leitura deste livro, construído a partir da elaboração e reflexão crítica sobre os problemas e respostas quase sempre provisórias às demandas empreendidas pelo campo educacional. Enfim, para além de pensar sobre as ações, a leitura nos remete a problematização e a possibilidade de transformações por meio de intervenções possíveis, tendo em vista as táticas e estratégias, agindo nas brechas do que é pré-estabelecido, num movimento de resistência realizado a contrapelo. Boa leitura! Profa. Dra. Sangelita Miranda Franco Mariano Capítulo 1 UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E DOCÊNCIA DO FUTURO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL E COLABORATIVA DE PROPOSTAS INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Ana Paula de Melo Correa1 Introdução A Constituição Federal em seu artigo 205° determina que a Educação é um direito de todos e é dever do Estado, da Família e deve ser promovida, incentivada com a colaboração da sociedade para formação e desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). Nessa perspectiva Feldmann e Lima D’Água (2009) destacam que a escola tem uma função social, que consiste na formação das gerações futuras e por esse motivo deve assumir o compromisso em tratar temáticas que envolvem questões culturais, sociais, históricas, econômicas, política, especialmente por ser um local de encontro com pessoas de diferentes culturas, o que precisa ser pensada, discutida e tomada como pauta no processo de formação docente, sendo ela inicial ou continuada. Candau (2013) destaca que a escola é um lugar de múltiplas 1 Pedagoga e especialista em Coordenação Pedagógica, Mestranda UNEATLANTICO – email: apaulapedagogia@gmail.com / anamelo_pedagogia@hotmail.com 16 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos culturas e que essa temática é pouco abordada nos cursos de formação de professores, por isso justifica-se a proposta desse trabalho, ao propor um curso de extensão que oportunize um diálogo acerca das questões culturais e da diversidade presente no contexto escolar. Assim, pretende-se identificar a percepção dos professores em um curso de formação docente nível médio acerca do multiculturalismo presente na escola e pensar ações que venham dirimir tais barreiras que podem repercutir em exclusão e preconceito. Na contemporaneidade a questão multicultural aparece com uma visibilidade maior, como o próprio Candau (2013), uma sociedade multicultural desencadeia o surgimento do conceito de multiculturalismo, o qual possui diferentes significados na sociedade atual, segundo Candau (2013, p. 19-20) trata a questão do multiculturalismo sob duas abordagens: “uma descritiva e outra propositiva”, sendo a abordagem descritiva uma configuração da sociedade de hoje, de modo que suas formas têm relação com “contexto histórico, político e sociocultural”. Partindo desse pressuposto, embora o multiculturalismo na educação é um tema recente, considerando a escola como esse lugar de formação humana, colaborativo, de múltiplas relações, Tardif (2014) evidencia a importância de problematizar saberes que permeiam o ofício de ser professor, e portanto, é nesse contexto que se insere os profissionais docente nesse trabalho a ser realizado. Desse modo, a preocupação com os elementos que proporcionem do tema saberes docentes deriva das inquietações das experiências como pedagoga. O propósito da reflexão vem ao encontro à identificar os principais determinantes que levam aos questionamentos quanto os conhecimentos, o saber fazer, as competências e habilidades que os professores mobilizam nas salas de aula e nas escolas profissionais (TARDIF,2014), no intuito de que o resultado possa fornecer elementos proporcionando melhoras na ação discente e docente, assim auxiliando nos processos de garantir efetivamente a aprendizagem, propor uma formação profissional em relação à 17 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos necessidade de convivência intercultural ou multicultural na escola. Considerar a escola como local de múltiplas relações, o que a constitui como espaço educativo, em suma, o “saber ensinar”, do ponto de vista de seus fundamentos na ação, remete a uma pluralidade de saberes. E esta pluralidade se forma, de um certo modo, um “reservatório” onde o professor vai buscar suas certezas, modelos simplificados de realidade, razões, argumentos, motivos, para validar seus próprios julgamentos em função de sua ação, para versar os conhecimentos que fundamentam o saber docente (GAUTHIER, 2006). E nessa reflexão também considerar que os alunos de uma escola estão de passagem, mas os professores permanecem nela e acompanham o seu andamento (ALARCÃO, 2001), é necessário considerar os conhecimentos dos sujeitos históricos que fazem parte dela. Também Tardif ( 2014) ao trazer os questionamentos sobre quais os saberes que os professores precisam mobilizar em sala de aula, no espaço pedagógico, questiona a natureza e origem dos mesmo e como é influenciado a prática educativa, pode considerar pensar sobre o papel da escola e do professor na valorização cultural e diversidade existente na sociedade. Desenvolvimento O multiculturalismo na formação docente permite que o professor perceba a diversidade presente na sociedade, bem como oportuniza reflexões sobre o papel da escola e os enfrentamentos necessários no contexto em que está inserida. Dito isso, vale destacar que é na formação do professor, especialmente quando pensada apartir do cotidiano escolar é que possibilita uma melhor qualidade do seu trabalho e o capacita para pensar em uma educação mais inclusiva. Zabala (1998) destaca que o processo formativo requer pensar em ações que desenvolvam uma consciência educativa, para que o sujeito aprenda a “ser” tolerante, cooperativo, respeitoso, rigorosos à interpretação da realidade não oferecendo grandes dificuldades de serem codificados. 18 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Na sociedade contemporânea, a educação formal não acontece só no espaço físico da sala de aula, as tecnologias digitais possibilitam a integração de todos vários espaços e tempos, como também permite reflexões acerca de uma educação cada vez mais horizontalizada, que se expressa em múltiplas interações grupais e personalizadas. Pensar nessas múltiplas possibilidades que as tecnologias digitais possibilitaram, pode-se apoiar nos saberes docentes subjacentes que são construídos e formados nas relações do processo educativo, dos desafios do ensinar e aprender. Pensar a educação em uma visão multicultural se faz necessário para que o ambiente escolar e as práticas pedagógicas sejam mais inclusivas, promovam a igualdade e valorize a diversidade. Sobre essa questão, Candau destaca que no Brasil a questão multicultural apresenta uma configuração própria, visto que temos uma sociedade formada por inúmeras culturas, especialmente marcada por influencias indígenas e africanas. Pensando nisso, a escola deve ser esse espaço público formativo para o ensino e a aprendizagem aconteçam de maneira sistematizada, agregando valores ao fazer pedagógico (PIMENTA, 1999). Tadif (2012) aponta para os saberes docentes que são construídos no ambiente escolar; aqueles provenientes dos currículos formativos; bem como aqueles advindos da experiência pedagógica pertencentes aos contextos escolares. Os saberes docentes defendidos por Tardif (2012) podem subsidiar discussões no campo da formação de professores, pois destacam ao ofício do professor e as relações com “aquilo que ele é e faz” sendo modelado “no e pelo trabalho”. Tais reflexões subsidiam pensar nos processos educativos mediados pelas tecnologias digitais, nas suas múltiplas articulares, interligações, desdobramentos, em todos os campos, atividades e situações que envolvam o fazer pedagógico do professor. Os estudos de Maurice Tardif mostram que o profissional da educação deve possuir tanto conhecimentos como competências profissionais, sendo desse modo na visão do autor o contexto é 19 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos relevante para orientar a formação docente, tratar dos saberes como forma de possibilitar que os professores adquiram subsídios para melhoria de sua prática pedagógica , pois para o autor o docente não pode ser visto como aquele que somente tem função de colocar em prática o conhecimento que foi produzido por outras pessoas, assim como não pode ser reduzido a um agente de mecanismos sociais, ou seja, os professores buscam além de realizar objetivos, eles atuam também sobre o objeto. Tardif (2014). Pensar no papel e na ação docente requer um perfil reflexivo, pesquisador do professor; capaz de pensar sobre a prática, na prática pedagógica. Alarcão (2001) destaca que esse processo possibilita o compartilhar saberes e difundi-los em um ambiente colaborativo. O professor reflexivo imbuído dos saberes docentes que permeiam a prática pedagógica, aprende, ensina, amplia seus saberes e horizontes. Dessa forma, em uma sociedade multicultural, nas considerações de Feldmann (2009), os professores, enfrentam questões de diferentes naturezas, envolvendo diversos campos, como a questão cultural em suas realidades escolares e as diversidades como forma de manifestação do multiculturalismo na educação, pois a escola é local de diversidade e diferenças, bem como onde vivemos. Portanto, ao se pensar sobre uma cultura pode admitir diferentes significados, há uma relação muito próxima entre educação e diferentes culturas e essas são trazidas pelo “multiculturalismo”, eis os desafios que precisam ser considerados no processo de ensino e de aprendizagem. Considerações finais Essa pesquisa assume caráter qualitativo ao buscar compreender o fenômeno da diversidade cultural no ambiente escolar, de modo a valorizar o multiculturalismo e a formação continuada do professor da Educação Básica. 20 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos A pesquisa iniciará com uma revisão sistemática de literatura, a fim de mapear os estudos que abordam a temática nos últimos anos. Posteriormente, procederá uma revisão bibliográfica baseada em autores que discutem a temática da função social da escola frente as demandas multiculturais (CANDAU, 2013; TARDIF, 2014; FELDIMANN, 2009), assim como os saberes docentes e a formação de professores, Maurice Tardif; Zabala; Gauthier; Izabel Alarcão e outros. Como FELDMANN( 2009) “a tarefa da escola é trabalhar com as relações interpessoais, pedagógicas e institucionais” (FELDMANN, 2009), também a formação dos profissionais do magistério, a valorização dos diferentes grupos que compõem os espaços escolares. O produto educacional consiste na elaboração e implementação de um curso de extensão para formação continuada de professores que atuam em um curso de formação docente em nível médio. Os dados serão coletados durante o curso e analisados de forma qualitativa. No contexto, em uma escola pública do Norte do Paraná, na cidade de São Sebastião da Amoreira, no curso de Formação de Docentes, nível médio, descrição do cenário da escola e da comunidade e algumas características dos professores, dos alunos e do meio em que vivem. De forma geral, dentro do percurso trazem dados relevantes para a formação a que se destina como também a sua aderência à área de concentração do Programa - Ensino, Ciências e Novas Tecnologias. A proposta de um curso de extensão para formação continuada de professores da Educação Básica em uma escola de formação docente em nível médio, será elaborado baseado nas reflexões teóricas acerca da função da escola frente ao multiculturalismo, bem como a formação e autoformação do professor, tendo a escola como um espaço fecundo de múltiplas interações e formação dos saberes docentes. Os saberes só têm ou adquirem sentido na sua relação 21 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos com o trabalho dos professores, TARDIF ( 2014), expõe que os saberes docentes são sociais, contextualizados e individuais e assim ampliando margem para discussão porém enfatizando os cuidados que se deve ter sobre o assunto, já que têm a característica pessoal, está ligada diretamente da história de vida de cada sujeito, sua formação inicial e continuada, trajetória profissional e relacionamentos com os demais no âmbito educacional. As atividades propostas e organizadas do planejamento, da formação com a finalidade de contribuir para uma reflexão autônoma, colaborativa que se aproxime da realidade escolar dos docentes, almeja-se refletir sobre o papel da escola e do professor na valorização cultural e diversidade existente na sociedade, especialmente no ambiente escolar, valorizando os diferentes grupos que compõem os espaços escolares, de modo que contribua para inclusão, enfrentamentos, combate ao preconceito e discriminação. A pesquisa se dará de forma qualitativa, tendo como instrumentos a pesquisa bibliográfica e implementação e análise dos dados coletados durante o curso de extensão. O processo de ensino e aprendizagem não é um processo rápido, ele acompanha a evolução populacional, tecnológica e social cada fase do ensino é um avanço para uma incorporação do conhecimento baseada no esforço e interesse do aluno (PIMENTA,1999). Portanto a ação de formação deverá ser formativa permanente, no contexto inicial e continuada propício o ambiente multicultural vivenciado na escola, a experiênciade atuação do pesquisador como docente e como formador, os estudos realizados teoricamente sobre a temática, no desenvolvimento da aplicação do processo educacional, o curso e as observações como as participações devem ocorrer em momentos diversos da hora- atividade docente, em estudos, leituras e atividade prática. Espera-se que refletir sobre a diversidade cultural e permita uma tomada de consciência, de forma colaborativa, visto que temos uma sociedade formada por inúmeras culturas, que a questão 22 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos apresenta uma configuração própria, sobretudo ao valorizar a escola como espaço de formação e autoformação do professor, pois torna- se uma necessidade em meio a uma sociedade desigual, marcada pela diversidade. Contempla um processo educacional composto por etapas de estudos e ao final elaborar um estudo acerca dos saberes que envolvem o cotidiano escolar e a valorização da diversidade multicultural e propor um curso de extensão para formação continuada de professores que atuam na Educação Básica em um curso de formação docente em nível médio. A formação continuada, repensar a escola frente às diversidades, é um conjunto de atividades, podendo ser realizada de forma individual ou em grupo, e retomando sobre os saberes docentes iremos considerar suas duas vertentes: o saber dos professores em seu trabalho e em sua formação TARDIF ( 2014). A educação deve estar voltada aos valores humanos, em que seja possível a transformação social, atendimento das necessidades de aprendizagem e para que o ensino se efetive são necessárias condições favoráveis pois o que faz uma escola ser mais ou menos inclusiva são as ações promovidas. Em suma, na qual os professores é que têm esse papel, ou seja, os saberes de formação profissional, também chamados por Maurice Tardif de saberes pedagógicos, os saberes das ciências da educação e da ideologia pedagógica, o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (TARDIF, 2014). Sobre o impacto e o potencial de mudanças causadas pela introdução do produto no ambiente social/educacional é válido refletir que a diversidade traz diferentes problematizações para a escola e para os docentes. Os professores identificam a escola como um ambiente multicultural, assim como ressaltam que não sabem como atender a todas essas diferenças, consideram desafiador mas reconhecem que cabe à escola e aos professores tratar dessa realidade tão diversa. Nesse processo “[...] o ato de ensinar e de se formar, embora tenha 23 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos características de individualidade, é sempre um trabalho coletivo” (FELDMANN, 2009). Possuindo assim uma perspectiva de transformação, incentivar os professores já formados a serem reflexivos, com ênfase em suprir possíveis deficiências existentes na formação e nas práticas dos professores, e desta forma, pode-se constatar a complexidade desta metodologia, assim como sua sistematização, possuindo etapas que devem ser seguidas completamente desde suas gêneses, para que assim seja plenamente concluída. Alarcão (2011) descreve que a formação reflexiva tem ajudado os professores a tomarem consciência da sua identidade profissional que, só ela, pode levar à permanente descoberta de formas de desempenho de qualidade superior e ao desenvolvimento da competência profissional na sua dimensão holística, interativa e ecológica, contemplando assim o trabalho colaborativo na formação do professor traz resultados importantes para a escola, principalmente quando essa formação está relacionada às atividades que se realizam no contexto de atuação docente. Nesse momento inovador, os projetos pedagógicos são importantes e precisam ser integrados para dar conta da complexidade de aprender na nossa sociedade cada vez mais dinâmica, a interconexão entre a aprendizagem pessoal e a colaborativa, num movimento contínuo e ritmado, nos ajuda a avançar muito além do que o faríamos sozinhos ou só em grupo e sem dúvidas que o professor se torna cada vez mais um gestor e orientador de caminhos coletivos e individuais, previsíveis e imprevisíveis. Neste contexto, iremos descrever as propostas metodológicas desenvolvidas, é fundamental que o professor se proponha e desafie suas ações para solucionarem problemas, isto considerando- se a aplicação dos conteúdos abordados no curso em questão, a implementação dos recursos tecnológicos disponíveis na instituição, a avaliação das novas tecnologias disponíveis no mercado, associado ainda ao contínuo trabalho em equipe. 24 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Esta metodologia de trabalho pode contribuir com resultados muito satisfatórios, além disso, contribui para o desenvolvimento das habilidades dos alunos, com o protagonismo estudantil e docente, com o contínuo interesse dos alunos no ambiente escolar, o produto educacional desenvolvido vem agregar valor e estímulo ao professor para que continue progredindo. Referências ALARCÃO, Isabel. A escola reflexiva. In: ALARCÃO, Isabel. (org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria (org.) Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. CANDAU, Vera Maria et al. Educação em direitos humanos e formação de professores(as). São Paulo: Cortez, 2013. FELDMANN, Marina Graziela. LIMA D'AGUA, Solange Vera Nunes de. Escola e inclusão social: relato de uma experiência. In: FELDMANN, Marina Graziela. (org.) Formação de professores e escola na contemporaneidade. São Paulo: Ed. Senac, 2009. p. 189-200. GAUTHIER, C.; MARTINEAU, S.; DESBIENS, J. F.; MALO, A.; SIMARD, D. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 2006. PIMENTA, S. G. Formação de professores:identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, S. G. (Org.).Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: 1999. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. ZABALA, A. A Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1998. Capítulo 2 PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES NA VOLTA ÀS AULAS DURANTE A PANDEMIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA E JUVENTUDE Silvia Matos de Sousa1 Rander de Souza Ferreira2 André Luiz Gusmão3 Introdução Muitos estudiosos têm se dedicado, nas últimas décadas, à reflexão e problematização das concepções modernas de infância e juventude, que consideram crianças e adolescentes como sujeitos incompletos, como um sujeito que virá a ser, um ser inacabado, e que geralmente deve ser disciplinado; um ser incapaz de decidir por si mesmo, desprovido de senso crítico que lhe permita tomar decisões; um ser que não tem condições de opinar; um ser que, diante de sua fragilidade em relação ao adulto, deve ocupar uma posição subalterna àqueles. Régine Sirota (2001), neste sentido, afirma que: 1 Mestranda em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Cientista Social com especialização em Ensino de Sociologia. Professora de Sociologia na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso. E-mail: silviamatos93@gmail.com. 2 Mestrando em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Professor de História na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso. E-mail: randersouza2013@ outlook.com. 3 Mestrando em Educação pelo PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT. Analista Instrumental / Perfil: Psicólogo na Secretaria Municipal de Promoção e Assistência Social de Rondonópolis/MT. E-mail: andre.luiz.gusmao@gmail.com. 26 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos A infância é suficientemente frágil para que deva ser educada e suficientemente móvel para poder sê-lo. A criança é, pois, aqui considerada antes de tudo como aquilo que os anglo-saxões denominam um ‘futurebeing’, um ser futuro, em devir: ela [a infância] apresenta ao educador não um ser formado, não uma obra realizada e um produto acabado, mas um devir, um começo de ser, uma pessoa em vias de formação. Não importa que período da infância consideremos, sempre nos encontramos em presença de uma inteligência tão fraca, tão frágil, tão recentemente formada, de constituição tão delicada, com faculdades tão limitadas e exercendo-se por um tal milagre que, quando pensamos nisso tudo, não há como não se temer por essa esplêndida e frágil máquina (SIROTA, 2001, p. 9). A criança é descrita como uma frágil máquina e é importante lembrar que máquinas são controladas e dominadas por outros. Ainda que a maior parte das literaturas mencionadas neste trabalho se refira às primeiras fases da infância, para este estudo, ressaltamos o entendimento de que os adolescentes, enquanto sujeitos menores de idade, tutelados por adultos, sentem também os respingos dessa visão deficitária sobre infância. Por isso, neste artigo, não nos deteremos em distinções minuciosas sobre fases da infância e diferenciação entre as crianças e adolescentes. Por estarem colocados sob essa condição de desvantagem, crianças e adolescentes não costumam ter voz em nossa sociedade. Não participam do desenvolvimento de políticas públicas, geralmente não são chamados para opinar, nem têm a possibilidade de uma participação mais ativa em contextos políticos. Até mesmo a possibilidade de serem ouvidos lhes é dificultada, mesmo em processos que os afetam diretamente. E não tem sido diferente no episódio que vivenciamos no momento. Em meados de março de 2020, as aulas na educação pública do estado de Mato Grosso foram suspensas por período indeterminado devido à pandemia causada pelo SARS-Cov-2, que provoca a Covid-19. Assim, milhares de estabelecimentos e instituições foram impedidos de funcionar normalmente no Brasil e em diversas partes do mundo, e entre essas instituições, a escola. No estado de Mato Grosso, as aulas nas escolas estaduais foram 27 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos suspensas por mais de quatro meses e, no início de agosto, iniciou- se um processo de retorno às aulas, de forma não presencial e com o auxílio de plataformas digitais. Este ensaio começou a ser pensado e escrito neste início de instauração do processo de retorno às aulas. Com ele, busca- se trazer alguns elementos para iniciar reflexão sobre esse processo quase que simultaneamente ao momento dos acontecimentos. Entende-se, portanto, que os estudantes na educação básica, crianças e adolescentes, têm capacidade para avaliar criticamente o processo que estamos vivendo e têm o direito de serem ouvidos, evocando aqui o entendimento de direito no sentido mais amplo, como nos ensina Soares (2005). A primeira etapa deste trabalho se deteve à revisão de literatura sobre percepções de infância e juventude e como esse processo se desenvolveu nos últimos séculos. Posteriormente, buscou-se o contato com estudantes para tentar entender o que eles têm a falar sobre o processo de volta à aulas de forma remota neste momento. Devido à impossibilidade de contato mais pessoal com os estudantes, foi necessário o uso das tecnologias disponíveis. Foi possível perceber alguns discursos recorrentes nas falas dos estudantes, que serão detalhadas no decorrer deste texto. Desenvolvimento Já faz algum tempo que as crianças e os adolescentes se tornaram alvo de pesquisas entre os estudiosos, no entanto, é difícil saber ao certo a data de “criação” da infância, na forma como os conhecemos hoje, mesmo porque essa mudança é processual. A pesquisadora britânica Erica Burman (2009) chama atenção para o fato de que as concepções que temos atualmente sobre infância não são resultados de um processo neutro ou “ao acaso”. Ao contrário, há uma estreita articulação entre os modelos de desenvolvimento humano com o desenvolvimento econômico, de modo que o desenvolvimento da criança está fortemente associado à ideia de progresso. 28 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Entender o significado dessa articulação faz-se importante para entender como vemos a infância. Associa-se a imagem de progresso à passagem da infância para a fase adulta, ou seja, a mudança de uma posição inferior para uma posição superior. Entende-se a infância como sendo o futuro, assim, ela (a infância) não é vista por aquilo que é no momento, mas como aquilo que virá a ser. Larrosa (1999) destaca que diversas mudanças foram observadas no trato dos adultos sobre as crianças a partir da segunda metade do século XVIII, com o advento do Iluminismo. Antes desse movimento, não havia uma grande diferenciação entre adultos e crianças, e estas não recebiam um tratamento diferenciado dos demais. Esse novo olhar sobre a infância desencadeou a necessidade de uma pedagogização integral da criança, processo que a levou a ser totalmente dominada pelos adultos, especialmente com a utilização da literatura como instrumento de adequação, que propiciou um sistema de infância que: a institui, ou melhor, a constitui, literalmente [...] e dita os deveres e as condutas dos adultos para com ela. A infância, como tal, começa a ocupar um campo bem delimitado que impõe, aos delimitados por essa faixa, o que devem ou não fazer e dizer. [...] por seu intermédio e em sua intenção, a sociedade inteira aprende a se disciplinar, pedagogizando-se (LARROSA, 1999, p.18). Criou-se uma imagem do que é infância, com características bem delineadas e delimitadas. Burman (2009) tece crítica para essa criação de apenas um tipo de criança e de uma infância única, destituída de toda e qualquer subjetividade. Essa pedagogização deu início a um processo de tutela sobre as crianças que as colocam numa posição de completa submissão aos adultos e incapacidade. A partir de então, segundo Maria Bujes, a criança passa a ser vista como numa perspectiva que a diferencia do adulto – um ser em falta, imaturo, alguém que depende de decisões alheias – alguém que precisa adquirir o 29 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos conhecimento que foi legitimado por outros mais velhos e inteligentes (BUJES, 2000, p. 97). Estudiosos desenvolveram muitos trabalhos que se empenhavam na categorização e construções acerca do que seria a infância, teses essas que refletiam as concepções de juventude. A criança passou a ser observada como um ser que demanda atenção e cuidados especiais, e, ainda que indiretamente, considerada um ser incapaz. A partir disso, diversos direitos de participação passam a ser negados a elas. Em seus estudos, Natália Fernandes Soares (2005) ressalta a dificuldade material de reconhecimento da criança enquanto um ser fundamentalmente de direitos. Segundo a autora, entendemos as crianças e adolescentes como seres que têm o direito à boa existência, por exemplo, ou mesmo o direito de serem protegidas, mas excluímos alguns direitos fundamentais do indivíduo, como, por exemplo, o direito de participação, o direito de poder opinar, o direito de fazer escolhas. Existe, assim, a necessidade de atenção quanto à vulnerabilidade estrutural das crianças, ou seja, aquela construída social e culturalmente e que está relacionada com a falta de poder político e econômico das crianças e adolescentes. Complementar ao pensamento de Soares (2005), entendemos que alguns aspectos das crianças ainda não estão plenamente desenvolvidos, mas isso não justifica a total anulação de sua possibilidade de participação social. Jens Qvortrup (2011), estudioso no campo dos Estudos Sociais da Infância, argumenta que, historicamente, o foco dos estudos no desenvolvimento infantil dificultou o reconhecimento da infância como um fenômeno construído socialmente. Segundo o autor, as crianças e os jovens são objetos de inúmeros projetos de pesquisa e de políticas que os afetam diretamente, e no entanto, não são ouvidos. Não sãoouvidos porque ainda os consideramos, no sentido biológico e fisiológico, como seres incapazes de decidir por si mesmos, que têm a necessidade de serem tutelados. 30 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Apenas a partir da década de 1980, como afirma Sirota (2001), as ciências sociais passaram a organizar movimentos efetivos que tentam trazer novas concepções de infância e juventude. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito e discussões a serem promovidas. Evocando uma reflexão mais local, a visão cercada de imagens de incapacidades associada a crianças e adolescentes continua a ser reafirmada em boa parte das escolas no Brasil. Estão tão naturalizadas que podem facilmente ser observadas em diversos contextos dentro da escola, quando, por exemplo, os professores não levam em consideração as opiniões dos estudantes, ou mesmo quando os consideram completamente incapazes de opinar ou participar de qualquer parte decisória do processo de ensino e aprendizagem. As crianças e adolescentes não são chamados a opinar e estão condicionados a sofrer decisões exteriores que os afetam diretamente. Não foi diferente nesse processo de volta às aulas em agosto. Em março de 2020, a pandemia que assolou o mundo não deu alternativa aos governos aqui no Brasil a não ser parar, ainda que momentaneamente, diversas instituições, inclusive escolas. Os alunos da educação estadual de Mato Grosso ficaram sem aulas a partir do dia 17 de março e permaneceram assim por alguns meses. Depois de muita discussão entre a assessoria pedagógica, governo e outras instituições competentes, foi anunciado um processo de volta às aulas de forma online (não presencial). Mas os alunos novamente não foram inclusos nesse processo. Percebemos algumas pesquisas, muito importantes, que tentam observar e refletir sobre esse processo de volta às aulas, algumas tratam da saúde dos profissionais, dos impactos desse processo de volta às aulas sobre os professores, mas os trabalhos que se voltam para os estudantes ainda são poucos. É com objetivo de reafirmar a necessidade de chamar os estudantes a uma participação mais ativa que este trabalho se constitui. Nesse sentido, conversando com alguns estudantes sobre o processo de volta às aulas via plataformas online, foi possível 31 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos apreender algumas de suas percepções. Até o momento, foi possível contatar cinco estudantes de ensino médio da rede pública do estado de Mato Grosso, com idades entre 15 e 17 anos. Por questões éticas, foi informado aos estudantes o motivo da pesquisa e eles foram convidados a falar livremente sobre como tem sido o processo de volta às aulas, quais são suas angústias, o que eles têm percebido, quais têm sido suas maiores dificuldades. Nesse primeiro contato, optou-se por não disponibilizar um questionário ou algo semelhante para que os estudantes respondessem. Pretendeu-se, nesse momento, deixar o estudante livre para falar o que mais lhe convém no momento e, posteriormente, providenciar novas entrevistas, utilizando-se de nossas percepções a partir desse primeiro contato, com aquilo que analisarmos mais importante. Os jovens têm muitas opiniões acerca do que está acontecendo, e demonstram sua perfeita capacidade crítica e leitura de mundo a partir de suas falas. Alguns denunciam a forma como as aulas remotas estão sendo estruturadas, de forma vertical, sem diálogo entre os envolvidos. João4, 16 anos, critica o método implantado, entende que, devido ao momento, não deveríamos priorizar a volta às aulas nesse momento, pois considera que não temos condições materiais para isso. Em suas palavras: E as pessoas que não têm acesso à internet? E as pessoas que não têm dinheiro para imprimir as apostilas? [...] eu não tenho uma internet ótima, vamos colocar assim, é uma internet boa, né? Não tenho do que reclamar, mas eu tenho um aparelho celular para entrar nas aulas, eu tenho um computador para entrar nas aulas, eu tenho internet, e o resto, como é que funciona? (JOÃO, 16 anos). Juliana, 15 anos, resumiu o processo de volta às aulas de forma remota com a palavra “aflição”. Ela percebe que muitos alunos e alguns professores estão “perdidos”, pois são muitas mudanças, e demonstra preocupação com a efetividade da aprendizagem. Em suas palavras, “é nítido que não vai ser a mesma coisa e muitos alunos não vão entender absolutamente nada” (JULIANA, 15 anos). 4 Os nomes dos estudantes foram alterados. 32 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos A preocupação com o efetivo aprendizado foi uma preocupação de todos os alunos contatados. Neste sentido, Rogério, 16 anos, que cursa o terceiro ano do ensino médio em 2020, destaca sua chateação quanto à decisão do governo federal de adiar o ENEM para janeiro de 2021, ao invés de para maio de 2021, como os estudantes votaram em consulta pública. A partir disso eu já pensei, gente, estamos em agosto, e em janeiro já tem o ENEM. Ou seja, já perdemos quase um ano inteiro, qual é a probabilidade de nós da escola pública, que ainda não tivemos aula, praticamente, a não ser as semanas que foram deixadas do Aprendizagem5, aí já fiquei assim, bem pra baixo mesmo, com relação à escola, fiquei já bem triste, até hoje, aliás (ROGÉRIO, 16 anos). O estudante relatou uma angústia entre os colegas acerca de, voltando às aulas apenas agora em agosto, se eles ainda teriam chances de aprender algo para ter êxito no ENEM. Outra questão observada por todos os estudantes que conversamos foi sobre a falta de comunicação entre os professores e coordenação, observadas a partir da divergência de informações que eles fornecem. A dificuldade de lidar com a nova plataforma, com o ambiente virtual, também foi uma questão levantada por quase todos. Karen, 15 anos, fez algumas observações sobre a desorganização das aulas por parte de alguns professores e afirma que, em sua opinião, o processo de volta às aulas de forma remota está “uma bagunça”. Demonstra também sua percepção de que alguns professores não estão muito dispostos ao novo meio de trabalho: “eu sei que vocês estão tentando de tudo pra dar aula pra gente, pra explicar, só que eu acho que alguns professores ainda não tão, assim..., querendo fazer isso” (KAREN, 15 anos). E, chamando atenção para o efetivo aprendizado, a estudante declara: eu tava conversando com alguns amigos meus, e a gente fez uma conclusão, né, entre aspas, que se fossem passar todo mundo de ano, sem ter aprendido nada, a gente vai querer 5 O estudante faz uma referência ao material disponibilizado semanalmente, desde o início da suspensão das aulas, pela Seduc, para os estudantes no site Aprendizagem Conectada. 33 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos reprovar de ano, quer dizer, a gente não vai querer passar, entendeu, porque... querendo ou não, a gente vai perder o ano, mas vai valer a pena perder o ano para fazer de novo [...] eu acho que esse ano aqui acabou, porque tem muita coisa pra gente aprender e eu acho que a gente não vai conseguir aprender pela plataforma (KAREN, 15 anos). Essas são as percepções que mais se destacaram entre os estudantes que conseguimos contatar até o momento. O objetivo inicial era conversar também com estudantes do ensino fundamental, mas, devido às dificuldades do momento, ainda não foi possível. Supomos que os relatos surpreenderiam alguns professores e nos perguntamos quais seriam os impactos do conhecimento, por parte dos profissionais da educação, das percepções dos estudantes aqui relatadas. Considerações finais Como é possível inferir, este trabalho não tem como objetivo encerrar as discussões sobre o assunto abordado ou simplesmente entregar respostas, pelo contrário, é o início de uma pesquisa que continuará a se desenvolver nos próximos meses. Além disso, busca elaborar questões que suscitem provocações e questionamentos sobre as práticas daescola, da gestão e também de professores. A partir da reflexão proposta neste ensaio, foi possível perceber que, embora na atualidade muitos pesquisadores tenham levantado críticas às imagens construídas de infância e a forma como temos olhado as crianças e os jovens, é preciso mover esforços para que essas críticas alcancem (e alterem) a realidade de crianças e adolescentes. Há mais de vinte anos, no Brasil, pesquisadores têm chamado atenção para o fato de que as crianças precisam ser ouvidas, mas nos deparamos, no dia a dia, com situações como esta da volta às aulas em tempos de pandemia, que negligenciam a participação dos jovens. Com relação ao processo de volta às aulas de forma remota, apesar de a maioria dos consultados pensar que não temos muitas 34 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos opções no momento e que as aulas remotas são necessárias, nenhum dos estudantes se mostrou satisfeito com a forma como está acontecendo. No geral, eles reclamaram da falta de comunicação da escola com eles e também entre os próprios funcionários. Foi possível perceber, também, a preocupação em relação ao funcionamento ou não desse processo, pois ele não atende a todos os estudantes da rede pública, e principalmente, demonstraram preocupação quanto à qualidade do ensino que será possível através das plataformas digitais. De forma geral, foi possível perceber que os estudantes têm muito a falar e poderiam, inclusive, contribuir para esse processo tão desafiante que é a volta às aulas remotas na educação pública. Eles têm capacidade e criticidade para avaliar o momento em que vivemos. É possível pressupor que escutar mais os estudantes possibilitaria que os profissionais da educação tivessem um parâmetro direto para avaliar a sua própria atuação e indicaria quais os pontos errantes que se repetem e quais ações poderiam ser tomadas com o objetivo de beneficiar aqueles que são os principais receptores das ações desse projeto de volta às aulas, os estudantes. Referências BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Que infância é esta? Reunião Anual da ANPED, v. 23, p. 94, 2000. Disponível em: http://23reuniao.anped.org.br/textos/0712t.PDF. Acesso em: 25 ago. 2020. BURMAN, Erica. Desenvolvimento desejado? Contribuições psicanalíticas para o antidesenvolvimento psicológico. A peste, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 269-94, jul./dez., 2009. LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. QVORTRUP, Jens. Nove teses sobre a “infância como fenômeno social”. Pro-Posições, Campinas, v. 22, n. 1 (64), p. 199-211, jan./abr. 2011. 35 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos SIROTA, Régine. Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar. Cadernos de pesquisa, n. 112, p. 7-31, 2001. SOARES, Natália Fernandes. Os direitos das crianças nas encruzilhadas da proteção e da participação. Zero-a-Seis, v. 7, n. 12, p. 8-18, 2005. Capítulo 3 RÁDIO NO ÂMBITO ESCOLAR: UM ESTUDO SOBRE A AÇÃO DE EXTENSÃO DENOMINADA E-CAST André Crepaldi1 Introdução Num cenário marcado pelas profundas mudanças tecnológicas e a presença cada vez mais intensa da internet, o rádio tem sobrevivido com êxito a todos os cenários. Mostrou sua superação com a chegada da televisão nos anos cinquenta e nos anos noventa mais uma vez mostrou que continua firme e forte enquanto meio de comunicação de massa. Se o rádio vai morrer com a chegada da internet, certamente isso não vai ocorrer, pelo menos por enquanto, pois o que morre são as tradicionais formas de difusão, recepção e interação. Não há mais dúvidas de que os meios de comunicação podem ser muito bem usados pela escola enquanto ferramentas potencializadoras do ensino e aprendizagem. As mídias passaram a ser muito mais aproveitadas no âmbito escolar após o cenário da pandemia da Covid-19 no ano de 2020. Muitas das ações adotadas demonstraram a importância das tecnologias digitais, sobretudo a internet e a televisão, para potencializar o ensino e estimular a aprendizagem. Apesar de inúmeras iniciativas envolvendo o rádio 1 Mestrando pelo programa de pós-graduação Interdisciplinar em Estudos Latino- Americanos, pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA. Especialista em Educação Profissional e Tecnológica pela Faculdade São Braz – FSB; especialista em Mídias na Educação e Educação e Formação Empreendedora, ambas pela Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO. Graduado em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda. E-mail: crepaldi_fm@hotmail.com 38 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos na educação, frequentemente seu potencial tem sido ignorado. Com as mudanças dos meios de comunicação nos últimos tempos provocadas pelo fenômeno da convergência, o rádio não passou despercebido e englobou novas linguagens a partir de sua presença na internet. No século XXI a escuta radiofônica não está mais centrada no aparelho receptor tradicional, no qual capta a emissora hertziana por meio de uma frequência no dial, o rádio não é mais o mesmo, é multiplataforma, e transbordou para outros meios de comunicação. Pensando nas mudanças do rádio nos últimos anos em decorrência do crescimento da rede mundial de computadores, nas possibilidades que oferece à educação enquanto ferramenta de ensino e aprendizagem, na necessidade de contemplá-lo no âmbito escolar e a emergência do podcast, surgiu o projeto de extensão intitulado E-cast. O referido nome deu-se com a junção da letra “E” de eletrônico com o “cast”, final da palavra podcast. Inicialmente, a ação de extensão consistia em formar profissionais para atuar em emissoras de rádio local, porem a ideia foi amadurecendo até ajustar o objetivo central. A parceria entre UNILA e Colégio Eleodoro Ébano Pereira- EFMP, surgiu após identificar a necessidade de inserir estudantes da educação profissional, ensino médio e fundamental para compreender os benefícios do rádio à sociedade enquanto meio de comunicação de massa e principalmente as vantagens que o podcast pode oferecer. Levou-se em consideração, também, a estrutura da instituição de ensino, por oferecer cursos da educação profissional no eixo de Produção Cultural e Design, possuí estúdios de gravação e captação de áudio. A ação de extensão está presente no Facebook e Instagram, além das plataformas usadas para distribuir os episódios produzidos. Apesar de todas as medidas de segurança preestabelecidas pelo governo estadual para combater a Covid-19, o ensino remoto mostrou ser eficiente quando apropriado por excelentes ferramentas. Após o início das atividades, o projeto obteve engajamento 39 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos dos integrantes, apesar dos encontros previstos para serem realizados presencial serem substituídos pelo online após as primeiras medidas anunciadas pelo governo do estado para combater o agravamento da pandemia. Nesse contexto, foram muitos obstáculos enfrentados para manter as atividades e principalmente estimular os integrantes. Este capítulo é o resultado da investigação desenvolvida sobre o projeto de extensão denominado E-cast, cujo o objetivo é evidenciar o potencial do podcast no âmbito escolar enquanto ferramenta de ensino e aprendizagem. A investigação foi realizada a partir de um Estudo de Caso, desenvolvido com apoio de pesquisa bibliográfica e entrevista semiestruturada, realizada entre os meses de fevereiro a março de 2021. O objetivo central da ação de extensão investigada é desenvolver habilidade dos estudantes para produzir podcasts no âmbito escolar. Entre os objetivos específicos da ação estão: Desenvolver a leitura, produção textual e pensamento crítico; contribuir para a formação humana, ética e cidadã; utilizar o rádio escolar como meio educativo; experimentar o rádio na escola, numa perspectiva interdisciplinar; oferecer conhecimentos teóricos e práticos para a produçãode programas de rádios (podcast), a partir de conteúdo de cunho educativo, social e tecnológico. Para tanto, este capítulo está estruturado em três partes. A primeira, Rádio no âmbito escolar, apresenta os fundamentos teóricos do rádio e seu uso na educação enquanto ferramenta de ensino e aprendizagem. Discute a relevância do rádio na sociedade e enfatiza seu uso na educação desde o século passado. A segunda parte, E-cast, apresenta o objeto de estudo desta investigação, buscando trazer o surgimento, objetivo principal e específicos. Além disso, apresenta os resultados previstos com o projeto. A etapa seguinte, contribuições da ação de extensão, apresenta uma discussão em torno das ações desenvolvidas, assim como os resultados alcançados. A última parte se refere as considerações finais. 40 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos Rádio no âmbito escolar O rádio representa um meio de informação qualificada, suas tarefas incluem a produção de informações em fontes primárias para que sejam oferecidas à sociedade de forma clara e objetiva. Diante da situação atual, com o predomínio das redes sociais, que proporcionam a facilidade de fabricar e disseminar fatos e boatos, o rádio ganhou ainda mais importância. Seu papel amplia-se, no sentido de interpretar e traduzir informações e atribuir sentido e precisão na produção de um bem intelectual que dê ao receptor a possibilidade de refletir e interpretar. O rádio é a garantia de que a informação foi verificada antes de chegar à audiência, num processo envolve uma cadeia de profissionais (repórteres, redatores, editores, revisores, sonoplasta e locutores). A comunicação é uma ferramenta para a circulação de informação e também uma lente sob a qual se enxerga a realidade, é parte essencial da formação do cidadão e influencia na construção de parâmetros éticos. Neste contexto, o rádio é um dos meios de comunicação mais relevantes para a sociedade, tem papel fundamental na superação da exclusão digital e é uma ferramenta para a educação em função de sua popularidade, fácil aceitação e mobilidade. Ainda, é um canal dá voz a múltiplos atores sociais, ampliando a diversidade e polifonia. Segundo Kischinhevsky (2016, p. 103), é um “meio em que ouvimos os sons da cidade, do país e do mundo e no qual temos que lutar para nos fazermos ouvir”. As tecnologias digitais integram gradativamente os espaços educacionais, evidenciando a necessidade de formar professores para desenvolver uma educação para com as mídias, contribuindo para a formação de uma geração mais ativa e crítica, e promover a democratização da comunicação, diminuindo as desigualdades sociais, intelectuais e comunicacionais. Desde o surgimento do rádio no Brasil no ano de 1923, o meio de comunicação causou um forte impacto social devido às suas características e potencial de penetração, tornando-se um 41 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos espaço coerente para despertar a consciência crítica e estimular a cidadania, especialmente no ambiente educativo. [...] a rádio no espaço escolar, como ferramenta de ensino poderá contribuir com o exercício da cidadania e com a educação escolarizada de forma mais criativa e motivadora, fazendo com que os alunos interajam com a comunidade e situações próximas de seu cotidiano (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 51). O uso de tecnologias da informação e comunicação não se resume a habilidades técnicas, ela depende de mudança de atitude e postura mais ativa, autônoma, consciente e dinâmica. É preciso preparar as pessoas para tirar proveito das tecnologias e produzir conteúdo e informações que sejam relevantes para suas vidas, como cidadãos e não somente como consumidores passivos. Inserir o rádio no processo de ensino e aprendizagem permite potencializar a formação humana, ética e cidadã, dentro do princípio de que “a abertura de novos meios de expressão para a criança e o jovem pode, por si só, trazer mudanças na realidade escolar (AMARANTE, 2012. p. 95). Para essa mesma autora, [...] o jovem que se aproxima do rádio pode dar voz aos seus anseios, seus sentimentos e suas expectativas em relação à vida política e social, organizando-se coletivamente para construir um novo diálogo e reinventando novas formas de participação (AMARANTE, 2012, p. 97). No ano de 2022 o rádio completa cem anos de sua primeira transmissão realizada no Rio de Janeiro em comemoração ao centenário de independência do Brasil, marco importante na história do rádio. Em 1923, é fundado a primeira emissora oficial, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por Edgar Roquette Pinto (TAVARES, 1997). Para este autor, as primeiras emissoras instaladas se caracterizavam por eruditas, restritas a classe social mais elevada (TAVARES, 1997). Desde a fundação da primeira estação, o rádio foi idealizado enquanto meio educativo, defendido pelo professor Roquete Pinto, embora alguns anos mais tarde é autorizado a publicidade com a 42 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos publicação do decreto n° 21.111 em 1932 no então governo de Getúlio Vargas, perdendo a essência do formato educativo e substituído pela programação comercial em referência ao estilo norte americana. A opção por este formato de programação deu-se em um momento muito delicado, visto que o país apresentava altos índices de analfabetismo. Na década de quarenta o rádio se consolida enquanto meio de comunicação de massa, conquistando a preferência do público por meio de programas de auditórios e rádios novelas. No final desta década, a invenção do transistor deu fôlego ao meio num momento de incertezas e ameaças após a chegada da televisão nos anos cinquenta. O rádio transistorizado, permitiu ao ouvinte sintonizar sua estação preferida em qualquer local, quarto, sala, cozinha e ambientes externos, sem necessidade de conexão de fios e tomadas (PRADO, 2012). Com o surgimento da televisão nos anos cinquenta, locutores, artistas e anunciantes migraram para a nova mídia em ascensão. O rádio perdeu boa parte de seu faturamento em publicidade e naquele momento sua sobrevivência parecia inevitável. Contudo, os anos sessenta é marcado pelo surgimento da frequência modulada (FM), cuja qualidade de sinal é superior as emissões em ondas curtas (OC), ondas médias (OM) e ondas tropicais (OT). Ao final dos anos 90 e início do século XXI, o rádio revive o fantasma de incertezas e questionamentos quanto a sua sobrevivência frente a expansão da internet. No entanto, ao contrário do que muito se cogitou, a grande rede mundial de computadores não se constituiu enquanto concorrente, muito pelo contrário, houve uma revitalização do rádio a partir das oportunidades presentes na nova mídia. [...] o rádio, que vem atravessando os tempos, modificando-se tecnologicamente, mas não perdendo o princípio da oralidade. Ainda é através das ondas eletromagnéticas distribuídas pelos aparelhos de rádio espalhados pelo país que muitas pessoas, dentre as quais os milhões de analfabetos brasileiros, ficam 43 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos sabendo sobre os acontecimentos diários de suas comunidades e dos espaços mais distantes, obtêm informações de toda a natureza que terminam sendo, em muitos casos, o único meio de Educação disponível (PRETTO, BONILLA e SARDEIRO, 2010, p. 62). O rádio sobreviveu ao surgimento da televisão e tem se adaptado fortemente à internet, construindo estratégias de mercado, produção de conteúdo e ferramentas interativas. O rádio expandido oferece mais conteúdo, seja por foto, vídeo, texto e podcast, aumentando o engajamento e interatividade. O ouvinte de hoje é multiplataforma, conectado por diversos aparelhos tecnológicos. Prata (2008), conceituou as transformações do rádio nos últimos anos como radiomorfose, a partir do conceito de midiamorfose (FIDLER, 1997). Para esta autora, o rádio vive um processo de transformações e adaptações, que ocorrem com a criaçãoda internet. O rádio tem se adaptado ao cenário de convergência, criando oportunidades, formatos de programação e modos de escuta, possibilitando o aumento da participação e/ou interação de ouvintes e sua sobrevivência. Pela internet, as emissoras veiculam programação simultânea as das ondas hertzianas. Pelos aplicativos, Facebook e site, ouvintes podem ter acesso a programação a qualquer local do planeta, rompendo distâncias e espaços geográficos, sem necessidade de estar na área de abrangência da emissora. Durante muito tempo as estações eram sintonizadas exclusivamente pelo dial. Com a internet o ouvinte se depara com novas possibilidades de escuta e interação. O rádio não é mais o mesmo do século passado, ampliou-se as possibilidades de difusão e recepção. Em tempos de convergência das mídias, a presença na internet permite a transmissão via streaming, além de múltiplas linguagens, como textos, imagem, vídeos e hipertexto. A internet ampliou as práticas radiofônicas. Para instalar uma estação de rádio no Brasil é necessário adquirir uma concessão perante ao ministério das comunicações, processo lento e burocrático que pode levar mais de 10 anos. Por outro lado, a 44 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos internet permite criar uma emissora (webradio) com mais rapidez, apesar da transmissão apenas online. Não há no país uma legislação que trate do serviço até o presente momento, fato que contribuí para criação de diversas iniciativas. O rádio supera, potencialmente, suas limitações ao se utilizar da internet e, com isso, pode passar a oferecer recursos de interatividade e, até, agregar imagens, fazendo com que diminua de forma considerável a distância entre o próprio rádio e os demais suportes, com o uso de imagens, fixas ou em movimento, textos e com a possibilidade de produção colaborativa (PRETTO, BONILLA e SARDEIRO, 2010, p. 68). Neste mesmo contexto, entre as possibilidades oriundas da internet estão a webradio, rádio sob demanda, rádio de marca e podcast. Para Prata, (2008a, p. 74), “podcast (ou podcasting) é um neologismo criado pela união das palavras pod (do tocador de MP3 da Apple, iPod) com casting, sinônimo de transmissão, em inglês”. [...] o podcasting, surgido em 2004, é uma radiodifusão sob demanda, de caráter assincrônico. Com ele, pode-se assinar determinada “estação”, numa página da internet, e a partir daí um programa agregador busca automaticamente, sempre que o computador estiver conectado, toda transmissão veiculada naquele endereço (KISCHINHEVSKY, 2009, p. 230). São diversos os fatores que justificam o uso do rádio como ferramenta educativa. Do ponto de vista do desenvolvimento de novas tecnologias e ao fenômeno da convergência das mídias, a escola deixou de ser a detentora do conhecimento. A resposta para este cenário é a inclusão planejada das ferramentas tecnológicos em prol da educação, embora há instituições que insistem em acreditar na centralidade do conhecimento e persistem em medidas autoritárias de ensino, vetando a criatividade do aluno. Assim, ações podem ser adotadas para potencializar o ensino e aprendizagem com a inclusão no rádio. A rádio como ferramenta interdisciplinar de ensino permite o acesso ao saber elaborado, promove a construção da produção escrita, facilita e aprimora competências e habilidades da comunicação oral e da comunicação escrita. Mas para que isso 45 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos ocorra, é imprescindível que os alunos participem do processo radiofônico como emissores e receptores, simultaneamente (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 76). O tempo de acesso diário do usuário à internet no Brasil ultrapassa muitas vezes o tempo de presença na escola. O usuário adquire informação e conhecimento muitas vezes navegando e interagindo pelo ciberespaço. São movidos pelas ferramentas interativas da internet, estimulados pelas leituras de interesse, participam de comunidades virtuais, navegam pelos blogs e websites, criam perfis nas inúmeras redes sociais e até mesmo produzem conteúdo. Quando a criança chega à escola, já traz bagagem cultural, não sendo, como muitos educadores pensam, uma máquina em branco que será preenchida pela escola. A criança interage com outras pessoas e recebe diversas informações e realidades promovidas por essas tecnologias (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 20). O rádio permite o enriquecimento do processo de ensino e aprendizagem, colaborando para a formação desenvolvimento da comunidade. Aprender com o rádio pode tornar-se mais interessante do que os tradicionais métodos de ensino. É preciso pensar “[...] numa Educação que ensine o ser humano a pensar crítica e politicamente o mundo à sua volta, a pensar as relações que nele se constituem de forma articulada, e não pensar o mundo de forma compartimentada, destituída do todo” (PRETTO, BONILLA e SARDEIRO, 2010, p. 73). É imprescindível práticas que inclua o rádio na escola, contribuindo para a construção da autonomia e ao mesmo tempo o “[...] exercício da cidadania e com a educação escolarizada de forma mais criativa e motivadora, fazendo com que os alunos interajam com a comunidade e situações próximas de seu cotidiano (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 51). É necessário oferecer uma educação em que professor e aluno construam conhecimento pela interação, considerando as relações horizontais e resposta ao modelo tecnicista de transmissão 46 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos de conteúdo. O desenvolvimento da capacidade de escutar é um caminho para potencializar as ações reflexivas: o ouvinte melhora a atenção, uma habilidade essencial que contribui para a leitura e escrita. E-cast A projeto de extensão foi criado pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA de Foz do Iguaçu-PR no ano de 2020, sob coordenação da professora Dra. Maria Inês Amarante e monitoria do mestrando André Crepaldi. O projeto intitulado Rádio no espaço escolar: Produção de programas e conteúdo educativo (podcast), passou a ser chamado E-cast (nome fantasia). O referido nome deu-se com a junção da letra “E” de eletrônico com o “cast”, final da palavra podcast. O projeto foi idealizado para atender estudantes da educação profissional, ensino médio e fundamental do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira- EFMP de Cascavel-PR e teve início no mês de abril do mesmo ano. O objetivo central desta ação de extensão é desenvolver habilidade dos estudantes para produzir podcasts no âmbito escolar. Entre os objetivos específicos estão: Desenvolver a leitura, produção textual e pensamento crítico; contribuir para a formação humana, ética e cidadã; utilizar o rádio escolar como meio educativo; experimentar o rádio na escola, numa perspectiva interdisciplinar; oferecer conhecimentos teóricos e práticos para a produção de programas de rádios (podcast), a partir de conteúdo de cunho educativo, social e tecnológico. Entre as ações esperadas com o projeto de extensão, estão o desenvolvimento de habilidades técnicas e humanas dos estudantes para a produção de programas radiofônicos e podcast no âmbito escolar. A expectativa é contribuir para elevar o bem-estar intelectual, cultural, ambiental e social dos estudantes do ensino técnico, médio e fundamental do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira - EFMP de Cascavel-PR, bem como prestar serviços de esclarecimento e conhecimento sobre o funcionamento de uma 47 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos rádio para a comunidade escolar. Com isto, espera-se desenvolver habilidades técnicas e consciência crítica dos estudantes, capazes de elaborar um olhar analítico e questionador os rumos de suas vidas e da sociedade. Por fim, o desenvolvimento humano, colaborar para a formação técnica e profissional frente a uma nova profissão, contribuindo para a construção da cidadania. Entre as atividades previstas, pretende-se estudar os aspectos históricos do rádio hertziano,buscando compreender as transformações tecnológicas até o cenário atual de convergência das mídias; desenvolver nos alunos o hábito de leitura, de assuntos relacionados a comunicação e temas que serão abordados nos programas e/ou podcast; estimular a produção de texto, orientando, com a contribuição de um professor de Português, o desenvolvimento, coesão e coerência; estimular a leitura e pensamento crítico com base nos conteúdos radiofônicos veiculados pelas emissoras local; trabalhar conteúdo referente a caracterização de uma emissora de rádio; compreender o funcionamento de emissora, bem como realizar visita técnica em instituições de ensino superior que ofereçam cursos de graduação em Comunicação Social; estudar programação de rádio de emissora local, regional e nacional e refletir sobre o funcionamento de uma rádio e seu papel na sociedade. Pretende-se, também, produzir conteúdo educativo e veicular nas plataformas online e no ambiente da escola, no intervalo e momentos específicos; integrar professores e participantes em atividades interdisciplinas; produzir conteúdo com base em assuntos na mídia local, regional e nacional; identificar possibilidades de uso do rádio numa perspectiva interdisciplinar; envolver professores das disciplinas da BNCC; oferecer a oportunidade aos professores interessados em se apropriar do rádio como ferramenta de ensino e aprendizagem. Para estes objetivos, preveem atividades teóricas e práticas. Deverá trabalhar conteúdo referente a caracterização de uma emissora de rádio; conhecer e operacionalizar equipamentos, como mesa de som, microfones dinâmicos e condensadores, amplificadores e cabos (XLR, p10, 48 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos p2, etc.); estudar e praticar softwares de automação e gravação de áudio, como Zara Rádio, Rádio Boss, Audacity e Adobe Audition. Por fim, produção de programas de rádio e podcast, com veiculação em plataformas virtuais (SoundCloud). Esta etapa prevê a edição de áudio, utilizando os softwares Adobe Audition e/ou Audacity. Após a conclusão da edição, será veiculado o conteúdo/material de maior impacto e relevância social nas redes sociais da escola e apresentação ao público interno da instituição de ensino ao término do projeto. Para isso, os últimos dias serão destinados a edição e finalização. A ação prevê 20 vagas aos estudantes do ensino da educação profissional, ensino médio e fundamental. Boa parte das vagas foram preenchidas pelos estudantes da educação profissional, devido ao maior interesse destes estudantes. No decorrer das atividades, alguns integrantes deixaram a ação e procurou-se substituí-los por novos. Contribuições da ação de extensão Com cenário da pandemia, o Colégio Eleodoro ficou fechado alguns meses, apenas em trabalho remoto e/ou com agendamento. Devido ao decreto estadual, não foi possível usar o estúdio como previsto devido ao tamanho do espaço. Apesar das restrições previstas para combater a pandemia, optou-se por avançar a etapa de abordagem sobre os assuntos teóricos, gravação, finalização do material produzido e, por fim, na medida do possível, visitas técnicas. Apesar das dificuldades apontadas, foram realizados encontros online aos sábados, das 14:00 às 17 horas, muitas vezes até ultrapassando esse horário. Nos encontros foram abordados assuntos voltados ao rádio, como: tipos de emissoras, programação radiofônica, softwares de automação e gravação, rádio comunitária, rádio digital, migração AM-FM, rádio e internet e, principalmente, o podcast em tempos de comunicação digital. A ação teve como público estudantes da educação 49 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos profissional, ensino médio e fundamental. Para tanto, foram produzidos vinhetas, trilhas, programas. Além disso, foram realizadas visitas técnicas em estúdios de rádio, como na Jovem Pan Cascavel 101,5 MHz., Colmeia FM 105,9 MHz., e CBN Cascavel 93,9 MHz. Houve também a participação de integrantes em programas de emissoras de rádio situadas na cidade. Foi criado uma página no Facebook para divulgação do projeto e de conteúdos relacionados ao rádio – denominada E-cast2, retroalimentada sistematicamente pela coordenadora da ação, bem como pelo monitor. As produções foram armazenadas no computador do monitor da ação e copiadas na nuvem, para então, serem veiculadas nas plataformas: - Anchor: https://anchor.fm/e-cast - Spotify: https://open.spotify.com/ show/2tSu5RxCeTZuYsOAY8R2Gn - Radiopublic: https://radiopublic.com/ecast-WdVgpL - Google Podcasts: https://podcasts.google.com/feed/ hbmNob3IuZm0vcy8yMjlmNmU0OC9wb2RjYXN0L3Jzcw== - Breaker: https://www.breaker.audio/e-cast No que se refere as produções realizadas, a extensão proporcionou episódios de podcasts voltados a educação especial de surdos e cegos, assim como história do rádio, previdência social, tecnologias educacionais, cinema brasileiro, entre outros. Além dos episódios de podcasts, a extensão também produziu trilhas, no qual, 3 foram selecionadas, além da definição e produção de 3 slogans, seguindo o padrão da identidade do E-cast. Todas as produções foram salvas no Google Drive e compartilhado com os integrantes. Durante a ação, houve a colaboração de três professores da instituição parceira. Um dos envolvimentos deu-se na produção de um podcast sobre educação inclusiva, com foco na educação de surdos, deficientes auditivos e baixa visão. Foram entrevistados 2 Disponível em: https://www.facebook.com/e.cast.radio.e.podcast. Acesso em: 19 abr. 2021. 50 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos neste podcast, professores, intérpretes de libras e estudantes. Os resultados da referida ação de extensão mostram a contribuição para o engajamento dos estudantes nas diversas atividades realizadas, tais como produção de episódios de podcasts envolvendo temas como educação, cultura e política. A ação evidenciou também a contribuição das produções de podcast para o desenvolvimento da comunicação, leitura, criticidade, trabalho coletivo e perspectiva para uma nova profissão. É oportuno considerar que o podcast pode ser uma excelente ferramenta de cunho educacional desde que apropriado de modo planejado e correto. A atividade de fechamento das ações do ano 2020 ocorreu em janeiro de 2021 com a realização de uma visita técnica nos estúdios da rádio Colmeia FM 105,9, MHz. E CBN Cascavel 93,9 MHz., ambas situadas no Centro Universitário de Cascavel – UNIVEL. Cabe esclarecer que a ação contou no início com vinte estudantes, porém ao longo das atividades alguns estudantes optaram por desistir do projeto, principalmente após as medidas tomadas pelo governo para conter a pandemia da Covid-19. Os participantes alegaram que as atividades práticas previstas em estúdio eram essenciais para o bom desenvolvimento das produções, e tinham interesse maior por estas atividades. Considerações finais Este trabalho é o resultado da investigação desenvolvida sobre o projeto de extensão denominado E-cast, cujo o objetivo foi evidenciar o potencial do podcast no âmbito escolar enquanto ferramenta de ensino e aprendizagem. Pretendeu-se neste capítulo, apresentar as contribuições da ação da referida ação de extensão, demonstrando o potencial do podcast e envolvimento dos membros da ação de extensão nas produções de episódios. A investigação apresentada é o resultado de um Estudo de Caso, desenvolvido 51 Escola, Cultura e Cidadania: Transformações e Contextos com apoio de pesquisa bibliográfica e entrevista semiestruturada, realizada entre os meses de fevereiro a março de 2021. A ação de extensão intitulada E-cast foi desenvolvida no ano de 2020 pela UNILA em parceria com o Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira-EFMP de Cascavel-PR, sob coordenação da professora Dra. Maria Inês Amarante e monitoria do mestrando André Crepaldi. O objetivo central da ação de extensão foi promover o rádio no âmbito escolar, por meio de
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